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NA COGNIÇÃO DE ESPACOS URBANOS PAR-\. PORTADORES DE


DEFICIÊNCIA VISUAL

Marta Dischinger, I\'I.F.A. in Design -=----- ---_.-


---
Grupo de Pequisa Ci\Tpq Desenho Urbano e Paisagem
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Centro Tecnológico
Universidade Federal de Santa Catarina
c-. P.: 10060 CEP: 88062-970 Florianópolis/SC Fax: 048 3319550 Tel:O-!-82325174
E-mail: mdisch@.arq.ufsc.br

Vera Helena Moro Rins Ely, Dr. Eng.


Gru:[X1 de Pesquisa CNPq Desenho Urbano e Paisagem
Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção
Centro Tecnológico
Universidade Federal de Santa Catarina
Rua prof. Marcos Cardoso Filho 597 CEP: 88037-0-+0 Florianópolis Fax:048 2347R36
E-mail: vera@arq.ufsc.br

Palavras-chave: Desenho Universal, acessibilidade urbana, deficiência visual

Abstract: Importance of knowledge regarding the integrated functioning of the perceptual


systems, in the spatial cognition process, to support design decisions aiming to improve the
accessibility of urban public spaces for visually impaired persons. Study of spatial references,
their values and development of special investigation instruments.

Introdução

Um dos campos de pesquisa mais avançados na busca de soluções para melhorar a


acessibilidade aos espaços públicos urbanos para portadores de deficiência visual é o desenho
de instrumentos que permitam a obtenção de informações espaciais por meios não visuais. O
desenvolvimento de produtos inovadores' busca possibilitar: as atividades de orientação
espacial através de sistemas remotos via satélite; a autonomia e mobilidade através do uso de
cartões inteligentes (que podem, por exemplo, 'falar' o nome do ônibus que se aproxima); e a
compreensão do meio ambiente através de sistemas informativos (sonoros, mapas táteis, etc.).
Entretanto, avanços realizados em tecnologia de ponta não são acompanhados por uma
melhoria dos ambientes construídos e, principalmente, dos espaços públicos urbanos.

Apesar de a maioria dos países possuir leis e normas que definem o direito à acessibilidade em
áreas públicas a portadores de deficiência, sua implementação é ainda incipiente. Esta situação
se deve, tanto a fatores socioculturais - relativos à inclusão dos portadores de deficiência na
vida urbana - quanto à ausência de conhecimento específico por parte dos profissionais que são

I Veja John Gi11:Priorities for Technical Research and Development for Visually Disabíed Persons
Também, através dela, é possível conhecer as posições relativas no espaço ocupadas pelo
indivíduo em movimento. Para o processo de orientação - saber onde estarnos, e poder
escolher rotas possíveis para atingir metas - a visão fornece informação instantânea, através de
um processo de scanning, selecionando, enfocando e identificando elementos chave, ou seja,
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rererenciais •••
espaciais taiS como tan martes, umrtes e hcoroas
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, rugares, acessos, carrunnos e
eventos.

Os problemas encontrados na percepção espacial dos portadores de deficiência visual podem


ser classificados em duas categorias: a primeira, quando os sinais e referências existentes no
espaço são inadequados ou insuficientes para sua percepção sensorial e identificação; e a
segunda, quando as condições perceptivas individuais não permitem o reconhecimento de
informações espaciais devido à falta de experiência anterior de objetos, lugares e imagens
restringindo suas possibilidades de ação e participação no espaço.

Apesar destes problemas serem interdependentes, estudos na área de ergonorma e dese!1..~o


urbano naturalmente enfocam a primeira categoria, isto é, como transformar os elementos
espaciais para propiciar uma informação mais estruturada, criando ou reforçando aqueles sinais
que podem ser reconhecidos através de outros sentidos que não a visão. No entanto, sem o
conhecimento da categoria seguinte é impossível proceder na busca de soluções formais. Se
acessibilidade e participação ativa são desejadas é necessário estudar os processos normais de
percepção espacial e cognição, como também avaliar as restrições e mudanças trazidas pela
deficiência visual.

