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LORENA FORTUNA CIRQUEIRA

7º SEMESTRE- FACULDADE LUCIANO FEIJÃO-NOITE

PROFESSOR: ALEXANDRE PINTO MOREIRA

A SOCIEDADE EM REDE- Manuel Castells

Sobral-CE, 06 de junho de 2016.


Portanto, embora as economias do final do século XX apresentem uma clara
diferença das anteriores à Segunda Guerra Mundial, a característica distintiva
desses dois tipos de economia não parece ter como base principal a fonte do
crescimento de sua produtividade. A distinção apropriada não é entre uma economia
industrial e uma pós-industrial, mas entre duas formas de produção industrial, rural e
de serviços baseadas em conhecimentos. Como afirmei nos primeiros capítulos
deste livro, o que é mais distintivo em termos históricos entre as estruturas
econômicas da primeira e da segunda metade do século XX é a revolução nas
tecnologias da informação e sua difusão em todas as esferas de atividade social e
econômica, incluindo sua contribuição no fornecimento da infraestrutura para a
formação de uma economia global. Portanto, proponho mudar a ênfase analítica do
pós-industrialismo (uma questão pertinente de previsão social ainda sem resposta
no momento de sua formulação) para o informacionalismo. Nesta perspectiva, as
sociedades serão informacionais, não porque se encaixem em um modelo específico
e estrutural, mas porque organizam seu sistema produtivo em torno de princípios de
maximização da produtividade baseada em conhecimentos, por intermédio do
desenvolvimento e da difusão de tecnologias da informação e pelo atendimento dos
pré-requisitos para sua utilização (principalmente recursos humanos e infraestrutura
de comunicações). [pág. 269]

Portanto, calculando-se o índice de emprego do setor de serviços em relação


ao industrial (nosso indicador da "economia de serviços"), verifica-se apenas um
aumento moderado na maioria dos países entre 1920 e 1970. Somente os Estados
Unidos (alteração de 1,1 para 2,0) e o Canadá (1,3 para 2,0) assistiram a um
aumento significativo da proporção relativa de emprego no setor de serviços,
durante o período que chamei de pós-rural. Nesse sentido, é verdade que os EUA
foram o líder da estrutura do mercado de trabalho típica da economia de serviços.
Desse modo, quando a tendência para os empregos no setor de serviços acelerou e
generalizou-se no período pós-industrial, os EUA e o Canadá aumentaram ainda
mais a predominância de seus setores de serviços, com índices de 3,0 e 3,3,
respectivamente. Todos os outros países seguiram a mesma tendência, mas em
velocidades diferentes, atingindo, portanto, diferentes níveis de desindustrialização·
Enquanto o Reino Unido, a França e a Itália parecem estar no mesmo caminho, a
América do Norte, o Japão e a Alemanha destacam-se claramente como fortes
economias industriais, com taxas inferiores de aumento de emprego no setor de
serviços e índices de emprego mais baixos no setor de serviços em relação ao setor
industrial: 1,8 e 1,4, respectivamente, em 1987-90. Essa observação é fundamental
e merece discussão cuidadosa mais adiante. Mas, como tendência, na década de
1990 a maior parte da população dos países do G-7 está empregada no setor de
serviços. [pág. 273-274].

