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04/12/2016 "É mentira dizer que a corrupção será derrotada pelo Direito Penal", afirma especialista ­ O Cafezinho

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“É mentira dizer que a corrupção será derrotada pelo


Direito Penal”, afirma especialista
04/12/2016 / Redação

 200  19  1  

Doutor em Direito escreve sobre combate à corrupção e faz críticas ao que ele chama de
monstro, um Frankenstein que está sendo criado dentro do Congresso sob premissa
irrevogável de que é possível acabar com a corrupção, custe o que custar.

No Justi cando

Em nome da luta contra a corrupção, gera-se mais corrupção

Por Rubens Casara 

Vive-se um momento delicado que conjuga o empobrecimento tanto da linguagem, típico


dos momentos de fascistização (que se caracterizam pela ode à ignorância, o medo da
liberdade e a aposta em soluções de força para os mais variados problemas) quanto do
imaginário (instaurou-se um modelo de pensamento simpli cador, incapaz de
compreender a complexidade dos fenômenos, a partir de imagens binárias e bélicas) com
um processo de mutação do simbólico, com a perda da importância dos limites ao
exercício do poder e dos valores transcendentes (tais como “a dignidade da pessoa
humana”, “os direitos fundamentais”, etc.) em proveito do regime valorativo das

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04/12/2016 "É mentira dizer que a corrupção será derrotada pelo Direito Penal", afirma especialista ­ O Cafezinho

mercadorias, de modo que nada (nem mesmo a ética ou os valores constitucionais) possa
ser tido como mais importante do que a livre circulação das mercadorias, o
desenvolvimento do espetáculo de imposição de penas, a implementação da visão de
mundo de atores jurídicos ou a satisfação dos desejos/ perversões da parcela da
sociedade que detém o poder econômico e/ou político.

Por tudo isso, não causa surpresa o tratamento simplista conferido aos fenômenos da
“violência” e da “corrupção”, bem como falhas na percepção da conexão entre esses dois
dados da realidade. A violência, por exemplo, só é percebida em seu sentido vulgar,
naquilo que Zizek chamou de “violência subjetiva”, a violência de uma pessoa contra outra,
o aspecto visível do fenômeno violência.

Esquece-se que, ao lado da violência vulgar, existe a violência estrutural/sistêmica (aquela


que é consequência do funcionamento e das perversões dos sistemas econômico, político
e, por evidente, do sistema de justiça) e a violência simbólica (a violência encarnada na
linguagem, i.e., na imposição de um universo de sentido, muitas vezes condicionado por
preconceitos, por pré-compreensões autoritárias). E o pior: não se enxerga que a violência
visível é, em regra, produto de uma outra, oculta.

Por desconhecer a conexão entre as diversas formas de violência, ações que, no plano do
discurso o cial, direcionam-se à redução da violência ou da corrupção, no lugar de reduzir
esses fenômenos, podem aumentá-los. E fazem isso, por exemplo, ao manter prisões
desnecessárias, determinar conduções coercitivas fora das hipóteses legais ou, o que se
tornou moda entre atores jurídicos que buscam o reconhecimento de um auditório
autoritário, decretar prisões cautelares (sem que exista uma condenação irrecorrível)
para obter delações e/ou con ssões, em clara instrumentalização da pessoa e Publicidade
consequente violação da dignidade humana.

O mesmo se dá em relação ao fenômeno corrupção. Corrupção, por de nição, é a violação


dos padrões normativos do sistema. Não raro, com a boa intenção (a mesma que enche o
inferno) de “combater a corrupção” do sistema político, acaba-se por corromper o sistema
de justiça e mesmo as bases democráticas.

Pense-se, por exemplo, no paradoxo que seria uma campanha, paga com dinheiro público,
com o objetivo de recolher assinaturas para um projeto de lei de iniciativa “popular”, na
qual se pede para “quem for contra a corrupção” assinar o documento, isso sem que os
signatários sejam informados do conteúdo do projeto, das repercussões constitucionais,
sociais ou mesmo econômicas das medidas propostas e, em especial, dos re exos do
projeto no campo das liberdades públicas: sem o necessário debate público, pautado por
informações corretas e dados con áveis, um projeto como esse corrompe-se em
instrumento de manipulação da população.

