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Artigo Direito/Linguística/Literatura sobre "1984" e "A corruptela dos significados na linguagem jurídica View project
All content following this page was uploaded by Celso Augusto Nunes da Conceição on 13 November 2015.
Abstract:
The Myth of the Cave, Plato, was written in the fourth century BC in
order to highlight how the people are enslaved without realize what is
really happening, but waving to release. With an evolutionary mode,
Aldous Huxley wrote in the century. XX, the book Brave New World,
developing the futuristic character of the benefit that scientific
advancement has on people, conditioning it to contemplate its
amazing marvels. The examination between these two works provides
the projection of the parable of the cave in the broader technological
process, where the purpose of controlling the social stability is
achieved by governments. Applied to the present day, the market
creates attractive needs in the population, most of them being the
famous media: mobile phones, tablets, internet, social networking,
etc.. The result is devastating in terms of education because the use of
conditioning prevents access individual books and thus prevents it
from reflecting on the information contained in them, that is,
technological slavery subliminally.
Keywords: conditioning, slavery, technology
1
Professor das disciplinas de Português Jurídico e Direito e Linguagem no Cesuca, Mestre e Doutor em
Linguística Aplicada na PUCRS. E-mail: celsus@terra.com.br
2
Professor da disciplina de Português Jurídico no Cesuca, Mestre em Linguística Aplicada na UFRGS
3
Termo da ciência behaviorista, que será melhor explicitada no artigo. E-mail: val@cesuca.edu.br
Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | e-mail: cesuca@cesuca.edu.br
154
REVISTA
DILÁOGOS
DO
DIREITO
v.4,
n.
6,
jul/2014
1. Introdução
Diante do avanço tecnológico por que passa o nosso planeta, com reflexos
visíveis em todas as áreas do conhecimento, a relação homem e ciência acelera o
processo de dependência sem que a sociedade tenha tempo para pensar no que está
acontecendo. A palavra que representa essa situação não poderia ser outra: escravidão.
Mas isso não começou com a tecnologia, só se agravou. Por quê? Por que a escravidão
ou o seu agravamento? Na verdade, essa ambiguidade foi provocada propositadamente
para que as reflexões já começassem a ser suscitadas.
A escravidão é uma prática que pode ser gerada dentro de uma sociedade ou
entre elas, ou seja, pode ser um homem que é a propriedade de outro dentro de uma
comunidade ou uma determinada sociedade se subjugar a outra. Somente a primeira
será tratada neste artigo porque o importante será a condição de subserviência pessoal
em relação àqueles que detêm a sua posse. E para começar esse estudo, necessário
buscar os proeminentes filósofos gregos, que tanto têm contribuído para o
conhecimento humano desde as suas primeiras reflexões sobre praticamente tudo o que
sabemos hoje, como também as experiências utópicas baseadas na ciência.
4
Está inserido na obra A República, um dos vários diálogos de Platão.
5
Mesmo existindo outras expressões como alegoria da caverna e parábola da caverna, optou-se pela
expressão mito por ser mais conhecida e melhor entendida nos meios acadêmicos, mas seus sinônimos
são utilizados no corpo textual do artigo.
6
Foi mestre de Aristóteles.
155
Então por que não deixou nenhum registro gráfico? Simplesmente porque entendia que
ideias deveriam ficar no cérebro e não fora dele.
Apesar de o autor Platão ter escrito o livro, a relevância desse mito está na figura
do protagonista Sócrates em função de suas brilhantes intervenções a respeito dos
assuntos que os seus amigos filósofos apresentavam a ele.
7
Como já foi citado acerca de seu nascimento, tem-se o período aproximado de 470-399 a.C.
8
Foi um poeta épico da Grécia Antiga que escreveu os poemas Ilíada e Odisseia. A sua existência
também é questionada no meio filosófico.
