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de Marx à nossa própria era, de modo concrelo, e entendo que o pro tivo declínio, dentro da população assalariada , dos tra balhadores bra
p rio Marx tam bé m teri a visto a situação dessa forma. çais no sentido literal da palavra.
Na década de ) 870 tin ha-se como certo que a grande maioria do Trata-se de um fenômeno bem geral em países industrializ.ados.
povo britãillco cons istia em tra balhadores braçais e suas fa mílias Na Grã-Bretanha, entretanto, o declínio mostra-se partictLlarmente mar
e isso significava trabalh adores braçais fora da agricultura . P reciso ape cante, por uma razão histórica peculiar. Cem anos atrás, o setor de
nas acrescen tar qu e a maioria , até da população rural, consistia em trabalho dos colarinhos-brancos, em sentido amplo, empregava um nú
proletár ios, isto "é, em o perários assalariados. A Grã-Bretanha de en mero irrisório de assalariados; é provável até que fosse relativamente
tão era peculiar e provavelmente única quanto a es tes dois p ro ble mas: menor do que em outros países com uma burocracia, pública e priva
no tam a nh o e na porcentagem enormes de sua classe trabalhadora bra da, substancial. Por exemplo: em 1871, as "ocupações do comércio"
çal e no tamanho e na porcentagem relativamente pequenos de sua po como um todo empregavam menos de 200 mil, em 12 milhões, enquanto
p ulação rural, onde se observava um campesinato insignificante. Tal em 1911 já somava m 900 mil. Por volta de 1976, da população econo
quadro teve conseqüências políticas significativas, que de certa forma micamente ativa, cerca de 45rJ?0 poderiam ser classificados como
ainda se faz.em sentir. Enquanto, em grande parte de outros Estados não-braçais.
dessa época, a introdução de um sistema de votação democrática ain Aqui, portanto, está a primeira maior ocorrência dos últimos cem
d a deixaria os trabalhadores braçais em minoria, na Grã-Bretanha (as anos . Mas examinemos melhor os trabalhadores braçais. Há cem anos,
sim acreditava-se), imediatamente, eles constituiriam a maioria. Em a indústria dependia a tal ponto do trabalho manual que hoje teríamos
1867, o estatístico Dudley Baxter estimou os trabalhadores braçais fo di ficuldades para entender, uma vez. que a tecnologia da Revolução In
ra da agricultura em pouco menos de 700/0 da população. Dessa for dustrial (da qual a Grã-Bretanha foi a pioneira e que transformou este
ma, do ponto de vista das classes dominantes, era absolutamente es país na "oficina do mundo"), pelos padrões modernos, podia ser con
sencial ganhar ou manter de qualquer jeito o apoio político de uma siderada extremamente subdesenvolvida. Na verdade, como Raphael
parte importante da classe trabalhadora. Essas classes dominantes não Samuel nos relembrou em tempos recentes, foi uma "justaposição da
esperariam contrabalançar um partido do proletariado com consciên tecnologia a vapor com a manual". Para empregar um termo atual,
cia de classe independente, mobiliz.ando a maioria dos camponeses, pe foi de mão-de-obra intensiva, em sua maior parte. As habilidades ma
quenos artesãos e caixeiros a favor ou contra a classe trabalhadora. nuais, do tipo que se associa aos artesãos pré-industriais, sem dúvida
T inh am que entrar num acordo, pois, dos tempos do Segundo Ato de foram suplementadas ou aceleradas, até certo ponto, pela energia e pelo
Reforma em diante, havia de fato uma maioria operária. maquinário, os quais, porém, de forma alguma os substituiriam. Ape
Eu deixaria de lado, por enquanto, a questão sobre se aquilo que nas no final do século as máquinas-ferramenta automáticas foram in
era entendido corno "trabalhadores braçais", nas décadas de 1860 e trodu zidas nas fábricas da Grã-Bretanha, de modo sério. Outras ope
1870, seria o que hoje consideramos como classe trabalhadora ou pro rações, com perícia QU sem perícia, dependiam quase por completo da
letariado. No entanto, o que quer que fossem, tinham as mãos sujas; força humana. Na prática, cada tonelada de carvão - que fornecia
e, durante a maior parte dos últimos cem anos, os trabalhadores bra a maior parte da principal energia para tudo - era movimentada por
çais , em sua definição mais ampla, não cresceram, mas declinaram. homens com pás e picaretas.
Em 1911, somavam cerca de 75rJ?0 da população; em 1931, por volta Essas características da produção britânica do século XIX fiveram
de 70%; em 1961, 64rJ?0; c, em 1976, pouco mais da metade. duas conseqüências. Em primeiro lugar, o crescimento da produção
É claro que isso não quer diz.er que decresceu o percentual de pro vinculava-se a uma expansão da força de trabalho a tal ponto que, ho
letários no sentido técnico, ou seja, de gente que ganha a vida venden je, torna-se difícil visualizar. Assim, entre 1877 e 1914, quase dobrou
do s ua força de trabalho por salário, mais seus dependentes. Pelo con a tonelagem de carvão produz.ida nas minas da Grã-Bretanha, aconte
t rá rio, corno Marx predi sse, nesse sentido a proletariz.ação continuou cendo o mesmo com o número de mineiros. Em plena Primeira Guer
a au me ntar. Não podemos medir com exatidão a porcentagem de "em ra Mundial, algo como 1,25 milhão de homens (mais suas famílias) fo
pregado res e proprietários" no século XIX, mas, em 1911, incluía me ram convocados somente para a produção de carvão britânico. Na Grã
nos de 7% da população economicamente ativa e, desde então, decres Bretanha da atualidade, os recursos energéticos, muito mais amplos,
ceu (depois de ficar mais ou menos estável até 1951) para algo em tor incluem carvão, óleo, gás, eletricidade e energia nuclear, utilizando ape
no dos 3,5070 nos meados da década de 60. Com isso, durante este sé nas urna fração de sua enorme força de trabalho. O exército de traba
cul o, temos um crescimento da proletarização combLll ado com o rela lhadores cresceu sem parar. Mas, em segundo lugar , o relativo atraso
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na mecani zação, pelos padrões do século XX, forneceu aos trabalha Contudo, por volta de 1939, os hom ens em Harl and e Shorts , em Bel
dores b ritânicos, com habilidade manual e experiência indispensáveis fast, se recu savam a aceitar pagamento por peça, como seus avós ti
(e nisso se incl uem out ros além dos manufatureiros aprendizes), uma nham feito nos sindicato:; manufatw'eiros dos tempos de M arx. Fo
onsideTável força para negociações coletivas. O sindicalismo britâni ram esses homens que espalharam o sindicalismo na indústria de mo
co , po r isso, já estava forte, ou potencialmente forte, mesmo nas in to res; que mantiveram a típica indúst ria de engenharia como uma por
dústrias nas quais, em outros lugares, ele era bem fraco, a exemplo ção de sindicatos manufatureiros sepa rado s; e, incidentalmen te , que
das fá bricas de algodào. O sindicaüsmo foi reconhecido pelo governo fizeram mulheres e não-manu fatureiros se organizarem no T & GW U,
há pouco mais de um século e desde então, deixando de lado áreas e o qual dess a forma se tornou o sindicato majoritário da indúst ria de
indústrias específicas, nào se fez qualquer tentativa sistemática e con motores. Foi essa persistência do sindicalismo múltiplo em tantas fá
sistente para esmagá-lo como um todo, ou se obteve sucesso em subjugá bricas que transformou a coordenação intersindical popular, executa
lo por qualquer período de tempo. Concomitantemente, a peculiar es da por pessoas como caixeiros de lojas, numa força tão formidá vel den
trutura do sindicalismo britânico também refletia - e ainda reflete tro da cena industrial britànica.
esse passado histórico.
Por conseguinte, ao contrário de vários outros países, nossos sin Sublinhei essas seqüências históricas, m as elas se vinculam a uma
dicatos não constituem um pequeno número de gigantes, cada um co transformação históri ca maior. Há um século a classe trabalhadora
brindo, em teoria, todos os trabalhadores dentro de uma indústria es mostrava-se pro fundamente estratificada, embora isso não a impedis
pecífica. Embora esse padrão de sindicalismo industrial fosse favore se de se ver como classe. As próprias pessoas que eram a coluna dorsal
cido, e por uns tempos advogado, como militância pelos socialistas, d o sindicalismo, talvez com exceção dos mineiro s, co nstituíam (e eram
não obteve muito sucesso. Mesmo nas estradas de ferro, como sabe vistas como) uma ari stocracia trab alhista, que olhava de cima para a
mos, não foi eliminada a rivalidade entre os sindicatos industrial e se massa daqueles a quem consideravam sem especialização ou "meros
torial. Em vez disso - ou melhor, lado a lado com essas tendências tra balhadores". Porém, as modificações indu striai s, primelro, amea
industriais - , temos a coexistência de sindicatos de manufatureiros e çaram e, depois , erodiram essa superioridade, a partir de três pontos .
os grandes "sindicatos gerais" (nessa escala, um fenômeno peculiar E m primeiro lugar, o aumento de emprego no terciári o - empregos
à Grã-Bretanha), que aos poucos absorveram os não elegíveis ou não liberais e de co larinho branco - originou uma nova forma de aristo
desejados pelos sindicatos de manufatureiros - aqueles fracos demai s cracia do trabalho, que se identificava diretamente com a classe mé
para formá-los, e inúmeros outros. De certa forma, essa tendência, que dia. Apenas depois da Segunda Guerra Mundial (pelo menos fora do
de início se estabeleceu no período da grande greve portuária de 1889, setor público) os colarinhos-brancos e os profissionais liberai s se orga
continua a se reafirmar. Cada vez mais, os sindicatos menores tende nizaram como massa em sindicatos, e cada vez mais dentro do TUC,
ram a se amalgamar a outros maiores. Mas enquanto na primeira me isto é, no movimento trabalhista consciente. Em segundo lugar, com
tade deste século co nseguiam-se ve r esses amálgamas como um enca o aumento da tecnologia mode-rna, criou-se um estrato de profis sio
minhamento para uma espécie de sindicalismo industrial, nos últimos nais liberais e técnicos recrutados, de maneira isolada, mais de áreas
vi nte anos elas começaram a se assemelhar muito mais à formação de externas do que a partir de promoções internas entre aqueles que mos
novo s conglomerados do tipo "sindicato geral" - como na fusão do travam experiência fabril. Por iss o aumentou a lacuna entre a aristo
AUEW com os fundidores, e dos projetistas e o ETU com os encana cracia trabalhista e oS estratos médios. Por outro lado , a tecnologia
dores . Inversamente, a enorme força potencial do trabalhador tipo "ar e a organização indust rial modernas ameaçaram a posição privilegia
tesão" continuou a se fazer sentir no sindicalismo, de maneira parti da da aristocracia trabalhista pelo fato de , crescentemente, transformá
cular no grande complexo da metalurgia, da engenharia e das indús la em (ou substitu i-Ia por) trabalhadore;; menos habilitados, que ope
trias elétricas , que continuaram a se expandir, da mes ma forma quc ravam máquinas especializadas ou desempenhavam tarefas especiali
se contraíram as anügas indústrias de emprego em massa do século XIX, zadas, denlro de uma divisão do trabalho cada vez mais elaborada.
