As leis que fundamentam o trabalho, durante muito tempo, passaram por
um processo de transformação para obter os resultados encontrados até o presente momento. No entanto, as leis e políticas criadas para sistematizar as relações de trabalho vem sendo questionada e atribuídas a ela a ideia de uma negociação livre entre as partes, ou seja, não havendo o componente contratual, o que permitiria ao empregado e empregador, também as livres negociações sobre o legislado. Para tratar da precarização das relações de trabalho é preciso pensar também na flexibilização brasileira. Vários aspectos tiveram como origem a Europa, na década de 60, na qual, começou apresentar os acordos sindicais, que por meio do suporte jurídico da Lei nº 4.923, que previa a redução geral e transitório dos salários em caso de crise da empresa. Diante dessa flexibilização, o objetivo maior era manter em equilíbrio a conjuntura econômica, porém, em contrapartida aos direitos trabalhistas. No ano de 1966, com a Lei nº 5.107 os trabalhadores passaram a obter o direito ao FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), este direito tinha como fundamento, o depósito bancário, por parte do empregador, de uma determinada quantia mensal, que no caso de uma demissão imotivada, era recebida pelo mesmo, propiciando portanto, uma segurança até que o empregado conseguisse um novo emprego. Após esta concessão, no ano de 1974, por meio da Lei nº 6.019/74 implantou-se uma forma de trabalho que ficou conhecida como “Lei do Trabalho Temporário”, o que findou uma característica básica, que foi a busca constantes das grandes empresas por mão de obra barata. Nesta Lei, os artigos 1º e 2º estabelecem que:
Art. 1º As relações de trabalho na empresa de trabalho temporário, na
empresa de prestação de serviços e nas respectivas tomadoras de serviço e contratante regem-se por esta Lei. Art. 2º Trabalho temporário é aquele prestado por pessoa física contratada por uma empresa de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma empresa tomadora de serviços, para atender à necessidade de substituição transitória de pessoal permanente ou à demanda complementar de serviços (BRASIL, 1974). Com base no que já foi exposto, pode apreender que a flexibilização na dimensão trabalhista está redimensionando a ideia de um fazer menos rígido, ou seja, tornar algo maleável, permissível. Nas relações de trabalho, o flexibilizar vai estar voltado aos interesses das partes. A flexibilidade trabalhista, pode ser compreendida como uma adaptação as normas determinadas por lei, ou seja, é uma adaptação das normas trabalhista que tem como objetivo suprir uma necessidade de um mercado, e consequentemente, isso gera um enfraquecimento do Direito do Trabalho. Ao flexibilizar, há condições menos favoráveis ao empregado daquilo que está previsto por lei, no entanto, diante a necessidade de ter um emprego, acontece a aceitação, mesmo sabendo das suas eventuais perdas econômicas. Na visão de Mannrich (1998) as medidas de flexibilização são adotadas para agir como instrumento de política social, que visa garantir uma adaptação constantes as normas jurídicas com a contextualização econômica, social e institucional. Nesta prática, se estabelece o desenvolvimento social e econômico, de forma a subsidiar o progresso da sociedade. “O conceito de flexibilização está intimamente ligado ao de desregulamentação. Como as próprias expressões indicam, para desregulamentar e flexibilizar um dado sistema de relações de trabalho pressupõe-se a existência de uma regulamentação inflexível” (NETO, 1997, p. 327). Quando dada a importância na flexibilização no processo trabalhista remete-se a ideia da precarização, ou seja, tornar precário a manutenção dos direitos obtidos ao longo das décadas no segmento do trabalho. A precariedade nas relações de trabalho afeta diretamente as pessoas, gerando sobre tudo a incerteza, tirando do sujeito seus direitos básicos, obrigando a aceitação de um modo de trabalho, que na visão geral não é satisfatório, porém, é a única opção diante do contexto daquele determinado momento. Para redimensionar os aspectos voltados a precarização das relações de trabalho, é fundamental que, se compreenda as garantias consolidadas ao longo dos anos no segmento trabalhista, afim de não deixar diluir as conquistas previstas por lei. 3.1 Garantias fundamentais
