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Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Comunicação Social – Jornalismo
Trabalho de Conclusão de Curso
Brasília – DF
2014
MAÍRA PINHEIRO ALVES
Brasília
2014
Monografia de autoria de Maíra Pinheiro Alves, intitulada: Representação dos
moradores de rua no jornal Correio Braziliense, apresentada como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, da
Universidade Católica de Brasília, em 24 de junho de 2014, defendida e aprovada pela banca
examinadora abaixo assinada:
__________________________________________
Profª. MSc. Fernanda Vasques Ferreira
Orientadora e Presidente da Banca Examinadora
________________________________________
Profª. MSc. Cynthia da Silva Rosa
Banca Examinadora
________________________________________
Profª. MSc. Isabel Cristina Clavelin da Rosa
Banca Examinadora
Brasília
2014
Dedico a meu pai, pelo incentivo constante e
por ser meu referencial de dignidade,
honestidade luta e força. Meu grande exemplo
de vida
À minha mãe, por toda dedicação, por todo
carinho e companheirismo. Por ter me ensinado
os princípios de amor, solidariedade e
educação. Minha grande cúmplice na vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que é minha força e minha fonte de amor. Seu amor me fortalece e me renova
em todos dos dias.
Aos meus pais, que são minha base, minha fortaleza. Por me incentivarem, me
acolherem e me ajudarem sempre que solicitados. Eles sempre estiveram ao meu lado, dando
muito amor, carinho e “puxões de orelha”. À minha mãe, que foi muito paciente, virtude
fundamental nesse período, e por todas as ajudas. A meu pai que me incentivou dia após dia, e
se alegrou com cada passo dado.
À minha adorável orientadora Fernanda, sempre acessível e disposta, pela paciência e
atenção е pelo incentivo e estímulo essenciais para а conclusão desta monografia.
Ao Vinicius, meu grande parceiro da vida, que me incentivou e me ajudou dе forma
especial, dando força е coragem e me apoiando em momentos difíceis. Agradeço, sobretudo,
por ser minha fonte de aconchego e amor.
Às minhas grandes incentivadoras Máira Coelho e Morena Pinheiro pelo incentivo,
carinho, presteza e pelas experiências que compartilhamos juntas. Por toda dedicação e por
todas as palavras dóceis em momentos de desconfortos e aflições.
A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu,
mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre
aquilo que todo mundo vê.
(Arthur Schopenhauer)
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo identificar as representações sociais sobre a população de rua
no jornal Correio Braziliense, veiculo de comunicação tradicional de Brasília. Para que fosse
possível uma compreensão ampla das representações construídas, foram analisadas matérias
publicas de novembro 2013 a janeiro de 2014, bem como as representações sociais elaboradas,
os critérios de noticiabilidade e os valores-notícia do veículo escolhido. Como referencial
teórico, adotaram-se as teorias de representação social propostas por Serge Moscovici e as
teorias do Newsmaking e dos valores-notícia baseadas em Mauro Wolf e Nelson Traquina.
This research aims to identify the social representations about the homeless population in the
newspaper Correio Braziliense vehicle communication traditional Brasilia. To make possible a
broad understanding of the constructed representations, public material January 2013 to
November 2014 were analyzed as well as the elaborate social representations, the criteria for
newsworthiness and reported about the values, the chosen vehicle. The theoretical approach
was adopted theories of social representation proposed by Serge Moscovici, and theories of
Newsmaking and values-based news Mauro Wolf and Nelson Traquina.
1 DISPOSIÇÕES GERAIS................................................................................................................. 10
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ...................................................................................................... 10
1.2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................................... 10
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................................................. 12
1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................ 12
1. 3.2 Objetivos Específicos................................................................................................................. 12
1.4 HIPÓTESES .................................................................................................................................. 12
1.5 DELIMITAÇÃO DO TEMA ....................................................................................................... 13
2 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 14
3 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 17
3.1 REPRESENTAÇÃO SOCIAL ..................................................................................................... 17
3.2 TEORIA DO NEWSMAKING...................................................................................................... 22
4 POPULAÇÃO DE RUA .................................................................................................................. 28
5 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS MORADORES DE RUA .......................................... 32
5.1 OS PROCESSOS DE ANCORAGEM E OBJETIVAÇÃO ...................................................... 35
5.2 REPRESENTAÇÃO SOCIAL E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ..................................... 39
6 NOTICIABILIDADE E VALOR-NOTÍCIA NAS MATÉRIAS SOBRE POPULAÇÃO DE
RUA NO JORNAL CORREIO BRAZILIENSE ............................................................................. 41
6.1 NOTICIABILIDADE.................................................................................................................... 42
6.2 INFRAÇÃO E MORTE................................................................................................................ 42
6.3 PROXIMIDADE GEOGRÁFICA ............................................................................................... 43
6.4 PERSONALIZAÇÃO ................................................................................................................... 44
6.5 INESPERADO............................................................................................................................... 44
7 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 46
8 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 48
APÊNDICE .......................................................................................................................................... 49
10
1 DISPOSIÇÕES GERAIS
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
Quais representações são produzidas pela mídia impressa, em especial, pelo jornal
Correio Braziliense, a partir do conteúdo veiculado a população de rua?
1.2 JUSTIFICATIVA
Este estudo foi motivado pela observação empírica de abordagem noticiosa divulgada
pela mídia impressa do Distrito Federal, mais especificamente o jornal Correio Braziliense, no
que diz respeito aos moradores de rua. A forma como é feita a divulgação do conteúdo relativo
àqueles que moram nas ruas desperta bastante interesse, já que se trata de um assunto social.
Esta pesquisa busca analisar o conteúdo jornalístico brasiliense que envolve o tema
morador de rua, em específico no que tange ao jornal Correio Braziliense. Observam-se, com
certo incômodo pessoal, várias matérias referentes ao tema, porém, nenhuma delas se aprofunda
ou dá a devida importância à questão.