a exemplo das indústrias têxteis, de mineração e de transporte. Na dé Em outras palavras, como l"larx predissera e como os capitalistas sem
cada de 30 e durante a guerra, quando o sindicalismo de massa chegou pre pretenderam, a habilidade foi transferida, cada vez mais , dos ho
a essas indústrias, de início foi por meio dos manufatureiros - muitas mens para as máquinas ou para os objetivos do fluxo de produção.
vezes , como no caso da indústria aeronáutica, os homens ainda traba De fato, a aristocracia trabalhista ameaçava dissolver-se . Assi m, os aris
lhavam , e às ve zes pensavam, nos velhos termos do orgulho artesão. tocratas do trabalhismo não foram apenas forçados a se apartar dos
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estralOS méd ios, como tamb ém a se aproximar de outros es tratos da sindicali smo, 1I0 enorme e inint en up to aumemo do nú mero de mem
bros de cooperat ivas, que passou de m eio rnilhào,eru 1880, para três
classe trabalhadora, em bnr. 1 , lias vantagens econômicas (di fe rentes de
milhões, em 1914, m as também nos as pectos não-po líticos d a vida da
sua posição na eSIrutura ~n~ l . d) nào sofressem um enfraquecimento sé_rio
clas se trabalhad ora; no crescime nto do fu tebo l como esporte de massa
até a Pri mei ra G uerra M undial. Tendiam a uma radicalizaçào, espe
e proletário. no Blackpoo l como a ind a o conhecemos hoj e. nas lan
cialmeIlte no grande co mplexo de indústrias nas quais a mecanização,
chonetes de peixe-com-bata ta-frita - tudo isso p rod uto das décadas
a prod ução em massa e modificações semelhantes na organização da
de 1880 c 1890, e até d a de 1870; no famoso boné imortalizado pelos
indústria produziram uma confrontação mais direta entre os trabalha quadrinhos de Anely Capp [Zé do Boné], que é eduardia no , num sen ti
do res habilitados e as novas ameaças, dentro do crescente complexo do amplo; e um pouco mais tarde (eles não haviam se desenvolvi do
das ind ústrias m etalúrgicas. muito an.tes da Primeira Guerra Mundial) na s casas populares, no ci
Ago ra gost aria de observar que minha explicação sobre esse pro nema, no palais de danse.
cesso difere um pouco da de Engels, embora na realidade não entre
em con fl ito com ela. Engels, que escreveu sobre esse problema na dé Ao mesmo tempo , a natureza do capitalismo britân ico modificara
cada de 1880 (em especial no novo prefácio de seu Conditíons of the se proflm damente, de qua tro maneiras . Primeira, como se supõe, so
·o,-king Class), ressaltou dois pontos: primeiro, a formação de uma freu transformações , enq uanto sistema de produção, pela tecnologia,
aristocracia trabalhista "relativamente confortável" e ideologicamen pela produção em m assa e pela enorme concentração da unida de pro
t e m oderada, na Grã-Bretanha; segundo, o monopólio mundial do ca dutora, isto é , a fáb rica onde as pessoas trabalhavam . E m 1961 , cerca
pital ismo industrial britânico, que ofereceria benefícios para todos os da metade de todos os trabalhadores em estabelecimentos manufa tu
traba,l hadores britânicos, embora esses benefícios fossem despropor reiros trabalhava em fábricas com mais de quinhentos o perá rios ; por
cionais para a aristocracia trabalhista. Mas "mesmo a grande massa volta de um q uarto, em estabelecimentos com mais de dois mil ; e me
tinha pelo menos um ganho temporário, de vez em quando".1 Ele es nos de 10070 em unidades de cinqüenta pessoas ou menos. Segunda,
perava uma radicalização da classe trabalhadora como resultado do o surgimento do capitalismo monopolista, com um setor público de
declínio do monopólio mundial britânico, embora não previsse que is massa, concentrou ainda mais o emprego e, em particular, criou )lm
so aconteceria entre a aristocracia trabalhista dos "antigos sindicatos", vasto setor de emp regos governamentais e públicos como nunca existi
mas da emergência da organização trabalhista entre as massas, desor ra no século anterior. Hoje, aproximadamente 30 070 de todas as pe~
soas trabalham no setor público (como empregados de governos, au
ganizadas até então, cujas mentes estavam "livres dos 'respeitáveis' pre
to ridades locais, em indústrias nacionalizadas) , e a proporção é cres
conceitos que tolhiam os cérebros dos 'velhos' sindicalistas melhor aqui
cente . Vale dizer que, para cada dois empregados do setor pri vado (es
nho ados".2 O que ele não avaliou bem foram as ocorrências na pro
to u omitindo empregadores e autônomos), existe praticamente um no
dução capitalista que iriam radicalizar a própria ex-aristocracia traba
setor público. T erceira, deduz-se que os fato res que determinam as con
lhista, de qualquer modo, nas emergentes indústrias do século XX. Po dições dos trabalhadores não são mais , em nenhum sentido, aqueles
rém , por volta de 1880, essa situação ainda não era muito visível. da competi ção capitalista. O setor capitalista não ma is se revela aq uele
T udo isso não quer dizer que a classe trabalhadora tornara-se uma q ue o merca do livre dominava , uma vez que Se encontra am plame nte
ún ica massa homogênea, embora de vários modos ela tenha se torna monopolizado ; e o setor público , enquanto empregador , enquanto p ro
do mais coesa, pelo crescim ento de uma consciência de classe, pelas vedor de todos os tipos de serviços e remunerações sociais, e enquanto
reivindicações políticas que uniam os trabalhadores de todos os estra ger ente da eco nom ia , _determina aqueles fatore~ de modo muito am
t os e seTOres (exemplos disso, no terreno de governos locais , eram a p lo , ou peLos menos determina os limites de nt ro dos quais se fixam es
educação , a saúcIe e a segmidade social) por um estilo de vida e pa ses fatores. E são as decisões p olíticas, não-lucrativas, que determina m
d rões co muns, e, para uma illtnoria , pela ideologia trabalhista e socia a prática do setor público . E quarta , o padrão de vida reul da maioria
li sta . Esse " estilo" com um , se é q ue se pode chamar assim, de vida dos trab alhadores sofreu uma revolução para melhor . Muitas d essas
proletária b ritànica começou a emergir há quase um século, formand o tendências podem ser rasu eadas desde o per íodo entre a morte de Marx
se nas décadas de 1880 c 1890 e permanecendo dominante alé que se e a Primeira Guerra M undial; n o en ta nto. as trans fo rmações realmen
iniciou sua erosã o. na década de 50. Não estou a penas pensando no te mais im p ortantes ocorreram a partir de 1939.
surgimen to do moviment o socialista e do Partido T rabalhista como o Dent ro da classe trabalhadora isso deu o r igem a n u merosa.~ modi
partido de massa dos tra balhadores britânicos, nas modificaçôcs no ficações, meio diferentes da crescCnle divisão en tre a classe operária
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b raça l, q ue cada vez m ais tendia a votar em seu partido de classe, e te, a nacionalidade-mai.!.-religião il l<U1 d e~I). Aqui , como o próprio Marx
o estrato d os co larinhos-b rancos qu e, pelo menos fora do setor públi comprecndera, havia um a i"orça que di vic.Ua pro flllld am~ nte a classc
co, era predominantemente conservador até mais ou menos os últim os tra balhadora britânica , ao rncno,; de modo potcncial; C0l110 reslcmu
vinte anos, dura nte os qua is também começou a se urganizar na linh nho, ex iste a história po llLica dc McrseY'i id c. Se as ri valida des cntre os
do sindical ismo e - talvez num sentido mais restritu - a virar politi torccdores do Sheffield U nitcd c do Shcfficld WedlJes da ~ , ou do No!
camente para a esquerda . Devo mencionar algumas dessas modificações. ting bam sbire Co unt y c do Notünghmmhi re fore~t , mai s do q ue div i·
Primeira, h á cem anos, a classe trabalhadora o rganizada era qua di r desracaram a unidade bas ica do, trabalhadores naquelas c id ade ~ .
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se to tal mente masculi na , como notou o próprio E ngels. exceção feita por ouLro lado lodos sabemos qlll: os to rcedores c1o ~ Ra llge rs e do Cl:! ·
aos tra balh ad ores da indústria têxtil. Até então, as mulheres ganl1a tic . o u LiverpooJ e Evenon , ou Heart s e Hibs , di\l idem -~e por linh a"
vam po r tarefa e tra balhavam basicamente antes e depois do casamen de religiosidadc·naciona lidade. Ainda, o que majs ..:hama a ateIlcão nas
to (em 191 4, a penas cerca de 10070 das mulheres casadas Linham um classes trabalh adoras britânicas e o quão pouco - eu diria , quão cada
desses empregos), e eram vistas como despreparadas e tratadas como VCl menos - elas foram afetadJs po r esse racha nacional ate a dCeada
mão-d e-o bra barata. A grande maioria - 44%, em 1881 - trabalha de 50, a despeito do fato (mais d o que óbvio) dc que escoceses , galeses
va como empregada doméstica . Mesmo em 1911, quando esse serviço, e irlandeses sem pre tiveram org ulho de nâo se rem ingleses; e assim por
enquanto ocupação, começou a diminu,i r, ainda havia 1,5 milhão de diante. Ao contrário , digamos, dos poloneses na A lemanha imperial,
mpregadas domésticas. E xistiam as "arrumadeiras" e as "de todo ser· os irlandeses na Grã-Bretanh a, quando sc organizavam de alguma for
viço" . Em bora já houvesse um notável afluxo de mulheres para a in ma , aderiam a sindicatos totalmente britânicos c apoiavam o partido
dústria, e mais ainda para escritórios e lojas, no quarto de século ante totalmente britânico de sua cla~ :, ,:; . -:111 Lodos O~ cventos, depo is que a
rior a 1914 as mulheres continuavam a receber tratamento de traba Irlanda se tornou independcntc . Ate quc o movimento trabalhi <;ta, co
lhad ores de segunda classe, e a reivindicação de salários iguais não tc mo um todo, cntrasse em sua crise atual, nào existia nenhuma basc
e ne nhuma repercussão séria senão depois da Segunda Guerra Mun significati\'a para partidos nacionais na Escócia e em C a le,. e até a imi
dial. E mesmo que o emprego das mulheres casadas que trabalha\·am gração cm massa do antigo impéri o depois da Segun da Gucrra i\ lu n
por ta refa aumentasse um pouco entrc as duas grandes guerras (em dial , dir-s·e -ia que o racismo da clas~ e t rabalhadora provavelmente cra
1931, 13 010 de todas as mulheres casadas tinham um emprego dessc ti menos irnportante na Grã-Bret a nha do que , por exe mplo, na Fr;:mça
po) , a prát ica só se tornou normal depois da Segunda Guerra Mun - mesmo que St. admita um sent imento antiirlandb e, a partir do im
dial. Desde 1951, a proporção de mulheres casadas, tecnicamente des cio do ~éculo XX , alguns precou-:ei! o ~ antj-semilas localiLados. Por tudo
critas como "ocupadas", aumentara de cerca de um quinto para apro isso . a rivalidade parecia uma força e111 declin.io por três quartos de
ximadamente a metade. Isso traduzia uma grande modificação na com séc ulo, depois de 1878. Desse po nlO em diant c ha ou t ra ocorrência sig
posição da classe trabalhadora. nificati va e pouco bem -vinda do ú ltimo quartel do século passaJo.