Tentemos, agora, avaliar algumas das teses tradicionais sobre pós


industrialismo à luz da evolução do mercado de trabalho desde 1970, mais ou
menos no momento em que Touraine, Bell, Richta e outros primeiros teóricos da
nova sociedade informacional publicavam suas análises. Em termos de atividade, os
serviços relacionados à produção e os serviços sociais eram considerados típicos
das economias pós-industriais, tanto como fontes de produtividade quanto como
respostas às demandas sociais e à mudança de valores. Se agruparmos os
empregos em serviços relacionados à produção e os de serviços sociais,
observaremos um aumento substancial no que poderia ser rotulado de a categoria
dos serviços pós-industriais" em todos os países entre 1970 e 1990: de 22,8% para
39,2% no Reino Unido; de 30,2% para 39,5% nos EUA; de 28,6% para 33,8% no
Canadá; de 15, 1% para 24,0% no Japão; de 20,2% para 31, 7% na Alemanha; de
21,l % para 29,5% na França (os dados italianos de nossa base de dado não
possibilitam nenhuma avaliação séria dessa tendência). Portanto, a tendência existe,
mas é irregular, visto que começa de uma base muito diferente em 1970: os países
anglo-saxônicos já haviam desenvolvido uma sólida base d~ emprego em serviços
avançados, enquanto o Japão, a Alemanha e a França mantinham um nível de
emprego muito mais alto na indústria e na agricultura. Assim, observamos dois
caminhos diferentes na expansão do emprego em serviços "pós-industriais": um, o
modelo anglo-saxônico, que desloca da indústria para os serviços avançados,
mantendo o emprego nos serviços tradicionais; o outro, o modelo japonês/alemão
que tanto expande os serviços avançados quanto preserva fase industrial, ao
mesmo tempo em que absorve algumas das atividades de serviços no setor
industrial. A França está em posição intermediária, embora tendendo para o modelo
anglo-saxônico. [pág. 279]

Concordo que a maior parte da força de trabalho das economias avançadas é


assalariada. Mas a diversidade dos níveis, a irregularidade do processo e a reversão
da tendência em alguns casos demandam uma visão diferencial dos padrões da
evolução da estrutura ocupacional. Poderíamos até mesmo formular a hipótese de
que conforme a atuação em rede e a flexibilidade se tomam características da nova
organização industrial e conforme as novas tecnologias possibilitam que as
pequenas empresas encontrem nichos de mercado, assistimos ao ressurgimento do
trabalho autônomo e da situação profissional mista. Dessa forma, o perfil profissional
das sociedades informacionais, de acordo com sua emergência histórica, será muito
mais diverso que o imaginado pela visão seminaturalista das teorias pós-
industrialistas, direcionadas por um etnocentrismo norte-americano que não
representa toda a experiência dos Estados Unidos. [pág. 286]

A evolução histórica do emprego, no âmago da estrutura social, foi dominada


pela tendência secular para o aumento da produtividade do trabalho humano.
Conforme as inovações tecnológicas e organizacionais foram permitindo que
homens e mulheres aumentassem a produção de mercadorias com mais qualidade
e menos esforço e recursos, o trabalho e os trabalhadores mudaram da produção
direta para a indireta, do cultivo, extração e fabricação para o consumo de serviços e
trabalho administrativo e de uma estreita gama de atividades econômicas para um
universo profissional cada vez mais diverso. [pág. 293]

Mas a trajetória da criatividade humana e do progresso econômico através da


história tem sido contada em termos simplistas, portanto obscurecendo o
entendimento não só de nosso passado, mas também de nosso futuro. A versão
costumeira desse processo de transição histórica que mostra uma alteração da
agricultura para a indústria e depois para serviços como estrutura explicativa da
transformação atual de nossas sociedades, apresenta três falhas fundamentais: (1)
Supõe homogeneidade entre a transição da agricultura à indústria e da indústria a
serviços, desconsiderando a ambiguidade e a diversidade interna das atividades
incluídas sob o rótulo de "serviços". Não presta atenção suficiente à natureza
verdadeiramente revolucionária das novas tecnologias da informação, que, ao
permitirem uma conexão direta on-line entre os diferentes tipos de atividade no
mesmo processo de produção, administração e distribuição, estabelecem uma
estreita conexão estrutural entre esferas de trabalho e emprego, separadas de forma
artificial por categorias estatísticas obsoletas. Esquece a diversidade cultural,
histórica e institucional das sociedades avançadas, bem como sua interdependência
na economia global. Assim, a alteração para o paradigma sociotécnico da produção
informacional ocorre em linhas diferentes, determinadas pela trajetória de cada
sociedade e pela interação entre essas várias trajetórias. O resultado é uma
diversidade de estruturas ocupacionais/do emprego existente no paradigma comum
da sociedade informacional. [pág. 293]

Não significa que as qualificações especializadas, a educação, as condições


financeiras nem o sistema de estratificação das sociedades em geral tenham
melhorado. O impacto de uma estrutura do emprego, de certa forma valorizada,
sobre a estrutura social dependerá da capacidade de as instituições incorporarem a
demanda de trabalho no mercado de trabalho e valorizarem os trabalhadores na
proporção de seus conhecimentos. [pág. 294]

