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Educação e Linguagem - 02

p. 169 - 179

A LITERATURA ORAL NAS VERTENTES


DOS ESTUDOS DOS CONTOS
POPULARES NA AMAZÔNIA
Élida Luciane Vieira de Andrade87

RESUMO
Este artigo procura justificar o estudo da literatura oral nas vertentes dos contos populares
através da tradição e cultura do povo amazônico. Os dados referem-se a uma pesquisa de
campo em bairros, comunidades rurais e região de rios pertencentes aos municípios. A aná-
lise da pesquisa foi embasada na ideia de registrar os contos populares amazônicos decor-
rentes da memória coletiva, indistinta e contínua, preservada geração após geração. Esses
contos, componentes da memória coletiva, começaram a ser perpetuados com a narração
oral dos índios e permanecem vivos no imaginário popular. Sendo assim, pode-se notar que
a expressão tradição oral abrange várias concepções como a do estudo da literatura oral e
das relações entre origem oral e sua entrada na literatura artística. O objetivo deste estudo
é refletir e aprofundar as fronteiras e embates teóricos que são enfrentados diante da ne-
cessidade de registrar os contos de literatura oral da Amazônia, de modo a criar um acervo
de histórias. Por meio do conto narrado foi possível trabalhar os conteúdos de linguagem
oral e linguagem escrita, desde a sintaxe até a intertextualidade, com atividades de roda de
conversa, contação de histórias e oficina de literatura, a fim de permitir viajar por um mun-
do totalmente desconhecido, atingindo não apenas o plano prático, mas também o nível do
pensamento e, sobretudo, a dimensão do mítico-simbólico e o mistério sagrado.
Palavras-Chave: Literatura oral. Tradição oral. Amazônia.

87
Arte Educadora. Graduação em Letras pelo Centro Universitário Luterano de Santarém - CEULS/ULBRA. E-mail:
elidalucianevieira@hotmail.com

revista EXITUS | Volume 04 | Número 01 | Jan/Jun. 2014


170 Élida Luciane Vieira de Andrade

ORAL LITERATURE IN STRANDS OF STUDIES


OF FOLK TALES IN THE AMAZON

ABSTRACT
This article sought to justify the study of oral literature as aspects of folktales through
tradition and culture of the Amazonian people. The data refer to a field research on nei-
ghborhoods, rural communities and region rivers belonging to the municipality of. The
research analysis was based on the idea of recording the folk tales Amazon arising from
collective memory, indistinct and continuous preserved generation after generation, that
began with the Indians and remain alive in the popular imagination. Thus it, may be noted
that the term oral tradition encompasses several conceptions such as the study of oral lite-
rature and the relationship between oral origin and its entry into the artistic literature. The
objective of this study is to reflect and deepen the borders and theoretical debates that are
faced with the need to record the stories of oral literature of the Amazon, to create a collec-
tion of stories. Through tale narrated was possible to work the contents of oral and written
language, from syntax to intertextuality, through activities wheel conversation, storytelling
and literature workshop, allowing travel through a world completely unknown not reaching
only the practical but also the level of thought, and especially the size of the mythical-sym-
bolic and sacred mystery.
Keywords: Oral literature. Oral tradition. Amazon.

INTRODUÇÃO instituição não governamental que tem


Este artigo é o resultado da aplica- como missão promover, defender a vida
ção do Projeto Biblioteca Móvel desen- de crianças e adolescentes em situação de
volvido na Pastoral do Menor e nos doze risco. O projeto Biblioteca Móvel88, por
núcleos localizados nas comunidades ru- sua vez, constitui uma ação de cultura e
rais e região de rios do Município de San- incentivo à leitura e à produção de textos.
tarém, denominados Açaizal (comunidade Esta pesquisa de campo abordou o estudo
indígena), Tiningú (comunidade quilom- da literatura oral como fonte para escri-
bola), Santana do Ituqui, Tucumatuba, ta; além desses fatos, o conto de literatura
Miritituba, Alvorada, Santos da Boa Fé, e oral serve a muitos propósitos, a começar
nos bairros periféricos Conquista, Mapi-
ri, Livramento, Elcione Barbalho e Péro- 88
Projeto apoiado pelo Projeto Criança Esperança e
UNESCO, da Rede Globo de Televisão, durante o decorrer
la do Maicá. A Pastoral do Menor é uma do ano de 2011.