H á um século, geograficamente, embora houvesse muita mobili Existem, ..:o ntuclo , outra., d i\·isóes dentro da cla.ssc trabaLhadora.
dad e e mjgração, a classe trabalhadora constituía uma coleção de co Há cem anos havia três pi'incipais dife renças ~ e toriai s dentro da classc
munidades loca lizadas. E la ainda permanece enraizada localmente, nu traba lhadora: aquela entre as indusrrias e ramiii caço e ~ , e mprC5 a~ ou lo
ma proporção muito maior do que as classes médias, como qualquer calidades particularcs dentro d t' urna industria (Ty nes id c e a S udoc<;[ c);
pelisoa pode perceber assim que um sindicalísta de Birmingham ou de aq ucla entre os vários grau:; c 1I 1\'CI\ <.!t: trab aJJ) ador,:;~ ( ·l1lanufatur-:i
Ga teshcad , sem mencionar Clydebank ou Swansea, fala com seu sota ros" e "operarias" ); c aq uela e lll re grupo~ ri\" ais del1lfo do mes mo 11\ .
que típico . Mas , no geral, essas diferenças locais não contrariam o sen vei o u grau , a exemplo d os diferclllcs gr up os es peciali tados. Há um SI!
tido de uma única consciência de classe, mas são parte dela. As dife culo, os di fe renciais locai, e rcg i o lla L~ eram grandes c pllw avc lmcl1tc cres
renças en tre os o perários de Lancash ire c Yorkshire não impediram centcs. A partir de 1900 , a tcnd énc ia era que clim..i.rHn \ ,;:m, cmbo ra , UH
e co nseg uiram até destacar - suas caracteristicas com uns como ope época em que algumas n.:giõe' c,la\'OIll relat ivamente Pfl'l spcras c out réll>,
rários. Até as diferenças crescentes - especialmente no entreguerras muilo pobres (como no cnu egu err::J!», pu dessem aum e/lw r llluiLO na p ra
- ent re as a ntigas áreas industriais do norte, no sécu lo X1X, da Es tica pOI causa do desL·mp rcgo . Tcdr icamcntc, o '1 11r~i m e llt \J do bt auo
ci a, de Gales e das novas áreas in dustriais do centro e do sudeste. nao capit<:llista monopoliq a c do I.! mpr"go llll ~l'l M l1ub ll',:' ) IC llt!tn m a igua
p rod uziram maiores divisões de sentimentos ou a!itude~ . A única ex lar os diferenciai s. Na prc\L ica , l~ <.:o isas eram mOJi \ complicada s. Mas
ceção era a nacionalidade (ou, no exemplo do principal grupo emigran este não eo lugar para discut i r· m,.. ôses prob lem as em maiores delalh es.
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A exemp lo das di ferenças setoriais en tre grupos rivais do mesm o rios e as condicões ainda cram, em grande parte, fixa dos por COS Lumes
nivel, esses dife renciais tinh am uma longa história. Causaram con fli e convenções, sendo apenas parcialmente calculados a partir do l1J.CJ
tos principalmente qua ndo algu ns grupos tcntaram manter um mo no cado . A burguesia pagava o menos que conseguia; e mesmo que pu
pólio de empregos particulares para eles próprios, em detrimento dos desse pagar mais, achava que devia haver um teto que os salário ~ dos
outros , em parte porque o progresso técnico solapou seu monopólio trabalhadores nunca deveriam ultrapassar. Os burgueses podia m pen
natural de longo trei namento e espec ializações , e em parte porque em sa r e agir dessa maneira porque os próprios trabalhadores achavam que
tempos de desemprego havia mais pressão para preencher um núm ero "um dia de trabalho justo valia um di a de paga mento justo", depen
limitado de vagas . Assim, amargas dis putas por demarcações nos esta dendo do tipo de operário que fossem. E seus lim ites eram bem mo
leiros do nordeste atingiram o auge na década de 1890, e até hoje essa destos. H oje , nenhuma dessas observações ainda é verdadeira. As ve
indústria e essa área conhecem bem o problema. À medida que a anti . lhas hierarquia, foram solapadas pelas mudançi'ls tecnol ógicas , e os di
ga divisão do trabalho se ia tornando tecnicamente obsoleta, esses gru ferenciais foram sendo consumidos, em especial pelo desen volvi mento
pos rivais (o u potencialmente competidores) de operários especializa de mudanças complexas nos pagamentos de salários, sem planejamen
dos quase sempre tenderam a se mesclar - por exemplo, a absorção to sistemático, difusas e imprevisíveis, que não mais ofereciam uma
de caldeixeiros. trabal hadores de estaleiros e ferreiros. Mas esse tipo vantagem automática para a habilidade - pagamentos por resultados,
de setor ialismo ainda não se extinguiu . Na verdade até cresceu, pois horas extras sis temáticas e alguns dos efeitos da negociação sobre a
o moderno desenvolvimento industrial reparte o setorialismo profis produtividade. Especialmente durante o grande período de desenvol
sional e possibilita às diferentes indústrias ou aos grupos de trabalha vimento depois da Segunda Guerra Mundial, os trabalhadores também
dores executarem essencialmente os mesmos processos ou processos al aprenderam que os limites para suas reivindicações podiam ser bem
ternati vos. Por isso, em 1878, não poderia haver nenhuma sobreposi mais altos do que a maioria deles nem sequer pudera imaginar; e os
ção entre, por exemplo, tipógrafos e jornalistas; no entanto, com a mo empregado res tendiam a fazer concessões, jamais cogitadas. Acho que
derna tecnologia, que permite a um jornalista digitar diretamente para essas tendências podem ser traçadas desde o período eduardjano, pois
a im pressora, essa sobreposição é possível e acontece. Colocar merca conseguimos detectá-los em certos argumentos sindicalistas.
do rias em contêineres provoca conflitos potenciais e reais entre estiva Tudo isso sugere que as antigas estratificações da classe trabalha
dores , motoristas de caminhão e ferroviários, que simplesmente não dora perderiam seu significado, e que - com todas as sobrevivências
podiam existir, como não existiam, em 1878 ou mesmo um pouco mais das antigas divisões e tensões - os interesses comuns da classe traba
tarde. E assim por diante . Alguns mineiros te riam preferido a desati lhadora deveriam.prevalecer de forma crescente. E i s~o provavelmente
vação da indústria de energia nuclear, mas os operários dessa indús aconteceu mesmo na primeira metade deste século. Mas seria um erro
tria presumivelmente não concordariam. Portanto, eu observarja que pensar que esse quadro tornou a cl asse trabalhadora mais homogênea.
esse tipo de setorialismo, depois de um período em que pro vavelmente Ao contrário, a mim parece que agora vemos uma divisão crescente
ele tende a declinar, tenha revelado crescimento desde a Segunda Guerra de trabalhadores em setores e gr upos, cada um perseguindo seus pró
M undial. E essa é uma situação perigosa. prios interesses econômicos, sem ')c importar com o resta nte . Neste ca
O terceiro tipo de seto rialismo - a estratificação - quase nem so . o que há de novo é que sua hab ilid ade em fazer essa d ivisão não
pod ia ser visto há um sécu lo, basicamente por dois motIvos. Em pri mais se relaci ona a cri té rios tradici onais, tais como sua-quali fi cação
meiro lugar, os estratos favorec idos (a exemplo da assim chamada aris técnica e sua estagnação na escalada social. Na verdade, agora aconte
tocracia trabalhista) ainda conseguiam bastante sucesso ao restringi ce co m freqüên cia (como esporadica mente já oco rria há um c;écu lo) de
rem a ent rada de olltras pessoas em suas p rofissões, ou mantinham-se grupos de trabalhadores entrarem em greve, l1ào se im portando com
numa posição fa vorecida por serem , com o um Lodo , os únicos com o efeit o sobre o restanLc - por exemplo , operários especializados so
acesso a uma organização e fetiva. De fato, qu.ase não há dllvida de bre os sem especia]j?ação - , e ocorre que a força de um grupo repou
que, nesse periodo, o sin dica lismo reforçava a exclusividade. SomenLe sa não na quan tidade de pcrdas que ele possa ca usa r ao empregador,
no pe ríodo de liderança sociali ~ [ a (de início muito lenta mente, mas de mas na inco nveniência que possa causar ao publko, isto é. a outros
ois mais depressa, a partix da grande agitação nabalhista ant es da P ri operári os, como por exemplo a [,lIta de energia c cohas simi lares. Trara
meira Guerra Mundial) é que os sin dicatos transform aram-se em fato se de uma conseqü ência na tural do sistema ca pitalista do Estado mo
res de igualdade, mais do que de crescimento. dos diferenciais de )0 nopolis ta , no qual o alvo básico da pressào não é a co nla bancá ria dos
cal, de profissão e de grau. Em segundo lugar, há um séc ulo . os salá empregadores privados ma.>, direl3 ou in diretamente. a vontade politi
(1
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ca do governo. No final das contas, essas fonnas de lutas seto riais não ce mais elementar dessa situação: o sindicalismo . Sem dúvida, ele cres
apenas criam um atrito potencial e m~e gr~po~ de trabal.hadoIcs, mas ceu com regularidade neste último sécuJo , embora não tenhamos da
lambém arriscam -se a enfra quecer a wRuencla do mOVlmento traba dos comparativos para antes da década de 1890; digam os que, de 13 0J0
lhista como um to do . O sentimento de so lidariedade de classe se enfra da força de trabalho , em 1900, tenha subido para 45 % logo após a
q uece a lém da conta pelo fato de que a renda real de uma família po Segunda Guerra Mundial (1948). Mas depois disso permaneceu estag
de, na verdade, não mais depender do trabalho de apcnas um só traba nado por um bom tempo, ou até caiu um pouco; e mesmo que tenha
Ihador , porém pode atreJar-se ao faLO de seus cônjuges também traba crescido nas décadas de 60 e 70, hoje é apenas um pouco maior (per
lharem e do tipo de emprego que eles tenham, ou pode depender de centualmente) do que em 1948 - 46 0!0. E mais, quase nunca presta
vár i o~ out ros fa tores, não d iretam ente determinados pela luta sindi mos atenção no seguinte: é muito mais baixo do que na Dinamarca,
aI. Em resu mo, não restam muitas dúvidas de que o setorialismo estc Suécia e Bélgica, onde atinge cerca de 70%, e um pouco mais baixo
ja cresce ndo , embora ex ista uma boa quantidade de razões morais c do que na Itália. É claro que agora a composição do sindicalismo
materiais para haver solidariedade, e dela haja poucos e dramáticos modificou-se - há muito mais mulheres c- t-rabalhadores de colarinho
exemplos - como na época do Ato de Relações lndustriais de 1970-71 branco - mas o ponto aonde qu ero chegar , infelizmente, é que 35%
c na greve dos mineiros. dos empregados não pertencem a nenhum sindicato profissional, e que
Exis te uma última divisão dentro da classe trabalhadora quc de essa porcentagem não diminuiu durante trinta anos. Para resumir: a
ce rta forma lembra as divisões de cem anos at rás, embora hoje as con gcã:-Brctgn ha. local de orige m do sindicalismo, está hoje muito atrás
dições sejam bem diferentes. Trata-se da divisão entre aqueles quc con de alguns outros países.