Quando se trata de pessoas cuja moradia, por algum motivo, são as ruas, a imprensa
costuma trazer matérias superficiais, que, em sua grande maioria, abarcam alguma forma de
violência. É comum se deparar, no Jornal Correio Braziliense, com manchetes como: Mulher é
presa suspeita de matar morador de Rua em Taguatinga Norte1; ou ainda Morador de rua
morre apedrejado em Taguatinga por ex-companheiro de cela2 e Seis moradores de rua foram
vítimas de crimes no Distrito Federal este ano3.
Em alguns casos, podemos observar que, na construção da notícia, alguns jornalistas
sequer divulgam o nome ou qualquer dado e informação sobre a vida desse indivíduo, que é o
personagem principal da notícia. É como se a sua existência fosse indiferente ao mundo. Para
melhor ilustrar o exposto acima, será utilizada uma matéria cuja manchete foi: “Morador de rua
da Ceilândia ateia fogo em barraco com mulher dentro”4, veiculada no dia 13 de agosto de 2013,
no Correio Braziliense:
Um morador de rua de Ceilândia ateou fogo no próprio barraco, que tinha uma mulher
dentro. O crime ocorreu na noite desta segunda-feira (12/8). Os vizinhos socorreram
a moradora de rua ao vê-la aos gritos sentada na calçada. A mulher teve as costas, os
braços e os cabelos queimados. Pessoas que trabalham na região dizem que casal
discutia com frequência.
1
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2012/10/30/interna_cidadesdf,331071/mulher-e-presa-suspeita-de-
matar-morador-de-rua-em-taguatinga-norte.shtml
2
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2013/10/07/interna_cidadesdf,392007/morador-de-rua-morre-
apedrejado-em-taguatinga-por-ex-companheiro-de-cela.shtml
3
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2013/08/01/interna_cidadesdf,380290/seis-moradores-de-rua-foram-
vitimas-de-crimes-no-distrito-federal-este-ano.shtml
4
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2013/08/13/interna_cidadesdf,382244/morador-de-rua-da-ceilandia-
ateia-fogo-em-barraco-com-mulher-dentro.shtml
11
5
http://noticias.r7.com/cidades/noticias/moradores-de-rua-contam-sonhos-e-planos-para-2012-20120102.html
6
http://www.mds.gov.br/backup/arquivos/sumario_executivo_pop_rua.pdf
12
1.3 OBJETIVOS
1.4 HIPÓTESES
Os moradores de rua são invisíveis perante a sociedade e perante o discurso
midiático. Quase nunca são representados, mas quando o são isso se dá de maneira
negativa.
Nos textos, a voz do morador não tem relevância. Quase sempre eles não têm voz
ou direito de opinar.
O discurso midiático reserva os maiores espaços das páginas policiais aos
moradores de rua, sempre os caracterizando como suspeitos de crimes ou como
vítimas de violência ou, ainda, nas páginas de vida urbana, como agentes de invasão
de áreas residenciais ou públicas.
7
http://www.neppos.unb.br/publicacoes/CP191211_13h12-renovando-a-cidadania.pdf
13
8
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2010/12/01/interna_cidadesdf,225616/populacao-de-rua-pode-
aumentar-ate-80-neste-fim-de-ano-estima-sedest.shtml
9
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/10/18/interna_cidadesdf,274314/volta-pelo-plano-piloto-revela-a-
crescente-quantidade-de-moradores-de-rua.shtml
14
2 METODOLOGIA
10
Entretanto, para esta pesquisa, a observação participante não foi a técnica utilizada, uma vez que dentre
o corpus selecionado, não haveria possibilidade de ter acesso à redação considerando que as publicações
sobre o assunto foram esparsas.
16
teórico desta pesquisa. Diante dos elementos apresentados, os dados colhidos serão
relacionados aos processos produtivos, e com isso, compreende-se como é feita a seleção das
notícias. Mauro Wolf abordou alguns critérios que auxiliam os jornalistas a definirem quais
acontecimentos serão notícias. Ele argumenta que o jornalista funciona como um “editor”, na
seleção dos fatos, orientado por valores-notícia. Os valores-notícia serão aplicados para
selecionar o que é notícia e o que não é. Essa seleção é guiada por critérios e procedimentos
envolvidos na escolha dos acontecimentos e na produção das notícias que serão publicadas ou
que serão dispensadas.
17
3 REFERENCIAL TEÓRICO
A Teoria das Representações Sociais conceitua que a classificação das práticas sem
categorias gera o conhecimento do senso comum e admite entender o mundo. As representações
não são produzidas primeiramente na sociedade, mas, sim, desenvolvidas pela linguagem e pela
interação coletiva, refletindo no comportamento dos indivíduos. Assim, há o potencial de
manutenção ou de transformação de algumas estruturas sociais.
Para Moscovici, as representações sociais são sistemas de valores, ideias e práticas que
definem uma ordem para que os indivíduos se orientem. Elas também tornam possível a
comunicação entre os sujeitos de uma sociedade, fornecendo um código para que consigam
nomear e classificar os objetos e aspectos da realidade.
A Teoria das Representações Sociais considera o estudo do senso comum como
expressivo para o conhecimento da sociedade. O senso comum é frequentemente recriado em
nossas sociedades, e seu objeto situa a linguagem e o comportamento habitual entre os sujeitos.