9
Palavra de origem grega que significa ‘ciência ou arte do parto”, sendo uma alusão à profissão de sua
mãe, que era parteira; e por extensão, é o 'método de Sócrates de ensinar, de tal modo que as ideias
fossem paridas no curso do diálogo' (HOUAISS, 2009); método filosófico que consiste em questionar
seus interlocutores fazendo-os entrar em contradição para perceberem sua ignorância. Com esse
reconhecimento, parte para descobrir, pela razão, a verdade que está neles mesmos. No diálogo Teeteto,
Platão mostra Sócrates definindo sua tarefa filosófica por analogia à de uma parteira, sendo que, ao
invés de dar à luz crianças, o filósofo dá luz às ideias. (MARCONDES e JAPIASSÚ (2006, p. 175)
10
Uma vez por ano, os demos sorteavam 50 cidadãos para se apresentarem no Conselho (Boulê) que
governava a cidade em caráter permanente. Como eram 10 demos, ele denominava-se "Conselho dos
500". Entre estes 500 deputados eram sorteados 50 que formavam a pritania ou presidência do
Conselho, responsável pela administração da cidade por 35 ou 36 dias. Cada demos era chamado,
alternadamente, a responder pelos assuntos da pólis, durante um certo período. O Conselho determinava
a pauta das discussões, bem como a convocação das assembléias gerais populares (a Ecclesia), que se
realizavam duas vezes por semana. (EDUCATERRA, 2014)
156
Mas como Sócrates atuava nos diálogos a ponto de se perpetuar como referência
filosófica? Como fazia para que os que dialogavam com ele conseguissem concluir algo
que desconheciam saber? Ele era uma pessoa pública que gostava muito de conversar e
de discutir com outras pessoas. Caminhava pelas ruas e praças de Atenas com o
propósito de encontrar pessoas que gostassem de conversar e de discutir sobre qualquer
assunto do cotidiano, principalmente em relação à verdade das coisas e dos fatos. Fazia
perguntas na tentativa de descobrir se as pessoas realmente entendiam o que diziam
entender. Seu método natural de elaborar seus questionamentos criava nos seus
interlocutores o desenvolvimento de seus pensamentos para superar a sua própria
ignorância e encontrar as respostas por si mesmos. Por outro lado, também os fazia
entrar em contradição a partir de suas próprias respostas.
A segunda foi o julgamento em que o júri votava duas vezes, conforme Stone
(1988, p.186-187) no capítulo “Como Sócrates fez tudo para hostilizar o júri”:
11
A
dialética
significa
discussão,
mas
há
distinções
de
significado
dependendo
de
quem
mais
a
utiliza:
Aristóteles,
Hegel
e
Max.
Como
estamos
na
abordagem
socrática,
desnecessário
discorrer
sobre
esses
filósofos.
12
Foi
outro
de
seus
discípulos.
13
Importante
ler
toda
a
celeuma
que
envolve
o
problema
de
tradução
porque
não
explicitaremos
neste
artigo
em
função
de
o
assunto
fugir
do
foco.
157
Foi dada a Sócrates a oportunidade de se manter vivo, mas para isso teria que
parar de fazer perguntas que levavam a reflexões e também de se retratar em público.
Como já estava decidido a morrer, irritou mais quando não aceitou a imposição do júri e
disse: Se eu me retratar, minhas ideias morrerão, então morro para que minhas ideias
continuem vivas e continuem a libertar pessoas que pensam.
Depois de Sócrates, a filosofia nunca mais foi a mesma, deixando como legado
não somente as suas ideias, mas dois discípulos que são referência até os dias de hoje:
Platão e Aristóteles.
14
É
um
dos
interlocutores
de
Sócrates
juntamente
com
Crátilo,
que
dá
o
nome
para
diálogo
que
trata
sobre
a
origem
da
linguagem.
158
eles como a própria realidade vivida dia a dia. Tudo o que é externo é transformado em
realidade por essas projeções. Conversam entre si e suas vozes ecoam pela caverna
dando a sensação de que suas vozes vêm de suas próprias sombras. Mas eles
entenderiam que as suas próprias sombras é que falavam com eles? Esse é um
questionamento do próprio Sócrates em uma de suas tantas reflexões.
Sócrates fazia uso do modo subjuntivo para simular um fato ou situação irreal,
mas que fosse algo possível e desejado. Então gera a possibilidade de um prisioneiro ser
libertado, sair da caverna. Primeiramente teria de se adaptar a luz porque suas pupilas,
quando no escuro, ficavam dilatadas e agora há muita luz passando por elas. No
segundo momento, a constatação de que a realidade nada se assemelha ao que vira na
caverna. E como percebeu um novo e real mundo, quer compartilhar com aqueles
homens que ficaram na caverna a sua descoberta. Vai até a entrada da caverna e diz a
eles como é o mundo lá fora. A sua voz e a sua sombra projetada na parede não são
associadas ao seu amigo que tenta convencê-los a sair. Eles não reconhecem o seu
próprio amigo, que estava dizendo que o mundo lá fora era real e o que eles estavam
vendo eram somente sombras. Acreditam que ele voltou com problemas mentais e que,
se tentarem sair, irão ficar cegos em função de a claridade da fogueira ser intensa e não
conseguirão mais ver o mundo que entendem ser o real. Outra possibilidade para o
objetivo da tentativa de convencimento é o fato de ele estar mentindo por alguma razão.