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pela formação psicológica, intelectual e O objetivo deste estudo foi, pois, re-
espiritual do ser humano. fletir e problematizar as fronteiras e emba-
Todas as atividades realizadas fo- tes teóricos que são enfrentados diante da
ram embasadas no propósito de destacar necessidade de registrar os contos de litera-
os conhecimentos e valores das comu- tura oral da Amazônia, de modo a criar um
nidades, sendo feito levantamento das acervo de histórias.
histórias do local por meio de roda de O estudo se deu através de uma
conversa em que pessoas deixavam seus abordagem metodológica baseada no le-
testemunhos, de modo a criar um acer- vantamento teórico e pesquisa de campo
vo vivo de histórias. Pode-se contar ao centrada em aspectos qualitativos e quan-
público histórias em torno de persona- titativos nos núcleos da Pastoral do Me-
gens populares famosos, de superstições, nor. Foi atendido um total de quinhentas
crendices, plantas medicinais, curandei- crianças e adolescentes regulamente ma-
ros, poetas do povo e artistas da comu- triculados, alfabetizados, semialfabetiza-
nidade. Além disso, esta pesquisa foi de- dos e analfabetos.
senvolvida como uma forma de preservar Durante o período de funcionamen-
a cultura popular local e de possibilitar to do projeto, foram utilizados os seguintes
a criação, por meio de registro das his- recursos: trezentos livros de literatura infan-
tórias, de um material precioso que co- to-juvenil, poesia, lenda e mito. A coleta de
lecione um acervo de literatura oral das dados se deu com o recurso a um trabalho de
comunidades amazônidas. campo para conseguirmos uma aproximação
Diante da contextualização que en- com a comunidade e captação de informa-
volve o tema – a literatura oral nas ver- ções observadas no convívio comunitário.
tentes dos estudos dos contos populares Sobre este trabalho acerca deste tema, Busat-
na Amazônia – Busatto (2008) afirma que to (2008, p.87) nos desperta a atenção para a
quando usamos a expressão literatura oral relevância desta pesquisa ao afirmar que:
logo imaginamos um estudo que promova
Recuperar o conto de literatura oral é também
uma comparação entre duas ou mais lite- perpetuar a nossa cultura e a nossa história.
raturas. Com isso, falar sobre as diversas Se cito com frequência o conto de fadas e o
mito é por acreditar que eles são uma via de
categorias dos exemplares da literatura oral acesso ao nosso ser, porém há nas lendas re-
tornou-se uma tarefa delicada e ambígua, gionais e causos populares um conhecimento
que não deve ser desprezado, pois eles indi-
levando a crer que o conto de literatura oral cam a produção cultural de um povo, suas
é uma das mais genuínas expressões cultu- crenças, temores e anseios íntimos. Seja qual
for a categoria do conto que você pesquise ele
rais da humanidade, sem que com isso pos- será sempre bem-vindo, pois estaremos con-
samos lhe atribuir paternidade. tribuindo para sua permanência.

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De maneira coletiva, foi feito o le- sobretudo as dimensões do mítico-simbóli-


