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MISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS


PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
CURSO DE DIREITO
TURMA: 92 SEMESTRE
ANO LETIVO: 2019 12 SEMESTRE
PROFESSOR: JAMES GALLINATI IlEIM
1.' e 4.1 AULA -16 DE FEVEREIRO DE 2019
UNIDADE 1- PROPRIEDADE INDUSTRIAI
1 INDUSTRIA 4.0
1.1 Aspectos relevantes sobre a evolução histórica da Revolução Industriai
1.2 Definição e principais características da Indústria 4.0
1.3 Benefícios da impiantação de uma Indústria 4.0
1.4 Principais desafios da Indústria 4.0
1.5 Indústria 4.0 no Brasil e os impactos para as empresas
1.6 Conclusão

UNIDADE 1 -- PROPRIEDADE INDUSTRIAL


1 INDÚSTRIA 4.0
1.1 Aspectos relevantes sobre a evolução histórica da
Revolução Industrial

A nossa disciplina do Direito Empresarial II é a reunião de diversos


conteúdos do Direito Comercial que representam muitas vezes microssistemas
jurídicos como é o caso da Propriedade Industrial, contemplada pela Lei nQ
9.279/1
996. Em Direito Empresarial I foi observado que a propriedade industrial
faz parte do fundo de comércio (estabelecimento empresarial) desenvolvido
pela figura do empresário e por isso de longa data merece tutela do legislador
pátrio no âmbito constitucional, desde o século XIX.

Dentro de um contexto histórico, tem-se inicialmente de abordar a


ReVolu ão Industrial (1712-1913) que foi o resultado do impacto da descoberta
do uso das máquinas a vapor, criada pelo inglês James Watt colocando a
indústria têxtil como símbolo de excelência em produção, gerando a riqueza da
época, criando um novo modelo econômico •capaz de otimizar o processo
produtivo na indústria.

Os.
Na sequência temos um novo 'impulso através de outra grande
transformação na indústria, por causa do uso da eletricidade, e em seguida,
uma mudança na concepção de produção com Henry Ford com sua criação da
linha de produção em massa, onde definimos a segunda Revolução Industrial,
que desenvolveu o conceito de produção em escala, dando um impulso na
produção industrial, pela redução de custos e popularizando os produtos, para
que a massa trabalhadora pudesse adquirir bens de consumo, responsável pelo
circulo virtuoso na indústria e na economia. Neste período, logo em seguida
veio outra grande transformação na indústria, por causa do uso da eletricidade
para ampliar as perspectivas do sistema produtivo da época. Cabe frisar, que
esse período teve uma duração de quase sessenta anos (1913-1969).

Passamos de imediato a terceira ruptura industrial onde entramos na era


da automação, primeiro com a implantação de computadores no chão-de-
fábrica, colocando controles eletrônicos, sensores e dispositivos capazes de
gerenciar uma grande quantidade de variáveis de produção, permitindo a
tomada de decisões de controle de dispositivos de forma autônoma, o impacto
foi a elevação da quantidade dos produtos, o aumento da segurança no sistema
produtivo. O período da terceira Revolução Industrial durou cerca de quarenta
anos (1969-2010) marcado pela gestão dos custos e a elevação da segurança com
o uso da tecnologia da informação, pela internet como protagonista principal,
pois já consolidada entre as pessoas como um grande canal de comunicação
convergente de todas as tecnologias, colocando dentro da indústria com seus
conceitos foram adaptados às máquinas e equipamentos por dispositivos
eletrônicos que automatizaram a produção.

Hoje, já estamos percebendo a chegada da quarta revolução industrial.


As principais características dessa transformação estão representadas pela
junção de tecnologias e a velocidade da produção, causando impactos em todo
negócio empresarial contemporâneo, que vão desde a liderança — que deve
estar sempre atualizada e responder rapidamente às mudanças — até o cliente,
que estará mais exigente e participante em relação aos produtos ou serviços
oferecidos. E em seguida, iremos saber quais as principais características da
indústria 4.0 e qual é a relação dela com as empresas.

Neste momento é importante assinalar, foram os visitantes da Feira de


Hannover, na edição de 2011, os primeiros a ter contato com o termo, definidor
de uma nova lógica de produção que nasceu na Alemanha, e deu início ao
processo de digitalização da operação industrial.

Portanto a Indústria 4.0, fortemente patrocinada e incentivada pelo


governo alemão em associação com empresas de tecnologia, universidades e
centros de pesquisa do país, propõe uma importante mudança de paradigma
em, relação à maneira como as fábricas operam atualmente. Nesta visão de
futuro, ocorre uma completa descentralização do controle dos processos
produtivos e uma proliferação de dispositivos inteligentes interconectados ao
longo de toda a cadeia de produção e logística. O impacto esperado na
produtividade da indústria é comparável ao que foi proporcionado pela
internet em diversos outros segmentos, tais como no comércio eletrônico, nas
comunicações pessoais e nas transações bancárias.

A indústria 4.0, resultado da


quarta revolução industrial, é um avanço
dos sistemas industriais de produção. Hoje, estamos saindo de um processo
produtivo automatizado para algo mais elaborado em relação às tecnologias e
que se baseia na velocidade dessas transformações.

1.2 Definição e principais características da Indústria 4.0

Como foi observado acima, a Indústria 4.0 a denominação é um termo de


origem alemã que simboliza a IP Revolução Industrial, baseada na integração
digital de etapas da cadeia produtiva.

Podemos definir Indústria 4.0 como sendo um


coxeies da Orgallárjá da cadeia de valor. termo coletivo para lecnologás e
No interior das fábricas inteligentes e
modulares da Indústria 4.0, sistemas ciber-físicos (CPS) monitoram processos,
criam uma cópia virtual da realidade e tomam decisões descentralizadas.
Através da Internet das Coisas (IoT), os CPS se comunicam e cooperam entre si
e com seres humanos em tempo real, e através da Internet dos Serviços (IoS) são
oferecidos serviços organizacionais internos e externos, utilizados por
participantes desta cadeia de valor.

Consequentemente, na Indústria 4.0, é realizada a união das tecnologias


compõe um cenário totalmente novo e necessário para qualquer aMbiente
empresarial, sendo composta por duas vertentes: processos integrados que
garantem a produção customizada e produtos inovadores.

Sendo necessário frisar, a tecnologia base responsável por este conceito


apresentado é o IoT - Internet ai 73ágs
(Internet das Coisas) e o M2M - iachke to
Ifficháe (Máquina para Máquina).

De fato, na perspectiva da inteligência artificial


(AI) temos uma
evolução da computação. A inteligência artificial (AI) pode ser um hardware ou
software que responde de forma inteligente aos padrões de um banco de dados,
com o intuito de otimizar a produção. A fábrica inteligente terá disponível em
sua produção a inteligência artificial que, em conjunto, por exemplo, com a
Internet das coisas
(IoT) — que é a internet integrada a itens utilizados no dia a
dia do mundo empresarial — e o cloud computing —
um serviço que
disponibiliza o armazenamento de arquivos ou banco de dados em servidores
acessados pela internet —ambos são responsáveis por agilizar e transformar
toda a cadeia produtiva de um negócio empresarial muito mais dinâmico.

Uma Indústria 4.0 tem algumas características que devem ser


consideradas, como a interoperabilidade,
que é a comunicação entre máquinas,
sistemas, dispositivos e pessoas. Essa integração de tecnologias e pessoas dá
autonomia aos sistemas que possuem inteligência artificial porque, por meio
dos padrões de produção, eles conseguem tomar decisões simples e
descentralizadas, que representa outra característica da quarta revolução
industrial. Por outro lado, a transparência da informação e a assistência técnica
sãó as duas outras características que definem a• fábrica inteligente
ou
Indústria 4.0.

Portanto, é preciso consignar a ideia de que a Indústria 4.0 ainda é muito


mais um conceito do que uma realidade concreta, porém se manifesta através
de três grandes mudanças no mundo industrial produtivo contemporâneo, que
são:

• Avanço exponencial da capacidade dos computadores;


• Imensa quantidade de informação digitalizada;
• Novas estratégias de inovação (pessoas, pesquisa e tecnologia.

Para encerrar este tópico cabe assinalar que a transformação digital é


sobre pessoas, não da tecnologia Porém, a tendência é enfatizar apenas os
impactos da Indústria 4.0 sobre a produtividade, a redução de custos, o
controle sobre o processo produtivo, a customização da produção, dentre
outros, que apontam com destaque apenas para uma transformação profunda
nas plantas fabris.

1.3 Benefícios da implantação de uma Indústria 4.0

A seguir observaremos que a indústria 4.0 pode trazer muitos benefícios


confiáveis e consistentes em vários setores da empresa. Citando um deles,
temos os impactos favoráveis que causarão na saúde e na segurança dos
trabalhadores. Outro ponto positivo vai ser percebido no gerenciamento de
estoques que podem ser controlados eficazmente, em todos os níveis do
processo de fabricação e também de entrega ao cliente. Em consequência, o
controle dos resultados da empresa vai ser mais fundamentado, substancial e
garantido.

As perspectivas de benefícios para a empresa, tanto em relação ao


processo de produção e gerenciamento da indústria quanto na relação com o

011
cliente, são enormes, até porque a característica principal das Indústrias 4.0 é a
velocidade do processo produtivo. Tanto que é possível afirmar que a Indústria
4.0 corresponde a uma produção em rede mais precisa, de baixo custo, e que
permite personalizações em massa com velocidade.

A dinâmica do mercado na quarta revolução industrial vai ser totalmente


diferenciada — será marcada pela agilidade na informação, inovação e resposta
'da empresa ao mercado. Por isso, existe a necessidade de as empresas se
adaptarem às nova ecn las
o mais rápido possível e perceberem a
importância da atualização constante na área de tecnologia da informação.

Visando ser didático, iremos oferecer um rol de benefícios entendendo a


Indústria 4.0 como uma evolução dos sistemas produtivos industriais,
previsíveis e já estudados e baseados no impacto causado as plantas industriais,
que são:

• Redução de Custos;
• Economia de Energia;
• Conservação Ambiental;
• Fim do Desperdício;
• Redução de Erros;
• Transparência nos Negócios;
• Aumento da Qualidade de Vida;
• Personalização e Escala sem Precedentes.

1.4 Principais desafios da Indústria 4.0

Depois de apresentar os benefícios da fusão entre as tecnologias na


fábrica inteligente que vão ser importantes para a empresa que quer se manter
forte no mercado. Agora diante do que foi exposto, é necessário mostrar que a
Indústria 4.0 oferece desafios também.

Com a integração do sistema e o maior acesso aos dados, problenas de


segurança
necessitarão de atenção redobrada. Os problemas técnicos também
são fatores que devem ser observados com maior cuidado na fábrica inteligente,
porque as interrupções de produção vão acabar saindo muito caras ao
empresário contemporâneo.

Então, a integração de tecnologias ao sistema de produção, a formação de


resultados confiáveis e a estabilidade dessa integração serão os outros grandes
desafios da Indústria 4.0.

Os desafios da Indústria 4.0 são muitos, podemos abaixo eleger como


principais, os seguintes:

05
• Cibersegurança;
• Legislação;
• Uma mesma linguagem (padronização);
• Faltam profissionais preparados;
• Poderá levar anos ou décadas para uso;
• Depende dos elementos (Governo, Capital e Educação).

Cabe agora, um pergunta: Como será a relação da quarta revolução


industrial com o pessoal da fábrica?

Na fábrica inteligente, a ideia é que o processo de produção tenha o


menor controle humano possível, contudo mantendo a produtividade ou até a
aumentando. De fato, atualmente diminuir a participação humana no processo
pode ser uma grande barreira, até porque isso vai gerar desemprego, atingindo
a todos os profissionais qualificados que são bem remunerados até aqueles com
menos instrução. Neste cenário, temos a estimativa é de que no futuro próximo
60g- dos empregos terão mais de 30g das suas atividades automatizada. Esse
cenário é para alguns sinônimo de perigo, já que demonstra com clareza uma
futura e crescente substituição de atividades humanas por sistemas baseados
em inteligência artificial. No entanto, não quer dizer que essa mudança trará
desemprego. Por outro lado, A Indústria 4.0 vai exigir novas habilidades com
os avanços mencionados acima, habilidades voltadas para o cenário digital
estão sendo requisitadas do ponto de vista técnico.

A previsão dos especialistas em gestão empresarial é de que mais de


35g das habilidades consideradas importantes hoje terão mudado nos
próximos 5 anos.

Por isso, a possibilidade de migrar para o digital é dar mais velocidade


ao processo de inovação. Usa gestão inovadora cai/bina estratégia,
criatividade e velocidade A integração não ocorre apenas nos sistemas
automatizados, mas também entre os setores e, consequentemente, entre as
equipes e dentro delas. E, ao mesmo tempo, a criatividade considerada uma das
principais habilidades da era digital, a criatividade consiste em uma
característica essencialmente humana e inesgotável. Mentes criativas são vitais
para desbravar o potencial da transformação digital.

Para encerrar o tópico, é uma constatação da doutrina que o


conhecimento multi e interdisciplinar será cada vez mais necessário, uma vez
que equipes de trabalho vão lidar com conceitos de diferentes naturezas, sejam
elas de gestão ou de operação.
1.5 Indústria 4.0 no Brasil e os impactos para as empresas

Existem grandes desafios para a economia brasileira, em especial para a


indústria, que enfrentou adversidades recentemente. Apesar disto, os dados
apontam a quarta revolução industrial como uma oportunidade para o país.
Assim, não podemos ignorar essa revolução, se quisermos preservar a indústria
presente no Brasil e prepará-la para este novo panorama competitivo. Um
cenário no qual as tecnologias de informação e de automação, e não a mão de
obra de baixo custo, é que gerarão as vantagens competitivas para as nações
com setor de manufatura relevante.

Ainda, é preciso alertar que a Indústria 4.0 é composta por duas


vertentes: processos integrados que garantem a produção customizada e
produtos inovadores. O Brasil precisa ainda andar muito nesses dois sentidos.
Temos poucos setores competitivos em escala global. Po4r outro lado, a nova
revolução industrial que fala sobre as inovações tecnológicas que influenciam a
todos em escala global, a Indústria 4.0
no Brasil está é um pouco atrasada, se
compararmos com o panorama no restante do mundo contemporâneo.

Tanto é verdade, que em um relatório


do Fórum Econômico Mundial
afirma que são apenas 25 os países que já conseguem desfrutar dos benefícios
gerados pela Indústria 4.0. Alguns lugares da Europa e do sul da Ásia lideram
as mudanças relacionadas à transformação digital. Porém a América Latina
como um todo ainda está engatinhando nesse processo. Neste sentido, podemos
destacar oito principais insights:


A transformação global de sistemas produtivos será desafiadora. E o
futuro da produção pode ficar cada vez mais polarizado em um mundo
com velocidades distintas de inovação;

Surgirão diferentes caminhos conforme os países passam pela
transformação dos sistemas de produção relacionados à Indústria 4.0;
• Todos os países têm abertura para melhorias;
• Dentro de cada arquétipo, há desafios comuns;

O novo paradigma tecnológico traz à tona um aglomerado de novas
indústrias. Mas existe potencial para liderança, embora apenas poucos
países estejam posicionados para a capitalização;
• A quarta revolução industrial irá desencadear reshoring, nearshoring
e
outras mudanças estruturais para cadeias globais de valor;

A prontidão para o futuro produtivo exige soluções globais e regionais,
não somente nacionais;

Abordagens novas e inovadoras para colaboração pública-privada são
necessárias para acelerar a transformação.

OR-
Consequentemente, no Brasil transformar a indústria hoje significa que
a despeito dos desafios trazidos pela quarta revolução industrial, as empresas
têm espaço para fazer um uso mais eficiente dos seus recursos (físicos,
financeiros e informacionais) para que seus produtos e serviços sejam mais
competitivos no País e no mundo. Isso se traduz na implementação de formas
mais eficientes de gestão como o lean manufacturing
além de orientar processos
e decisões a partir da análise em tempo real dos dados de produção.

Pelo quadro apresentado acima, temos como ação concreta do Ministério


do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) a instituição, em
junho de 2017, o Grupo de Trabalho para a Indústria 4.0 (GTI 4.0), com o
objetivo de elaborar uma proposta de agenda nacional para o tema

O Grupo de Trabalho para a Indústria 4.0 (GTI 4.0) possui mais de 50


instituições representativas (governo, empresas, sociedade civil organizada
etc.), por onde ocorreram diversas contribuições e debates sobre diferentes
perspectivas e ações para a Indústria 4.0 no Brasil. Exatamente a partir das
experiências do Grupo de Trabalho para a Indústria 4.0 (GTI 4.0) que representa
uma aliança entre associações empresariais, confederações, federações de
indústria e sindicatos é o primeiro passo para trabalharmos com tema tão
transversal e impactante.

Neste contexto, do Grupo de Trabalho para a Indústria 4.0 (GTI 4.0) foi
estabelecida as premissas da Agenda da Indústria 4.0 (2017-2019) com os
seguintes objetivos:

• Fomentar iniciativas que facilitem e habilitem o investimento privado,


haja vista a nova realidade fiscal do país;
• Propor agenda centrada no industrial/empresário, conectando
instrumentos de apoio existentes, permitindo uma maior racionalização e
uso efetivo, facilitando o acesso dos demandantes, levando o maior
volume possível de recursos para a "ponta";
• Testar, avaliar, debater e construir consensos por meio da validação de
projetos-piloto, medidas experimentais, operando com neutralidade
tecnológica;
• Equilibrar medidas de apoio para pequenas e médias empresas com
grandes companhias.

Existe no Brasil um grande desconhecimento sobre os conceitos da


Indústria 4.0 e suas aplicações. E, o Grupo de Trabalho para a Indústria 4.0 (GTI
4.0) é a tentativa ampliar o acesso a esse novo universo de possibilidades para o
setor produtivo brasileiro, e assim como ocorreu em outros países, será
executada campanha permanente de comunicação, com ações em mídia
espontânea, redes sociais e internet. Inclusive, a ideia é de realizar seminários e
workshops para disseminação dos conceitos e aplicações-piloto, com
instituições parceiras e conforme demanda do público-alvo.

Nossa intenção não é esgotar o assunto Indústria 4.0 e sim apresentar


uma visão geral do tema, evitando a superficialidade, pois queremos construir
um conhecimento específico com bases sólidas. Com isso, terminamos a
abordagem.

1.6 Conclusão

Este trabalho partiu da ideia ousada de ministrar um conteúdo de


impacto para o mundo empresarial denominado Indústria 4.0 na sala de aula
do curso de graduação de Direito, porém realizamos apenas uma tragetória
exploratória sobre a origem do termo Indústria 4.0 e sua relação com a
Revolução Industrial ao longo do tempo. Em seguida, buscamos por sua
definição passando por uma apresentação de suas características mais
marcantes. Na continuidade, desenvolvemos uma análise objetiva dos
benefícios da implantação de uma Indústria 4.0 e tentamos chamar a atenção
para o desafio que representa a implementação da Indústria 4.0 em termos
gerais. Finalizando, com a inserção do Brasil e das empresas brasileiras nesse
processo complexo, e da ação do governo federal visando dar a Indústria 4.0
um papel de política pública permitindo a ampla participação da sociedade
civil interessada na matéria.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADE
DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
CURSO DE DIREITO TURMA: 92 SEMESTRE
ANO LETIVO: 2019 12 SEMESTRE
PROFESSOR: JAMES fiALLINATI REM

5.' AlfLA -23 DE F'EVEREERO DE 2019


UNIDADE 1— PROPRIEDADE INDUSTRIAL
2 OS FATORES DE PRODUÇÃO
2.1 As necessidades humanas e os latores de produção
1.2 Definição e principais características da Indústria 4.0
1.3 Benefícios da implantação de uma Indústria 4.0
1.4 Principais desailos da Indústria 4.0
1.5 Indústria 4.0 no Brasil e os impactos para as empresas
1.6 Conclusão

UNIDADE 1- PROPRIEDADE INDUSTRIAL


2 OS FATORES DE PRODUÇÃO
2.1 As necessidades humanas e os fatores de produção
O ser humano, em todas as fases da história, sempre se preocupou em
satisfazer as necessidades básicas de sua vida.

Nas sociedades primitivas, tais necessidades eram essenciais, como


alimentação, sexo, habitação e vestuário.

O desenvolvimento da sociedade traz consigo a sofisticação das


necessidades humanas, marcada por valores econômicos e pela evolução
tecnológica que somados respondem pelo processo que irá se traduzir no
progresso material da humanidade. E este, é originário da conjugação de
elementos básicos identificados como fatores de produção.

OS FATORES DE PRODUCÃO
Historicamente, a economia identifica três fatores de produção:
a) NATUREZA;
b) TRABALHO;
c) CAPITAL.
Na sociedade PÓS 22
GUERRA MUNDIAL marca pela novidade
inventiva temos uma revolução nos processos produtivos e passamos a admitir
a existência de um quarto fator de produção:
d) TECNOLOGIA.

No passado, explorando a natureza por intermédio do trabalho e com a


utilização do capital, o homem foi capaz de moldar a natureza e, ao mesmo
tempo, transformar a si próprio.

Na continuação iremos esclarecer o significado de cada uma das


dimensões que se constituem os fatores de produção.

A DIMENSÃO DOS RECURSOS NATURAIS


Através dos recursos naturais, que segundo Maria Helena Diniz, sob
urna visão de Direito Ambiental, são:
"Produtos da natureza como: terra, água,
minerais, flora, fauna e ar, que devem ser conservados e preservados para a
manutenção da vida e da saúde em melhores condições, e permitindo que haja um
equilíbrio ecológico. No contexto, salientas-se a atmosfera, o papel das águas
interiores, superficiais e subterrâneas, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera. E, que podem ser classificados cozo recursos naturais renováveis e
os recursos naturais não renováveis que se constituem nos minerais e nos
combustíveis fósseis."

Vamos nos valer dos ensinamentos do professor Wellington Pacheco


Barros, através de sua obra Direito Ambiental, nas páginas 45 a 47.

Como já foi observado o direito constitucional estuda as normas que


estabelecem garantias fundamentais da pessoa, estruturam o Estado e definem
a função de seus órgãos.

Frente a este conceito, a relação do direito ambiental com o direito


constitucional é muito intensa e se verifica em vários momentos da Constituição
Federal, base absoluta de sua existência.
Essa relação ocorre:
a) No artigo 23 da Constituição Federal, quando diz que é de
competência da União, dos Estados e dos municípios, inciso IV -
proteger o zelo ambiente e combater a poluição em qualquer de sua
formas e, inciso VII - preservar as florestas, a fauna e a flora.
b) No artigo 23 da Constituição Federal, quando diz que é de
competência legislativa concorrente, legislar sobre, inciso VI -
florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle
de poluição: inciso VII - proteção do patrimônio histórico
turístico e paisagístico e inciso VIII - responsabilidade pelo dano

ÁI
ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
c)
No artigo 225 da Constituição Federal, quando trata especificamente
do zelo ambiente estabelecendo direitos e obrigações;
d) Aro artigo 170 da Constituição Federal, quando tratar da ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tendo por fiz assegurar a todas existência digna,
conforze os ditames da justiça social, diz que deve ter cozo
principio, no inciso VI - defesa do meio ambiente, inclusive com
tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus prvcessos de elaboração e prestação;
e) No artigo 186' da (7, quando define que função social é cumprida
quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, e diz um
destes critérios, no inciso II - utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.

O nosso direito ambiental tem natureza jurídica pública. Suas regras de


dicção são absolutamente emanadas pelo Estado que não só cria como as aplica.
Disso resulta tanto a coletividade como a Administração Pública são obrigados
a respeitá-las.

No mundo contemporâneo, e especificamente em nosso país, o


empreendedor deverá sujeitar suas iniciativas de estabelecer atividades
negociais ao mecanismo legal denominado de Estudo de Impacto Ambiental e
que obrigatoriamente irá preceder a qualquer empreendimento econômico
potencialmente danoso a natureza, quer seja ele fruto de administração por
particulares ou mesmo pelo Estado, é ato administrativo que se pauta pelas
normas do direito administrativo.

Neste contexto jurídico a característica da imperatividade das normas


ambientais não está exclusivamente na emanação de ser dicção estatal. Toda
imperatividade do direito ambiental reside no fim pela qual estas normas são
editadas: a proteção do meio ambiente, em si mesmo, à sociedade sua
beneficiária direta. Assim, quando o Estado utiliza seu poder de editar normas
imperativas não o faz para proteger-se, mas, como criatura, legisla para velar
por direito indisponível, que é o de oferecer à sociedade, sua criadora, um meio
ambiente saudável. A proteção socioambiental preventiva ou reparadora
através da legislação imperativa é que fornecerá uma base estrutural de um
meio ambiente sadio para a atual e futuras gerações.

A DIMENSÃO DO TRABALHO
Pelo trabalho, o homem acrescenta um "mundo novo" ao mundo natural
já existente. Ou seja, o homem cria e desenvolve cultura: o conjunto de

I
realizações materiais e não materiais da sociedade. Por isso, o trabalho é, em
princípio, representa o instrumento de progresso coletivo e de realização
individual.

Nas sociedades marcadas pela exploração econômica, o trabalho foi


desvirtuado em sua função positiva, transformando-se em castigo que o homem
cumpre para sobreviver. De ato criador, o trabalho tornou-se rotina de
reprodução.

No século XIX, paralelamente ao surgimento da segunda revolução


industrial para conter os abusos das relações sociais exploradoras, o trabalho
passou a receber a atenção de um novo ramo específico do Direito, denominado
DIREITO DO TRABALHO.

A DIMENSÃO DO CAPITAL
Nas sociedades para melhor aproveitar a natureza e o trabalho do
homem, visando a produção tem que se construir instrumentos,
que embora não
lhe ofereçam satisfações diretas, irão a breve trecho, facilitar o aproveitamento e
buscar por melhores resultados.

Os instrumentos usados para um melhor aproveitamento da natureza e o


trabalho constituem o capital. Assim, também este
capital, verdadeiramente
fundamental, se inclui entre os fatores produtivas.

Este é o fator de produção que mais qualifica ou melhora o resultado do


bem final. Diferente do uso comum para a palavra capital (utilizada como
quantia de dinheiro), quando se fala no fator de produção capital estamos
falando do conjunto de estruturas que a sociedade dispõe para a produção de
fato.

Assim, o capital representa o conjunto de riquezas acumuladas pela


sociedade, como por exemplo, a infra-estrutura (estradas, aeroportos, etc. bem
como as máquinas, os prédios e equipamentos industriais e agrícolas devem ser
considerados capital.

A DIMENSÃO DA TECNOLOGIA
Iniciamos com uma indagação "Sem ciência e tecnologia, cozo pode us
país aspirar usa posição de relevo no futuro? Trata-se de usa das mais
importantes questões a ser colocada não apenas aos governantes, ao sistema
político e aos meios de comunicação, mas ao povo brasileiro" feita pelo Ex-
Ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil, Sardenberg, Ronaldo Mota.

Devemos entender a ciência como sendo o resultado do encadeamento


lógico das ideias e ações que auxiliam o homem na descoberta progressiva das
estruturas dos sistemas existentes na natureza e de suas formas de
funcionamento. Essas ideias e ações passam por fases de experimentação, de
análise e de síntese para chegar a noções racionais, definitivas ou
provisórias. Elas modificam constantemente os conceitos e comportamentos
presentes na relação do homem ao universo e face ao próprio homem.

A tecnologia corresponde a elaboração e aperfeiçoamento dos métodos


para assegurar o funcionamento dos mecanismos da produção, do consumo e
do lazer assim como das atividades da pesquisa artística e científica. Com isso, a
tecnologia corresponde desde as ferramentas mais simples até os
microprocessadores e, no plano econômico, visa tornar cada vez mais rentáveis
os investimentos.

• De acordo com a UNESCO,


"a ciência é o conjunto de conhecimentos
organizados sobre os mecanismos de causalidade dos fatos observáveis, obtidos
através do estudo objetivo dos fenômenos empíricos' enquanto tecnologia é
o conjunto de conhecimentos científicos ou empíricos diretamente aplicáveis à
produção ou melhoria de bens ou serviços colocados a disposição da sociedade."

Portanto, na atualidade as atividades científicas e tecnológicas


correspondem ao esforço sistemático, diretamente relacionado com a geração,
avanço, disseminação e aplicação do conhecimento científico e técnico em todos
os campos da Ciência e da Tecnologia. Neste âmbito, estão incluídas as
atividades de pesquisa e desenvolvimento, o treinamento e a educação técnica e
científica, bem como os serviços científicos e tecnológicos.

A designação treinamento e educação técnica e científica corresponde a


todas as atividades relativas ao treinamento e ao ensino superior especializado
não-universitário, ao ensino superior e ao treinamento para a graduação
universitária, à pós-graduação e aos treinamentos subsequentes, além do
treinamento continuado para cientistas e engenheiros. Já os serviços científicos e
tecnológicos compreendem as atividades concernentes à pesquisa e ao
desenvolvimento experimental, assim como as que contribuam para a geração,
disseminação e aplicação do conhecimento científico e tecnológico.

Novamente, iremos aproveitar o comentário Ex-Ministro da Ciência e


Tecnologia do Brasil, Sardenberg, Ronaldo Mota, que afirma a ciência e a
tecnologia "São condições essenciais para o desenvolvimento sustentável no
Brasil explorar os modos de produção do conhecimento, geri-lo adequadamente e
avaliar o impacto e sua distribuição na sociedade. Dessa forma poderemos
avançar es direção ao ideal de que todos os cidadãos se beneficiem de
condições dignas de vida" .

No âmbito internacional, as Nações Unidas tem um Programa para o


Desenvolvimento, onde estabeleceu um índice de Conquistas Tecnológicas o
qual visa a captar como um país está criando e difundido tecnologia e
construindo uma base no capital humano, refletindo sua capacidade para
participar das inovações tecnológicas. O referido índice utiliza quatro critérios
para chegar a classificação, que são:
1Q) criação de tecnologia
(avaliando número de patentes & royalties);
2) difusão de inovações recentes;
32) difusão de inovações antigas
(avanços nos sistemas de telefonia fixa e
celular e consumo de eletricidade);
4Q) capacidade humana
(anos significativos de escolaridade e matrícula
universitária em áreas como ciência, matemática e engenharia).

Desde a primeira década do século XXI, a decisão de estabelecer um


ranking
mundial de avanço e inclusão tecnológica é um fato que busca avaliar
através dos mais diversos critérios de cunho quantitativo e qualitativo situações
como: formas de acesso a tecnologia e da infra-estrutura tecnológica, o
ambiente de negócios, reflexos sociais, culturais e jurídicos obtidos por
utilização da tecnologia, além do nível de penetração de consumo através de
negócios on-line. Com
isso, estabeleceu-se uma tendência de avaliar o
desempenho das economias na utilização efetiva das tecnologias de informação
e de comunicação. Tanto que é um fato que a perda de competitividade do
Brasil é reflexo do alto preço da tributação da produção e da falta de uma
política governamental de desenvolvimento tecnológico bem definida, com
vistas ao aumento da inclusão digital e da informatização dos serviços públicos.

Para concluir o tópico, em um artigo publicado no Jornal Valor


Econômico, Rodrigo Baggio, disse que "... a tecnologia não é boa ou ruim,
depende de sua utilização, de como será usada na melhoria das condições de
vida da população liais do que estender as' horizontes,
as' avanços tecnológicas
vêm ampliando a capacidade humana e auxiliando em novas descobertas na
medicina, na agricultura e na indústria. Estamas falando em produtividade,
renda e cidadania, esta última fundamental, já que as inovações tecnológicas
permitem uma maior participação do cidadão nos aspectos sociais, econômicos e
políticos de sua comunidade."

ás
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
ITNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FANEI
DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
CURSO DE DIREITO TURMA: 92 SEMESTRE
ANO LETIVO: 2019 1 2 SEMESTRE
PROFESSOR: JAMES GALLINATI HEIM
6.' AULA -23 DE FEVEREIRO DE 2019
UNIDADE 1— PROPRIEDADE INDUSTRIAL
3A IMPORTÂNCIA DO
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E DE SUA PROTEÇÃO
3.1 O exemplo do Japão na busca do desenvolvimento tecnológico
3.2 As empresas precisam inovar para sobreviver

UNIDADE 1- PROPRIEDADE INDUSTRIAL


3 A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO
TECNOLÓGICO E DE SUA PROTEÇÃO
Numa perspectiva do impacto da concentração do poder
econômico, que causa um desigual domínio internacional da tecnologia, é um
fato que as grandes corporações dos países industrializados detêm o monopólio
do capital e da tecnologia, pois a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico tem
um custo muito alto e os investimentos realizados correm o risco de ficarem
superados por concorrentes, mesmo antes de existir o produto e da sua
implantação no mercado para consumo.

3.1 O exemplo do Japão na busca do desenvolvimento


tecnológico

Para nossos estudos, é oportuno citar o caso do Japão


constantemente mencionado como exemplo de um país que soube absorver
tecnologias estrangeiras com o intuito de aprimorá-las e depois criar as suas
próprias tecnologias. De fato, os japoneses somente conseguiram inovar a partir
das tecnologias que adquiriu do exterior. Sem dúvida, algumas tecnologias
adquiridas eram completamente novas para o Japão, como o nylon e a
utilização de laminadores de ação contínua na metalurgia, e outras tecnologias
importadas foram responsáveis pela produção em série de artigos como rádios,
televisores, máquinas fotográficas, relógios, máquinas de costura, etc.
Devemos assinalar o fato deste Japão ser paupérrimo em
recursos naturais, e que conta com um território vinte três vezes menor que o
Brasil, e mais ter sido destroçado pela 22
Guerra Mundial, passando de uma
geração a outra, a condição de potência econômica mundial. E isso, graças,
basicamente, à sua capacitação tecnológica, aliada a outros fatores como o nível
educacional da população e a ampla integração entre suas empresas,
trabalhadores, universidades e órgãos públicos.

É um fato que o desenvolvimento da tecnologia, após a 22


Guerra Mundial, seguiu uma certa sequência: primeiro os materiais e indústrias
básicas, incluindo o aço e a eletricidade, depois a maquinaria elétrica e, por fim,
as linhas de montagem como a de automóveis. Seguindo este contexto, desde
1960 a indústria japonesa foi cuidadosamente desenvolvida com base em uma
política destinada a reconquistar o mercado interno, por meio da tecnologia
nacional, com vistas de adquirir um mínimo de autonomia necessária ao futuro
de seu desenvolvimento.

Para concluir, o Japão seguiu uma trajetória, com notável


continuidade, através de um processo de industrialização interna aliado a uma
posição governamental de estabelecer relações com o exterior, cujos princípios
foram elaborados por M. Akamatsu, que definiu a existência de três fases nesse
desenvolvimento: durante a primeira, o mercado interno é muito pequeno e a
tecnologia estrangeira a imitar é muito complexa. Assim, a demanda interna é
atendida pela importação de produtos oriundos de outros países mais
avançados. A segunda fase começa quando o mercado doméstico é suficiente e
a tecnologia assimilável: o resultado é o começo de uma produção japonesa
responsável pela diminuição das importações. E já na terceira fase, a produção
japonesa está, solidamente, ancorada num vasto mercado interno, que permite
extrair todo o benefício dos rendimentos crescentes apresentados pela
economia. Daí, a procura interna começa a desacelerar-se e, com a aproximação
da saturação, a exportação acelera-se vigorosamente.

Segundo Akira Chinen, pode-se acrescentar uma quarta


fase às três apresentadas acima, na visão de C. Sutter, citado no
Teorias e Mecanismos Econômicos, onde assinala que: Dicionário de

"Quando a fabricação do produto no Japão torna-se muito


custoso, porque a respectiva tecnologia amadureceu e os salários progrediram
vivamente, a produção e a exploração estabilizam-se e a importação recomeça,
mas desta vez, provenientes de países menos avançados, com salários mais
baixos que os do Japão. E isso explica o esforço das indústrias japonesas nos
investimentos em países vizinhos do sudeste asiático. Verifica-se, então, de
alguma maneira, uma emigração das indústrias japonesas ultrapassadas."
Como consequência, os denominados Tigres Asiáticos
passam a seguir a trilha do Japão e hoje despontam como potências mundiais
responsáveis por um novo bloco econômico.

Tanto é verdade que na última década do século XX um•


terço das patentes registradas em todo mundo são japonesas.

Por outro lado, no cenário internacional ganha destaque os


Estados Unidos, que na visão dos estudiosos em política tecnológica, pois
graças a interferência do Governo e das empresas norte-americanas que buscam
pelo controle dos mercados da informática, dos medicamentos e da
biotecnologia, considerados setores críticos para a alta tecnologia, e nesta
perspectiva de dominação foi decisiva a criação da Organização Mundial do
Comércio (OMC) e da concretização do acordo TRIPS (Agreenent on
traderelateci aspects of intellectual property right).

No campo da propriedade industrial observamos a


necessidade de grandes investimentos em pesquisa impostos pelo avanço
tecnológico que por sua vez tem como consequência a ampliação dos mercados
com o objetivo de acelerar a taxa de retorno dos custos de produção e reduzir o
risco econômico das inovações

3.2 As empresas precisam inovar para sobreviver


A força moderna é a capacidade de inventar, isto é,
pesquisa e investigação, e ainda a capacidade de inserir invenções nos
produtos, que representa a tecnologia. Portanto, os mananciais que precisam ser
explorados, já não se encontram na terra, nem nos números, nem nas máquinas,
pois residem no espírito humano, mais precisamente, na aptidão dos homens
de refletir e criar. O empresário que inova, estimula o crescimento econômico e
recebe, como recompensa, o lucro. Com isso, o lucro legítimo, lucro real, tanto
para empresa como para a sociedade é um todo, fruto da inovação. E quem
defende esta ideia é Joseph Schumpeter (1883-1950), autor de clássicos da
economia, como História da Análise Econômica,
onde afirma ser a inovação a
verdadeira justificativa do lucro.