Além disso, diferentes modos de articulação com a economia global não são
resultantes apenas de diferentes ambientes institucionais e trajetórias econômicas,
mas de políticas governamentais e estratégias empresariais diversas. Portanto, as
tendências observadas podem ser revertidas. Se as políticas e as estratégias
conseguem modificar a mescla de indústrias e serviços de uma determinada
economia, quer dizer que as variações do paradigma informacional são tão
importantes quanto sua estrutura básica. É um paradigma aberto socialmente e
administrado politicamente, cuja característica principal é tecnológica. [pág. 296]

As práticas de produção enxuta, redução do quadro· funcional,


reestruturação, consolidação e administração flexível são induzidas e possibilitadas
pelo impacto interligado da globalização econômica e difusão das tecnologias da
informação. Os efeitos indiretos dessas tecnologias sobre as condições de trabalho
em todos os países são muito mais importantes que o impacto mensurável do
comércio internacional ou do emprego internacional direto. [pág. 304]

Então a nova tecnologia da informação está redefinindo os processos de


trabalho e os trabalhadores e, portanto, o emprego e a estrutura ocupacional.
Embora um número substancial de empregos esteja melhorando de nível em relação
a qualificações e, às vezes, a salários e condições de trabalho nos setores mais
dinâmicos, muitos empregos estão sendo eliminados gradualmente pela automação
da indústria e de serviços. São, geralmente, trabalhos não especializados o
suficiente para escapar da automação, mas são suficientemente caros para valer o
investimento em tecnologia para substituí-los. Qualificações educacionais cada vez
maiores, gerais ou especializadas, exigidas nos cargos requalificados da estrutura
ocupacional segregam ainda mais a força de trabalho com base na educação que,
por si só, é um sistema altamente segregado, porque a grosso modo corresponde
institucionalmente a uma estrutura residencial segregada, mão-de-obra
desvalorizada, em particular nos cargos iniciais de uma nova geração de
trabalhadores formada por mulheres, minorias étnicas, imigrantes e Jovens, esta
concentrada em atividades de baixa qualificação e mal pagas, bem como no
trabalho temporário e/ou serviços diversos. A divisão resultante dos padrões de
trabalho e a polarização da mão-de-obra não são necessariamente consequências
do progresso tecnológico ou de tendências evolucionárias inexoráveis (por exemplo:
o desenvolvimento da "sociedade pós-industrial" ou da "economia de serviços). E
determinada socialmente e projetada administrativamente no processo da
reestruturação capitalista que ocorre em nível de chão de fábrica: dentro da
estrutura e com a ajuda do processo de transformação tecnológica, principal aspecto
do paradigma informacional. Nessas condições, o trabalho, o emprego e as
profissões são transformados, e o próprio conceito de trabalho e Jornada de trabalho
podemos passar por mudanças definitivas. [pág. 315]

Dada a importância do tema, instituições internacionais, governos e


pesquisadores têm feito esforços extraordinários para avaliar o impacto das novas
tecnologias. Conduziram-se muitos estudos com técnica sofisticada nos últimos
quinze anos, principalmente na década de 1980, quando ainda havia esperança de
que os dados pudessem fornecer respostas. A leitura desses estudos revela a
dificuldade da busca. É claro que a introdução de robôs em uma linha de montagem
reduz a jornada do trabalho humano para determinado nível de produção. Mas não
significa que isso diminua os empregos da empresa nem mesmo do setor. Se a
qualidade superior e a maior produtividade conseguida com a introdução de
máquinas eletrônicas aumentassem a competitividade, tanto a empresa como o
setor precisariam aumentar os empregos para atender à maior demanda resultante
de uma fatia maior de mercado. Desse modo, levanta-se a questão em âmbito
nacional: a nova estratégia de crescimento implicaria aumento de competitividade à
custa da redução do emprego em alguns setores, enquanto o superávit gerado
dessa forma seria usado para investir e criar postos de trabalho em outros setores,
como serviços empresariais ou indústrias de tecnologia ambiental. Em última
instância, o resultado líquido do emprego dependerá da concorrência entre as
nações. Os teóricos do comércio então argumentariam que esta não é uma equação
de resultado zero, visto que uma expansão do comércio global beneficiaria a maioria
de seus parceiros, aumentando a demanda geral. De acordo com esse raciocínio,
talvez haja uma redução potencial do emprego em consequência da difusão das
novas tecnologias da informação, apenas se: a expansão da demanda não
contrabalança o aumento da produtividade da mão-de-obra; e não houver reação
institucional a essa desproporção, reduzindo a jornada de trabalho, não os
empregos. [pág . 320]

