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XIV ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

Universidade de Fortaleza
20 a 24 de outubro de 2014

A ordem disciplinar e os seus dispositivos: a questão do poder em


Foucault
Dorinaldo de Freitas Cintra Junior¹* (PG), Selena Mesquita Teixeira Sérvio² (PG), Leonardo José
Barreira Danziato³ (PQ).

1 Mestrado em Psicologia, Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE;


2 Mestrado em Psicologia, Bolsista Funcap, Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE;
3 Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade de Fortaleza, Fortaleza-CE.

dorinaldojr@hotmail.com

Palavras-chave: Poder disciplinar. Punição. Vigilância.

Resumo
O escopo do presente artigo consiste em discutir acerca do poder disciplinar por meio da descrição critica de
suas práticas. O tema em questão foi abordado por Michel Foucault em sua obra Vigiar e Punir: história da
Violência nas Prisões, que servirá de guia ao longo dessa discussão. Trata-se de uma pesquisa de natureza
qualitativa, resultante de investigação bibliográfica, realizada a partir de estudos nacionais que abordaram
sobre: poder disciplinar, dispositivo panóptico, vigilância, punição e corpos dóceis. A busca de material para
construção deste artigo ocorreu por meio de consulta a livros, artigos e outras pesquisas publicadas na base
de dados, SciELO .A discussão possibilitou inferirmos que atualmente a disciplina integra o pensamento do
indivíduo, não sendo mais algo externo, ou seja, assemelha-se a uma forma de autodisciplina. Desse modo,
a disciplina passou a se utilizar de uma série de saberes que permitiram o controle das individualidades.

Introdução
Este artigo aborda a questão do poder disciplinar tratada na obra Vigiar e Punir: história da violência
nas prisões, de Michel Foucault. Frente a essa temática elegeu-se como objetivo discutir acerca das formas
históricas do poder avaliadas por Foucault, bem como sobre o ajustamento dos mecanismos punitivos as
diferentes relações de poder.
Nesse sentido trataremos de temas relevantes contidos na referida obra, escolhendo como questão
norteadora deste estudo, a caracterização do poder disciplinar através da descrição critica de suas práticas.
Nessa oportunidade Foucault traz a noção chave que as diferentes formas de punição identificadas ao longo
do tempo estariam diretamente ligadas aos tipos de exercício de poder existentes.
Ao longo deste estudo entendemos que toda forma de punição é escolhida em função do seu efeito,
que, sobretudo, deve estar vinculado aos objetivos do poder. Nesta perspectiva, optou-se por detalhar os
modos de punição e a diversas formas de reação dos condenados aos castigos e mecanismos punitivos
impostos, além de analisar criticamente as respostas dos supliciados as punições aplicadas, comumente
investidas de motivos políticos.
Diante do surgimento das prisões emerge uma nova configuração das relações de poder, bem como
se altera os objetivos do modo de punição. Com o surgimento das prisões a punição deixa de ser pública
passando a direcionar-se ao interior das prisões.
Desse modo, a transformação das formas punitivas da tortura soberana, cedeu lugar a um novo
regime de poder, sustentado na produção de saberes que de forma estratégica e sutil iria servir o poder
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através da modelagem dos indivíduos. Por fim, com o propósito de refletir acerca dessa nova forma de
poder, para isso utilizaremos neste artigo algumas questões essenciais tratadas por Foucault, dentre essas:
a docilização dos corpos, sanção normalizadora, vigilância e o dispositivo panóptico.

Metodologia
Foi realizada uma revisão de literatura abordando estudos e pesquisas acerca das noções chaves
que constituem o livro Vigiar e Punir: história da violência nas prisões, de Michel Foucault. Nesse sentido
foram contemplados além da ordem disciplinar, os dispositivos que a agregam força, através da ordenação
espacial, sanção normalizadora e o exame.
Os critérios utilizados para seleção do material analisado foram especificamente estudos que
problematizaram o ajustamento dos mecanismos punitivos as diferentes relações de poder. Buscamos
articular as noções de vigilância, docilização dos corpos e dispositivos disciplinares. Além disso, utilizou-se
primordialmente como material base para este artigo, as reflexões críticas expostas no livro “Vigiar e Punir:
história da violência nas prisões” Foucault (2008). A literatura apresentada foi coletada em bibliotecas e base
de dados SciELO. A procedência e o idioma foram de artigos nacionais e internacionais, publicados em
português.

