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A mensagem de marketing era clara: mesmo bebedores de cerveja que acham que
gostam de outra marca preferem Schlitz num teste cego. Para a inserção no Super Bowl, a
Schlitz chegou a contratar um ex-árbitro da NFL para supervisionar o teste. Dada a
natureza arriscada de conduzir testes cegos de sabor diante de audiências enormes ao
vivo na televisão, pode-se presumir que a Schlitz produziu uma cerveja espetacularmente
saborosa, certo?
A Schlitz fez algo mais inteligente. A genialidade da campanha foi conduzir o teste
de sabor exclusivamente entre bebedores que declaravam preferir uma cerveja
concorrente. Se o teste cego é de fato apenas um cara ou coroa, então metade dos
bebedores de Budweiser, Miller ou Michelob acabarão escolhendo a Schlitz. Isso faz a
Schlitz parecer realmente boa. Metade dos bebedores da Bud gostam mais da Schlitz!
Eis que chega a estatística para o salvamento! Se houvesse algum tipo de super-
herói estatístico,a seria aí que ele, ou ela, teria invadido o quartelgeneral corporativo da
Schlitz e revelado os detalhes do que os estatísticos chamam de experimento binomial
(também chamado de teste de Bernoulli). As características fundamentais de um
experimento binomial são que temos um número fixo de tentativas (por exemplo, cem
provadores de sabor), cada uma com dois resultados possíveis (Schlitz ou Michelob), e a
probabilidade de “sucesso” é a mesma em cada tentativa. (Estou pressupondo que a
probabilidade de escolher uma cerveja ou outra seja de 50% e estou definindo como
“sucesso” o fato de um provador escolher a Schlitz.) Presumimos também que todas as
“tentativas” sejam independentes, o que significa que a decisão de um provador no teste
cego não tem qualquer impacto sobre a decisão de qualquer outro provador.
Vamos supor que a Schlitz teria ficado satisfeita se pelo menos quarenta dos cem
provadores escolhessem sua cerveja – um número impressionante, considerando que
todos os homens participando do teste cego haviam professado sua preferência pela
Michelob. Um resultado pelo menos tão bom era bastante provável. Se o teste de sabor é
realmente como um cara ou coroa, então a probabilidade básica nos diz que havia 98% de
chance de que pelo menos 40% dos provadores escolhessem a Schlitz e 86% de chance de
que pelo menos 45% dos provadores a escolhessem.b Em teoria, não era absolutamente
uma jogada muito arriscada. Então, o que aconteceu com a Schlitz? No intervalo de meio-
tempo do Super Bowl de 1981, exatamente 50% dos bebedores de Michelob escolheram a
Schlitz no teste cego de sabor. Aqui há duas lições importantes: probabilidade é uma
ferramenta extraordinariamente poderosa e muitas cervejas líderes de mercado na década
de 1980 eram indistinguíveis uma da outra. Este capítulo terá como foco principal a
primeira lição.
WHEELAN, Charles. Estatística. O que é, para que serve, como funciona. Zahar. Rio de
Janeiro, RJ. 2016.