Então, a tecnologia da informação em si não causa desemprego, mesmo que,


obviamente, reduza o tempo de trabalho por unidade de produção. Mas, sob o
paradigma informacional, os tipos de emprego mudam em quantidade, qualidade e
na natureza do trabalho executado. Assim, um novo sistema produtivo requer uma
nova força de trabalho e os indivíduos e grupos incapazes de adquirir
conhecimentos informacionais poderiam ser excluídos do trabalho ou rebaixados.
Além disso, como a economia internacional é uma economia global, o desemprego
reinante concentrado em alguns segmentos da população (por exemplo, a juventude
francesa) e em algumas regiões (como as Astúrias) poderá tornar-se ameaça na
área da OCDE, se a concorrência global for irrestrita e se o "método da
regulamentação" das relações capital/trabalho não for modificado. [pág. 328]

As instituições e organizações sociais de trabalho parecem desempenhar um


papel mais importante que a tecnologia na causação da criação ou destruição do
emprego. Todavia, embora a tecnologia em si não gere nem elimine empregos, ela,
na verdade, transforma profundamente a natureza do trabalho e a organização da
produção. A reestruturação de empresas e organizações, possibilitada pela
tecnologia da informação e estimulada pela concorrência global, está introduzindo
uma transformação fundamental: a individualização do trabalho no processo de
trabalho. Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da assalariação
do trabalho e socialização da produção que foi a característica predominante da era
industrial. A nova organização social e econômica baseada nas tecnologias da
informação visa a administração descentralizadora, trabalho individualizante e
mercados personalizados e com isso segmenta o trabalho e fragmenta as
sociedades. As novas tecnologias da informação possibilitam, ao mesmo tempo, a
descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa de
comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os andares de um
mesmo edifício. O surgimento dos métodos de produção enxuta segue de mãos
dadas com as práticas empresariais reinantes de subcontratação, terceirização,
estabelecimento de negócio no exterior, consultoria, redução do quadro funcional e
produção sob encomenda. [pág. 330]

A difusão da tecnologia da informação na economia não causa desemprego


de forma direta. Pelo contrário, dadas as condições institucionais e organizacionais
certas, parece que, a longo prazo, gera mais empregos. A transformação da
administração e do trabalho melhora o nível da estrutura ocupacional e aumenta o
número dos empregos de baixa qualificação. O crescimento do comércio e dos
investimentos globais em si não parece ser o principal fator causal da eliminação
dos empregos e degradação das condições de trabalho no Norte, ao mesmo tempo
em que contribui para a criação de milhões de empregos nos países recém-
industrializados. Todavia, o processo de transição histórica para uma sociedade
informacional e uma economia global é caracterizado pela deterioração das
condições de trabalho e de vida para uma quantidade significativa de trabalhadores.
Essa deterioração assume formas diferentes nos diferentes contextos: aumento do
desemprego na Europa; queda dos salários reais (pelo menos até 1996),
aumentando a desigualdade, e instabilidade no emprego nos Estados Unidos;
subemprego e maior segmentação da força de trabalho no Japão; "informalização" e
desvalorização da mão-de-obra urbana recém-incorporada nos países em
desenvolvimento; e crescente marginalização da força de trabalho rural nas
economias subdesenvolvidas e estagnadas. Como já foi dito, essas tendências não
se originam da lógica estrutural do paradigma informacional, mas são o resultado da
reestruturação atual das relações capital-trabalho, com a ajuda das poderosas
ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias da informação e facilitadas por uma
nova forma organizacional, a empresa em rede. Além disso, embora o potencial das
tecnologias da informação pudesse ter propiciado simultaneamente maior
produtividade, melhor qualidade de vida e maior nível de emprego, visto que certas
opções tecnológicas estão em operação, as trajetórias tecnológicas estão
"travadas", e a sociedade informacional pode se tomar ao mesmo tempo (sem
necessidade tecnológica ou histórica para tanto) uma sociedade dual. [pág. 345]

