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Universidade Federal do Ceará

Centro de Humanidades
Programa de Pós-graduação em História

Disciplina: Estudos Avançados em História Social.


Prof. Dr. Francisco Régis Lopes
Discente: Carolina Maria Abreu Maciel

Para esta análise nos utilizamos de duas versões traduzidas do texto “Teses sobre
o conceito de História”, de Walter Benjamin publicadas pelas editoras Autêntica e
Brasiliense. A primeira contida no livro O anjo da História, organizada e traduzida pelo
ensaísta português João Barrento1, tendo sido publicada em 2012. Já a versão publicada
pela Brasiliense, teve sua primeira edição no ano de 1994 e foi traduzida pelo diplomata
Sérgio Paulo Rouanet2, na coletânea Obras Escolhidas, volume 1, tendo como prefácio
o texto de Jeanne-Marie Gagnebin.

Optamos por começar a análise dos textos pela tradução de Sérgio Rouanet, pois
a publicação do primeiro volume das Obras Escolhidas, de W. Benjamin pela
Brasiliense, de acordo com Jeanne-Marie Gagnebin, é publicada em 1985 (analisamos a
7ª edição impressa em 1994) no boom benjaminiano, no exterior e no Brasil, do início
da década de 1980.

Sob o título Sobre o conceito da História, a edição da editora brasiliense nos


apresenta as 18 teses e os dois apêndices com muitas diferenças em relação ao texto
traduzido por João Barrento, inclusive não somente por conta do uso dos sinônimos,
mas também, com palavras com sentido diferentes ou totalmente contrárias, como por

1
João Barrento licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
(1964) e em 1986 tornou-se professor de Literatura Alemã e Comparada.
2
Sérgio Paulo Rouanet é um diplomata, filósofo, professor universitário, tradutor e ensaísta brasileiro. É
membro da Academia Brasileira de Letras desde 1992.
exemplo, na tese de número 5 que a palavra “passado” é substituída por presente, na
tradução de Rouanet.

“A verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só deixa de fixar, como


imagem que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecido. ‘A
verdade nunca nos escapará’ – essa frase de Gottfried Keller caracteriza o ponto exato
em que o historicismo se separa do materialismo histórico. Pois irrecuperável é cada
imagem do presente que se dirige ao presente, sem que esse presente se sinta visado por
ela”. (Obras Escolhidas)
“A verdadeira imagem do passado passa por nós de forma fugidia. O passado só pode
ser apreendido como imagem irrecuperável e subitamente iluminada no momento do
seu reconhecimento. ‘A verdade não nos foge’: essa fórmula de Gottfried Keller
assinala, na concepção da história própria do historicismo, precisamente o ponto em que
essa concepção é destruída pelo materialismo histórico. Porque é irrecuperável toda a
imagem do passado que ameaça desaparecer com todo o presente que não se reconheceu
como presente intencionado nela”. (O Anjo da História)