Importância dos sistemas perceptívos integrados

Apesar da percepção espacial e orientação dependerem principalmente da informação visual, a


informação obtida pelos outros sentidos também é importante. De acordo com Gibson (1966),
os sistemas perceptivos são: orientação, visão, audição, háptico, paladar-olfativo. Para os
cegos, o sentido de orientação é de fundamental importância, pois na ausência de informações
auditivas, hápticas, e olfativas, ele é o único capaz de providenciar informação sobre a postura
do corpo no espaço e seus eixos de referência (vertical/horizontal, direita/esquerda,
frente/costas) assim como a sensação de movimento próprio (velocidade, distância, ritmo e
direção). Mesmo se a orientação não é percebida usualmente como um 'sentido', ela é
fundamental por constituir a base a partir da qual informações obtidas pelos outros sentidos -
visual, auditivo, háptico (tato passivo e ativo) e paladar-olfativo - podem cooperar.

Para os portadores de deficiência visual a informação obtida pela audição e sentido háptico
ganham importância a medida que a visão se faz ausente. A informação auditiva é uma das
principais fontes de informação sobre eventos e situações distantes, permitindo a extensão dos
limites físicos de percepção mais centrados no corpo do indivíduo, como o são o movimento
próprio, o tato e o olfato. Por exemplo, o ruído de trânsito informa sobre a presença de um
cruzamento antes de se atingir efetivamente o mesmo. Também a técnica de uso pendular da
bengala é mais dirigida à audição - através de reflexão sonora que informa sobre a qualidade
dos diferentes materiais e a presença de paredes e aberturas - do que à identificação de
obstáculos através do tato em áreas próximas.

4 Definição de coneitos de acordo com Kevin Lynch (1960).


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'acessibilidade" serem cada vez mais utilizados correntemente, a ausência de conhecimento


especializado nos currículos acadêmicos limita a ação dos profissionais e induz à falta de
questionamento de suas atuações em relação à aplicação destas mesmas leis e normas,

Portanto, a melhoria efetiva das condições de acessibilidade depende do conhecimento de


necessidades especificas a atender (de acordo com o tipo de deficiência), e também de fatores
sócio-ecôrnicos ou culturais que ultrapassam o desenho físico em si, não podendo limitar-se à
urna visão reducionista de mera eliminação de barreiras físicas.

Objetivos e contexto da investigação

o objetivo deste trabalho é, justamente, auxiliar na compreensão de um processo de percepção


espacial diferenciado, causado pela redução ou ausência de informação espacial, e suas
conseqüências para compreensão e utilização de espaços públicos urbanos, Esta mesma
compreensão dos problemas enfrentados por pessoas portadoras de deficiência visual é
fundamental tanto para a proposição de soluções de projeto, quanto para a correta aplicação
de normas técnicas existentes,

Este artigo é uma reflexão sobre aspectos teóricos e metodológicos desenvolvidos em estudo
de caso referente à acessibilidade em áreas públicas centrais da cidade de Florianópolis. Tal
estudo tem como base consultaria realizada junto ao Instituto de Planejamento Urbano de
Florianópolis, IPLlF, e faz parte da tese de doutorado do primeiro autor, a ser defendida na
Chalmers University ofTechnology, Suécia,

Compreendendo o problema dos deficientes visuais

Para a elaboração de desenho de espaços urbanos acessíveis a portadores de deficiência visual


é necessário, além de compreender o funcionamento integrado de nossos sistemas perceptivos
no processo de cognição espacial, estender a concepção de quais são os elementos espaciais
que estruturam informações na ausência da visão, quais os canais de percepção envolvidos, e
que tipo de informação é transmitida. Este conhecimento é ignorado, na maioria das vezes,
devido à importância que a informação visual ocupa na ·percepção do espaço. Além disso,
sendo uma larga parte das atividades de projetação essencialmente visuais, parece 'natural'
ignorar a importância dos outros sentidos e a complexidade dos processos de percepção,

Em situações de visão normal, a percepção espacial e orientação dependem essencialmente das


informações fornecidas pela visão. Esta nos permite reconhecer e identificar a natureza e
qualidade de objetos próximos ou distantes num processo complexo de acumulação sucessiva
de imagens instantâneas, enquanto são construí das representações mentais dos lugares,

2, Desenho universal deveria ser entendido como o desenho que visa criar espaços que podem transformar-se
em lugares para todas pessoas e para cada uma, com suas diferenças biológicas, culturais, sociais e
econômicas