A nova vulnerabilidade da mão-de-obra sob condições de flexibilidade


imoderada não afeta apenas a força de trabalho não-qualificada. A força de trabalho
permanente, embora mais bem-paga e mais estável é submetida à mobilidade com
o encurtamento do período de vida profissional em que os trabalhadores
especializados são recrutados para o quadro efetivo da empresa. [pág. 348]

A sociedade ficou dividida, como na maior parte da história humana, entre


vencedores e perdedores do contínuo processo de negociação desigual e
individualizada. Mas, desta vez, havia poucas regras sobre como vencer e como
perder. Qualificações especializadas não eram suficientes, visto que o processo de
transformação tecnológica acelerava o ritmo, sempre superando a definição de
qualificações apropriadas. A associação a empresas ou até a países já não tinha
seus privilégios, porque o aumento da concorrência global continuava redesenhando
a geometria variável do trabalho e dos mercados. O trabalho nunca foi tão central
para o processo de realização de valor. Mas os trabalhadores (independentemente
de suas qualificações), nunca foram tão vulneráveis à empresa, uma vez que
haviam se tornado indivíduos pouco dispendiosos, contratados em uma rede flexível
cujos paradeiros eram desconhecidos da própria rede. [pág. 350]

Portanto, as sociedades estavam/estão ficando aparentemente dualizadas,


com uma grande camada superior e também uma grande camada inferior,
crescendo em ambas as extremidades da estrutura ocupacional, portanto
encolhendo no meio, em ritmo e proporção que dependem da posição de cada país
na divisão do trabalho e de seu clima político. Mas, lá no fundo da estrutura social
incipiente, o trabalho informacional desencadeou um processo mais fundamental: a
desagregação do trabalho, introduzindo a sociedade em rede. [pág. 351]
Apesar de as condições em nossas sociedades serem como são, a síndrome
do mínimo esforço, que parece estar associada com a comunicação mediada pela
TV, poderia explicar a rapidez e a penetrabilidade de seu domínio como meio de
comunicação, logo que apareceu no cenário histórico. Por exemplo, de acordo com
estudos sobre a mídia, apenas uma pequena proporção de pessoas escolhe
antecipadamente o programa a que assistirá. Em geral, a primeira decisão é assistir
à televisão, depois os programas são examinados até que se escolha o mais atrativo
ou, com mais frequência, o menos maçante. [pág. 416]
Porém, enfatizar a autonomia da mente humana e dos sistemas culturais
individuais na finalização do significado real das mensagens recebidas não implica
que os meios de comunicação sejam instituições neutras, ou que seus efeitos sejam
desprezíveis. Pelo que mostram os estudos empíricos, a mídia não é uma variável
independente na indução de comportamentos. Suas mensagens, explícitas ou
subliminares, são trabalhadas, processadas por indivíduos localizados em contextos
sociais específicos, dessa forma modificando o efeito pretendido pela mensagem.
Mas a os meios de comunicação, em especial a mídia audiovisual de nossa cultura,
representa de fato o material básico dos processos de comunicação. Vivemos em
um ambiente de mídia, e a maior parte de nossos estímulos simbólicos vem dos
meios de comunicação. Ademais, como Cecília Tichi demonstrou em seu livro
admirável, The Electronic Hearth, a difusão da televisão ocorreu em um ambiente
televisivo, ou seja, a cultura na qual objetos e símbolos se voltam para a televisão,
desde as formas dos móveis domésticos até modos de agir e temas de conversas. O
poder real da televisão, como Eco e Postman já afirmaram, é que ela arma o palco
para todos os processos que se pretendem comunicar à sociedade em geral, de
política a negócios, inclusive esportes e arte. A televisão modela a linguagem de
comunicação social. Se os anunciantes continuam gastando bilhões apesar das
dúvidas razoáveis sobre o real impacto direto da publicidade sobre as vendas, talvez
seja porque uma ausência da televisão normalmente signifique admitir o
reconhecimento dos nomes dos concorrentes com propaganda no mercado de
massa. Embora os efeitos da televisão sobre as opções políticas sejam bastante
diversos, a política e os políticos ausentes da televisão nas sociedades
desenvolvidas simplesmente não têm chance de obter apoio popular, visto que as
mentes das pessoas são informadas fundamentalmente pelos meios de
comunicação, sendo a televisão o principal deles. O impacto social da televisão
funciona no modo binário: estar ou não estar. Desde que uma mensagem esteja na
televisão, ela poderá ser modificada, transformada ou mesmo subvertida. Mas em
uma sociedade organizada em tomo da grande mídia, a existência de mensagens
fora da mídia fica restrita a redes interpessoais, portanto desaparece do inconsciente
coletivo. Contudo, o preço a ser pago por uma mensagem colocada na televisão não
representa apenas dinheiro ou poder. E aceitar ser misturado em um texto
multissemântico, cuja sintaxe é extremamente imprecisa. Assim, informação e
entretenimento, educação e propaganda, relaxamento e hipnose, tudo isso está
misturado na linguagem televisiva. Como o contexto do ato de assistir é controlável
e familiar ao receptor, todas as mensagens são absorvidas no modo tranquilizador
das situações domésticas ou aparentemente domésticas (por exemplo, os "sports
bars", bares high tech para fãs de esportes, uma das poucas extensões familiares
restantes ...). [pág. 421]
Hoje existem milhões de usuários de redes no mundo inteiro, cobrindo todo o
espectro da comunicação humana, da política e da religião ao sexo e à pesquisa -
com o comércio eletrônico como atração principal da Internet contemporânea. Na
virada do século, a grande maioria dessas redes não estavam conectadas à Internet,
mas estavam mantendo sua própria identidade e impondo suas próprias regras de
comportamento. E uma fatia cada vez maior da Internet estava se tornando, como
expus no capítulo 2, uma enorme feira. [pág. 439]

