Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Chaya Czernowin
Antes de começar... para a Réseau Varèse Konferenz 2007 em Berlim, me pediram pra
escrever um relato pessoal sobre a relação entre poética e política em meu trabalho e
sobre os vários efeitos que, devido à eu ter vivido em vários lugares, estiveram em meus
pensamento e música. Este artigo é uma resposta a este pedido.
Figura 1: Floresta
“Por que essa floresta parece tão familiar?” (Inglaterra, 1978). Eu tenho 19 anos e estou
olhando para uma floresta distante, tal qual eu nunca havia visto em Israel. A atmosfera,
as cores, os cheiros... tudo nela deveria ser novo. Nada parecido floresce da onde eu
venho, mas isto não é novo. Eu reconecto com um passado que meu corpo parece
recordar, possivelmente através dos meus pais, ambos nascidos no leste europeu. De
certa forma, essas árvores negras são um lar pra mim, mais do que a areia e o sol da
minha terra natal: esse é um lugar de melancolia, nostalgia e sonhos...
Figura 2: Nitzan
O Exército de Israel. Nós somos todas meninas, cerca de trinta de nós, dormindo em
uma grande tenda. Minha cama é próxima à da Nitzan. Ela é extremamente inteligente,
viciosamente articulada, e ela vem de uma kibbutz1. Nós discutimos durante todo o
tempo do treinamento. Ela afirma que ser um compositor é auto indulgente2 e não
oferece nada de volta ao país. Eu afirmo que quando cada indivíduo está realizado, o
país está fazendo o melhor. Ela venceu a discussão. Eu percebo que não tenho escolha a
não ser trair minha nação me tornando uma compositora antinacionalista.
Figura 3: Ramat Hasharon, 198083
Isso não é uma casa. Isso é mais como um celeiro no qual estamos vivendo. Está no
campo, e meu quarto não tem piso, apenas uma placa de concreto na terra. Meu quarto
não tem porta, apenas uma grande e transparente folha de plástico, deste modo a luz do
sol pode sempre entrar quando nós não estamos lá. Isto porque o quarto está cheio de
plantas. Há cerca de 150 vasos de planta em todo o lugar: no chão, pendurados no teto,
na mobília. É a minha selva privada. É onde eu trabalho, nesta grande mesa. É bem
quito aqui: os únicos sons são as gosta de água dos vasos pendurados após eu regar as
plantas. Nada me perturba escrevendo aqui, sem notícias, sem vizinhos.
Uma instalação comum em Israel, tipicamente um fazenda.
1
Auto indulgente – que desculpa os próprios atos ou decisões.
2
Figura 4 – Maim
200102. Sentada em minha sala em Encinitas, sul da Califórnia, um lugar de sol
interminável e “tenho um bom dia”. Eu estou compondo Maim (Israelita3 para água), eu
estou submersa na mágica, na transparente fluidez e energia do fenômeno “água”. Nas
minhas pausas, eu vou pro meu computador e conecto a internet para ler o jornal
israelense.
A Intifada4, em seguida o 11 de setembro, e o clima na América está crescendo escuro e
patriótico – as notícias da internet tem tanto peso que eu faço pausas cada vez mais
frequentes. As notícias derramaram dentro de Maim e minha preciosa e intangível
piscina está contaminada. Logo ela se solidifica e é subvertida em uma marcha. Eu olho
em meus projetos destruídos e percebo que Maim é uma documentação de um processo:
onde um protegido mundo poético rarefeito é inundado se tornando incapaz de se
sustentar enquanto são invadidos pelos grandes barcos da realidade. Embora isso soe
como um ato de destruição, na verdade não é. Pelo contrário, é o início de um processo
mais intrigante que muda transforma a peça a partir de um discurso insular dentro de
uma estrutura fechada em um diálogo mais vital, ousado, mais aberto e imprevisível.
Nesse momento, eu decido que a peça ainda não está fechada, e deve ser completada. I
sei que ela será uma peça bem longa. Assim como um diálogo entre parceiros opositores
possui seu tempo.
Primeiro Comentário:
Crescer em Israel, na época em que o país estava se estabelecendo como nação
independente, um artista era do mesmo modo adaptado à causa ou tinha que se rebelar e
manter uma forte resistência a toda essa arena política. O simples ato de fechar sua
porta, a fim de ficar sozinho e livre em sua sala, para criar música abstrata
independente... egoisticamente, isso era considerado rebelião. Quando todos estão tão
completamente engajados na tarefa coletiva de construir um estado, isso criou conflito.