Devemos registrar, que embora em certos números de


casos, o progresso científico se traduza em inovações efetivas, a invenção e a
inovação
não devem ser confundidas. No sentido econômico do termo, uma
inovação é uma ideia nova que se concretiza em aplicações comercializadas.
Uma invenção não cozercializada,
não é uma invenção do ponto de vista
econômico. Já certas inovações não cabem no domínio tecnológico
propriamente dito. A título de exemplo é possível citar, a criação dos grandes
armazéns no século XIX, como sendo criações comerciais sem que se possa falar
em progresso técnico. Assim, a criatividade é isaginar coisas novas

5%
Por outro lado, inovação é fazer coisas novas. Passar da
ideia à realização supõe competência e meios: dominar a técnica, compreender
o mercado, saber convencer quem consome. Tanto que por vezes, devemos
discutir as situações entre a verdadeira e a falsa inovação. Novamente, a título
de exemplo, uma simples modificação na embalagem de um produto pode ser
entendida como novidade pelo consumidor menos esclarecido, mas não se
traduz em verdadeiros ganhos para a coletividade.

Portanto, é preciso salientar o fato de que toda inovação


tem custos elevados aliados a incerteza de seus resultados, tanto que existem
empresários inovadores, capazes de prever as potencialidades das mudanças
inovadoras, enquanto outros limitam-se a imitar os procedimentos realizados
pelos primeiros.

Diante tudo que foi dito, precisamos voltar ao início de


nossa aula, onde na doutrina observamos que o período industrial em que
vivemos é resultado de quatro revoluções técnicas, que podem ser identificadas
no transcorrer do tempo, sendo em:
• 1850 — o período marcado pelo uso do carvão, do aço e do setor têxtil;
• 1900 — o período priorizando a utilização da mecânica, voltada a
produção do automóvel e do avião, o uso do petróleo, da química e da
eletricidade;
• 1950 — o período da implantação da eletrônica, da telemática, da
robótica, da biotecnologia, da biomassa e o domínio do átomo;
• 2010 — o período das "Fábricas Inteligentes" com as suas estruturas
modulares, os sistemas ciber-físicos monitoram os processos físicos,
criam uma cópia virtual do mundo físico e tomam decisões
descentralizadas.

Cada um destes grandes movimentos marcados por


progressos técnicos apoiam-se num conjunto de descobertas. Sendo que a
descoberta científica, até a produção industrial, tem um caminho longo a ser
percorrido, tanto que essa transição vem ocorrendo em períodos de tempo
chamados de revolução industrial.

.55
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
CURSO DE DIREITO TURMA: 92 SEMESTRE
ANO LETIVO: 2019 12 SEMESTRE
PROFESSOR: JAMES QALLINAT1 HEIM

7.' e 8? AULA —23 DE FEVEREIRO DE 2019


UNIDADE 1— PROPRIEDADE INDUSTRIAL

4 INTRODUÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL


4.1 Definição de Propriedade Industrial
4.2 Noções gerais sobre a Propriedade Industrial
4.2.1 Aspectos relevantes sobre a patente
4.2.2 Do registro industrial
4.2.2.1 Aspectos relevantes sobre o desenho industrial (11es/04
4.2.2.2 Aspectos relevantes sobre a marca
4.2.3 Da repressão as falsas indicações geográficas

UNIDADE 1— PROPRIEDADE INDUSTRIAL

4 INTRODUÇÃO E ASPECTOS HISTÓRICOS


DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE
INDUSTRIAL
Nossas considerações sobre direitos de propriedade industrial
iniciam com os comentários doutrinários de Gladston Mamede, em sua obra
Direito empresarial brasileiro, volume 1, sobre empresa e atuação empresarial,
nas páginas 205 e 206,

"(...) Na sociedade industrial, o agir humano, a capacidade de empreender,


Lassa a ser elemento gerador de riqueza. Contudo, mais do que o fazer, ficou claro que o
grande diferencial, o elemento que efetivamente geraria riqueza era o saber =o fazer:
knov how, em inglês; savoir feire em francês; e, em português, tecnologia, palavra
formada a partir do grego..' Nessas novas sociedade e economia, a criação humana tem um
papel extremado: fortunas são geradas com invenções, modelos apreciados pelo mercado,
marcas que têm prestigio junto ao mercado consumidor etc.

NUNES, Gilson; HAIGH, David. Marca: valor do intangível, medindo e gerenciando seu valor
econômico. São Paulo: Atlas, 2003. P. 31-32.

ao
O papel do Direito nessa nova econosia ou sociedade do conhecimento é
essencial, pois são as normas jurídicas que garantem a transformação do conhecimento em
bem jurídico, definindo a criação intelectual que atenda os requisitos normativos como um
direito pessoal com expressão econômica, ao qual se dá uma unidade como a que possuem os
objetos concretos (as coisas) e, mais, para o qual se definiram regras concernentes à
titularidade, cessão, prescrição etc. Francisco Campos compreende essa proteção à
propriedade intelectual como uma faculdade decorrente do Direito Concorrencial, protegendo
a função comercial, bem como a identificação e a distinção que são próprias da competição,
da concorrência.' Sob tal prisma, propriedade intelectual realça-se por seu uso, mais do que o
seu registro, que é uma mera exigência formal. São, portanto, bens de concorrência, e não um
objeto puro de Direito da Personalidade ou do Direito Patrimonial: não se protege apenas a
personalidade ou o patrimônio, mas igualmente o trabalho de quem criou e de quem usa. Há,
aí, inclusive, um limite para a compreensão do instituto, a justificar, por exemplo, o registro
da marca por classes, já que entre atividades de classes diversas não há concorrência,
competição e, destarte, foge-se das motivadoras específicas da proteção aos bens da
concorrência.

Tamanha a importância de tais elementos para as empresas na


modernidade que administradores de empresas, economistas, contadores etc, os denominam
parte de um ativo intangível, destacando a qualidade imaterial de tais bens jurídicos: não
possuem corpo físico e, portanto, não podes ser tocados,3 a expressão contudo, não se
refere apenas à propriedade intelectual (direitos de autor, patentes, marcas, softwares etc.),
mas alcança elementos que não caracterizam bens jurídicos, não são direitos pessoais com
expressividade econômica e passíveis de transferência; é o caso das despesas com
implantação, desenvolvimento logístico, pesquisa e desenvolvimento, que também são ativos
intangíveis (sendo escriturados, como visto, no ativo diferido, merecendo amortização
nos exercícios seguintes).

No Direito brasileiro atual, uma das principais normas reguladoras dos


ativos intangíveis é a Lei n.° 9.279/96, que regula direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial, considerados o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e
econômico do país. Essa proteção efetua-se mediante:

1. concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade;

2 Nome comercial (parecer). Revista Forense, Rio de Janeiro, v. LXVIII, ano XXXIII, p. 63-73,
jul./set. 1936.
3 Conferir: SCHMIDT, Paulo; SANTOS, José Luiz dos.
Avaliação de ativos intangíveis. São
Paulo: Atlas, 2002; NUNES, Gilson; HAIGH, David. Marca: valor do intangível, medindo e
gerenciando seu valor econômico. São Paulo: Atlas, 2003.

t
2. concessão de registro de desenho industrial;

3. concessão de registro de marca;

4. repressão às falsas indicações geográficas; e

5. repressão à concorrência desleal. (...)"

Porém, cabe um alerta, o nome empresarial não foi objeto da


Lei n2 9.279/1996, sendo tratado pela Lei n2 8.934/1
994 referente ao Registro
Público de Empresas Mercantis, nos artigos. 33 e 34, dispondo que a proteção ao
nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos
constitutivos de firma individual ou de sociedade empresária ou das suas
alterações. E segue, o nome empresarial obedecerá aos princípios da veracidade
e da novidade.

Seguindo a linha de pensamento do autor, acima mencionado,


quando falamos em propriedade imaterial ou intelectual, temos propriedades
de duas espécies, que são:

a) Propriedade literária, cientifica e artística, que é


efetivamente matéria vinculada ao ramo do Direito
Civil, regulada por lei especifica (Lei 1-12 9.610/1998 -
direito autoral);
b) Propriedade Industrial, que em razão de seu objeto de
estudo é matéria vinculada ao ramo do Direito
Comercial, regulada por lei especifica (Lei n2
9.279/1996).

Agora, visando mostrar a importância da propriedade imaterial


na história jurídica brasileira à nível constitucional, reproduziremos
parcialmente um comentário, extraído do artigo Propriedade industrial frente 'a
concorrência desleal, de Marcus Elidus Michelli de Almeira, onde afirma:

"(...) A Propriedade Industrial, embora, muitas vezes possa parecer algo


inovador, moderno, já é de a muito tempo conhecida do nosso direito, sendo certo que desde
a primeira Constituição (Constituição do Império) esse direito esta consagrado.

O art. 179. XXVI, da Constituição de 1824, afirmava


textualmente que:

Art. 179. A inviolabilidade das Direitos Civis, e Políticos


dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança
individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela
maneira seguinte:

pfz-
AZIT - Os inventores terão a propriedade das suas descobertas,
ou das suas produções. A Lei lhes assegurará um privilégio exclusivo
temporário, ou lhes remunerará em ressarcimento da perda, que hajas de sofrer
pela vulgarização.

Conforme se pode Comprovar, o direito industrial é constitucionalmente


garantido em todas as Constituições', desde a primeira até a Carta Magna atual, no artigo 5.",
inciso XXIX.

Art. 5 ...
JaIX - A lei assegurará aos autores de inventos industriais
privilégio temporário para a sua utilização, bem como proteção às criações
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e outras signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico
e econômico do País.

Conclui-se que o direito à propriedade industrial goza de proteção


constitucional e, desta forma não pode ter seu alcance reduzido por meio de legislação infra
constitucional, cabe sim, a estas, regulamentar o exercício deste direito."

4.1 Definição de Propriedade Industrial


Novamente iremos fazer uso dos comentários de Marcus
Elidus Michelli de Almeira, extraídos de seu artigo, para entender o significado
jurídico de propriedade industrial:

"A Propriedade Industrial, conforme já sabemos, está inserida dentro do


campo do direito Imaterial ou Intelectual, podendo ser definida como o conjunto de normas
legais e princípios jurídicos de proteção à atividade do trabalho no campo das
indústrias, e a seus resultadas econômicos, abrangendo, assim, a proteção das
produções intelectuais do domínio industrial (invenções, modelos de utilidade, os desenhos e

4
A Constituição Republicana de 1891, consagrou o Direito de Propriedade Industrial no art. 72,
§ 25: "Os inventos industriais pertencerão aos autores, aos quais ficará garantido por lei
um privilégio temporário, ou será concedido pelo Congresso um prazo razoável, quando
haja conveniência de vulgarizar o invento". - A Constituição Federal de 1934, art. 113, 18:
"Os inventos industriais pertencerão aos seus autores, aos quais a lei garantirá privilégio
temporário, ou concederá justo prêmio, quando a sua vulgarização convenha a
coletividade". - Na Constituição Federal de 1937, alguns autores entendem que não havia
proteção ao direito industrial, porém em nosso entender podemos encontrá-la, de forma
muito acanhada em seu art. 135: "Na iniciativa individual, no poder de criação, de
organização e de invenção do indivíduo, exercido nos limites do bem público, funda-se a
riqueza e a propriedade nacional." Na Constituição de 1946, no art. 141, § 17:
"os inventos
industriais pertencem aos seus autores, aos quais a lei garantirá privilégio temporário ou,
se a vulgarização convier à coletividade, concederá justo prêmio; § 18: É assegurada a
propriedade das marcas de indústria e comércio, bem como a exclusividade do uso do
nome comercial." - A Constituição Federal de 1967 em seu art. 153, § 24:
"A lei assegurará
aos autores de inventos industriais privilégio para a sua utilização, bem como a
propriedade das marcas de indústria e comércio e a exclusividade do nome comercial."

(2 5
modelos industriais e toda matéria relativa à repressão da concorrência desleal, inclusive
marcas, o nome comercial, as indicações de origem dos produtos, etc).3

Carvalho de Mendonça define propriedade industrial como sendo o


conjunto de direitos resultantes das concepções da inteligência husana que se
manifestam ou produzem na esfera da indústria.'

Em face da denominação industrial, cria-se uma falsa imagem que a


propriedade protegida é apenas aquela ligada a indústria, e que portanto outras atividades
como agricultura, comércio, indústrias extrativas, não estariam cobertas pela mesma:

O pensamento acima, porém, não é o mais acertado, uma vez que se deve
ter em conta o espírito da Convenção de Paris que em seu artigo 1.0 - 3, afirma textualmente
que:

3) A propriedade industrial entende-se na mais ampla


acepção e aplica-se não só a indústria e ao comércio
propriamente ditos, mas tasbém às indústrias agrícolas e
extrativas e a todos os produtos sanufaturadas e naturais, por
exemplo: vinhos, cereais, tabaco em folha, frutas, anisais,
minérios, água mineral, cervejas, flores, farinha."

Portanto, a concepção de indústria é mais ampla do que aparentemente se


pode ter num primeiro exame.

Vale ainda marcar que a propriedade industrial difere da atividade


literária, científica e artística, em razão de seu caráter industrial ou artístico.

A atual lei de patentes (Lei n.° 9.279/1996) reafirma o direito à


propriedade industrial em seu art. 1.0 e reitera em outros quando trata dos privilégios
industriais. (...)"

4.2 Noções gerais sobre a Propriedade Industrial


Partindo, num segundo momento, para os aspectos específicos
da propriedade industrial, aproveitamos o comentário do professor Wilson

5 Cerqueira, João Gama - Tratado da Propriedade Industrial, 2.a ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1982, p. 53.
6 Carvalho de Mendonça, José Xavier - Tratado de Direito Comercial Brasileiro, vol. V, Livro III,
Parte I, 5.a ed., Freitas Bastos, 1955.
7 Neste sentido o posicionamento de Douglas Gabriel Domingues:
"Lactas afirma que: a
expressão propriedade industrial seria ambígua e o termo não apropriado, porque
derivado do termo indústria que, se tomado em sentido estrito, opõe-se ao comércio, à
agricultura e, indústria extrativas, e em sentido mais amplo, a toda gama do trabalho
humano." - Domingues, Douglas Gabriel - Direito Industrial - Patentes, 1.a ed., Rio de
Janeiro, Forense, 1980.

cH
Furtado, no livro Curso de direito comercial,
nas páginas 69 a 72, onde explica
que:

"Os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial no território


brasileiro, encontram-se regulados na Lei n.° 9.279, de 14 de maio de 1996. A proteção do
poder criativo do ser humano vem, ao longo dos anos, fazendo com que novos dispositivos
legais nasçam e estabeleçam regras objetivando tornar mais confortável esse poder de criação.

O campo de abrangência do direito industrial está delimitado, atualmente,


nos artigos 8.° e 9.° da já mencionada Lei n.° 9.279/1
996, que considera bens patrimoniais e,
em consequência, objeto de patenteabilidade, as invenções que atendam
os requisitos de
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, o mesmo ocorrendo com
os
modelos de utilidade, assim considerando o
objeto de uso prático, ou parte deste,
desde que suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição,
envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.

Assim, o titular de um registro industrial tem o direito à exploração


com exclusividade do objeto
do respectivo registro, recebendo da legislação atinente à
matéria apoio e condições para vedar a utilização de seu registro por outro comerciante, o
que vale dizer, o objeto do registro que nada mais é do que a
Propriedade Industrial que
somente poderá ser utilizada por terceiros com a expressa autorização do seu titular. O
Registro em tela é concedido pelo Estado, cabendo, no Brasil, esta atribuição a uma autarquia
federal, o INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL - INPI.

Fundamentalmente as responsabilidades do INPI, a) abrangem


registros demarcas; b) contessio de patentes; c) avertação_de_c_ontratos_de_transferência_de
tecnologia; d) franquia_empresarial; e) registros_cle_prognmas_de_comp_utador; f) desenho
industrial; g) indicações _geográficas, conforme disposições contidas na Lei n.° 9.279/1996 e
na Lei n.° 9.60 9/1998.

Além dessas atribuições, também é responsabilidade do INPI divulgar


os atos praticados junto a ele, o que é feito por meio de artigos e textos publicados na
Revista de Propriedade Industrial.

Portanto, a lei garante no território nacional a propriedade e uso


exclusivo da marca àquele que obteve o registro no Instituto Nacional de Propriedade
Industrial, para distinguir seus produtos, mercadorias ou serviços, de outro idênticos ou
semelhantes, na classe correspondente à sua atividade. Vale ressaltar que apesar da
anterioridade do registro na Junta Comercial, as denominações e as marcas usadas cedem vez
às da firma mais nova que as regulamente no órgão de expressão maior, no caso o Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI), pois a eficácia do registro no órgão federal afasta a
do registro local.

DA PATENTEABILIDADE,

Para a obtenção da patente, além dos demais requisitos estabelecidos nos


artigos 19 a 29 e seus parágrafos da Lei n.° 9.279/1996, deve o pedido atender a seu requisito
essencial, qual seja que o objeto desse pedido enquadre-se nas condições exigidas nos artigos
8.° e 9.° do dispositivo legal em pauta. Assim, para que a patente venha a ser concedida é
essencial que o pedido atenda o seguinte:

- INVENÇÃO: É a proteção de algo desconhecido ou ainda o ato


original do gênero humano. Ainda assim, essa invenção deve
ter aplicabilidade industrial.

- MODELO DE UTILIDADE: É a disposição ou forma nova obtida ou


introduzida em objetos desconhecidos, que aumentem a sua
utilidade. Não há, propriamente, invenção, mas sim,
modificação com objetivo de melhorar e acrescer sua
utilidade.

Para obter a patente, o inventor ou criador, passa antes por um devido


procedimento administrativo e, uma vez satisfeitas as formalidades legais, o INPI expedirá a
respectiva patente, único instrumento de prova admissivel pelo Direito para demonstração da
concessão dos direitos de exploração exclusiva da invenção ou do modelo de utilidade.

A patente tem prazo de duração determinada, que se conta da data do


depósito do pedido, sendo de 20 (vinte) anos para as invenções e de 15 (quinze) anos para os
modelos de utilidade, nos termos do artigo 40, da Lei 11.0 9.279/1996.

Entretanto, se antes da data do depósito da patente, terceiro de boa fé já


explorava, no Pais, o objeto do pedido, será assegurado ao mesmo o direito de continuar a
exploração, sem qualquer ônus, na forma e demais condições estabelecidas na Lei (artigo 45,
g 1.0 e 2.).

A patente, nos termos do artigo 78, da Lei n.° 9.279/1996, extingue-se:

a) pela expiração do prazo de vigência;

b) pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros;

c) pela caducidade;
d)
pela falta de pagamento, da retribuição anual, nos prazos previstos
no § 2.° do artigo 84 e no artigo 87, da Lei n.° 9.279/ 1996;
e) pela inobservância do disposto no artigo 217, que determina que a
pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e manter
procurador devidamente qualificado e domiciliado no Pais, com
poderes para representada administrativamen te e judicialmen te,
inclusive para receber citações.

Extinta a patente, consoante o parágrafo único do artigo 78 da Lei il.°


9.279/1996, o seu objeto cai em domínio público.

DA CONCESSÃO DE REGISTROS

DAS_MARCAS (artigos 122 a 175, da Lei n.° 9.27


9/1 996)

A marca é o sinal ou expressão destinado a individualizar os produtos ou


serviços de uma empresa, identificando-os. As marcas tornaram-se importantíssimas para
Economia Moderna. Mas a marca só confere a si um valor real desde que registrada no INPI, o
que lhe garante a exclusividade e, por conseguinte, proteção.

Entende a melhor doutrina que o direito sobre marcas é de propriedade e


não uma criação da lei, cabendo a esta regular este direito, reconhecendo e protegendo-o. O
nome comercial é o nome sob o qual o comerciante ou industrial gira os seus negócios. A
marca, por sua vez, é o sinal ou expressão, ou conjunto destes, que tem por escopo distinguir
os produtos ou ainda os serviços de uma empresa.

A lei pzufbe a concorrência desleal para


evitar que o consumidor seja levado a erro ou confusão.
(Propriedade Industrial, P. R. Tavares Paes, páginas 11, 15, 16 e 58).

FRAN MARTINS, nos ensina que "A lei protege a propriedade e o uso
exclusivo das marcas de indústria, de comércio e de serviço a fim de evitar a concorrência
desleal. Para isso só será necessário que o comerciante, aos ditames estabelecidos pela Lei que
regula os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, contemplados por normas
expedidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Nacional (INPI)". (Curso de direito
comercial, p. 536).

Diferentemente do que ocorre com as patentes e direitos do autor, na


marca não há nenhum direito de criação a ser preservado, de forma que o direito à marca
nasce com o transito em julgado da decisão concessiva e consequente expedição de certificado
de registro. Antes disso não há direito de marca e sua violação terá sido matéria de
concorrência desleal, estranha aos direitos que decorrem da propriedade sobre os sinais
distintivos. Referida propriedade é limitada à utilização do sinal para os fins a que se destina.
Representa, pois, uma "exclusividade de utilização do sinal restrita ao ramo de atividade ou
classe correspondente, podendo o titular impedir esse uso por terceiros, autorizá-lo ou
transferir a titulo oneroso a outro que exercerá o direito nas mesmas condições". (Curso de
propriedade industrial, Newton Silveira, páginas 22 e 23).

Para que uma marca possa ser registrada no Instituto Nacional de


Propriedade Industrial (INPI), é indispensável, nos termos da Lei n.° 9.279/1996, o
atendimento dos seguintes requisitos:

a) DOS SINAIS REGISTRÁVEIS COMO MARCA (artigos 122 e 123 e


inciso, da Lei n.° 9.279 / 1996):

Marca_de_roduto_ou_s_erviç_o: aquela usada para distinguir produto ou


serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa;

Marea_de—tertificação: aquela usada para atestar a conformidade de um


produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto
à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada;

Marcacoletiya: aquela usada para identificar produtos ou serviços


provindos de membros de uma determinada entidade.

b) MARCA DE ALTO RENOME (artigo 125, da Lei n.° 9.279/1996):

A marca de alto renome, devidamente registrada no Pais, será


assegurada por lei, proteção especial, em todos os ramos de atividade.

c) MARCA NOTORIAMENTE CONHECIDA (artigo 126, da Lei n.°


9.279 / 1996):

Por força do artigo 6.° bis (1), da Convenção da União de Paris para
Proteção da Propriedade Industrial, as Marcas, inclusive as de "serviço", gozam de proteção
especial, independentemente de estarem previamente depositadas ou registradas no Brasil.

D_OS DESINHOSANDLSTRIAIS (artigos 94 a 121, da Lei n.° 9.279/1996)

Os desenhos industriais, ou seja, aqueles com forma plástica ornamental de


um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto,
proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa
servir de tipo de fabricação industrial, podem ser também objeto de registro, sendo que, uma
vez deferido o pedido, seu prazo de vigência será de 10 (dez) anos, contados da data do
depósito, prorrogável por 3 (três) período consecutivos de 5 (cinco) anos."

4.2.1 Aspectos relevantes sobre a patente


Sobre a patenteabilidade concedida em razão da produção
intelectual denominada invenção, surge como forma de recompensar a pessoa
que em razão da dedicação aos seus estudos, suas pesquisas, tem como
resultado de seu trabalho o fato de descobrir ou inventar alguma coisa
relevante. A consequência, que o direito industrial concede é dar ao criador da
invenção possibilidade dele adquirir propriedade sobre a mesma, de tal sorte
que venha ser protegida juridicamente.

Para explicar sobre a concessão de patente, segundo a Lei n9


9.279/1996, recorremos aos texto de Fábio Ulhoa Coelho, em seu livro
Manual de
direito comercial, 252 ed., nas páginas 111 a 114, ensina que:

"A patente diz respeito à invenção ou ao modelo de utilidade.

A invenção é o ato original do gênio humano. Toda vez que alguém projeta
algo que desconhecia, estará produzindo uma invenção. Embora toda invenção seja, assim,
original, nem sempre será nova, ou seja, desconhecida das demais pessoas. E a novidade,
conforme se verá em seguida, é condição de privilegiabilidade da invenção.

Modelo de utilidade é o objeto de uso prático suscetível de aplicação


industrial, com novo formato de que resulta melhores condições de uso ou fabricação. Não há,
propriamente invenção, mas acréscimo na utilidade de alguma ferramenta, instrumento de
trabalho ou utensílio, pela ação da novidade parcial que se lhe agrega. É chamada, também,
de pequena invenção e goza de proteção autônoma em relação à da invenção cuja utilidade foi
melhorada.

A patenteabilidade de invenções e modelos de utilidade está sujeita aos


seguintes requisitos:

a) Novidade - não basta, para a obtenção do direito industrial, que a


invenção ou o modelo sejam originais, característica de natureza subjetiva (isto é, relacionada
ao sujeito criador). É necessário que a criação seja desconhecida pela comunidade científica,
técnica ou industrial (numa palavra, os experts da área). Ou, para fazer uso do termo da lei, a
criação não poderá estar compreendida no estado da técnica (LPI, artigo 11).

b) Atividade inventiva - a lei define que a invenção apresenta


inventividade quando não é uma decorrência óbvia do estado da técnica (LPI, artigo 13). Em
outros termos, a invenção deve despertar ao espírito dos técnicos da área o sentido de um real
progresso. Ao seu turno, o modelo de utilidade atende ao requisito, se não decorrer de
maneira comum ou vulgar do estado da técnica, segundo o parecer de especialistas do assunto
(LPI, artigo 14).

c)Aplicação industrial - somente a invenção ou modelo suscetível de


aproveitamento industrial pode ser patenteado (LPI, artigo 15). Quem cria uma máquina cujo
funcionamento depende de combustível inexistente, por exemplo, não tem direito à patente
por faltar à sua invenção o requisito da industriabilidade.

d)Não-impedimento - a lei proíbe, por razões de ordem técnica ou de


atendimento ao interesse público, a patenteabilidade de determinadas invenções ou modelos
(LPI, artigo 18). São exemplos de impedimento legal: afronta à moral. Aos bons costumes, à
segurança, à ordem e à saúde públicas; substâncias resultantes de transformação do núcleo
atômico; seres vivos, exceto os dotados de características não alcançáveis pela espécie em
condições naturais (os seres transgênicos).

Após o devido procedimento administrativo o Instituto Nacional de


Propriedade Industrial (INPI) expedirá à respectiva patente, único instrumento de prova
admissivel pelo direito para demonstração da concessão do direito de exploração exclusiva da
invenção ou do modelo de utilidade.

A patente tem prazo de duração determinado, sendo de 20 anos para a


invenção e 15 anos para o modelo de utilidade, contados do depósito do pedido de patente
(isto é, da data em que o pedido foi protocolado no Instituto Nacional de Propriedade
Industrial-INPI). Para garantir ao inventor pelo menos um tempo razoável de utilização da
invenção ou do modelo, contudo, o prazo de duração do direito industrial não poderá ser
inferior a 10 anos, para as invenções, ou 7 anos, para os modelos, contados da expedição da
patente (LPI, artigo 40). Atendidas estas regras, não haverá prorrogação, em nenhuma
hipótese, do prazo de duração da patente.

Há situações em que o titular da patente está obrigado a licenciar terceiros


na exploração da invenção ou do modelo de utilidade correspondente. Isto porque o direito
considera relevante o interesse social relacionado ao acesso às comodidades proporcionadas
pelo desenvolvimento industrial. Em outros termos, se o titular da patente de invenção ou
modelo de utilidade não está exercendo o seu direito de forma a atender regular e
convenientemente o mercado, outros empresários interessados e capacitados terão o direito de
explorá-la, através da licença compulsória. Evidentemente, os licenciados remunerarão o dono
da patente. Assim, se os direitos concedidos pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI) são exercidos de forma abusiva, ou se, através deles, se pratica abuso do poder

?C)
econômico, caberá a licença compulsória. Também se impõe esta licença se o titular da
patente, tendo já transcorridos 3 anos da sua expedição, não a explora por completo, ou se
verifica o caso de insatisfatória comercialização (LPI, artigo 68 e g 1.0 e 5.°).

Concedida a primeira licença compulsória, prevê a lei o prazo de 2 anos


para que a exploração econômica da invenção ou modelo de utilidade seja feita, agora pelo
licenciado, de forma satisfatória. Vencido tal prazo e persistindo a situação irregular que
houvera dado ensejo ao licenciamento obrigatório, opera-se a caducidade da patente; isto é, o
inventor perde todos os direitos industriais que titularizava, e a invenção ou modelo caem em
domínio público (UI, artigo 79).

Além do término do prazo de duração e da caducidade, são hipóteses legais


de extinção da patente: a) a renúncia aos direitos industriais, que somente poderá ser feita se
não houver prejuízo para terceiros (licenciados, por exemplo); b) a falta de pagamento da taxa
devida ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), denominada "retribuição
anual"; c) a falta de representante no Brasil, quando o titular é domiciliado no exterior."
Importante que todos os alunos matriculados na disciplina de
Direito Empresarial II façam uma leitura atenta da Lei riQ 9.279/1996, pois será
através deste texto legal que encontraremos a fundamentação para a matéria de
propriedade industrial.

E, entre os artigos relevantes, temos aquele fixa os elementos


indispensáveis que devem estar no pedido de patente, leiam o artigo 19 da Lei
riQ 9.279/1996, que diz:

O pedido de patente, nas condições estakeleada s pelo lin conterá:


I— requerimento;
— relato'do descrigro;
ifi —reivindicações;
Ir— desenhos se for o caso;
17— resumo; e
17— comprovante do pagamento da retrikição relativa ao &Mito.
O nome do documento que prova direito de exploração
exclusiva da invenção ou do modelo de utilidade é denominado de carta-
patente, ler o caput do artigo 38 da Lei riQ 9.279/1996.

A forma prevista pela Lei riQ 9.279/1996 para permitir a


exploração por terceiros de uma invenção prote,gida pelo privilégio da patente
é denominada de licença, as possibilidades jurídicas e os limites da matéria
estão em capítulo específico da lei, nos artigos 61 a 74.
4.2.2 Do registro industrial
No registro industrial, o que se pretende preservar é a ideia,
seja um sinal pelo qual será conhecido um produto ou serviço, ou a forma
inovadora de um objeto. Neste sentido, podem ser objeto de registro o desenho
industrial e a zarca.

4.2.2.1 Aspectos relevantes sobre o desenho industrial


(design)
Da mesma maneira que a lei sobre propriedade industrial
protege a invenção e o modelo de utilidade, temos concessão de privilégio para
o desenho industrial na forma de registro no Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI). Tanto que o registro industrial tem caráter de ato
administrativo constitutivo. Ou seja, o direito de utilização do desenho
industrial não nasce da anterioridade em sua utilização, mas da anterioridade
do registro. E, somente após o registro é conferida a concessão do direito de
exploração exclusiva.

A definição legal de desenho industrial está nos termos do


artigo 95 da Lei nQ 9.279/96. E, nos aproveitamos das palavras de Fábio Ulhoa
Coelho, no livro Manual de direito comercial, 252
ed., nas páginas 114 e 115, que
afirma:

"(...) Desenho industrial diz respeito à forma dos objetos, e serve tanto
para conferir-lhe um ornamento harmonioso como para distingui-los de outros do mesmo
gênero. Lembre-se, por exemplo, a cadeira Hill House, projetada pelo arquiteto Charles
Mackintosh em 1902, cuja forma (desenho industrial, design) tem especificidades que
permitem sua imediata identificação. (...)

(...) O registro de desenho industrial está sujeito aos seguintes requisitos:

a)Novidade - a exemplo do que estabelece a lei relativamente aos objetos


das patentes, o desenho industrial deve ser novo, isto é, não compreendido no estado da
técnica (LPI, artigo 96). A forma criada pelo designer deve, para merecer a proteção do direito
industrial, propiciar um resultado visual inédito, desconhecido dos técnicos do setor.

b)Originalidade - o desenho industrial é original quando apresenta uma


configuração própria, não encontrada em outros objetos, ou quando combina com
originalidade elementos já conhecidos (LPI, artigo 97). Enquanto a novidade é uma questão
técnica, a originalidade é estética.
c) Desimpedimento - a lei impede o registro de desenho industrial em
determinadas situações (LPI, artigo 100). São exemplos de impedimento: desenhos contrários
à moral e aos bons costumes, ofensivos à honra ou imagem de pessoas ou atentatórios à
liberdade de consciência; formas comuns, vulgares ou necessárias.

O registro de desenho industrial tem prazo de duração de 10 anos,


contados da data do depósito, e pode ser prorrogável por até 3 períodos sucessivos de 5 anos
cada (1,1)1, artigo 108). A taxa devida ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
pelo titular deste registro, denominada retribuição, tem incidência quinquenal (LPI, artigo
120).

4.2.2.2 Aspectos relevantes sobre a marca


No que se refere as marcas, no direito brasileiro, estas detém
sobre si uma proteção advinda do registro junto ao Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI), nos termos da Lei nQ 9.279/1996. Tanto que o
registro industrial tem caráter de ato administrativo constitutivo. Ou seja, o
direito de utilização da marca não nasce da anterioridade em sua utilização,
mas da anterioridade do registro.

Na realidade, a utilidade da marca visa distinguir o produto ou


serviço, sendo neste sentido o mais importante de todos os signos distintivos,
pois, em regra, é uma referência direta ao próprio produto.

Portanto, devemos ter em mente a ideia de que objetivo da


marca é fazer a distinção do produto ou serviço entre os demais concorrentes,
que atuam no mercado, a fim de produzir uma clientela própria, sendo este o
real motivo para a sua proteção, excluindo outros de usar a mesma marca sob
pena de não estar agindo dentro dos termos da lealdade da concorrência.

Consequentemente, é correto afirmar que a proteção à marca


protege não só o proprietário da marca, mas também aos consumidores que ao
comprarem o produto ou usarem o serviço sabem exatamente o que estão
adquirindo, e com isso, atendendo as suas expectativas em relação ao que já
conhecem e que elegeram como de sua preferência.

Segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho, no livro Manual de


direito comercial, 252 ed., nas páginas 115 a 118, é significativa evidenciar os
seguintes aspectos sobre a matéria, e ensina:

A marca é o designativo que identifica produtos e serviços. Não se


confunde com outros designativos presentes na empresa, assim o nome empresarial, que
identifica o empresário e o título de estabelecimento, referido ao local do exercício da
atividade econômica. A lei da propriedade industrial de 1996 introduziu no direito brasileiro,

S3
além da marca de produtos e serviços, duas outras categorias: a marca de certificação e a
marca coletiva (LPI, artigo 123, II e III). A primeira atesta que determinado produto ou serviço
atende a certas normas de qualidade fixadas pelo organismo oficial ou particular, enquanto a
segunda informa que o fornecedor do produto ou serviço é filiado a uma entidade, geralmente
a associação dos produtores ou importadores do setor.

Para que uma marca possa ser registrada é indispensável o atendimento


dos seguintes requisitos:

a) Novidade relativa - não se exige da marca que represente uma


novidade absoluta, isto é, a expressão linguística ou signo utilizado não precisam ser,
necessariamente, criados pelo empresário. O que deve ser nova é a utilização daquele signo na
identificação de produtos industrializados ou comercializados, ou de serviços prestados. Por
esta razão, inclusive, a marca é protegida, em princípio, apenas no segmento de atividade
econômica explorada pelo titular da marca, em relação aos produtos ou serviços com os quais
o identificado por ela pode eventualmente ser confundido pelos consumidores.

b) Não-colidência com marca notória - as marcas notoriamente


conhecidas, mesmo que não registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI),
merecem a tutela do direito industrial, em razão da Convenção de Paris, da qual participa o
Brasil (LPI, artigo 126).

c) Não-impedimento - a lei impede o registro, como marca, de


determinados signos. Por exemplo, as armas oficiais do Estado, ou o nome civil, salvo
autorização pelo seu titular etc. (LPI, artigo 124). Para ser registrado como marca, não pode o
signo correspondente enquadrar-se nos impedimentos legais.
A proteção da marca se restringe aos produtos e serviços com os quais o
marcado pode ser confundido pelo consumidor. Se não houver a possibilidade de confusão —
isto é, o consumidor considerar que o fornecedor de certo produto ou serviço é o mesmo° que
outro com marca igual ou semelhante -, não decorrerá do registro nenhum direito de
exclusividade. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) classifica as diversas
atividades econômicas de indústria, comércio e serviços, agrupando-as segundo o critério da
afinidade, em classes, que auxiliam a pesquisa de possíveis fontes de confusão. O titular do
registro de uma marca terá direito à sua exploração exclusiva nos limites fixados por este
critério. Não poderá, por conseguinte, opor-se à utilização de marca idêntica ou semelhante
por outro empresário se estiver afastada qualquer possibilidade de confusão. Exceção feita,
apenas, ao titular de marca de alto renome, cuja proteção se estende a todos os ramos de
atividade econômica (LPI, artigo 125). O registro de determinada marca na categoria das de

3)-1
alto renome é ato discricionário do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI),
insuscetível de revisão pelo Poder Judiciário, senão quanto aos seus aspectos formais, em
vista da tripartição constitucional dos poderes do Estado. Uma vez registrada a marca nesta
categoria, o seu titular poderá impedir o uso de marca semelhante ou idêntica em qualquer
ramo da atividade econômica.

O registro de marca tem duração de 10 anos, a partir da sua concessão (LPI,


artigo 133). Este, ao contrário do prazo da patente, é prorrogável por períodos iguais e
sucessivos, devendo o interessado pleitear a prorrogação sempre no último ano de vigência do
registro.

A taxa devida ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para


eficácia do registro de marca denomina-se retribuição e é devida na concessão e a cada
prorrogação do registro (LPI, artigos 133, § 1.°, e 155, inciso III).