3, Acessibilidade para portadores de deficiência significa poder realizar ações desejadas, maximizando
competências e habilidades, diminuindo as dificuldades e barrreiras encontradas, permitindo participação,
igualdade e mais independência para uma vida normal,
I

Para resumir, podemos dizer que nossos sentidos trabalham como sistemas perceptivos
integrados, onde é difícil isolar as parcelas de informação recebidas, apesar de sermos
geralmente mais conscientes sobre informações visuais e sonoras. Se quisermos atenuar os
problemas- encontrados na percepção espacial de lugares na ausência ou redução da visão,
remos de compreender, em primeiro lugar, quais os principais problemas na obtenção de
informações sobre organização do espaço, eventos e qualidade de um lugar.

Diferentes organizações espaciais

Neste ponto é importante saber quais as condições críticas de percepção em relação a


diferentes organizações espaciais. A primeira delas é a ausência de referenciais válidos de
orientação para os deficientes visuais, ou seja, quando estes são inexistentes ou de difícil
reconhecimento. Esta é a situação que geralmente ocorre em áreas abertas, corno.parques por
exemplo, onde paisagens distantes não podem ser percebidas. É importante notar que esta
situação pode depender mais das condições perceptivas individuais e do tipo de referencial
existente do que das dimensões da área propriamente dita." .A situação oposta acontece quando
o excesso de referenciais e sua desorganização impede o seu reconhecimento. Típicos
exemplos destes ambientes são terminais de ônibus e shopping centres onde a sobreposição de
atividades, ruídos, obstáculos e poluição visual torna muito dificil a seleção e reconhecimento
de referenciais espaciais.

Consequentemente, estudos visando a' melhoria das condições de percepção espacial deveriam
centrar-se na análise e identificação dos elementos que informam sobre a organização dos
lugares, sua estrutura e conteúdo permitindo sua identificação. Assim, tanto podemos concluir
pela necessidade de acrescentar referenciais válidos como pela eliminação de obstáculos à
percepção de referenciais já existentes. Aumentar a percepção espacial para portadores de
deficiência visual não se trata então de 'traduzir' informação visual existente, mas de criar
.condições para que estes possam perceber a qualidade dos lugares, participar e atuar. É muito
importante observar que informações espaciais não se encontram apenas nas estruturas físicas,
e de que muitas vezes o que acontece no espaço - seus eventos dinâmicos- é mais importante e
afeta nossa percepção de forma marcante. Considerando o tipo de informação que é obtido
pelos canais de percepção na ausência da visão, são muitas vezes exatamente estes referenciais
dinâmicos que podem informar sobre o caráter, identidade e função de um lugar. 6

Definindo métodos de investigação

Para buscar soluções de desenho que permitam a melhoria da percepção de espaços públicos
para portadores de deficiência visual, é necessário então proceder à análise espacial dos
mesmos, identificando suas funções básicas, lugares e atividades e seus referenciais espaciais.
Para poder valorizar os elementos espaciais positivos já existentes, eliminando fatores de
perturbação e obstáculos, assim como para criar novas fontes de informação (através da
construção de novos referenciais, ou da utilização de mapas táteis e diagramas) primeiro temos
de saber o que valorizar, eliminar e/ou informar.

5 Ver Marta Dischinger (1995).


6 Sobre cognição espacial ver c.P. Spencer et alii. (1989)
Neste ponto coloca-se a necessidade de buscar instrumentos de investigação adequados, pois
os métodos tradicionais de estudo e observação dos processos de cognição espacial são
essencialmente baseados na percepção visual. Como detectar referenciais válidos para pessoas
que percebem o espaço de modo diferente e formam suas representações espaciais a partir de
outros elementos que não os perceptíveis através da visão? Da mesma forma, como identificar
barreiras sem incorrer em erro? Até mesmo a aparentemente fácil identificação de referenciais
sonoros e olfativos, também apresenta problemas pois este tipo de referencial não é
permanente, servindo mais para referendar e confirmar posições relativas no espaço.

