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Copyrigh t © by Jonis Freire, María Verónica Secreto et ai.

, 20 18

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Apresentação 9
em coedição com
EI periplo de Víctor Chappotín, de nación lucu mí, desde Saint-Domingue
Faperj - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa
a la Cuba plantacionista: esclavitud, auton omía y propiedad (1797-1841) 17
do Estado do Rio de Janeiro
A v. Erasmo Braga, 118, 6° andar - Centro Aisnara Perera Díaz e María de los Ángeles Merifío F11en tes
CEP: 20020-000 - Rio de Janeiro - RJ "Eles n ão são livres, e eles não têm senhores; eles não são escravos,
Te!.: (21) 2333.2000 - Fax: (21) 2332.661 1 e eles n ão são cidadãos": liberdade precária e clandestina
www.faperj .br no Caribe francês (Martinica, século XIX) 43
Letícia Gregório Canelas
Proje to Gráfico:
Núcleo de Arte/Mauad Editora Esclavitud, libertad y status social en Santo Domingo y Puerto Rico
durante la diáspora de la Revolución Haitiana 71
Revisão:
José Luís Belmonte Postigo
Mauad Editora
Entre as margens da liberdade. Mulatos livres e negros:
Agradecimento à Fundação Carlos Chagas Fi lho de Amparo condição e experiências diante da Justiça Eclesiástica
à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - Faperj, pelo apoio recebido. (Nova Espanha. Séculos XVII-XVIII) 103
Marcelo da Rocha Wanderley e Norma Angélica Castillo

Manum isiones negociadas y libertad es frágiles en el Río de l a Plata.


Santa Fe, 1810-1853 129
CIP- BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, Rj. Magda/ ena Candioti
O ir e vi r dos escravos: as liberdades na Bu enos Aires Colonial 157
F82
María Verónica Secreto
Formas de liberdade : gratidão, condicionalidade e incertezas no mundo escravista
nas Américas / organização Jonis Freire. Maria Verónica Secreto. - 1.ed.- Rio de Porque sempre é bom q ue os forros tenham quem olhe para eles.
Janeiro : Mauad X: Faperj. 2018. Benignidade senhorial e libertos submissos na cidad e do Rio de J aneiro
272 p.:il. ; 15,5 x 23,0 cm. (primeira m etade do século XVIII) 177
Inclui bibliografia e índice Roberto Guedes
ISBN 978-85-7478-957-6
Africanos -livres emancipados: a construção da liberdade e seus reveses 211
1. Escravidão -América. 2. Escravidão - História. 3. Negros -América. 1. Freire,
Jorge Prata de Sousa
Jonis. li. Secreto, Maria Verónica. Il i. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Rio de Janeiro. Ser liberta n a área mineradora de Rio de Contas - Bahia, século XVIII 245
18-50444 COO: 326 Kátia Lorena Novais Almeida
CDU: 326.3
Sobre os autores 267
Leandra Felix da Cruz - Biblio ecâria - CRB-7/6135
1
Porqu e sempre é bom que os forros tenham
quem olhe para eles. Benignidade senhorial e
libertos submissos na cidade do Rio de Janeiro
(primeira metade do século XVlll)1

Roberto Guedes

Liberdade é palavra pouco frequente em testamentos ditados por senhores


que alforriaram cativos na freguesia de Nossa Senhora da Candelária do Rio
de Janeiro durante a primeira metade do século XVIII, e nem sempre quando
se empregava o vocábulo houve a conotação de os forros serem plenamente
livres.2 Por exemplo, em 1718 o padre natural do Rio de Janeiro Guilherme
de Souza possuía "um negro mina por nome Antônio" que lhe prestou "bons
serviços" "desde o tempo" em que o comprara. Se o "preto" quitasse "cem mil
réis pagos em dois anos", os testamenteiros lhe passariam "carta de alforria",
mas o padre acrescentou que ao forro fosse dada "toda a liberdade" para an-
gariar a "quantia".3 A cargo dos testamenteiros, a liberdade concedida pelo
senhor visava propiciar o tempo necessário para o alforriado trabalhar e se