Nem louco e nem mentiroso conseguirão tirá-los de lá.
159
Seriam capazes de sentir a natureza com todas as suas nuances provocadas pelo dia e
pela noite. E o conhecimento do real começa a ser percebido pelos seus sentidos.
É uma obra de ficção que o autor Aldous Huxley16 escreveu durante quatro
meses no ano de 1930. Como britânico, escreveu sobre o seu país, especificamente a sua
capital Londres. Projetou-a no ano 632 d.F. (depois de Ford17) como referência a um
futuro em que seus personagens usariam as expressões Nosso Ford ou Graças a Ford
como se ele agora fosse um Jesus Cristo futurista. No artigo de Martins Filho (2003, p.
73-116), há uma passagem que retrata bem essa época:
Huxley assim vai construindo a sua história como pano de fundo do momento
histórico por que passava a Inglaterra naquele momento. Ideias liberais começavam a
tomar corpo em função de uma readequação ao sistema econômico que se fragmentou
com a Crise da Bolsa de Nova York em 1929 nos Estados Unidos, fato que contaminou
praticamente o mundo inteiro. E por outro lado, os regimes autoritários do pós-guerra,
criavam a ideia utópica de um mundo pseudamente democrático, principalmente a
stalinista.
Esses dois ramos políticos e mais o contexto inglês em que estava Huxley
constituiam a questão político-econômica, mas a grande fonte de inspiração foram as
pesquisas de Pavlov e Skinner em relação ao condicionamento clássico e operante nos
animais, criando conceito estímulo-resposta para as relações mentais. Mais adiante,
Watson o utiliza para desenvolver a sua teoria baseada no método de investigação
15
Titulo original: Brave New World.
16
Nasceu em Godalming, 26/07/1894, e morreu em Los Angeles, 22/11/1963. Escritor inglês e membro
muito influente da família Huxley, classe dominante da elite intelectual. Viveu mais nos Estados Unidos
do que na Inglaterra.
17
Henry Ford, norte-americano, é um industrial do automobilismo, gerando o topônimo ‘fordismo’ por
marcar uma geração pela produção radical de bens de consumo, principalmente pela organização do
trabalho em série, produzindo trabalhadores autômatos, repetindo a mesma tarefa; Significado no
HOUAISS (2009): conjunto das teorias sobre administração industrial, criadas pelo industrial e fabricante
de automóveis Henry Ford (1863-1947).
160
psicológica nos seres humanos, conhecido como teoria behaviorista, em que a caixa-
preta era o objeto que processava a relação estímulo-resposta.
E é com esse conhecimento que Huxley escreve seu livro. A narração tem como
base um futuro hipotético no qual os indivíduos viverão em plena harmonia, seguindo
as regras sociais impostas pelo “novo regime”. Essa sociedade é organizada por castas e
isenta de religião, moralidade ou até mesmo noções do que era uma família. Quando
acontecia algum problema que o indivíduo provocasse, de origem duvidosa ou de
insegurança, uma droga chamada ‘soma’ era aplicada a esse cidadão, sem que houvesse
qualquer efeito colateral. Se não havia família, como era a relação de quem deu à luz
com quem nasceu? Na verdade, os laboratórios é que os produzem. O embrião tem seu
desenvolvimento controlado por cientistas, e é nessa fase rotulado para cada uma das
cincos castas: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon; algumas com subdivisões, como Alfa-
Mais, Beta-Menos e Delta-Menos. Ele, o bebê, receberá alimentação boa ou ruim
conforme a sua casta e, quando estiver dormindo, a sua mente é monitorada pelas
máquinas – condicionamento por hipnopedia –, recebendo material ideológico
constantemente. Hipnopedia é o nome desse condicionamento. Todas elas possuem
funções específicas na cadeira produtiva em que há uma rígida divisão social de
trabalho.
E como vão atuar na “sociedade” imposta pelo sistema para servir ao Estado? Os
indivíduos de cada casta são preparados em uma incubadora de condicionamento com a
função específica para casta, garantindo uma certa “Predestinação social” (HUXLEY,
1996, p.13). Depois dessa fase, vão para outro Centro de Condicionamento a fim de
reforçarem as predisposições anteriores. Para as castas inferiores, o condicionamento é
para que as crianças sintam medo de determinados objetos, mas um em especial: o livro.