No processo de modificação e realimentação do senso comum, as representações sociais
contidas são alteradas, eliminadas ou ainda são formadas novas representações. Conforme
Moscovici (2007), as representações adquirem autoridade, porque, por meio de sua mediação,
os indivíduos alcançam mais elementos que permitem entender diferentes fenômenos do
cotidiano. As representações sociais que surgem a partir de teorias científicas acabam
modificando o senso comum, de maneira que o assunto não rodeie as classes populares e vá até
os representantes da ciência, mas, sim, realize o caminho oposto. O âmbito do senso comum
admite alcançar as representações sociais no período em que elas estão circulando e entende
como elas são causadas, comunicadas e colocadas em ação:
O senso comum, o conhecimento popular [...] oferece-nos acesso direto a
representações sociais. São, até certo ponto, as representações sociais que combinam
nossa capacidade de perceber, inferir, compreender, que vêm à nossa mente para dar
um sentido às coisas, ou para explicar a situação de alguém. Elas são tão naturais e
exigem tão pouco esforço que é quase impossível suprimi-las (MOSCOVICI, 2007,
p. 201).
não consegue responder como faria em uma situação planejada. Assim, aponta Moscovici
(2007), a proximidade com o outro cria um sentimento de rejeição, pois implica a intenção
como pessoa que se assemelham com componentes do nosso grupo social. O contato não
familiar logo forma uma ameaça de perder os padrões referencias que permitem aos sujeitos
entenderem mutualmente a sociedade em que vivem. A elaboração de uma representação é,
portanto, uma tentativa de transferir o que perturba para um universo mais próximo, colocando
o incomum em um contexto que o torna comum e o abrangendo em uma categoria conhecida.
Por meio das representações, o problema não familiar é superado e o que foi abstrato torna-se
concreto, restaurando o sentido da continuidade do grupo que foi repreendido pelo
desconhecido. Entende-se, então, que esta procura familiar tende ao conservadorismo, de modo
que Moscovici (2007) deduz que todas as representações são sociocêntricas.
Para compreender melhor o fenômeno de algumas representações sociais, é preciso
debater dois mecanismos do processo de pensamentos que são definidos por Moscovici (2007)
como responsáveis pelos organismos das representações: a ancoragem e a objetivação. Pela
ancoragem, os objetivos e as ideias não familiares são comparados a padrões de categorias
existentes e conhecidas pelo sujeito, sendo também acertadas para que consigam se encaixar
em tal categoria. A ancoragem é um processo de classificação e nomeação daquilo que não se
conhece, para que deixe de ser algo estranho. Este enquadramento é essencial porque a
incapacidade de avaliar ou descrever algo cria uma resistência entre os sujeitos, de modo que a
primeira etapa para vencer este distanciamento é o ato de nomear. De acordo com Moscovici
(2007, p.62):
No momento em que nós podemos falar algo, avaliá-lo, e então comunicá-lo (...),
então nos podemos representar o não usual em nosso mundo familiar, reproduzi-lo
como uma réplica de um modelo familiar. Pela classificação do que é inclassificável,
pelo fato de se dar um nome ao que não tinha nome, nos somos capazes de imaginá-
lo, de representá-lo. De fato, a representação é, fundamentalmente, um sistema de
classificação e de denotação, de alocação e de categorias de nomes.
A teoria do Newsmaking surgiu, em 1947, nos estudos de Kurt Lewin e trata da produção
de notícias, com intuito de apresentar os processos que envolvem os acontecimentos até que
eles se tornem notícia, chegando ao conhecimento do indivíduo da sociedade de massa11. Este
estudo busca compreender todo o processo de rotina de produção da notícia e, ainda, os critérios
que levam a notícia a ser veiculada nos meios de comunicação.
De acordo com Mauro Wolf, o conceito de newsmaking está ligado à essência do
jornalista como profissional. Para ele, este o estudo passa, necessariamente, pelas questões de
noticiabilidade, ou seja, critérios de seleção sobre o que vai ser notícia, critérios de relevância
ou newsworth, como ele define. Wolf também explica o newsmaking como um processo de
articulação entre a cultura profissional dos jornalistas, as organizações do trabalho nos meios
de comunicação e o processo de produção da notícia.
“O entrelaçamento entre características da organização dos trabalhos no aparato da
mídia e os elementos da cultura profissional é absolutamente restrito e vinculador e
isso define justamente o conjunto de características que os eventos devem possuir (ou
apresentar aos olhos do jornalista) para poder ser transformado em notícia.” (WOLF,
p. 95, 2003).
O newsmaking é a teoria que abrange os emissores e os processos produtivos das
comunicações de massa, definindo cinco critérios fundamentais para se compreender o
processo jornalístico: noticiabilidade, valores-notícia, rotinas produtivas, seleção e
apresentação da notícia.
11
A sociedade de massa diz respeito a uma sociedade de comunicação de massa, ou seja, comunicação por suportes
materiais que chegam a diferentes indivíduos ao mesmo tempo.
23
A noticiabilidade, por sua vez, é composta por um conjunto homogêneo e bem definido
de valor-notícia. As seleções de notícias que serão veiculadas são consideradas relevantes ou
não relevantes por meio de valores-notícia ou de critérios de escolha, tais como a posição
24
Os valores-notícia, de acordo com Golding e Elliott (in Wolf, 1995: 175-176), “são
critérios de seleção dos elementos dignos de serem incluídos no produto final (...)” e funcionam
como linhas-guia para a apresentação do material, sugerindo o que deve ser realizado, o que de
ser omitido, o que deve ser prioritário na preparação das notícias que serão apresentadas ao
público. Suas principais categorias constitutivas são: a) características substantivas da notícia
25
Nelson Traquina (2008) também se atentou por esta matéria e citou alguns valores-
notícia. Com base em Wolf, é importante a distinção entre os valores-notícia de seleção e os
valores-notícia de construção. O primeiro grupo de valores-notícia de seleção são constituídos
pelos critérios subjetivos e contextuais.
