Desvendando os segredos do texto

Capítulo 6 - Referenciação

referente: coisa extralinguistica

fabricado na dimensão percepção/cognitiva
O mecanismo do sistema perceptual, que reside na prática social (práxis), fabrica o
referente.

Realidade é uma interpretação humana, construída pelas interações e nomeações do

entorno físico, social e cultural. O cérebro reelabora os dados sensoriais para
compreensãoda realidade.

Postulações de Apothelóz e Reichler-Béguelin (1995)

a) A referência diz respeito às operações efetuadas pelos sujeitos à medida que o discurso
se desenvolve
b)Todo discurso constrói uma representação que opera como memória compartilhada,
publicamente alimentada pelo próprio discurso. Os diferentes estágios de representações
são responsáveis pelas seleções feitas pelos interlocutores.
c)Modificações, quer físicas ou predicativas sofridas por um referente não acarreta
recategorização lexical. O enunciador decide, por meio de escolhas lexicais, transpor ou
não uma mudança sofrida por um objeto de discurso à categorização lexical. similarmente,
o enunciador pode também decidir alterar a categorização lexical de um objeto sem que
tenha ocorrido uma mudança.
d)o processamento do discurso é estratégico, o que implica escolhas e seleções
referenciais. E a interepretação de uma expressão anafórica não consiste em estabelecer
relações entre um elemento linguístico e um objeto no mundo, mas entre informações da
memória discursiva.

Capítulo 7 - Progressão Referencial

Operações básicas de referenciação:

1) Ativação: introdução referencial. Preenchimento de um nódulo cognitivo que permanece
ativo na memória de curto prazo.
2)Reativação: Nódulo já introduzido é novamente ativado na memória de curto prazo.
3)Deativação: ativação de um novo módulo. Deslocamento da atenção para um novo
referente.

Todos os casos de progessão referencial são baseados em algum tipo de referenciação.

Referir:atividade de designação
Remeter:atividade de processamento indicial na cotextualidade. Necessário ter em conta
algum tipo de relação (cognitiva, semântica, associativa, pragmática ou outra)
Retomar: atividade de continuidade de um núcleo referencial
Um texto não se constrói pela progressão linear, mas por uma oscilação entre movimentos
de projeção (catáfora) e retrospecção (anáfora). A progressão textual se dá com base no já
dito, será dito e o que é sugerido.

Estratégias de Progressão Referencial

❖ Uso de pronomes
dois processos cognitivos:
i)construção de uma classe de indivíduos como uma totalidade de membros
humanos pelo funcionamento coletivo de "eles" (processo metonímico??)
ii)restrição dessa classe a um determinado grupo ou indivíduo.
Uso de elipses podem ter também função referencial.

❖ Uso de formas nominais definidas

seleção dentre as propriedades de um referente das que sejam relevantes à
situação discursiva.
Det + nome
Det + modificador(es) + nome + modificador(es)

Det {Artigo definido

Demonstrativo}
Modificador: Adjetivo
SP
Oração relativa

A escolha de determinada descrição definida pode trazer ao leitor/ouvinte

informações importantes sobre as opiniões, crenças e atitudes do produtor do texto,
auxiliando-o na construção do sentido. Essa seleção também pode partir da inferência de
conhecimentos não partilhados pelo interlocutor e intencionalidade de fornercer-lhe tais
informações.

Nominalização

Operação que atribui o estatuto de referente a um conjunto de informações.

Mudança de nível e condensação da informação

Funções das formas nominais referenciais na progressão textual

*Aspectos abordados nao são discretos, mas serão abordados separadamente

❖ >>Funções cognitivo-discursivas
Dois grandes processos de construção textual: retroação e prospecção
1)​Remissão a elementos anteriormente apresentados. Reativação na
memória do interlocutor, ou seja, alocação ou focalização na memória ativa.
 2)​recategorização do referente e ao mesmo tempo função predicativa.
Formas híbridas, referenciadoras e predicativas, isto é, veiculadoras tanto de
informação dada como informação inferível e nova.

❖ Paragrafação cognitiva
Função organizacional importante, sinaliza passagem pelo autor a um
estágio seguinte de sua formulação. Encapsulamento em uma forma nominal
do estágio anterior. Importante à mudança ou desvio de tópico, assim como
na ligação entre tópicos e subtópicos.
Não se trata de parágrafo tipográfico, embora possa ocorrer concorrência.

❖ Funções Textuais

Quando catafóricas, na maioria dos casos, o referente da expressão nominl

´r sptrdrntado apenas de maneira vaga, inespecífica, de forma que, apenas
dpeois de rebatizado" lexicalmente, fica claro em que consiste
verdadeiramente esse "objeto de discurso".
As expressões nominais catafóricas têm também importante papel na
organização macroestrutural, porque predeterminam, em muitos casos, o
número de parágrafos ou seções do texto e, por decorrência, a paragrafação
gráfica.

Encapsulamento ou sumarização

Ao encapsularem as informações-suporte contidas em segmentos precedentes do

texto, sintetizam-nas sob a forma de um substantivo-predicativo, atribuindo-lhes o estatuto
de objetos de discurso. Anáforas Complexass, que não nomeiam um referente específico,
mas referentes textuais abstratos.
Essasexpressões nominais, que são, em sua maior parte,introduzidas pelo
demonstrativo, desempenham duas funções: rotulam uma parte do cotexto que as precede
e estabelecem um novo referente que,por sua vez, poderá constituir um tema específico
para os enunciados subsequentes.