Com o desenvolvimento do comércio eletrônico, surgiram conflitos


envolvendo o uso indevido de marcas alheias no registro de nome de domínio. Lembre-se que
os endereços eletrônicos de internete são registrados pelo NIC.br
(Núcleo de Informação e
Coordenação do Ponto Bft). Esta associação civil de direito privado, porém, não tem
competência para conceder ou negar propriedade sobre expressões de identificação de
produtos ou serviços; tal função é, como visto, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI). Em consequência, e também com o objetivo de agilizar os serviços atributivos de
endereços eletrônicos, observa-se a ordem de chegada no registro dos nomes de domínio. Se
um nome está disponível, o primeiro que o solicitar poderá identificar sua página na internete
com ele. Em virtude dessa sistemática, algumas pessoas usurparam marcas de renome na
formação de seu endereço eletrônico.

No conflito entre a anterioridade de solicitação do nome de domínio e o


registro da marca no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), prevalece este
último. Assim, o legítimo titular da marca registrada tem o direito de reivindicar o endereço
eletrônico concedido pelo NIC.br
a outra pessoa, sempre que o domínio reproduzir sua marca.
A ordem de chegada só prevalecerá se os dois interessados possuírem (cada um, numa classe
diferente) o registro da marca adotada no nome de domínio."

4.2.3 Da repressão as falsas indicações geográficas

Sendo objetivos a Lei Propriedade Industrial regula a matéria em seu título


IV, através dos artigos 176 a 182, que a partir de agora tomam a nossa atenção. E não iremos
reinventar a roda, quando podemos dispor de um texto didático com qualidade para tratar a
matéria. E assim, vamos reproduzir o texto a seguir:
INDICAÇÃO GEOGRÁFICA: UM ESTUDO SOBRE SEUS
ASPECTOS LEGAIS NO BRASIL
Jefferson Campos Pinto', Ana Eleonora Almeida Paixão2
iMestrando em Ciência da Propriedade Intelectual- PPGPI Universidade Federal de Sergipe -
UFS - São Cristóvão/SE - Brasil - jeffersoncampospinto@gmail.com
2Programa de Pós-Graduação em Ciência da Propriedade Intelectual- PPGPI
Universidade Federal de Sergipe - UFS - São Cristóvão/SE - Brasil - aepaixao@,gmail.com

Resumo

Alguns produtos ou serviços são reconhecidos por sua origem, tendo qualidades e
reputação relacionadas ao local de origem, a estes, a Propriedade Intelectual (PI)
permite a proteção sob a forma de Indicação Geográfica (16). Diversos tratados
internacionais protegem as indicações geográficas, em especial a Convenção de Paris e
o Tratado de Lisboa. No Brasil, as Indicações Geográficas (IGs) são protegidas pela Lei
da Propriedade Industrial Lei n 2 9.279/1
994 que protege estes produtos e serviços,
mediante a repressão contra as falsas indicações geográficas, e confere ao Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a autonomia para elaboração de instruções
normativas (IN) que regulam os processos de reconhecimento e proteção por
Indicação Geográfica (16). A metodologia desta pesquisa consiste num estudo
bibliográfico acerca dos aspectos relacionados a proteção de uma Indicação Geográfica
(16). Para tanto, este trabalho teve o objetivo de discutir os aspectos da proteção de
uma Indicação Geográfica (16) na Lei n 2 9.279/9
6 e principais instruções normativas
do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) relacionadas aos processos de
reconhecimento e proteção de Indicação Geográfica (I6), para que sirva como
ferramenta para esclarecimentos das questões legais acerca de IG no Brasil e
permitindo o acesso a informações relativas à contribuição da ciência da Propriedade
Intelectual para o desenvolvimento de produtos ou serviços regionais. O
reconhecimento de uma Indicação Geográfica (16) prescinde o seu registro, porém sua
declaração favorece aos titulares nas comprovações legais quanto ao uso do nome
geográfico e sinal distintivo, comprovando a eficácia da Lei n 2 9.27
9/1996 e das
Instruções Normativas (INs) que de forma mais ampla, prática e facilitada, permitem o
desenvolvimento dos processos de registros e proteção por Indicação Geográfica (I6).
Palavras-chave: propriedade intelectual, legislação, Lei ng 9.279/ 1
normativas. 996, instruções

Abstract
Some products or services are recognized by their origin, having qualities and
reputation related to the place of origin, to these, the Intellectual Properly (IP) allows
the protection in the form of Geographical Indication (GI). Severa] International
treaties protect geographical indications, in particular the Paris Convention and the
Treaty of Lisboa. In Brazil, Gls are protected by the Industrial Property Law, Law n
9.279/1 2
994 which protects these products and services, by means of repression
against false geographical indicai-
loas, and gives the INPI the autonomy to elaborate
normative instructions (IN) that regulate the processes of recognition and protection
by 67. The methodology of this research consists of a bibliographic study about the
aspects related to the protection of a 67 The purpose of this paper was to discuss the
aspects of protection of a GI in Law n 2 9.279/1
996 and the main normative
instructions of INPI related to the processes of recognition and protection of GI, to
serve as a-
tool for clariO4ng legal issues about aí IG in Brazil and allowing.
Key-words: intellectual property, legislation, Law n 2
instructions. 9.279 /1996, normative

1 Introdução

De maneira geral, as indicações geográficas (IG) são identificações de produtos


ou serviços associados à sua origem geográfica, trazendo em si, características
próprias que traduzem a identidade do local de produção.
No Brasil, a Lei n° 9.279/ 1
996 de 14 de maio de 1996, Lei da Propriedade
Industrial, classifica a indicação geográfica e institui o Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI) como órgão que tem a função de reconhecer a indicação
geográfica de qualquer produto ou serviço, como indicação de procedência quando a
região ganha notoriedade por ser polo de extração, produção, fabricação deste
produto ou a prestação de um serviço específico; ou então quando a geografia da
região afeta a qualidade do produto ou do serviço dela derivado, o Instituto Nacional
de Propriedade Industrial (INPI) pode reconhecer a indicação geográfica (IG) por
denominação de origem. Assim, nacionalmente, as indicações geográficas (IGs) são
protegidas mediante o registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)
através deste reconhecimento, tendo por base a lei mencionada e as Instruções
Normativas
IN (INs) do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em especial a
n 2 25 /2 013.

Existem acordos internacionais que também regulam ou orientam sobre os


registros de indicação geográfica (IG), quais sejam: o acordo TRIPS
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) (Agreement on
de 1994, que apresenta as
condições mínimas de proteção para países signatários; o Acordo de Lisboa para
Proteção das Denominações de Origem de 1966, que protege de forma recíproca. Há
ainda a Convenção de Paris (CUP) para a Propriedade Intelectual de 1883, revisada em
Estocolmo em 1992, que foi um dos primeiros acordos internacionais, visando o
combate às falsas indicações de procedência. Segundo Valente, Perez e Fernandes
(2013), awalmente as indicações geográficas (IGs) são formas de mobilizar e valorizar
a localidade onde se desenvolvem produtos e serviços de qualidades diferenciadas, e
são utilizadas de forma estratégica para favorecer o desenvolvimento regional.

Dessa forma, o registro de indicação geográfica visa assegurar a posição do


produto no mercado, reprimindo falsas indicações geográficas. Com
isto, é garantido o
desenvolvimento sustentável de uma comunidade, assegurando-lhes a condição de
detentores do "saber fazer", preservando seu patrimônio regional, criando um vinculo
de confiança com o consumidor e atraindo estímulos de novos investimentos para a
região.

O desenvolvimento desse estudo servirá de instrumento para esclarecimentos


das questões legais do Brasil, relacionadas à indicação geográfica (IG), permitindo o
acesso a informações relativas à contribuição da ciência da Propriedade Intelectual
para o desenvolvimento de produtos ou serviços regionais.

A metodologia desta pesquisa consiste num estudo bibliográfico acerca dos


aspectos relacionados à proteção de uma indicação geográfica (IG). Para tanto, este
trabalho teve o objetivo de discutir os aspectos da proteção de uma indicação
geográfica (IG) na Lei n 2 9.279/1
996 e principais instruções normativas do Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI) relacionadas aos processos de
reconhecimento e proteção de indicação geográfica (IG).
2 A Propriedade Intelectual

A OMP1 (Organização Mundial da Propriedade Intelectual) é um organismo


internacional que promove a Propriedade Intelectual por meio de cooperação
internacional, e a define como conjunto de direitos legais de propriedade que resultam
das criações da mente, tais como invenções, obras literárias, artísticas, projetos,
símbolos, nomes e imagens usadas no comércio (AJONU, 2012).

A propriedade intelectual foi impulsionada no Brasil através da Lei n 2


9.279 /1996, de 14 de maio de 1996, que foi resultado do Acordo TRIPS
(Agreement on
traderelated aspects of intellectual property right). Esse acordo favoreceu a regulação
do comércio internacional e colocou a Propriedade Industrial em destaque nessas
relações, trazendo proteção para ambos os lados nas negociações.

Barbosa (2013) acrescenta que Propriedade Industrial é a criação do espírito


humano, cuja propriedade é assegurada, e essa propriedade se dá nas formas de
patentes de invenção, modelos de utilidade, registro de software, cultivares, marcas,
indicações geográficas, desenhos industriais, direitos autorais e conexos.
3 Indicação Geográfica

O Brasil é um país que possui grande número de produtos com qualidades


diferenciadas devido à variedade de povos que construíram sua história, contribuindo
com sua cultura de maneira geral. Além destes fatores étnicos, o Brasil conta com uma
diversidade geográfica e climática, o que também favorece a diversidade destes
produtos que podem ter fortes ligações com sua origem geográfica (MAPA, 2014).
Ao passar dos anos, regiões ficaram conhecidas pelos produtos que eram
disponibilizados no mercado, e quando essa qualidade está relacionada à região onde
se produzia, a mesma torna-se um possível potencial para que seus produtos sejam
reconhecidos pela indicação geográfica (IG). Assim surgiu o conceito de indicação
geográfica (1G), de modo natural, quando consumidores passaram a associar e
referenciar um produto com suas peculiaridades, seja a sua origem, seja a forma de
fazê-lo. Assim foi com o vinho do Porto e o queijo Roquefort, por exemplo.
Ainda neste sentido de coletividade, nota-se que diferente das patentes, a
titularidade dos direitos inerentes à indicação geográfica (IG) é da comunidade e não
apenas do inventor/titular, todos os benefícios são igualmente usufruídos, o que tende
a beneficiar a comunidade como um todo. Garantindo assim, a proteção além do
•patrimônio mas, de toda cultura associada às criações, direito garantido não somente
por um titular como pessoa física ou jurídica, mas de uma comunidade.

4 A Lei da Propriedade Industrial


No Brasil, a indicação geográfica (IG) está regulamentada pela Lei n
9.279/ 1996, que a classifica em denominação de origem e indicação de procedência.2
Em ambos os casos, é assegurado o reconhecimento da delimitação geográfica como
único produtor de determinado produto com suas características exclusivas, e nos
termos da Lei, nos artigos 177 e 187 são apresentadas as suas diferenças, em que na
indicação de procedência é definido o nome geográfico do território, seja país, região,
cidade ou localidade que se tornou conhecido pela extração ou produção de
determinado produto, ou ainda pela prestação de serviço.

Já a denominação de origem, enquanto tem a mesma definição da indicação de


procedência, está incluso o fato das características do produto ou serviço serem
exclusivas ao meio geográfico de sua extração ou produção, incluindo fatores naturais
e humanos (BRASIL, 1996). Importante salientar que qualquer local de origem de
proçlutos ou serviços cabe nessa classificação, mas apenas os locais de origem que se
tornaram conhecidos como produtores ou prestadores de serviços podem ser
protegidos pelo reconhecimento da indicação geográfica (IG).
Na definição apresentada pela Lei n° 9.279/1996, destaca-se também a
relevância em discriminar fatores humanos como vetor relacionado à qualidade ou
característica do produto ou serviço associado ao meio geográfico. Esse destaque
permite o reconhecimento de indicações geográficas (IGs) relacionadas aos resultados
de uma mão-de-obra específica de uma região, como produtos artesanais ou agrícolas.
As indicações geográficas (1Gs) podem ser estabelecidas para um país, região,
cidade ou outra localidade específica. No entanto, é mais simples a configuração de
uma indicação de procedência, considerando a exigência da notoriedade da sua
origem, enquanto a denominação de origem baseia-se em outros fatores como
climáticos e até humanos, o que se torna mais difícil encontrar essa homogeneidade
em territórios maiores, como o Brasil, um país de dimensões continentais.

Para o consumidor, as indicações geográficas são observadas a partir de signos


distintivos; porém, estes diferem das outras formas de proteção da propriedade
industrial como marcas de produtos ou serviços, marcas coletivas e marcas de
certificação. Comparando o signo de uma indicação geográfica (IG) e uma marca, sabe-
se que a marca serve para diferenciar os bens e serviços oferecidos de uma empresa
para outra, enquanto o primeiro indica a origem do produto ou serviço e suas
características vinculadas, ou seja, uma associada ao meio geográfico de origem e
outra à empresa que produziu (OMPI, 2000). As marcas ainda se diferenciam das
indicações geográficas (IGs) quando elas podem ser escolhidas com liberdade de
criação do empreendedor e oportunidade de uso de nome fantasia, enquanto a
indicação geográfica (1G) é obrigatoriamente conexa à localidade (LOCATELL1, 2009).
Dias (2005) apresenta a dificuldade na diferenciação entre marcas de
certificação e indicações geográficas (IGs), pois, ambas asseguram qualidades
específicas do produto; entretanto, a marca de certificação visa essencialmente à
proteção do consumidor e a indicação geográfica (IG), além de proteger o consumidor,
busca também os interesses dos produtores, valorizando produtos regionais.

Por fim, a marca de certificação possui liberdade de criação, enquanto a


indicação geográfica (IG) deve ser um nome geográfico, e seus titulares são os
produtores desta localidade, que pode ser utilizada por todos que explorem a
produção característica, enquanto a marca de certificação tem titularidade exclusiva
de um único titular e não pode ser aplicada livremente em outros produtos e serviços
próprios (UZCÁTEGUI, 2004).

Sobre os nomes geográficos, deve-se considerar que todo nome não está
passível de proteção, pois a Lei n 2 9.279/1996 no artigo 180 exclui os nomes
genéricos, que são os nomes geográficos que são utilizados para distinguir produtos,
sem necessariamente associar à sua origem, como "queijo de minas", por exemplo, que
é conhecido pelo consumidor como um tipo de queijo branco, sem que sua produção

59
tenha sido realizada exclusivamente no território discriminado em seu nome (BRASIL,
1996).

Como já citado, a titularidade de uma indicação geográfica (IG) é coletiva. A Lei


da Propriedade Industrial afirma ainda que o direito da propriedade industrial é dos
produtores ou prestadores de serviços que estejam estabelecidos na localidade
discriminada pela indicação geográfica (IG) (BRASIL, 1996).

Ainda sobre o registro de uma indicação geográfica (IG) nos termos da Lei n°
9.279 /1
996, ela ressalta que a proteção acontece mediante a repressão às falsas
indicações geográficas (BRASIL, 1996). Isso porque a proteção de uma indicação
geográfica (IG) não depende de registro. Ou seja, o registro é, segundo Locatelli
(2009), de natureza declaratória, existindo o direito mesmo antes do reconhecimento
pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Apesar de sua proteção prescindir o registro, a sua importância não é negada,


pois através do registro, a titularidade serve como importante prova na defesa dos
direitos a ele relacionados, impede ou dificulta que o nome geográfico se torne de uso
comum, e dá ao consumidor uma maior segurança e credibilidade no produto ou
serviço desta origem.

A Lei da propriedade industrial dá ao Instituto Nacional de Propriedade


Industrial (INPI) o direito de reconhecer as indicações geográficas (IGs) no Brasil, e
seu parecer em relação aos pedidos de proteção determina o reconhecimento das
indicações geográficas (IGs). A Lei brasileira não determina todos os parâmetros para
este fim, e fica a cargo do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), através
de suas resoluções e instruções normativas, regulamentar os procedimentos e demais
necessidades nos processos de reconhecimento de uma indicação geográfica (IG).

5 Resoluções e Instruções Normativos do Instituto Nacional


de Propriedade Industrial (INPI)
Diante disso, temos a Resolução n° 075/00, que estabelece as condições de
registro das indicações geográficas (IGs) (INPI, 2000). Nesta, é prevista a possibilidade
de um único produtor ou prestador de serviço solicitar o registro da indicação
geográfica (IG), se este for único legitimado para tal, e consequentemente, único a
exercer sua titularidade.

Essa resolução trouxe legitimidade às solicitações dos pedidos de registro pára


casos em que o titular seja representado por uma pessoa jurídica, sendo associação,
instituto ou outro tipo de pessoa jurídica que represente os produtores ou prestadores
de serviço, e são denominados substitutos processuais, nome derivado do Código de
Processo Civil Brasileiro (INPI, 2000).

O substituto processual é a pessoa que pleiteia no próprio nome, o direito


alheio. Sobre isto a Associação Brasileira de Propriedade Intelectual ABPI, em sua
resolução n° 39 de 2002, apresenta questionamentos sobre essa legitimidade
resultante da resolução n 2 75/00 do Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI), quando afirma que esse posicionamento pode culminar em pedidos de
registros realizados por um único produtor ou prestador de serviço quando este for o
único estabelecido no local demarcado. Outro questionamento a esta resolução, é
sobre a possibilidade de alteração no registro da indicação geográfica (IG), caso seja
feito por um único produtor ou prestador de serviço, e futuramente venha a ter novos
produtores na região delimitada pela indicação geográfica (IG) (ABPI, 2002).
O Quadro 1 apresenta os requisitos gerais necessários para o reconhecimento
de uma indicação geográfica (IG) junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI), seja como indicação de procedência seja como denominação de origem.

Quadro I - Requisitos gerais para registro de indicação geográfica EM) no Instituto


Nacional de Propriedade Industrial UNPI).
1xIr NcI1
Pedido referente a um único nome geográfico
Requerimento constando nome geográfico, descrição e características do produto ou
serviço
Comprovante da legitimidade do solicitante do registro
Regulamento específico que discipline a utilização do nome geográfico
Comprovação da área delimitada
Representação gráfica ou figurativa do signo distintivo
Procuração autorizando solicitante, caso haja necessidade de procurador
Comprovante de pagamento da G1111 para registro no INPI
Comprovação das estruturas de controle sobre produtores e prestadores de
serviços que utilizarão do nome geográfico
Comprovação de que os produtores ou prestadores de serviço estão estabelecidos na
região e envolvidos na produção ou prestação de serviço relacionada b indicação
geográfica UM

Fonte: Adaptado de LOCATELLI, 2009

A indicação de procedência é tratada de forma específica no Art. 7° da IN n°


75/00 quando ainda exige a comprovação da notoriedade da região, como centro de
extração, fabricação ou produção de determinado produto, ou prestação de serviço. Já
exclusivamente para o registro de denominação de origem, incluem-se a descrição de
qualidade e características do produto que se devam exclusiva ou essencialmente ao
meio geográfico, nos termos da Lei n° 9279/1
996, e a descrição do método ou
processo de obtenção do produto ou serviço, salientando-se que estes devem ser
locais, leais e constantes. Para o pedido de registro de indicações geográficas (IGs)
estrangeiras no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), estas exigências
são dispensadas, desde que constem no documento oficial de reconhecimento da
indicação geográfica (IG) no país de origem e que deve ser anexado ao pedido.

Nos artigos 9 a 11 da IN n° 75/00 do Instituto Nacional de Propriedade


Industrial (INPI), são descritas as fases para efetivação do pedido e registro da
indicação geográfica (IG), que se inicia com a solicitação do registro, atendendo aos
requisitos citados no parágrafo anterior, que se segue ao exame formal de cada
requisito, podendo ser regularizados em até 60 dias. Sendo os requisitos atendidos, o
exame formal éCom
requerimento. publicado, para que no prazo de 60 dias, terceiros possam contestar o
ou sem contestações, após este prazo, o Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI) divulga a negação ou aprovação do processo de
reconhecimento da indicação geográfica (IG). Caso seja negado o reconhecimento,
baseado no artigo 12, o requerente pode pedir uma reconsideração, no qual o

zes,
presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) emitirá sua decisão,
podendo ser novamente negada ou reconhecida.

6 Conclusão

Os produtos e serviços que se enquadrem nos aspectos que caracterizam um


potencial para registro de indicação geográfica (IG) é, acima de tudo, um produto ou
serviço que tenha notoriedade reconhecida. Essa notoriedade é suficiente para
despertar interesse de concorrentes para falsificações, e as medidas de proteção
encontradas na Lei n 2 9.279/ 1
indicações geográficas. 996 mostram-se eficazes na repressão à destas falsas

A discussão mostrou que o reconhecimento de uma indicação geográfica (IG)


prescinde o registro, porém sua declaração favorece os detentores do registro nas
situações que sejam exigidos seus direitos, além de evitar que o nome geográfico se
torne de uso comum, garantindo maior segurança dos indivíduos nas relações de
consumo.

O sinal distintivo, sugerido na legislação, mostra-se como resultado de uma


legislação eficaz para tal proteção. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI), representado por seu presidente, tem a responsabilidade e risco por decisões
para casos relacionados à falsificações, e as medidas de proteção encontradas na Lei n
9.279 /1 2
996 mostram-se eficazes na repressão à destas falsas indicações geográficas
(IGs) que estão previstos em Lei, resultando em instruções normativas, que
representam instrumentos capazes de gerir processos de registro e proteção de
falsificações, e as medidas de proteção encontradas na Lei n 2 9.279/
1996 mostram-se
eficazes na repressão à destas falsas indicações geográficas. (IGs) de forma mais
ampla, prática e facilitada para a sociedade.

7 Referências
ABPI. Resolução n.2 39 de 28 de agosto de 2002. Disponível em:
<http://www.abpi.org.br / english /biblioteca 2
aeng.asp?Ativo=true&linguagem= E ngli
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2018.

AJONU. Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Associação de Jovens da


Organização das Nações Unidas. 2012. Disponível
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ompiwipoi > Acesso em: 02 nov. 2017. mundial-da-propriedade-int el ectua l-

BARBOSA, 11 B. Tratado de Propriedade Intelectual. 12


2013. Ed. Rio de Janeiro: Lumeri Juris,

BRASIL. Lei n.2


propriedade 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à
industrial. Disponível
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/1eis/19279.htm em:
>. Acesso em: 30 jun. 2017.
DIAS, J. F. D. V. R. A construção institucional da qualidade em produtos tradicionais.
2005. 145f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) -
Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
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<http://www.scielo.br / scielo.php7
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8478201200030 002700014&Ing=en
> Acesso em: 17 abr. 2018.
INPI. Instrução Normativa 25, de 21 de agosto de
Registro das 2013. Estabelece as condições para o
Indicações Geográficas. 2013
<http://www.inpi.gov.br/leg15laca0-1/in_25_21_ Disponível em:
30 jun. 2017. de_agosto_de_2013.pdf>. Acesso em:

INPI. Resolução 075, de 28.11.2000, Estabelece as condições de registro das indicaçõe


geográficas. Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/sobre/legislacao
1/nor mas_auditoria_final_15_3_2013_c.pdf>. Acesso em: 07 out. 2017.
LOCATELLI, L. Indicações Geográficas: a proteção jurídica sob a perspectiva do
desenvolvimento econômico. 14. Ed. Curitiba: juruá, 2009.
MAPA. Curso de propriedade
intelectual & inovação no agronegócio: Módulo II,
indicação geográfica. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 4
Florianópolis: FUNJAB, 2014. 4 ed.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
FACULDADE DE DIREITO E REAÇÕES SOCIAIS - FADE
DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
CURSO DE DIREITO TURMA: 92 SEMESTRE
ANO LETIVO: 2019 1 2 SEMESTRE
PROFESSOR: JAMES GALLINATI HEIM

e 10.' AULA —02 DE MARÇO DE 2019


UNIDADE 1— PROPRIEDADE INDUSTRIAL
4.2.4 Da repressão a concorrência desleal
4.2.4.1 Das considerações gerais
4.2.4.2 Texto sobre concorrência desleal
4.2.5 Do segredo industrial
4.2.5.1 Das considerações gerais
4.2.5.2 Texto sobre segredo industrial
4.2.6 Da espionagem industrial e pirataria

UNIDADE 1— PROPRIEDADE INDUSTRIAL


4.2.4 Da repressão à concorrência desleal
4.2.4.1 Das considerações gerais
O termo "concorrência" significa a disputa entre agentes
econômicos de um mesmo segmento empresarial.

Por sua vez, o vocábulo desleal significa infiel ou falso.

Assim, a expressão "concorrência desleal" significa que


determinadas ações de agentes econômicos, na busca de favorecimento próprio
ou de terceiro, são consideradas infiéis ou são utilizadas com falsidade,
portanto, condutas ilícitas, pois prejudicam seus concorrentes.

O artigo 170 da Constituição Federal prevê a livre iniciativa e


livre concorrência. Dessa forma, é assegurado a todos participar do mercado
num sistema de concorrência. Porém, se um agente praticar determinada ação
tida como ilícita, a concorrência se torna desleal.

Existem dois tipos de concorrência ilícita: "concorrência


desleal" (Lei n2 9.279/1996, artigos 195 e 209) e a "infração da ordem econômica"
(Lei ri° 12529/2011, nos artigos 31 e seguintes).
Pode-se dizer que na concorrência desleal as ações do agente
infrator provocam lesões que alcançam basicamente o interesse do empresário
diretamente afetado pela prática irregular, quando, por exemplo, tem sua
clientela desviada de forma fraudulenta.

Já na infração da ordem econômica que trata das ações do


infrator que ameaçam as estruturas do mercado; logo, atingem um número
maior de interesses, como no aumento arbitrário de lucros ou na combinação
com outros concorrentes para aumentar os preços.8

Condutas tidas como concorrência desleal têm basicamente


como finalidade, direta ou indireta, aumentar a clientela do infrator em
detrimento do concorrente no mesmo segmento empresarial.

Quanto à repressão à concorrência desleal, ela ocorre


basicamente em dois níveis: penal e civil.

Neste momento tomamos consciência da extensão e


complexidade da matéria, e como forma de desenvolver o conteúdo iremos
fazer uso de um texto de uma aluna de graduação do curso de Direito, que sem
dúvida será suficiente para esclarecer aos alunos matriculados em nossa
disciplina Direito Empresarial II

4.2.4.2 Texto sobre concorrência desleal

Concorrência desleal na legislação brasileira


Fernanda Cristina Ladeia Aluna do 2.° ano do curso de
Direito da Unesp (Franca-SP)
Sumário: Introdução; 1 Concorrência; 2 Concorrência desleal; 3 Caracterização
dos crimes de concorrência desleal; 3.1 Espécies de atos de concorrência desleal;
3.2 Os sujeitos e os crimes (de acordo com a Lei n2 12.529/2
011); 4 Atos que não
integram a repressão criminosa; 5 Tratamento da concorrência desleal na
legislação brasileira; Conclusão.

Introdução

Neste artigo faremos uma análise dos aspectos mais relevantes


da concorrência desleal, fenômeno sempre presente atualmente, devido avanços
científicos e tecnológicos que geram enormes mudanças no mer cado.

Iniciaremos fazendo uma análise dos conceitos de concorrência


e concorrência desleal, tomando por base o mercado, a disputa por

8 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito comercial:


direito de empresa, v. 1, p. 189.
consumidores, as limitações necessárias, fundamentos de repressão e as formas
com que as ações dos empreendedores se tornam atos de concorrência desleal.

Para finalizar, citaremos um breve histórico da legislação


brasileira. Veremos preservar os mecanismos do mercado.

Em seguida mostraremos as espécies de atos de


concorrência desleal, faremos uma caracterização dos crimes de concorrência
desleal e seus sujeitos, e ainda analisaremos os atos que não integram a
repressão criminosa que a atual legislação concorrencial dispõe sobre a
prevenção e repressão às infrações de ordem econômica, sendo orientada pelos
ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função
social da propriedade, defesa aos consumidores e repressão ao abuso do poder
econômico, com o objetivo de garantir a livre concorrência.
1 Concorrência

O aumento da produção de bens e serviços e da


publicidade na sociedade moderna gera incontestáveis reflexos na concorrência,
dando a ela um destaque especial dentre os muitos temas da ciência jurídica. "A
ação de uma pessoa à mesma coisa", é a "competição", é a "rivalidade entre os
produtores ou entre negociantes, fabricantes ou empresários". 1) Portanto, a
expressão contém a ideia de disputa entre agentes econômicos num espaço ou
lugar, designado mercado, em certo tempo ou período, acerca de determinado
objeto. pressupostos essenciais é a liberdade, para que os agentes econômicos
façam o melhor uso de sua capacidade intelectual e organizem da melhor
maneira possível os fatores de produção de bens ou de prestação de serviços, de
modo a obter produtos de boa qualidade e a oferecê-los no mercado a preços
atraentes; e 2) fundamental na busca da clientela (consumidores), que é o maior
interesse dos agentes econômicos. Também devemos deixar claro que não se
pode articular uma ideia de concorrên-
cia sem a existência de mercado.
Podemos analisar a concorrência sob dois aspectos: o individual
e o institucional. O primeiro envolve questões que dizem respeito à atividade
empresarial diretamente desenvolvida pelos concorrentes, com relação à
clientela e à propriedade industrial, encontrando respaldo no direito privado e,
inclusive, no direito penal. O segundo, implica no estudo de práticas que se
voltam contra livre iniciativa e a livre concorrência, ou seja, infrações da ordem
econômica e condutas que atentam contra as estruturas de mercado.
empreendedores disputem uma mesma clientela de um mercado. Produtos
idênticos ou afins fabricados por empresas diferentes as colocam em situação de
concorrência, pois buscam os mesmos consumidores potenciais para seus
produtos ou serviços, quando uma empresa prepara uma mercadoria semi-
trabalhada e outra compra esta mercadoria para utilizá-la na fabricação de uma
outra.
Existem algumas limitações à livre concorrência que podem ser
de natureza estatal e de natureza contratual. Como forma da primeira, temos a
reserva de mercado para o Estado (monopólio estatal) e o poder de fiscalização
da atividade econômica pelo Estado: As limitações contratuais são estabelecidas
pelos concorrentes (pactos de exclusividade na realização de determinados
negócios, fixação da vedação da exploração do mesmo ramo de atividade em
determinada região), assegurada pelo Estado a todos, e também para que se
possa usufruir dos benefícios que advenham dessa livre disputa. Não se pode
dar completa autonomia à competição, pois esta se deformará e se acabará
extinguindo, causando problemas aos consumidores para a distribuição de seus
produtos e serviços. Com
isso, existe uma natural captação da clientela do
competidor, resultante da eficiência produtiva e distributiva do empresário.
Esta subtração da clientela alheia com observância de determinados códigos de
conduta aceitos no mercado é chamado de concorrência lícita, estabelecidas no
mercado pelos concorrentes, entretanto estamos diante da situação contrária
denominada concorrência desleal.

2 Concorrência desleal

Tanto na doutrina nacional como na estrangeira, muitos são os


fundamentos para a repressão da concorrência desleal: proteção ao fundo de
comércio, aviamento, proteção da atividade empresarial, tutela da clientela,
defesa do patrimônio alheio, tutela do direito de da personalidade (ex: nome e
criações intelectuais), respeito à moral profissional, usos e costumes do
comércio, mercado foram valorizados igualmente pelo legislador, ao redigir o
art. 10, da convenção de Paris de 1883, cuja revisão em Haia, em 1925, deu-lhe a
seguinte redação: União proteção efetiva contra a concorrência desleal.

Constitui ato de concorrência desleal qualquer ato de


concorrência contrária aos usos e costumes honestos em matéria industrial ou
comercial:

1) todos os atos suscetíveis de, por qualquer meio, estabelecer


confusão contra o estabelecimento, os produtos ou a atividade industrial ou
comercial de um concorrente;

22) as falsas alegações no exercício do comércio, suscetíveis de


desacreditar o estabelecimento, os produtos ou a atividade industrial ou
comercial de um concorrente;

3Q) as indicações ou alegações cuja utilização no exercício do


comércio seja suscetível de induzir o público em erro sobre a natureza, modo de
fabricação, características, possibilidade de utilização ou quantidade de
mercadorias.
A concorrência leal é o respeito aos usos honestos na atividade
empresária, ou seja, a observância das regras aceitas no mercado como próprias
da concorrência, sujeitas ao conceito aberto de correção profissional, isto é, de
boa fé que deve nortear os competidores entre si, e frente aos consumidores.
correção profissional, que está sujeito a critério de apuração, o qual dirá quando
determinada prática negocial é desleal.

O ato de concorrência desleal importa numa apreciação de fato,


sujeita ao exame do caso concreto que se coloca à frente do julgador, devido às
dificuldades que encontramos nos conceitos abertos de lealdade, bons
costumes, usos e costumes honestos no comércio.

De acordo com o que vimos anteriormente, a concorrência


desleal diz respeito à concorrência individual, pois envolve relações entre
sujeitos que atuam no mercado, isoladamente considerados, sob o prisma do
alcance da distribuição de bens e serviços ao público consumidor. A ideia de
desleal, é o emprego de certos meios de luta. A doutrina nos diz que "ato de
concorrência desleal é ato reprimível criminalmente e gerador de pretensão à
abstenção ou à indenização, que se praticou no exercício de alguma atividade e
ofende à de outrem no plano da livre concorrência".

Através deste conceito, os atos reprováveis colocam-se em duas


esferas de reprimenda: a penal e a civil. Assim, na doutrina encontramos a
classificação dos atos de concorrência desleal em atos específicos, os quais
merecem tratamento mais gravoso, em leis especiais e com normas de natureza
penal; e atos genéricos, que gozam de tratamento no direito civil. Representam
práticas, ou meios de atuação no mercado, que infringem o princípio da
correção profissional (art. 10 da Convenção de Paris), sem que se qualifiquem
em tipos penais, e circunscrevem-se às sanções do direto privado.
Diversamente, os atos ou meios de concorrência que importem em preocupação
do legislador sob o ângulo penal podem ser designados atos de concorrência
desleal criminosa os métodos desleais, que mesmo não sendo delituosos,
possibilitam aos prejudicados por seu emprego a reparação civil. Já a
concorrência desleal criminosa ocorre quando esses meios ou métodos
empregados são tão perigosos ou graves, que são considerados como
delituosos, gerando sanções penais. A violação do pacto de não-concorrência,
por exemplo, no caso de cláusula de não restabelecimento comercial do
alienante.
3 Caracterização dos crimes de concorrência desleal
3.1 Espécies de atos de concorrência desleal

Algumas classificações dos atos de concorrência desleal


utilizam como critério o interesse protegido, enquanto outras tomam por
referência o conteúdo do ato em si alcançado. O ato ilícito pode ofender, os
interesses de sujeitos de diferentes classes:
a) dos concorrentes;

b) dos consumidores;
c) o interesse geral.

Marco Antônio Marcondes Pereira faz uma crítica a esta


classificação dizendo que a proteção dos interesses dos consumidores é feita em
diploma legal autônomo. Para ele, não se reprime o ato de concorrência desleal
em função do consumidor. Este só é protegido ou beneficiado, indiretamente
pelas regras da concorrência, que são:
a)
atosconcorrente;
distintivos usados pelo geradores de confusão que incidem sobre os signos

b)
atos de desvio de clientela, os quais buscam denegrir o
concorrente e seus produtos e serviços (agressão ao competidor); e
c)
atos contrários à moralidade comercial que estão situados na
violação dos segredos dos concorrentes, por meio de seus empregados ou
demais integrantes da empresa e na propaganda falsa. Identificados como
sendo:

1)
aproveitamento de elementos empresariais alheios;
2) agressão à empresa alheia; e
3)
própria empresa. indução do público em erro, mediante falsa afirmação da

Ainda, o autor também cita os atos de lesão ao mercado em si


(atos que implicam na derrogação do mercado). Para Marco Antônio
Marcondes, esta última espécie de ato deve ser considerada no âmbito da tutela
institucional da concorrência, pois a desorganização do mercado aflige a livre
iniciativa e a livre concorrência.

Levando-se me conta o disposto na Convenção de Paris (art.


10), átrai-se a seguinte classificação: a) atos que criam confusão; b) atos de
denegrição do concorrente; e c) atos de induzimento em erro dos consumidores.

4c3
3.2 Os sujeitos e os crimes (de acordo com os artigos 31 a 35
da Lei n2 12.529/2011)

De acordo com a leitura da primeira parte do artigo 31 da Lei n't


12.529/2011 podem ser sujeitos dos crimes de concorrência desleal: as pessoas
físicas ou jurídicas de direito público ou privado; quaisquer associações de
entidades ou pessoas, de fato ou de direito, ainda que temporariamente, com ou
sem personalidade jurídica, mesmo que exerçam atividade sob regime de
monopólio legal; as empresas ou entidades integrantes de grupo econômico de
fato ou de direito.

Nos termos do artigo 36 da Lei nQ 12.529/2011, que trata das


infrações a ordem econômica, que se constituem independentemente de culpa,
relaciona os atos sob qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou
possam produzir os seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados, sendo os
seguintes:

a) limitar, falsear, ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a


livre;
b) dominar mercado relevante de bens e serviços;
c) aumentar arbitrariamente os lucros;
d) exercer de forma abusiva posição dominante.

Em seguida temos através três parágrafos esclarecimentos sobre


o significados das expressões, acima citadas, como:

A conquista de mercado resultante de processo natural fundado


na maior eficiência de agente econômico em relação a seus competidores não
caracteriza o ilícito previsto no item b acima.

Ocorre posição dominante quando uma empresa ou grupo de


empresas controla parcela substancial de mercado relevante, como fornecedor,
intermediário, adquirente ou financiador de um produto, serviço ou tecnologia
a ele relativa.

A posição dominante a que se refere o parágrafo anterior é


presumida quando a empresa ou grupo de empresas controla 20% (vinte por
cento) de mercado relevante, podendo este percentual ser alterado pelo CADE
para setores específicos da economia.