Toma-se então necessário o desenvolvimento de instrumentos rnetodológicos que possibilitem


a obtenção de informações de fonte primária, as quais, associadas à análise espacial, permitam
a identificação dos valores atribuídos aos elementos urbanos dos espaços públicos pelos
próprios portadores de deficiência visual em relação ao seu uso e valor, e confirmem
referenciais positivos e negativos encontrados, ou ainda apontem outros.

Os métodos desenvolvidos baseiam-se na obtenção de informação verbal de forma 'indireta',


sendo desenvolvidos dois tipos de instrumentos: 'Passeios acompanhados' e 'Jogo de palavras.
A forma 'indireta' refere-se ao modo encontrado de obter informação. Respostas a perguntas
genéricas sobre os processos de orientação do tipo: quais são suas estratégias de orientação?
ou quais elementos são utilizados como referenciais espaciais? são extremamente dificeis de
obter. Esta dificuldade não é exclusiva aos portadores de deficiência, sendo extremamente
complexo refletir sobre processos múltiplos onde coexistem percepções momentâneas,
lembranças, pensamentos e atos intencionais. Assim 'perguntas importantes diretas' são
substituídas por: descrições vinculadas às ações em curso nos passeios acompanhados; e pela
valoração de palavras diversas no 'jogo de palavras'. Além disto, muitas vezes deficientes
visuais ao serem interrogados por seus métodos de orientação tendem a reproduzir as 'técnicas
de orientação' ensinadas em cursos específicos de reabilitação e mobilidade.

Antes da descrição dos instrumentos utilizados gostaríamos de comentar sobre a importância


das 'palavras' no processo de cognição espacial. Conhecer lugares, significa poder reconhecer
sua identidade. Dar nome a sensações, emoções, ações, lugares, objetos, e idéias faz parte do
desenvolvimento do próprio processo de conhecimento. É possível, sem dúvida, memorizar
individualmente lugares conhecidos 'sem utilizar palavras' mas, é bem mais dificil comunicar-
se com outras pessoas sobre os mesmos. Ora, um dos principais problemas dos deficientes
visuais, e principalmente daqueles que são cegos de nascença, é a identificação de lugares,
objetos e coisas distantes (céu, copas de árvore, torres, telhados, etc.) das quais não tem meios
de receber informações a não ser através de fonte secundária (descrições verbais, diagramas e
desenhos táteis). Assim tanto o desconhecimento de determinadas 'palavras' revelaria sua
inacessibilidade como elementos referenciais e cognitivos, como a valoração positiva ou
negativa de outras identificaria seu potencial como referencial.

Descrição dos 'Passeios acompanhados'

Os 'passeios acompanhados' se realizam da seguinte forma: são definidos percursos familiares


ao 'entrevistado' ou lugares que este considera como importantes em relação a problemas
enfrentados no uso das áreas públicas urbanas. O 'entrevistador' acompanha, mas não conduz,
o entrevistado ao longo do percurso.' O entrevistado é solicitado a descrever como sabe que
está em determinado local, como tomou decisões sobre mudanças de percurso, e a manifestar
,

sua opmiao sobre os problemas encontrados no caminho. Toda a conversa é gravada, e é


realizado levantamento fotográfico das situações mais significativas. Posteriormente é realizada
a transcrição das fitas com seleção dos temas e organização das fotos. Obtém-se então um
registro temporal/espacial do percurso, ilustrado pela seqüência de fotos, e explicitado pelas
verbalização sobre como foram obtidas (ou não) informações relevantes para compreensão dos
espaços percorridos.

Descrição do 'Jogo de palavras'

Para o 'jogo de palavras' é organizada uma lista bastante extensa, e não ordenada, de
elementos que podem ser encontrados em espaços públicos. Desta lista fazem parte: elementos
tradicionalmente
•...•......
-.... ,,- reconhecidos
..............•. .•..... como
....•.... referenciais válidos
.....,.... . ~- n<=lr::> orientacão
y-"'''''' ......,(paredes
y ...•. .t-'- _ nomes
,...... ...- de
ma, esquinas, meio-fio, etc.); palavras referentes à possíveis barreiras (postes, buracos,
tapumes); ........., e também outras "-+-............ de valorarão 'descon -_ <=I' (ônibus
_ _..........,........,
hpl'ir-! loias
'J
-e » restaurantes vento
v , ,
v •.•..•.•...•..•.•..•..•.••..•..••

faixa de segurança, etc.).