De acordo com Taquina (2008), os critérios subjetivos são dez, tais como: morte,
notoriedade, proximidade geográfica e cultural, relevância, novidade, tempo, notabilidade,
inesperados, conflito/controvérsias e a infração. Esses atuam na avaliação direta do
acontecimento, verificado a partir de sua importância e interesse.
Já os valores-notícia de construção têm como foco a edição das notícias, que, segundo
Traquina, define algumas orientações, o que deve ser destacado, omitido e se antepor nas
construções das notícias. Traquina elenca os valores-notícia de construção como: a
simplificação, a amplificação, a relevância, a personalização e a dramatização.
A temática dos valores-notícia é um ponto controverso no meio jornalístico, existe uma
extensa discussão em torno da teoria do newsmaking. Sobre o conteúdo que será veiculado na
mídia, existem inúmeras variáveis a respeito dos acontecimentos. Além desses aspectos de cada
fato, existe a abastamento dos acontecimentos. E já se sabe que não há como transformar tudo
isso em relato noticioso. Assim, é preciso selecionar o que deve ser veiculado ou não. Nesse
caminho, é necessário buscar saber como critérios de noticiabilidade são apropriados para
intervir no processo noticioso, sabendo que o resultado abrange, ao mesmo tempo, uma série
de teorias e bases, desde características dos fatos, política organizacional, interesses políticos e
econômicos, julgamento pessoal e até mesmo condições favoráveis e limitadoras.
Mauro Wolf defende a ideia de que os valores-notícia resultam de considerações
relativas “às características substantivas das notícias; ao seu conteúdo; à disponibilidade do
material aos critérios relativos ao produto informativo; ao público; à concorrência”. (WOLF,
1995, p. 179). Com base nessas três definições, percebe-se que o objeto “notícia” passa por um
planejamento em várias etapas. A primeira delas, Wolf destaca como o próprio conteúdo, a
transformação do acontecimento em notícia e o fato de esse caso ser adequado para se tornar
um relato noticioso.
26
A segunda etapa cita posição da notícia e está ligada aos métodos de produção, como a
rotina de trabalho. De outra forma, o jornalista precisa pensar e escrever a notícia, narrando os
fatos pensando no seu público, isto é, no leitor. Com isso, ele precisa elaborar a notícia de
acordo com seu destinatário. Na última definição, vem a concorrência, que tem grande
relevância na teoria, visto que a notícia é um produto, por isso, possui mercado concorrente.
Além disso, a concorrência gera uma homogeneização dos produtos, visto que comumente os
órgãos de comunicação de referência são seguidos pelos demais veículos.
Para que um fato se torne notícia, ele passa por várias avaliações. Nas teorias do
jornalismo, a primeira que se estabeleceu foi o conceito de gatekeeper12. Essa teoria surgiu nos
anos 50, nos Estados Unidos, e tem como ponto de partida analisar os critérios e outros
elementos envolvidos na produção noticiosa, perante três aspectos: 1) a partir dos discursos
utilizados pelos jornalistas, 2) a partir da sociologia das profissões, que tem como base a
subordinação a uma cultura de trabalho, 3) a partir dos valores-notícia. Acredita-se, ainda, que
o processo de produção da informação é um processo de escolhas, em que o fluxo de notícias
tem que passar por diversos gates (portões) até a sua publicação.
A abordagem do estudo apresenta os termos originários do inglês: gate, que significa
portão, e keeper, que significa porteiro, assim, Wolf traduz como selecionador das notícias
apresentadas ao público. A utilização dos gates nas redações se transforma em instrumento de
controle social da informação:
O gatekeeping no mass media inclui todas as formas de controle da informação, que
podem estabelecer-se nas decisões acerca da codificação das mensagens, da seleção,
da formação da mensagem ou das componentes (DONOHUE – TICHENOR –
OLIEN, 1972, apud WOLF, 1995, p.163, grifo do autor).
12
Os estudos sobre os gatekeepers, que tem como tradução “guardiões do portão”, analisam o comportamento dos
profissionais da comunicação, de forma a investigar que critérios são utilizados para se divulgar ou não uma notícia. Isso
porque estes profissionais atuariam como guardiões que permitem ou não que a informação "passe pelo portão", ou melhor,
seja veiculada na mídia. A decisão de publicar algo ou não publicar depende principalmente dos acertos e pareceres entre os
profissionais, que estão subordinados a uma cultura de trabalho ou a uma política empresarial, além dos critérios
de noticiabilidade, que não raro excluem o contato com o público.
27
4 POPULAÇÃO DE RUA
realizadas por municípios, ou por universidades, cujos propósitos são refletir, sob um aspecto
ou outro, as realidades locais, como já citado.
Para contabilizar os moradores de rua do Distrito Federal, foi realizada pela
Universidade de Brasília (UnB) a Pesquisa sobre a população em situação de rua no Distrito
Federal13, iniciada em abril de 2010, os dados preliminares que mostram que há cerca 2,5 mil
moradores de rua no Distrito Federal. A maior dificuldade de realizar a pesquisa é que
moradores de rua são nômades. O censo brasileiro adota o conceito de população residente ou
“de direito”. Ou seja, ela é enumerada no seu local de residência habitual.
Escorel (2000, p.153) inicia a conceituação do que seja a população de rua – se são
“população de rua”, se são pessoas “sem teto”, se inclui ou não os trabalhadores de rua
(catadores de material reciclável) que dormem na rua durante a semana e em casa nos finais de
semana, se inclui os modos precários de habitação (o que incluiria os moradores de favelas)
entre outros.