Resultados e Discussão
Para Foucault as formas de punição passam por uma espécie de evolução, à medida que se
amoldam a dinâmica das novas formas de exercício de poder que surgem, isto é, há um ajustamento dos
mecanismos punitivos as diferentes relações de poder. Primeiramente descreve os suplícios ocorridos no
século XVII e XVIII na França. Estes suplícios compreendiam práticas em que corpos eram violentados e
esquartejados, marcadas por gritos desesperados de dor, pedidos de perdão e confissões públicas. Essa
forma de punir assemelhava-se a um ritual de atrocidades e torturas públicas. O descumprimento da lei
ocasionava aos criminosos um sequencia de atos violentos praticados em público (DREYFUS; RABINOW,
1995).
A tortura soberana era um ritual político onde se objetivava a demonstração de poder. O criminoso
deveria ter sua punição inscrita no corpo publicamente, pois somente desta maneira o poder do soberano
era explicitado, almejando assim, a inibição de condutas semelhantes e o temor de todos que
testemunhavam o suplício (DREYFUS; RABINOW, 1995). O ritual do suplicio denota uma desigualdade de
forças, onde um “superpoder” é apresentado em público sempre que suas determinações são infringidas
(FONSECA, 1995).
O intuito de tais espetáculos de tortura era propagar o medo, entretanto mostrava-se também como
espaço ideal para o surgimento de revoltas e movimentos de resistência. Para Foucault o poder necessita
de resistência para operar. Nesta perspectiva, reformadores humanistas argumentavam que este
mecanismo de punição baseava-se em excessos e frente a isto articularam um discurso em prol da
moderação da violência, em que o limite da punição “é a humanidade de cada sujeito” (DREYFUS;
RABINOW, 1995, p.163). Para os reformadores, as novas formas de punição precisariam, sobretudo,
minimizar as chances destes crimes se repetirem. Deste modo, os diferentes tipos de crime deveriam ser
classificados em suas peculiaridades de forma detalhada, para que as punições produzissem sofrimentos
proporcionais à gravidade do crime, ou seja, penas específicas para cada caso. O mecanismo das punições
generalizadas resultante da reforma penal do século XVIII é substituído pelo aprisionamento (FONSECA,
1995).
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Com o surgimento das prisões a violência não deveria mais ser inscrita no corpo, devido à produção
de um novo aparelho que monitorava o criminoso ambicionando a produção de “corpos dóceis”, tornando
desnecessárias a tortura e a confissão pública como formas de imposição do poder. Neste sentido vale
ressaltar que as prisões aparecem na obra de Foucault apenas como exemplo de uma tecnologia disciplinar
(DREYFUS; RABINOW, 1995).
As disciplinas não se limitam a instituições, pois compreendem métodos que possibilitam o controle
dos corpos, do tempo e do funcionamento destas instâncias, além de englobar discursos, leis, saberes
científicos, arquiteturas, noções morais, dentre outros. A disciplina se apropria dos sentimentos, hábitos e
daquilo que o indivíduo produz, envolve um conjunto de técnicas e estratégias que atuam sutilmente sobre
os modos de subjetivação. Por essa razão não pretende intimidar os corpos e sim torná-los dóceis
(FONSECA, 1995).
Vale frisar que esta disciplina mencionada por Foucault passa a ser utilizada em diferentes
instituições, incluindo prisões, escolas, hospitais e o Exército. Esta tecnologia colabora para ao aumento da
rentabilidade dos aparelhos de produção. Nesta realidade observa-se acumulação de capital e acumulação
dos indivíduos (FONSECA, 1995). "o poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e
retirar, tem como função maior adestrar; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e
melhor" (FOUCAULT 2008, p. 143).
Foucault menciona como instrumento da disciplina a vigilância, que consiste em um movimento de
observação constante de atitudes humanas. Neste contexto as instituições disciplinares transforma-se em
verdadeiros observatórios monitorados. Este mecanismo garante o controle destas atitudes caracterizando
uma vigilância hierarquizada, onde os superiores vigiam e controlam os inferiores (FONSECA, 1995).
Para viabilização deste instrumento as estruturas arquitetônicas também foram adaptadas, com o
propósito de facilitar o monitoramento passaram a estruturar-se no modelo Panóptico.

