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Black Mirror aborda uma variedade de temas referentes à tecnologia e mesmo não tendo uma linha narrativa

única entre os episódios, notamos um tema que se mostra recorrente. Seja falando sobre realidade virtual,
política, mídias sociais ou sexo com animais, Black Mirror realmente ama ESPETÁCULO. Se assistindo
essa série você sente uma sensação de horror, ou nojo, talvez seja pelo fato de que a ideia do ESPETÁCULO
não seja ficção científica, mas moldada pela nossa realidade.
Então o que seria ESPETÁCULO? qualquer tipo de exibição visual chamativa. TV, vídeo games, internet,
vida real são essencialmente espetáculos. Mas se há um tipo de espetáculo que invade o nosso cotidiano,
seria aquele que vem através das nossas telas.

O relacionamento entre TELA e ESPECTADOR é central durante a série.

Podemos entender melhor essa obsessão por TELAS através do filósofo GUY DEBORD. No livro A
SOCIEDADE DO ESTÁCULO, Debord escreveu que nas décadas posteriores à Revolução Industrial
imagens e aparências começaram a dominar o mundo. Entretanto, um dos exemplos mais significantes
vêm do episódio Nosedive, onde uma garota chamada Lacie, assim como muitos de nós, mede a sua auto-
estima pelo celular.
De acordo com Debord, " O espetáculo NÃO É uma série de imagens, mas uma relação entre pessoas
mediada por imagens. Simplificando: por anos nós fomos metralhados por propagandas e culturas de massa
e, por causa disso, nossa vivência se tornou rasa.
Em Nosedive, o que chamaremos de "iFood pra pessoas", reorganizou a sociedade em um novo sistema de
classes baseado em popularidade, que por sua vez se baseia em perfis espetaculosos e mentirosos. Lacie
constantemente faz coisas que normalmente não faria: tira fotos de comidas que acha nojenta. E é legal
DEMAIS com pessoas que mal fazem parte da vida dela. Tudo pra ter uma nota positiva em um app que
atribui "VALORES REAIS" às pessoas.
Ninguém é livre pra ser verdadeiro, pois como ela diz: *É assim que a PORRA do mundo funciona!

Pessoas desenvolvem relacionamentos com os seus celulares e apps, que por sua vez desenvolve relações
com outros humanos. E retomando Debord, nossas relações são mediadas por imagens, mas nesse caso são
imagens mostradas pelos nossos celulares. Para Debord, quanto mais reconhecemos nossa própria
existência estabelecida pelo espetáculo, menos nós entendemos nossa "própria existência" e nossos
"próprios desejos".
Como a SOCIEDADE DO ESPETÁCULO tomou conta da vida da Lacie e mesmo das nossas?
Deboard argumenta que o espetáculo nasce quando a economia (dinheiro) invade nossa vida social.

E quanto mais falso o objeto é, mais vocês amam. Porque um objeto falso é a única coisa que funciona. Só
conhecemos objetos falsos e esse monte de bosta pra comprar. É como a gente se comunica, se expressa.
COMPRANDO ESSE MONTE DE MERDA.

Para Debord, essa invasão econômica no dia a dia acontece em um momento bem específico: quando "SER"
transforma-se em "TER", quando o que VOCÊ É passa a ser definido pelo o que você TEM. Essa lógica é
reproduzida em todo lugar da nossa sociedade: usar essa camiseta te torna um REBELDE, beber uma pepsi
te torna um MANIFESTANTE e ter um adesivo no carro faz de você um tipo aleatório de
EXIBICIONISTA. Black Mirror segue essa lógica, mas dá um passo adiante.

No episódio 'Volto Já', uma mulher em luto compra um corpo sintético do seu namorado depois dele morrer.
TER um relacionamento substitui ESTAR em um relacionamento. O caco de vidro que Bing usou quando
ameaçou se matar vira uma mercadoria virtual. POSSUIR rebeldia toma o lugar de SER rebelde.

Para Debord, o sistema nos dá espetáculos rivais que nada mais são do que "qualidades vagas destinadas a
estimular trivialidades quantitativas.
como Debord diz: " A aceitação presunçosa do que existe também pode se fundir com uma revolta
puramente espetaculosa; isso se reflete no simples fato de que a insatisfação em si acaba se tornado
mercadoria."

Então, eis uma questão: estamos indo em direção a nossa inevitável destruição, como Black Mirror
imagina?

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