1 Este texto faz parte da pesquisa Governos, resgates de cativos e escravidões (Brasil e Ango-
la, Séculos XVII e XVIII}, financiada pelo CNPq e pela FAPERJ. Agradeço à Ana Paula Rodrigues
Machado e a Kevin Wetter por documentos compartilhados. Igualmente, à professora Cláudia
Rodrigues (UNIRIO).
2 Esta é uma impressão vinda da leitura de centenas de testamentos escritos nas fregues ias do
Santíssimo Sacramento da Sé e de Nossa Senhora da Candelária do Rio de Janeiro.
3 Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro (ACMRJ), Family Search (FS), Livro de Óbitos
da Freguesia de Nossa Senhora da Cande lária (LOFC), 1717-1719, Guilherme de Souza, Data do
Óbito 15/12/1718, 57. Doravante, as referências a testamentos individuais se farão do seguinte
modo: ACMRJ,F5, LOFC, Período do Livro de Óbito, Nome do Testador, Data do Óbito e Número
da Imagem. Os padres informam apenas a data do óbito, aquiconsiderada, de forma aproxima-
da, como a da redação do testamento.

FORMAS DE LIBERDADE 177


pagar. Essa era toda a liberd ade. Por sua vez, em 1727 a senhora natu ra l da panhia da di ta minha filha Isabe l de Souza".7 Esvair-se da escravidão para
!lha Terceira Isabe l do Espírito Santo afirmou que sua crioula And reza ficaria permanecer acostado à companhia de alguém era aceito e muito corriquei ro à
"forra e l iberta , l i vre d a escravid ão" porque o padrinho da cativa a compensara época. Nesse sentido, em 1733 as palavras de Páscoa de Oliveira sintetizam a
com "a escrava Maria Angola, com pressuposto que a dita crioula Andreza" de muitos senhores que libertavam escravos e lhes deixavam legados :
fosse "obr igada a assistir em um convento de frei ras". A condição à alforria
Declaro que à negra Josefa (...) dou liberdade para o que a tomo na
concedida pelo padrinho da cativa, com a anuência da senhora, era a de não
minha cerça [8] pelos bons serviços que del a tenho tido, e porque
se i mpedir que a crioula servisse no convento. Os testamentei ros a deixariam
sempre é bom que os forros tenham 'luem olhe para eles, quero, e
"livre" para cu mprir a "liberdade na forma declarada" e ninguém se introm e- é meu gosto e última vontade, que a dita negra esteja encostada.
teria com a "crioula Andreza porque em refém dela fica a dita escrava Maria Entende-se isto se a minha terça cobrir tudo, e, quando não cubra,
Angola". A liberdade de Andreza fora trocada pela escravidão de Maria Ango- sempre quero que fique forra na minha metade e ela dará a outra me-
la, mas mesmo assim era uma liberdade numa forma declarada , uma liberdade tade segundo a sua avaliação a que tocar, para o que lhe darão meus
tutelada, amparada, com serviços a prestar. testamenteiros o tempo que ele[ela] pedir para adquirir a meação
Nessa s circun stâncias, ao manumitirem em testamento, geralmente os do seu importe, para que fique senhora de si. Declaro que a minha
amos se valiam de expressões q ue sublinhavam mais o "ficar livre" ou "isento negra Isabel pela alguma obrigação que lhe tenho de ser minha ama-
-seca lhe deixo duas camisas de pano de linho, uma saia branca e uma
da escravidão" do que a afirmação de uma liberdade com autonomia4 ou algo
saia parda de serafina.9 [Grifos meus]
equivalente. Porém, sair da escravidão, ainda que continuando a servir, não
era pouco num m undo permeado de assimetrias, desigualdades e inferiori- Os usos e os sentidos de palavras como as dos testadores mencionados,
dades,5 entre as quais ser escravo desonrava.6 Daí que qualquer isenção da que dão a conhecer um vocabulário social da escravidão e da liberdade, reve-
escravidão era desejável. Com essa concepção de liberdade, Maria de Souza lam aspectos importantes para o entendimento de percepções de senhores e
Capacha, senhora autointitulada "preta natural da Costa da Mina", ex-escrava de forros sobre manumissão numa sociedade escravista.10 Para os senhores, a al-
de Manoel de Souza Capacho, mãe de uma filha "também forra", disse o se- forria não necessariamente implicava o rompimen to de laços de dependência
guinte em 1742: "Declaro que a minha escrava por nome Maria de nação Ben- e de submissão no pós-libertação porqu e sempre é bom que os forro s tenham quem
guela me serviu sempre à minha satisfação" e por estes "bons serviços a deixo olhe para eles, como disse Páscoa de Oliveira, inclusive em alusão à sua negra
forra e liberta para sempre, e lhe recomendo muito que esteja sempre em com- ama-seca que a amamentou e a quem se sentiu obrigada a deixar legados. Essa
sua frase perfeita talvez soe estranha hoje devido à ideia contemporânea de
liberdade associada ao ideário liberal, mas, no Rio de Janeiro da primeira me-