seguiram tirar vantagem total das grandes melhorias econômicas e so Se examinarmos a expressão política da consciência de classe, que
ciais da era pós-guerra e os que não conseguiram - se preferirem, aque significa, na prática, apoio para o Partido Trabalhista, o quadro é ainda
les que poderiam, há um século , ser chamados de "os pobres". Essas mais perturbador. O número, bem como a porcentagem, dos eleitores
pessoas são a~ que permaneceram em ocupações dc baixa renda, vir do trabalhismo (incluindo os comunistas) cresceu sem interrupção (ex
tualmente abaixo das faixas dos sindicatos efetivos; um quarto de to ceto em 1931) entre 1900 e 1951 , quando atingiu um pico de 14 mi
das as do nas-de-casa que retiram mais da metade da renda familiar da lhões ou um pouco menos de 49°70 de todos os votos . Depois disso caiu
seguridade social e ganham menos de quarenta libras por semana; as para 44 070, em 1959 e 1964; subiu pára mais de 48°70 em 1966; e depois
pessoas que vivem em acomodações alugadas de particulares contra caiu de novo. Na eleição de 1974 estava bem abaixo dos 40%. E o mctis
aqueles que po ss uem suas casas próprias e os que alugam casas de go importante, el!Ulúmeros absolutos, os trabalh istas (mais os comunis
vernos municipais - em 1975, 17 0!o dos trabalhadores não qualifica ~ois de 1951, quase sempre perderam mais de um milhão de
do s eram inquilinos de proprie~ário s particulares, contra 11 070 dos tra votos em relação àquele pico ; em 1974, apuraram-s e cerca de 2,5 mi
balhadores especializados -; os pobres que vivem pi o r e pagam mais. lhões a menos do que em 1951, menos do que em qualquer eleição des
E , ao considerarmos isso, não devemos esquecer que , peios padrões e 1935. É claro que essa tendência também afetou os conservadores,
internacionais, os salários britânicos declinaram mai s do que outros, que conseguiram sua maior votação (13, 5 milhões) em 1959. Mas isso
e que o sistema des eguridade social britânico, do qual nos orgulháva não serve de consolo.
mos la nio nos anos imediatamente po~tcriores à guerra, provavelmen Não existe uma maneira simples de medir as mudanças nos mais
te declinou ainda mai s do que os sistemas de seguridade social de vá altos graus da consciência de classe. No entanto, se tomarmos o núme
rio::. países euro peus . Os pobres pioraram des proporcionalmente e são ro de associados ativos de todas as organizações socialistas como um
os q ue menos recebem ajuda direta dos setores consagrados a isso, den critério muito rústico (diferente do ativismo no sindicato profissional),
tro das organizações tra balhis t~s. H á cem an os, o movim ento tJ·aba então eu também suspeito que, logo no início da década de 50, ho uve
lhis ta recomenda va suas fo rm as de luta e de organi za ção para qual um declínio, talvez rompido no final da década de 60. Po rém, neste
quer pessoa - sindicatos, cooperativas, etc. Mas, na época, isso não período mais recente, uma proporção muito alta do ~ novos ati vistas
era acessivel a q ualquer pessoa, apenas a estra tos de t rabalhadores fa socialistas, dentro e fora do P artido Comunista e de outros grupos mar
vorecidos . E cu me pergunto se, hoje , não há uma complacência simi xist as, provavelment e n ão se compunha de trabalhadores bra çai s, mas
la r ent re alguns setores do movimento. de es tuda n1es e de colarinhos-brancos ou profiss ion ais libera is . É lógi
A que ponto o desenvolvimento da consciência de classe dos tra co que temos de obse rva r que até a década de 50 grande número (tal
balhado res britânicos reflete eS' . -.nnências'? Vamos observar o índi vez a maioria) desses n ovo"S ativistas socialistas, muitas vezes de fa
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mil ias operár ias c colarinhos-bra ncos , nào conseguiu chegar às uni ver gra ma . Nào consegui ram . Con seguiram os anos Wilson - e muitos
sidades. deles perderam a fé e a t!~pe rança num partido de massa do povo
trabalhador.
Ten ho a imp re~são de que , durante aproxi madamente os primei Ao mesmo tempo o movimento sin dica l to rnou-'iC mais miJitante .
ros setenta anOs deste último século, Marx e Engels ltão ficariam nem E ainda assim, com exceção das gra ndes luras de 1970- 74, foi um a mi
um po uco surpresos nem desapontados com as tendências de desen litância qu ase totalmente econQmici&ta ; c um movim ento não é nece~
vol vime nto na classe trabalhadora britânica. Não ficariam muito sur sariam ente menos ccon omicista e lim itado po rq ue ó m ilitant e, ou lide
presos po rq ue as tendências revclava m-se como eles haviam previsto rado pela esq uer da , Os períodos de máxima ati vidade de greve desde
(ou poderi am prever) com base na análise do próprio Marx sobre o 1960 - cm 1970-72 e 1974 - , foram aqueles em que a porcentagem
dese nvo lvi mento do sistema fabril , por exemplo. Embora eu ache que de greves po r salários foi a mai s alta - mais de 90 % em 1971-72. E ,
iri am ficar um pouco surpresos com a velocidade com que o setor ter co mo tenlei sugerir a ntes , honestamente, a cons ciênc ia economicist a
ciário se desenvolveu, ainda assim não seria tanto quanto a surpresa em sindicatos à s vezes acaba, de fato, confrontando os tra balhadores
em relação à formação de uma nova aristocracia conservadora, com ent re si, em vez de estabelecer padrões de solidariedade mai s amplos.
posta de colarinhos-brancos. Uma vez que não esperavam muito da
classe trabalhadora britânica além do que de fato parece ter aconteci Minha conclusão é que o dese nvolv imento da classe trabalhadora
do , eles não teriam ficado muito desa[lontados com o crescimento de na última ge ração ocorreu de forma a levantar inúmeras questões sé
um partido político de massa, baseado na consciência de classe, sepa rias sobre seu futuro e o futuro do movimento . O que torna essa situa
rado dos part idos da burguesia, que de forma crescente, em bora vaga, ção mai s trágica ainda é o fato de que, hoje, es tamo s num período de
desti na va-se a substituir o capitalismo pelo socialismo. Obviamente! crise mundial do capitalismo e, mais especificamente, de cri se ~ de
como vocês e eu, Marx e Engels poderiam querer que a classe traba colapso , quase poderíamos di zer - da sociedade capitalista britânica.
lhado ra britâni'ca fosse um pouco mais revo lucionária e, como nós, te É um momento em que a classe trabalhadora e seu movimento deve
riam ficado bem desdenhosos da liderança trabalhista; mas as coi sas , riam estar em posição de ofereccr uma alternativa clara c de liderar
pareciam estar se movimentando, em geral, na direção correta . No en os povos britânicos para essa alternativa.
tanto , nos últimos trinta anos, esse movimento parece ter estagnado, Não podemos confiar numa simples forma de determinismo his
exceto por uma tendência : a "nova" aristocracia trabalh ista do s técni tórico para restaurar o futuro do trabalhi smo britânico, que começou
cos de colarinho branco e profissionais liberais sindicalizou-se; e estu a vacilar há trinta anos. Não há indício s de que o movimento je vá
dantes e intelectuais - setores de onde essa aristocracia era muito re recuperar automaticamente. Por outro lado, co mo já falei, não há ra
crutada - também se radicaliz aram a um grau maior do que antes. zão para um pessimismo, também automático . Os homens, como Marx
Para explicar tudo isso, eu já sugeri alguns dos fatos relevantes disse (a palavra alemã vale para homens e mulheres), fazem sua histó
na estrutura econômica e social do país e em suas populações traba ria dentro das ci rcunstânc ias que a história armou para eles e dentro
lhadoras. Mas os marxistas não são determini stas econômicos e sociais, de seus limi tes - mas são eles quefazel11 a sua hi stória. Contudo, se
e simples men te não funcionaria dizer que essa crise da classe trabalha O tnt balhismo e'o mo vimento socialista quiserem recuperar sua alma,
do ra e do movimento socialista era "inevi tável", e que nada poderia seu dinamismo e sua iniciativa histórica, nós, enquanto marxi stas , te
ter sido feito a esse respeito . Já vimos Cjue a estagnação da marcha co mos que fa zer aquilo que Marx certamente teria feito: precisamos re
meçou antes das mudanças drás ticas do s últimos vinte anos; que mes conhecer a nova sit uação na qual nos encontramos, a fim de analisá-Ia
mo no auge da "sociedade afluente" e no grande boom do capitalis real!stica e co ncretamente, a rim de analisar as razões (históricas e ou
mo, em meados da década de 60, existiam sinais de uma recuperação tras) tanto dos ú acassos quanto do s sucessos do movimento trabalhis
rea l de ímpeto e dinami smo: a volta do crescimento dos sindicatos pro ta e a fim de formula r não apenas o que gostaríamos de faze r, mas
fi ssi onais, para não mencionar as grandes lutas trabalhistas, o aumen o que pode ser feito . Deveríamos ter feito mesmo quando esperáva
to significativo do vo tO trabalhista em 1966 e a radicalização do s estu mos que o capitalismo britânico entrasse num período de forte crise.
dantes, intelectuais e outros, no final da década de 60. Se quise rmos ão pod emos nos dar ao luxo de não agora, que a crise já, começou.
exp Ucar a estagnação ou a crise, tcremos que observar o Partido Tra
balhist a c o p róp ri o mo vimento trabalhi sta. Os tr abalhadores e o cres
ceme estrato estranho aos operários braçais pediam um líder e um pro
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3J
II
34 35
recente mente \inha se acel erando . Nota-se o contraste entre a fraque classe ; de questão indllstrial para queqão pol,íim" (Royden Harrison).
7.a d o lado político do ~OVimef11O comparado ao pode r c ao dinami s ra z tempo que is<;o acontece; capitalista~ e governo trabalharam ba
mo do lado industrial. E naluralljue a esquerda tendesse a superesti seados nessa suposição. No entanto, existe uma grande diferença entre
mar a:; po ssibilidades e a ~ ubestimar os limites da a<;ão puramente in os períodos em que a questão salarial, nessa forma, fez parte de um
dustrial. Havia pouca coi~a a mais com que 'ie congratular. rebrotar polítieo mais amplo ela clas~c trabalhadora, como entre 1918
As conquista~ do lIlovimento sindical, em particular no período e a Greve Cieral ( o voto trabalhista cresceu de cerca de dois para oito
1969-74, foram de rato muito marcantes c os partieipantes da dLseus milhões, ent rc 1918 e 1929), e períodos como o atual, quando aq uele
são têm acertado ao me criticarem ror não falar muito delas. Prova rebrotar não acontece . Em suma, o sindicalismo isolado nào basta, co
velmente é verdade, como argumentou Steve Jefferys, do Partido So mo os marxistas desde o próprio Karl Marx já argumentaram contra
ciali sta dos Trabalhadores, que essas conquistas garantiram a ~ obrevi o~ sindicalistas e outros . A fase atual de militância é esmagadoramen
veneia da consciência da classe trabalhadora, do tipo forte e tradicio te ~indicali~ta e economicista, especialmente no que di z respeito aos
nal (embora fosse e seja limitada), apesar do declínio das antigas in sa lários . Não há uma discordância real sobre o assunto . O que não fi
dústrias do século XIX, que forneceram suas principais bases, e do de cou claro é "o tipo de relação que existe entre os salários e a luta polí
clínio numérico dos antigos trabalhadores (masculinos) especializados, tica" (Pete Carter), e até que ponto a luta salarial deve estar integrada
que desempenharam um papel tão crucial nisso tudo; e também a des à luta mais ampla, da qual constitui apenas parte. Creio que esse é o
peito da grande melhoria nos padrões de vida, os quais, na década de problema fundamental que ataca o movimento trabalhista atual.