Por outro lado, o novo sistema de comunicação transforma radicalmente o


espaço e o tempo, as dimensões fundamentais da vida humana. Localidades ficam
despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reintegram-se em redes
funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando um espaço de fluxos que
substitui o espaço de lugares. O tempo é apagado no novo sistema de comunicação
já que passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na
mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases
principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas
de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o
faz-de-conta vai se tornando realidade. [pág. 462]

Dessa forma, o fenômeno da cidade global não pode ser reduzido a alguns
núcleos urbanos no topo da hierarquia. E um processo que conecta serviços
avançados, centros produtores e mercados em uma rede global com intensidade
diferente e em diferente escala, dependendo da relativa importância das atividades
localizadas em cada área vis-à-vis a rede global. Em cada país a arquitetura de
formação de redes reproduz-se em centros locais e regionais, de forma que o
sistema todo fique interconectado em âmbito global. Os territórios em torno desses
nós desempenham uma função cada vez mais subordinada, às vezes, perdendo a
importância (ou até mesmo a função). Um exemplo são as colônias populares da
Cidade do México ( originalmente, assentamentos de posseiros) que representam
cerca de três terços da população das megalópoles sem desempenhar nenhum
papel distinto no funcionamento da Cidade do México como centro internacional de
negócios). Ademais, a globalização estimula a regionalização. Em seus estudos
sobre regiões européias na década de 1990, utilizando os dados disponíveis, Philip
Cooke mostrou que a internacionalização crescente das atividades econômicas na
Europa tornou as regiões mais dependentes dessas atividades. [pág. 470]