O modelo panóptico descrito por Bentham envolve duas construções básicas: uma
em forma de anel, localizada na periferia do conjunto, e a outra uma torre situada
estrategicamente no centro. O bloco em forma de anel é dividido em celas
individuais que atravessam toda a espessura da construção, contendo uma janela
para o interior do conjunto, ou seja, de frente para a torre central, e outra para o
exterior, permitindo assim que toda a cela seja iluminada. A torre, por sua vez
possui amplas janelas voltadas de frente para as celas. Está montado assim um
sistema ao mesmo tempo simples e complexo de vigilância (FONSECA, 1995 p.
54).

Assim destaca "o panóptico funciona como uma espécie de laboratório de poder. Graças a seus
mecanismos de observação, ganha eficácia e em capacidade de penetração no comportamento dos
homens" (FOUCAULT, 2008, p.169). O indivíduo que ocupa a torre consegue monitorar todos os
movimentos e ações dos indivíduos que ocupam as celas, entretanto em decorrência de um efeito luminoso
nas celas, o indivíduo observado não enxerga quem está na torre. Neste modelo de vigilância o indivíduo
supervisionado nunca tem plena certeza de que está sendo observado. Esta falta de certeza gera uma
vigilância interna e um automonitoramento contínuo, à medida que o sujeito torna-se o seu próprio vigia
(Fonseca, 1995).
Deste modo, a disciplina sutilmente se instaura, inscrevendo-se nas condições de pensabilidade e
ser do sujeito. Nesta possibilidade o individuo vigiado assume a posição de objeto observado. Por ser
impedido de ver, ele mesmo instaura a disciplina em si, não sendo necessária nenhuma intervenção violenta
do poder para consolidá-la. Assim, é possível pontuar que os métodos disciplinares contribuíram para
“docilização dos corpos”.

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Outro mecanismo usado para instauração da disciplina foi nomeado por Foucault de sanção
normalizadora. Trata-se de atitudes e comportamentos sutis que não são contemplados pelas leis, e que de
todo modo passam por uma normalização e punição, isto é, por uma micropenalização. "A penalidade
perpétua que atravessa todos os pontos e controla todos os instantes das instituições disciplinares compara,
diferencia, hierarquiza, homogeneíza, exclui. Em uma palavra, ela normaliza" (FOUCAULT, 2008 p.153).
Para Fonseca a sanção normalizadora consiste uma forma de vigilância dos pequenos atos, por
exemplo: discursos, formas de usar o corpo, atrasos, a forma de manifestar a sexualidade, falta de zelo
dentre outros. É importante mencionar que a “punição da sanção normalizadora, é o exercício da própria
observância da regra”. A aplicação desta sanção permite o treinamento de condutas para o ajustamento as
regras (Fonseca, 1995 p. 57).
O exame também surge na economia da disciplina como instrumento decorrente dos processos de
sanção normalizadora e vigilância. Através do exame que são descritos traços particulares e
individualidades. O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza. É um
controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir. (FOUCAULT, 2008 p. 154). É
por isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente ritualizado. O exame contém
observações minuciosas, fazendo com que cada indivíduo seja transformado em um caso.
Por fim, a partir disto, o indivíduo moderno é objetivado, fixado, sobretudo aprisionado em tais
individualidades (ex: crianças, loucos, condenados, etc). Desta maneira, observa-se o surgimento de
ciências clinicas do indivíduo e o aparecimento de novas áreas de pesquisa limitadas na produção de
dossiês que corroboram para manutenção das técnicas disciplinares e de controle (DREYFUS; RABINOW,
1995).
O poder disciplinar, passa, a partir da segunda metade do século XVIII, a ser integrado pelo
biopoder. Observamos na contemporaneidade uma generalização da disciplina, da bio-política, bem como
uma transição da “sociedade disciplinar” para “sociedade de controle”. A lógica do controle perpassa os
muros das instituições e desdobra-se por toda a sociedade, por meio da instauração de uma lógica de
mercado. O novo regime de dominação, não é guiado pela lógica industrial como nas sociedades
disciplinares, mas pela lógica de uma empresa (DANZIATO, 2010).
Assistimos a transformação da política em uma “bio-política” determinada, sobretudo, pelo processo
de medicalização e higienização dos corpos e pela generalização do dispositivo da sexualidade. Nesta
perspectiva a biologia da vida passa a ser alvo do poder e das técnicas políticas (DANZIATO, 2010).