E como vão sentir medo de livro? Elas engatinham até os objetos e quando chegam
perto uma cirene potentíssima é acionada. Caso toquem em algum, um choque elétrico
também é gerado. Tudo isso era planejado por vários: castas inferiores não podiam
desperdiçar o tempo de trabalho com o de lazer; tinham de ficar orgulhosos em
pertencer àquela casta, e também porque o Estado tinha medo de que as pessoas
pensassem e assim poderiam criar mecanismos para desestabilizá-lo.
161
– Sim, já sei – disse Bernard com sarcasmo. – “Até os Ípsilons são úteis!”
Eu também. E gostaria imensamente de não servir para nada!
Lenina escandalizou-se com a blasfêmia.
– Bernard! – protestou, espantada e aflita. – Como pode falar assim?
Bernard, em outro tom, respondeu meditativamente:
– Como posso? Não, o verdadeiro problema é este: como é que não posso,
ou antes – porque eu sei perfeitamente por que é que não posso – o que
sentiria eu se pudesse, se fosse livre, se não estivesse escravizado pelo meu
condicionamento? [...] -Você não tem o desejo de ser livre, Lenina?
– Não sei o que é que você quer dizer. Eu sou livre. Livre de me divertir da
melhor maneira possível. Todos são felizes agora.
Ele riu.
– Sim, “Todos são felizes agora” (HUXLEY, 1996, p.86-87).
Encerra-se esta seção esclarecendo que a seleção de castas é para manter o poder
na mão de poucos através de conhecimentos distintos, mas com o saber restrito à
camada superior da hierarquia social. A transmissão desse saber é elaborado com a
finalidade de assumir as responsabilidades que darão a eles o poder de enfrentar
situações de conflito, tanto emergenciais como de imprevisibilidade.
162
O ‘ser’ e o ‘ter’ trocaram de lugar na falsa compreensão de que ‘ter’ é o que faz
o ‘ser’ e não o ‘ser’ que o faz ‘ter’. Essa inversão de valores faz com que as classes
sociais se discriminem mais ainda como se fossem as ‘castas’ idealizadas por Huxley.
Parece que o depositar valor nas coisas físicas, como produtos tecnológicos de qualquer
natureza neste século, cria uma justificativa de que esses produtos dão aquele prazer que
abraça o indivíduo como se estivesse desamparado. O ‘ser’, o ente que é real e que
pensa, não é visto como alguém que possa nos fazer sentir o prazer de uma boa
conversa e um bom diálogo. Ele vê o outro como alguém que não contribuirá na mesma
medida do que esse produto o beneficie. Será que ele percebe o que acontece com sua
mente? Será que consegue ter o alcance do que aquela mercadoria está fazendo com
ele? Acreditamos que não simplesmente porque não consegue ter o raciocínio mínimo
para perceber o domínio que esse produto exerce sobre ele. E o pior está no fato de que
entende estar no controle da situação como se estivesse agindo livremente na escolha
que está fazendo. Não se dá conta que seu direito natural para agir está sobremaneira
sendo substituído por uma crescente alienação a cada nova ‘conquista’ de valores
oferecidos pelo mercantilismo do modelo capitalista que se apoderou das mentes dos
que não se expõem na sociedade como seres falantes, ouvintes e pensantes. Dizendo de
outra forma, é a filosofia na vida ficando cada vez mais enfraquecida.
E quem já alertava para isso tem nome: Sócrates. Ele já dizia que o homem
nasce livre, mas que vai se aprisionando por aceitar imposições do meio social,
especificamente no sistema em que se insere. Sistema esse engendrado pelos homens
sedentos pelo poder e que precisam de pessoas subservientes a eles, popularmente
chamados de escravos.
18
Por
questões
de
terminologia
histórica,
não
será
utilizada
a
expressão
‘mundo
moderno’,
que
para
mim/nós
é
a
mais
adequada
porque
o
‘moderno’
é
a
situação
última
do
processo
tecnológico
do
momento
em
que
essas
situações
são
tratadas.
‘Mundo
moderno’
(ou
Idade
moderna)
segundo
alguns
historiadores
é
um
período
que
compreende
o
final
do
século
XV
até
o
ano
da
Revolução
Francesa
(1789).