Os participantes (em número máximo de 6) identificam suas condições individuais de visão e


recebem dois pequenos objetos diferentes para ter na mão. A cada palavra lida eles devem
colocar na mesa um dos objetos simbolizando se a palavra representa algo 'positivo", ou
'negativo' em relação à orientação e uso dos espaços. Se a palavra representa algo 'neutro ou
desconhecido' nenhum objeto é colocado na mesa. A seguir cada um deve justificar sua
resposta, sendo possível mudar de opinião. Nestas justificativas evidenciam-se não só os
valores atribuídos aos elementos mas as causas para tal avaliação. O entrevistador registra os
sinais relativos a cada palavra por indivíduo para posterior comparação com as opiniões
expressas. Todo jogo é gravado e as fitas são transcritas para posterior seleção temática dos
assuntos discutidos. Não é imprescindível mostrar os objetos, sendo que com grupos de
.pessoas totalmente cegas, somente o entrevistador os pode ver. No entanto estes introduzem
um caráter lúdico à entrevista e de certa forma 'obrigam' a expressão de uma avaliação das
palavras apresentadas.

Conclusões

As conclusões aqui apresentadas foram obtidas através de análises espaciais realizadas na área
central da cidade de Florianópolis, e da aplicação dos instrumentos acima descritos.

A primeira conclusão, mais genérica, refere-se à relação existente entre valorasses e o modo
de obtenção dos referenciais. Estes podem ser de três tipos:

1. referenciais que podem ser identificados de forma independente;


2. referenciais que podem ser identificados através de mediação (outras pessoas, cães-guia,
instrumentos );
3. referenciais que restringem a obtenção de informação impedindo movimento e orientação.

As valorações positivas mais significativas referem-se àqueles elementos que possibilitam


independência, tanto na compreensão dos mesmos, como na tomada de decisões. Ocupam um
segundo lugar aqueles referenciais obtidos através do auxílio de instrumentos (bengala) e cães-
guia. No entanto, quando a obtençãó de informação depende do auxílio de outras pessoas,
outros valores entram em consideração. Situações em que o auxílio se dá de forma natural
\
(informar que o sinal abriu, responder à perguntas sobre nome de prédios, pontos de ônibus,
etc.) não são consideradas negativas. À medida em que o auxilio prestado - ou negado -
evidencia a situação de dependência ou mesmo de discriminação, estes elementos são
valorados.corno negativos.

As valorações não são exclusivas, e elementos espaciais podem pertencer a mais de uma
categoria simultaneamente. Por exemplo, postes de luz nas calçadas são ao mesmo tempo
barreiras como também podem atuar como referenciais menores (contar postes). Outra
informação muito importante é que a identificação de elementos espaciais e sua conseqüente
valoração depende, não só das condições de visão individuais, mas também do treino e
experiência espacial. Isto é verdade não só para pessoas com problemas de visão: o
conhecimento espacial é sempre um processo onde a experiência cumpre um papel
fundamental.

Em ambos instrumentos é confirmada a importância dos elementos lineares verticais (paredes,


meio-fio) para conducão rl"-...J......movimento
.L ..•. .L ..•...L _ •••.•• , No entanto e' ~ memorização
•..•. <o...J •••• a rlp rlirp('i'\p<:
.•...•. _..... •..•. ......L....... ..•.•.•.. •...•.. .•..•..•..••••..••...••.....••. .LLJ.............. __ '-"'"..•..•.••..):' •.....••......
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..• •...•..•.•.....•••.• ,

através de linhas e pontos (ruas e landmarks], que permite o conhecimento estrutural de


percursos (representações mentais espaciais), e a avaliação das posições relativas no espaço
durante o deslocamento Destacam-se então o nome de ruas, cruzamentos de ruas, e
landmarks compartilhados por pessoas com visão normal. Estes últimos são prédios históricos,
edifícios comerciais, etc. que se destacam por suas características físicas ou funcionais. Mesmo
quando não são percebidos diretamente, atuam como importantes referenciais pois são
conhecidos por todos e podem ser identificados facilmente através da solicitação de
informação. Também são valorados positivamente referenciais hápticos, como por exemplo,
ladeiras, escadas, rampas, lombadas, pois estes identificam claramente locais conhecidos.