4 Autonomio era ideia muito enfatizada pela histor iografia brasileira da escravidão nos anos 1980
e 1990 para caracterizar ações escravas. Por exemplo: MACHADO, Helenz P. T. Em torno da
autonomia escrava: uma nova direção para a história social da escravidão. Revista Brasileiro 7 ACMRJ, FS, LOFC, 1736-1744, Maria de Souza Capacha, 14/12/1742, 246.
de Histório, São Paulo, ANPUH/Marco Zero, v. 8, n. 16, 1988; REIS, João José; SILVA, Eduardo. 8 Pelas Ordena ções Filipinas,cada membro do casal,se o casamento fosse de carta à metade,o
Negociação e Conflito. São Paulo: Brasiliense, 1988. que era o mais comum, tinha metade do valor dos bens. Cada cônjuge desfrutava do direito de
5 HESPANHA, Antonio Manuel. Jmbecil/itas: as bem-aventuranças da inferioridade nas socieda- usar 1/3 (a terça) de sua metade para fazer dações, etc. em testamento, conforme sua vonta-
des de Antigo Regime. São Paulo, Belo Horizonte: Annablume, UFMG, 2010. de. Os 2/3 restantes eram,obrigatoria mente, dos herdeiros forç ados:desce;1dentes e, na fa lta
destes,os ascendentes. Para casa is sem filhos,o cônjuge sobrevivente não se convertia em au-
6 PATTERSON, Orlando. Slavery ond Social Death: a comparative study. Cambridge :Harvard U. P.,
1982; MEMEL-FOTE, Harris. L'esclavage dans les sociétés lignageres de lAfrique noire. Exemple tomaticamente herdeiro forç ado do falecido. Precisava ser instituído pelo testador. Vide Orde-
de la Côte d'lvoire précoloniale, 1700-1920. Paris: École des Hautes Etudes en Sciences Sociales nações Filipinas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian. Ed.fac-simile da elaborada por Cândido
(These pour le doctorat d'État es lettres et sciences humaines), 1988, Parte IV; Culture et na- M.de Almeida.Livro IV.
ture dans les représentations africaines de l'esclavage et de la traite négriere. Cas des sociétés 9 ACMRJ, FS, LOFC, 1729-1736, Páscoa de O liveira, 01/08/1733, 154.
lignagéres. ln: HENRIQUES, Isabel de Castro; SALA-MOLINS, Louis (orgs.). Déroison, esclavoge 10 Cf. o conceito em FINLEY,Moses.Escravidãa Antiga e Ideologia Moderna. Rio de Jane iro:Gra al,
et droite. Les fondaments idéologiques e juridiques de la traite négreere et de 1 ésclavage. Col. 1991; SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos. Engenhos e escravos na sociedade co lonial, SS0-
Mémoire des peuples. La route de l'esclavage. Éditions UNESCO, 2002, p. 195-202. 1835. São Paulo: Companhia das Letras,1988, Capítulo Uma sociedade escravista.