Os viventes de rua são muitas vezes chamados de moradores de rua, porém, de acordo
com Tiburi, (2011, p.27) “ninguém mora na rua”, antes, quem está na rua não mora”, percebe-
se que o conceito de moradores é o oposto do que caracterizam as pessoas que vivem nas ruas,
estas que não possuem residência e, por isso, não moram, apenas vivem nas ruas, dessa forma
optou-se por chamá-los por viventes de rua. Ainda segundo Tiburi,
Moradores de rua são a figura mais perfeita do abandono que está no imo da devoração
capitalista. Convive-se com eles nos bairros elegantes das cidades grandes como se
fossem um estorvo ou, para quem pensa de um modo mais humanitário, como um
problema social a ser resolvido filantropicamente. Alguns moram em lugares
específicos, têm sua “própria” esquina, carregam objetos de uso aonde quer que vão,
outros perambulam a esmo desaparecendo da vista de quem tem onde morar. São
meras fantasmagorias aos olhos de quem não é capaz de supor sua alteridade.
Esmagados pela contradição de morar onde não mora ninguém, não têm o direito de
ser alguém. Partilham o deslugar. (Marcia Tiburi, Revista Cult, Ed. 55)
Essas pessoas que vivem nas ruas estão fora dos direitos básicos constitucionais e,
portanto, estão excluídos da sociedade. Os indivíduos desprovidos de família, emprego,
residência e bens materiais passam a ser vistos como “não cidadãos”. Aqueles que não estão
familiarizados com essa expressão utilizam-se destas: mendigos, indigentes, desocupados,
vagabundos e uma série de outros estereótipos, em que a cidadania assume papel coadjuvante.
Quando se questiona o que leva um indivíduo a morar na rua, notam-se contradições,
uma cultura de negação de padrões, vitimizações sociais, processos de revolta. De forma oposta,
13
http://www.unbciencia.unb.br/index.php?option=com_content&view=article&id=271:pesquisa-mostra-que-df-possui-25-mil-moradores-derua&catid=23:sociologia
30
surge o termo “inclusão”, que se resume em ativar a pessoa a uma reinclusão ideológica para o
reingresso em uma sociedade de consumo.
A imagem do morador de rua está ligada a alguém simplesmente impossibilitado de
manter ao convívio social, que sempre se apresentou baseado em valores morais. A fala sobre
esta parte social demonstrou ser eficaz e persuasiva para defender julgamentos e práticas
discriminatórias.
Na atualidade, o termo mendigo tecnicamente evoluiu para “moradores de rua ou
pessoas em situação de rua”. Moralmente, os valores sociais concebidos a essa população
continuam com antigos conceitos associados à vadiagem, vagabundagem, marginalidade,
periculosidade.
A sociedade marginaliza a população de rua porque, entre outras características, ela não
corresponde ao sucesso ou ao êxito individual, atributo pelo qual a sociedade atual se norteia.
Vale ressaltar que a expectativa de oportunidades ao alcance de todos desencadeia em uma
rejeição do desamparo também como condição humana. Neste cenário, são produzidas
representações que se reconhecem e reconhecem o outro a partir prioritariamente da localização
social e econômica.
Sarah Escorel (ESCOREL, 2000) aponta também as distinções entre os que consideram
como população de rua todos os que estão usando a rua como moradia em um determinado
momento e os que consideram apenas os que tomam a rua permanentemente como moradia,
considerando os primeiros como “pessoas em situação de rua”. A distinção entre “moradores
de rua” e “pessoas em situação de rua” remete a uma distinção entre o que seria uma espécie de
“núcleo duro” da população de rua e uma população de rua flutuante, como se para alguns essa
condição fosse necessariamente permanente e para outros não necessariamente. No Jornal
Correio Braziliense, objeto de estudo deste trabalho, usam-se os termos “moradores de rua” e
“sem teto”, nas matérias sobre essa temática, usando termos contrários à teoria de Escorel,
relacionada e esses indivíduos.
Escorel, do mesmo modo, chama a atenção para os que consideram população de rua
“o conjunto daqueles que vivem permanentemente nas ruas ou que dependem de atividade
constante que implique ao menos um pernoite semanal na rua” (RODRIGUES; SILVA FILHO
apud ESCOREL, 2000, p. 153), o que, segundo a autora, implicaria incluir os “trabalhadores
do sexo” na população de rua, mesmo que estes não tenham a rua como moradia, nem realizem
nela todo o seu trabalho.
As implicações práticas dessas definições da população de rua refletem nas diferentes
31
O estudo sobre pessoas em situação de rua permite uma série de reflexões sobre o
posicionamento dos elementos desse grupo na sociedade atual, e logo, sobre o relacionamento
de tais sujeitos com a população. É claro, portanto, que este trabalho busca também
problematizar a condição de pobreza em que vivem essas pessoas e a discriminação que
recebem por parte do poder público e da maioria dos habitantes da cidade.
Baseando-se nos conceitos de Moscovici, tomam-se as representações sociais existentes
sobre um determinado grupo como base para os posicionamentos no dia a dia. Esta pesquisa
busca assimilar as representações sociais sobre o grupo de pessoas em situação e rua e
apresentar-se como uma maneira de melhor entender a condição marginal que lhes é atribuída.
Considerando que o foco será a visão de um veículo de comunicação, buscou-se
compreender de que forma esses sujeitos são vistos por esses meios. Foram encontrados poucas
pesquisas e estudos que discutam e tragam dados sobre a temática da população de rua no
Distrito Federal. A Pesquisa sobre população em situação de rua do Distrito Federal realizada
pela Universidade de Brasília (UnB), em 2011, tem o caráter qualitativo, permite que se
conheçam algumas características dos sujeitos que vivem nas ruas da cidade. De acordo com a
pesquisa, foram encontrados no Distrito Federal 2.512 pessoas em situação de rua, sendo 319
crianças, 221 adolescentes e 1.972 adultos. Mais da metade dessa população é do sexo
masculino, 74,6%, e apenas 25,4% são do sexo feminino. Destaca-se, ainda, o índice de
escolaridade: 69% da população tem o ensino fundamental incompleto e 9,8% nunca foi à
escola.