Para compreender as garantias fundamentais do Direito Trabalhista, é
preciso desenvolver uma análise sobre o contexto histórico, observando as conquistas de cada período. Nesse sentido, é importante destacar as primeiras leis criadas para findar os direitos trabalhistas. Essas leis estavam direcionadas ao sindicalismo, que por volta do século XIV, se consolidou com um atendimento ao sindicato rural, subsequente ao sindicato urbano. Os sindicatos em uma conceituação ampla e básica se constitui com o espírito de harmonia entre patrões e operários, tendo como base principal o elo entre empregado e empregador, oferecendo conselhos permanentes de conciliação e arbitragem, destinados dirimir as divergências e contestações existentes entre o capital e o trabalho (NASCIMENTO, 2006). Ainda no início do século XIV, os principais avanços conquistado na área de trabalho estiveram relacionados a proibição do trabalho noturno para menores de quinze anos e com uma carga horária limitada de sete horas, podendo ser prorrogada até nove horas, sendo que aos menores de doze anos, era vetado o trabalho. Percebe-se, portanto, que a jornada de trabalho já era pauta de análise e discussão dos Direitos Trabalhistas desde os anos de 1900, entendendo que expor sujeito a uma carga horária extensa é submetê-lo ao trabalho escravo. Entre os anos de 1915 a 1920, por meio da Lei Nº 3725, institui-se algumas prerrogativas subsequente que pautaram as leis trabalhistas conhecidas atualmente. Nela já se estabelecia questões relacionadas ao salário, jornada de trabalho, aposentadoria pensões. Os aspectos relacionados a proteção e assistência aos menores de dezoito anos se deu por volta do ano de 1930. Após a década de 30 também foi direcionado a política trabalhista, estabelecendo com alguns decretos por profissões. isso aconteceu no governo de Getúlio Vargas tendo fortes influências do comparativíssimo italiano (NASCIMENTO, 2006). As principais garantias deste período foi a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, por meio do Decreto nº 19.433 e a instituição da Carteira Profissional, estabelecida pelo Decreto nº 21.175 de 1932. Ainda nesta década, o trabalho da mulher e do menor tiveram texto de destaque nos decretos nº 21.417-A e 22.042 de 1932. É possível analisar ainda como direito fundamental do trabalho, estabelecido na década de 30, as bases do direito coletivo. Isso foi decorrente as ações dos trabalhadores e os movimentos sociais, que tinham como suporte os sindicatos, que buscavam de forma coletiva a realização da justiça social. Nota-se uma força sindical, agregado ao período histórico e a necessidade social da época. Os sindicatos “foram considerados não só órgãos de defesa dos interesses da profissão e dos direitos dos seus associados, mas também entidades de coordenação dos direitos e deveres recíprocos de trabalhadores e empregados” (NASCIMENTO, 2006, p. 73). Diante a força estabelecida pelos sindicatos, foi necessário redimensionar as leis que integravam os sindicatos, atualizando a lei sindical. Em tal caso, na visão de Nascimento (2006, p. 74), no ano de 1937 instituiu-se a Lei Magna, na qual é relevante enfatizar a proibição dos conflitos coletivos de trabalho mediante pressões dos interesses, ou seja, as greves de caráter antissociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatível com os superiores interesses de produção. Com toda a transformação decorrentes aos movimentos da época, foi preciso estabelecer normativas para sistematizar a oferta e contratação de produtos e serviços, criando no ano de 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O documento afirma em seu Art. 1º “Esta Consolidação estatui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela previstas”. A CLT foi estabelecida com o intuito de organizar as leis trabalhistas que, neste período, estavam sendo implantadas de modo a prejudicar algumas profissões que não se enquadravam da forma de proteção legal. Com a estruturação da Consolidação das Leis, todos passariam a seguir um mesmo direcionamento, norteando a forma de trabalho. Pode-se dizer que a CLT foi o instrumento de “cristalização dos direitos trabalhista”. Ao decorrer dos anos e com a mudança no cenário político da década de 60, as leis trabalhistas tiveram um olhar econômico. Este olhar, fez com que o foco estivesse direcionado as metas para combater a inflação. Por isso, surgiram leis denominadas de “política salarial do Governo”. As principais ações dessas políticas estão direcionadas ao reajuste salarial padronizado, que antes, precisava acontecer por meio de negociação. As negociações para acréscimo decorrente a produtividade. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), benefício este que tinha como objetivo promover o desenvolvimento de recursos captados para aplicação no sistema habitacional e que depois direcionou a uma forma de indenização pela estabilidade no emprego. Ao situar-se no contexto histórico que proporcionou as garantias fundamentais para as leis trabalhistas, percebe-se a importância de cada elemento conquistados. Os avanços foram ampliados com o processo de democratização do país, que apresentou bases essenciais com a Constituição Federal de 1988. A Constituição Federal trouxe algumas mudanças no sistema jurídico das relações de trabalho, sendo uma delas, as relações entre sindicato e Estado. Por meio da negociação coletiva foi possível agilizar as questões relacionadas ao trabalho. Na Constituição Federal estabelece-se a ampliação do direito a greve, a diminuição da carga horária semanal, que passou de 48 horas para 44 horas. A garantia de 1/3 de remuneração por período de férias. O direito a licença maternidade, prevista com o prazo de 120 dias. A idade mínima para contratação passou a ser quatorze anos e não mais doze. O direito a creche e pré-escolas a população, permitindo que mais pessoas fossem inseridas no mercado de trabalho. Os cuidados necessários para prevenção contra acidente de trabalho. Enfim, por meio da Constituição Federal de 1988, muitos avanços no que diz respeito ao trabalho e a vida em sociedade como um foram adquiridos. É preciso levar em consideração que a sociedade vive em constante processo de globalização, as leis são inovadas constantemente de acordo com o novo cenário político e social. Nessa inovação, aspectos relacionados ao avanço tecnológico e o desemprego precisam ser mencionados. Atualmente, máquinas desenvolvem determinadas funções que antes precisavam de muitas pessoas, oferecendo mão de obra. Diante dessa necessidade, o país passou a elaborar novas leis destinadas a superar os efeitos negativos causados pela globalização. Na visão de Nascimento (2006) as principais alternâncias perante esse contexto são: o contrato por prazo determinado (Lei nº 9601/98); a compensação de horas quadrimestral; o programa de desligamento voluntário de servidores civis do Poder Executivo Federal (Lei número 9468/97); a justificativa por falta para o empregado em processo de admissão ensino superior (Lei Nº 9471/97); a obrigatoriedade em concursos públicos para admissão empresa pública (Lei nº 9528/97); o trabalho voluntário (Lei Nº 9608/98); o contrato parcial com jornada semanal de 25 horas; a suspensão temporária do contrato de trabalho de 2 a 5 meses mediante a causas econômicas; a descaracterização do vínculo de emprego de cooperado e cooperativa; a proibição de qualquer prática discriminatória é limitativa para efetivo acesso ao emprego; a contratação de pessoas portadoras de necessidades especiais e deficiências; a qualificação profissional e aprendizagem do menor de mais de 14 anos; o direito a mãe adotiva a licença maternidade; o direito ao desconto em folha de pagamento para empréstimos bancários e financiamentos; o saque do FGTS diante de uma necessidade pessoal urgente devidamente comprovada, entre outras. As transformações enquanto leis trabalhistas puderam nortear a área judicial para que, os direitos do cidadão sejam garantidos. Essas mudanças são decorrentes a uma necessidade social e política de cada período. No entanto, os aspectos já conquistados precisam ser mantidos, ou seja, não deve haver uma regressão nas leis trabalhistas, nas quais o empregado passa a ser explorado. Desta forma, um estudo mais apurado sobre os aspectos que envolvem a precarização é primordial. Frente a esta temática, a próxima abordagem da pesquisa vai trazer uma análise sobre as garantias internacionais e subsequente os aprofundamentos dos as garantias da CLT.