178 ROBERTO GUEDES FORMAS DE LIBERDADE 179


tade do século XVIII, esses dizeres demonstram um, não o único, mas talvez também vale para os próprios senhores forros, já qu e uma vez senhor, sempre
o principal, entendimento de senhores sobre alforria, fossem eles africanos senhor. Quando possu íam escravos, o qu e era frequente, 1 4 os amos libertos
forros de poucas ou mu itas posses, pardos forros, comerciantes port ugueses, também governavam seus subordinados, inclu sive os que eles deixavam livres
nobres da terra descendentes de conquistadores, outros naturais do Rio de da escravidão. Seus man umiridos se tornavam dependen tes e se comporravam
Janeiro, casados, viúvos e solteiros; todos, com ou sem herdeiros. É, portanto, com subserviênc ia perante seus patron os forros, ou trora sen hores.
dos vínculos de dependênci;i entre patronos (ex-senhores) e libertos que este
Sem q ue se queira generalizar, desprezar tais questões reduz o conheci-
capítulo trata, calcado basicamen te em testamentos da freguesia de Nossa
mento sobre o fenômeno da alforria e os fortes laços entre senhores e liberto..;
Sen;1ora da Candelária da primeira metade do século XVIII.
no pós-manumissão. As concessões e as noções de liberdade coevas podem
No en tanto, o zelo tutelar para com os forros servis não era algo bem-vis- ser entendidas nessas bases, haja vista que não imperavam acepções de liber-
to apenas por senhores e patronos. També m o era por escravos e libertos. O dade individ ual ista, quer na perspectiva de quem ou torgava a manum issão,
deixar de ser escravo, anseio dos cativos, ainda que não d e todos, 11 não obri- quer na de quem era agraciado. Isso frequen temente ocorria até para uma
gatoriamente contradizia as conveniências dos patronos em prol de libertos mesma pessoa, que, em situações distintas em sua vida, vivenciava a relação
agradecidos e subm issos. Encabeçada por um pater com deveres de proteção, a hierárquica na condição de escravo-forro e depois na de senhor-patrono. Nas
noção de família supun ha a hi erarquização de seus membros :cônju ges, filhos, palavra s de Madalena de Souza, de 1728:
escravos, agregados e outros clientes. Era o governo da casa e/ou da famí-
lia, até extrapolando a corresid ência.12 Dependentes submissos, ou seja, que Declaro que sou natural do sercão da Índia e não conheci pai, nem mãe,
reconheciam uma autoridade senhorial, marital, paterna, não raro materna, e de lá me trouxeram pequena e me venderam a Manoel Borges, e por
eram comuns naquela sociedade. Por isso, os próprios cativos também podiam sua morte fiquei forra e livre, e não tive filhos nem herdeiros nenhuns.
Declaro que possu o u ma negra por nome Teresa do gentio da Costa da
esperar que sua vida de libertos devesse ser amparada pelos senhores, depois
Mina, e assim mais um crioulinho por nome Antônio, idade de sete ou
patronos, que os alforriaram, inclu sive pelos amos que lhes propiciaram liber-
oiro anos, pouco mais ou menos, o qual deixo forro de toda a servidão
dade em testamentos geralmente feitos às vésperas da morte. A dádiva 13 da
e cativeiro; e quero que fique encostado [a] meu tescamente iro para
alforria e os bons serviços prestados por alforriados não se esgotavam com a
passagem para o mundo do além, pois o esmero para com os libertos se ob-
serva até no post -mortem senhorial ou no fenecimento dos próprios alforriados. 14 Entre outros, d. OLIVEIRA, Maria Inês Cortes. O liberto: o seu mundo e os outros, Salvador :
Este juízo sobre alforria e sobre as obrigações recíprocas (terrenas ou etéreas) 1790-1890. Salva dor: Ed. Corrupio,1988; RAMOS, Donald. A mulher e a família em Vila Rica do
Ouro Preto: 1754-1838. ln: NADALIN, Sérgio O. et. ai. (orgs.) História e População : estudos sobre
a América Latina. São Paulo: ABEP,1990; BARICKMAN, B. J. As cores do escravismo: escravistas
'pretos', 'pardos' e'cabras' no Recôncavo Baiano, 1835.ln: População e Fomíl1a, n. 2. São Paulo:
11 MATHEUS, Marcelo Santos. A produção do diferenço: escravidão e desigualdade social ao Sul do USP, 1999, p. 7-59; PAIVA, Eduardo França. Escravidão e Universo Cultural no Colônia: Minas Ge-
império brasileiro (Bagé, 1820-1870). Rio d e Janeiro: UFRJ-PPGHIS. Tese de Doutorado, 2016. rais, 1716- 1789. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001; FURTADO, Júnia Ferreira. Chico da Silva