Entre os motivos mais comuns para o indivíduo viver na rua, destacam-se o uso de
drogas ou a embriaguez e os transtornos ou as doenças mentais. É possível perceber esses
fatores nas matérias publicadas no Correio Braziliense, das onze pesquisadas, seis citam as
drogas e uma delas cita a doença mental.
As representações são produzidas também com intenção de reduzir as dificuldades de
comunicação, as ideias ambíguas, a incompreensão das imagens, o que dificulta a vida em
comum. Por serem desenvolvidas por meio de certa concordância em determinado grupo social,
as representações possibilitam uma melhor comunicação entre os elementos. Para um consenso,
Moscovici (2007) assegura que elas não podem ser elaboradas por uma deliberação, elas se
constroem por influência mútuas, por meio da negociação nas conversas, modelos simbólicos
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As concepções das representações sociais estão voltadas para tornar familiar o não
familiar. Para compreender o não familiar, existem dois métodos que geram a representação
social: o processo de ancoragem e a objetivação. Ancoragem é o processo pelo qual buscamos
classificar, adaptar o não familiar, colocamos uma pessoa, uma ideia ou um objeto dentro de
alguma categoria que, de acordo com a história, comporta esse aspecto valorativo. Já a
objetivação é o método pelo qual buscamos tornar visível ou palpável uma realidade. Alia-se
um conceito a uma imagem. A imagem deixa de ser um signo e passa a ser uma cópia da
realidade.
O primeiro processo da ancoragem se dá quando algo novo e pouco familiar se torna
proporcional a uma resistência para ser adequado, em que a assimilação torna-se problemática.
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possível perceber este processo, em que o morador viveu anos na rua sendo concebido como
incapaz de produzir, de contribuir para sociedade e, após ter uma oportunidade conseguiu
demonstrar seu potencial, saindo do conceito de delinquente e adquirindo a imagem de
professor.
A ancoragem é o método que “permite compreender a forma como os elementos
contribuem para exprimir e constituir as relações sociais” (MOSCOVICI, 2007, p. 318), ou
seja, a ancoragem traz significado a acontecimentos, pessoas, grupos e fatos sociais a partir da
rede de significação oferecida pelas representações sociais. Desse modo, transforma o que é
estranho em algo familiar.
Na particularização, o objeto fica distante, para que, assim, fique notório que não se
adequa a um protótipo, buscando definir o que lhe torna diferente dos demais. Morador de rua
é queimado na Hélio Prates, essa matéria traz trechos que explicitam tal afirmação. Na fala dos
comerciantes em relação ao morador de rua que teve seu corpo queimado, é citado que “ele
brincava com as pessoas e dava sempre bom-dia”, o que mostra um afastamento desse indivíduo
dos demais, já que o fato de brincar e cumprimentar são atitudes corriqueiras no cotidiano das
pessoas que não moram nas ruas, mas, quando se trata de uma pessoa não familiar, pode se
tornar algo incomum ou novo. Nestas formas de classificação, realiza-se um juízo que define
as características como negativas ou positivas, o caso citado traz uma característica positiva.
Desse modo, tanto a generalização quanto a particularização são opções inteiramente
intelectuais, refletindo o desejo de caracterizar objetos, sujeitos e ações como naturais ou não.
A classificação do não familiar é assim: processo de definição como algo que condiz ou não
com os princípios formados pela sociedade e está relacionado a um protótipo, a um exemplo
ideal usado para comparação.
A objetivação é o processo pelo qual são "materializadas" as ideias e os conceitos, por
meio de seleção e de descontextualizar o objeto, que tem como finalidade estabelecer um
esquema ou um “núcleo figurativo” em que se organiza um padrão de afinidades, que são
elementos fundamentais para o objeto da representação. O fim desse processo é a naturalização
dos parâmetros relacionais que passam a ser compreendidos claramente. Desse modo, o
elemento inicialmente abstrato transforma-se em concreto, ou seja, passa a fazer parte da
realidade.
Na matéria Aplausos para a cidadania, é possível identificar a objetivação e ancoragem.
A publicação traz a história de um ex-morador de rua que, com ajuda dos funcionários da
Promotoria de Justiça da Defesa a Infância e Juventude (rodapé), conseguiram tirar os
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documentos e se aposentar pelo INSS, devido a uma deficiência auditiva. Na mesma matéria,
há um boxe como título Alma Pura, em que são citadas as qualidades do jovem morador,
mostrando a percepção das pessoas que o ajudaram, ou seja, essas pessoas que o ajudaram
descontextualizaram a pessoa “morador de rua” trazendo-o para o lugar de cidadão na
sociedade.
Ancoragem e objetivação são, pois, maneiras de lidar com a memória. A primeira
mantém a memória em movimento e a memória é dirigida por dentro, está sempre
colocando e tirando objetos, pessoas e acontecimentos, que ela classifica de acordo
com o tipo e os rotula com um nome. A segunda, sendo mais o menos direcionadas
por fora (para fora), tira daí conceitos e imagens para junta-las e produzi-los no mundo
exterior, para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é conhecido. (Moscovici
2007 p.78)
A mídia é constituída da realidade e contribui para a criação do que ela descreve. Desse
modo, Champagne (1977) certifica que os dificuldades sociais, principalmente referente a
desgraças e reivindicação. É possível perceber tal afirmação, ao ponderar as matérias do veículo
escolhido para esta análise, o jornal Correio Braziliense. Das matérias analisadas, nove têm a
violência como destaque. Os principais assuntos são: assassinato, estupro, confronto com a
polícia, tentativa de homicídio, invasão e mortes.