vantamento de histórias através da lin- co e do mistério sagrado.
guagem oral, retomando várias vezes uma
mesma situação, com ênfase nos elementos O SABER POPULAR
da origem e no local dos contos. A análise A literatura oral perpetuou na his-
dos dados coletados para pesquisa ocorreu tória da humanidade, nas vozes dos con-
pelo tema proposto, como suporte à tradi- tadores de história e na memória coleti-
ção de cada comunidade. va de determinados povos, até o dia em
Cascudo (2006, p.25) diz que “a li- que essas histórias do imaginário popular
teratura oral brasileira reúne todas as ma- foram coletadas e registradas através da
nifestações da recreação popular, mantidas escrita ou de outros diversos ramos do-
pela tradição. Entende-se por tradição, tra- cumentais. A literatura oral brasileira
ditio, tradere, entregar, transmitir, passar sofreu influência a partir das tradições
adiante, o processo divulgativo do conheci- herdadas dos povos indígenas, africanos
mento popular ágrafo”. Em suma, a pesqui- e portugueses, que ofereceram uma mis-
sa exploratória permitiu um conhecimento tura de conhecimentos populares e histó-
mais completo e adequado da realidade. De rias, transformados em suporte às cren-
forma estruturada, foram formuladas ati- ças do povo amazônida e até hoje vivos
vidades de roda de conversa, contação de nas comunidades. Não há, por exemplo,
histórias e oficina de literatura a partir de quem não tema o canto triste do acauã,
tema proposto informado, porque através uma ave que costuma se apoderar do
da tradição oral, histórias, ideias e aconte- espírito das mulheres. Esse canto pode
cimentos que os mais velhos contam é que significar a morte, como diz a quadri-
muitos aspectos da cultura de um povo são nha: “Quando morreu minha amada, /
transmitidos de geração a outra. vinha raiando o amanhã, / três vezes na
A análise de conteúdos abrange di- encruzilhada / ouvi o cantar a acauã” 89.
versas modalidades e cada uma enfatiza as- De acordo com Cascudo (2006, p.113),
pectos a serem observados nas narrativas, os “Seres sobrenaturais, especialmente a
de modo a imaginar o fogo, o silêncio e o de escritos a certas ordens de animais”,
perfume de uma noite ao ar livre, procuran- são: Guirapuru dirige os pássaros viven-
do despertar nos participantes histórias que do cercado por eles. Assim, os contos do
ouviram das famílias, de sorte a permitir, saber popular representam para este povo
assim, viajar por mundo totalmente desco-
nhecido, atingindo não apenas o plano prá- Quadrinha retirada de HORTA, Carlos Felipe de Melo
89

Marques (Coord.). O Grande Livro do Folclore. Belo


tico, mas também o nível do pensamento, Horizonte: Leitura, 2004, p. 21.

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a base de uma civilização, suas raízes ga- Com base em Busatto (2008, p.37):
rantem e conservam os valores e tradi-
Ao divulgar os Parâmetros Curriculares em
ções humanas. 1990, o MEC oficializou a pesquisa e endos-
Segundo Cascudo (2006, p.53), sou a importância da diversidade cultural.
Neste contexto a pertinência do conto de
tradição popular traz no corpo marcas da
A tradição reúne elementos de estórias e
cultura e do sistema mítico e de crenças do
histórias popular, anedotas reais ou suces-
seu povo. Reconhecendo o conto, estare-
sos imaginários, críticas sociais, vestígios
mos reconhecendo o seu sujeito criador, e
de lendas amalgamados, confusos, díspares
garantindo o espaço que ele deve ocupar
na memória geral confundem com certas
globalmente. Ao reconhecer num povo a sua
superstições. Parece-me articular-se aos ru-
complexidade, está-se colaborando para a
mores clássicos, o rumor antigo, conta como
erradicação de preconceitos de toda espécie.
dizia Camões, numa forma de comunicação
de valores indistintos do saber coletivo. Sua
caracterização é compreendida quando uma
tradição é evocada. Quase sempre inicia-se
Vale ressaltar que os dados coletados
pela frase: ‘– os antigos diziam...’. Não é uma ocorreram todos nas dependências dos nú-
lenda, nem um mito, fábula ou conto. É uma
informação, um dado, um elemento indis-
cleos da Pastoral do Menor nos bairros e
pensável. comunidades rurais e de rios da Amazônia.
Os contos relatados nas atividades foram
Além disso, os contos populares analisados de acordo com os pontos cen-
amazônicos possuem muitas informações trais: coletar histórias do local, onde pes-
históricas, etnográficas e sociais; é a vida soas deixavam seus relatos de experiência
documentada através de costumes. Nas pa- e os diversos elementos apreendidos no
lavras de Cascudo (2006), o mito passa ao universo de matas, florestas, campos, rios,
estado de lenda e a lenda se torna conto. igapós, igarapés e através de conhecimento
Invertendo os termos: um conto popular dos antigos moradores. Dessa forma, Bran-
é um fragmento ou material total de uma dão (2011, p.115) afirma:
lenda, esta de um mito primitivo. Trata-se
E é na esfera do interdiscurso que devemos
de relatos de experiências vividas de um observar os pontos comuns e a diversidade
povo convicto de suas verdades. Para os dos contos populares, que ora repetem, ora
trocam entre si motivos, sequências, perso-
moradores da região Amazônica, contar nagens e atributos. Quando reencontramos
histórias é um meio de comunicação, e a temas, personagens, situações semelhantes
ou já vistos em contos, já lidos ou já ouvidos,
literatura oral representa o sagrado para estamos presenciando o fenômeno lingüísti-
essas comunidades. Tais processos podem co discursivo característico de todo o univer-
so da criação literária, a intertextualidade.
trazer uma variedade muito grande de ex-
periências, que vão fortalecendo o desen-
volvimento interior, ensinando a lidar com No que se refere às formas de plane-
muitas situações. jamento e avaliação, foi feito levantamento