12 HESPA NHA. lmbeci/litos..., op. cit.,2010. Para a aplicação do conceito na escravidão, cf. GODOY. e a contratador dos diamantes. O outro lado do mito. São Paulo:Companhia das Letras, 2003;
:1 FARIA, Sheila S. de Castro. Sinhás pretas, damas mercadoras : as pretas minas nas cidades do Rio
i Silvana A. Mestiçagem, guerras de conquis ta e governo dos índios . A vila de São Paulo na cons-
de Janeiro e de São João del-Rey (1700-1850).Niterói:Dep'º de His tória .Tese de Professor Titular,
trução da monarquia portuguesa na América (Séculos XVI e XV II).Rio de Janeiro.UFRJ-PPGHIS.
2004; FERREIRA, Ricardo Alexandre. Senhores de poucas escravos. Cativeiro e criminalidade num
Tese de Doutorado, 2017; MACHADO, Ana P. Souza. Testemunhos da Mente: elites e seus es-
ambiente rural (1830-1888). São Paulo: Editora UNESP,2005; SOARES, Moisés Peixoto. mulheres
cravos em testamentos (Fundo da Baía do Rio de Janeiro, 1790-1830). ln: DEMETRIO,Denise;
escravas: alforria, trabalho e mobilidade social, Piedade deIguaçu e Santo Antônio de Jacutinga
SANTIROCCHI, ítalo;GUEDES, Roberto (orgs.). Doze capítulos sabre escravizar gente e governar
(Rio de Janeiro,1780-1870). UFRRJ-PPHR, Dissertação de Mestrado, 2015. MATHEUS. A produção
escravos. Rio de Janeiro: Mauad X, 2017, p. 51-74; DEMETRIO, Denise. Artur de Sá e Meneses:
do diferença..., op. cit.,2016. Para outros contextos, ver: BERNAND, Carmem.Negros esc/avas y
governa dor e senhor de escravos. Rio de Janeiro, século XVII. ln: DEMETRIO; SANTJROCCHI;

I: 13
GUEDES. Doze capítulos..., op. cit.,2017, p.147-172.
Para a alforria como concessão e/ou dádiva, cf. GUEDES, Roberto. Egressos do cativeiro.Traba-
libres en las ciudodes hispanoamericanas. Madrid: Fundación Hernando de Larramendi Madrid,
2001;PALMA, Norma A. Cholulo. Sociedad mestiza en ciudad índia. México: Pla za y Valdés/UAM-1,
2008. 2.ed. Paris:Albin Michel,1995; ALBERRO, Solange;GONZALBO, Pilar.la sociedade novohis-
•I
.. lho, família, aliança e mobilidade social(Porto Feliz, São Paulo, c. 1798- c.1850). Rio de Janeiro:
pana. Estereotipos y realidades. Mexico: EI Colegio de Mexico, 2013; DIA2,Aisnara Perera;FUEN-
Mauad X, 2008; SOARES, Márcio de Sousa . A remissão do cativeiro. A dádiva da alforria e o
TES, Maria de los A ngeles Merifio. EI cabildo corabalí vivi de Santiago de Cuba: família, cultura y
governo dos escravos em Campos dos Goitacases, c. 1750-c. 1830. Rio de Janeiro:A picuri,2009.
sociedad (1797-1909). Santiago de Cuba : Editorial Oriente, 2013.