Não é necessário esgotar a relação de ilustrações empíricas dos impactos


reais da tecnologia da informação sobre a dimensão espacial da vida cotidiana. O
resultado de observações diversas é um quadro similar de dispersão e concentração
espacial simultâneas, via tecnologias da informação. Cada vez mais, as pessoas
trabalham e administram serviços de suas casas, como mostra a pesquisa realizada
em 1993 pela Fundação Européia para a Melhoria da Qualidade de Vida e Ambiente
de Trabalho.59 Por conseguinte, a "centralidade na casa" é uma tendência
importante da nova sociedade. Porém não significa o fim da cidade, pois locais de
trabalho, escolas, complexos médicos, postos de atendimento ao consumidor, áreas
recreativas, ruas comerciais, shopping centers, estádios de esportes e parques
ainda existem e continuarão existindo. E as pessoas deslocar-se-ão entre todos
esses lugares com mobilidade crescente, exatamente devido à flexibilidade recém-
conquistada pelos sistemas de trabalho e integração social em redes: como o tempo
fica mais flexível, os lugares tomam-se mais singulares à medida que as pessoas
circulam entre eles em um padrão cada vez mais móvel. [pág.487]

A terceira camada importante do espaço de fluxos refere-se à organização


espacial das elites gerenciais dominantes (e não das classes) que exercem as
funções direcionais em tomo das quais esse espaço é articulado. A teoria do espaço
de fluxos parte da suposição implícita de que as sociedades são organizadas de
maneira assimétrica em tomo de interesses dominantes específicos a cada estrutura
social. O espaço de fluxos não é a única lógica espacial de nossas sociedades. E,
contudo, a lógica espacial dominante porque é a lógica espacial dos
interesses/funções dominantes em nossa sociedade. Mas essa dominação não é
apenas estrutural. É estabelecida, na verdade, concebida, decidida e implementada
por atores sociais. Portanto, a elite empresarial tecnocrática e financeira que ocupa
posições de liderança em nossas sociedades também terá exigências espaciais
específicas relativas ao suporte material/espacial de seus interesses e práticas. A
manifestação espacial da elite informacional constitui outra dimensão fundamental
do espaço de fluxos. O que é essa manifestação espacial? [pág. 504]

A forma fundamental de dominação de nossa sociedade baseia-se na


capacidade organizacional da elite dominante que segue de mãos dadas com sua
capacidade de desorganizar os grupos da sociedade que, embora constituam
maioria numérica, veem (se é que veem) seus interesses parcialmente
representados apenas dentro da estrutura do atendimento dos interesses
dominantes. A articulação das elites e a segmentação e desorganização da massa
parecem ser os mecanismos gêmeos de dominação social em nossas sociedades.
O espaço desempenha papel fundamental nesse mecanismo. Em resumo: as elites
são cosmopolitas, as pessoas são locais. O espaço de poder e riqueza é projetado
pelo mundo, enquanto a vida e a experiência das pessoas ficam enraizadas em
lugares, em sua cultura, em sua história. Portanto, quanto mais uma organização
social baseia-se em fluxos aistóricos, substituindo a lógica de qualquer lugar
específico, mais a lógica do poder global escapa ao controle sociopolítico das
sociedades locais/nacionais historicamente específicas. [pág. 504]

Estamos entrando em um novo estágio em que a Cultura refere-se à Cultura,


tendo suplantado a Natureza a ponto de a Natureza ser renovada ("preservada")
artificialmente como uma forma cultural: de fato, este é o sentido do movimento
ambiental, reconstruir a Natureza como uma forma cultural ideal. Em razão da
convergência da evolução histórica e da transformação tecnológica, entramos em
um modelo genuinamente cultural de interação e organização social. Por isso é que
a informação representa o principal ingrediente de nossa organização social, e os
fluxos de mensagens e imagens entre as redes constituem o encadeamento básico
de nossa estrutura social. Não quer dizer que a história terminou em uma feliz
reconciliação da Humanidade consigo mesma. Na verdade, é o oposto: a história
está apenas começando, se por história entendermos o momento em que, após
milênios de uma batalha pré-histórica com a Natureza, primeiro para sobreviver,
depois para conquistá-la, nossa espécie tenha alcançado o nível de conhecimento e
organização social que nos permitirá viver em um mundo predominantemente social.
É o começo de uma nova existência e, sem dúvida, o início de uma nova era, a era
da informação, marcada pela autonomia da cultura vis-àvis as bases materiais de
nossa existência. Mas este não é necessariamente um momento animador porque,
finalmente sozinhos em nosso mundo de humanos, teremos de olhar-nos no espelho
da realidade histórica. E talvez não gostemos da imagem refletida. [pág. 573]

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