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documental dos contos populares por meio No entanto, vale considerar que a
de um livro, de maneira que o resultado do cultura popular amazônica, com o passar
trabalho selecionado reuniu diversos elemen- do tempo, sofreu algumas perdas. Dessa
tos do meio popular. Com base em Cascudo forma, segundo Brandão (2011, p.92), para
(2006, p.209), são os elementos da literatura compreender a verdadeira origem do con-
oral aqueles que, decorrendo de fontes im- to, devemos nos servir, em nossas compa-
pressas, mantêm, visivelmente, a tradição rações, dos ensinamentos detalhados sobre
dos trabalhos de convergência literária no a cultura da época. Sobre isto, Darnton
ambiente popular. O exame dessa pequenina (1986, apud BRANDÃO, 2011, p.92)
bibliografia evidenciará sua antiguidade.
[...] nos previne sobre a impossibilidade de
Os contos de literatura oral amazôni- ignorar a dimensão histórica dos contos po-
ca representam a intenção de fixar valores pulares, que podem ser considerados docu-
mentos históricos, que surgiram ao longo de
ou padrões a serem respeitados pelas co- muitos séculos e sofreram diferentes trans-
munidades, incorporados pelos moradores formações, em diferentes tradições culturais.

em seu cotidiano criando outra dimensão,


a do patrimônio imaterial que provém da ANÁLISE DOS DADOS
memória coletiva dos amazônidas e que Segundo Busatto (2008, p. 20), em di-
reflete sobre a diversidade de manifesta- versas comunidades aparecem nomes-chave
ções das práticas e saberes transmitidos às responsáveis por trazerem até nós as histó-
gerações. Com isso, o acervo de literatura rias, costumes, valores e crenças do povo em
oral necessita de atenção especial, por ser questão. Tais elementos serão construídos
considerado um patrimônio de cultura e sa- pela imaginação de cada ouvinte, logo, serão
bedoria, legado pelas tantas etnias respon- únicos. Neste estudo, foi avaliada a inter-re-
sáveis pela formação do povo brasileiro. lação dos contos tendo como base a tradição
Atualmente, a literatura oral está de- oral, a crença e os valores do povo amazô-
saparecendo como também são poucos os nico. O número total de contos produzidos
que ainda vão a campo em busca de ma- foi de trezentos e dez, todos coletados nos
terial para registro. Neste aspecto, é pre- bairros, comunidades rurais e rios da Amazô-
ciso levar em conta que o povo amazôni- nia. Observou-se um conjunto de contos que
da possui uma sabedoria e guarda em sua revelam alguns personagens mitológicos da
imaginação narrativas maravilhosas sobre região amazônica, transmitidos de geração a
os mais variados mitos, lendas e crendices geração, e mistérios que começaram com os
popular, que perpetuam a cada geração, índios e permanecem vivos ainda no imagi-
e sua existência esta atrelada à memória, nário popular dessas comunidades. Os contos
oralidade e tradição. foram produzidos por crianças e adolescen-