Quando eu estava compondo na minha sala com as plantas, eu pensava que música
política era barata e fraca, e essa ideologia crescia no significado dos sons. A resistência
à política era uma posição de orgulho, afirmando autonomia ao meu trabalho.
A questão de identidade se tornou pertinente e urgente depois que sai de Israel. Durante
minha primeira estadia nos EUA e no Japão, minha música tentava quase
obcecadamente esticar a ideia de identidade: por dentro, eu estava explorando vozes
(ou identidades) separadas e contrastantes dentro de uma identidade ainda maior. Eu
estava investigando o quanto a dissidência e a diferença podem existir antes das
costuras começarem a rasgar, e, repentinamente, nós temos mais do que uma identidade.
Por fora, em contraste, diversos instrumentos tentam se “dissolver quimicamente” em
uma nova identidade compositiva, para então ver se dentro desta peça musical essa nova
identidade pode sustentarse. Como pode um ū (órgão de boca japonês), um
saxofone e um contrabaixo se tornarem um novo instrumento? Na obra Die
Kreuzung, os três instrumentos tentam se dissolver em um, mas é uma união
frágil. Os três tentam se manter em suas novas identidades juntos, mas
3
Israelita referese ao descendente do patriarca bíblico Jacó (Israel) ou ao descendente de qualquer das 12
tribos hebreias. Já israelense diz respeito ao estado de Israel ou aquele que é seu natural ou habitante.
4
Intifada levante palestino contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, começando
em 1987.
acabam caindo de volta em suas antigas e separadas identidades musicais. A
peça inteira é uma briga entre a força que força os três a se tornarem um só e
a força que força cada um de volta a ser ele mesmo, fiel à sua origem, sozinho.
Se perguntado nessa época, eu nunca teria dito que eu estava lidando com a
questão de identidade. Essa percepção, que hoje me parece tão clara e
elementar, veio muito mais tarde.
Figura 5: Uma Conversa
1985, Tokyo: uma conversa entre jovens compositores japoneses. Eles perguntaram
como eu me sinto sobre a música tradicional japonesa. Eu pergunto a eles como ELES
se sentem sobre isso (a música tradicional japonesa). Eles não sabem muito sobre. Eles
gastam todo o seu tempo aprendendo a tradição da música erudita ocidental.
Figura 6: Corredores
Andando no longo prédio da Universidade de Música e Artes Performáticas de Viena:
nos corredores – enormes grupos de estudantes coreanos. Um pensamento: os músicos
asiáticos são principais disseminadores da tradição musical europeia?
Figura 7: Uma Lista
A lista de compositores cursando a Akademie Schloss Solitude Summer Course esse ano
incluem um chinêsamericano, um mexicanoamericano, um taiwanêsamericano, um
canadense estudando na Alemanha, um eslovaco estudando nos EUA, um israelense
estudando na Alemanha, uns poucos americanos vivendo em Barcelona e em Paris, um
grego vivendo na Áustria, um italiano estudando nos EUA, três coreanos estudando em
Frankfurt, um chinês e um coreano estudando na Áustria, e assim por diante.
Segundo Comentário:
Uma parte da composição estudada hoje pode precisar incluir realocação, viajar para um
lugar diferente por um tempo substancial. Isso envolve experimentar em primeira mão
uma mudança de perspectiva: a realocação do ponto de referência.
Teoria: Um Excerto de um Imaginário Livro Composicional de Mudanças
Acompanhado de Traduções Secretas
1) Ao invés do tonalidades e suas formas fixas, cada compositor em cada peça deve
determinar a estrutura do trabalho. Cada obra tem que ensinar o ouvinte como ouvila: o
que importa, o que não importa, o que está na obra. Um padrão numa peça de Feldman é
diferentemente ouvida do que um padrão numa peça de Bernhard Lang. Nós escutamos
isso para ouvir coisas diferentes. Por que? Porque o contexto geral é diferente e tal
diferença é comunicada nos detalhes da composição. Isso é feito com absolutamente
nenhuma palavra. Isso significa que cada compositor tem que aprender a criar um
contexto para cada obra, e tornar esse contexto aparente através dos detalhes minuciosos
do trabalho e seus desdobramentos. Assim, não há palavras anexadas.
Tradução secreta: quando se vive em diferentes culturas, tem de se inferir os diferentes
contextos culturais observando os detalhes de comportamentos e o comportamento dos
detalhes. A necessidade de fazer uma decifração imediata entre as características
momentâneas do comportamento em relação ao contexto cultural maior (o ponto de
referência) é crucial. Fim da tradução.