50, os observadores da classe média imaginavam que produziriam um Como Roger Murray nos relembra , é claro que para "a luta sala
"aburguesamento". Essas conquistas tornaram possível a integração rial continuar, indiferente. ( .. . ) acho que a denúneia do economicismo
de um número crescent e de colarinhos-brancos e trabalhadore~ não das lutas salariais ... embora de certa forma correta, é pouco benéfi
bra<;ais ao movimento trabalhista e, de certa forma, à classe trabalha ca". Isso preci sa ser dito . Seria um curioso tipo de movimento traba
dora. Embora cerca de 40 0io dos sindicalistas sejam hoje colarinhos lhi sta aquele que não prestasse atenção ao objeti\'o pelo qual os traba
brancos, isso não provocou uma queda na militância. Atualmente não lhadores realmente batalham - pelo qual, com crise c inflação, eles
são apenas os tradicionais trabalhadores braçais que praticam a ~oli são quase que forçados a batalhar. iVlas obviamente não há perigo dis
dariedade sindical e se recusam a romper um riquete. Tornou-se pos ~o. O perigo repousa mai s na racionalização do economieismo mili
sível integrar um número bem creScente de mulheres trabalhadoras (mui tante como uma estratégia geral.
tas vezes em tempo parcial) ao movimento trabalhista organizado. E Suas limitações foram postas em discussão, mas não por alguns
as conquistas também possibilitaram as vitórias no período 1969-74. a tivistas da frente industrial. Aí está o setorialismo. "As lutas salariais
Mesmo assim não foram ultrarassados os limites dessa renovada isoladas e conduzidas seforiall71el1le podem dividir, e realmente di vi
"consciência sindical profissional", os quais têm sido en fat izados pe dem, o movimento trabalhista, isolam-no de outros setores, e ajudam
lo declínio paralelo do movimento da classe pol,úco. Tem-se argumen Ilél guinada para a direita" (Roger l' vlurray). Se hoje o setorialismo
tado que a ação sindical não se divorciou da política porque também moqra-se mais fort e dentro do movimento sindicalista profi ssional do
liderou lutas não-econômicas (a exemplo daquela para o pagamento que 110 passado, como eu su geri, é uma questão histórica sobre a qual
total de leitos hospitalares), e porque as esquerdas dos sindicatos e os r o <;so muito bem ter-me en ganado . Não vale a rena discuti-la aqui .
ativistas de esquerda assumem posições políticas. Até certo ponto iss o P~ rmanece o fato de que o ~e toriali s mo - talvez de um típo diferente
é verdadeiro, embora a esmagadora maioria das greves políticas de anos do pa~ s ado - e\iste hoje , e de que (empregando as pala vras de Roy
recentes tenha, de fato, acontecido por motivos econômicos , direta ou d Cl1 Harrison), " sob' as condi<;ões de capitali smo de Estado e monopo
indiretamente contra as tentativas governamentais de limitar a livre ne li sta, as conseqüências do setorialismo tendem a se tornar mais d esa
gociação e de cercear direitos sindicais. Também se argumenta que aque g radáveis e mais separatistas". Todos nós sabemos disso, menos os ati
les limites são políticos no sentido de que, de certa forma não especifi vo ~ camaradas d a indústria.
cada, regenerariam o movimento político, ampliariam o apoio de mé\s<;a Também exi ste a tcndencia de o sindicali s mo "direto " aceitar o
a um programa socialista e unificariam o povo trabalhador do raís . s i ~ tell1a capitali sta corno ele é e de concentra r-se em conseguir o máxi
Pelo meno~ até agora não há muitos indícios de tais acontecimentos . mo dele. b~ a tem sido sempre a fraqueza do movimento sindical da
Não basta dizer que "agora a 'questão salarial' sofre transforma Grã- Bretanha, "uma ODo s i~ão que nunca vira governo " na~ palavra s
ções a olhos vistos, passando de questão setorial para uma que~tão de
d e- R. H. Tmmey há muito tempo, e uma fra queL<l da ['o rma típica de
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?07
"sindícalismo" na consciência da classe trabalhadora britânica, a qual dora . Apesar de tudo, existem hoje cerca de 350 mil empregados no
impediu essa cl asse de "revelar sua vocação para o poder" (Royden comércio. E as respostas não aparecem se adicionarmos os vários seto
H arrison) . E, por isso , a cl asse trabalhadora pode ser levada facilmen res da população que, por uma razão ou outra, conseguem encontrar
te a integra r-se ao cap italismo . P elo menos a importante greve de 1978 o apoio da esquerda para suas reivindicações setoriais.
foi descrita na discussã o como "um exercício das forças de mercado Um partido de classe trabalhista (com todas as suas limitações)
dentro da tessítura do capitalismo" (Mike Le Cornu). Aqui, há enor tom ou-se o partido de massa da classe trabalhadora britânica (ou, uma
mes perigos. O a pelo para se abolirem todas as restrições sobre a livre vez que somos um Estado multinaciona1, das classes trab alhadoras bri
negociação de salários conseguiu, naquele momento, tornar-se um tânicas) por oferecer unidade à consciência dessa classe como um to
slogan importante, mas devemos nos lembrar de que o apelo para a
do. e por oferecer, como um plus à defesa de interesses materiais ou
abolição de restrições sobre as livres operações do mercado (do qual de outros especiais, confiança, auto-respeito e esperança numa socie
representa uma forma especial) em geral costuma ter implicações polí dade diferente e melhor. Como isso surgiu? Por que milhões de traba
lhadores e outros, depois de 1918, e novamente durante e depois da
ticas bem diferentes.
Segunda Guerra Mundial, voltaram-se para o trabalhismo? Por que
Em terceiro lugar existe o fato de que a ação sindical - mesmo
existem, até hoje, certos grupos - os escoceses, as mulheres, um mo
a ação militante - pode estar muito divorciada da consciência políti
desto porém crescente setor das classes médias - que, em graus varia
ca. Os estivadores que entraram em greve de solidariedade a seus ca
dos , resistiram e não se voltaram na direção do conservadorismo? Es
maradas presos em 1972 eram os mesmos homens que haviam protes
sas questões não foram analisadas e estudadas de maneira adequada
tado contra o fato de Heath ter demitido Enoch Powell e que zomba
pelas esquerdas. Talvez um estudo desse tipo pudesse auxiliar nosso
ram de Bernadette Devlin às portas da prisão de Pentonville. Um triste
movimento a encontrar um caminho para progredir de novo. É bem
sinal disso é o fato de mais de um terço dos sindicalistas votarem no
vinda a discussão na Marxism Today e em qualquer outro lugar por
Partido Conservador em 1979, muitos deles, sem dúvida, participan
que reconhece uma séria crise no desenrolar desse movimento. Mas não
tes da ação industrial. Mais triste ainda é lembrarmos que houve épo há razão para se acreditar que a hesitação do trabalhismo, enquanto
ca em que a afiliação, a formação e os votos dos sindicatos para o Par movimento político de massa, seja historicamente inevitável ou que não
tido Trabalhista costumavam ser uma coisa só . poss a ser revertida.
Daí poderíamos concluir que apenas a força e a militância do sin
dicato, embora importantes, não compensam, e isoladas não conse
guem compensar, os retrocessos do movimento trabalhista em outros
aspectos.
Mas o que se pode fazer a respeito? É claro que esse deve ser o
tema da próxima etapa do debate. Até agora, a discussão fez emergir
uma série de sugestões gerais e algumas propostas mais específicas, em
especial quanto à maneira de vincular a luta industrial às reivindica
ções e lutas mais amplas, mas não acho que alguém acredite que fo
ram encontradas respostas satisfatórias. E elas não poderão ser encon
tradas enquanto se espera que a classe trabalhadora britânica e seu mo
vimento sejam diferentes do que foram, e se tornaram, historicamen
te . Não podem ser encontradas enquanto nos concentrarmos em seus
setores mais avançados - tanto nos membros ativos dos Partidos Tra
balhis ta e Comunista, como nos outros partidos e grupos. O teste da
vangua rda repousa em sua habilidade de conduzir exércitos. Não se
consegue achar respostas só pelo fato de se concentrar em um aspecto
da luta traba lhista - a luta industrial, na qual consistiu naturalmente
uma gr ande parte da discussão - mesmo que, agora, isso seja a coisa
que mais se assemelhe a uma mobilização de massa da classe trabalha
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III
ESTANCADO? (1981)
41
e capitalista mundial, a ponto de já ser, d iferenciando-se de outros países ultimamente. Contra isso acumulam-se os sinais de decadência. O vo
capitalistas, pior a crise de 1929-33, qu ase com certeza. to nacional trabalhista soma a porcentagem mais baixa do eleitorado
O desemprego já se co m para ao d o período 1929-33 e continuará desd e 1931. Em números absolutos esse voto mostra uma curva des
a crescer. Ao contrár io da década de 30, a rede de benefícios sociais cen dente inexorável de picos de quase 14 milhões , em 1951, para 11,5
está sendo simultaneamente desmantelada - exemplos disso são as es milhões, em 1979, com exceção de uma leve alta em 1964-66 . Se o po
colas e os serviços de saúde - , enquanto as construções públicas e pri vo não vota no trabalhismo, não pode haver nenhum governo traba
vadas, que então estavam explodindo, virtualmente pararam. A estru lh ista, fato às vezes ignorado por militantes entusiasmados. Os parti
tura da p rodução industrial britânica está sendo demolida quase além dos ou g~ os à esquerda do Partido Trabalhista não têm um eleitora
da esperança de uma restauração. Poucos operários que elegeram That d"õ,iiãCional ou 10cal J igniTicativo. N o presente, o própr io Partido Tra
cher não lamentam amargamente tê-lo feito, e até amplos setores de balhista, em termos de seus quaaros individuais ativos, não é um par
capitalistas britânicos buscam, desesperados, alguém em quem se tido de massa, mesmo considerando o recente influxo de ativistas. No
apoiar. Dad as as circunstâncias, poder-se-ia esperar uma maior onda momento, provavelmente o Conservador seja, mais do que aquele, um
de a poio ao trabalhismo, liderada por um movimento trabalhista uni pa rtido de massa. Ninguém pode afirmar que o Partido Comunista ou
do, confiante na vitória. outros partidos e organizações marxistas estejam numa expansão sig
E m vez disso encontramos um movimento trabalhista confuso e nificativa. A radicaliza ão política de um setor de 'ovens a ós 1968
dividido, desagregado por divisões e lutas internas, e isolado de vários não teve continui a de. ~ pLima vera e 1981, durante um encontro
de seus antigos apoios. A meio caminho de um governo desastroso e de representantes que reuniu cerca de 150 intelectuais de esquerda, não
profundamente impopular, no qual ninguém na Grã-Bretanha ou no havia uma única pessoa com menos de 25 anos . Quanto aos sindica
exterior acredita - nem mesmo a maioria de seus membros - , a cren lOS , com seu poder e sua capacidade de resistir aos ataques que rece
ça no trabalhismo como um governo alternativo também sucumbiu. bem, mantêm-se apesar de tudo como a parte mais impressionante do
O fato de que, em tempos como estes, Warrington, um dos mais sóli movimento trabalhista. Mesmo assim, sua relativa força realça a fra
dos bastiões trabalhistas da Inglaterra, quase poderia ter sido perdido queza polftica do movimento. Pela primeira vez, desde 1923, o eleito
para o candidato de um terceiro partido que nem mesmo fingiu fomen rado trabalhista nacional é hoje menor do que o número de sindicalis
tar uma política alternativa, e para um homem pessoalmente associa tas afiliados ao TUC (mesmo no desastroso ano de 1931 era maior) .