★ Aspectos Semântico-Pragmáticos

A escolha do nome-núcleo e/ou seus modificadores vai ser responsável pela

orientação argumentativa do texto, conforme veremos a seguir.

○ Nome-núcleo

Genérico: mesmo assim dotado de carga avaliativa

○ Metafórico: a escolha da metáfora para a recategorização do

referente é importante para realizar uma avaliação que permita
estabelecer a orientação argumentativa do texto.
 ○ Metonímico ou meronímico - no caso das anáforas associativas

○ Introdutor Clandestino de Referentes: A recategorização por meio de

expressões nominais permite a introdução, no texto, de "referentes
clandestinos"

○ Metadiscursivo
■ a)Nomes ilocucionários: ordem, promessa,conselho,
advertência, afirmação, asserção, crítica, proposta, alegação,
cumprimento etc
■ b)atividades linguageiras: descrição, explicação, relato,
esclarecimento, resumo, história, debate, exemplo, ilustração,
definição, denominação etc
■ c)processos mentais: análise, suposição, atitude opinião,
conceito, avaliação, constatação etc
■ d)nomes metalinguísticos: frase, pergunta, questão, sentença,
palavra, termo, parágrafo etc
■
Denominação Reportada:​ por meio da denominação reportada (citação de
termos ou expressões), introduz-se no texto a fala do Outro, mantendo, com relação a ela,
um distanciamento crítico, assinalado pelas aspas de conotação autonímica.

Qualificadores:​ modificadores axiológicos positivos/negativos: a seleção dos

modificadores avaliativos é feita de acordo com a orientação argumentativa que se pretende
dar ao texto. Uma avaliação aparentemente positiva pode servir como comentário altamente
irônico.

Seleção dos Determinantes nas expressões referenciais

O tipo de determinação das expressões nominais estabelece relações

referenciais específicas.
Três usos mais frequentes para o demonstrativo: dêitico, anafórico e dêitico
memorial. Na perspectiva do alocutário, os empregos situacionais e anafóricos são os mais
fáceis de processar já que o referente já se encontra validado em sua memória discursiva.
No caso da dêixis memorial, o locutor egocentricamente, se exime de adaptar
a forma de seu discurso ao estado presumido de conhecimentos partilhados. Cabe ao
alocutário acomodar a posteriori a memória discursiva.

Uso do Demonstrativo

1) Sempre que o substantivo escolhido requalifica o referente de forma pouco

predizível.
2)Sempre que o substantivo-núcleo da expressão referencial não é - ou não
parece ser- totalmente assumido pelo locutor, ou é empregado ironicamente, isto é, quando
colocado entre "aspas de conotação autonímica"
 3)casos em que o nome-núcleo do SN vem modificado poe um adjetivo na
função de adjunto adnominal - não pertinente para a identificação do referente, mas
importante do ponto de vista da argumentação.
4)Casos de SN associativos em que o demonstrativo não seria passível de
substituição por um definido,visto que, se isto acontecesse, teria alterado seu valor
referencial ou se criariam dificuldades relativamente sérias para se chegar a uma
interpretação adequada
5)no caso de hiperônimos
6)Casos de marcação de parágrafo: a referência demonstrativa é justamente
um meio de tornar perceptivelmente saliente uma expressão.São comuns nos momentos
em que se produz uma mudança de ponto de vista e contribuem para marcar essa
transição.
7)casos de referência problemática: o referênte pode ser facilmente inferido
com base no cotexto prévio e/ou no contexto de uso.

Um dos efeitos produzidos pelo demonstrativo é o de recuperar a informação

do cotexto à esquerda. SNs demonstrativos podem ser facilmente parafraseados por um SN
seguido de adjunto adnominal ou de uma oração relativa que venham atualizar essa
informação.
Esse N = um x que é um N e sobre o qual *eu* chamo atenção de *tu*

Uso do artigo definido

1) presença no interior do SN anafórico de um adjunto adnominal ou

complemento nominal que designa um dos actantes do processo (mais frequentemente o
objeto)
2)substantivos predicativos morfologicamente derivados de verbo que
figuram na proposição nominalizada.
3)nomes predicativos que designam um atributo da enunciação, isto é,
nominaliza, um processo, mas não aquele denotado pelo conteúdo proposicional.
Nomesmetadiscursivos.
4) casos em que o substantivo predicativo é um nome genérico, como coisa,
fato, evento.

Nossa língua é mais tolerante quanto à intercambialidade do demonstrativo e

do definido.

Uso do artigo indefinido

As expressões nominais introduzidas por artigo indefinido não são

normalmente adequadas para a retomada de referentes já introduzidos no texto. Exceto:
1)referente no interior de um conjunto já mencionado
2)quando se nomeiam partes de um referente previamente mencionado
 Referenciação e Argumentação

Recategorização argumentativa pode ser também realizada por meio do

nome-núcleo ou pelo acréscimo de modificadores avaliativos.

Em outras palavras: a função das expressões referenciais não é

apenas referir. Pelo contrário,como multifuncionais que são, elas contribuem para
elaborar o sentido, indicando pontos de vista, assinalando direções argumentativas,
sinalizando dificuldades de acesso ao referente e recategorizando os objetos
presentes na memória discursiva.