Os moradores de rua raramente são ouvidos e, quando o são, tendem a tomar
emprestada a representação dominante, repetindo o discurso já existente que, provavelmente,
apreenderam dos meios de comunicação. A cobertura jornalística pode reforçar o estereótipo
sobre os grupos locais, contribuindo para a classificação dos sujeitos (CHAMPAGNE, 1997).
A classificação marca os indivíduos para muito além dos acontecimentos que estão sendo
noticiados, acompanhando-os em várias situações de suas vidas.
Moscovici (2007) também aponta a característica desse conhecimento conformado: a
constante repetição das representações sociais pelos membros do grupo. Para ele, esse recurso
“não só tem uma função de economia, pois cada ideia já não precisa ser demonstrada de novo,
mas também uma função de organização do julgamento” (MOSCOVICI, 2007, p. 259). Os
indivíduos fazem da repetição uma forma de se lembrarem da posição em que se encontram nas
relações sociais em que estão inseridos. Quando falam, repetidamente, estão “repassando” seu
discurso, reafirmando suas ideias e, ao mesmo tempo, desenvolvendo-as.
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6.1 NOTICIABILIDADE
A teoria do newsmaking se define das práticas, as empresas de mídia precisam se
estabelecer no tempo e no espaço. A noticiabilidade é um dos métodos presentes na teoria do
newsmaking. Nem tudo é notícia, diante disso, selecionar é uma das funções do jornalista. Os
critérios que diferenciam o que é notícia do que não é, mudam de acordo com o jornal, segundo
a sua linha editorial e o tipo de público-alvo. Desse modo, não se pode formar com precisão
indicadores com critérios de noticiabilidade para todos os jornais. De modo geral, podemos
indicar alguns válidos para qualquer publicação.
Para Wolf (2003), a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operações e
instrumentos com os quais os aparatos de informação enfrentam a tarefa de escolher, no dia a
dia, o número sem previsão e definição de acontecimentos de uma qualidade finita e tendências
estáveis de notícia. Para se chegar à concepção da notícia, levam-se em consideração critérios
para a escolha de acontecimentos com relevância e potencial capazes de se tornarem notícia no
jornal. Esse aspecto dá início ao conceito dos valores-notícia, que serão discutidos a seguir.
A seleção das notícias, além dos critérios de noticiabilidade, também é composta pelas
restrições ligadas à organização do trabalho, que criam manuais para ajudar nesta definição do
que é ou não notícias. Assim, formam um conjunto de critérios de noticiabilidade que
determinam o que será ou não publicado. Nesse ponto de vista, Traquina define os critérios de
noticiabilidade
Os critérios de noticiabilidade são o conjunto de valores-notícia que determinam se
um acontecimento, ou assunto, é susceptível de ser notícia, isto é, de ser julgado como
merecedor de ser transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo “valor-
notícia” (newsworthiness; TRAQUINA, 2005, p. 63).
Dentro dos valores-notícia, existem dois valores que estão ligado o de morte, e o de
infração. O valor de infração, se dá quando há infrações das leis, o mau comportamento
anormalidade, violência ou falha. Para Traquina o jornalismo tem uma função de policiamento
da sociedade, que levaria a uma atenção concentrada sobre assuntos como procedimentos
legais, direitos humanos entre outros.O valor-notícia infração foi o que mais pareceu, com nove
vezes nas matérias analisadas. Apenas duas matérias não tiveram esse valor-notícia.
Entre as notícias analisadas, houve dois casos reincidentes, de moradores de rua
queimados. Na publicação do dia 7 de novembro, Jovem tem 18% do corpo queimado, dois
moradores usavam drogas no Guará e se desentenderam e um ateou fogo no outro. Na matéria,
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é mencionado que, no ano de 2013, pelo menos oito pessoas foram incendiadas. Pouco mais de
dois meses após esse delito ter acontecido, no dia 21 de janeiro de 2014, outro morador de rua
teve seu corpo queimado em Taguatinga, a causa dessa vez foi dívida de drogas com traficantes.
Além desses casos de tentativa de homicídio, o Correio publicou três notas (sem
assinatura), registrando um caso de homicídio, que ocorreu na cidade de Ceilândia, nessa
matéria havia valor de infração e morte. Outro caso foi de estupro no Paranoá, além de briga de
rua na Asa Norte, que resultou em um morador baleado. Ambos denotam o valor infração.
Na matéria Feriado registra cinco homicídios, também foi possível identificar o valor-
notícia de infração e morte. O caso relata a morte de cinco pessoas, entre elas um morador de
rua morto a facadas na Asa Sul.
A reincidência do valor-notícia infração nas matérias relacionadas aos moradores de rua
denotam que, quando se trata desse assunto, o tema está quase sempre relacionado à violência.
É muito frequente ver nos jornais matérias sobre a população de rua envolvida em roubos,
tentativas de homicídio e homicídios.
A proximidade das notícias é outro ponto exposto por Traquina, quanto mais próximo
for o acontecimento do veículo de comunicação, mais relevância ele terá na mídia. Nesta
análise, a proximidade geográfica foi constatada em sete matérias das onze que foram
observadas. Tais como: Sem teto baleado, Espelho meu, Corpo encontrado no parque, De
morador de rua a mestre talentoso, Aplausos para cidadania, Tiroteio escancara medo na Asa
Norte e feriado registra cinco homicídios.
Na pesquisa, foram considerados todos os acontecimentos que aconteceram na região
central de Brasília, Asas Sul e Norte. Nesta área, constataram-se sete casos, sendo o local com
o maior número de incidências noticiadas. O bairro foi cena de sete matérias. Isso denota
também o valor de proximidade, mais da metade das matérias veiculadas aconteceram próximas
ao veículo escolhido para análise. As outras seis matérias aconteceram nas regiões admirativas,
como Guará, Paranoá, Ceilândia, Taguatinga e Núcleo Bandeirante.