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tes, coletados oralmente e registrados no li- via enrolado a vela, levou um susto, tinha
vro “Histórias Que Famílias Contam¨. A pes- uma canela no lugar da vela.
quisa de campo, por sua vez, se deu através
de relatos dos familiares dos participantes do Câmara Cascudo (2006) explica que
projeto – ouvidos no meio da floresta – e por as regiões brasileiras sofreram influência de
antigos moradores. elementos de literatura oral, de fontes im-
pressas literárias do ambiente popular cole-
COLETA DE DADOS tivo de países Europeu. A região Amazônica
• A Procissão incorporou esses elementos pré-construídos
Nome: Ana Raquel da Silva Mota da tradição portuguesa, desfigurado pelas
Minha vó contava muitas histórias classes populares não alfabetizadas, ouvin-
para mim, como a de uma mulher que tes do saber popular, decorrente de elemen-
costurava dia e noite. A história começa tos como: almas penadas, tesouros dados em
assim: a senhora costurava dia e noite, sonho, procissões de fantasmas, missas re-
aos domingos e dias santos até as madru- zadas e assistidas por esqueletos, almas em
gada. Uma noite, ela estava costurando penitências durante a noite, gritos, luzes...,
quando ouviu um barulho lá fora e parou todos vindos através dos colonizadores.
de costurar, foi ver o que estava aconte-
cendo. Abriu a janela e lá no fim da es- RORAIMA

trada viu uma linda procissão passando


pela rua. Uma mulher muito linda chegou EUROPA PORTUGAL

perto dela e disse: “pegue essa vela para


você!” A senhora pegou a vela, enrolou ÁFRICA

num pano, guardou na gaveta onde ela


costurava e foi dormir, só que não sabia
AMAZONAS PARÁ
que aquelas pessoas que tinham passado Fonte: O processo divulgativo do conhecimento popular
ágrafo engloba as linhas do percurso da estória, através de
eram pessoas mortas que passavam na- continentes e raças90.

quela hora em que estava acordada cos-


turando. Quando acordou, foi falar para • A Menina do Sapo
o marido; à noite passou uma procissão Era uma vez três irmãs que gostavam
tão linda, e o marido disse: “ontem não de tomar banho em um rio próximo à casa
passou nenhuma procissão”. Então ela delas. Elas foram para o riacho à noitinha,
respondeu: “passou sim, uma mulher me mais ou menos às 7 horas; tomaram banho
deu até um vela; eu vou pegar”. Quando 90
CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura Oral no Brasil. 2.
abriu a gaveta e pegou o pano onde ha- ed. São Paulo: Global, 2006, p. 318.

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e, na hora de voltar para casa, a mais ve- de Santana vivia uma cobra grande. A me-
lha viu um sapo bem grande, pegou pelas nina resolveu entrar na igreja para per-
pernas e começou a correr atrás de suas guntar ao padre se era verdade a história
irmãs. Nessa hora, o sapo arranhou a per- da cobra grande que morava embaixo da
na dela, que começou a sangrar e a doer. igreja, mas ele não soube responder se era
Passaram-se quatro dias e ela começou a verdade ou mentira.
ficar doente.
Uma noite de lua cheia ela se transfor- A narrativa popular mais conheci-
mou em um sapo grande e feio. De lá para da da Amazônia, a cobra grande, tem sua
cá, toda noite de lua cheia ela virava sapo, fonte em tribos indígenas. Norato nasceu
e durante o dia voltava a ser gente. E então, de uma índia e fora jogado logo após seu
depois de dez anos, a menina-sapo foi picada nascimento quando viram que o indiozinho
por uma cobra durante a noite e morreu. era uma cobra. A cobra Norato sai da água,
deixa seu couro de serpente à beira do bar-
Na região amazônica, o sapo simboli- ranco e se transforma em um belo rapaz,
camente representa amuleto, o muiraquitã, encantando as moças bonitas das comuni-
é um amuleto indígena que tem a forma de dades ribeirinhas.
rã, na cor verde-esmeralda, cor da floresta Com o passar do tempo, sua mãe
amazônica. O muiraquitã preserva o esco- índia se transforma em cobra e vai morar
lhido dos males do mundo, assegurando-lhe embaixo da igreja matriz de Sant`Ana em
felicidade. Ele era dado ao índio que uma Óbidos-Pará-Amazônia. Para o mundo
amazona quisesse como parceiro. As ama- do misticismo, das crendices populares,
zonas91 viviam nas proximidades do rio existem cobras-grandes que sofreram en-
jamundá, sem contatos permanentes com cantamento, muitas vezes com o objetivo
homens, pois a pedra verdadeira precisa ser de ajudar os seres humanos em suas ne-
realmente retirada do lago das amazonas. cessidades.
As antologias do Conto Popular
• A Lenda da Cobra Amazônico, segundo Vieira (2010), se
Narrador: Lorena classificam como: Contos de Encantamen-
Uma certa menina cresceu ouvindo to; Cobra-grande; O Boto; A Cachorrinha
de seus pais que embaixo da igreja matriz Encantada; A Rãzinha Verde; Eldora-
do Terra do Sol; Mãe da Cabeceira; Mãe
91
As amazonas eram índias mitológicas que desciam em
bandos e iam banhar-se no lago Yaci Yarua, o Espelho
D’água; Vitória Régia; Curupira; Contos de
da Lua. VIEIRA, Edithe Carvalho. Amazônia: Contos, Exemplo: O Pretinho do Laguinho; Contos
Lendas, Ritos e Mitos. Brasília: Queen Elisabeth/Projecto
Editorial, 2010, p. 141. de Animais: Uirapuru; Matimbaú; Contos

