Ouvistes o que foi dito, eu porem vos digo!

Do adultério e do divorcio
Redescobrindo a vontade de Deus a partir de Jesus de Nazaré
Mt 5.27-32

Adultério e divorcio! Estas são duas palavras muito recorrentes no âmbito do casamento. O
casamento vive ameaçado por estes dois fantasmas. O adultério e o divorcio denunciam que o
casamento não vai bem e que está a beira da falência.

Em nossos dias, tanto o homem quanto a mulher vivem assombrados por estes fantasmas.
São muitos os casos de adultério e são muitos os casos de divorcio. Parece-me que por traz de
um compromisso firmado mutuamente, existe outro compromisso individualista. São muitos os
recém casados que dizem, se não der certo a gente separa! Ou quando não se separam, afogam
as magoas das frustrações relacionais nos braços de outra mulher ou outro homem, surge o
adultério.

Na reflexão de hoje, nosso enfoque é nas palavras de Jesus a respeito do adultério e do

divorcio. Mas é preciso que uma primeira observação seja feita. A época de Jesus era bem
diferente da nossa! Naquele contexto a mulher era a parte mais vulnerável, era a parte que mais
sofria com o adultério e com o divorcio.

Geralmente, a mulher era entregue ao noivo pelo pai em um casamento arranjado. A mulher
não tinha o direito de se divorciar do seu marido, mas o marido tinha esse direito. A mulher cujo
marido dava a carta de divorcio se não conseguisse voltar para a casa paterna estaria sujeita a
prostituição para sustentar a própria vida. Qualquer insatisfação por parte do homem e não
apenas por causa do adultério, era motivo para que ele pensasse no divorcio.

Adultério e divórcio, duas palavras que assolam o casamento! Por isso, irmãos e irmãs, é
preciso ouvir o que fora dito aos antigos, mas também é preciso que ouçamos o que foi dito por
Jesus a fim de buscarmos em seus ensinamentos, caminhos para a restauração do lar, para a
alegria da vida conjugal, para a alegria da família como um todo. Ouçamos o que Jesus tem a nos
ensinar:

1) Cuidado! A literalidade da nossa leitura pode revelar o legalismo que há em nós

Quero começar explicando os versos considerados mais difíceis, mais emblemáticos deste
texto (29-30). Neste texto Jesus lança mão de uma figura de linguagem, uma hipérbole como se
quisesse dizer: Prestem atenção, porque isso é importante, é serio!

A hipérbole é um exagero que faz prestar atenção! Por exemplo, quando Jesus diz: se eles se
calarem as próprias pedras clamarão (Lc 19.40), Ele está afirmando que o louvor ao Messias que
entra em Jerusalém de jumento deve ser entoado por todos e não apenas por alguns.
 Quando Jesus diz: se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda direis a este monte
passe daqui para li, e isto acontecerá (Mt 17.20), Ele está criticando a oscilação da fé dos
discípulos que não conseguiram expulsar um demônio.

Deus é poderoso para fazer o que quiser com o que quer que seja, mas não é esta a sua
intenção nestes textos mencionados, pelo contrario, ele está chamando a atenção para algo que
deve ser seriamente considerado.

Aqui nos versos (29-30) ao proferir tais palavras Jesus está apontando para a seriedade do
adultério e que para evitá-lo medidas drásticas devem ser tomadas. Melhor seria deixar de
enxergar ou de tocar, do que trazer maior prejuízo ao casamento e desagradar a Deus. Mas
como disse, isso é uma hipérbole, caso você não concorde fique a vontade para arrancar o seu
próprio olho e decepar a sua própria mão.

Digo isso, porque o legalista é aquele que anda com o facão na mão pronto para arrancar os
olhos e as mãos dos outros! Ele é aquele seu amigo ou amiga, que fica te vigiando quando passa
uma mulher ou homem bonito, torcendo para você olhar, para dizer o seguinte: Olhou! Eu sabia
que você não iria resistir! Dá aqui a sua mão!

O caminho de Jesus não é o do legalismo em relação aos preceitos de Deus. Ao falar tão
duramente, Jesus nos convida a fazer uma auto-analise para que com muita sinceridade nos
examinemos e reencontremos o caminho de volta, o caminho da vontade de Deus para a vida
conjugal.

Então neste primeiro momento o que eu quero dizer é o seguinte. A leitura literal do texto,
condena a todos nós sumariamente ou ao inferno ou a mutilação. Mas claro, o legalista se eximirá
de tudo isso, e se fará juiz de todos. Mas ao legalista Jesus dirá, quem não pecou atire a primeira
pedra, quem nunca olhou para uma mulher com intenção impura em seu coração que arranque
os olhos dos outros e que decepe as mãos dos outros.

A ordem de Jesus é: Tome uma atitude já!

De fato medidas drásticas precisam ser tomadas, mas que medidas são essas? Arrancar os
olhos! Mutilar o corpo! Conta-se que ao ler literalmente este texto, Orígenes, um dos pais da
igreja, para evitar a tentação, decepou seu órgão genital, mas depois se arrependeu, infelizmente
tarde demais!

Estaria o deficiente visual imune ao adultério? O mutilado estará impedido de tomar para si o
que é do outro? Claro que não! Então, o que Jesus quer ensinar? A regra é clara, não
adulterarás! Mas a sociedade patriarcal e machista do tempo de Jesus, impunha esta regra
apenas as mulheres, o caso da mulher adultera registrado em Jo 8, comprova isso, apesar do
texto de Dt 22. 22, deixar claro que tanto o homem quanto a mulher deveriam ser apedrejados.