No exemplo acima, o fato da troca das palavras “passado” e “presente” vai


ocasionar uma deformação, no meu entender da tese. Pois que a proposta de Benjamin,
ao se referir sobre uma possível recuperação do passado, que “ameaça desaparecer”,
pelo não reconhecimento deste pelo presente, perde o sentido na tradução da tese de
Rouanet.
Outra diferença que é possível identificar, ainda, nessa tese é a proposta de
crítica ao historicismo. Lógico que a crítica a essa forma de escrever a história perpassa
em todas as teses, dos dois tradutores, mas há uma diferença, que para mim é de
extrema importância, pois que há uma radicalidade quando se compara o significado de
separação ao de destruição. Pois no primeiro exemplo, ao citar Keller, Benjamin (na
tradução de Rouanet) apenas mostra que ali significa o ponto de separação do
historicista ao materialista histórico. Já na segunda versão, de Barrento, esse ponto não
mostraria a separação, mas sim marcaria a destruição da concepção historicista pelo
materialismo histórico.
Outro ponto que destaco na tradução de Rouanet, aqui não sei se seria a edição
ou não, são os constantes erros ortográficos, que não seria tão prejudicial, pois não afeta
tanto a leitura. Umas das grandes diferenças entre as duas versões está no tocante as
notas, pois João Barrento faz questão de referenciar vários autores trazidos por
Benjamin, dando ao leitor uma ajuda, ou pelo menos facilita, a leitura de certas
provocações que Benjamin faz na escritura das teses.
Como já afirmei no início desse texto, muitas palavras são trocadas ou
substituídas por sinônimos pelo autor da tradução da Brasiliense, descaracterizando o
caráter messiânico/revolucionário da escrita de Benjamin. De acordo com Michel Löwy,
no livro Aviso de incêndio (), o caráter teológico da escrita de Benjamin, quando este
vai tratar de uma rememoração do passado, dos atores do passado pelo presente (mais
claro na tese 2) em busca de uma redenção e reparação de injustiças com os oprimidos
do passado. Löwy (p. 49-50) vai citar uma passagem o livro Das Passagen-Werk, onde
Benjamin vai deixar essa proposta de reparação redentora do passado pelas gerações
futuras mais evidente. No caso específico da tese 2, a história (escrita pelo materialista
histórico) não deve perder seu caráter redentor que se daria pela rememoração históricas
das vítimas (oprimidos) do passado, sendo que essa rememoração do passado pelo
presente e, esse passado “iluminado” pelo presente daria força para a vitória dos
oprimidos no presente na permanente luta entre as classes.
Estes são apenas alguns exemplos que nos dão subsídios para identificar as
propostas defendidas pelos dois tradutores da obra de Walter Benjamin. Na minha
análise do texto de Rouanet, pude identificar uma proposta sem imperativo à ação do
historiador, característica presente na obra de Benjamin. As teses, nesta tradução, me
parecem como um manual a ser seguido pelo historiador que quer se diferenciar do
historicismo (seria uma opção a ser escolhida), que para Benjamin se dá por um
“procedimento aditivo”, e da teoria social-democrata do progresso, este seguirá o
caminho proposto pelo materialismo histórico. Já minha leitura das teses, na versão de
João Barrento, pude encontrar esse chamado, não mais como uma possibilidade de
diferenciação teórica, mas como um dever do historiador, por uma escrita da História
como ação transformadora do presente (revolucionária).
Gagnebin (1982), em seu quarto capítulo Memória e Libertação, da obra Walter
Benjamin. Os cacos da história, busca fazer uma reflexão à luz dos escritos de benjamin
sobre a história. A autora vai trazendo as críticas ao historicismo e a teoria da social-
democracia feitas por Benjamin ao longo de suas obras, principalmente em suas teses
sobre o conceito de história. Gagnebin dá ênfase a proposta de Benjamin de uma escrita
da história dos vencidos, que para o autor necessita de uma memória que não vai estar
estampada nos livros de história oficiais. Assim, Benjamin, em sua filosofia da história
vai apresentar uma teoria da memória e da experiência (Erfahrung). E, é por meio desse
conceito de experiência que o autor vai propor sua escrita da história a contrapelo, uma
história inacabada que daria a possibilidade de outras interpretações, assim
verossimilhante ao exemplo das sementes mantidas no vácuo dentro das pirâmides.
Com a leitura desse texto de Gagnebin, pudemos compreender como funciona a
proposta de elo entre o marxismo e teologia que permeia todas as teses e grande parte da
obra benjaminiana. É, também, a partir desse texto que a leitura da tese número 9 ficou
mais clara, pois que a autora vai explicar sobre a alegoria do anjo da história e, como a
partir dela, o desejo que Benjamin expressa de uma escrita da história que possa salvar o
passado e, ao mesmo tempo, utilizar-se dele para reatualizar a experiência e dar outra
tessitura a história dos vencidos.
No tocante ao texto de François Hartog (2017), o autor vai analisar três obras de
arte, incluindo o quadro Angelus Novus, de Paul Klee, para desenvolver ou explicitar
sua teoria sobre sua teoria dos Regimes de Historicidade. Pegando o primeiro quadro, o
autor vai demonstrar o choque de temporalidades expresso em sua encenação, que num
primeiro momento se encaixa no regime antigo e, depois, que traz na figura de
Napoleão, dois traços da História moderna.
Ao analisar o quadro de Klee, que Benjamin viu sendo o Anjo da História,
Hartog vai afirmar que essa alegoria do conceito de História não está mais dentro do
regime da historia magistra e nem, tampouco, no regime moderno. No caso Hartog,
afirma que com o desgaste do futurismo, as teses de Benjamin vão ser tomadas como
outra forma de se pensar o passado, um outro conceito de História. Dessa forma, a
figura do progresso passou a ser contestada, o regime moderno findou-se e, a partir daí,
firma-se o regime presentista.
A imagem a seguir, Papoula e memória – O anjo da História, que o autor afirma
fazer referência à Benjamin e a Paul Celan, vem, ao meu ver, corroborar essa ideia do
presentismo, pois que se nos apropriamos do anjo benjaminiano, o qual o vento do
progresso empurra-o para o futuro, o anjo de Kiefer está prostrado ao chão, como ele
mesmo sendo uma ruína, trazendo a mim uma imagem do passado preso, um tempo
parado, morto no regime presentista, o que não identifico com a proposta revolucionária
de Walter Benjamin, onde cabe a nós vencermos o inimigo e, assim, “despertar no
passado as centelhas da esperança”.

Referências bibliográficas

BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história. In.: Magia e Técnica, Arte e Política -


ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas, volume I, 2ª edição, São
Paulo: Editora Brasiliense, 1994. P.222-232.
______. Teses sobre o conceito de História. In.: O Anjo da História. Belo. Horizonte:
Autêntica Editora, 2012. P. 7-20.

LÖWY, Michel. Walter Benjamin: aviso de incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o
conceito de História”. São Paulo, Boitempo, 2005.

HARTOH, F. Sobre três alegorias da história. In.: Crer em historiografia. Belo


Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

GAGNEBIN, Jeanne-Marie. Memória e Libertação. In.: Walter Benjamin. Os cacos da


história. São Paulo: Brasiliense, 1993. 2ª Ed.

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