Essa
revolução
marca
o
início
do
‘mundo
contemporâneo’
até
os
dias
de
hoje;
‘idade
tecnológica’
também
cairia
em
um
problema
conceitual
porque
a
maioria
das
pessoas
entende
que
esse
período
se
inicia
a
partir
da
invenção
da
eletrônica.
No
estudo
etimológico
da
palavra
‘tecnologia’,
a
sua
origem
é
grega
e
a
raiz
‘tekcno’
significa
'arte,
artesanato,
indústria,
ciência').
Essa
“idade”
compreenderia
todos
os
estágios
em
que
‘arte’
e
‘artesanato’
exitem.
Para
que
o
artigo
não
fique
refém
da
historiografia
terminológica,
assume-‐se
aqui
o
uso
da
expressão
‘mundo
tecnológico’
como
a
mais
adequada
aos
seus
propósitos.
163
Esses dois momentos estão separados por uma longa linha de tempo, mas têm
em comum a escravidão gerada pelo sistema: a distopia19 ou utopia20 negativa.
Para ilustrar uma das causas dessa escravidão, nada melhor do que utilizar um
dos mecanismos informáticos como o blog. Ele é veículo da informação do que
pretende este artigo: a reflexão do mito da caverna quanto ao aprisionamento e como
sair dele; e a partir daí projetar esses ensinamentos socráticos na ficção do Admirável
Mundo Novo. Essa projeção é levada pela semelhança que tem uma obra com a outra.
Os prisioneiros da caverna são para a obra de Huxley os indivíduos condicionados por
uma tecnologia que aplica na sociedade a programação do que o sistema espera deles.
Nesses dois casos, a libertação parece que é mais difícil em relação ao momento por que
passamos neste século.
5. Considerações finais
Diante de toda a exposição nas seções do artigo, torna-se possível inferir que a
política de um país, independentemente de ideologia, mantém o processo de
manutenção da ordem atendendo às necessidades básicas da população. O poder sabe
que o povo precisa estar minimamente satisfeito para que a maioria não conspire sobre o
seu governo.
é maior possivelmente provocará uma frustação tão logo esse indivíduo entre na “linha
de montagem” da alienação. Sair dele será muito complicado se a sua formação foi a
tradicional, ou seja, formação que mostra o que tem de fazer e não o que precisa ser
feito. Esse efeito é a resignação e incapacidade de alterar o sistema vigente de
concepção milenar: foco no capital. E como sair dessa “caverna”? Há dois caminhos: a
busca individual e a coletiva. E onde buscar?
Platão21 não diz que estamos condenados a viver em uma caverna. O que ele diz
é que podemos começar como prisioneiros, mas que podemos fazer melhor. De que
forma? Bem, aí mais uma pergunta!
Sair desse estágio de alienação para ver o mundo de forma natural, como deveria
ser desde o início, não é tarefa fácil. Por quê? Primeiro porque desde quando nascemos
as regras sociológicas do poder começam a se introjetar em nossas consciências de
forma subliminar. Tão subliminar a ponto de nossos pais também não perceberem essa
internalização dos valores que o poder social nos impõe. Segundo porque nossos pais
são ‘produtos’ de gerações passadas que vão se solidificando pela mudança de valores
crescentes em nossa sociedade. Então como exigir dos pais uma postura diferente
daquela que já se massificou? Pode ser simples ou complexo, dependendo da percepção
que o indivíduo tem da vida. Aqui começamos a lembrar do Sócrates.
21
Importante
esclarecer
que
na
literatura
filosófica
as
vozes
de
Platão
e
Socrátes
são
confundidas
porque
os
diálogos
de
Sócrates
foram
escritos
por
Platão.
E
como
definir
se
a
afirmação
é
de
quem
escreveu
o
que
o
outro
disse?
Realmente,
é
muito
complicado.
Existem
estudos
que
argumentam
para
um
e
para
outro,
mas
como
são
argumentos
dependem
de
condições
de
verdade.
E
como
saber
onde
está
a
verdade?
Complicado
mesmo,
mas
é
o
que
nos
faz
pensar
e,
se
pensamos,
estamos
livres.
Lembram
da
história
do
livro
1984,
de
George
Orwell?
Não
eram
livres,
não
podiam
pensar.
Se
o
fizessem,
eram
aprisionados
e
mortos.
Essa
obra
se
assemelha
à
de
Huxley
porque
também
é
utópica
no
sentido
negativo
da
palavra,
chamada
de
distopia.
166
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
167
168