do à CEE, que obviamente não é uma causa popular, deve-se ao voto O t rabalhismo atual não consegue mobilizar nem mesmo os membros
popular de não-confiança no trabalhismo. Nem é preciso continuar a do movimento sindical para sua causa. Na verdade, em 1979, um terço
explicação. Uma vez que essa situação permanece, seria absurdo afir dos sindicalistas parece ter votado nos conservadores; e se a eleição
mar que o trabalhismo reassumiu seu avanço, ou que parece estar de Warrington serve de exemplo, mesmo que não tivessem votado nos
reassumindo. co nservadores, muitos deles não mais votariam no trabalhismo.
Constatado esse quadro, continua sendo tão vital como era há três Na década de 70, esse contraste entre um movimento político tra
anos analisar desapaixonadamente o que levou o trabalhismo à atual balhista incerto e em declínio e um crescente movimento industrial, mi
situação crítica. Não pode haver reversão na sorte do trabalhismo, a lita nte e aparentemente imbatível, capaz de frustrar e resistir a gover
não ser, como diz Jack Jones, que "recusemos a repetição de slogans nos, é que encorajou várias das boas ilusões sobre o potencial político
e de generalizações do passado, e que também recusemos a negação deste último. Se usarmos a metáfora lançada co rretamente por Ray
de avaliar realisticamente os fatos do presente" . Todos os que contri mond Williams, as pessoas agiram como se o pássaro do trabalhismo
buem para a presente discussão estariam preparados para aceitar os p udesse voar com uma asa só . E de fato essas pessoas às vezes sentem
fa tos da situação e os resultados de um diagnóstico realista? Não te se tentadas a argumentar que a asa política, de alguma forma, poderia
nho m uita certeza. regenerar-se pela batida da asa industrial. Essas ilusões, que foram
Nessa instância, os fatos são fortes demais para serem negados. acompanhadas por uma certa idealização da ação popular, não mor
Duas indicações aparentes do avanço do trabalhismo têm sido e po reram por completo, pois baseavam-se na observação perfeitamente ver
dem ser mencionadas: os sindicatos britânicos (como Steve Jefferys d adeira de que "a organização vinda de baixo" é uma parte necessária
apontou corretamente) começaram a a~mentar seus quadros de novo de qualquer estratégia, tanto política quanto industrial, da esquerda.
na década de 70, depois de um quarto de século de estagnação, e pode Mas não basta dizer que o caminho para a recuperação do trabalhis
ser que os quadros do P artido Trabalhista também tenham aumentado mo deve ser encontrado simplesmente pelo "trabalho real com o que
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e fundamental: respeito aos piquetes, coletas para quem está em gre \ a liosa (e vindo dele. bel1l au tl)Tit ari a) contribui ção de Jack Jones, que
ve ação solidária, reconstrução da independência dos comitês de co nuo ha um a manei ra aUlomcilica de se desv anecerem as diferenças en
m~rciáIios, construção de organizações de união popular a fim de ge tre os sindicatos e o Partido Trabalhista , as quais se desenvolveram
neralizar a luta anticonservadorismo" (Jefferys). Embora todas essas com o passar dos an os e ainda existem, especialmente em tempos de
tarefas sejam importantes, não são suficientes. governo trabalhista. Uma série concreta e limitada de objetivos políti
E também a grande ilusão dos anos 70, de que o sindicalismo mi cos tem que ser ajustada, e com a qual se comprometam ambos os la
litante era suficiente, não se salva pela argumentação de que teria sido dos. mesmo quando não representem aquilo que cada um preferiria,
suficiente se os sindicatos apenas não tivessem mostrado tão pouca vi se fosse deixado a própria sorte. E terceira, alguns debatedores admi
são: se não tivéssemos "falhado ao represar a força popular do movi tiram o rato, pouco palatável mas inegável, "de que os ressentimentos
mento para clarear a perspectiva socialista de classes" (novamente, em relação ao poder sindical realmente cresceram" (Wainwright) até
Jefferys), ou se os sindicatos não tivessem "agido com negligência co entre os que apóiam o trabalhismo e provavelmente dentro dos qua
mo políticos, no sentido de fazer campanhas sobre as necessidades so dros dos sindicatos. Não podemos fingir que isso não influiu na derro
ciais mais amplas do povo trabalhador e de outros grupos oprimidos" ta do governo trabalhista em 1979, nem negar, pois tal ressentimento
(Wainwright). ~ certo que poderia ter havido mais represamento e cam continuou, de modo paradoxal, mesmo enquanto o poder sindical di
panhas mais amplos, se bem que a necessidade de ambos não constitui minuía, numa época de declínio e desemprego , o que ainda constitui
exatamente uma descoberta nova entre os socialistas. Mas fica claro um fator político significativo.
nas posições tanto de Jefferys, quanto de Wainwright que a força da Podemos argumentar sobre uma porção de assuntos. Assim, acre
militância "não é suficiente, ante uma crise capitalista mundial e uma dito que Jack Jones tinha razão, em contraposição a Hilary Wain
Grã-Bretanha dominada por capital multinacional" (Jefferys), e que wright, em sua análise das falhas políticas do movimento nos anos 70.
o poder dos sindicatos, por si só, é essencialmente "o poder de nego A falha dos sindicatos não se deveu ao fato de que viam os governos
ciar a respeito dos contratos de trabalho" (Wainwright) - pode-se e os conselhos trabalhistas como forma de suprir as outras necessida
acrescentar, no interesse de grupos particulares de trabalhadores. Lo des "de todos os trabalhadores", além daquelas nas quais a negocia
go, embora boa parte da ação sindical tenha se ampliado politicamen ção coletiva poderia tratar diretamente, limitando-se por isso "a lutar
te, só pode ser uma parte da luta trabalhista, mesmo sendo uma parte pelos interesses dos assalariados , e ponto final" . Em si, isso era mais
fundamental, crucial e formidável. Inevitavelmente, há muito interes do que suficiente, uma vez que a ação sindical isolada apenas conse
se vital para os trabalhadores, enquanto cidadãos , e para os cidadãos gue atingir objetivos limitados, embora indispensáveis. Por sua capa
não diretamente representados pelos sindicatos, que não pode ser ne cidade de mobilizar os trabalhadores, os sindicatos podem participar
gociado pela ação industrial, de modo adequado ou de jeito nenhum, de modo intenso em campanhas mais amplas e, por sua peculiar posi
e que, conseqüentemente, precisa ser buscado de outras maneiras . É ção dentro do Partido Trabalhista, podem auxiliar na elaboração do
claro que todos reconhecem o fato, em princípio, e (com exceção dos programa dos governos trabalhistas. Os sindicatos, enquanto estrutu
sindicalistas) sempre o fizeram desde que os sindicatos britânicos, há ra mais maciça de auto-organização dos cidadãos, podem alargar os
mais de oito anos, reconheceram que necessitavam de um partido, in horizontes daquilo que imaginamos como "política", além da repre
clusive os socialistas, para suplementar sua ação. Hoje, certamente, se ntatividade institucional, parlamentar ou de outras formas de repre
isso é reconhecido. Entretanto, na prática, a tentação de pensar em sentação (i.e., indiretas) de ação política, que atuam para ou em bene
termos puramente industriais parece não ter sido vencida por completo . f'icio das (às vezes, contra as) pessoas, porém apenas de vez em quan
Essa tentação também leva as pessoas a subestimarem ou a justi do permitem a elas que ajam para si próprias. No entanto, os sindica
ficarem as possíveis contradições dentro do setor industrial do movi lOS não podem substituir o movimento político mais amplo do traba
mento, assim como os atritos entre sindicatos e outras parcelas do mo lhismo, do qual são apenas uma parte, mesmo sendo uma parte cru
vimento. Boa parte do debate sobre "a estagnação" mexeu com um cial . É preciso haver u~a certa " divisão de trabalho" . A falha, tanto
aspecto dessas dificuldades, principalmente com o setorialismo sindi dos sindicatos quanto do partido , no período em que havia uma "divi
cal. Não quero prolongar esse debate, uma vez que, na prática, três são que se aprofundava entre a liderança do Partido Trabalhista e o
coisas parecem ser amplamente aceitas pelos participantes . Primeira, moviment o sindical " residia - a despeito dos esforços contrários por
está claro que o setorialismo levanta problemas muito sérios, tenha ou parte de pc s ~oa~ como J ones - no fato de que os líderes trabalhistas
não crescido em tempos recentes. Segunda, está claro, não apenas pela I.' \ecuta vam Uma políti ca que os trabalhadores não esperavam de seu
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paTtido . e os sindicatos, por sua vez, perseguia~ seus próprios interes Porém sentem-se tentados a ignorar - até que um desastre eleito
ses estreitoS, independentemente dos governos, Inclusive governos tra ral torne essa distração dramática - o problema básico: como fazer
balhistas, e assim aj udavam a levar a derrota tanto aos governos con com que os povos britânicos, que rejeitam completamente o thatche
servadores quanto aos trabalhistas. rismo, voltem outra vez para o trabalhismo? No momento atual
Contudo , embora haja muito mais para ser dito sobre o setoria percebe-se que não estão fazendo isso, a despeito do fato de o Partido
Iismo e outros problemas sindicais, vários aspectos das dificuldades tra Trabalhista não apenas ser o partido dos trabalhadores, mas a alterna
bal histas são igualmente ou talvez mais urgentes. Até agora isso não tiva óbvia de partido de governo.
emergira de maneira tão clara para a discussão. Esse problema exibe três aspectos. Precisamos analisar, primeiro,
Desde 1979, a ilusão de salvação através da militância sindical vem qual a base do avanço que o trabalhismo teve entre 1900 e 1950, e se
sendo substituída por outra série, provavelmente mais perigosa, de ilu essa base ainda se mostra suficiente para garantir a retomada desse avan
sões baseadas no fato de que o único aspecto dinâmico do movimento ço. Segundo, temos que analisar as razões do declínio do apoio políti
nos últimos tempos tem sido o marcante avanço da esquerda dentro co ao trabalhismo, em especial nos últimos quinze anos. E terceiro,
das organizações do Partido Trabalhista. De fato, esse é um fenôme devemos considerar politicamente os meios para reverter esse quadro.