2) Ao invés de contraponto, um diálogo entre conhecidos/estranhos que existem muito
distantes uns dos outros, ou um diálogo entre lados opostos ou divergentes existindo em
um corpo. Ou, mesmo em uma maneira mais diferenciada, formar um diálogo entre
duas diferentes obras do mesmo compositor ou mesmo um diálogo entre dois
compositores que compreende uma peça singular: discurso entre duas diferentes
identidades dentro de uma única peça, onde a ideia de que a peça tem sua própria
identidade singular unificada é quebrada.
Tradução Secreta: se a identidade, mesmo a identidade nacional, por exemplo, não é
tida como algo permanente, e é em algum degrau, desenvolta e heterogênea, então deve
se desenvolver a capacidade de reconhecer e viver com múltiplas identidades. Estas
identidades devem estar contidas de alguma maneira. A única maneira de contêlas é
criar um diálogo interno entre elas. Fim da tradução.
3) Ao invés de harmonia e progressão harmônica, barulhos inventados, barulhos do
cotidianos, elementos teatrais, linguagem e unidades sonoras musicais “puras” em
aglomerados de eventos sonoros, onde através de diferentes mídias, o contexto e
ressaltado e esclarecido. Se o material harmônico é diverso e não carrega o seu próprio
“código harmônico” nele mesmo, então sua progressão e desdobramento no tempo
poderia ser descoberto ao invés de prescrito.
Tradução Secreta: Nesse mundo de mudanças de identidades e contextos, os padrões
comportamentais prescritos nunca são suficientes. Surpresas e momentos imprevisíveis
sempre aparecem conforme tudo se desenrola no tempo. Trabalhar com diversos
elementos carregando diferentes potenciais energéticos, variando os graus de tensão,
peso, conectividade e dinâmicas, permite que se estude e emergência das várias
possibilidades de desdobramentos. Fim da tradução.
4) Ao invés de melodia ou um motivo, um átomo musical nu ou uma “partícula de
poeira”. Ao invés das máscaras dos estilos musicais, um discurso exposto, energia crua.
Quanto mais material se torna pulverizado em seu próprio “pó” ou em seus próprios
“átomos”, mais ele é libertado de seu uso e construção no passado; nesse estado o
material descarrega sua carga do passado, mas ganha mais fisicalidade e som (em
oposição a “melodia” por exemplo).
Tradução secreta: Por baixo do vestido da tradição, cultura, hábitos, etc., pessoas são
pessoas. Quando se está apto a ir além das diferenças culturais, nacionais e históricas, e
livrarse das máscaras que nos diferenciam, há um nível onde a pessoa se relaciona com
seu companheiro humano como um humano, indo além da nacionalidade, cultura e
história. Esta maneira de se relacionar corta através dos vários “estilos” para atingir um
núcleo que visa simplesmente a conexão, e revela o nacional ou histórico em uma nova
luz. Fim da tradução.
Todo compositor de música contemporânea é questionado: “Por que esta música é tão
feia, ambígua, difícil de compreender?” e assim por diante. Contemplando a função que
esta música tem no mundo, muitos compositores respondem que nós somos emissários,
os mensageiros. Nós relatamos subjetivamente o estado do mundo neste momento.
Eu gostaria de ir mais longe e sugerir que talvez nós não sejamos apenas emissários,
contemplando o presente em relação ao passado, mas talvez nós também servimos como
um trato digestivo para mente, um tipo de mente alargada, onde as dificuldades ou
materiais contraditórios são trabalhados por meio de sonhos, deliberadas, como uma
preparação para o futuro. Com certeza, a aparência desse trato digestivo não é das mais
atrativas, e ela está localizada na margem da nossa consciência. Todavia, o seu papel é
essencial. Cegos, nós podemos continuar a sobreviver, mas nós não podemos sem nossa
digestão.
Do livro de Jorge Luis Borges’ Dreamtigers, uma citação do poema “O Outro Tigre”:
Nós devemos procurar um terceiro tigre. Esse
Será como estes outros uma forma
Dos meus sonhos, um sistema de mundos
Um homem faz e não o tigre vertebrado
Que, além das mitologias,
Está pisando na terra. Eu sei bem o suficiente
Que alguma coisa me coloca nessa missão
Indefinida, insensata e antiga, e eu continuo
Buscando através da tarde
O outro tigre, o qual não está na poesia.5
5
De “O Outro Tigre” de Jorge Luis Borges’ Dreamtigers, traduzido por Mildred Boyer e Harold Morland
(Austin: Universidade do Texas, 1964), p. 71.