Na sequência, em seguida com base no § 3Q do artigo 36 são


citadas dezenove condutas, que se caracterizam como infração da ordem
econômica:

so
1) acordar, combinar, manipular ou ajustar com o concorrente, sob qualquer
forma:
a) os preços de bens ou serviços oferecidos individualmente;

b)
a produção ou a comercialização de uma quantidade restrita ou limitada de
bens ou a prestação de um número, volume ou frequência restrita ou limitada
de serviços;
c) a divisão de partes ou segmentos de um mercado atual ou potencial de bens
ou serviços, mediante, dentre outros, a distribuição de clientes, fornecedores,
regiões ou períodos;

d) preços, condições, vantagens ou abstenção em licitação pública;


2) promover, obter ou, influenciar a adoção de conduta comercial uniforme ou
concertada entre concorrentes;
3) limitar ou impedir o acesso de novas empresas ao mercado;
4) criar dificuldades à constituição, ao funcionamento ou ao desenvolvimento
de empresa concorrente ou de fornecedor, adquirente ou financiador de bens
ou serviços;
5) impedir o acesso de concorrente às fontes de insumo, matérias-primas,
equipamentos ou tecnologia, bem como aos canais de distribuição;
6) exigir ou conceder exclusividade para divulgação de publicidade nos meios
de comunicação de massa;

7) utilizar meios enganosos para provocar oscilação de preços de terceiros;


8) regular mercados de bens ou serviços, estabelecendo acordos para limitar ou
controlar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico, a produção de bens ou
prestação de serviços, ou para dificultar investimentos destinados à produção
de bens ou serviços ou à sua distribuição;
9) impor, no comércio de bens ou serviços, a distribuidores, varejistas e
representantes, preços de revenda, descontos, condições de pagamento,
quantidades mínimas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer outras
condições de comercialização relativos a negócios destes com terceiros;

10) discriminar adquirentes ou fornecedores de bens ou serviços por meio da


fixação diferenciada de preços, ou de condições operacionais de venda ou
prestação de serviços;
11) recusar a venda de bens ou a prestação de serviços dentro das condições de
pagamento normais aos usos e costumes comerciais;
12)
dificultar ou romper a continuidade ou desenvolvimento de relações
comerciais de prazo indeterminado em razão de recusa da outra parte em
submeter-se a cláusulas e condições comerciais injustificáveis ou
anticoncorenciais;
13)
destruir, inutilizar ou açambarcar matérias-primas, produtos intermediários
ou acabados, assim como destruir, inutilizar ou dificultar a operação de
equipamentos destinados a produzi-los, distribui-los ou transportá-los;
14)
açambarcar ou impedir a exploração de direitos de propriedade industrial
ou intelectual ou de tecnologia;
15)
vender mercadoria ou prestar serviços injustificavelmente abaixo do preço
de custo;
16)
reter bens de produção ou de consumo, exceto para garantir a cobertura dos
custos de produção;
17)
cessar parcial ou totalmente as atividades da empresa sem justa causa
comprovada;
18)
subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à utilização de um
serviço, ou subordinar a prestação de um serviço à utilização de outro ou à
aquisição de um bem; e
19)
exercer ou explorar abusivamente direitos de propriedade industrial,
intelectual, tecnologia ou marca.

Assim, com relação a estes atos, a demonstração de que o ato de


concorrência desleal tenha sido praticado com a intenção de lesar o concorrente
(dolo) é dispensável, bastando a existência da culpa (negligência) no ato. Isso
não poderia ser diferente, pois a maior parte das práticas dolosas são fatos
puníveis em termos de concorrência desleal criminosa. Basta o prejuízo
concreto que já é bastante para o direito de reparação ao concorrente
prejudicado em razão da inexistência de direito de propriedade da clientela.

É necessário também, haver uma relação de causalidade entre o


ato que se diz desleal e o prejuízo alegado, tomando-se por base a diminuição
da clientela do prejudicado em paralelo ao aumento da clientela do agressor,
desconsiderando-se outros fatores externos naturais da própria concorrência.
Caso a lesão seja de natureza moral, o critério da condenação poderá fundar em
sanção que busque interesses entre empresários que estejam numa mesma
atividade negocial e em um mesmo ramo de atividade. No entanto, essa
afirmação não pode ser absolutamente considerada, pois não são raros os casos
em que se pode identificar concorrência.
Também é dispensável a presença de dano concreto ao
concorrente. E mais, existe o risco de concorrência desleal entre empresários de
ramos diversos. Como exemplo, podemos citar a empresa que fabricou
bicicletas que receberam a marca Kodak, configurando concorrência parasitária.
Temos também à publicidade e ao acesso aos bens por contratos à distância.
Portanto, esses fatores contribuem para que a localização não tenha tanta
interferência na concorrência desleal.

Devemos salientar que a clientela é o fim que buscam os


concorrentes, é impossível existir um ato de concorrência desleal que não
busque angariar o público consumidor, ansioso por escolher produtos e
serviços que satisfaçam suas necessidades.

De acordo com as disposições gerais no artigo 209 da Lei de


Propriedade Industrial fica assegurado ao prejudicado o direito de postular
perdas e danos "em ressarcimento de prejuízos causados por atos de violação
de direitos de propriedade industrial e atos de concorrência desleal", ainda que
não previstos na referida Lei. No conceito de prejuízos, esta inserida a ideia de
separação moral.

4 Tratamento da concorrência desleal na legislação


brasileira

A Constituição Federal de 1988 protege a propriedade


industrial e intelectual, marcas, nomes de empresas e outros signos distintivos
no art. 5.°, inciso XXIX, entre os Direitos e Garantias Fundamentais.

No âmbito internacional, o Brasil aderiu à Convenção de Paris.


Atualmente temos, a Lei nQ 12.529, de 30.11.2011, dispõe sobre a
prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica, seguindo os
princípios constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função
social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder
econômico, sendo a coletividade a titular dos bens jurídicos protegidos por esta
lei. E também, em 14 de maio de 1996, surge a codificação que regula a
Propriedade Industrial. Ela estabeleceu os atos de concorrência desleal
criminosa e a possibilidade de reparação civil das vítimas, em razão de práticas
de concorrência desleal não tipificadas como delito. O sistema legal nacional
sofreu um impacto em 21 de agosto de 1992, pelo Decreto nQ 635, quando a
Convenção de Paris foi revista em Estocolmo sendo promulgada e, mais tarde,
foi ratificada a Declaração de Adesão, pelo Decreto n'2
de 1994. . 1263, de 10 de outubro
5 Conclusão

Através das análises feitas, podemos observar que o fenômeno


da concorrência é fundamental na economia, pois desenvolve os mercados,
aperfeiçoa a qualidade e melhora o preço dos produtos e serviços. Ela é
essencial para a competição do mercado e para o bem-estar do consumidor.

No entanto, na crescente busca dos consumidores, alguns


empreendedores podem ultrapassar os limites existentes no mercado, deixando
de lado a boa-fé com que devem proceder com os concorrentes e os clientes.
Nesses casos, o empreendedor deixa de lado a concorrência licita passando a
atuar na esfera da concorrência desleal.

É aqui que entra a importância da legislação concorrencial que


previne e reprime os atos que constituem infrações econômicas, prestigiando a
livre concorrência e preservação dos mecanismos do mercado e a livre
iniciativa, protegendo os que são prejudicados por estes atos e garantindo a sua
reparação de danos causados.

Referências Bibliográficas

DELMANTO, Celso. Crimes de concorrência desleal. São Paulo: Editora da


Universidade de São Paulo, 1975.
OLIVEIRA, Gesner. Concorrência: panorama no Brasil e no mundo. São Paulo:
Saraiva, 2001.

PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da


publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.

RODAS, João Grandino. Direito e economia da concorrência. Rio de Janeiro,


2004.
Notas:
1 MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 1998; p. 554.
2 Apud: PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio
da publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.p. 5 3
Apud: PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da
publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.p. 15. 4
PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da
publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.p. 16.5
PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da
publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.p. 17.
4.2.5 Do segredo de empresa
4.2.5.1 Das considerações gerais
O que é segredo industrial?

Pessoas físicas ou jurídicas têm a possibilidade de preservar a natureza


confidencial de uma informação e evitar que tais informações, legalmente sob
seu controle, sejam divulgadas, adquiridas ou usadas por terceiros não
autorizados, sem seu consentimento, desde que tal informação:

Seja secreta, no sentido de que não é conhecida em geral, nem facilmente
acessível a pessoas de círculos que normalmente lidam com o tipo de
informação em questão;
• Tenha valor comercial por ser secreta;

Tenha sido objeto de precauções razoáveis, nas circunstâncias, pela
pessoa legalmente em controle da informação, para mantê-la secreta.

Quais as vantagens da proteção por segredo industrial?


O uso da estratégia comercial de proteção de ativos intangíveis,
envolvendo o segredo industrial, garante à empresa o direito de exclusividade,
mas não configura o direito sobre a propriedade desse bem intelectual.
Algumas vantagens para utilizar o segredo industrial como formas de proteção
incluem:

• Não há custos para registro;


Não há necessidade de tornar a tecnologia pública, como no caso da
patente;

A duração do monopólio é ilimitada (enquanto o segredo existir);
• O efeito é imediato.

O que é know how?


Know how
se constitui em urna arte de fabricação. Envolve a reunião de
experiências, conhecimentos e habilidades para produzir um bem.
Compõem o know how:

'• A habilidade técnica do profissional, operário ou artífice, que é


intransmissível, inseparável da pessoa que detêm este tipo de arte.

A parcela da arte que o profissional técnico ensina ao aprendiz, e que,
pela assistência pessoal, pode ser repassada em um contrato de
transferência de tecnologia.
A essência do know how
está nos conhecimentos técnicos somados
àqueles que integram o estado da técnica.

Qual a importância econômica do segredo de negócio e do


know how?

Praticamente toda empresa guarda informações sigilosas sobre seu


negócio. Assim, dentro deste contexto, o mundo empresarial pode ser dividido
em dois grandes grupos:
• Empresas de alta tecnologia;
• Empresas tradicionais.

As empresas dos ramos automobilístico, eletroeletrônico e até mesmo do


setor financeiro, por exemplo, dependem da tecnologia e dos constantes
avanços nos processos de produção. Essas corporações guardam seus segredos
a sete chaves. Esses segredos, geralmente, são constituídos de informações
cruciais sobre algum projeto novo que será comercializado dando à empresa
vantagem sobre a concorrência, seja para entrar no mercado, seja para disputá-
lo em condições favoráveis. A obtenção de tais informações pela concorrência
pode significar um lançamento antecipado do produto, inviabilizando ou
dificultando o desejado posicionamento de liderança no mercado. Quando a
concorrência das empresas seguidoras surge, o diferencial dos produtos passa a
ser o critério de preço. Para empresas de intensidade e complexidade
tecnológicas, a confidencialidade está centrada nos processos de produção, nas
estratégias de marketing e no desenvolvimento de
design inovador. Como tudo
é rapidamente imitado nesses lançar de forma pioneira seus produtos e, com
isso, aumentar as perspectivas do retorno financeiro esp
investimentos realizados. ' erado para os

Paradoxalmente, empresas que comercializam produtos tradicionais,


enfrentam os mesmos desafios daquelas intensivas em tecnologias para a
manutenção dos seus segredos industriais. Este grupo de empresas, que detêm
as fórmulas secretas há dezenas de anos, continuam competindo no mercado
exatamente por sua capacidade de oferecer produtos clássicos preparados por
receitas originais e tradicionais. Contratos que envolvem know how
podem ter
maior importância econômica para a empresa do que a licença de patentes. Ao
transferir o know how,
o seu detentor cria não só uma capacidade de produção
industrial nova, mas também uma relação de concessão, em que o fornecedor
passa a ter uma ligação vital no controle da capacidade produtiva ou
competitiva da empresa contratada. Além do que, um contrato desse tipo pode
ter uma extensão superior ao prazo de concessão de uma patente, o que, em
alguns casos, pode ser uma grande vantagem para a empresa detentora do
know how. O valor do know how
está, principalmente, em sua inacessibilidade:

5g
sua valoração leva em conta a oportunidade comercial que resulta do acesso a
ele. O know how não é fórmula indecifrável, mas modelo de produção. A
execução do contrato de know how implica em reprodução, conforme certos
limites, de uma estrutura de produção específica existente na empresa ofertante
e reproduzida pela empresa demandante.

Você já parou para pensar em alguns mistérios que envolvem


determinadas empresas? A fórmula da Coca-Cola e o molho especial do
McDonald's estão entre os segredos industriais que mais permeiam o
imaginário popular. Para entender melhor o que há por trás dessa proteção
legal, vamos discutir os mecanismos utilizados pelas empresas para preservar a
natureza confidencial de uma tecnologia.

4.2.5.2 Mecanismos utilizados para preservar a


confiabilidade de uma tecnologia
Antes de aprofundarmos nesse tema, é necessário fazer algumas
pontuações. Primeiro é que o conceito de tecnologia aqui envolve a
oportunidade concorrencial resultante da detenção de certas informações. A
proteção formal é prevista pela Lei de Propriedade Industrial, realizada por
meio de contratos de transferência de tecnologia. Portanto vale ressaltar que o
segredo industrial não é uma proteção natural, mas algo definido pela empresa.

Ao considerar que a companhia optou por manter o sigilo de suas


invenções e da sua tecnologia, ela assume um risco estratégico. Para isso, ao
longo das tomadas de decisões, a empresa decide por caminhos ponderados
que lhe garantam o sigilo.

O primeiro cuidado é que a tecnologia desenvolvida pela empresa deve


ser secreta. Isso quer dizer que não pode ser de conhecimento geral, tampouco
facilmente acessada por pessoas que estejam na mesma atividade ou trabalhem
com a mesma informação.

O segredo tem valor comercial, o que garante vantagem competitiva para


a empresa. Outro ponto a ser considerado é que a empresa deve criar
ferramentas, mecanismos e políticas internas para que a informação seja
mantida em segredo dentro da própria empresa.

Aqui eu costumo sempre citar o exemplo da Coca-Cola. É um exemplo


clichê, mas que é bastante ilustrativo porque todo mundo conhece. A fórmula
da Coca-Cola, indesvendável, nunca foi encontrada por ninguém. Não sei se
isso é verdade hoje em dia ou não, mas o fato é que isso trouxe vantagem
competitiva no mercado para a empresa.
Quando eles optaram por manter isso em sigilo, escolheram que a
fórmula do seu produto não fosse de conhecimento público. Ao traçar essa
estratégia, a Coca-Cola assumiu riscos e criou políticas intensas para empresa
que é enorme e atua no mundo todo. Por isso, é fácil concluir que a estratégia
para garantir a confidencialidade é extremamente complexa, mas, até o
momento, eficaz.

O monopólio pela informação é ilimitado no segredo industrial, mas não


dá direito à propriedade intelectual. Na prática, a opção pelo segredo industrial
garante o direito à exclusividade, mas não à propriedade intelectual
propriamente dita. Por isso, os riscos dessa opção também devem ser
considerados pela empresa. Quais seriam, então, as principais vantagens de se
optar pelo segredo industrial?

4.2.5.2 Principais vantagens de optar pelo segredo


industrial
• Não há custo de registro

Primeiro, não há custo de registro. Se você levar uma invenção para ser
patenteada, além do longo processo administrativo existem, vários dispêndios,
o que é bastante oneroso para a empresa.

É obvio que a empresa, optando pelo segredo industrial, também terá


gastos para manter isso sigiloso. Entre as medidas necessárias estão bons
acordos de confidencialidade, contratos e políticas internas.
• Não há necessidade de tornar a tecnologia pública

O segundo ponto positivo é que não há necessidade de tomar a


tecnologia pública. No processo normal do registro de uma invenção, a
tecnologia empregada torna-se pública, ainda que a empresa tenha
exclusividade sobre ela.
• Duração do monopólio é ilimitada

A duração do monopólio é ilimitada. Eu diria que esse é o principal


motivo para as empresas optarem pelo segredo industrial.

Quando você leva uma invenção a registro de patente, via de regra, você
terá 20 anos sobre aquele monopólio para receber as vantagens econômicas
daquela propriedade. No caso do segredo industrial não, já que o monopólio é
mantido até que aquela tecnologia seja descoberta.
• Comercialização imediata

A última vantagem é a comercialização imediata. Quando tratamos de


registros, é preciso respeitar o processo de patentes e aguardar a concessão. Já
no segredo industrial, corno não
comercialização dos produtos ocor há necessidade dos trâmites legais, a
aprovação. re imediatamente após sua invenção e

4.2.5.3 Proteção Legal


Uma dúvida comum é se existe proteção legal no Brasil. A resposta é que
do segredo industrial propriamente dito não, mas a violação desse segredo é
protegido pela questão da concorrência desleal prevista na Lei nQ 9.279 1996
I_ Ia Pro
Lei
Industrial Artigo 195, incisos XI e XII. Neste trecho,
podemos identificar os verbos e ações que ocasionam a concorrência desleal
pela quebra desse sigilo:

Divulgar, explorar ou utilfrar sem autorfração de conhecimentos e


informações ou dados confidenciais utilizáveis na indústria, comércio ou
prestação de serviço. Excluídos evidentes para um técnico no assunto, a
que teve acesso mediante relação contratual empregatkia mesmo após o
termino do contrata Ou seja, o que signifka isso, a relação pode ser
contratual ou contratual empregatícia. Se houver a quebra desse sigilo
estará, então, cometendo o crime de concorrência desleal
A opção pelo segredo industrial é algo cada vez mais utilizada pelas
empresas. Portanto, minha orientação é explore e esteja preparado para quando
um cliente bater à sua porta querendo saber mais sobre os mecanismos legais de
proteção.

No contexto da atual economia do conhecimento, ganha destaque cada


vez maior a proteção legal do segredo de empresa ("trade secret"), que por sua
vez está diretamente relacionada com a repressão da concorrência desleal.

Surgida em seus primórdios como proteção ao segredo industrial,


especialmente no Código Penal Francês desde 1810, a noção foi gradualmente
se expandindo para abranger, hoje, urna série de informações, técnicas e
processos protegidos pelo sigilo empresarial. Não apenas segredo de indústria
ou comércio, mas sim elementos que contenham o segredo da própria
organização da atividade econômica em si, profissionalmente exercida para a
produção ou circulação de bens ou serviços, que constituam diferencial
concorrencial — o segredo de empresa.

O conteúdo do segredo de empresa pode ser interpretado, hoje, como


englobando quaisquer informações estratégicas ou confidenciais que, pela sua
própria natureza, proporcionem ao empresário titular algum tipo de vantagem
perante seus concorrentes.
São exemplos do segredo de empresa: proCessos industriais, "know
how" (conjunto de conhecimentos e experiências de certa empresa), parâmetros
de projetos, processos de negociação, lista de fornecedores, lista de clientes,
informações estratégicas atinentes a uma atuação diferenciada no mercado,
enfim, um conjunto de informações, atreladas a um suporte físico ou não, que
proporcionem vantagem competitiva no mercado.

O segredo de empresa não é passível de registro, ao contrário de marcas


ou patentes, mas goza de satisfatória proteção legal no sistema legal brasileiro.
O principal foco da proteção jurídica do segredo de empresa é a sua
oponibilidade não a terceiros em geral, mas sim a certos atos concorrenciais
tipificados como ilícitos pela legislação.

Em diversas operações empresariais, seja de captação de recursos no


mercado financeiro ou de capitais, seja em associações empresariais como "joint
ventures" ou mesmo operações da área de fusões e aquisições em geral,
costuma-se utilizar a figura do "acordo de confidencialidade" para proteção
adequada do segredo de empresa. Entretanto, é oportuno mencionar que,
mesmo sob o manto de um acordo de confidencialidade, o empresário pode
administrar e selecionar as informações que serão reveladas, dado o caráter
estratégico das mesmas, a fim de preservar a competitividade de sua empresa.

Durante a I Jornada de Direito Comercial, realizada recentemente no


Superior Tribunal de Justiça, foi aprovado o enunciado de n. 27 sobre esta
matéria, com o seguinte teor: "não se presume violação à boa-fé objetiva se o
empresário, durante as negociações do contrato empresarial, preservar segredo
de empresa ou administrar a prestação de informações reservadas,
confidenciais ou estratégicas, com o objetivo de não colocar em risco a
competitividade de sua atividade."

A proteção legal do segredo de empresa, no Brasil, vem desde a


legislação internacional que rege a matéria (de modo especial o Trips
Agreement, internalizado pelo Decreto n°
1.355/1994) até a Lei de Propriedade
Industrial (Lei n° 9.279/1
desleal. 996), que cuida da matéria na repressão a concorrência

A Lei de Propriedade Industrial sanciona como concorrência desleal as


seguintes condutas, nos termos do seu art. 195, ou seja, quem: "XI - divulga,
explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos, informações ou dados
confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços,
excluídos aqueles que sejam de conhecimento público ou que sejam evidentes
para um técnico no assunto, a que teve acesso mediante relação contratual ou
empregatícia, mesmo após o término do contrato." Nesta primeira conduta o

Go
legislador cobre essencialmente o segredo clássico: aquele que é tutelado pela
regra da confidência. Alguém, voluntaria ou legalmente, está em obrigação de
manter segredo, e não o faz. A sanção desta violação de confidência é o crime (e
as sanções cíveis). Na vertente do segredo de negócio, há também tutela pelas
leis relativas ao mercado de capitais, no tocante à repressão ao uso de
informações privilegiadas. "XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem
autorização, de conhecimentos ou informações a que se refere o inciso anterior,
obtidos por meios ilícitos ou a que teve acesso mediante fraude." Já na segunda
conduta que é nova segundo a tradição brasileira e singular em face do direito
comparado, cria uma hipótese de crime em que o acesso ao segredo resulta de
meios ilícitos outros, que não a violação a uma obrigação de confidência.

A legislação de propriedade industrial permite a responsabilização por


atos de concorrência desleal tanto em âmbito civil quanto em âmbito criminal.

Pode-se ponderar, com Fábio Ulhoa Coelho


(Curso de Direito Comercial,
1998), que no caso de concorrência desleal por quebra de segredo de empresa, o
agente do ilícito tem acesso a informações que o empresário titular do segredo
de empresa tinha interesse em manter reservadas, fora do alcance de seus
concorrentes. Esta quebra de segredo de empresa pode ocorrer,
exemplificativamente, nas seguintes hipóteses:

a)
invasão de banco de dados, perpetrada à distância, em modalidade que se
poderia denominar de "espionagem à distância", através da qual se obtém
acesso não autorizado a banco de dados cujas informações constituem segredo
de empresa;

b)
infiltração de funcionários no quadro da concorrente, em modalidade
também conhecida como "espionagem econômica", permitindo ao empregado
apropriar-se de informações essenciais da atividade da empresa com o objetivo
de utilizá-las indevidamente;

c)
aliciamento de empregados ou membros do quadro funcional da concorrente,
em verdadeira "compra" de informações privilegiadas, que pode envolver
empregados graduados, administradores, sócios minoritários ou mesmo outros
prestadores de serviçosI
que possam ter acesso às informações do segredo de
empresa de modo a utilizá-las ilicitamente, prejudicando a concorrência.

Também a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) sanciona como justa


causa para resolução do contrato de trabalho, pelo empregador, a violação do
segredo de empresa, conforme seu art. 482, alínea g. A jurisprudência sobre esta
matéria, aliás, é extensa O próprio Código Penal contém normas protegendo a
inviolabilidade dos segredos e a violação de sigilo funcional.

6'
Em suma, o segredo de empresa tende a ser ativo intangível cada vez
mais importante na atividade empresarial brasileira, sendo recomendável que
os empresários cerquem-se das cautelas legais cabíveis para preservá-lo,
inclusive no âmbito de acordos de confidencialidade firmados para celebração
de contratos empresariais, contexto no qual' lhes será lícito administrar e
proteger as informações estratégicas para preservar sua competitividade no
mercado, sem que arquem com qualquer sanção por conta desta conduta
legitimada pelos mais atualizados entendimentos sobre a matéria.

Agora, para consolidar a matéria sobre segredo de empresa


reproduzimos o melhor texto, hoje disponível na doutrina.

4.2.5.2 Texto sobre segredo industrial

Segredo de empresa
Elisabeth Kasznar Fekete

Tomo Direito Comercial, Edição 1, Julho de 2018

Num contexto de valorização da competitividade, da inovação e da criatividade,


as empresas lidam com informações estratégicas em suas atividades,
protegidas, sempre que atendidos os requisitos legais, sobretudo os de
confidencialidade e valor econômico, pelo instituto legal do segredo de
empresa, industrial ou comercial e ativo, que figura entre os bens de
propriedade intelectual.'

1 Conceitos fundamentais

1.1 Fontes de proteção

A tecnologia, nestes tempos de intenso fluxo de informações nas redes,


de trabalho digital e até mesmo de inteligência artificial, permite que a
"espionagem"2 seja uma atividade praticamente ao alcance de todos, tornando-

se imprescindível para o empresário refletir sobre quais dados deve procurar


registrar como patente, marca, desenho industrial, software, cultivar, direito
autoral e demais formas de registro de bens de propriedade intelectual e quais
informações estratégicas proteger como segredo empresarial. Além da
prevenção, necessária para todas, as empresas se vêm, em alguns momentos,
confrontadas com situações de potencial ou real violação de suas informações
confidenciais, levando-as a tomar medidas de solução de disputas.

Considerando que o sistema brasileiro de proteção dos segredos das


empresas é baseado nas normas de repressão à concorrência desleal, as
dúvidas sobre as fronteiras entre a lealdade e a deslealdade, em situações
como a de ex-empregado contratado por empresa concorrente ou abrindo seu
próprio negócio na mesma área, em geral próxima, tanto do ponto de vista
geográfico, quanto mercadológico, bem como a divulgação, o uso de
informações sigilosas em proveito próprio ou de terceiros, são comuns. As
fundações, as instituições científicas e tecnológicas, os centros de pesquisa e
desenvolvimento, também se colocam estas questões, mesmo quando se trate
de entidades do setor público. Entretanto, embora quanto a estas, aplicam-se
alguns regulamentos adicionais, que pouco serão o objeto deste verbete,
dedicado ao sistema legal do segredo de negócio das empresas do setor
privado.

O segredo de negócio, expressão comum na doutrina brasileira para


designar o segredo empresarial, constitui, segundo o tratado TRIPs
(Agreement
on traderetateo' aspects of intellectual property righ)3
que o denomina
"informação confidencial", uma categoria específica de direito da propriedade
intelectual.

Sua tutela jurídica encontra fundamento, além do art. 39 desse tratado


internacional, no art. 5.0
, incisos X, XII e XXIX, da Constituição Federal, que
garantem aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade
da intimidade, do sigilo da correspondência e das comunicações e a proteção
às criações industriais, respectivamente e nas normas que regulam a lealdade
concorrencial, estabelecidas no art. 195, incisos XI e XII da Lei n.° 9.27
9/1996
ou Lei da Propriedade Industrial (conhecida por LPI),4
com efeitos civis e
penais. Os efeitos de Direito do Trabalho também se fazem presentes, uma vez
que a violação do segredo da empresa por empregado constitui, segundo o art.
842, alínea "g", da Consolidação das Leis do Trabalho (conhecida por CLT),

63 -
motivo de justa causa para a rescisão do contrato de trabalho pelo
empregador.

O termo "segredo de negócio" abrange o conjunto dos segredos


empresariais industriais e comerciais a que os dispositivos legais acima se
referem, sendo importante distingui-lo, desde o início, de outras espécies de
segredos normatizadas no Direito Positivo brasileiro que também se relacionam
com as informações das empresas, como o segredo dos livros comerciais, as
informações violadas por ias/der trading,
a fase de sigilo dos pedidos de
patentes, estabelecida na Lei de Propriedade Industrial, a confidencialidade
dos programas de computador, prevista na Lei n.° 9.609/1998,5 o sigilo
profissional, no qual destacam-se, por exemplo, os sigilos bancário e
advocatício. Distingue-se também do sigilo funcional dos servidores públicos,
que inclui os sigilos fiscal e eleitora1.6 Os segredos "comuns" da vida privada
dos cidadãos, pessoas físicas, cuja violação é tipificada como crime no Código
Penal, não são objeto deste verbete, nem tampouco os segredos militares e
estatais em geral.

O "segredo de empresa", sinônimo, portanto, de "segredo de negócio" ou


"informação confidencial", representa o gênero agrupante de duas espécies: os
segredos industriais, que abrangem, entre muitos outros exemplos possíveis,
os processos de fabricação, as fórmulas de produtos, os dados técnicos de
P&D e os segredos comerciais, como os projetos de lançamento de novos
produtos ou serviços, os estudos de marketing, os resultados de pesquisas de
mercado, as listas de clientes ou fornecedores, os métodos internos de
trabalho e os estudos financeiros, tais como previsões de lucros, precificação,
etc. Para definir o objeto deste verbete, percorro o caminho prévio
indispensável de examinar e demarcar os requisitos que devem estar
cumulativamente presentes.

2 Requisitos de proteção

Qualquer informação da empresa, decorrente de investimento de tempo,


dinheiro e trabalho, pode ser protegido pela legislação do segredo de negócio,

GL(
É aqui que entra a importância da legislação concorrencial que
previne e reprime os atos que constituem infrações econômicas, prestigiando a
livre concorrência e preservação dos mecanismos do mercado e a livre
iniciativa, protegendo os que são prejudicados por estes atos e garantindo a sua
reparação de danos causados.

Referências Bibliográficas

DELMANTO, Celso. Crimes de concorrência desleal.


São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1975.
OLIVEIRA, Gesner. Concorrência: panorama no Brasil e no mundo.
Saraiva, 2001. São Paulo:

PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da


publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.
RODAS, João Grandino. Direito e economia da concorrência.
2004. Rio de Janeiro,

Notas:

1 MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:


Melhoramentos, 1998; p. 554.

2 Apud: PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio


da publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira., 2001.p. 5 3

Apud: PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da


publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira., 2001.p. 15 4

PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da


publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira., 2001.p. 16. 5

PEREIRA, Marco Antônio Marcondes. Concorrência desleal por meio da


publicidade. São Paulo: Juarez de Oliveira., 2001.p. 17.

65

porém somente uma vez cumpridas as condições legais; as principais são
expostas ao longo deste capítulo.7

Em primeiro lugar, para fazer jus à tutela legal, não resta dúvida quanto
à necessidade, como a própria palavra "segredo" indica, de tratar-se de
conhecimentos mantidos sob reserva ou sigilo,8
o que não significa sua
inacessibilidade a todos, porque podem ser, naturalmente, compartilhados com
aqueles que os necessitam para desempenharem suas tarefas rotineiras, como
empregados e fornecedores, recomendando-se que assinem contratos
contendo cláusulas de confidencialidade. Estão excluídos da proteção as
informações "de conhecimento públicd',
como a própria lei indica, no art. 195,
inciso XI da Lei de Propriedade Industrial. Sobressai-se, portanto, que não
integrar um pedido de patente demonstra o ânimo do detentor da informação
de mantê-la em sigilo, eis que os pedidos de patentes são publicados na
Revista da Propriedade Industrial (RPI), semanário do Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI).9

Entre as principais condições, a confidencialidade protegida nos termos


legais exige um elemento volitivo: que a informação "tenha sido objeto de
precauções razoáveis, nas circunstâncias, pela pessoa legalmente em controle
da informação, para mantê-la secreta". Esta exigência de adoção de
precauções razoáveis determina a necessidade de que a empresa tome
medidas contratuais, práticas e de segurança da informação, ou pelo menos
alguma dessas providências, ao longo do planejamento ou execução dos
negócios, de maneira que manifestamente demonstre a intenção de manter a
informação em segredo.

A essência do segredo de negócio, como esta construção demonstra, é


que atenda uma série de circunstâncias, traduzidas em requisitos jurídicos,
numa análise sempre feita caso a caso.

O raciocínio de identificação do bem jurídico aqui estudado assinala que,


para ter direito à proteção, não pode a informação prescindir de um valor
econômico, o que significa que seu conteúdo não pode ser irrelevante no
mercado, devendo implicar na existência de uma vantagem sobre os
concorrentes. A condição de aplicabilidade ao negócio da empresa,
estabelecida no art. 195, inciso XI, da Lei de Propriedade Industrial, quando
dispõe que as informações mi dados devem ser "utilizáveis na indústria,
comércio ou prestação de serviços", igualmente se alinha no sentido de que as
informações a serem protegidas pertençam a uma atividade econômica, seja
qual for o segmento de atuação da empresa detentora.

Os requisitos de transmissibilidade ou alienabilidade confluem, também,


no sentido do valor econômico próprio e individualizado que deve possuir o
segredo empresarial, devendo constituir informação suscetível de transações
corporativas, tais como a compra e venda ou o aluguel (licenciamento), através
de contratos de transferência de tecnologia.

Adicionalmente, exige-se, para a tutela do segredo, uma certa


originalidade no setor econômico de interesse, tratada como um certo nível
inventivo no caso dos segredos referentes a invenções, isto é, industriais. Esta
condição, pela qual os conhecimentos óbvios, desprovidos de inovação ou
criatividade ou de inteligência estratégica, não chegam a constituir matéria apta
a merecer a proteção como segredo de negócio, é também conhecida como
requisito de não obviedade para um técnico no assunto, seguindo a norma
encontrada no art. 195, inciso XI, da Lei de Propriedade Industrial: "excluídos
os dados que sejam evidentes para um técnico no assunto".

Para que possa ser objeto de segredo de negócio, a informação em si


deve ser lícita; por exemplo, um relatório sobre a melhor forma de sonegar
tributos não pode ser protegido por segredo.10 A licitude, portanto, é mais um
dos requisitos para proteção.

1.3 Definição

Diante dos requisitos analisados, exponho a seguir a definição de


"informação confidencial", "segredo de empresa" ou "segredo de negócio" no
Direito brasileiro, que já tive a oportunidade de propor: trata-se de
"conhecimento utilizável na atividade empresarial, de caráter industrial ou

6
comercial, de acesso restrito, provido de certa originalidade, lícito,
transmissível, não protegido por patente, cuja reserva representa valor
econômico para o seu possuidor, o qual exterioriza o seu interesse na
preservação do sigilo através de providências razoáveis".11

1.4 Os chamados "dados proprietários" e a Lei de Acesso à


Informação

Examinemos agora outra categoria de informações sigilosas que não


pode ser confundida com o objeto deste verbete, relativa a resultados de testes
das áreas agrícola e farmacêutica, apresentados aos órgãos regulatórios para
fim de autorização de comercialização, tema de grande atualidade e interesse
empresarial.

Harmonizando-se com o TRIPs (Agreement on traderelated aspects of


intellectua/ property righô,
a Lei de Propriedade Industrial (LPI) criou, no art.
195, inciso XIV, uma nova espécie de crime de concorrência desleal, por
revelação de informações confidenciais, cometido por quem divulga, explora ou
utiliza-se, sem autorização, de resultados desses testes ou outros dados não
divulgados, cuja elaboração envolva esforço considerável e que tenham sido
apresentados a entidades governamentais como condição para aprovar a
comercialização de produtos.

Trata-se da proteção dos dados de testes ou dados para registro


sanitário, também denominados "dados proprietários", podendo ser sobre
testes ou outros dados não divulgados, que atendam uma série de normas
regulatórias. Em outras palavras, é um sistema de exclusividade de dados para
o mercado de quaisquer áreas em que os dossiês de dados são exigidos, como
os defensivos agrícolas, o setor farmacêutico e o de cosméticos, para a
concessão da autorização de comercialização dos respectivos produtos.

O autor desse delito pode ser tanto o funcionário público que teve
acesso aos dados dos testes e que os divulga, explora ou utiliza, sem
autorização do titular dos mesmos — configurando novo tipo penal de violação
de segredo funcional, definido como o que decorre do conhecimento do fato,
em razão de ofício ou função pública —, quanto qualquer pessoa que os obteve
junto ao órgão governamental e que pratica algum desses atos de divulgação,
exploração ou utilização.12

Uma lei de 2011 veio trazer uma nova questão: se existe contradição
entre as normas referentes à preservação dos segredos empresariais e os
dispositivos da Lei de Acesso à Informação, Lei n.° 12.527/2011. Enquanto as
primeiras defendem a proteção das informações sigilosas obtidas por meio do
empenho de recursos e esforço, a segunda regula o acesso à informação
considerando a "observância da publicidade como preceito geral e do sigilo
como exceção" (art. 3.0, inciso I) disciplinando os mecanismos que possibilitam
o recebimento e a divulgação de dados pelos órgãos públicos.

Entretanto, bem andou a Lei n.° 12.527/2011 ao regular o aparente


embate entre as duas tutelas em jogo: instituindo um comando estatal de
gestão transparente e amplo acesso à informação pública, preserva o campo
de ação privado, que garante a proteção de certas informações de relevante
repercussão na vida empresarial. Assim seu art. 6.° determina que os órgãos
públicos devem assegurar a proteção das informações sigilosas e daquelas
pessoais, embora o art. 7.° determine o direito de obter informações pertinentes
"à administração do patrimônio público, utilização de recursos públicos,
licitações e contratos administrativos".13

2 O segredo de negócio como objeto de. contratos empresariais

No sistema jurídico brasileiro, o segredo de negócio não pode ser


considerado como gerador de um direito de propriedade, uma vez que seria
necessário um dispositivo legal expresso para que se encaixasse na categoria
específica dos bens sobre os quais esse direito real se caracteriza. No meu
entendimento, ele pode ser cedido ou licenciado, como os demais direitos
imateriais (marcas, patentes, direitos autorais, etc.); todavia, estes contratos
recebem um tratamento peculiar por parte do Instituto Nacional de Propriedade
Industrial — INPI.

65
Para melhor explicar a dissonância do sistema brasileiro com relação ao
dos outros países, cabe-me antes distinguir duas grandes categorias de
permissão contratual de uso dos segredos de negócio, frequentemente
concedida nos negócios empresariais: de um lado, existem nos contratos ou
cláusulas contratuais autorizando aos colaboradores internos e externos das
empresas o acesso gratuito, mas com vedação de divulgação e uso para
interesses diversos da empresa, para que possam executar suas atividades
rotineiras. De outro lado, são também comuns os contratos versando em torno
do uso, em geral oneroso, por terceiros que não sejam os próprios
colaboradores internos ou fornecedores da empresa, de segredos industriais,
geralmente denominados "contratos de know-how" ou de "transferência de
tecnologia não patenteada".