Tomemos atitudes drásticas em relação ao nosso casamento para que coisas piores não
ocorram. Todos nós passamos por dois momentos distintos. O primeiro momento é o de solteiro!
Neste tempo de solteirice a gente deve andar com os olhos bem abertos, ninguém encontra uma
namorada ou namorado com os olhos fechados! É preciso que os olhos estejam bem abertos!

O segundo momento é o casamento! Para preservar o casamento a gente tem que andar com
os olhos bem fechados! John Stott é quem aconselha neste sentido, aquele que tem olhos, passe
a viver como se não tivesse, não olhe! Aquele que tem mãos viva como se as não tivesse, não
toque! Aquele que tem pés viva como se não os tivesse, não vá!

Não olhe, não toque e não vá! Aos casados esta é a orientação de Jesus! Mas para que isso
ocorra é preciso que Deus faça uma cirurgia em nossos corações: “porque de dentro do coração
dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os
adultérios...(Mc 7.21).

Tem uma musica que diz: Abra os olhos do seu coração [...], aqui poderia ser dito: feche os
olhos do seu coração. Tome uma atitude já, como nos orienta o profeta Malaquias 2.15 “não sejas
infiel para com a mulher da sua mocidade”. “Beba da água da sua própria cisterna” como nos
orienta o provérbio 5.15. A grama no nosso quintal é tão verde como a do vizinho!

Está claro irmãos! Tem uma multidão querendo seguir Jesus, mas antes, Jesus quer deixar
claro que o discipulado tem um preço a pagar. E uma das questões é tratar o cônjuge com
dignidade, é renunciar aos desejos da nossa natureza. Não adulterando e nem sequer
conjecturando está possibilidade! Mas ai, alguns podem pensar! Há uma saída, há outro caminho,
garantido pela Lei, o divórcio!

Divorcio! Solução para os nossos dilemas conjugais?!

O homem do período bíblico era um estrategista em relação ao divorcio e a mulher ficava a

ver navios. Como disse no inicio, o homem estava em posição privilegiada em relação a mulher
no que diz respeito ao divorcio. Mas Jesus com seus ensinamentos torna o divorcio mais difícil e
sua intenção é trazer dignidade a mulher que repudiada pelo marido viveria de forma desumana
na sociedade. Perguntaram a Jesus: “é licito repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Ele respondeu: não
tendes lido que o criador desde o principio os fez homem e mulher e que disse: por esta causa deixará o homem pai
e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porem uma
só carne. Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mt 19.3-6)

A situação da mulher mudou! Uma estatística preparada pelo IBGE em 2015 me mostrou
algo curioso. Na estatística é entre 30-34 anos que as maiorias das mulheres se separam. Outro
dado interessante é que em todas as faixas etárias anterior aos 20 anos até os 54 anos, o maior
numero de requerimento é feito pelas mulheres.

Só pra termos mais uma idéia deste fenômeno mais próximo a nós. Em 2015, no cidade de
São Paulo ocorreu 24.151 mil processo de divórcio de natureza não consensual, deste valor
8.874 mil dos requerimentos de divorcio foi feito pelo marido e 15.277mil dos requerimentos foi
feito pelas mulheres, praticamente o dobro.

A situação da mulher mudou! A mulher emancipou-se do marido, a mulher moderna não se

submete mais ao silencio imposto pelo marido machista para preservar o casamento. Mas apesar
das conquistas femininas, o problema não está resolvido, os divórcios continuam ocorrendo em
proporções maiores que o próprio casamento.

A cultura do descartável, mais do que nunca, faz parte das nossas relações! Cresce de forma
assombrosa os níveis de insatisfações nos relacionamentos conjugais. O individualismo atual
continua dividindo o que Deus uniu. por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porem uma só carne. Portanto o que Deus
ajuntou não o separe o homem.” (Mt 19.3-6)

Um pouco mais a frente neste texto (Mt 19.10) um discípulo desabafa: “Se esta é a condição
do homem em relação a mulher, não convém casar”. Jesus rompe com uma tradição e
estabelece igualdade entre homens e mulheres. Não quer casar não case! Mas se mudar o status
perfil do faceboock de solteiro para casado, não arrume pretexto para separação, para o divórcio.

Conclusão

Ouvistes o que foi dito – Eu porem, vos digo! Não adulterarás! Nem sequer permita passar
pela sua cabeça a possibilidade do adultério e, por isso, a minha ordem é a seguinte: Não olhe,
não toque, não vá. Também foi dito, aquele que repudiar a sua mulher dê-lhe carta de divorcio!
Eu, porem, digo tanto aos homens, como as mulheres do século XXI, procurem sempre a
reconciliação, perdoem-se mutuamente, por todos vocês são falhos. Quando alguma situação
difícil surgir no casamento, optem pelo dialogo! Conversem! Evitem o distanciamento, evitem o
esfriamento.

Mulher trate o homem com dignidade, homem trate a mulher com dignidade, vocês não são
objetos uns dos outros, vocês são vidas distintas, mas que foram unificadas por Deus por meio
matrimonio. Façam do casamento de vocês um espaço para que você homem, torne sua esposa
plenamente mulher e para que você mulher, torne seu esposo plenamente homem. E que sejam
ambos, homem e mulher, seres humanos criados a imagem e semelhança de Deus, criados em
amor e para o amor. Que Deus Assim nos ajude e nos abençoe, amém!!