180 ROBERTO G U EDES


FO RMAS DE L I B ERDADE 181
lhe dar o ensino a(é ser capaz de busca r sua vida e dispor onde lhe pa- (domicílios) e 3.500 almas cada uma, totalizando 7.000 pessoas. 17 Essa pe-
recer, sendo homem livre e desembargado de todo cativeiro sem [que] quena cidade assistiu a u m grande crescimen to de desembarques de cativos
ninguém o cative .1s
africanos em seu porto, mas vinha com um aumento gradativo desde o século
Para Madalena de Souza, a construção da autonomia dos forros, dar o ensino XVII, que se intensificou sobremanei ra no XVIII.18 Enrão, o resgate atlântico
até ser capaz de buscar sua vida e disp or onde lhe pa recer, também era de sua alçada de cativos para o Estado do Brasil cresceu de 163.938 no quartel de 1626 a
como senhora na terra e como patrona no além-túmu lo, igualmentt como 1650 para 204.475 no de 1651 e 1675, e atingiu 259.475 entre 1676 e 1700.
pensava Páscoa de Oliveira, que ajudou sua forra a ficar senhora de si. Porém, De 1626-1650 para 1676-1700, o recrudesci men to foi de quase 100 mil cati-
as palavras dessas senhoras evidenciam que quase nin guém ficava senhor de vos africanos. No Rio de Janeiro, o número de desembarques de africanos para
si por si mesmo. Decerto, havia uma disparidade etária entre essas senhoras esses quartéis de século foi, respectivamente, de 48.3 17, 68.248 e 72.123.
e seus forros, mas não resume a explicação. A ama-seca de Páscoa de Oliveira Mas entre 170l e 1725 alcançou 159.253 cativos. Ou seja, no primeiro quarto
também permaneceu acostada à família senhorial. Já para Madalena de Souza, do século XVIII, teriam chegado à cidade 87% dos cativos dos três últimos
a permanência do crioulinho na escravidão ou na servidão pod ia ser um apren- quartéis do século XVII. Para uma cidade com 7.000 mil cristãos em 1687, o
d izado em direção ao cuidar de si. Esta própria senhora com certeza passara impacto do comércio de gente foi cstupendo. 19
por isso até ficar livre da escravidão. Em quaisquer casos, os vínculos entre Evidentemente, muitos cativos saíram do Rio de Janeiro para áreas mi-
senhoras e forros permaneceram ligados no pós-alforr ia, prolongando-se no neradoras via mercado interno. Em 1726, cerca de 30 anos depois das desco-
post- mortem, como demonstram o seu e outros testamenws de senhores da
freguesia da Candelária da primeira metade do século XVIII. 16
Para abordar esse contexto, três aspectos ind issociáveis são levados em 17 ACMRJ, Visita Pastoral de 1687. Notícias do Bispado do Rio de Janeiro no ano de 1687. VP38.
Transcrito por Victor Oliveira, a quem agradeço, o documento compõe parte do acervo do gru-
conta: (1) o comércio atlântico e interno de cativos; (2) as transformações po de pesquisa Antigo Regime nos Trópicos. Segundo a visita, "consta a cidade de S. Sebastião
sociais e econômicas da cidade do Rio de Janeiro; e (3) o impacto da atividade do Rio de Janeiro de 2 freguesias e cm seu recôncavo de 19".As duas freguesi as da cidade são
mineradora de Minas Gerais sobre a cidade. Esses fatores geraram um largo as da Sé e Candelária . As áreas contempladas do Recôncavo, cujo número não confere com o
origina l,são São Gonça lo, Macac u, ltabora í,!rajá, Jacarepaguá, lcaraí, ltambi, Meriti, Trindade,
investimento na escravidão, que cresceu a passos largos na ocasião, trazendo Guapimirim,Magé, Suruí, Pacopaíba, lnhomirim,Marapic u,lnhoaíba, Campo Grande, lnhaúma,
profundas consequências. Cabo Frio, Campos, São João da Barra, Saquarema, Maricá, ltaipu, Piratininga, A ngra dos Reis
e Parati. Nos Seiscentos, a maior parte da população súdita da monarquia portuguesa estava
Os impactos demográficos de fins do século XVII e inícios do século XVIII concentrava na Bahia e Pernambuco, as maiores receptoras de escravos de origem africana.
foram impressionantes. Antes da descoberta de metais preciosos, conforme Estima-se que :V. da população viviam nessas capitanias. LEITE, Glacyra L. Pernambuco 1817:
uma visita pastoral feita em 1687, o bispado do Rio de Janeiro, criado em estrutura e comportamentos sociais. Recife:Massangana, 1988, p. 38-42.