Os contratos referentes a esta segunda categoria, em determinadas


situações, são levados a registro perante o Instituto Nacional de Propriedade
Industrial — INPI, sobretudo diante de obrigações fiscais e de validade perante
terceiros.

Como pode ser visto nas estatísticas da Diretoria de Contratos do


Instituto Nacional de Propriedade Industrial — INPI, a importância da
transferência de know-how
(ou seja, segredo industrial) por meio de contratos
de fornecimento de tecnologia e assistência técnica é significativa para o
mercado brasileiro, ultrapassando outras categorias principais de contratos de
licenciamento de outros direitos de propriedade industrial, como os contratos
de licença de exploração de patentes, de uso de marcas e os de franquia.

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial


INPI, órgão registrai
brasileiro destes contratos, tem um entendimento singular, diferenciando-se
dos seus congêneres, no que diz respeito aos negócios envolvendo a
transferência de know-how —
termo usado no jargão contratual para designar a
transferência de segredos de negócio, embora juridicamente, não sejam
sinônimos — ou seja, que não pode ser temporariamente licenciado ("alugado"),
apenas doado definitivamente ou vendido. Assim, o Instituto Nacional de
Propriedade Industrial — INPI registra os contratos desta natureza baseando-se
no entendimento de que o receptor deve absorver o ativo (a tecnologia)
definitivamente. Estes contratos são registrados pelo Instituto Nacional de
Propriedade Industrial INPI pelo prazo máximo ,de cinco anos, nos termos do
art. 12 da Lei n.° 4131/1
962, podendo ser renovados por igual período, desde
que as partes tenham condições de justificar o pedido de renovação.

Enfatizar a necessidade de atualização da visão estatal brasileira sobre


a natureza jurídica dos contratos de transferência de tecnologia não patenteada
é relevante. Enquanto a maior parte dos países permite o licenciamento
temporário das informações confidenciais tecnológicas, o Instituto Nacional de
Propriedade Industrial — INPI não considera tal tecnologia como admitindo
licença temporária, mas apenas a cessão definitiva de direitos. As partes dos
contratos desta área precisam, no país, portanto, considerar os seguintes
impactos principais desta diferente abordagem contratual por parte do órgão
público: o preço da transação, sua tributação e a duração do dever de
confidencial idade.

3 Os crimes de violação dos segredos de negócio: descrição e


aspectos processuais"

3.1 Atos incriminados e seus sujeitos ativo e passivo

A lei brasileira define claramente as atividades que constituem uma


violação ao segredo de negócio, nos termos do art. 195, incisos XI e XII da Lei
de Propriedade Industrial, os quais estabelecem o que segue:

"Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem:

XI — divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos,


informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou
prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimento público
ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve acesso
mediante relação contratual ou empregatícia, mesmo após o término do
contrato;
XII — divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos ou
informações a que se refere o inciso anterior, obtidos por meios ilícitos ou a
que teve acesso mediante fraude".

Assim, de acordo com a Lei de Propriedade Industrial, são consideradas


infrações ao segredo de negócio os seguintes atos de concorrência desleal: a
divulgação, exploração ou utilização, sem autorização, de conhecimentos,
informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou
prestação de serviços, sempre que obtidos por meio lícito (contratual ou
empregatício) ou ilícito. A mera divulgação — mesmo que não cause danos —
constitui crime, sendo passível de ação civil e criminal.

Se for provado que um produto importado foi fabricado graças à violação


a um segredo de negócio, sua importação pode ser considerada um ato de uso
ilícito, no sentido das infrações previstas na Lei de Propriedade Industrial,
consequentemente permitindo que o detentor do segredo empresarial violado
requeira indenização ao agressor.

A pessoa detentora do "controle" sobre o segredo de negócio, na


expressão do tratado sobre TRIPS (Agreement on traderelated aspects of
intellectual property right), é a parte legítima para alegar seu uso indevido.

No entanto, a parte receptora de um contrato de transferência de


tecnologia não patenteada também pode ter o direito de defender o segredo
industrial contra seu uso indevido por terceiros, se ex/pressamente acordado
pela parte fornecedora. A fim de que o receptor tenha legitimidade para
instaurar este tipo de processo, sob o sistema legal brasileiro, recomenda-se
que o contrato seja registrado junto ao Instituto Nacional de Propriedade
Industrial - INPI.

Como vimos, um segredo de negócio não gera um direito de propriedade


no Direito brasileiro, de modo que um terceiro que o tenha adquirido de boa-fé
de um infrator ou de alguém em seu nome não é responsável pela violação,
uma vez que esta é considerada um ato de concorrência desleal e o elemento-
chave da fraude está ausente na hipótese precedente. Somente o infrator e
seus cúmplices são responsáveis.

Em matéria de responsabilidade civil, todos os participantes na infração,


como um ex-empregado e seu novo empregador, concorrente do anterior, são
conjuntamente responsáveis perante o detentor do segredo de negócio. Em
contraposição, no Direito penal brasileiro, os agentes são responsáveis, de
acordo com o grau de sua participação e com base nas condições pessoais e
contribuições individuais de cada um para com o crime. Portanto, induzir o
crime pode resultar em Uma sanção diferente quando comparada com as
ações do autor/executor da violação, seja qualitativa ou quantitativamente —
embora ambos possam se enquadrar em qualquer crime em particular.

As condições essenciais para a responsabilidade solidária são a


existência de uma ligação subjetiva entre os agentes, o que significa que todos
os participantes devem partilhar a mesma intenção criminosa e a presença de
um nexo causal entre o resultado criminoso e a conduta de cada participante.

Os diretores e empregados de uma empresa infratora podem ser


responsabilizados por violação a segredo de negócio sempre que ocorrer uma
infração a uma obrigação contratual de sigilo ou uma indução à violação. Nos
termos do art. 39, nota 10, do Acordo TRIPS (Agreement on traderelated aspects
of intellectual property right), para os fins de aplicação deste dispositivo, "a

expressão 'de maneira contrária a práticas honestas' significará pelo menos


práticas como a violação ao contrato, abuso de confiança, indução à infração, e
inclui a obtenção de informação confidencial por terceiros que tinham
conhecimento, ou desconheciam por grave negligência, que a obtenção dessa
informação envolvia tais práticas".

A Lei de Propriedade Industrial e a Consolidação das Leis Trabalhistas


vedam expressamente o uso e a divulgação não autorizados do segredo de
negócio por empregados e ex-empregados, considerados como atos de
concorrência desleal e de violação a um dos deveres do trabalho. Do ponto de
vista da defesa por parte do réu, os mesmos critérios determinantes da
existência de uma violação, previstos na Lei de Propriedade Industrial,
encontram-se à sua disposição, combinados com as regras do mesmo diploma
legal sobre as invenções dos empregados, constantes dos arts. 88 a 93. Um
ex-empregado pode alegar e provar, por exemplo, que criou os conhecimentos,
dados ou informações que formam o alegado segredo de negócio fora do
ambiente de trabalho, sem o uso de recursos financeiros, materiais ou
intelectuais do empregador, e que somente mais tarde tais informações foram
aplicadas no âmbito da empresa. Esta linha de defesa não se aplica se
confrontada com as cláusulas em sentido contrário do contrato de trabalho,
caso, por exemplo, o empregado tenha sido contratado especificamente para
criar tal segredo de negócio, o que o torna uma "invenção de serviço",
categoria de invento de empregado inteiramente pertencente à empresa
empregadora, segundo o art. 88 da Lei de Propriedade Industrial.

Outra defesa possível baseia-se na comprovação do não cumprimento


de qualquer dos requisitos exigidos pelo Acordo TRIPS
(Agreement on
tradere/ated aspects of intellectual property right),
pela Lei de Propriedade
Industrial para a caracterização jurídica de um segredo de negócio, condições
essas que acima resumi.

A importância da proteção do segredo de negócio para o estímulo à


inovação e à criatividade é reconhecida como essencial ao seu regime de
jurídico, de modo que o "interesse público" não pode ser alegado como defesa
da divulgação de informações empresariais sigilosas. Tais informações podem
entrar no domínio público legalmente, por exemplo, quando reveladas pelo seu
próprio detentor, ou quando terceiro as tenha divulgado após realizar
engenharia reversa, ato não vedado por lei, eis que, como vimos, o segredo de
empresa não gera um direito de propriedade; produz efeitos relativos e não
absolutos.

3.2 Práticas anti-concorrenciais

A doutrina norte-americana do litígio dissimulado


(sham litigation), segundo a
qual é abusivo o uso do sistema judicial como forma de restringir a atividade

q't
dos concorrentes por meio de ações judiciais, independentemente do mérito,
pertinência ou chance de sucesso, já foi aplicada pela autoridade brasileira
antitruste representada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE) em procedimentos administrativos contra práticas ilícitas anti-
concorrenciais. Não obstante, há escassa jurisprudência que envolva a adoção
desta doutrina perante os tribunais judiciais e podemos considerar que a sua
aplicação seria, em alguns casos, contestada com base na norma
constitucional de não exclusão do escrutínio das causas pelo Judiciário.

Desta maneira, um réu prejudicado por reivindicações infundadas pode


contestá-las com base no uso abusivo do direito do autor de propor ações.
Ademais, uma queixa administrativa por violação da ordem econômica
constitucional, baseada nos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência,
pode ser apresentada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE).

Alternativamente, o autor da ação pode ser exposto às normas de


responsabilidade civil quando suas medidas preliminares forem consideradas
excessivas, uma vez que, no caso de estabelecimentos industriais ou
comerciais juridicamente organizados e de funcionamento público, as medidas
preliminares devem limitar-se à inspeção e apreensão dos produtos, quando
ordenadas por um juiz, de maneira, entretanto, a não paralisar a atividade
legalmente exercida, como limitado pelo art. 203 da Lei de Propriedade
Industrial.

3.3 Ações cíveis e penais por violação a um segredo de


negócio"

3.3.1 Ações cíveis

Os principais pedidos, nas ações cíveis desta natureza, são impedir o


réu de usar o segredo da empresa e de conceder-lhe indenização por perdas e
danos. Pode-se também requerer ao tribunal que ordene a destruição das
mercadorias infratoras. Raros, mas possíveis são os pedidos de publicação da
decisão na mídia.
O autor pode requerer o segredo de justiça, a fim de proteger o sigilo da
informação objeto da ação, como permitem a Lei de Propriedade Industrial e o
Acordo sobre TRIPs
(Agreement on tradere/ated aspects of Intellectual property
rigln).

É facultado ao autor da ação requerer liminar para evitar uma violação


futura.

Tendo em vista que o infrator não pode, por uma questão de princípio,
beneficiar-se da sua própria malícia, ele pode ser impedido, em medida
preliminar, de utilizar um segredo de negócio obtido ilegalmente. A decisão
liminar proibindo tal uso pode abranger a compra, venda, importação,
fabricação, exportação, divulgação, manutenção em depósito, etc. dos
produtos violadores do segredo. Quando determinada informação continua
preservando seu caráter confidencial, tendo sido aplicado, durante o processo,
o segredo de justiça, é possível obrigar terceiros a se absterem de utilizá-la nas
atividades acima elencadas.

As medidas provisórias podem ser concedidas durante o processo, por


vezes inaudita altera parte,
a fim de tentar impedir o réu de violar o segredo de
negócio. Além de ordenar ao réu a cessação do uso (mediante compra, venda,
importação, fabricação, exportação, divulgação, guarda em depósito, etc.) dos
produtos cobertos por segredo de negócio, sob pena de multa diária em caso
de descumprimento, pode o juiz ordenar, a pedido do autor da ação, a busca e
apreensão de todos esses produtos que estejam na posse do infrator, sendo-
lhe facultado exigir do autor o pagamento de uma caução para assegurar o
pagamento de ressarcimento por perdas de danos ao réu, eventualmente
concedida no término da ação. Outro requerimento possível é o de uma ordem
de retirada de todas as mercadorias infratoras do mercado.

Os pré-requisitos gerais para obter uma liminar, o


per/Cu/um In mora, fumus boni jun:9 e o
aplicam-se aos casos de violação de segredo de negócio.
Assim, o autor da ação deve demonstrar a causa provável de suas
reivindicações, bem como o dano iminente prestes a ser causado caso a
liminar não seja concedida. Por não existir qualquer sistema de registro dos
segredos de negócio, geralmente torna-se necessária prova mais forte do que
a exigida nos casos de violações de direitos de propriedade industrial
protegidos por registros, como as marcas e as patentes. O novo Código de
Processo Civil, que entrou em vigor em 17 de março de 2016,
16 admite também
permitirá liminares fundamentadas unicamente no
fumos boni juris.

Além das medidas preliminares acima mencionadas, pode-se ajuizar


ação prévia e separada de antecipação de provas, para inspecionar as
instalações de um potencial infrator e/ou localizar documentos, equipamentos
ou objetos na posse do réu que possam constituir prova para
,a ação principal.

O novo Código de Processo Civil Brasileiro, introduziu algumas


modificações no procedimento a ser seguido na área cível em geral, com
alguns impactos sobre a matéria versada neste verbete. Sob o novo código,
por exemplo, após o protocolo da inicial pelo autor, o réu é convocado para
uma reunião de conciliação e só pode apresentar sua defesa após o eventual
fracasso das tentativas de conciliação. O interrogatório de testemunhas
também é contemplado pelo novo código. Além disso, se o assunto técnico for
de baixa complexidade, as partes podem, sob a nova disciplina processual
cível, nomear conjuntamente um especialista que possa realizar uma análise
mais simples.

Os critérios gerais aplicáveis em matéria de ressarcimento de perdas e


danos materiais são, de acordo com a Lei de Propriedade Industrial e os
benefícios que,a parte lesada teria ganho se a violação não tivesse ocorrido; os
benefícios efetivamente obtidos pelo infrator ou a remuneração que o autor da
violação teria pago ao titular dos direitos violados por uma licença que lhe
permitiria legalmente explorar o objeto dos direitos. A Lei de Propriedade
Industrial prevê a aplicação do critério mais favorável ao requerente. Durante a
fase de execução da ação judicial, uma perícia pode ser pleiteada e um perito
nomeado pelo tribunal para definir os valores.
Uma vez que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite
expressamente a compensação por danos morais às pessoas jurídicas, os
autores podem reivindicar tal espécie de prejuízos, que podem incluir danos
Punitivos.

O enriquecimento sem causa do réu pode ser alegado em qualquer


situação de responsabilidade civil, sendo princípio reconhecido pelo Direito
Civil brasileiro.

3.3.2 Ações penais

Uma vez condenado o infrator em decisão do âmbito penal, pode a


vítima ajuizar processo civil de indenização por perdas e danos perante tribunal
cível. A parte ofendida não é obrigada procurar o caminho criminal, mas caso o
faça e obtiver sucesso, poderá posteriormente ingressar com ação cível para
fazer valer a obrigação indenizatória. As duas ações, portanto, são
independentes, podendo o detentor do segredo violado ajuizar unicamente a
ação cível.

O Direito Penal prevê as seguintes sanções pelas violações aos


segredos de negócio, sendo as mesmas aplicáveis a todos os atos de
concorrência desleal: três meses a um ano de detenção, ou multa. Os crimes
de concorrência desleal geram ações penais privadas, cabendo à parte
ofendida, e não ao Ministério Público, ingressar com tais ações.

3.3.3 Questões de competência, prescrição e decadência


concernentes às ações cíveis e penais

Os tribunais brasileiros são competentes de forma não exclusiva para


julgar os casos em que o réu tem sua sede no Brasil, independentemente da
nacionalidade, em que a obrigação deve ser cumprida no Brasil ou quando a
ação decorra de fato ou ato ocorrido no país.

Assim sendo, uma infração extraterritorial deve ter uma relação mínima
com o país para permitir que o caso seja submetido aos tribunais brasileiros.
Se o infrator tiver a sua sede ou escritório em território nacional, o autor da

)')
ação tem a seu dispor todas as medidas legais de praxe, embora aquelas
destinadas a serem aplicadas no exterior devam ser submetidas às autoridades
estrangeiras por meio de mecanismos de cooperação judicial internacional,
como cartas rogatórias. O mesmo ocorre quando a infração ocorre no Brasil,
cabendo ao réu entrar com uma ação no exterior.

A lei brasileira se aplica se a violação ocorrer dentro do território do país.


A aplicação do direito estrangeiro não é comum no país, uma vez
que o
interessado deve provar qual é a lei estrangeira aplicável ao caso, o que pode
geralmente envolver perícia.

No Direito Penal, diante da "doutrina da ubiquidade", o Brasil sempre


será competente para julgar casos cujos efeitos afetem pessoas ou bens no
território do país.

A queixa-crime pode ser apresentada dentro do prazo de seis meses,


contados a partir do conhecimento do crime pela vítima. Já a ação cível, para
não incidir em prescrição, deve ser ajuizada no período de cinco anos contados
a partir do conhecimento da violação pela vítima.

As violações do segredo de negócio são, no que diz respeito à área


cível, de competência dos tribunais cíveis estaduais. Como vimos, entretanto,
para tais violações estão previstas também sanções penais e trabalhistas, a
serem aplicadas pelos respectivos tribunais dessas áreas.

Os precedentes de jurisprudência estrangeira podem servir como pontos


de referência. Na ausência de disposição expressa na lei, o juiz deve decidir o
caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito,
conforme previsto no art. 4.0
da Lei de Introdução ao Código CiviI.17

3.3.4 Medidas alfandegárias

O art. 198 da Lei da Propriedade Industrial limita as medidas de fronteira


à violação da marca, conforme permitido pelo Acordo TRIPs
(Agreement on
traderelated aspects of intellectuat property righz).
Este dispositivo permite que as

Rs
autoridades aduaneiras brasileiras apreendam
ex officio mercadorias
falsificadas, se suspeitarem que infringem direitos sobre uma marca registrada
no Brasil. Desta maneira, em princípio, não se encontram claramente previstas
em lei medidas alfandegárias para cessar a importação de mercadorias que
alegadamente infringem segredos de negócio. No entanto, em alguns casos
específicos, os detentores de direitos oriundos de patentes, desenhos
industriais, segredos de negócio e outros direitos de propriedade intelectual
podem alegar violação das leis aduaneiras e tributárias para requerer a
aplicação das chamadas "medidas de fronteira" contra o infrator.

4 A racionalidade dos segredos de empresa na era da


tecnologia da informação

Tendo exposto, neste verbete, os traços principais referentes ao instituto


do segredo de empresa, sob os pontos de vista conceitua:, contratual e judicial,
passo a alinhavar algumas singelas observações finais, sem pretender analisar
a fundo os inúmeros efeitos deste bem jurídico que afetam a vida empresarial.

Abrindo o tema, procurei fazer um resumo do conceito jurídico do


segredo empresarial e em particular, dos seus requisitos.

Como o art. 195, incisos XI e XII, da Lei de Propriedade Industrial


estabelecem tipos penais abertos, torna-se necessário, para interpretá-los,
compreender o conceito do que vem a ser os neles referidos "conhecimentos,
informações ou dados confidenciais". Para tal, deve-de iniciar, como vimos, por
fixar o conteúdo exato dos dois tipos e aplicá-los conjuntamente com o § 2.° do
art. 39 do Acordo sobre TRIPs
(Agreement on traderelated aspects of intellectual
propeli)/ rigM,
de forma a sistematizar as condições cumulativas
imprescindíveis das quais uma informação deve revestir-se para merecer a
tutela legal. A doutrina e a farta jurisprudência complementam a conceituação
deste instituto legal, versando de maneira mais detalhada os parâmetros de
proteção.

Nota-se, nesse ponto de partida, que o elemento diferenciador adotado


pelo legislador pátrio para distinguir os dois incisos é a qualificação do meio
que possibilitou o acesso do agente às informações confidenciais: se o acesso
ocorreu por meio lícito, através de relação contratual cível, comercial ou
empregatícia, aplica-se o inciso XI; se ocorreu por meio ilícito ou fraude, adota-
se o inciso XII. É, portanto, a licitude ou ilicitude do meio usado pelo agente do
crime para obter as informações que diferencia os dois tipos penais.

Inevitável, portanto, para verificar o enquadramento legal de um delito


contra o segredo empresarial, analisá-lo sob a perspectiva de distinguir não
somente se o sujeito ativo é pessoa próxima à vítima — seu parceiro contratual,
empregado ou ex-empregado — ou se ocupa posição de terceiro distante com
relação à vítima, como o empregador concorrente ou o sócio ou administrador
de uma empresa competidora, mas também se o acesso às informações
confidenciais se deu por meio permitido ou fraudulento. Isto, porque o
legislador consignou de maneira clara a responsabilidade penal do
empregador, sócio ou administrador da empresa que incorrer nas tipificações
estabelecidas no art. 195, § 1.°, incisos XI e XII, da Lei de Propriedade
Industrial.

Embora seja negada proteção legal contra a divulgação, exploração ou


uso do segredo por terceiro adquirente de boa-fé, a nota explicativa 10 do
TRIPs
(Agreement on traderelated aspects of intellectual property right)
ao seu
artigo 39 corrobora a regra da responsabilização de terceiros "que tinham
conhecimento" de que a obtenção da informação envolvia práticas desonestas
(terceiros de má-fé). Regulamentando fatores mais comuns na realidade
empresarial, este tratado internacional criou um novo patamar de proteção do
segredo de negócio ao inserir um elemento culposo, desde que tenha certa
gravidade, considerando desleal a obtenção por terceiros que agiram com
"grave negligência" ao desconhecer tais práticas. Esta nota do TRIPs
(Agreement on tradere/ated aspects of intellectual property right)
contém, na
minha visão, critérios úteis para desvendar outros atos envolvendo
concorrência desleal, por abordar, pela primeira vez em norma vigente no
Brasil na área da propriedade intelectual, conceitos como a violação contratual,
o abuso de confiança e a negligência.
Desenvolveu-se no nosso país relevante jurisprudência cível, criminal e
trabalhista, mediante decisões que vêm desenhando os parâmetros para a
solução de questões como responsabilização penal, apreciação de provas,
dolo, culpa, coautoria e avaliação de indenização por perdas e danos, tendo
sido julgados variados casos de imputação de crimes de violação de segredos
de negócio conjugados com outros ilícitos, como furto de materiais da empresa,
contidos em meios físicos ou eletrônicos e corrupção ativa e passiva de
empregados.

Essa variedade de efeitos cíveis, penais e trabalhistas marca o


complexo sistema de deveres legais de sigilo existente na atividade
empresarial, ao mesmo tempo em que se ampliam as dificuldades de
preservação da confidencialidade, num contexto de cada vez maior
"divulgação", "comunicação" e "compartilhamento" dos conhecimentos, dados e
informações na atualidade de economia em rede.

Como já tive a oportunidade de escrever: "nesta chamada era da


informação, caracterizada pela facilidade e rapidez na circulação dos
conhecimentos e consequentemente, pelas novas facetas que apresenta a
vulnerabilidade da administração de dados, o maior reconhecimento do valor
atribuído a tais bens, ferramentas indispensáveis para a competitividade
empresarial diante da globalização, deve ser apoiado não apenas pelos países
que atingiram um grau elevado de desenvolvimento, mas também por aqueles
que ainda se encontram a caminho do progresso tecno-científico e da
estabilidade socioeconômico desejáveis" 18 Ressalto que, na economia
contemporânea, o segredo empresarial continua tendo grande valia, atendendo
tanto ao interesse público de propulsionar a inovação, a criatividade e o
reinvestimento na geração de tecnologias, em ambiente de lealdade
empresarial concorrencial, quanto o interesse privado da proteção das
informações confidenciais, com base na boa-fé, nos princípios gerais do Direito
e nas práticas que evitam o enriquecimento ilícito.
Notas

1
Este verbete baseia-se em, sintetiza e atualiza capítulos do livro FEKETE,
Elisabeth Kasznar.
O regime jurídico do segredo de indústria e comércio no
direito brasileira

2
Ver FEKETE, Elisabeth Kasznar. A proteção das informações estratégicas:
questões de espionagem industrial nas empresas. Anais do XXVIII Seminário
Nacional da Propriedade intelectual, pp. 109-117.

3
O Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual
Relacionados ao Comércio, conhecido como Acordo sobre TRIPs (Agreement
on traderelated aspects of intellectual property ngln) ou simplesmente, TRIPs
(Agreement on traderelated aspects of intellectual property right), entrou em vigor
no Brasil através do Decreto 1.355/1994 e seu art. 39 trata da proteção à
informação confidencial. Encontramos este entendimento de forma expressa e
clara em: UNCTAD-ICTSD. Resource book on TR/PS and development

4 Lei n.° 9.279/1996, que entrou em vigor em 15 de maio de 1997, regulando os


direitos e obrigações relativos à propriedade industrial.

5 A Lei n.° 9.609/1998, é conhecida como a Lei do Softwar


:e.

6
Confronto estes institutos afins, todos eles estabelecendo alguma espécie
legal de dever de sigilo, no capítulo VII de: FEKETE, Elisabeth Kasznar. O
regime jurídico do segredo de indústria e comércio no direito brasileiro, pp. 92-
126.

7
Para maiores detalhes, ver FEKETE, Elisabeth Kasznar. Op. cit., capítulo
6.2.3, pp. 69-91.

8
Paul Roubier se referia a "esconder" tais conhecimentos, definindo o segredo
de fábrica (termo francês para o segredo industrial) como "processo de
fabricação, oferecendo um interesse prático e comercial, usado por um
industrial e mantido escondido de seus concorrentes, que não o conhecem",
apud
Jacques AZÉMA, Jacques. Définition juridique du know-how. L
e know-
how, Centre de droll d'entreprise, p. 15.

9 Como prescreve o caput


do art. 30 da Lei de Propriedade Industrial: "[o]
pedido de patente será mantido em sigilo durante 18 (dezoito) meses contados
da data de depósito ou da prioridade mais antiga, quando houver, após o que
será publicado, à exceção do caso previsto no art. 75".

Exemplo de LEONARDOS, Gabriel Francisco. Considerações sobre a


roteção ao segredo de fábrica e de negócio no Brasil.
Revista Forense, v. 337,
p. 337-375.

11
Esta é a definição que propus em: FEKETE, Elisabeth Kasznar.
O regime
jurídico do segredo de indústria e comércio no direito brasileiro,
p. 420.
12
Ver, sobre o tema, FERNANDEZ, Javier; FREITAS MORAIS, Gustavo de.
Segredo industriai versus Lei de Acesso à Informação: uma contradição?,
organizado pela ANDEF - Associação Nacional de Defesa Vegetal, cuja
Apresentação tive a honra de redigir.

13
Abordei este assunto no capítulo: FEKETE
, Elisabeth Kasznar, Deve ser
dado tratamento especial às informações
confidenciais nos processos
licitatórios no direito brasileiro, diante da nova
Lei de Acesso à Informação?
Estudos de direito intelectual em homenagem
ao Prof Dr. José de Oliveira
Ascensão, pp. 191-208.

14
A autora agradece a Rafael Salomão Safe Romano Aguillar pela colaboração
com este capítulo.

16
Ver a terceira parte, dedicada à responsabilidade cível e penal por estas
violações, de: FEKETE, Elisabeth Kasznar.
O regime jurídico do segredo de
indústria e comércio no direito brasileiro, pp. 271-360.

16
O novo código, também conhecido como NCPC, foi instituído pela Lei n.°
13.105/2 015, atualizada pela Lei n.°
13.256/2016.

çgf
17 Decreto-Lei n.° 4.657/1942.

18
FEKETE, Elisabeth Kasznar.
O regime jurídico do segredo de indústria e
comércio no direito brasileiro, p. 430.

Referências

AZÉMA, Jacques. Définition juridique du know-h.


Le know-how, centre de
droit déntreprise.
5.a ed. rencontre de propriété industrielle. Montpellier:
Libra iries Techniques, 1975.

BARBOSA, Denis Borges.


Usucapião de patentes e outros estudos de
Propriedade industnál.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. Volume 1.

. Tratado da propriedade intelectual


Juris, 2010. Rio de Janeiro: Lumen

CORREA, José Antônio Faria.


A atua/ proteção dos segredos industnáis e de
negócios. Revista da ABP/ - Anais do XVII/ Seminário Nacional de Propriedade
Intelectual realizado pela ABPI
São Paulo - SP, 1998.

FEKETE, Elisabeth Kasznar.


O Regime jurídico do segredo de indústria e
comércio no direito brasilefra
Rio de Janeiro: Forense, 2003.

. Chapter on Brazil. Trevor Cook.


global guide. Trade secret protection.. a
Surrey: Globe Law and Business Ltd, 2016.

. A proteção das informações estratégicas: questões de


espionagem industrial nas empresas.
Anais do XXVIII Seminário Nacional da
Propriedade Intelectual, 2008.

. Deve ser dado tratamento especial às informações


confidenciais nos processos licitatórios no direito brasileiro, diante da nova Lei
de Acesso à Informação?
Estudos de direito intelectual em homenagem ao
Prof. Dr. José de Oliveira Ascensão
Dano Moura Vicente (coord.). Coimbra:
Almedina, 2011.
FERNANDEZ, Javier; FREITAS MORAIS, Gustavo de.
Segredo industrial
versus Lei de Acesso à Informação: urna contradição?
Juris, 2014. Rio de Janeiro: Lumen

FLORES, Cesar.
Segredo industrial e o know-how - aspectos jurídicos
Internaciona/S.
Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2008.

HAGEL, Francis Denis. Protection des •secrets d'affaires: enjeux et repères.


Cahiers de droit de rentreprise,
n.° 1, 2012.

LABRUNIE, Jacques. A proteção ao segredo de negócio.


contemporânea Direito empresaría/
Newton de Lucca e Adalberto Simão Filho (coords.). São
Paulo: Juarez de Oliveira, 2000.

LEONARDOS, Gabriel Francisco. Considerações sobre a proteção ao segredo


de fábrica e de negócio no Brasil.
Revista Forense,
Forense, 1997. vol. 337. Rio de Janeiro:

UNCTAD-ICTSD.
Resource book 0/7 TR/PS and deve/opment.
Cambridge Cambridge:
University Press, 2005. Disponível em:
<htt • ://www.i rsonline.or /unctadictsd/docs/RB_2.28 u•dae. .df>.

Citação

FEKETE, Elisabeth Kasznar. Segredo de empresa. Enciclopédia jurídica da


PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André
Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito Comercial. Fábio Ulhoa Coelho, Marcus
Elidius Michelli de Almeida (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em:
htt s://enciclo edia .
uridica. • ucs .br/verbete/248/edicao-1/se redo-de-em resa
4.2.6 Da espionagem industrial e pirataria

Espionagem industrial e pirataria

Akira Chinen
Livro Know-how e Propriedade industrial,
1997
Como segredo absoluto de fábrica, restrito a um número
limitado de pessoas, nem sempre o
know-how industrial fica imune à quebra
de sigilo e de proteção. São vários os exemplos de espionagem no (...)

(...) mundo industrial de hoje, nada mais natural que a espionagem exista:
avanços tecnológicos acirram feroz concorrência entre empresas, entre
conglomerados multinacionais, entre países. Um dos primeiros estudiosos no
Brasil a sistematizar o assunto da espionagem industrial, foi Alexandre
Gnocchi, que em sua obra
ensina: Contratos de Know How & Royalties no Brasil (1981),

"A proteção do know how


industrial, por não contar com o
sistema de defesa dispensado legalmente às patentes, repousa exclusivamente
no sigilo, por isso o know how,
no que tiver de essencial, deve ser zelosamente
guardado e, quando possível, fechado a sete chaves. A maior atenção deve ser
dispensada aos processos, fórmulas, aos dados técnicos, etc. que orientam a
produção e conduzem ao produto final."

o ultra-secreto, o O autor faz uma classificação dos graus de sigilo do


secreto, o confidencial e o reservado know how:
e considera que não se pode
definir rigorosamente cada uma dessas modalidades:

"Cada indústria, cada setor técnico, cada instituição de


pesquisa, oficial ou não, adequará tal classificação às suas próprias
necessidades, às suas características administrativas, etc. Todo .plano novo,
dados técnicos, referências a invenções ou inovações e aperfeiçoamentos,
esboços, desenhos, marcas, etc., tudo deve ser tratado de forma
reservada na
empresa. Cumpre aos responsáveis manterem-se alertas e saber como defender-
se da espionagem, sempre ativa nas indústrias e capaz das mais ousadas
façanhas."

Em sua substanciosa e bem fundamentada exposição sobre o


assunto Alexandre Gnocchi menciona duas características básicas da
espionagem industrial:
"A modalidade mais perigosa é a que opera de dentro da
empresa, por utilizar como agentes os próprios dependentes, atraídos por toda
sorte de subterfúgios.

Outra modalidade é a espionagem que opera de fora da


empresa, através de pessoas que se apresentem como visitantes, estagiários,
desenhistas, publicitários, técnicos avulsos, profissionais, vendedores, cada qual
empregando técnicas próprias para alcançar seus objetivos."

O almirante Attila Novaes, considerado expert em espionagem


industrial, em entrevista ao jornal O Globo,
(1972) calculava a existência naquela
época, de quinhentos mil espiões ativos em todo o mundo, mencionando os
Estados Unidos e o Japão como os paraísos da espionagem. Seus dados
incluíam cinco mil agentes, em atividade em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre e Recife e outros centros industriais.

Citando esses dados, Alexandre Gnocchi acrescentava que o


número de espiões industriais "deve ter aumentado assustadoramente,
devendo os nossos empresários manterem-se em permanente alerta".

A advertência, feita em 1981, continua valendo para os dias de


hoje, com uma diferença: a vigilância deve ser redobrada (...)

A pirataria — ou copiagem — é o processo pela qual as indústrias


copiam inventos, sem pagar nada ao detentor da patente, reproduzindo e
vendendo o produto, sem licença do fabricante.

Uma das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, Merck &


Co., ao declarar, em suas publicações, que o desenvolvimento de um novo
remédio, pode levar de sete a dez anos e custar 125 milhões de dólares, fazia
seguinte acusação:

"Os piratas que roubam esses intangíveis de valor inestimável


encontram, facilmente, maneiras de tirar lucro desse abuso. Marcas registradas
são copiadas. Filmes, livros, gravações de música e programas de computador
são duplicados sem grande custo e sem perda de fidelidade. Um remédio que
resultou do trabalho de centenas de cientistas com Ph.D e médicos clínicos, e
levou anos para receber a aprovação reguladora, pode ser copiado por um
único químico que tenha pouco mais que um mestrado. O detentor da patente
só vai perceber que ocorreu um roubo, quando o produto do roubo aparecer no
mercado. E, dentro de um ano, o pirata é capaz de produzir o suficiente para
expulsar o detentor doa patente do mercado."

As indústrias norte-americanas queixam-se da perda entre 15


(quinze) a 17 (dezessete) bilhões de dólares por ano, em consequência da
pirataria de direitos autorais e patentes em todo o mundo: a estimativa é da
Aliança Internacional de Propriedade Intelectual. Os dados de (1995) mostram

dg§
que entre os piores países em termos de pirataria, a Alemanha somava a maior
taxa de pirataria, com US$ 1,2 bilhões ao ano, seguida da China, Rússia, Itália e
Brasil (US$ 438 milhões).

Outra entidade norte-americana, a SPA (Software Publishing


Association) calculava que em 1994, 40% (quarenta por cento) do software, em
uso era mundialmente pirateado. No Brasil, o índice de pirataria na informática,
alcançava índices de 80% (oitenta por cento), apesar dos programas de
computador serem protegidos, através do direito autoral ou propriedade
industrial, incluído na Lei de Software riQ 7.646 de 18 de dezembro de 1987.

O Brasil, já foi apontado como um dos países com maior nível


de pirataria, hoje é vítima de empresas de países que integram o Mercosul,
principalmente o Paraguai, onde empresas de fundo de quintal costumam
falsificar marcas brasileiras famosas ou apropriar-se, indevidamente, de licenças
internacionais, autorizadas, com exclusividade, a empresas brasileiras.

Outra prática comum é a apropriação de marcas ou nome de


produtos brasileiros, registrados oficial e indevidamente em outros países do
Mercosul, sem conhecimento dos proprietários, que por sua vez, são
surpreendidos, ao tentar lançar seus produtos naqueles mercados: a marca já
está registrada no local sem qualquer escrúpulo.

A falta de uma harmonização de leis e critérios, na questão de


marcas e patentes na região, permite tais tipos de distorção, e por isso a questão
está sendo amplamente debatida entre os especialistas dos países envolvidos,
gerando a tese de um único registro de marca ou depósito de patentes, válido
para todos os países do Mercosul.

A prática, aliás, foi também muito utilizada no Brasil, por


pessoas informadas, de antemão, que determinadas empresas estrangeiras
viriam instalar-se no Brasil. Um exemplo que não deixa de ser pitoresco: certa
hospedaria, suspeita e de quinta classe, registrou-se com o nome de
Mitsubishi,
criando problemas e constrangimentos quando o conglomerado japonês
começou a instalar a filial brasileira de seu banco em São Paulo (...)