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Religiosos: A Procissão; Contos Demônio em potencial, de maneira que o que está


Logrado: Jurupari.92 em jogo não é apenas o que conquista-
mos através da educação formal, mas
CONCLUSÃO sim o que todos nós carregamos de mais
Neste trabalho foi analisada a im- primitivo, básico e instintivo, o poder da
portância da literatura oral como vertente nossa imaginação.
dos contos populares na Amazônia, enfa- Portanto, do ponto de vista textual,
tizando os valores e crenças do povo ama- foi mostrada a origem estrutural das nar-
zônida, convicto de suas verdades. O estu- rativas amazônicas, valorizando o local
do revelou em caráter essencialmente oral e a cultura desse povo. Dessa forma, o
o registro de contos da tradição oral que estudo de literatura oral certamente le-
apontam para a necessidade de fazer leitura vará a um aproveitamento em busca de
do mundo que cerca o habitante da região. algo que poderá ter sido esquecido na
Deste modo, a literatura oral é um cultura local, mas permanecerá adorme-
meio de comunicação nas comunidades cido em algum lugar na memória viva
amazônicas, tornando-se indispensável à deste povo.
vida dos moradores, que valorizam o mí-
tico-simbólico e o mistério sagrado das Recebido em: Fevereiro de 2013
matas. Os contos populares amazônicos Aceito em: Setembro de 2013
contêm mensagens que fornecem subsí-
dios para o desenvolvimento da diversi-
dade cultural, valoriza as etnias, mantêm REFERÊNCIAS
a história viva e resgata significados para BRANDÃO, H. N. (Coord.). Gêneros do
nossa existência. Nesse raciocínio, depa- discurso na escola: mito, conto, cordel,
ramo-nos com uma importante questão: a discurso político, divulgação científica.
relação entre literatura oral e escrita, uma 5.ed. São Paulo: Cortez, 2011.
vez que uma vertente está estreitamente HORTA, C. F. M. M. (Coord.). O Grande
ligada à outra. Recuperar e divulgar esta Livro do Folclore. Belo Horizonte: Leitu-
literatura pressupõe a importância que ra, 2004.
ela merece, pois, se mantemos viva a ex-
CASCUDO, L. da Câmara. Literatura Oral
pressão deste povo, conferimos à huma-
no Brasil. 2.ed. São Paulo: Global, 2006.
nidade o seu devido valor, o de criadores
BUSSATO, C. Contar e encantar: Peque-
92
Antologias do Conto Popular Amazônico retiradas de nos segredos da narrativa. 5. ed. Petrópolis:
VIEIRA, Edithe Carvalho. Amazônia: Contos, Lendas, Ritos Vozes, 2008.
e Mitos. Brasília: Queen Elisabeth/Projecto Editorial, 2010.

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178 Élida Luciane Vieira de Andrade

VIEIRA, E. C. Amazônia: Contos, Len- ANEXOS


das, Ritos e Mitos. Brasília: Queen Elisa-
beth/Projecto Editorial, 2010.

Figura 1-Capa do Livro

Figura 2-Contracapa do Livro

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A Literatura Oral nas Vertentes dos Estudos dos Contos Populares na Amazônia 179

Figura 3-Conto “A Procissão”

Figura 5-Conto “A Menina do Sapo”

Figura 4-Conto “Lenda da Cobra”

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