no marcante e bem-vindo. A posição atual da esquerda dentro do par O trabalhismo basicamente cresceu e se tornou um partido de go
tido, baseada em sua força e organização planejada entre os ativistas verno enquanto (como o nome diz) partido de uma classe trabalhadora
em partidos representativos e sindicatos, e baseada em mudanças cons braçal, consciente de que necessitava de um partido político de classe.
titucionais (tais como a reescolha dos candidatos e o novo método pa A maioria dos estudos que investigam os motivos pelos quais as pes
ra eleger os líderes do partido), teria sido quase inconcebível até há uns soas votam no trabalhismo chegou às mesmas conclusões , em suas es
dez anos. A próxima vitória trabalhista, espera-se, dará mandato a uma sências , que McKenzie e Silver, em 1968: "Quando se perguntava aos
maioria parlamentar de esquerda, sob liderança socialista, que não ape eleitores da classe operária, que votavam no Partido Trabalhista , com
nas estará comprometida com uma política socialista conforme o ma que se 'pareciam' os partidos, eles tendiam a responder esmagadora
nifesto do partido (como foi formulado pela Conferência), mas tam mente em termos de classe"; ou Westergaard e Resler: "Perguntando
bém não mais será capaz de se desviar dela, desde que o novo governo se por que tinham votado desse modo , os operários braçais que apoia
trabalhista esteja em curso . No entanto, pressupõe-se que a guinada vam o trabalhismo em geral referiam-se ao fato de que o partido é
do partido para a esquerda e sua promessa de permanecer fiel a seus ou supõe que seja - o partido da classe trabalhadora". Durante a maior
compromissos garantirão, elas mesmas, a próxima vitória trabalhista.
parte deste século, os trabalhadores braçais formaram uma maioria subs
Essa ilusão é mais perigosa do que as da década de 70, porque
tancial dos povos britânicos , mas enquanto durante meio século os ope
ignora completamente o principal problema, qual seja: o partido me
rários dirigiram-se mesmo para seu partido de classe, no auge da pros
lhor e mais esquerdista não basta, se as massas não o apóiam em nú
peridade do trabalhismo (1945-66) entre 35 e 400/0 deles (ainda) não vo
mero suficiente. Na Grã-Bretanha, infelizmente, os novos e velhos mar
lavam no Partido Trabalhista. O declínio da sorte do trabalhismo de
xistas têm bastante experiência a esse respeito. O sindicalismo, com to
das as suas limitações, nunca consegue ignorar as massas porque, se pois de 1951 não pode portanto (pelo menos no início) ser explicado
ele organiza milhares de pessoas , deve representá-las o tempo todo e por um declínio numérico do proletariado braçal.
precisa mobilizá-las boa parte do tempo. Mas conquistar o Partido Tra Contudo, o Partido Trabalhista não cresceu apenas como um par
balhista para a esquerda pode ser feito a curto prazo sem consulta às tido dos trabalhadores braçais . Ele atraía desproporcionalmente os po
massas. Na teoria, pode muito bem ser conseguido por uma pequena vos minoritários da Grã- Bretanha, não apenas porque a Escócia e Ga
minoria de umas poucas dezenas de milhares de socialistas engajados les eram proporcionalmente mais industrializados do que a Inglaterra,
e gente da esquerda trabalhista, por meio de encontros, por esboços e os irlandeses na Grã-Bretanha eram esmagadoramente operários, mas
de resoluções e votos. A ilusão do inkio dos anos 80 era a de que a também porque escoceses, galeses e irlandeses eram populações mino
organização consegue substituir os políticos . Hoje existem muitas de ritárias. O partido também atraía um setor pequeno, porém crescente,
zenas de milhares de tais ativistas, e seu número vem crescendo porque de intelectuais e estratos médios "progressistas", como o herdeiro de
os sucessos da esquerda dentro do partido incentivam suas esperanças. Um finado liberalismo radical , o partido da educação, da razào e do
Sentem-se tenta dos, como eu sugeri a Tony Benn , a encarar o proble progresso de uma sociedade socialmente mais justa e, de modo amplo,
ma reen cetan do o avanço do trab alhismo "num sentido organizacio Como o partido da paz. Talvez isso nào tivesse maiores significados
nal meio tacanho". eleitorais mesmo em 194 5; no entanto, o movimento " de avanço do
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liberalismo" não foi desprezível, como atestam as histórias políticas membros do NUR e do ASLEF, '" embora as lideranças do ASTMS es
de famílias como as dos Foot e dos (Wedgewood) Benn. Mais signifi tejam muito mais à esquerda do que nos outros dias.
cativa foi a virada de um número crescente de colarinhos-brancos de Além disso, até a "velha" classe operária não é mais o que era
baixos salários e a diminuição de profissionais liberais no trabalhis há uma geração, sem falar nas modificações em sua composição, a qual
mo, de forma notável em 1945, pois esses grupos (com algumas exce meu artigo original tentou esquematizar. Em geral, como J ack Adams
ções como a dos professores), antes, tinham-se mantido afastados dos apontou corretamente:
operários. Em suma, o trabalhismo também cresceu como um "parti
do popular", potencial ou de fato, para uma mudança progressista. o apoio de massa para o avanço político e a manutenção da consciência
Mas existe um terceiro elemento. Desde 1918 o partido compro de classe ... decaiu ... Entre as pessoas mais velhas encontro, com freqüên
metera-se com um objetivo socialista, e é quase certo que a maioria cia. uma resposta simpática e um claro entendimento de classe nas dis
dos que apoiavam o trabalhismo dentro da classe operária também acre cussões. Isso é menos forte nas gerações mais recentes, embora vários jo
ditava, embora imprecisamente, que a sociedade capitalista teria que vens estejam evidentemente procurando uma alternativa radical.
terminar, e que uma sociedade nova e melhor deveria substituí-la, não
apenas uma versão menos injusta da sociedade de então. Nesse senti De modo mais específico, ocorreram mudanças que desencoraja
do, em política, a classe trabalhadora britânica, ao contrário da classe ram o velho tipo de consciência política. Assim, os valores individua
trabalhadora norte-americana, tornou-se - e espera-se que se mante listas da sociedade de consumo e a busca de satisfações pessoais e par
nha - socialista. Os historiadores que subestimaram esse aspecto da ticulares acima de tudo têm sido levados todos os dias, durante uma
ascensão do trabalhismo, especialmente entre 1918 e 1945, estavam equi geração, até suas salas de estar, pela mídia (Adams tinha razão ao cha
vocados. O argumento da direita trabalhista, de que a cláusula 4 era mar a atenção para a mídia, mas eu não enfatizaria tanto as distorções
prejudicial, em termos eleitorais, mostrou-se falso e equivocado. Era e inclinações das notícias e da propaganda quanto à atmosfera cons
uma farsa, pois a direita rejeitaria o socialismo da cláusula 4 de qual tante de comerciais e de programas de entretenimento aparentemente
quer maneira, e não apenas porque pensava que poderia perder votos a poIíticos). De mais a mais, o enfraquecimento da influência do pró
por sua causa; e estava equivocado porque não impediria o trabalhis prio velho movimento trabalhista fez com que alguns trabalhadores fi
mo de ganhar as eleições gerais desde a década de 50 . Nem impedirá. cassem menos resistentes a "infecções", a exemplo do racismo. Bem
Ao contrário, pode-se argumentar que os maiores avanços do traba ou mal, não podemos simplesmente voltar ao que Steve Jefferys cha
lhismo tiveram lugar quando eram estimulados por grandes ondas de ma pejorativamente de "consciência de classe de Andy Capp" dos anos
esperança numa sociedade melhor, como em 1945, quando o voto tra 40. Por falar nisso, nunca sugeri que pudéssemos, embora, com todos
balhista cresceu até perto dos 50070. A esperança numa Grã-Bretanha os meus senões, eu sentisse muito.
transformada não foi nem será um apelo apenas para os trabalhadores E mais: não podemos simplesmente esperar que os antigos apelos
braçais. Ao contrário, numa época de crise nacional, de quase deses para o socialismo tenham a mesma ressonância que no passado. Hoje
pero nacional, pode ser um apelo muito mais amplo. quase não há ninguém que veja os diversos países socialistas como mo
A base original do avanço do trabalhismo enfraqueceu-se. Hoje, delos para um socialismo britânico, nem se inspire, como antes o fa
a classe dos trabalhadores braçais do tipo antigo, provavelmente, cons ziam os operários britânicos, no que viam como "o primeiro Estado
titui uma minoria e, com certeza, uma proporção menor do povo. As operário" na União Soviética. Depois de conviver por trinta a quaren
sim, mesmo supondo-se que todos os antigos apoios da classe traba ta anos com diversas indústrias nacionalizadas, o apelo para naciona
lhadora afluíssem de volta ao partido, não se voltaria a 1945. E con lizar mais algumas pode de fato ser válido e necessário, porém não dá
quanto a "nova" classe trabalhadora de colarinho branco, de técnicos mais a impressão de uma solução automática para os problemas dos
e de empregados menos categorizados esteja agora de fato grandemente trabalhadores, que dava quando WilI Lawther proclamou, em 1944:
organizada em sindicatos, e uma parte deles (especialmente no setor "O que pode ser conseguido através da propriedade pública? Ganha
público) tenha sem dúvida se radicalizado, sua "consciência de clas ria a completa confiança dos mineiros e de suas famílias. Seriam varri
se" não é necessariamente a mesma que aquela dos antigos trabalha das gerações de suspeitas e ódios e desenvolver-se-ia uma atitude intei
dores braçais, e sua atração espontânea por um "partido da classe tra
balhadora" é menor. Pode-se apostar que a porcentagem dos mem • AST MS: Associalion of SciCnlifi c. Technical and Managerial Slaffs; NUR: National
nion of Rai lwaym en; ASLEF: Associated Sociely o f Locomolivc Engeneers a nd Fi re·
bros do ASTMS que votam no trabalhismo é menor do que a dos men . (N .T.)