Ao contrário no Japão, urna indústria brasileira de bebidas, a


Muller, tentando registrar a sua caninha Pirassununga 51,
descobriu que não só
essa marca, como outras 20 (vinte) marcas famosas, como
Barreiro e Pitú Tatuzinho, Velho
já eram registradas no país, como sendo de uma empresa que
leva o nome de sua proprietária, uma dona de boates na região de Nagoya.
RUME° DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADE
DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS — FADIR
CURSO DE DIREITO
TURNIA: 92 SEMESTRE
ANO LETIVO: 2019
1 2 SF.MESTRE
PROFESSOR: JAMES GALLINATI HEINI
I I.' e 16.1 AULA — 02 e 09 DE MARÇO DE 2019

UNIDADE II— TIMOS DE CRÉDITO


1 DA TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
1.1 Considerações introdutórias
1.2 Crédito
1.2.1 Considerações gerais
1.2.2 Elementos do crédito
1.2.3 A função do crédito
1.2.4 Conceito econômico e Jurídico
1.2.5 O Sistema Financeiro Nacional
1.2.6 Os títulos de crédito são documentos •
1.3 Os títulos de crédito são documentos
1.4 Os títulos de crédito a luz do direito das obrigações
1.5 Natureza Jurídica dos títulos de crédito
1.6 Principais títulos de crédito
1.6.1 Legislação aplicável aos títulos de crédito
1.6.1.1 A lei Uniforme de Genebra -
1.7 Atributos dos títulos de crédito
1.7.1 Cartularidade ou incorporação
1.7.2 literalidade
1.7.3 Autonomia
1.7.3.1 Um segundo sentido para a
autonomia
1.7.3.2 Terceiro de boa fé
1.7.4 Abstração
1.7.5 Circulabilidade
1.7.6 Coobrigação
1.7.6.1 Endosso mandato
1.7.6.2 Diferença entre portador e detentor
1.7.7 Executividade
1.7.7.1 Das defesas do executado, na
ação cambial

gQ
1 DA TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
17.1 Considerações introdutórias

Iniciamos o nosso curso de direito empresarial II salientando a


importância dos estudos de direito empresarial e de direito civil, e
em especial, do Código Civil brasileiro, na sua Parte Especial, no
Livro I - Direito das Obrigações:

Com isso, algumas perguntas:


Pergunta 01 - O que é Direito dm Origalffing?

Resposta: O conjunto de normas que tratam das relações


entre pessoas denominadas de credor e devedor.
Pergunta 02 -
O que deves regular as nonos fixadas pelo Direito
das' Obrigações?

Resposta: São normas, que regulam a responsabilidade que o


devedor assume, perante o credor, de ggppLlç determinada prggAçik de
natureza econômica, garantindo compromisso mediante seu patrimônio.
Pergunta 03 -
Orais são os &eventos ~entes dá toda
obriolpfflo?

Resposta: a) sujeito ativo; h) sujeito passivo; c) .vinculo


jurídico; e d) objeto.

Pergunta 04 - Quev é o sujeito ativo dá obrigação?

Resposta: A figura do credor, beneficiário da obrigação


Pergunta 05 - QUes é o
sujei passivo dá obrigação?
Resposta: A figura do devedor, prestador da obrigação
Pergunta 06 - O que é vinculo Jurídico?

Resposta: Normas que determinam a relação entre devedor e


credor.

Pergunta 07 - 0 que é objeto?

Resposta: Consiste na prestação a ser cumprida pelo devedor.


Essa prestação deve ser passível de avaliação econômica.

Ainda relembrando, a classificação das obrigações pode dividi-


las em três tipos básicos, que nos leva a ideia da obrigação do
devedor se expressar no compromisso de
dar, fazer ou deixar de fazer
alguma coisa, economicamente de valor, em benefício do credor.
Vamos realizar agora um estudo de caso:
PACTUADA DE UM OBRIGA CÃO

A empresa comercial de nome ANTÔNIO FAGUNDES


produção de farinha de mandioca comprou da que se dedica a
TECNOAGRO INDÚSTRIA DE
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS PARA AGROINDÚSTRIAS LTDA.
importantes
máquinas industriais para ampliar sua planta empresarial, e consequentemente
expandir seus negócios, e fez o pagamento à vista de R$ 500.000,00 (quinhentos
mil reais) através de um cheque do Banco Bradesco S.A., agência Dourados-MS.
O contrato de compra estabelecia, expressamente, que o vendedor do
maquinado assumia, perante o comprador, a obrigação de entregar todas as
máquinas, objeto do contrato, e de instalar as respectivas máquinas nas
dependências da fábrica do comprador e em perfeito estado de funcionamento, até
o dia 25 de agosto de 2.017.

Vencido o prazo estabelecido, o vendedor recusou-se a entregar as


máquinas compradas, desonrando a obrigação assumida, sem justo motivo.
Você, aluno •
de direito empresarial, deve agora visualizar os aspectos
relevantes da questão para o Direito das Obrigações.
Pergunta 01 -
Quem é o credor da obrigação assumida?
Resposta: Antônio Fagundes

Pergunta 02-
Qual o tipo de empresário que é o credor?
Resposta: Empresário Individual

Pergunta 03 -
Qual o tipo de empresário é o devedor?
Resposta: Sociedade limitada
Pergunta 04 - o
que aconteceu juridicamente quando o
devedor negou-se a cumprir a obrigação?
Resposta:
Inadimplemento da obrigação, isto é, a não
realização do ato jurídico que o devedor se
comprometeu a desempenhar em benefício do credor
Pergunta 05-
O que cabe exigir o credor da pessoa do
devedor da obrigação?
Resposta: Responsabilidade
civil subjetiva contratual
(quando há a violação do dever jurídico nas cláusulas
constantes do negócio jurídico celebrado entre as
partes)

Temos ainda que lembrar, as obrigações podem ser classificadas


por diversos outros critérios. E, agora observamos o critério da
vontade das partes.
a) unilateral
Segundo a vontade das partes a obrigação pode ser:

h) bilateral
Pergunta 6:
O que é uma obrigação unilateral?
Resposta:
A obrigação decorrente da declaração
unilateral de vontade (guando uma pessoa através
palavras, fatos, ou palavras e fatos vincula-se de
juridicamente por ato unilateral).
Pergunta 2:
O que é uma obrigação bilateral?
Resposta:
A obrigação decorrente de uma declaração
bilateral de vontade (ficando estabelecida a partir de uma
relação jurídica entre duas ou mais pessoas).

Agora, qual a relevância para os nossos estudos de Direito


Empresarial.

Na verdade, o que vamos estudar são as obrigações comerciais em


duas etapas:

I - OBRIGAÇÃO MERCANTIL UNILATERAL:

II - OBRIGAÇÃO MERCANTIL BILATERAL:


CONTRATOS MERCANTIS
1.2 CRÉDITO

1.2,1 Considerações gerais

Começaremos o nosso estudo sobre o tema assimilando algumas


ideias e conceitos sobre crédito.

Conforme disse, Werner Sombart, devemos entender por crédito o


poder de compra conferido a quem não tem o dinheiro necessário para
realizá-la.

E ainda, foi Stuart Mil], que afirmou,


que a "i2 crédito não é mis do
pezzissão para usar do capital alheia"

Cabe salientar que, o crédito desempenha relativamente aos


capitais o mesmo papel que a troca relativamente às riquezas. Já vimos
que a troca, transferindo-as de um produtor ao outro, não as cria, mas
serve para utilizá-las melhor e para melhor utilizar o trabalho dos
produtores e as riquezas naturais.

Ou seja, o crédito não cria capitais, na verdade sua função é de


fomentar a criação de riquezas, injetando recursos antecipadamente nas
atividades econômicas.
1.2.2 Elementos do crédito

Do ponto de visto econômico, temos que considerar dois


componentes essenciais para a ideia de crédito, que são: o risco e o
tempo.

A noção de crédito pressupõe


do creditado e o prazo confiança (risco) na solvabilidade
mercadoria recebida. (tempo). para que este devolva a quantia ou a

Quem nos fala resumidamente a respeito é João Eunápio Borges:


a) a confiança:
quem aceita, em troca de sua mercadoria ou de seu dinheiro,
a promessa de pagamento futuro, confia no devedor. Confiança que pode
não repousar exclusivamente no devedor, mas em garantias pessoais
(aval, fiança) ou reais (penhor, hipoteca, etc.) que ele ofereça em
segurança da oportuna realização da prestação futura a que se obrigou;
mas, de qualquer forma, é sempre a confiança elemento essencial do
crédito.
b) o tempo, constituindo o
prazo o intervalo, o período que medeia entre a
prestação presente e atual e a prestação futura.
1.2.3 A função do crédito

Do mesmo modo que a troca não cria as mercadorias


o crédito não
cria capitais. Mas são relevantes os serviços que presta à economia,
permitindo a melhor utilização e disseminação dos capitais existentes.

Como ensinam todos os manuais de Economia, constitui função e


efeito do crédito salvar da esterilidade, fecundar milhões e milhões
de capital que serão utilmente empregados na criação de riquezas e que
permaneceriam improdutivos nas mãos de quem não quer ou não pode
Utilizá-los diretamente.

Incluindo-se entre os que não querem ou não podem empregar


diretamente os seus capitais as pessoas impedidas por motivos de
idade, sexo, profissão religião etc. - as que por serem muito ricas
se desinteressam de qualquer iniciativa pessoal no campo da produção,
e as demais, em maior número, cujas pequenas economias são de todo
insuficientes para qualquer emprego produtivo pessoal e direto.
17.2.4 Conceito econômico e jurídico

Crédito significa no sentido econômico, uma troca de valores no


tempo. Recebe-se um determinado bem (mercadoria ou dinheiro) hoje, e
paga-se algum tempo depois. Tanto é assim, que as expressões "venda a
crédito" e "venda a prazo" são sinônimas.

No sentido moral, crédito significa fé, crença, confiança.

g`if
Por outras palavras, para que uma pessoa disponha de um crédito,
para que ela se torne uma devedora, é preciso que ela mereça a
confiança de quem será seu credor.

No sentido jurídico, crédito consiste no direito à prestação do


devedor. EM outras palavras, ter crédito significa que uma pessoa tem
para receber de outra uma quantia em dinheiro ou em mercadorias.

No entanto, a operação de crédito é aquela pela qual se fornece


uma prestação, na esperança de uma contraprestação futura.

As operações de crédito são oriundas de um contrato, que na


atualidade, passaram a ser efetuadas em massa, concentrando-se,
basicamente, nos bancos e instituições financeiras que mantém o
monopólio de fato e de direito da captação, guarda e aplicação do
dinheiro do público.

As operações de crédito são extremamente variáveis,


apresentando inúmeras modalidades. Na prática, há dois tipos
principais:

=préstimos de dinheiro (mútuo)


MODALIDADES DE
FINANCIAMENTO
financiarnenu)devendas
Com isso, reafirmamos que a principal operação de crédito da
atualidade é o financiamento, que se desdobra em empréstimos e para
aquisição de bens a prazo. Portanto, dos contratos de mútuo (temos as
operações de empréstimo, uma pessoa empresta dinheiro a uma outras,
que se compromete a pagar em um certo dia) e de compra e venda a prazo
,(temos as operações de financiamento de vendas), alguém fornece um bem
qualquer a outrem, que não irá efetuar o pagamento à vista, mas sim
vários dias após (por exemplo, 60 dias), decorrem a grande massa dos
créditos.

Surgindo então os titulas de crédito


como desdobramento desses
contratos, assegurando o meio de fazer circular os créditos, com
rapidez e certeza.

17.2.5 O Sistema Financeiro Nacional

Importante que todos saibam, a estrutura do sistema financeiro


nacional é estabelecida pela Lei n 2
4.595, de 31 de dezembro de
1.964, que criou o Conselho Monetário nacional, órgão colegiado a quem
compete ditar toda política de crédito no país, basta procurar a lei
na legislação complementar. E mais, existem: obras como
Bancário, Direito
do professor Nelson Abrão, que de maneira geral e
superficialmente esclarecem a matéria.
17.2.6 Os títulos de crédito são documentos

Para começar, vamos fazer a seguinte pergunta:


O que são os títulos de crédito?
Resposta: documentos
Que tipo de documentos?
Resposta: são
documentos especiais para o direito;
Possuem características impares;
Criados por legislação especifica para cada
um deles;
Cada titulo de crédito tem uma regulamentação
própria.

Para ilustrar os nossos estudos, temos:

A nota promissória impressa abaixo é um exemplo de uma espécie


de documento a que se dá no nome de TITULO DE CRÉDITO.

Vencimento em de
de 201
R$
No dia
de
de 20
pagar
por esta única via de NOTA PROMISSÓRIA ou à sua ordem a
quantia de

em moeda corrente deste país


Local de pagamento

Data da Emissão
, . de de 20
Nome do Emitente

CPF/CNPJ N.°
Endereço

AVALISTA(S) Assinatura do Emitente


Nome

CPF/CNPJ N.° Assinatura


Fone:
Nome

N.° Assinatura
Fone.
Na obra Aspectos da Teoria Geral dos Títulos de Crédito,
o professor Newton de Lucca, nos mostra que:
"ag títulos dá crédito
entrau na categoria dos chanadbs docureatog com função
dispositiva',
isto é, documentos que serveu coso instruffiento indispensável para fazer
valer ou para transferir ág direitos derivados dá
relação (... )" .
Em outras palavras, os documentos do direito civil (em
especial os instrumentos de contrato) , tem o aspecto probatório, e
simplesmente exercem a função processual de atestar existência de
relação 'jurídica, existência esta autônoma em relação ao documento,
porém os títulos de crédito adquirem uma função bem mais vasta, no que
tange, o direito nele mencionado.

Para nos fazer entender mais claramente, só através de


João Eunápio Borges, que em Títulos dá Crédito,
o documento comum e o
título de crédito tem diferenças que podem ser visualizadas a partir
do direito nele mencionado, senão vejamos:
1. 0 diferença

No documento comum, o direito constante deste, existe sem o documento que,


embora útil e às vezes necessário como prova, não é imprescindível para a existência
do direito.

No título de crédito, o documento será imprescindível, pois o direito não existe sem
o documento no qual se materializou.

2.° diferença

No documento comum, o direito constante deste, pode transmitir-se sem o


documento, que pode acompanhar ou não a cessão do direito nele mencionado.

No título de crédito, o documento será imprescindível pois o direito não se


transmite sem a transferência do documento no qual se materializou.
3. 0 diferença
No documento comum, o
direito constante deste, pode ser exigido sem a exibição do
documento, valendo a
quitação dada pelo credor como prova "erga omnes" da
extinção do direito.

No título de crédito, o
documento será imprescindível pois o direito não pode ser
exigido sem a exibição
e entrega do título ao devedor que satisfez a obrigação nele
prometida.
4. 0 diferença

No documento comum, a respectiva cessão transmite um direito derivado, de acordo


com a regra clássica:
"trema peuô jto ad afiam ttanõreva pateõt quam ftafiet"
O direito do cessionário é o mesmo do cedente, podendo o devedor alegar contra
aquele as mesmas exceções que poderia opor a este.
No título de crédito, o documento será imprescindível, pok o adquirente do título
não é sucessor do cedente, na relação jurídica que o liga ao devedor, mas investe-se
do direito constante do título, como credor originário e autônomo. São-lhe
inoponíveis as defesas pessoais do devedor contra os seus antecessores na
propriedade do título.

Exatamente, por estas razões que os títulos de crédito,


são documentos especialmente criados para com eficiência satisfazer os
dois requisitos seguintes: a) que a aquisição do documento determine a
aquisição do direito nele consignado: b) que a sua posse seja
necessária e, às vezes suficiente para o exercício do direito nele
resultante.

Diante disso, de autoria de TOLLIO ASCARELLI a seguinte


afirmação, que não é de modo algum exagerada:
"Devido ás suas características peculiares, os títulos
de crédito são a maior contribuição do direito comercial, na
formação da economia moderna."
1.3 As vantagens que os títulos de crédito oferecem
Não era à toa que Túlio Ascarelli considerava os títulos
de crédito a maior contribuição do direito comercial para a economia.
Eles apresentam enormes virtudes, que veremos .a seguir:
Primeira virtude:
rapidez na documentação do crédito

Imaginemos que uma pessoa empreste dinheiro a outrem,


por meio de um contrato de mútuo, que é um contrato disciplinado pelo
Código Civil de 2002 pelos artigos 586 a 592.
Como em todo contrato, são necessários: testemunhas,
registro no Cartório de Títulos e Documentos etc.
Quer dizer: tudo muito complicado.
Agora, se esse empréstimo for efetuado dentro das normas
do Direito Comercial (e, especificamente, por meio de um título de
crédito), basta que o devedor preencha uma nota promissória.
Não há necessidade de testemunhas, nem de registro em
cartório. Basta colocar a data do vencimento, o valor, o nome da
pessoa a quem se deve pagar e a data. Assina-se, e pronto, o crédito
está formalizado.
Quer dizer: tudo muito simples.
Segunda virtude: rapidez na cessão do crédito

Devido às necessidade de agilização de capital, na


economia moderna, o crédito deve ter condições de ser repassado com
facilidade e rapidez.

Explicando melhor: uma empresa financiou


um cliente, com a entrega de mercadorias
para pagamento em 60 dias.

Na verdade, com este financiamento, essa


empresa se tornou credora CONTRA A VONTADE
DELA. Ela gostaria de vender e receber
imediatamente o valor respectivo - à vista,
ou, como dizem os anglo-saxões, "cash" .

Não sendo isso possível, é preciso que


este empresário tenha uma alternativa:
mecanismos que lhe permitam ceder,
transferir esse crédito a outrem (por
exemplo um banco, ou até mesmo um agiota) e,
deste modo, obter dinheiro para fazer novas
compras.

Lb fato, a egpresa não foi constituída


;um financiar vendas. Esta é usa atividade
Que deve ser ~crida pelos bancos.

Agora, abram o Código Civil 2002, nos artigos 286 a 298.


Vejam as restrições lá colocadas. Observem a absurda série de
requisitos e formalidades exigidas no art. 287 do Código Civil.
Ademais, o devedor deve ser obrigatoriamente notificado,
por cartório, de que o credor cedeu o seu crédito a outrem!
Há mais: a cessão de crédito não vale em relação a
terceiros se não for celebrada por instrumento público (escritura
passada em cartório) ou particular, revestido das solenidades do
artigo 221, do Código Civil.

É tudo inacreditavelmente complexo.

Decorre dai que as normas do direito comum, relativas à


cessão de crédito, não proporcionam rapidez na sua circulação.

Aliás, muito ao contrário. Uma operação de crédito


efetuada conforme o direito civil, com as complicações acima expostas,
faz com que o dinheiro fique parado durante os 60 ou 90 dias do prazo
do empréstimo.
Por outras palavras, o valor não circula. Ora, conforme
já vimos, a circulação do crédito é um gigantesco fato de propulsão
de
riquezas, sendo mesmo uma necessidade da economia.

Agora, prestem atenção: se, em lugar de


se perfazer por meio de um contrato, aquela
operação for efetuada através de um título de
crédito, as coisas se tornam infinitamente mais
simples.

Basta que o empresário aponha sua assinatura


no verso, para que ele possa transferir seu crédito
para outrem, recebendo em troca, prontamente, o
valor em dinheiro (eventualmente descontados os
juros da operação).

Esta assinatura, no verso do título de crédito, chama-se endosso


(etimologia: "in dorso", nas costas).

Endosso é, pois, a assinatura do credor no verso de um título de


crédito, pela qual se transmite a propriedade desse título de crédito a outra pessoa.

Concluímos que existe algo de mágico, nos títulos de crédito,


possibilitando a cessão de um crédito com enorme facilidade, por meio de um
simples endosso.

Terminologia dos endossos:


A pessoa que endossa chama-se
endossante;
A pessoa para a qual o titulo foi endossado (que recebeu
o titulo por endosso) chama-se endossatário;

Por outro lado, o endosso denomina-se em preto,


quando é
declinado o nome do endossatário.

Já a simples assinatura do endossante, no verso do


titulo, sem dizer a que o titulo deve ser pago, denomina-se endosso
branco. em

Um titulo pode passar de mão em mão (pela tradição)


sem qualquer endosso. Edste a. preavaçâó
tantaw" dá que o portador é o legítimo proprietário.
(Os franceses dizem: peWed,M542 /uru/ Wree, que quer
dizer: a posse vale O titulo).

Então, para que endossar, perdendo o anonimato e ficando


exposto à sanha do imposto sobre a renda?

- Endossa-se, em branco ou em preto, se o titulo é


nominativo;
- Endossa-se em preto por segurança (caso de perda do
título):

- Ou para negociar o título com um banco.


-Ou, então, quer-se dar um título em pagamento e a
pessoa exige o endosso como garantia, como veremos adiante.
Terceira virtude dos títulos de crédito: rapidez na cobrança

Imaginemos que uma pessoa emprestou dinheiro e o devedor


não o pagou. Se esse empréstimo NÃO foi efetuado por meio de um título
de crédito, sua cobrança judicial será muito demorada.

Será necessário, primeiramente, ajuizar uma ação


.ordinária de cobrança, que principiará pelo processo de
conhecimento.

Nele, o juiz toma conhecimento dos fatos que originaram


o litígio entre as duas partes (conhecerá as pretensões
do autor e as delegações do réu).

Depois de vários anos, o processo terminará com uma


sentença que, se for do tipo condenatório, condenará o
réu, por exemplo, a pagar uma indenização.

Se não pagar, o autor entrará com um pedido de execução,


no qual serão penhorados bens seus, suficientes para
satisfazer o débito.

Agora, vejam: se o empréstimo foi efetuado por meio


de um título de crédito, outra vez as coisas se tornam
infinitamente mais simples, como que num passe de
mágica.

Esse título de crédito, se corretamente preenchido,


dispensa o processo de conhecimento!

Tendo-o em mãos, o credor pode intentar diretamente


um processo de execução. Neste processo, em poucos dias
o devedor poderá estar já com algum bem penhorado.

Qual a razão disso? Acontece que o título de crédito é


um documento confessório, isto é, que encerra uma confissão. O emitente
de uma nota promissória declara: pagarei. Portanto, está confessando
que deve.

Ora, a confissão é charada "e3 rainha dás


provas - . Tanto asais que, se o réu contesswar que
a razão está cos o autor freconhecendO a

:s,
procedência do pedido), o processo será extinto.
Confiram: CPC, artigo 374, II.
1.4 Os títulos de crédito a luz do direito das obrigações
Uma pergunta: a nota promissória, que foi impressa
páginas atrás, é um contrato?
Para responder a essa pergunta, formulemos outra:
quantas pessoas intervêm em um contrato tradicional, do Código Civil?
(como, por exemplo, um contrato de locação)

Resposta: Evidentemente, duas.

Por outro lado, quantas pessoas assinam uma nota


promissória que não foi endossada?
Uma só.

Portanto, os títulos de crédito não têm a natureza de um


contrato.

Vamos recordar um pouco aquilo que foi estudado no


Direito Civil, na parte referente ao Direito das Obrigações:

a)- a lei

h) - os atos ilícitos
FONTES DAS OBRIGAÇÕES!

!bilaterais
- as declarações da vontade
!unilaterais!
As obrigações oriundas da lei surgem quando um fato se
ajusta a uma previsão legal.

Outras vezes, a obrigação surge de um delito: um


atropelamento, por exemplo. Outra obrigação resultante de delito:'
aquele que seduziu, tem a obrigação de casar.

Todavia, na maior parte das vezes, a obrigação surge da


vontade humana.

Como seres livres, podemos assumir obrigações


patrimoniais, através de acordos de vontades: o contrato, que é uma
declaração bilateral da vontade.

Mas, às vezes surge uma obrigação bilateral,


como um testamento. Ou uma recompensa "Perdeu-se
um cachorro. Gratifica-se muito bem a quem o
encontrar" .

13 Natureza jurídica das títulos de crédito


Pergunta: Como ,se passam as obri3Oções enl' relação aos
títulos chs. crédito?

Neles, a obrigação se prende no


devedor-credor, que no Direito Romano e no Direito titulo. A relação
Civil se estabelece
entre pessoas, passa a materializar-se num papel.

Não interessa por que razão, se em virtude de lei, de


ato ilícito ou de contrato. Assinou, tem de pagar. E pagar a quem se
apresentar com o titulo.

Por exemplo: assinei uma nota promissória prometendo


pagar certa importância a Fulano, que tem vinculo obrigacional, ou
seja, um crédito para comigo.

Trata-se de uma obrigação unilateral, e é por isso que.


num primeiro momento, é possível que nem apareça o nome do credor, na
nota promissória, nome esse que surgirá oportunamente.

Observem que, mesmo que o titulo seja nominativo na sua


criação, sempre existe a possibilidade de posteriores endossos, o que
faz com que a declaração de vontade seja dirigida a um destinatário
incerto.

O emitente não sabe a quem o titulo foi endossado.


Assim, que se obriga por meio de um
titulo de crédito, não se obriga
perante determinada pessoa mas sim,
perante qualquer pessoa que seja
portadora do titulo.

Concluindo: a obrigação contida nos títulos de


crédito é uma declaração unilateral de vontade.
1.6 Principais títulos de crédito
São eles:

Letra de Câmbio:
Nota Promissória:
Cheque:
Duplicata.

:SOTA 1: Na medida em que o primeiro titulo de crédito


conhecido foi a letra de câmbio, passou-se a empregar,
para ela e para a promissória, a expressão "cambial" .
Assim, diz-se: Fulano pagou uma cambial no banco.

,1Q,3
Pode ser tanto uma letra de câmbio, como uma nota
promissória.

Mas atentem: o cheque e a duplicata não são cambiais -


são títulos cambiariformes, isto é, assimilados às
cambiais.

Por outras palavras: as cambiais genuínas, ou básicas,


são a letra de câmbio e a nota promissória. 0 cheque e a
duplicata são apenas assemelhados a elas, ou
cambiariformes, segundo PONTES DE MIRANDA.

As regras da letra de câmbio e da nota promissória


aplicam-se aos títulos cambiariformes, em tudo o que
lhes for adequado, inclusive na ação de execução.

Dentro dessa terminologia, o direito dos títulos de


crédito costuma ser denominado de direito cambial.

NOTA 2: Usa-se ainda, como sinônimo dos títulos de


crédito, a expressão cártula, que vem do baixo latim
"chartula" e quer dizer "papel pequeno" , cartela.
Assim, fala-se em direito cartular, do mesmo modo que se
diz: Beltrano mandou a cártula para protesto.
1.6.1 Legislaçãoaplicávelaostítulosdecrédito

Ao tratar de legislação aplicável, é mister explicar,


primeiramente, que o título de crédito mais importante é a letra de
câmbio.

Como é a mais importante - perguntarão vocês - se jamais


vimos uma?

De fato, a letra de câmbio está em desuso, no Brasil.


Aqui, raríssimas vezes encontramos essa cambial, nas operações
comerciais e mesmo nas civis. Lidamos, sim, com notas promissórias,
cheques e duplicatas.

Saibam que este .é as fenômeno exclusivamente


brasileiro, e relativamente recente. Er outros
países a letra de césbio é zwitissimo utilizada,
como acontecia, zesmo entre nós, antes do
surgimento da duplicata sercantil.

Este titulo, de natureza cambiariforse.


substituiu a letra de Cásbio, no Brasil.

__V2-eft
Contudo, a importância da letra de câmbio é tão grande,
que as leis aplicáveis aos títulos de crédito são a elas destinadas.

Nos seus artigos finais, essas leis dispõem que suas


normas se aplicam à nota promissória, com as modificações necessárias.

(O cheque e a duplicata são regidos por leis especiais.)

De início, as normas aplicáveis aos títulos de crédito,


entre nós, estavam contidas no bojo do vetusto Código Comercial, sob o
titulo XVI -
~letras, notwinualsserlas e créditos mercantis.
Estes artigos filiavam-se à influência francesa, mas
afastavam-se da boa técnica cambial, que era a do direito alemão.

Em 31 de dezembro de 1.908 foi sancionado o Decreto n 2


2.044, que, revogando todos os artigos do Título XVI do Código
Comercial, disciplinou a letra de câmbio e a nota promissória.

Foi autor do projeto o insigne desembargador JOSÉ


ANTÔNIO SARAIVA, que na época era professor da atual
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais.

Profundo conhecedor de todas as doutrinas e legislações


cambiárias, SARAIVA era partidário do sistema germânico.
Os doutrinadores pátrios são unânimes em afirmar que o
Decreto n 2
2.044 de 1.908, também chamado de Lei Cambial ou, ainda,
de Lei Saraiva,
pode confrontar-se vantajosamente com as mais
perfeitas e modernas legislações cambiais.
1.6.1.1A LeiUniformedeGenebra-L.U.G.

Mas, o Direito Empresarial é cosmopolita. Atravessa as


fronteiras dos 'países.

Levando-se em 'conta
o volume das exportações e
importações de cada país, seria
maravilhoso que houvesse uma
legislação mercantil uniforme, comum
a todos os povos civilizados.
Claro que isto seria apenas uma utopia •

No entanto, em matéria cambial, isto não apenas foi


possível, como foi mesmo conseguido, pela promulgação de uma lei
internacional, da qual, infelizmente, ficaram afastadas algumas
nações.

Em setembro de 1.908, o governo holandês dirigiu-se


a 46 Estados, enviando-lhes um questionário sobre uma

u)5
conferência internacional, destinada à unificação do
direito cambiário.

Com o comparecimento de 32 dos Estados convocados,


instalou-se, um junho de 1.910, a primeira sessão, na
cidade de Haia, dela resultando um anteprojeto de lei
uniforme sobre letra de câmbio e nota promissória.

O anteprojeto transformou-se em projeto, em uma


segunda conferência, também em Haia, em 1912. Todavia,
os trabalhos dessa convenção foram paralisados pela
deflagração da Primeira Guerra Mundial, em 1.914.

Terminada a guerra, a Liga das Nações reexaminou o


problema da unificação das leis cambiais.

Convocou-se uma conferência em Genebra, na Suíça,


que foi instalada em 1.930, com o comparecimento de 31
Estados, entre os quais o Brasil.

No mesmo ano, foram aprovadas três convenções, sendo a


primeira delas e a mais importante a convenção relativa à Lei Uniforme
sobre letras de câmbio e nota promissórias, a que se costuma denominar
Lei Uniforme de Genebra, ou, abreviadamente, LUG.

O nosso Poder Executivo, pelo Decreto n 2 57.663, de


24 de janeiro de 1.966, determinou que as convenções de
Genebra fossem executadas e cumpridas inteiramente, com
algumas ressalvas, denominadas reservas.
Pergunta: com a promulgação do Dec N° 5Z663/1966, adotando
entre nós, a Convenção de Genebra sobre letras de câmbio e notas promissórias,
ficou revogado o Decreto n° 2.044/1908?

A doutrina e a jurisprudência brasileira atravessaram


uma fase de sérias dúvidas a esse respeito. Eminentes juristas e
tribunais se manifestaram em ambos os sentidos.

Alguns admitiam a tese de que a Lei Uniforme passara a


constituir direito interno brasileiro, revogando o Decreto n 2
2.044/1908.

Outros consideravam que fora aceita apenas uma Convenção


sobre a adoção de uma Lei sobre Letras de Câmbio e Notas Promissórias.

Deveria, contudo, essa nova lei (da qual se removeriam


as reservas formuladas pelo Governo Brasileiro) ser discutida e
aprovada pelo Congresso, o que nunca foi feito.
Os tribunais tasbár divergias a reepeito. O 2ribzu2a.1
de Justiça do filo Grande do Sul, ao várias decisões,
aceitava a Lei bkiircrae ~2 integrada ao nosso direito.
Por outro lado, o fritunal de Alçada de São Paulo seguia
orientação oposta, adaltindo a permanência do Decretou à'?
2.044~

A controvérsia era aflitiva, pois provocava um impasse


nas relações crediticias, em todo o pais.

Finalmente, a dúvida foi resolvida pelo Supremo Tribunal


Federal, por acórdão de 4 de agosto de 1.971, no Recurso
Extraordinário n 2
71.154, do Paraná, que decidiu unanimemente pela
adoção, no Brasil. da Lei Uniforme de Genebra.

Vocês irão verificar, todavia, que a Lei


Saraiva, em virtude da sua extraordinária
perfeição técnica, acompanha, nos pontos
principais, a LUG.

Mas, prestem muita atenção: em caso de normas


conflitantes, prevalece a Lei Uniforme, por ser
lei posterior e por constituir um tratado
internacional.

Porém, há alguns artigos da LUG aos quais o


Brasil apresentou aquilo a que se chama de uma
reserva. E, ainda a LUG deixou lacunas, e já que
não foi revogado, expressamente o Decreto N.°
2.044/1908, continuam em vigor vários
dispositivos para preencher as lacunas deixadas
pelas reservas e até para as omissões da própria
LUG , da Lei Cambial.

Diante disso, ao longo do curso iremos mencionar


estes fatos ou situações, porém aproveitando o posicionamento
do professor Fábio Ulhoa Coelho, em seu Manual de Direito
Comercial, iremos dizer que:

"(..) devem-se fazer, preliminarmente, as seguintes


observações referentes à legislação aplicável, no Brasg quanto à letra de
câmbio e nota promissória:
a) Em princípio, vigora a Lei Uniforme que consta como
Anexo I da Convenção de Genebra sobre Letra de Câmbio e Nota
Promissória, de junho de 1.930.
b) Em virtude das reservas assinaladas pelo Brasil, não vigoram
no direito nacional os seguintes dispositivos da referida Lei Uniforme: art 10
(reserva do art 3.° do Anexo II); terceira alínea do art 41 (reserva do art 7° do

Sço
Anexo 11); números 2 e 3 do art 43 (reserva do art 10 do Anexo 11); quinta e sexta
alíneas do art 44 (reserva do art 10 do Anexo II).
c)
Em virtude da reserva constante do art 5.° do Anexo II
assinalada pelo Brasil, o art. 38 da Lei Uniforme deve ser complementado
nos termos da reserva, ou seja: as letras de câmbio pagáveis no Brasil
devem ser apresentadas ao aceitante no próprio dia do vencimento.
d) A taxa de juros por mora no pagamento de letra de
câmbio ou nota promissória não é constante do arts. 48 e 49, mas a do
Decreto n.° 22626, de 1.933(0 que as partes contratarem até 12% ao ano,
ou, em caso de omissão, 6% ao ano), por força de reserva do art 13 do
Anexo II assinalada pelo Brasil
e) Permanecem vigorantes, por omissão Oligillááa ou
derivada da Lei Uniforme, os seguintes dispositivos do Decreto 11.
2044/08: art 3.", relativo aos títulos sacados incompletos; art 10, sobre a0
pluralidade de sacados; art 14, quanto à possibilidade de aval antecipado;
art. 19,14 em decorrência da reserva do art 10 do Anexo 14 salvo quanto às
consequências da inobservância do prazo nele consignado; art 29,
pertinente as requisitos do instrumento de protesto; art. 33, acerca da
responsabilidade civil do oficial do cartório de protesto; art 36, pertinente
à ação de anulação de títulos; art 48, quanto aos títulos prescritos; art 54,4
referente ã expressão 'nota promissória; em virtude da reserva do art. 19
do Anexo 11."

1.7 Atributos dos títulos de crédito

crédito são: Os atributos, ou características dos títulos de

1.Cartularidade
2.Literalidade
3.Autonomia
4.Abstração
5.Circulabilidade
6.Coobrigação
7.Executividade (força processual).

hbta: os limas dá doutrina amuram senos


atributos dos títulos dá
crédito, prejuízo da didática.
1.7.1 Cartularidade ou incorporação

Cartularidade é o atributo pelo


qual o crédito se materializa,
incorpora-se ao documento.

Explicando: a partir do preenchimento do título, o


direito de crédito está no papel. A relação obrigacional se exerce no
documento. incorporando-se a ele (daí usar-se o expressão incorporação
como sinônimo da cartularidade).

O seguinte exemplo esclarecerá melhor a cartularidade:

As 16 horas de uma sexta-feira, o diretor de uma empresa


chama o office-boy
e diz-lhe: - "Vá ao banco e retire dinheiro para o
meu fim de semana" .

O caixa pergunta: - "Cadê o cheque? Sem


posso dar o dinheiro!" o cheque, não

Sem o documento não se exerce o direito de crédito.


A cartularidade tem dois sentidos distintos:

1] Em um primeiro sentido, a cartularidade significa o


ônus *que tem o portador do título de apresentá-lo, para poder exigir o
pagamento.

Por outras palavras: sem a exibição da cártula, o portador não pode


exigir o crédito.

Ou, ainda: por este primeiro sentido, diz-se que a


exibição da cártula é necessária. Confirmem, a esse respeito, pelo
teor do artigo 1.508 do revogado Código Civil de 1916:

"O subscritor, ou emissor não


será obrigado a pagar senão à
vista do titulo, salve se este
for declarado nulo."

(Respondam, agora: um título


pode ser cobrado
zuedílutea apresentaçãodetbtoc4N2aLIerdicada?)
2] Em outro sentido, a cartularidade significa aptidão
de portar consigo o próprio direito.
O direito de crédito estando
incorporado no título, basta a apresentação deste, nada mais.

Por outras palavras: o título de crédito dispensa


qualquer outro documento. Ele vale pelo crédito que representa.

Diz-se, então, que a exibição do título de crédito é


suficiente para se exigir o crédito que nele está mencionado.

Nota importantíssima: Atentem para o fato de que


esta explicação que foi dada (de que o direito de
crédito se incorpora ao titulo) não é bem exata, tendo
sido dada por motivos didáticos, para compreensão
inicial desse atributo.
Na realidade, não existe esta incorporação. Ela
existe, por exemplo, no dinheiro. Quem perder dinheiro
num incêndio, perde o crédito que ele menciona, perante
o Tesouro Nacional.

Todavia, quem perder um titulo de crédito ainda tem


a possibilidade de haver o seu crédito, por meio de uma
ação própria. Confiram: Código Civil, de 2002,no artigo
280 e a Lei Cambial, artigo 36.
1.7.2 Literalida de

Literalidade é o atributo segundo o


qual o credor só pode exigir e o devedor só
se obriga naquilo
que está expresso
literalmente no titulo
Explicando: qual
manifestado. O que se lança no é o direito? O que está ali
da vontade. Portanto, somente documento são manifestações expressas
escrito. se pode pretender aquilo que está

Não adianta criar adendos condicionais ou ressalvas:


pagarei se...

A literalidade é a medida do direito contido no título.


Diz-se que
"o que não está no título não está no mundo jurídico" .
Assim,
no caso de uma divergência entre o teor da cártula e o teor de'
algum outro documento, vale o teor da cártula.
**************************

Tanto a cartularidade, como a literalidade, estão


ligadas ao problema da segurança.