Dizer que o poder, no século XIX, tomou posse da vida, dizer pelo menos que o
poder, no século XIX, incumbiu-se da vida, é dizer que ele conseguiu cobrir toda a
superfície que se estende do orgânico ao biológico, do corpo à população,
mediante o jogo duplo das tecnologias de disciplina, de uma parte, e das
tecnologias de regulamentação, de outra (FOUCAULT, 1999 p. 302).

Deleuze e Guatarri (1976) citado por Danziato (2010) colocam que o “bio- poder” contribuiu de
maneira significativa para instalação do capitalismo, tendo em vista que o corpo moderno e seus prazeres
são produzidos por este regime, de tal modo que o gozo do corpo entra nos cálculos do poder.
Por fim, atualmente prevalece o discurso médico e biopolítico. A vida simbólica do sujeito vai sendo
reduzida, além de passar por um processo de naturalização. A vida considerada agora não é mais a
simbólica, mas sim á vida orgânica. Frente a estas questões testemunhamos uma instauração da lógica do
“bio-poder”, nos processos de subjetivação contemporâneos.

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Conclusão
Considerando as reflexões acerca da obra Vigiar e Punir é possível concluir que o indivíduo imerso
em uma condição disciplinar é submetido a diversas formas de vigilância, controle e punição. Desse modo, o
poder atua almejando docilizar e adestrar as pessoas.
Em suma, a disciplina passou a se utilizar de uma série de saberes que permitiram o controle das
individualidades. Atualmente vivemos em sociedade do controle (Deleuze, 1990) embora essa constatação
não exclua a existência da disciplina nestas sociedades. A disciplina já faz parte da cultura, sendo sutilmente
internalizada desde o nascimento. Frente a essa realidade as instituições e a disciplina de uma forma geral
prescrevem comportamentos humanos homogêneos, por meio da organização espacial, horários, escala
hierárquica, e adestramento dos corpos.
Em nossa sociedade as condições de pensabilidade são determinadas pelos discursos da cultura.
Assim sendo, a disciplina hoje faz parte do pensamento, não é mais algo que vem de fora do indivíduo,
sendo uma espécie de autodisciplina. Sendo assim, a disciplina se inscreveu nas condições de
pensabilidade do ser humano.

Referências
DANZIATO, L. J. B. O dispositivo de gozo na sociedade de controle. Psicologia & Sociedade, 22(3), 430-
437. 2010. Recuperado em http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=309326440003

DANZIATO, L. As dimensões do corpo e a topologia cultural. Aletheia, (29), 129-141. 2009. Recuperado em
02 de maio de 2014, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942009000100011&lng=es&tlng=pt. .

DELEUZE, G. Pos-scriptum sobre as sociedades de controle. In. Deleuze, G. Conversações. pp. 219-226.
4ª reimpressão, 2004, tradução de Peter Pál Pelbart. Rio de Janeiro: Editora 34. 2004.

DREYFUS, H. L.; RABINOW, P. Michel Foucault: Uma trajetória filosófica. Tradução de Vera Porto
Carrero. Rio de Janeiro: Forense Universitária.1995.

FONSECA, M. A. A disciplina como estratégia política. In: FONSECA, M. A. Michel Foucault e a


construção do sujeito. pp. 39-68. São Paulo: EDUC. 1995.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 35. ed. Petrópolis:
Vozes, 2008.

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade. São Paulo: Editora Martins Fontes. 1999.

Agradecimentos
A Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FUNCAP.

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