A maior parte das matérias analisadas fazia parte da editoria de cidades, exceto uma
nota que estava na editoria de opinião, que tinha como tema um bicicletário abandonado, que
estava sendo usado como abrigo pelos moradores de rua.
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6.4 PERSONALIZAÇÃO
para preencher a agenda midiática do que um fato inesperado. Esse valor apareceu uma vez
nesta análise, em uma nota que se refere a um morador de rua que foi encontrado morto no
Parque da Cidade. Nesse caso, atribuiu-se o valor-notícia de proximidade geográfica, infração
e morte e inesperado. A nota do Parque da Cidade foi descrita da seguinte maneira:
7 CONCLUSÃO
Após a análise efetuada, cabe citar o objetivo desta monografia para que possam ser
traçadas as considerações finais. A meta era compreender o processo de representação social
dos moradores de rua, em especial, no Jornal Correio Braziliense. O número de matérias
submetidas à análise e a qualidade delas resultou no discernimento de distintos pontos que
constroem as representações sociais sobre a população de rua dentro do Jornal Correio
Braziliense. Há que se ressaltar, porém, que esta análise é constituída de onze matérias no
período de três meses, ou seja, trata-se de um número relativamente baixo para o período. As
representações demarcadas podem ser reforçadas ou desconstruídas no corpo do jornal. É
necessário considerar, ainda, que possivelmente alguns aspectos tenham sido tocados apenas
superficialmente, pois a intenção foi aprofundar somente os tópicos mais aparentes ou de maior
relevância no cotidiano do jornal.
Nessas reflexões finais, destacam-se algumas considerações sobre as representações
identificadas. As matérias veiculadas não abordam assuntos variados, a maioria expõe a
violência vivenciada pelas pessoas em situação de rua. A análise de conteúdo permite
compreender que a vida nas ruas é, na maioria das vezes, enxergada como uma condição social
que produz sofrimento. Alguns problemas apontados dizem respeito à sobrevivência física:
mostrando pontos importantes que relatam sobre assassinatos, estupros, uso de drogas e
tentativas de homicídios.
As abordagens vistas, nos exemplos das publicações do Correio Braziliense, mostram
que, muitas vezes, não há aprofundamento da identidade das pessoas que estão no foco da
notícia. As matérias divulgadas trazem a descrição dos problemas que essas pessoas causam e
a situação em que se encontram, sobretudo, ressaltam que esses moradores estão submetidos ao
uso de drogas, mais um fator da devastação moral, física e social.
Como evidenciado no capítulo cinco, existem representações que ficam mais evidentes:
uma delas constrói a imagem dos moradores de rua como sujeitos violentos, perigosos e
marginalizados. Outra representação elabora a ideia de que a vidas nas ruas, na maioria das
vezes, pressupõe um contato profundo com as drogas. A drogadição é elaborada no discurso do
jornal, como uma constante e como um fator relevante para as violências nas ruas da cidade.
Nas matérias jornalísticas analisadas, as declarações entre aspas contêm informações e
opiniões que podem ampliar o preconceito e o estigma. Por sua vez, os critérios são
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identificados nos textos que portam o discurso sobre moradores de rua, quase sempre de forma
avaliativa negativa.
Nesse sentido, as representações construídas confirmam a identificação da população
como sendo um grupo excluído, dessemelhante e desnecessário. Em alguns momentos, é
notório que não são considerados nem mesmo seres humanos, que dirá cidadãos e portadores
de diretos.
Evidencia-se, porém, que foram encontradas opiniões distintas em duas publicações. A
diversidade leva a uma reflexão sobre a tentativa de não generalizar o grupo dos moradores de
rua como sendo constituídos por sujeitos idênticos. Embora o estereótipo e a generalização
estejam presentes em certos pontos revelados, como em representações que se dividem.
Acentua-se, ainda, que, durante toda a análise, as ideias sobre a população de rua
apresentadas pelo jornal relacionam-se às representações predominantes que estigmatizam os
moradores de rua. Neste estudo, não foi encontrada nenhuma pesquisa aprofundada que pudesse
tornar claras tais imagens existentes sobre esse grupo social – algumas colocações presentes no
texto baseiam em uma análise breve das representações sobre a população de rua.
Por fim, considera-se que os moradores de rua são pouco contemplados pelos meios de
comunicação e dificilmente considerados fontes. As pessoas em situação de rua também têm
poucos casos de estudos na área de Comunicação. Espera-se, com este trabalho, contribuir para
reflexão sobre esse grupo excluído e dessemelhante e sua relação com os meios de comunicação
e com o restante da sociedade. Assim, será possível construir um olhar mais humanizado sobre
esses sujeitos.
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8 REFERÊNCIAS
CHAMPAGNE, Patrick. A visão mediática. In: BOURDIEU, Pierr (Org.). A miséria do mundo.
Petrópolis: Vozes, 1997.
DUARTE, Jorge & BARROS, Antônio. Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação.2ª ed.
São Paulo: Atlas, 2010
ESCOREL, Sarah. “Vivendo de teimosos: moradores de rua da cidade do Rio de Janeiro”. In:
BURSZTYN, Marcel (org.). No meio da rua: nômades, excluídos, Florianópolis: Insular,
2ª Ed., 2005. Interpretativa transnacional. Vol. II. Florianópolis: Insular, 2005.
TIBURI, Márcia. Ninguém mora onde não mora ninguém. Cult – Revista Brasileira de Cultura,
São Paulo, nº 155, ano 14, p. 27, março de 2011.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. Porque as notícias são como são. Viradores. Rio
de Janeiro: Garamond, 2000.
APÊNDICE
TABELA 2