O endosso a terceiros (a um banco, por exemplo), não


pode ficar à mercê de ressalvas, de cartas trocadas entre o emitente e
O favorecido (apenas para dar um exemplo).

Ademais, em virtude do atributo da literalidade, o


título de crédito goza de uma
presunção de liquidez e de certeza
(pesquisar o que é isso, consultando o CPC de 2015, artigo 783).

Então, a cartularidade e a literalidade dos títulos de


crédito são atributos indispensáveis para que o terceiro
de boa-fé, que recebe um título por endosso, saiba
exatamente aquilo que está adquirindo.
Assim, um banco que desconta uma nota promissória deve
ter condições de saber, exatamente, o risco que está
assumindo.

(Descontar um título significa ceder, por


endosso, um titulo a outrem, de sorte que o
proprietário receberá, por antecipação o valor do
mesmo, com o desconto dos juros estipulados.)

Vejam: o terceiro de boa-fé, que recebe ou que adquire


um título de crédito por meio de endosso, não quer encontrar
problemas, por ocasião do pagamento.

Se houver problemas, estes títulos não serão bem aceitos


e prejudicada estará a possibilidade de sua circulação, que é a sua
principal característica.

Permitam repetir, mesmo com risco de cansar o leitor:

Uma das principais funções dos títulos de crédito é a


possibilidade de sua circulação, ou seja, de serem -eles
cedidos por endosso a um banco, ou a quem quer que seja.
Por isso, toda a belíssima arquitetura jurídica dos
títulos de crédito foi concebida para proteger
terceiro de boa-fé, ou seja, o endossatário (aquele que
recebe ou adquire um título por endosso).

Ele deve ter o direito quase sagrado de receber o valor


do título, sem qualquer problema, de acordo com o seu
teor.

Porque, se assim não fosse, ninguém quereria receber em


pagamento, ou adquirir, um título de crédito!

Exemplo de um problema que poderia ser causado, se não


existisse o principio da CARTULARIDADE:
Uma empresa desconta no banco uma nota promissória,
emitida por um cliente. Em virtude do endosso, o banco passa a ser o
novo proprietário daquela cambial.

No dia do vencimento, a empresa, agindo de má-fé, vai


receber diretamente a nota promissória, que já não mais lhe pertence.
Só que a cártula está em poder do banco.

A empresa, então, tenta cobrar por meio de um recibo.


Mas, este documento não tem o menor valor! Sem o título, no original,
não se exerce o direito de crédito respectivo.
Exemplo de probleMa que poderia surgir, caso os títulos
de crédito não gozassem do atributo da LITERALIDADE:

A empresa Merposa desconta, no Banco, uma duplicata. Ela


havia pactuado com o cliente um prazo longo, para 90 dias da data
(sabemos que sua mercadoria não é muito fácil de vender).

Ocorre que o banco não desconta duplicatas de prazo tão


longo. Ela, então, matreiramente, saca a duplicata para 60 dias, e
manda uma correspondência ao cliente, dizendo que não se preocupe,
pois será respeitado o prazo de 90 dias.

No vencimento designado no titulo - 60 dias - o banco


quer receber. O cliente, indignado, exibe a carta da Merposa.

Esta carta também não tem o menor valor jurídico! O teor


da duplicata diz que o vencimento é de 60 dias, e, pelo principio da
literalidade, carta nenhuma terá o condão de modificá-lo.
1.7.3 Autonomia

Mas, há outros problemas que poderiam surgir, para


perturbar a vida do terceiro de boa-fé, problemas esses que devem ser
evitados a todo custo, a fim de que os títulos de crédito não se
tornem indesejáveis.

A maneira mais fácil de se entender esse atributo é por


meio de exemplos:
Exemplo 1:

José Antônio achou que estava na hora de comprar o seu


primeiro carró. Tinha algum dinheiro no banco e iria receber outro
tanto no 13 2 salário, dali a 30 dias.

Pelos seus cálculos, não passaria o


Pedestre. reveillon como

Mas, aconteceu que, nas suas andanças para pesquisar o


preço dos carros, encontrou um Volkswagen Gol, modelo 2012, lindo de
morrer, de fazer inveja.

Entrou na loja e perguntou o preço: era exatamente


aquilo de que ele dispunha, somando o valor do 13
saldo bancário. 2 salário ao seu

- Perguntar não ofende, pensou. Propôs, então, pagar em


duas vezes: metade no ato e a outra parcela em 30 dias.

- Tudo bem, disse o vendedor - pague a metade e assine


uma nota promissória para trinta dias, no valor faltante.
José Antônio assim procedeu e saiu, todo feliz,
dirigindo o carrinho.

Mas, logo surgiram sérios problemas: o motor queimava


óleo: começou a soltar fumaceira branca. A terceira marcha escapava:
era preciso ficar segurando a alavanca do câmbio. O soalho estalava,
dando mostras de estar podre

Ele voltou, furioso,


que lhe tinham vendido uma "bomba" para a loja de carros, reclamando
lhe devolvessem o dinheiro e a nota e ameaçando ir ao PROCON, se não
promissória que assinara.
Agora, prestes muita
atenção: estasos diante
de usa patologia, isto e,
de um pnablesa, ou, para
usar usa linguages vulgar, de us pepino" .

Acontece que, as função desta patologia, podes


ocorrer situações totalmente diferentes:
Situação A: a nota promissória que ele assinou estava no cofre da loja
de automóveis, aguardando o dia do vencimento para ser cobrada.

Neste caso, está tudo bem. 0 comerciante pegou o carro


de volta, devolvendo o dinheiro e a nota promissória.

O que aconteceu, aqui, es tensos
jurídicos?

Houve us contrato de ~pra e venda, que


foi redibido
(rescindido) amigam/2~ es
função de usproblesa de vícioredibitórío.
*****************************

Situação B:
no dia em que vendeu o carro, o comerciante
estava precisando de dinheiro. Pegou a cambial de José Antônio e
descontou-a no Banco Bradesco.

Neste caso, a situação muda, e de maneira radical. O


banco é um terceiro de boa-fé. Perante ele, José Antônio
nada pode alegar!

Para o endossatário, os problemas havidos entre os


protagonistas do negócio que originou a nota promissória
são absolutamente indiferentes

Ele tem o direito de receber o valor total da cártula,


no seu vencimento, limpinho, sem "pepinos" ou
patologias.
Então, o infeliz do José Antônio terá de pagar a
promissória, no vencimento, e depois agir regressivamente contra o
comerciante.

Como se explica isso, em termos jurídicos? É que


estamos, aqui, diante de dois direitos diferentes:

O primeiro deles consiste em uma RELAÇÃO FUNDAMENTAL


entre o José Antônio e o comerciante de automóveis,
consistindo em um contrato de compra e venda.

A relação fundamental é, pois, de índole contratual.

Mas, criou-se um titulo de crédito. Se não houve


endosso, tudo bem - o direito, de natureza contratual,
não se altera.

Porém, muita atenção: se o titulo circulou, desaparece o


direito contratual de origem civil

Surge, em seu lugar, um direito novo: o direito
cartular, com características próprias (por vezes, até
injustas), inteiramente diferente das normas de natureza
civil!

O terceiro de boa-fé tem, assim, um direito que é


AUTÔNOMO. no sentido de que ele é invulnerável a
quaisquer alegações do devedor, referentes à
fundamental. relação

ASCARELLI tem um outro modo muito interessante de


explicar a autonomia, empregando os mecanismos da
direitos: sucessão de

Vejam: quando uma pessoa adquire algum bem através das


regras do direito comum, ela é sucessora das eventuais convenções
entre o devedor e o credor originários.

Exemplo: em uma cessão de contrato de compra e venda de


imóvel que está hipotecado a agente financeiro, o cessionário sucede
ao cedente, nas obrigações da hipoteca e nos débitos de condomínio e
impostos, se os houver.

Mas, quem adquire de boa-fé um título de crédito,


adquire
apenas o direito que nele está mencionado.
Não é sucessor nas
eventuais convenções ou exceções entre os contraentes originários.
Exemplo 2:
A empresa MERPOSA, em péssima situação financeira, saca
uma duplicata contra o Supermercado das Andorinhas, sem a
correspondente entrega de mercadoria, e desconta a cártula no Banco
Bradesco.

No vencimento, o banco quer receber do supermercado.


Este não quer pagar, visto que não recebeu nenhuma mercadoria. O banco
manda a duplicata para o cartório de protestos.

Tem esse direito, pois é terceiro de boa-fé. O


supermercado deverá pagar e, após, cobrar da Merposa, em ação
regressiva.

Claro está que o supermercado, pelo seu departamento


jurídico, pode ajuizar um pedido de liminar em medida
cautelar inominada de sustação de protesto.

Trinta dias depois, deverá ingressar com a


correspondente ação principal (no caso uma ação
declaratória de inexistência de relação jurídica).

Mas, vejam o absurdo da coisa: os magistrados exigem o


depósito em dinheiro, no valor do título, para conceder a liminar!

~ora tudo isso ftWWW ser considerado injusto, a


autonovia é fundamental iam que um titulo possa
circular.

O endossatário (no caso, o banco), não pode estar à


mercê das questões suscitadas na relação fundamental
entre comprador e vendedor.

Se a Merposa tivesse sacado uma duplicata e a mantido


consigo (diz-se, então, que a duplicata permaneceu em carteira),
teríamos uma relação fundamental, de natureza bilateral:

Merposa (credora) x Supermercado (devedor)


Nessa circunstância, o supermercado teria o direito de
devolver a duplicata, alegando que a mercadoria não foi entregue.

Esta alegação, que, como já vimos, é uma exceção


cartular, seria .neste caso perfeitamente oponível ao credor, a
Merposa.

Contudo, se esta endossou o título para o Banco


Bradesco, para fazer dinheiro,

a relação se triangulariza:

- 115
Merposa (sacadora da duplicata e endossante)

Supermercado (devedor)
Ilanco(endossatário)
Nesta altura, perante o banco, não cabem discussões. O
supermercado poderá até tentar devolver a duplicata a ele, sob a
alegação de não recebimento de mercadoria. Mas o banco não está
obrigado a acatar essa alegação!

Observação: pode até acontecer de o endossante ser usa


empresa idônea e o saque dá duplicata ter sido efetuado
por ~ano.

Recebendo a alegação de que a mereadbrianáb foi entregue


e havendo saldo na conta corrente do endossante, o banco
paskra ~taro valor do título nessa conta.
Aras, à mingua de fundos na canta da empresa
(eventualmente após insistentes e infrutíferas apelos) o
banco poderá agir tanto contra a Arerposa, como contra o
supermercado!
A alegação de um devedor, para deixar de pagar um título
de crédito, chama-sê exceção cartular.

Exceção é uma expressão processual. Segundo DE PLÁCIDO E


SILVA, é toda defesa articulada por uma das partes.

Pois bem: foi visto que a exceção cartular somente é


oponível (do verbo opor), ao credor da relação fundamental, caso o
titulo não tenha sido endossado. Se o foi, será
endossatário de boa-fé. inoponível ao

Agora, imagine-se um de vocês como advogado ou advogada


de um banco. A gerência comunica ao jurídico que determinado título,
descontado, não foi pago por questões de defeito na mercadoria.

Você, então informa que o banco nada tem a ver com isso,
em virtude da
INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES CARTULARES PEIUUTEE
TERCEIROS DE BOA-FÉ.

O gerente arregala os olhos e diz "000h!" E vai


correndo dizer a todo o mundo que o banco tem um(a) grande
advogado(a).

P
' 46
Estamos, agora, em condições de apresentar o conceito de
autonomia:

Autonomia é o atributo -
pelo qual o
adquirente de um titulo de crédito passa a ser
titular de um direito autônomo, que é
independente da relação anterior entre os
contratantes. Et consequência, não poderão ser
qponiveis ao endossatário de boa-tê 'as
exceções que eventualmente possam ser opostas
ao credor originário.

O atributo da autonomia, como os demais, é definido por


lei. Confiram: LUG, art. 17.

1.7.3.1 Um segundo sentidoparaaautonomia

Vimos, no capitulo anterior, que a autonomia significa a


indiferença do terceiro de boa-fé em relação às exceções cartulares
(ou seja às convenções ou às patologias da relação fundamental).

Podemos dizer a mesma coisa por outras palavras,


afirmando que o direito decorrente da relação fundamental não circula.

Mas, a autonomia apresenta um outro sentido. Ela quer


dizer também que:

Cada assinatura aposta em um titulo vale por si. Se uma


delas não vale, não invalida as outras. Cada
manifestação de vontade lançada no titulo é autônoma em
relação às demais.

De maneira que, se a obrigação de um dos signatários,


por exemplo, pode ser anulada por vicio de vontade (erro, dolo ou
coação), ou mesmo incapacidade desse signatário, esse vicio não
contamina as demais assinaturas.

Dai o conceito do segundo sentido da autonomia:


Autonomia é também
a propriedade segundo a
qual cada manifestação de vontade lançada
sobre o título
de crédito vale por si,
independentemente de que valham ou não as
outras manifestações nele contidas.

É exatamente o teor do artigo 43 da Lei Cambial:


"As obrigações casblais sãó autduams e
independentes WAMB dás outras. OsÁgnatínio da declaração
casbial fica, por ela, , vinculado e solidaríasente
responsável pelo aceite e pelo pagasento dá letra, ses

4
embargo dá falsidade, dá falsificação ou dá nulidade de
qualquer outra assinatura. "
Signatários da declaração cambial
são, por exemplo, o
emitente de uma nota promissória, o(s) endossante(s)
etc.
Quanto ao aceite,
mencionado no artigo supra, será
estudado logo a seguir, ao tratarmos da
letra de câmbio.
A LUG - Lei Uniforme de Genebra (Decreto n 2
57.663/1966) tem norma semelhante, no artigo 7.° :

"Se a letra contém assinaturas de


~Soas
incapazes de se obrigarem por letras, assinaturas
falsas, assinaturas de pessoas fictícias, ou
assinaturas de pessoas que por. qualquer outra
razão não poderiam obrigar as pessoas que
assinaram a letra, ou em nome dás quais ela foi
. assinada, as obrigações dos outros signatários nem
por isso deixam de ser válidas."

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal confirma


No Recurso Extraordinário n.° 72.686'da 2 2
Turma, julgado em 7 de
abril de 1.972, em acórdão de que foi relator o eminente Min. BILAC
PINTO, o Pretório Excelso considerou que:

"O portador que adquire o titulo


regulamente, por endosso e em boa-fé, é garantido
contra todos, pelo teor do titulo, e os seus
direitas não são afetados Por vícios dá sua
anterior Circulação" .
Vejam que pode até dar-se o caso de que quem transmita o
titulo não seja um
possuidor legitimo, não seja seu dono, não tendo,
portanto, o direito de fazê-lo (seria uma transmissão a
7,U9A,~d70.
Nem isso afetará as demais obrigações.

Diga-se, de passagem, que ASCARELLI define o segundo


sentido da autonomia como sendo:

qualidade das Nulos de crédito pela qual não pode ser


oposta ao tercehr de boa-fé a falta de titular/dada de quem
lhe transfer&
Exemplo:

João assina uma nota promissória em favor de Mário,


prometendo pagar R$ 10.000,00, no dia do vencimento.
Mário vai ao mercadinho e faz a compra do mês, dando em
pagamento a promissória. Para tanto, ele endossa o titulo ao dono do
mercadinho, Manoel.

Este perde o titulo no ônibus. -A pessoa que o achou


chama-se -
Zeca e está na pior, devendo vários meses de aluguel. Abaixo
do endosso do Mário ele assina "Manoel" e dá a promissória em
pagamento ao seu senhorio, Roberto.

Este vai a uma loja e compra uma bicicleta com ela,


endossando-a em sequência aos endossos anteriores.

No dia do vencimento, essa loja manda receber do João,


emitente. Este, que já havia sido avisado de que a promissória se
extraviara, não pode esquivar-se do pagamento sob essa alegação!

Se não pagar, a divida poderá ser executada. Ademais, o


detentor do titulo poderá voltar-se contra todos os endossantes, um
por um, desconsiderando o fato da irregularidade na transferência do
titulo, de Zeca para Roberto.

Quem, no caso, recebeu o titulo a zroidgo~'Roberto.


Se ele for cobrado pela loja, não poderá alegar a falta de
titularidade de Zeca para lhe transmitir o titulo.

A sua assinatura, no endossar para a loja, é autônoma em


relação à falsidade praticada pelo Zeca.

Quem ficou prejudicado nessa história? Manoel,' que


perdeu o titulo. Ele deveria ter mais cuidado com os seus papéis.

Mas o vendedor da bicicleta, terceiro de boa-fé, não
perde seu direito. Nem poderia. Como teria ele condições de verificar
a autenticidade de cada endosso?
Outro exemplo:

Seu carro foi arrombado e o ladrão levou seu talão de


cheques. Naturalmente você, que se considera precavido, vai à policia,
faz um BO (Boletim de Ocorrência) é envia a carta ao banco, mandando
sustar o pagamento dos cheques daquele talão.

No dia seguinte o autor do furto paga a conta do hotel


onde está hospedado, com um cheque do seu talão furtado, falsificando
sua assinatura.

O dono do hotel, por sua vez, dá o cheque, em pagamento


de compras, a um comerciante do Mercado Municipal. Este, depois de
depositar seu cheque, recebe a desagradável noticia de que ele foi
devolvido, sob a alegação de "pagamento sustado pelo emitente" .

A I e,
Após localizar seu telefone exige pagamento, sob pena de
protestar o cheque. Ele pode fazer isso? Pode!

Ele é terceiro de boa-fé. De acordo com o segundo


significado do atributo da autonomia, não tem nada ê. ver com as
irregularidades das assinaturas anteriores ao recebimento do cheque.

Alguém poderia considerar que há um cheiro de injustiça


nas situações supra7mencionadas. Nos exemplos dados, há pessoas ou
empresas que podem achar iníquo ter de pagar sem dever, ou então
deixar de receber: o supermercado das Andorinhas, Manoel e você que
foi vítima de furto.

Sobré isso, algumas observações:

Primeira: direito e justiça não se confundem. Entre a


indeterminação do que seja justiça e a certeza representada pelo
direito, é preferível ficar com este.
Segünda:
a valores): existe, aqui, uma questão axiológica (referente

Qual o valor mais importanté - o eventual prejuízo (por


vezes mesquinho) de um particular, ou a proteção do terceiro deboa-fé
(em última análise, a tutela da circulação
dos títulos de crédito)?
Terceira:
em grande parte dos casos nos quais poderia'
ser alegada injustiça quanto ao rigor dos atributos mencionados, houve
alguma negligência por parte do(s) prejudicado(s).
Quarta:
como já foi dito, toda a legislação dos títulos
de crédito foi cuidadosamente elaborada para proteger o
- terceiro de
boa-fé, que deve ter, a tranquilidade de poder receber um título de
crédito como se dinheiro fosse.
1.7.32.0terceirodeboafé

boa-fé? Mas, afinal, o que vem a ser esse famoso terceiro de

Segundo DE PLÁCIDO E SILVA, no seu Vocabulário Jurídico, é

Será de boa-fé toda pessoa que, com a qualidade de


terceiro, promova um ato jurklico sem qualquer maldade,
ou sem estar servindo a interesses ocultos e prejudiciais a
outrem mancomunado com a outra parte.
Em regra, a boa-fé de terceiro resulta do
dásambecieentotie fato anterior,
que se atenta, ou se prejudica com o
ato, de que participa, posteriormente. -

"A contrario sensu- , no caso dos


títulos de crédito, o
terceiro de boa-fé será aquele que agiu com
interesses ocultos ou que tinha conhecimento de maldade, servindo a
relação ao título, vícios anteriores com

Agora, uma conclusão importantíssima:

Se as exceções cartulares são inoponíveis perante


terceiros de boa-fé, segue-se que
boa-fé! elas são oponíveis a terceiros de

Melhor dizendo: o terceiro de boa-fé, ou aquele que


tenha conhecimento da ilicitude ou dos vícios da relação fundamental,
está sujeito à invocação do negócio jurídico subjacente, e até a
exclusão da responsabilidade do devedor.

Nessa mesma ordem de ideias, não gozam da proteção d


lei os títulos assinados mediante fraude, dolo, coação etc.
1.7.4 Abstração

Muitos autores confundem-na com a autonomia. Mas são


coisas distintas. Pela autonomia, como vimos, quando o titulo circula:
- São inoponiveis perante terceiros as discussões sobre
o negócio que deu origem ao título:
- Assim 'como as discussões sobre a regularidade das
demais obrigações contidas no título.

A abstração é outra coisa:

Observem que todo título de crédito tem uma causa, ou


seja, um negócio jurídico subjacente. Pode ser um
empréstimo, ou uma compra qualquer.

Mas, alguns títulos, =siderados abstratos, dispensam a


menção a esta causa, para que tenham validade.

Exemplo: uma pessoa chega Com um cheque ao caixa do


banco. Pode lhe ser perguntado o motivo pelo qual está
querendo receber? Evidentemente, não.
A letra de câmbio, a nota promissória e o cheque são
títulos que, para sua existência e validade, até como
títulos executivos extrajudiciais (CPC de 2015, art.
784), dispensam a menção à sua causa.

A
Vale dizer: para executar qualquer um desses três
- títulos, eles se bastam. Não é necessário declinar qual
o negócio jurídico que lhes deu causa.

Na petição inicial, basta juntar a cártula não paga.

Já a duplicata é um título que depende de uma compra e


venda de mercadoria. Sem nota fiscal não pode haver duplicata. Diz-se,
então, que ela é um título causal.

Abstração é a desnecessidade de
referência à causa, ou seja, ao negócio
jurídico que deu margem à criação do
título.

Notem que não se trata de um atributo essencial dos


títulos de crédito, na medida em que muitos deles não a ostentam.
Ademais, a abstração comporta graus.
Alguns títulos são
inteiramente abstratos, outros são inteiramente causais, mas há
situações em que títulos abstratos podem se tornar causais.

Por exemplo: a nota promissória é um título abstrato por


excelência. Todavia, nos contratos •de compra e venda de imóveis em
prestações, o comprador é obrigado a assinar promissórias que, no
caso, são vinculadas ao contrato.

Esta vinculação retira dessas notas promissórias o


atributo da abstração, tornando-as causais.
1.7.5 Circulabilidade

Circulabilidade é a aptidão dos títulos de crédito para


transmitir o direito nele mencionado por tradição ou por

endosso.(Em rigor, a circulabilidade é um efeito dos


títulos de crédito, motivo pelo qual a doutrina não o
menciona como um atributo.)

Já vimos que as cártulas podem circular por meio de


endossos, que transmitem a propriedade do título a outra pessoa.

Mas a circulação pode também ser efetuada por


simples tradição, que é o ato de transmitir, de entregar.
1.7.6 Coobrigação

Trata-se de uma qualidade ligada à circulabilidade.

Coobrigação é o atributo pelo qual cada endossante


de um título de crédito torna-se co-responsável
pelo pagamento, juntamente com o devedor original.

Q.z
A
Vimos, em exemplo anterior, que a loja de bicicletas
poderia agir contra todos os endossantes do titulo, se o emitente
(João), não pagasse. É o que determinam:

- o art. 47 da Lei Uniforme de Genebra (LUG) e


- o art. 43, 2 -4. parte da Lei Cambial.

Assim, os endossos enriquecem o titulo, aumentando a sua


garantia.

1.7.6.1 Endosso mandato

Observação solto importante: Pode haver endosso


ses coobrigação. É o caso, por exeztplo, de usa ~rega
que não necessita fazer dinheiro negociando suas
duplicatas.

Ela deseja, apenas, aproveitar


as facilidades que os
bancos ofereces para a cobrança
, coo suas silhazws de
agências no país e até no exterior.
Então a ~rega precisa endossar,
para que o banco efetue
a cobrança, sas sem que isso
14plique transferir a
propriedade do titulo.

O endosso ter, ai, as' características de usa ~coração


para efetuar a cobrança e denosina-se, por isso, endosso
sandato.
O endosso
que transfere a propriedade chama-se
translaticio. endosso

Como deveremos proceder para deixar bem claro que o


endosso é mandato? Escreve-se assim:

"Pague-se ao Banco Bradesco, ou à sua ordem, valor em


cobrança" .

1.7.6.2 Diferença entre portador e detentor

Surge aqui, uma distinção importante entre


detentor. portador e

Portador do
titulo é o seu proprietário, aquele que o
tem na qualidade de dono.

Pode ser o beneficiário (ou seja,


adquire o titulo no ato da sua criação. o tomador), que
Mas, portador também é o último endossatário, que o
adquire por meio de transferência do título por endosso.

Detentor do título é aquele que o tem em seu poder sem


ser proprietário, pouco importando o motivo pelo qual o tenha em mãos.
1.7.7 Executividade

Executividade é a força
processual peculiar, pelo qual o titulo
de crédito, formalmente perfeito, vale
como titulo executivo extrajudicial,
dispensando o processo de conhecimento e
autorizando o de execução.

Por exemplo, se o autor não conseguir provar aquilo que


alegou (de forma a convencer plenamente o juiz), a sua
ação será julgada improcedente (que não procede).

As provas podem ser de vários tipos, como, por exemplo:


confissão;
documentos;
perícia;
testemunhas etc.

No processo de conhecimento há quase sempre uma


audiência, onde o juiz, após tentar conciliar as partes,
examina as provas, ouvindo depoimentos das partes e das
testemunhas.

Assim como em todos os demais processos, ele termina com


uma sentença proferida pelo juiz.

Normalmente, o processo de conhecimento dura um ano ou


mais. Além disso, a parte que foi vencida apela dessa
sentença para o Tribunal, que leva anos para julgar esse
recurso.

Se a sentença for daquelas a que se dá o nome de


condenatórias, o réu será condenado, por exemplo, a
pagar uma indenização.

Pois bem. O réu foi condenado a indenizar. E se ele não


paga? Aí o autor vai utilizar o processo de execução.

Neste, o réu será citado para pagar em 24 noras, sob


pena de o oficial de justiça penhorar bens suficientes
para, em posterior leilão, satisfazer o débito.

44
Diz-se, então, que a sentença condenatória é um
executimjudicial. título

Sabe-se que o artigo 784


do Código de Processo Civil, de
2015, relaciona os títulos executivos
pgplág.çigg, vale dizer, que
não necessitam, para execução, de uma
sentença oriunda de um processo.
de conhecimento transitado em julgado

No inciso I são mencionados, como tais, os principais


títulos de crédito.

ISTO QUER DIZER QUE, SENDO UM TÍT


ULO EXECUTIVO, O TÍT
ULO
DE CRÉDITO ESTÁ DISPENSADO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO,
PARA SER EXECUTADO.

Qual o motivo dessa dispensa? É que os títulos de


crédito são manifestações unilaterais de vontade nas quais o
devedor confessa que deve - é um documento confessório.

Ora, a confissão extingue o processo de


conhecimento.

Pode-se dizer, de outra maneira, que os títulos


de crédito dispensam o processo de conhecimento porque gozam de
presunção juris tantus
artigo 783). de certeza e liquidez (CPC de 2015,

Uma dívida é revestida de certeza quando não


pairam dúvidas sobre a sua existência
(an deteatnr).
Por outro lado, apresenta as características de
liquidez quando se conhece com exatidão o seu valor
deteatni. (0mantns

Nota: a ação de execução de um título de crédito


denomina-se ação cambial.

1.7.7.1. Das defesas do executado, na ação cambial

Se a um de vocês, como advogado(a).


acorrer
um cliente, réu ou executado de uma ação
cambial,
haveria defesas (ou exceções) possíveis?

Sim: podem ser opostas, na ação


cambial, as seguintes defesas ou exceções.
a) o portador do título não
é titular do direito
(caso dá titulo roubado ou furtado, de duplicata
ses cansa etc.);

525
h) o réu São subSCreveu a obrigação cartular (
casas de hozonizia, falsificação de assinatura,
excesso oU falta de ~enes, se o titulo foi
assiamíopmrintuTação);
c) o titulo apresenta vicio de forma
(foi
preenchido incumetazente, ou coo a falta de um
requisito essencial);
d)o réu era incapaz no momento em que foi criado
o titulo, ou este foi obtido por violência
absoluta ou hipnose;
e) o direito cartular foi extinto
(ocorreu a
prescrição do titulo).
Consultem, a esse respeito, a Lei Cambial, artigo 51 e a
LUG, artigo 17.

. Notem que algumas destas exceções somente podem ser


opostas no caso de não ter havido endosso, vale dizer, não existindo
terceiro de boa-fé.

rI?
Apá
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - UFGD
FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS-FADIR - PROF. JAMES GALLINATI HEN
DISCIPLINA DE DIREITO EMPRESARIAL II • CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO EMPRESARIAL II


FACULDADE DE DIREITO E RELAÇÕES SOCIAIS - FADIR
CURSO DE DIREITO TURMA: 92 SEMESTRE
ANO LETIVO: 2019 12 SEMESTRE
PROFESSOR: JAMES HALLINATI HEIM

17.1 e 24.1 AULA — 16 e 23 DE MARÇO DE 2019

UNIDADE 1- TÍTULOS DE CRÉDITO


2 CONCEITO DE TITULO DE CRÉDITO
3 LETRA DE CAMBIO
3.1 Considerações introdutórias
4 NOTA PROMISSÓRIA
4.1 Conceito
5 CHEQUE
5.1 Conceito
6 Duplicata
6.1 Conceito
7 DAS DECLARAÇÕES CAMBIAIS
7.1 Conceito
7.2 Das declarações cambiais existentes
7.3 Das características das declarações cambiais
7.4 Da classificação
7.5 Do aval
7.5.1 Considerações gerais
7.5.2 Da responsabilidade do avalista
7.5.3 Das dilerenças entre aval e fiança
7.5.4 Da autonomia do aval
7.5.5 Da forma do aval
7.5.6 Aval em branco e aval em prelo
7.5.7 Aval antecipado
7.5.8 Avais simultãneos e avais sucessivos
7.5.9 Da defesa da meação)
7.5.10 Aval das sociedades - restrições contratuais
7.5.11 Das obrigações e direitos do avalista
7.6 Do saque
7.6.1 Conceito
7.6.2 Dos requisitos do saque da Letra de Câmbio

7.7 Da emissão

4
• 2 CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO

• Somente agora, após estudar os atributos dos títulos de


crédito, é que estamos em condições de entender a famosa definição
dada pelo insigne mestre italiano CESARE VIVANTE:
Wulo de crédito é o documento necessário para o
exercício do direito literal e autônomo nele
mencionado.

Observem com atenção o extraordinário poder de síntese


desta definição. Nada a ela falta, nenhuma palavra é
supérflua.
Muitos tratadistas tentaram conceituar os títulos de
crédito. NEWTON DE LUCCA (nos "Aspectos da Teoria'Geral
dos Títulos de Crédito" ) faz um análise de algumas
dessas tentativas, concluindo que nenhuma logra superar
o intocável conceito vivantiano.
•É importante transcrever as explicações ministradas por
VIVANTE, sobre a sua definição:

Vik-se que o &Mito mencionado no título é literal,


porquanto ele existe segundo o teor do documento.

Diz-se que o direito é autônomo, porque a posse de


boa fé enseja um direito próprio, que não pode ser /imitado ou
desfruído pelas relações existentes entre os precedentes
possuidores e o devedor.

Diz-se que o título é o documento necessário para


exercitar o direito, porque enquanto o título existe, o credor
deve exibi-/o para exercitar todos os &Mitos, sejam pfincipals,
sejam acessórios, que ele porta consigo."

É o caso dos cheques, ou das ações das


sociedades anônimas que, à primeira vista, não poderiam
ser considerados títulos de crédito.
Vamos, agora, examinar com brevidade as características
dos quatro principais títulos de crédito, para poder compreender e o
que virá a seguir, que serão as declarações cambiais.
Posteriormente, estudaremos esses quatro títulos com
maiores detalhes. Comecemos pela Letra de Câmbio.
3LETRADECÂMBIO
3.1 Considerações Gerais

Considerada o titulo de crédito por excelência, ela


quase não encontra aplicação, em nosso pais, nos dias atuais, por
motivos que veremos adiante.

Em relação à nota promissória, que vimos rapidamente no


capitulo anterior, ela apresenta duas diferenças fundamentais:
a)
Enquanto na nota promissória há dois protagonistas: o emitente
e tomador, a letra de câmbio apresenta três: o sacador, o sacado e o
tomador.

De maneira análoga, em um cheque, os atores também são três, a


saber: o correntista (sacador), o banco (sacado) e o beneficiário
(tomador).
h)
A nota promissória é uma promessa de pagamento: o emitente
promete: pagarei(emos).

Por seu turno, a letra de câmbio é uma ordem, um comando, formulado


pelo sacador, para que o sacado efetue um pagamento ao tomador.

(Exatamente como no cheque, onde o correntista dá, ao banco, uma


ordem para que ele pague determinada importância ao tomador.)
***********************

O surgimento da letra de câmbio ocorreu na Idade Média,


na Itália, da necessidade de troca de moedas.

Cada cidade italiana, naquela época, cunhava suas


próprias espécies metálicas, o que trazia enormes
problemas para o intercâmbio comercial. Dai a
necessidade de existência de bancos e de cambistas, em
cada cidade, os quais efetuavam a troca de moedas.

Como proceder, entretanto, para levar dinheiro a


outras cidades onde iam ser efetuadas transações
comerciais? Não havia ordens de pagamento, nem DOCs ou
similares...

Portar ouro ou moedas consigo? Nem pensar, dada a


frequência de emboscadas por salteadores.

Ora, cada banco ou cambista mantinha correspondentes


nas principais cidades.
Trocavam eles moeda presente (pecunia praesens)
pela
promessa de moeda ali ausente (pecunia atoens)
mas que
lhe seria entregue brevemente na outra praça do seu
destino.
*************************

Imaginemos um negociante de Veneza (cuja moeda era o


florim), que precisava mandar dinheiro para um fornecedor em Gênova
(onde circulava a lira).

Ele mantinha conta corrente com um cambista, também


sediado em Gênova. De tempos em tempos dirigia-se àquela cidade, com
um séquito fortemente armado e deixava com ele dinheiro ou outros
bens, em conta-corrente.

Necessitando pagar ao importador de sedas, enviava,


então, uma carta (em italiano, lettera)
a este cambista genovês, para
que fizesse 'a troca de moedas e efetuasse um pagamento ao seu
fornecedor.

A relação passava a ser triangular:

mercador de Veneza

fornecedor genovês
cambista enovês
Essa carta funcionava, então; como uma ordem de
pagamento, que era levada a cavalo, até Gênova, sem qualquer perigo.

Assim, a letra de câmbio não passava, na época, de


um documento comprobatório, que provava a existência de
um contrato de câmbio trajeticio (a letra percorria um
trajeto entre duas localidades distantes).
Da expressão italiana lettera
(carta) e do fato de se
operar uma operação de câmbio, de troca de moedas, surgiu o nome '
lettera di cutia,
ou, no vernáculo, letra de câmbio.

Outro exemplo, mais moderno, dessa declaração


trilateral:

Imaginemos que não tivessem sido inventadas as


duplicatas de fatura e não existissem notas fiscais.
Uma confecção compra tecidos da tecelagem e com eles
manufatura camisetas, que vende a determinada loja, tudo mediante
lançamentos em conta corrente (ou seja, mandando que se "ponha na
conta" ).

De repente, a tecelagem, cujo crédito junto à confecção


estava a se avolumar, demandou pagamento.

O confeccionista informou que, dinheiro não tinha, mas


era credor da loja e iria providenciar para que esta efetuasse um
pagamento, diretamente à tecelagem.

Triangularizou-se a relação:

¡TECELAGEM

¡CONFECÇÃO

Também ai há um tipo de ordem de pagamento: a confecção


manda uma carta à loja (com a qual tem um crédito), para que efetue um
pagamento à tecelagem (com a qual tem um débito). Esta carta seria uma

letra de câmbio.

Por enquanto, estamos falando da letra de câmbio como um


tipo de ordem de pagamento, sem que haja troca de valores no tempo.

Imaginem, entretanto, que a loja peça um prazo para


efetuar o pagamento que a confecção lhe impôs. Nesse
caso, a letra teria uma data de vencimento para sua
liquidação.

Em principio, pois, três são as figuras intervenientes


nessa letra de câmbio:

a) o sacador - a confecção:
h) o sacado - a loja;
c) o tomador - a tecelagem.

O sacador cria a letra. Ele saca o titulo, dando origem


ao sacado, para pagar determinada importância a um terceiro, em
determinado dia.

C, o tespo, o caráter jurídico e econômico da letra


dá cântio assume nos feições. Deixa dá seriem selo dá
pagament9, passando a ser autêntico titulo dá crédito.
Passa a representar uma obrigação literal, para poder
ser sacada por qualquer pessoa, em razão de qualquer
operação econdsica.

Não mais é prova de câmbio trajetício. Taspouco se


referia à troca de moedas diferentes. ?sobes não havia
mais necessidade de estar o sacador em um lugar e a ordem
ser dada para o pagamento em outro
(distantia loci).
A provisão de fundos tambés não é mais necessária.
Ques teu um credito a receber e precisa de dinheiro, saca
a letra de câmbio contra seu devedor e pode descontá-la
no banco, recebendo o numerário, deduzidos os juros
devidos.

Neste caso, endossa a letra ao banco, o qual atenda à


sua necessidade sonetária Dorme sabe que o devedor, o
sacado, vai pagar no vencisento.

A letra de câmbio é um título de crédito literal e abstrato


constituino'o-se em uma ordem de pagamento que o SACADOR
dirige ao SACADO para que este pague a importância consignada a
um terceiro denominado TOMADOR.

Observações importantes:
1. Embora não seja indispensável, costuma-se pedir o
aceite do sacado, que vem a ser uma declaração de que ele reconhece a
validade da ordem.
2. A letra de câmbio é disciplinada minuciosamente pela
lei interna (Decreto N
g 2.044, de 1.908, revogado parcialmente) ,
sensivelmente
aderiu. alterada pela Lei Uniforme de Genebra à qual o Brasil

Em que pese toda essa massa de textos legais, é um título


de crédito totalsente •em desuso no Brasil, por força da
criação das duplicatas' mercantis (duplicatas de fatura).
Para que estudá-la, então? Porque a legislação, que a
trata com muita profundidade, aplica-se, em grande parte,
aos demais títulos de crédito.