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ramente nOva em relação à indústria de mineração". A causa do so mo obteve maioria porque oferecia a esperança de mudanças, e per
cialismo permanece tão fo rte quanto antes, mas deve ser inquirida de deu não apenas porque, como todos os governos desde então, provou
um jeito novo, com propostas muito mais claras no que diz respeito se incapaz de enfrentar a crise da economia britânica, mas também por
ao t ipo de sociedade que queremos, e o que o socialismo pode conse que fez quase o oposto daquilo que os eleitores do trabalhismo e os
guir . além das repetições de velhos slogans que, embora válidos, não sindicalistas esperavam de um governo trabalhista. Não há como ne
mais contêm as mes mas convicções. Esse aspecto foi tocado por Ro gar o desapontamento e a desmoralização dos apoios tradicionais do
bin Blackburn, de forma correta e vigorosa. Não podemos confiar em trabalhismo. No entanto, uma vez mais, o xis do problema não repou
nosSO passado. sa no " sólido" voto trabalhista, que quase não se modificou entre 1964
Essas observações bastam para semear dúvidas sobre a afirmação e 1970, mas no fracasso em aproveitar a oportunidade de 1966 para
de que tudo aquilo que nos separa de um próximo governo trabalhista ampliar de novo o apoio trabalhista, e mesmo em manter o apoio en
consiste em um bom programa de esquerda para o trabalhismo e na tão obtido temporariamente. O avanço do trabalhismo não pode ser
prova de que o programa do partido não será traído. Entretanto, o retomado enquanto pensarmos simplistamente em termos de pessoas
ponto de vista de que isso seja a chave mestra para que se reassuma como aquelas que formam o amplo, mas decadente, bloco de homens
o avanço do trabalhismo baseia-se num diagnóstico mais específico da e mulheres ainda dentro do campo das velhas lealdades, apelos, dis
derrota e da crise do trabalhismo, o que é um engano. Com a única cursos e argumentos "do movimento", ou, ainda menos, em termos
exceção de 1966, o voto trabalhista continuou a cair inexoravelmente da minoria de ativistas devotados. Uma enorme massa de potenciais
desde 1951. O partido perdeu ou venceu as eleições não por causa do eleitores do trabalhismo, mesmo entre os membros dos sindicatos. não
movimento de seus próprios apoios, mas por causa das mudanças dos mais figura entre aqueles.
votos nos conservadores e em outros partidos. O trabalhismo venceu De que !J1odoo avanço pode ser retomado? Que pode, comprovou
em 1964 porque o voto conservador caiu em cerca de 1,7 milhão; per- . se em recentes exemplos de partidos que tiveram sucesso (pelo menos
deu em 1970 porque esse voto, o conservador, cresceu quase o mesmo por uns tempos) em romper a estagnação, o declínio e o isolamento
número; ganhou em fevereiro de 1974, e de novo em outubro, porque político, que não se restringem ao trabalhismo britânico. Mas foi con
nas duas vezes caiu em mais de um milhão; e perdeu em 1979 porque seguido por partidos que avançaram não apenas enquanto partidos de
os votos conservadores aumentaram em mais de três milhões. Os vo classe, e menos ainda enquanto grupos e alianças setoriais de pressão
tos para os partidos que alcançaram o terceiro lugar também subiram de interesses m~oritários, mas enquanto "partidos do povo", com os
e desceram, como ioiôs. O próprio voto trabalhista não variou mais quais-sepõc1e identificar a maioria do povo interessado em reforma
do que uns duzentos mil entre as eleições (omitindo-se a de 1966),1 e eem mudança paulatina, enquanto porta-vozes da nação em tempos
continuou de-crescendo sempre.
de crise. Isso não significa que eles não mais se baseiem no movimento
Tudo quanto aconteceu ao trabalhismo na década de 70 claramente
trabalhista. A unidade entre socialistas e comunistas, que persiste con
não foi devido às reações dramáticas da massa de verdadeiros eleitores
tra a oposição dentro e fora do Partido Socialista Francês e que se realça
do trabalhismo ao governos trabalhista ou a outro, mas ao resultado
pela participação comunista no governo do presidente Mitterrand, foi
das reações de pessoas que talvez devessem ter votado no trabalhismo,
a condição essencial para o seu triunfo. Mas isso não quer dizer que
e no entanto não votavam mais. Os governo trabalhistas não foram
derrotados em virtude de cisões dos eleitores do partido, desaponta um partido assim afasta-se de seu programa. O Partido Socialista Fran
dos com suas marcas mais altas: em 1951, dois milhões a mais do que cês (PSF) conseguiu maioria absoluta com um programa à esquerda
em 1945 votaram no trabalhismo, e, mesmo em 1979, o governo de tudo até agora sugerido pela esquerda do trabalhismo britânico. Po
Callaghan perdeu com um pouco mais de votos do que ganhara em tencialmente , o Partido Trabalhista é um partido assim. Precisa apren
1974. Z Isso diminui um pouco o folclore que se criou a respeito da trai der de novo a agir como tal.
ção aos programas como razão para a derrota trabalhista. Existe, po Isso não significa que o Partido Trabalhista devesse ser e agir co
rém, uma exceção importante: o período Wilson, de 1964 a 1970. Ne mo aquilo que o próprio Tony Benn vê como a primeira e principal
le, e somente nele, encontramos um crescimento de 0,8 milhão de vo condição do reviver do trabalhismo: "um partido amplo" conduzindo
tos para o trabalhismo em 1966, seguido por uma queda pouco maior um amplo movimento. Não significa simplesmente um reconhecimen
em 1970. Por quê? to da diversidade dentro do partido, mas uma consciência da diversi
Em nenhum momento os governos Wilson tiveram um programa: dade das classes e de outros grupos da população, e das aspirações e
que merecesse esse nome; portanto, não poderiam traí-lo. O trabalhis interesses daqueles que organizam a ampla frente progressista que tem
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de levar o trabalhismo à vitória. Significa não apenas que tanto a es
programas "que os trabalhadores possam compreender e lutar por
querda quanto a direita do trabalhismo, mesmo às turras, pertencem
eles" ; que é desastroso quando um líder trabalhista não implementa
, a um amplo movimento e têm o direito de estar aí, algo que tem sido
" políticas que causem mais impacto na opinião da classe trabalhado
mais prontamente reconhecido no movimento sindical do que no Par
ra"; que '~por causa de boa parte do trabalho crítico que se desenvol
tido Trabalhista. Terry Duffy e Tom Jackson são líderes trabalhistas
ve agora pertencer a uma variante intelectual acadêmica, não há muita
tanto quanto Alan Fisher, Arthur Scargill e Ken Gill; representam cor compreensão do que deve ser feito por parte do pessoal dos sindica
rentes de opiniões legítimas dentro do movimento, por mais que quei lOS " ; que "os trabalhadores necessitam ver e sentir o progresso para
ramos modificar tais opiniões. E o movimento como um todo seria en ganhar confiança" , que "se ganha o interesse das massas pelas lutas
fraquecido se houvesse cisões entre a esquerda ou a direita. por coisas que o povo vê como justificáveis e possíveis". Talvez Jones
Mas também significa que precisamos distinguir com clareza en lenha se concentrado um pouco demais nas campanhas (necessárias)
tre aspectos individuais e opinião de grupos. Não suponho que alguém sobre "as políticas simples, claras e limitadas", que podem ser encara
de esquerda se aflija por aqueles indivíduos da ala direitista que du das como as que trazem vantagens imediatas. As pessoas não querem
rante anos deixaram o partido e encontraram um abrigo mais de acor somente empregos para os que saem das escolas; querem um mundo
do com suas preferências, e presumivelmente mais próspero, em outro melhor e mais justo para seus filhos, e confiança num partido que tra
lugar - os Shawcross, Roben, e o restante. Não suponho que a perda balh ará para isso, além de qualquer programa imediato, E o trabalhis
de Roy Jenkins, como pessoa, tenha sido muito pranteada. Mas é um mo precisa ter um apelo não apenas para o povo trabalhador, mas pa
engano pôr de lado a cisão coletiva dos soáaldemocratas e a fundação ra todos que precisam desse mundo melhor e mais justo. Mas, apesar
de novo partido como um escape. Representa a perda de um impor disso , Jones estava fundamentalmente correto.
tante setor da classe média de centro-esquerda, que há muito namora O futuro do trabalhismo e o avanço do socialismo dependem da
va o trabalhismo, e em muitos casos operava ativamente para o traba mo bilização de gente que se lembra da data de lançamento dos Beatles
lhismo mais do que para alguns outros partidos. Como está claro ago e não da data dos piquetes de Saltley; gente que nunca leu o Tribune
ra, potencialmente representa um enfraquecimento eleitoral significa e que não tem o mínimo interesse pela liderança representativa do Par
tivo do Partido Trabalhista - o quanto, ainda não está claro. Em su tido Trabalhista, exceto (se apoiar o trabalhismo) no caso de ser per
ma, representa uma porção de gente que deveria apoiar o Partido Tra turbada pelo fato de que, enquanto os britânicos soçobram após mais
balhista, e que novamente precisa ser conquistada para isso, seja qual de dois anos de thatcherismo, o partido pareça gastar muito de seu tem
for nossa opinião sobre o Bando dos Quatro . E quem imagina que um po em lacerações mútuas. As pessoas podem estar enganadas, mas a,
Partido Trabalhista sem tais apoios vai ser, pelo menos, uma força mais razão pela qual essas lutas não são remotas e incompreensíveis não foi
forte, mais comprometida e mais unida para o socialismo, deveria pa explicada de maneira a satisfazê-las. O futuro do trabalhismo e do so
rar para pensar. Como historiador e como marxista com memória po cialismo depende de homens e mulheres, colarinhos azuis, brancos, sem
lítica de mais de meio século, conheci uma porção de partidos fortes, colarinhos, que vão do primário ao doutorado, que infelizmente não
comprometidos, grandes, pequenos e minúsculos, com programas ad são revolucionários, mesmo querendo uma Grã-Bretanha nova e me
miráveis, exceto enquanto parcelas ocasionais de coalizões às quais eles lho r. Neste século, o trabalhismo avançou com o apoio dessa gente,
estavam algemados muito mais por seus parceiros burgueses do que que aceitou a liderança da esquerda quando isso fazia sentido aeotro
os que apoiavam Benn precisavam estar, por terem que conviveL cQm de sua própria maneira de pensar. Se o trabalhismo quiser avançar de
os que apoiavam Healey. Além do mais, a experiência da esquerda in novo , não se pode esquecer disso. Pois, se essas pessoas não votarem
felizmente sugere que, nestes tempos, mesmo um partido socialista com no trabalhismo - o que constitui um indicador mínimo de apoio polí
prometido não escapará das divisões' e brigas internas. tico - então o trabalhismo não se recuperará de seu longo declínio.
Como nos lembrou Jack Jones, o partido que restaurar o avanço Existem apenas três modos possíveis de evitar essa conclusão . Po
do trabalhismo deve pensar a política em termos de gente comum den demos supor que ainda exista uma enorme massa de homens e mulhe
tro e fora do movimento, e não simplistamente em termos dos..ati; is res identificada com "o movimento" e que automaticamente apoiaria
tas que são atípicos, .como se eles gastassem muito mais tempo e ener qualquer liderança e qualquer política porque representam o trabalhis
gia no movimento do que a maioria dos homens e mulheres. Podemos mo, quando chega a hora de votar. Seríamos imprudentes se continuás
ou não concordar com Jones acerca do Contrato Social, mas ele esta semos a confiar nisso. Entretanto , milhões continuarão leais, aconte
va coberto de razão em repisar , incansavelmente, que precisamos de ça ° que acontecer, mas eles não serão suficientes. Também podemos
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supor que em alguma parte exista um vasto, desconhecido e in explora IV
do reservatório de vo tos de esq uerda. No momento, não há nenhuma
evidência que legitime essa visão. P or último, podemos apostar na fa
lênci a do capitalismo e da política britânicos , o que levaria a uma crise COM VISTAS AO ANO 2000:
na qual as massas se voltariam para a esquerda. Uma vez que estamos POLÍTICA DE DECLÍNIO ? (1982)
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