1676 - que incluía áreas de Curitiba a Porto Seguro, passando por Cuiabá 18 Isto assemelha o Rio de J aneiro a Barbados do século XV II,onde, nos anos 1630, a prosperi-
dade e a fase de expansão antecedem à chamada Revolução do Açúcar, ou seja, a escravidão
-, não agregava mais de 40 mil pessoas de comunhão (católicos com mais de 6 e a plantation não resultaram diretamente do mercado mundialde açúcar.MENARO,Russell.
anos de idade) . Ainda que não estejam incluídas aí muitas almas africanas Sweet Negotiotions: Suga r,Slavery,and Plantation Agriculture in Early Barbados.Charlottesville:
aportadas no Brasil, em 1687 as freguesias que compunham a cidade do Rio University of Virginia Press, 2006. No caso do ouro brasileiro, os investimentos se originaram
de sociedades aquiestabelecidas. Cf. MATHIAS, Car los L. K. As múltiplos faces do escravidão:
de Janeiro, Sé e Candelária, contavam, respectivamente, com 650 e 600 fogos o espaço econômico do ouro e sua elite plurlocupacional na formação da sociedade mineira
setecentista, c. 1711-c. 1756. Rio de Janeiro: Mauad X/FAPER J,2012.
19 Para estimativas para o Estado do Brasil e para o Rio de Janeiro, cf. SLAVEVOYAGES. http://www.
slavevoyages .org. Igualmente, vide SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos do cor: identidade
étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização
15 AC MRJ, FS,LOFC, 1726-1729, Madalena de Souza, 09/05/1728, 58.
Brasileira, 2000; CAVALCANTI, Nireu. O comércio de escravos novos no Rio setecentista. ln:
16 Neste capítulo utilizo apenas alguns testamentos da freguesia da Candelária oriundos de alguns FLORENTINO, Manolo (org.). Tráfico, cativeiro e liberdade. Rio de Janeiro, séculos XVII a XIX. -
livros, a saber:LOFC, 1717-1719; LOFC, 1725-1725; LOFC, 1726- 1729; LOFC, 1729-1736; LOFC, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005; FLORENTINO,Manolo. Aspectos do tráfico negreiro
1736-1744. Todos os documentos provêm do site Family Search (https://www.familysearch. na África Ocidental (c. 1500-c. 1800).ln: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). O
org/), reproduzidos do acervo do ACMRJ. Brasil Colonial. V. 1. Rio de Janeiro: Civ ilização Brasileira, 2014, p.229-270.

182 ROBERTO GUEDES FORMAS DE LIBERDADE 183


bertas de metais preciosos em Minas Gerais (entre 1693 e 1695) e do arro-
lamento populacional de 1687, o provedor da Fazenda Real da capitania do
Rio de Janeiro informou ao rei D. jo ão V que se remeteram 12.546 cativos

do Rio para Minas, entre agosto de 1721 e janeiro de 1726. º Esse volume 2
l
i1
e do Ri o de Janeiro" prenderem "daqueles mulatos o que lhes for possível"
23