Outra observação, muito importante também, sobre a


Utilização da letra de câmbio como titulo de cobrança em outros países
(e no Brasil, antes do surgimento da duplicata de fatura).
É que a nota promissória, sendo emitida pelo devedor, só
serve para documentar créditos quando o credor e o devedor estão em
contato direto, ou próximos um do outro.

Agora, imaginem no século passado na década de 60, que


uma indústria de São Paulo vende mercadoria a prazo, para certo
comerciante de Crato, no Ceará.

Se tivesse de utilizar a nota promissória para


representar o seu crédito, deveria pedir ao comerciante que emitisse
uma nota promissória no valor e vencimento fixados e a remetesse pelo
correio.

Isto levaria várias semanas. Nesse interim, a indústria


ficaria impedida de levar a cártula a um banco, para financiar sua
venda.

(Sem levar em conta que o comerciante, se fosse


desonesto, não emitiria nota promissória alguma, e a indústria ficaria
a ver navios...)

Já a letra de câmbio é criada pelo credor, e pode ser


sacada logo após a remessa da mercadoria, em condições de ser
descontada imediatamente em banco.

Como seria este saque? O sacador seria a indústria. O


sacado seria o comerciante. Quem seria o tomador? A própria indústria!

Estamos, portanto, diante de um caso em que se confundem


sacador e tomador. Isto é permitido? Vejamos:'

Aliei Cambial de 1908, no inciso IV do seu artigo 1


diz que sim: 2,

"O sacador pode designar-se cago tazador".


Por sua vez a LUG, no artigo 3 2 , concorda:
_letra pode ser à ordáv(k2 prOprioAmmidol% "
Notem que o aceite, no caso de praças distantes, se dará
posteriormente. O banco, endossatário, encarregar-se-á de apresentar a
letra ao sacado, para essa finalidade.

Mas, se forem próximos os seus domicílios, o sacador


poderá colher o aceite do sacado, e negociar o titulo já aceito.
4 NOTA PROMISSÓRIA

Enquanto a letra de câmbio é uma ordem de pagamento, a


nota promissória é uma promessa de pagamento, como, aliás, seu próprio
nome está a indicar.

Já vimos que na letra de câmbio, estabelece-se uma


relação trilatgral e que, na nota promissória, a relação é bilateral,
entre emitente e tomador, apenas.
4.1 Conceito•

A nota promissória é um titulo de crédito literal e


abstrato pelo qual o emitente se obriga, para com o
beneficiário ou tomador, a lhe pagar, ou à sua ordem,
certa importância.
O emitente da nota promissória
é equiparada, para os
efeitos legais, ao aceitante da letra de câmbio, pois no
a posição de devedor. titulo ocupa

(A nota promissória não comporta aceite - a simples


assinatura do emitente obriga-o ao pagamento.)
5 Cheque

Assim, como a letra de câmbio, o cheque é uma ordem de


pagamento, porém à vista.

Outra característica diferenciadora: a letra de câmbio


pode ser sacada contra qualquer pessoa. O cheque, apenas contra bancos
nos quais o sacador tenha fundos disponíveis.

As origens de ambos se confundem, distinguindo-se o


cheque pela sua função mais restrita, de se constituir essencialmente
em um meio de pagamento.

Não é instrumento de crédito na acepção de troca de


valores no tempo, em que pese a avassaladora aceitação do cheque pré-
datado, no Brasil. Assim, discutiu-se muito a sua inclusão no elenco
dos títulos de crédito.

Contudo, ele se encaixa perfeitamente na definição de


VIVANTE. Por isso, a doutrina atual -
não tem dúvidas a respeito.
5.1 Conceito

Cheque é um título de crécbto literal e abstrato,


constituindo-se
em uma ordem de pagamento i vista,
relativa a um contrato bandrio, pelo qual se movimentam
findos cbsponíveis junto ao banco sacado.
6 DUPLICATA

Trata-se de título de crédito que obrigatoriamente se


vincula a um contrato de compra e venda de mercadorias ou de prestação
de serviços.

(Nota: o que se chama, pomposamente, de contrato de


compra e venda costuma ser, simplesmente, um pedido escrito ou
verbal.)

6.1 Conceito

A duplicata é um título de crédito formal, circulante


por meio de endosso, representativo de um saque que
encontra justificativa numa fatura de venda mercantil, ou
ntm7 contrato de prestação de serviço.

Que vem a ser uma fatura? Nos primórdios de nossa praxe


comercial, era a própria nota fiscal.

Passou-se, depois, a entender como


obrigatório que discrimina as notas fiscais fatura um documento
determinada pessoa, em um determinado período (por extraídas contra
exemplo um mês).
Pois bem: a duplicata nada mais é
dessa fatura, com dizeres .algo diferentes. que a segunda via

É um título causal, mas que, uma


terceiros de boa-fé, adquire autonomia, como os vez negociado com
crédito, não podendo ser opostas aos endossatários demais títulos de
ao sacador ou endossante, salvo hipóteses de má-fé defesas pertinentes

A duplicata comporta aceite. O tormentoso problema da


duplicata sem aceite será estudado adiante, quando esse titulo de
crédito for abordado de maneira bem mais completa.

Pode-se dizer, que a duplicata é uma construção original


e autêntica do direito brasileiro.

Em síntese, a evolução mais recente do seu funcionamento


Pode ser assim explicada:

555
Imaginem uma loja atacadista de tecidos, na rua
Florêncio de Abreu, São Paulo, onde se situavam as grandes lojas de
venda' "por grosso" (atacadistas).

Os varejistas de tecidos,
Estados, quando não vinham fazer suas do interior e de outros
visitados pelos "caixeiros viajantes" compras pessoalmente, eram
remetendo-os à casa atacadista. . que tiravam os pedidos,

Esta despachava a mercadoria por estrada de ferro,


acompanhada da nota fiscal.

No fim do mês, havia várias notas fiscais tiradas contra


um mesmo comprador, que eram relacionadas em um "rol" - a fatura,
sendo que, por carbono, saia a duplicata de fatura ou, simplesmente,
duplicata.

***************************

Hoje, as coisas mudaram um pouco. Com


a exacerbação da
inflação, não mais é possível aguardar o fim do mês, para faturar.

Assim, a cada fornecimento emite-se uma fatura e a


correspondente duplicata, por exemplo .a 30 ou 60 dias da data do
fornecimento.

Surgiram com o tempo as notas fiscais -


faturas, muito
mais modernas. Na emissão da nota fiscal à máquina, a própria nota já
é a fatura, saindo a duplicata por carbono, automaticamente.

Mesmo nas empresas mais modernas, equipadas com centros


de processamento de dados, as coisas se passam de modo parecido.

A tendência, todavia, é para a substituição da duplicata


tradicional pela duplicata escritural ou cambial extrato, de que
falaremos oportunamente.

7 DAS DECLARAÇÕES CAMBIAIS


7.1 Conceito

Declarações cambiais são manifestações


unliateraisdevontadelançadasnotitulo.
7.2 Das declarações cambiais existentes
Somente são declarações cambiais as especificadas pela
lei. São apenas cinco, a saber:
saque
emissão
aceite
endosso
aval

Ademais, elas são figuras pré-


ordenadas pela legislação.
Assim, por exemplo, a lei não prevê aceite no cheque.

Notem que as declarações cambiais podem estar todas


presentes no mesmo titulo. No caso da letra de câmbio (o título mais
completo, a despeito de estar em desuso entre nós), ela

cria se pelo me, completa-se


Pelo aceite, transfere-se pelo
endosso e é garantida pelo aval.
7.3 Das características das declarações cambiais
1. São lançadas no próprio título,
sendo cambialmente irrelevante
qualquer elemento que não figure na
própria cambial - gwaditaiteet
awn4qualiedlézmoiuk (atributo da
literalidade)•
2.
São autonômas umas em relação às outras. As irregularidades de uma
declaração cambial não contaminam as outras, a não ser que haja um
vício quanto à forma do título (autonomia, segundo sentido).
3.
São abstratas e incondicionadas, desprendendo-se dos negócios
jurídicos de que se originaram (abstração).
4.
Vinculam todos os subscritores, solidariamente, ao pagamento da
soma cambial (coobrigação).
7.4 Da classificação

As declarações cambiais podem ser:

:=MEI

originárias, O saque e a emissão são declarações cambiais


na medida em que dão origem, dão nascimento à cártula.
São declarações que têm o efeito de
titulo de crédito transformar em um
o pedaço de papel que as recebe.

Ademais, o saque e a emissão constituem declarações


cambiais necessárias,
porque sem elas o título respectivo não existe.

5$,1
Já as demais declarações cambiais:
.o aceite, o endosso e
o aval, são declarações sucessivas, porque, caso estejam apostas no
titulo, o serão quando este já estiver criado.

Embora sendo de extrema utilidade, são todas


facultativas.

7.5 Do aval
7.5.1 Considerações gerais

O aval constitui uma garantia dada nas formas


cambiarias. Não é elemento indispensável à criação do titulo, que pode
muito bem cumprir o seu papel na circulação, sem essa garantia.
Qual a sua função na
em termos matemáticos, quanto economia? É fácil compreender que,
possibilidades terá o credor de maior o número de garantidores, mais
receber seu crédito.

Assim, o aval proporciona maior segurança ao titulo,


tornando mais fácil a sua negociabilidade.

VIVANTE era de opinião de que, se todas as assinaturas


da cambial fossem sólidas (isto é, lançadas por
devedores de grande capacidade de pagamento), não
haveria necessidade de avais, que representam um indicio
de pouco crédito para os que dele necessitam.

Dentro de uma lógica estrita, não há como negar razão ao


grande jurista italiano. De fato, porventura seria
aceitável que um banco exigisse avais de uma Votorantim,
de uma Seara ou de um Moinho Santista, se uma destas
gigantescas corporações necessitasse de um empréstimo?

Por outro lado, considerem o caso das Indústrias


Matarazzo. Quem, há 40 anos, poderia imaginar que tão
grande potência viesse a requerer concordata e tivesse
requerimentos de falência publicados diariamente?

Assim, compreende-se o porquê de, •na atividade bancária


de nossos dias, o aval ser sempre exigido, mesmo que não
se acredite na falta de pagamento por parte do devedor.

Aval é uma declaração cambial facultativa e derivada,


consistindo na adesão que unia pessoa proporciona, por
sua assinatura, a um título de crédito, obrigando-se, por
qualquer-dos seus signatários, a pagá-lo no prazo devido.
O dador da garantia chama-se avalista. A pessoa
garantida denomina-se avalizado.

Observação: É comum, conquanto errada, a expressão "endossar" , quando


na realidade se quer dizer "avalizar" . Diz-se, com
frequência: "Fulano endossou de favor um titulo para que
Beltrano obtivesse um empréstimo no banco" . Nada mais
incorreto.

7.5.2 Da responsabilidade do avalista


Prestem Muita atenção ao que diz o artigo 32 da Lei
Uniforme de Genebra:

19
a pessoadador do aval é ~amarei da maca ~dia que •
por ele afiançada".

Isto quer dizer que o avalista torna-se obrigado na


mesma medida e da mesma maneira que o signatário do titulo a quem
garante, tal como se fosse o próprio.

Já vimos, por outro lado, que, a teor dos artigos 31,


quarta alínea, da LUG e 15 da Lei Cambial, o aval deve indicar a
pessoa quem se dá.

Então, como afirmava SARAIVA, autor da nossa Lei


Cambial,

- Por haver subscrito (assinado em baixo de ) o saque, o


avalista fica vinculado, como o sacador, e equiparado a
um co-sacador.

- Por não haver subscrito o endosso, o avalista fica


vinculado, como o endossador, e equiparado a um co-
endossador.

- Por não haver subscrito o aceite, o avalista fica


vinculado, como o aceitante, e equiparado ao co-
aceitante.

- Por não haver declarado qual a firma honrada, o


avalista fica vinculado, como o emitente da nota
promissória.
-ou como o aceitante da letra.

-
ou como o sacador, se a letra não se encontra aceita.
Observação: A questão sena rearasinada no t4pico sobre o
aval anteOpado.
Vejam que, estritamente falando, não há uma
solidariedade passiva entre o avalista e o seu avalizado.

A solidariedade passiva é um instituto do Direito Civil


(artigos 275 a 285 Código Civil, de 2002), com muitas
diferenças, no que tange à obrigação do avalista.

É bem verdade que, se o avalista é responsável da mesma


maneira que o seu avalizado, o portador do titulo tem o
direito de escolha, como também no caso da solidariedade
passiva.

Vale dizer: no momento da execução, o portador de uma


nota promissória pode escolher entre executar o
emitente, ou executar o seu avalista, ou ambos
simultaneamente.

Mas as semelhanças para por ai. O avalista não é um


coobri ado em uma divida comum a ambos. Ele é
equiparado, é como se fosse o seu avalizado.

Ademais, a sua responsabilidade é autônoma, assim como


autônoma é a responsabilidade de todos os signatários de
declarações cambiais.

Ou seja: a obrigação do avalista para com o credor da


obrigação não depende da obrigação do avalista para com
o seu avalizado.

Observem que, na solidariedade passiva, pode o credor


exigir de um, ou de alguns dos devedores, a divida
comum.

Na solidariedade cambial, diferentemente da


solidariedade do direito civil, não existe divida comum.

Cada um responde pela própria declaração, quaisquer que


sejam os motivos pelos quais não foram cumpridas as
declarações dos outros responsáveis.
7.5.3 Das diferenças entre aval e fiança

Antes de começar a explicação dos contrastes entre aval


e fiança, abram o Código Civil, de 2002, no artigo 818, onde se
encontra o conceito deste último instituto.

Parece em tudo igualzinho ao aval, não é mesmo? Em


verdade, ambos são gerados com o fim de garantir o cumprimento de
obrigação de outrem.
No entanto, há muitas diferenças. Vejamos algumas delas:
1
A fiança é contrato, como se vê pelo seu conceito
(artigo 818: "Pelo contrato de fiança, uma pessoa
garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo
devedor, caso este não a cumpra."

O aval é unia declaração unilateral de vontade.

A fiança é secundária e subordinada. É contrato


acessório, que não se admite sem a obrigação principal
(por exemplo, um contrato de locação).

O aval, obrigação cambiária, é principal e


independente.

O fiador, antes de pagar a divida, pode exigir que


primeiro o devedor satisfaça a obrigação - é o chamado
beneficio de ordem. Consultem o Código Civil.

Mo existe benefício de ordem no aval.

4
O credor pode exigir a substituição do fiador tornado
insolvente.

Não há meio de substituição do avalista.


5
A fiança pode ser dada em documento separado.

O aval tem de ser lançado no próprio título.


6
A fiança demanda outorga uxória ou marital.
O aval, não.

7
As obrigações nulas não são cobertas pela fiança.

O _aval não se preocupa com a natureza da


obrigação assmida, mesmo em face da falsidade ou
de nulidade de outras assinaturas apostas no
título.
Agora, duas questões:

Primeira: O artigo 31 da LUG diz, com todas as letras,


que o aval deve ser dado no próprio titulo, ou numa folha anexa.

SLt
Como fica o atributo da literalidade?

Temos, aqui, mais um lamentável erro de tradução da LUG.


Ocorre que, no original francês, está escrito assim:

L' aval est dome sur lá lettre dá chame ou sur une


allonge.

Ora, "allonge" que dizer prolongamento - uma folha de


papel colada no titulo, quando neste não couberem mais assinaturas -
e, não, folha anexa.

Segunda: não foi dito com bastante ênfase, que aval e


fiança são coisas distintas?

Então, como é que a LUG, no seu artigo 32, fala em


pessoa afiançada pelo avalista?

Só pode haver uma explicação, qual seja, outro erro de


tradução.
************************
Acompanhem, agora, a seguinte historinha, para ilustrar
o que foi acima explicado: ,

Francisco foi pedir dinheiro ao Banco Bradesco. O gerente concordou em


avalizar o "papagaio" . No vencimento, Francisco não conseguiu pagar.
O banco então voltou-se contra o Ricardo, ajuizando a competente ação
de execução. Tinha respaldo legal para isso?

Sim. Ocorre que, pelo artigo 32 da Lei Uniforme e pelo


artigo 15 da Lei Cambial, a obrigação do avalista e do avalizado são
equiparadas. O portador da cártula está legitimado a agir contra
qualquer dos dois, sem qualquer preferência ou ordem.

Indignado, Ricardo requereu, por seu advogado, o


chamamento ao processo de Francisco, baseado no artigo 130 do CPC, de
2015, que autoriza a convocar, para integrar também o pólo passivo.
12 devedor, guando o fiador for réu" .

Ricardo pode fazer isso? Não pode. Ele não é fiador - é


avalista. A obrigação cartular consubstanciada no aval é completamente
diferente da obrigação de direito civil cognominada fiança.

Consoante o atributo da autonomia, cada declaração


cambial é autônoma com relação às demais. Não existe divida comum a
Francisco e Ricardo.
Cada um responde pela própria declaração, quaisquer que
sejam os motivos pelos quais não foram cumpridas as declarações dos
outros responsáveis.

Nada há que obste a execução exclusiva do avalista. Cabe


a Ricardo pagar e, depois, agir regressivamente contra Francisco, para
ressarcimento.

Observem que, pelo Direito Civil, se a dívida fosse


contratual (ex.: contrato de mútuo), sem a emissão de nota
promissória, poderia caber fiança de Ricardo e sua mulher em favor de
Francisco.

O chamamento ao processo seria, então, perfeitamente cabível, a teor


do inciso I do artigo 130 do CPC, de 2015, dado que a dívida, de
caráter civil, era comum entre fiador e afiançado.

Entretanto, o direito cambiárig apresenta peculiaridades, com o escopo


de propiciar ao credor a certeza e a segurança compatíveis com a
função do título de crédito na economia.

Essa função é, assim, privilegiada pelo ordenamento jurídico, com


tratamento diferenciado.

Existem características próprias na disciplina dos títulos de crédito,


cujo delicado mecanismo jurídico - nas palavras de TULIO ASCARELLI -
obriga a remontar a princípios mais rigorosos e profundos do que
aqueles do direito civil.

7.5.4 Da autonomia do aval

Tão extensa é a garantia prestada pelo aval, que a lei


(LUG, artigo 32, segunda alínea) chega mesmo a estabelecer a sua
subsistência, ainda que nula a obrigação do avalizado.

sua obrigação aantém-se. Remo no caso dá


a obrigação ser nula por qualquer razão que não
seja ao vicio de fana."
(Vicio de forma seria, por exemplo, a falta do
nome do título, óti da assinatura do emitente
etc.)

Por outras palavras: mesmo que o negócio entre o credor


e o devedor seja nulo, o avalista responde.

Nesse sentido, julgando, em 09.08.1977 uma


apelação de Araraquara, o 1 2 Tribunal de Alçada Civil de São
Paulo proferiu acórdão com a seguinte ementa:

4 ti
"Alão procede a defesa do avalista fundada
em causa ilícita dá obrigação cambiária
que encobriria divíaá de rifa não
autorizada" .
Tratava-se de nota promissória emitida em decorrência de
rifa, não autorizada, de um automóvel.

O promotor da rifa propôs-se a adquirir o veiculo da


pessoa sorteada, pagando com promissória avalizada por terceiro.

O credor, não conseguindo receber do emitente, intentou


execução contra o avalista, que se defendeu alegando nulidade de
divida de jogo (Código Civil).

O teor do acórdão apenas confirma o princípio dá


autonomia do. aval em relação ao negócio
subjacente. Observe que essa autonomia é
fundmental para permitir a livre circulação dos
títulos de crédito.
De fato, se houvesse a possibilidade de anulação
do. aval, seria mito difícil que qualquer ~soa
aceitasse um título de crédito pana desconto, ou
como forma de pagamento.
A pessoa 'que vai receber um título não quer
problemas Ela quer receber seu crédito seM
delongas, sem alegações, sem qualquer restrição,
desde que seja um terceiro de boa-fé.
7.5.5 A forma do aval
Em que lugar do titulo deve ser aposto o aval? Vejamos o
que diz o artigo 31 da LUG, na terceira alínea:

10 hW comfidewe como feS"Ye da 5/li/pies


=o= da dadardolladalace ~farda leira,
Jarro se se MO QWS assinalaras da JWAMM9 Off a
sacador."
O aval deve, pois, ser dado por simples assinatura, na
frente do titulo. Se for no verso, deve ser precedido da expressão
por aval" , ou "bom para aval" , para não ser confundido com
endosso.
7.5.6 Aval em branco e aval em preto
O aval deve indicar a pessoa por quem se dá (LUG, artigo
31, quarta alínea). Pode ser dado ao sacador, ao sacado, ao emitente,
a qualquer endossante ou mesmo a outro avalista (aval de aval).

Na ausência de indicação, entende-se que o aval é dado


ao aceitante, ou ao sacador da letra de câmbio não aceita.

No caso da nota promissória, se o aval não indicar a


pessoa por quem é dado, entende-se que é pelo emitente.

O aval sem indicação da pessoa a quem é dado chama-se


aval em branco. Existindo essa indicação, será aval em preto.

Exemplos de aval em preto: "Por aval ao sacador" :


"Por aval ao emitente" ; "Por aval ao primeiro endossante" ; "Por
aval ao sacado" e assim por diante.

7.5.7Avalantecipado

O que se entende por aval antecipado?


O aval antecipado consiste em firmar aval antes do
avalizado aceitante dar o aceite ou do avalizado endossante ter dado
endosso. Segundo o entendimento da doutrina, firma a ideia de que o
pagamento de uma Letra de Câmbio pode ser garantido por aval,
independente do aceite e do endosso.

Quais as consequências jurídicas do aval


antecipado?
Devem ser vislumbradas duas possibilidade, cada qual com
consequência jurídica diversa:

a) se o aval for dado antes do aceite, e o sacado se


recusar a aceitar o título de crédito, responderá o
avalista sozinho pela obrigação;

h) se o aval for dado antes do endosso, e este não for


endossado, não haverá responsabilidade do avalista do
endossante.

O jurista J. M. Whitaker a respeito da matéria fez um


excelente comentário, onde explica que:

fegularmente, a firma dg avalista é lançada lia letra


AMMdáltrffiedff à da awiismhz Auk, porém sÉL,h7 antes, fiada knpedkda
iáuídmeote que 0 SO também na letra BM branco, GOMO qualquer outra
dedamgatannWrie. ilooná7lsweiázaartesevalid,edeiá7amlnemsenwe
th?OpendendodOlançammoh7delkomedoavalizada Seessaassinaturaá
dontadsr ~fgát7 ~ 717 ffikkgOWS00~7~7,17~seérk 4MU
adiSSWWia &Lanem deste 4areneletma e a aosándede soa
&AV
idgrAMOWE a sakk de endossas tomada lamflides as dedareges
poshrriams, ounãokwaeardecímegedoevaliStaiiguakamotekelkaz,
par não ser possível detarm,»ar a responsabilidade que esse quis assumia;
owando5 Amr~, ar amaaatame4gaddtaífdosecadoyareffieareitluotOWA
7
nãofiraw ariSsaprOdiamioeededemegadeavaléiníMzinwmeconsillki
onweb~ad'retearautdaama, nenhuma dúvida havendo a respeita da
exteaskonelAeowisdweresamativosohsamitar.
7.5.8 Avais simultâneos e avais sucessivos
Se duas pessoas assinam avais, um embaixo do outro, em
ranco, esses avais serão simultâneos ou sucessivos?

Ou, por outras palavras: serão todos por igual


avalistas ou cada um é avalista daquele cuja assinatura está acima da
sua (aval de aval)? A questão não é meramente acadêmica (isto é, sem
interesse prático), como se verá por mais uma historinha:

Francisco pediu R$ 400.000,00 emprestados a Ricardo.


Este, que já conhecia bem o devedor, exigiu uma nota promissória com 4
avalistas.

Assim, os amigos Fernando, Benedito, Gabriel e Amilcar


lançaram suas assinaturas superpostas na frente do titulo.

Como de costume, Francisco não pagou no vencimento. Para


Ricardo, tomador, a questão teórica de serem os 4 avais simultâneos ou
sucessivos é totalmente irrelevante.

Ele pode exigir, como de fato exigiu, o pagamento


integral da soma cambial de todos e de cada um dos signatários,
independentemente da ordem das assinaturas.

Pois bem. Gabriel, que tinha alguma disponibilidade,


efetuou o pagamento integral de R$ 400.000,00.

Agora é que surge o interesse do problema: nas relações


entre os co-avalistas, em face do pagamento efetuado por um deles:
Quanto pode Gabriel exigir dos companheiros de aval?
1 2 hipótese: os avais superpostos são considerados
simultâneos.
Neste caso, os quatro avalistas são do mesmo grau, isto
é, são, igualmente, avalistas do emitente Francisco.

Por outras palavras: não importa a ordem das assinaturas


- são da mesma posição, tanto Fernando e Benedito, que assinaram em
cima de Gabriel, como Amílcar, que assinou em baixo.

Gabriel poderá exigir de cada um somente R$ 100.000,00,


isto é, a quarta parte do que pagou. Isso porque, no caso de avalistas
do mesmo grau, as relações entre elas regem-se pelos princípios da
solidariedade passiva do Código Civil:

O que pagou somente poderá receber dos demais a quota


parte de cada um.

22 hipótese: Os avais superpostos são considerados


sucessivos.

Neste caso, cada avalista é coobrigado posterior


daqueles abaixo de cuja assinatura lançou a sua.

Benedito é avalista de Fernando;


Gabriel é avalista de Benedito e Fernando:
Amílcar é avalista dos demais.

Sendo assim, Gabriel, que pagou o titulo, poderia exigir


tudo o que pagou (R$ 400.000) de Fernando e/ou de Benedito - ele é
avalista de ambos, que deveriam pagar e não o fizeram.

Nada poderia exigir de Amílcar, que é coobrigado


posterior a ele e do qual não é, portanto, avalista.

O problema de serem os avais superpostos considerados


simultâneos ou suceSsivos vinha dividindo as opiniões da doutrina e da
jurisprudência, até que o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula
189, segundo a qual:

"kW em ~CO e soe/pos/0s


consideram-se símil/imos e não SIICeSSIFOr:
7.5.9 Da defesa da meação
Já foi visto, ao tratar das diferenças entre fiança e
aval, que neste não é necessária a assinatura do cônjuge.

É, pois, válido e inatacável o aval do homem casado,


mesmo sob o regime da comunhão universal de bens, independentemente da
licença da mulher e vice-versa: a mulher casada pode avalizar
livremente.
Assim, temos uma pergunta:

Pode a mulher adular o aval dado pelo marido?


Tendo em vista que o aval constitui-se em obrigação
autónoma e independente, cuja concretização dispensa à outorga da
mulher, a esta não será possível anulá-la.

Mas, com o advento do Estatuto da Mulher Casada (Lei


n.° 4.121, de 1.962 hoje revogada), o problema adquiriu nova e maior
importância. O artigo 3.° da referida lei dispunha:

"Pelos &Nos de divida de qualquer imlurela, firmados


por Mil sti dos crikiuges, iluda que cisado pelo regime da
commMão universal, somenle responderlo os bem particulares
do slgualarlo e os COMUM, filé o Ilmlle HM mearão':
Quer dizer: a meação da mulher não responde pelas
dividas contraídas pelo marido! O que responde por elas é a meação
dele!

EUNÁPIO BORGES aconselha, então:

"Cuidado, pois, com os homens casados.


Passem os bancos a exigir sempre o aval da mulher
nas promissórias de seus clientes. E ninguém
empreste a homem casado, ou lhe venda a prazo,
sem que sua digníssima esposa assine, com ele, o
respectivo título de divida."

O conselho do emérito doutrinador é sábio, pois evitará


inúmeros problemas. No momento de uma penhora, o cônjuge ingressará
com embargos de terceiro, que serão certamente acolhidos, ficando
preservada sua meação.

Já imaginaram os tormentos que advirão para leiloar a


metade ideal de um imóvel? O credor ganha, mas não leva, pois as
, partes ideais de imóveis não têm valor comercial, por falta de
mercado.

Cabe aqui algumas considerações atuais sobre


posicionamentos jurisprudenciais a respeito do direito a defesa da
meação, em vários acórdãos, com assentamento nos artigos 1663 e 1687
do Código Civil de 2002, vêm asseverando o comprometimento da
totalidade dos bens comuns e até dos bens particulares da mulher, na
proporção do proveito auferido pelo casal, ou seja, seguindo a ideia
da mulher ter se aproveitado materialmente da negociação.

.Y45
Concluindo, somente será possível à mulher casada
limitar o aval dado pelo marido sem a sua outorga, salvaguardando os
seus bens particulares e a sua meação dos bens comuns, desde que prove
que o aval não proporcionou benefícios ao patrimônio do casal.
7.5.10 Aval das sociedades - restrições contratuais
No Direito Societário, no âmbito dos contratos sociais é
costume conter cláusulas fixando restrições aos poderes de gerentes ou
diretores, proibindo-os de avalizar ou de prestar fianças, em nome da
sociedade.
Ora, a sociedade, como pessoa jurídica, tem plena
capacidade cambial. Pergunta-se, então: sendo obrigação autônoma, o
aval de sociedade não seria válido, a despeito de proibição
contratual?
Há quem entenda que, em que pese a sua autonomia, o aval
é nulo, pois, pela publicidade inerente a todo ato arquivado na Junta
Comercial ser um registro público, o terceiro que alegar a sua
validade será conhecedor da vedação contratual e portanto não será de
boa-fé.
7.5.11 Das obrigações e direitos do avalista
Aproveitaremos o texto de Waldírio Bulgarelli, em seu
livro Títulos de crédito, que nas páginas 174 e 175, ensina:
0 avalista, portanto, acompanha a sorte da avalizado; mesmo quando a
assinatura do avalizado for eivada de nulidade (conforme o art 32 alínea 2 da lei
Uniforme de Genebra), mantendo-se, no caso, a responsabilidade do avalista Portanto,
nem a falsidade, nem, na lição de Ilihitaker, a inexistáncia do avalizado afeta aposição do
avalista.

0 avalista, assim, sã se obriga como o avalizado e nos termos deste. Á


boa ~a insiste, e com razão, que o avalista se responsabilize em relação ao Nulo;
sua obrigação á a de pagar o título, e não em relação ao avalizado; deste, sá se recolhe a
extensão da sua responsabilidade. ÃSS1111, O avalista libera-se também da obrigação, nos
mesmos casos em que o avalizado, a saber:

quando avalista do endossante: libera-se pela prescrição de um (I)


1/10; libera-se, também, pela falta de protesto a tempo certa (em
tempo útil ou da data da vencimento, no caso da letra com a
cláusula "sem protesto");

2 quando avalista do sacador; libera-se pela falta do protesta em


tempo 1/til (art. 32)e pela prescrição de I (um) ano;

_Nzf
2 quando avalista do aceitante: não se apraveita da falta de protesto,
mas libera-se pela prescrição em 3 ~Jona&
4. quando avalista do endossante, em relação 1113 COM os outros:
libera-se pela prescrição de G (seis) meses, da dia em que o
endossante pagou, letra ou em que foi acionada
fi ava/nula não produz qualquer efeito; mesmo como fiança.
Li avalista, que paga o tildo, adquire o direito de acinnar
os
subscritores anteriores e o práprio avalizado (art. 32, alínea 3 da Lei Uniforme de
Genebra) fique implica o problema dos chamados avais sucessivos ou simultâneos, ou
cumulativos. Trata-se de distinção que, evidentemente, sá interessa aos avalistas entre
5/a não ao credor, que pode exigir o pagamento de qualquer deles. É o Caso de os avais.
superpostos, em branco; neste casa, que gerou dúvidas na nossa doutrina, hoje, devem
ser considerados como simultâneos e não sucessivos /10 82 do Supremo
Tribunal federal).

Há que distinguir - quando não sejam em branco os avaís. - o tipo de


obrigação assumida:

I. se se abrigaram Ws pelas outros, tornam-se, pelo pagamento,


credores cambiarias uns das outras, na ordem estabelecida;
2. se se obrigaram direta e conjuntamente em favor do avalizado,
1710 táll entre si relages cambiarias, nem adquirem pela
pagamento nenhum direita cambiárin contra seu correspondente.
Essas abrigages regulam-se pelo direito comum e ficam
dependentes das relaçães extracambiárias.

Atualmente, está-se tornando praxe chamar-se a juízo, desde logo,


quando da execução da avalista, os demais avalistas, ou então o avalizado, para que ao
tarmina do processojá possa o avalista cobrar-sedas demais. na sequância processual.
7.6 Do Saque

Existe o saque quando a pessoa que cria o título não é


aquela que vai pagá-lo.

Inversamente, quando o criador do título é a mesma


pessoa que vai pagá-lo, teremos um caso de emissão.

Na nota promissória a pessoa que emite é a mesma que a


vai pagar - não há falar em saque mas, sim, em emissão. É o único,
entre os quatro principais títulos de crédito, que não é sacado, mas
emitido.

A,59
Portanto, o correto é dizer-se:
- saque de letra de câmbio, de cheque e de duplicata;
- emissão de nota promissória.

No entanto, todos (incluindo-se doutrinadores famosos)


referem-se à criação do cheque como sendo emissão.

Ora, o cheque é criado pelo correntista e pago por outra


pessoa, que é o banco. Assim, falar em "emissão de cheque" constitui
verdadeira atecnia, tolerável apenas em função da disseminação desse
engano.

O que se entende par "sacar uma cambial"?


Saque é o ato cambiário através do qual se dá origem a
uma cambial. Saque e emissão são, portanto, expressões equivalentes,
que indicam, indistintamente, á criação de um titulo de crédito. Desse
modo, designa-se sacador ou emitente a figura que saca (emite, cria)
uma cambial.

7.6.1 Conceito
Saque é a declaração cambial pela qual são
criados a letra de câmbio, o cheque e a duplicata.
Sacar, em sentido técnico, significa criar o título,
obedecendo-se rigorosamente aos requisitos
formais estabelecidos em lei (artigo I.° da LUG).
7.6.2 Dos requisitos do saque da Letra de Câmbio
Os requisitos, lançados por extenso no contexto da
letra, são os seguintes, de acordo com a LUG:
1.A palavra "letra" inserta no próprio texto do titulo e expressa
na língua empregada para a redação desse titulo;
2.o mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;

3.o nome daquele que deve pagar (sacado);


4.a época do pagamento:

5.a indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento:

6.o nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga;

7. a indicação da data em que, e do lugar onde a letra é


passada;

8.a assinatura de quem passa a letra (sacador).

45.1.
Destes requisitos , são considerados essenciais os de n
1, 2, 3, 6 e 8. São considerados dispensáveis os de n 4, 5 e 7.

Então, de acordo com esta afirmação, a época do


pagamento (ou seja, a data de vencimento) é dispensável.

(O que parece, no mínimo, estranho).

Todavia, observem que o teor da segunda alínea do artigo


2 -° da LUG explica porque a data de vencimento é dispensável:

'2 letra em que não se indique a época do


pagamento entende-se pagável à vista."
Vejam, agora, que a terceira e a quarta alíneas desse
mesmo artigo 2 2 dá LUG. Nos autorizam a afirmar que a menção do
lugar
de pagamento e do lugar do saque também são dispensáveis.

Observação:

A tradução da Lei Uniforse adotada entre nós é a de


Portugal, e é horrível.
No original não consta a expressão "letra", sas, sim,
lettre de change. A tradução deveria usar o nome completo
letra de casbio, cozo, aliás, figura no artigo 1 2 da lei
Casbial.
Trata-se de denominação secular e universal, pela qual é
conhecido esse titulo de crédito.
******************************

A denominação do titulo de crédito é condição


indispensável para a sua validade.

Pelo princípio do formalismo ou do rigor cambiário, é


imprescindível que conste do título sua denominação: letra de câmbio,
nota promissória, cheque, duplicata, conforme o caso.

Na comparação pitoresca de AVYARA9 BORGES, a


denominação dos títulos de crédito corresponde à palavra
"veneno". com que os rótulos farmacêuticos alertam a
todos em relação ao cont~ de certos fiascos.
Por outras palavras: a pessoa tem de saber com certeza
qual é o documento que ela está assinando.
7.7 Da emissão

Assim . como a letra de câmbio é criada por meio do saque,


a nota promissória cria-se por emissão. O conjunto de requisitos,
essenciais ou não, é o seguinte:
1.
A denominação de "Nota Promissória" , inserida no próprio texto do
titulo e expressa na língua empregada para a redação desse titulo;
2.
a promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada;
3.a época do pagamento;

4.a indicação do lugar, em que se efetuar o pagamento;

5.
o nome da pessoa a quem ou'à ordem de quem deve ser pago;
6.
a indicação da data e do lugar onde anota promissória é passada;
7; a assinatura de quem passa a nota promissória (emitente).

.ENCERRAMENTO DO CONTEÚDO DA 1 2 PROVA DO SEMESTRE


UNIDADE 1 - PROPRIEDADE INDUSTRIAL
- UNIDADE II - TíTULOS DE CRÉDITO.

DATA DA PROVA 06 DE ABRIL 2019 [SÃ AD01

A PROVA É INDIVIDUAL

PERMITIDO UTILIZAR SOMENTE LIVROS COM A LEGISLAÇÃO DO. CÓDIGO


CIVIL E LEGISLAÇÃO COMPLEM.NTAR
gk
LEGISLAÇÃO' NÃO PODERÁ TER NENHUMA ANOTAÇÃO QUE SERÁ
CONSIDERADA "COLA" [CUIDADO COM VADE MECUM EMPRESTADOS]
• SOMENTE É PERMITIDO SUBLINHAR
'OU 'UTILIZAR MARCADOR DE TEXTOS.
COLORIDOS .

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