Pense-se, também, na violência sistêmica que a ampliação das hipóteses de prisão


preventiva para o “combate à corrupção” causaria, levando-se em consideração o quadro
de hiperencarceramento já existente e diante da constatação de que “para combater a
corrupção seriamente é preciso antes melhorar o sistema institucional de controle porque
o Direito Penal sempre chega tarde, quando o dano já está feito. É como dizer que punindo
o genocida, evita-se o genocídio. É justo punir o genocida e o corrupto, mas não vai
prevenir a corrupção nem evitar o genocídio. É mentira dizer que a corrupção vai ser
derrotada com o Direito Penal”.

Nos últimos dias, a população (que continua desinformada sobre o tema e, quando muito,
é levada a perceber a questão como uma “luta do bem contra o mal”) tem presenciado o
confronto (pontuado por declarações messiânicas e comentários dignos de um jogo de
várzea no qual se disputa para saber quem viola mais a legalidade democrática) entre os
idealizadores das chamadas “Dez medidas contra a corrupção” (que, vale esclarecer,

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inclusive para aqueles que assinaram a proposta de projeto sem ler, são bem mais do que
dez medidas… e muitas das quais contrárias à Constituição ou aos princípios éticos) e os
parlamentares que produziram mudanças no texto original.

Famoso ator jurídico (que, em razão da exploração midiática sobre um caso penal
transformado em espetáculo, todos sabemos também fazer palestras em igrejas
neopentecostais) chegou a a rmar que o Congresso Brasileiro estava a produzir um
Frankenstein (na realidade, a citação era ao “monstro” que Mary Shelley fez nascer das
mãos do Dr. Victor Fankenstein). E com certa razão (embora, aparentemente, o autor da
comparação desconheça que esse “monstro” da literatura foi pensado como um Prometeu
moderno).

O projeto aprovado é péssimo (criou, por exemplo, novas hipóteses de crime de


responsabilidade para magistrados e membros do Ministério Público a partir de conceitos
jurídicos indeterminados e abertos, o que é um risco não só à independência dos atores
jurídicos como também abrirá oportunidade ao arbítrio e aos controles ideológicos no
momento da aplicação da lei) e pode, de fato, ser chamado de um Monstro.

Todavia, os defensores das “Dez medidas” patrocinadas pelo MPF (na tentativa de criar,
como percebeu o jurista Marcelo Semer, “um código para chamar de seu”) esquecem que o
texto inicial, se não era um Frankenstein (na medida em que é integralmente voltado à
ampliação do poder penal, mesmo que isso custe o afastamento da legalidade
democrática), poderia ser chamado de um zumbi de tendências fascistas, no qual o desejo
de “comer cérebros”, imortalizado nos lmes de George A. Romero, foi substituído pelo
desejo de relativizar e afastar direitos e garantias fundamentais. Um projeto “zumbi”, vale
frisar, porque parcela considerável da população assinou e foi levada a apoiar uma Publicidade
alteração legislativa sem conhecer o conteúdo do projeto ou ter consciência das
consequências de sua aplicação.

O que há de comum entre o projeto zumbi originário e o “monstro” criado pela Câmara
dos Deputados? A crença, por vezes ingênua, por vezes repetida por má-fé, na lei penal
para resolver os mais variados e graves problemas sociais. Se as “dez medidas” originais,
em nome da “guerra contra a corrupção”, corrompiam o sistema de direitos e garantias
individuais, o texto aprovado na Câmara dos Deputados corrompe o sistema de
prerrogativas necessário à atuação dos atores jurídicos. Leis que são apresentadas como
soluções mágicas para problemas complexos como a corrupção e a violência, mas que
acabam por gerar mais corrupção e violência. Leis que não funcionam e que serão
substituídas por novas leis penais que também não vão funcionar.

Publicado em: Política

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