Em relação aos referenciais dinâmicos (objetos e eventos que mudam no tempo e no espaço)
estes são de dois tipos. Num primeiro grupo situam-se elementos da natureza (vento, sol) que
atuam para referendar e confirmar posições no espaço. O vento, ou 'ar', por exemplo, 'muda'
marcando esquinas. A presença de solou sombra auxilia na identificação de direções. No
entanto, dias muito ventosos prejudicam a obtenção de referenciais sonoros, tornando distantes
sons próximos. Os referenciais 'sonoros' mantém sua importância como identificadores de
eventos próximos ou 'distantes'. Assim, ruído de trânsito sinaliza esquinas, 'sonorizadores' nas
pistas para os veículos avisam sobre sua presença, e atividades diversas podem ser identificadas
pelo som emitido. Os referenciais olfativos parecem ocupar importância menor, atuando como
landmarks locais (por exemplo farmácias, padarias, etc.).

Valorados como extremamente negativos são todos aqueles elementos dinâmicos que, de
alguma forma, impedem o seguimento de rotas planejadas e alteram a direção do movimento.
Na ausência da visão, a importância que ocupa a memória espacial/temporal (planejamento da
rota), e o sentido de orientação do indivíduo durante o deslocamento (percebendo direção,
distância percorrida, ritmo, velocidade) são fundamentais para o sucesso do percurso. É fácil
perceber que qualquer alteração na disposição dos elementos espaciais memorizados (quanto à
sua posição ou seqüência) prejudicam a orientação por não coincidir com o trajeto planejado.
Alterações de direção, ou mesmo de velocidade, causados por obstáculos dinâmicos também
prejudicam a orientação, pois interrompem uma seqüência temporal de movimentos
memorizados. Dentre os elementos' dinâmicos apontados como negativos podemos citar,
principalmente, aqueles que trazem risco à segurança física (tapumes, buracos, expositores
,
co:n abas pontiagudas, camelôs) pois, além de constituírem barreiras físicas, mudam
co ....s..anternente de lugar, impedindo a sua memorização como obstáculos.

Tambérn negativos são os equipamentos e mobiliários urbanos mal posicionados (em excesso,
sem ritmo e ordenação) que reduzem as 'faixas' de percursos livres de obstáculos impedindo
seguir linhas (paredes e meio-fio) ou direções. Espaços e lugares de grande complexidade
espacial, como lojas de departamento e terminais urbanos, foram apontados como negativos,
principalmente por não possibilitarem a identificação de referenciais de forma independente.
Nos terminais urbanos: é impossível localizar os pontos de parada de ônibus e as informações
sobre percursos não são acessíveis (informação sonora, em braille, e mapas táteis). Nestes
locais a dependência de outros usuários se acentua assim como a falta de segurança.
Paradoxalmente, algumas lojas de departamentos foram consideradas positivas devido ao
atendimento especial que recebem por parte dos funcionários.

Podemos, então, concluir que estudos para avaliação da acessibilidade espacial para portadores
de deficiência visual deveriam incluir, além dos atributos já tradicionais de análise - número,
qualidade e localização de atividades fins; identificação de percursos e qualidade dos mesmos
(estrutura viária, qualidade da pavimentação); segurança e sinalização de cruzamentos;
identificação de landmarks; fornecimento de informação secundária e sua qualidade (nome de
ruas, mapas informativos, serviços de informações urbanas); disposição dos equipamentos e
mobiliários urbanos - o estudo de referenciais permanentes (landmarks compartilhados, limites
e bordas, lugares, acessos, ruas e caminhos) e dinâITÜcos (eventos, elementos naturais,
atividades de ma) em relação as suas possibilidades de identificação, exploração e tomada de
decisões de forma independente.

É interessante ainda notar que muitos dos elementos apontados como referenciais por
deficientes visuais também são utilizamos por pessoas de visão normal, influenciando a
percepção e uso do espaços urbanos, mesmo que de forma não <consciente' e objetiva. Estas
qualidades, problemas e atributos dos espaços urbanos vivenciados, deveriam ser consideradas
não só ao propor espaços mais acessíveis ao portadores de deficiência visual, mas na busca de
melhor qualidade espacial para todos cidadãos.

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