e enviá-los para Angola. A par dos juízos de valor de Salvador Correia de


Sá, ele atesta a intensa presença numérica e social dos forros. A organização
corresponde a quase o dobro do número de católicos "fluminenses" de 1687 religiosa da cidade também o confirma.24 A igreja da Sé, conforme a visita
mais de três vezes a população da Candelária. Por seu lado, entre 7 de outubr pastoral de 1687, tinha seu al tar-mor dedicado a São Sebastião e seis capelas
de 1727 e 2 de abril de 1728 (cerca de 6 meses) foram enviados 2.367 cativos com seus altares, dentre as quais uma dedicada a Nossa Senhora do Rosário e
também para as minas,2' o equivalente a mais da metade da população cristã a São Benedito, sendo "padroeiros dela os pretos livres e cativos desta ciclade",
que a fizeram à "sua custa" e assistiam "para o ornato dela", com recu rsos
da freguesia quando da visita pastoral. Apesar de as fontes excluírem outras
de "uma confraternidade". Devotos, todos os anos os pretos forros e cativos,
áreas que receberam cativos africanos e não abarcarem o total populaciona l da
qu e não deviam ser poucos no século XVII, mandavam rezar "uma capela d e
cidade, asseveram ainfluência decisiva do resgate atlântico de cativos para 0
crescimento de habitantes e para a reconstrução da escravidão no Estado do mi ssas pelos seus irmãos vivos e defuntos". 2s Continuavam devotos mais de
Brasil na virada do Seiscentos. um século depois,26 numa proporção bastante elevada na cidade escravista
qu e manu m iria. No finzin ho do século, em 1799, eram mui tos os egressos do
Paralelamente ao desenvolvimento da escravidão e do resgate setecentis-
cativeiro. Os pardos e pretos libertos somavam 8.808 pessoas, representando
tas, os forros se fizeram cada vez mais presentes na cidade.22 Porém , antes do
31% dos 28.386 livres, ou seja, para cada dois brancos livres havia um liberto
boom do ouro já eram uma realidade no Rio de janeiro, como dissera o pode-
pardo ou preto,27 ressalvando-se apenas que boa parcela dos brancos não era
roso ex-governador Salvador Correia de Sá. Em 1665, afirmara que no Estado
alva na aparência da tez, mas socialmente reconhecida como tal.
do Brasil havia "muita quantidade de mulatos forros, criminosos revoltosos
e de mal viver que em Angola poderão servir na guarnição dos presídios". Em suma, os forros acompanharam o processo de crescimento da cidade
Parecia-lhe convenien te que o rei mandasse "os governadores de Pernambu co corno um todo.

·
t
As transformações advi ndas dos metais preciosos mineiros não atraíram
'r só escravos para as Minas com passagem pelo Rio de janeiro e nem apenas
' 20 AHU·RJ, Cx.16, doc.1759, 10 de maio de 1726. fls. 2-5.
fizeram proliferar os libertos na cidade portuária. Fisgaram muitos comercian-
21 Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, Códice 1002.
22 Sobre alforrias e participação crescente de forros na cidade do Rio de Janeiro, cf. SOARES. De-
votos da cor..., op. cit., 2000; FARIA . Sinhós pretas..., op. cit.,2004; SAMPAIO, Antônio e. J. A 23 Relatório de Salvador Cor rea de Sá à coroa sobre a situação de Ango la. A rquivo Histórico Ultra-
produção da liberdade: padrões gerais da, manumissôes no Rio de Janeiro colonial. ln: FLO- marino (AHU), Conse lho Ultrama rino, Avulsos Angola, Cx 8, do c 132. Apud ALENCA STRO, Luís
RENTINO, Manolo (org.). Trófico, cativeiro e liberdade: Rio de Janeiro XVII a XIX. Rio de J aneiro: Felipe de. O troto das viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das
Civilização Brasileira, 2005; GUEDES, Roberto. Livros paroquiais de batismo, escravidão e qua- Let ras,2000, p.306.
lidades de cor (Santissimo Sacra mento da Sé, Rio de Janeiro, Séculos XVII-XVIII). ln: FRAGOSO, 24 Sobre irmandades de pretos e pardos na cidade desde meados do século XVII, cf. CAVALCANTI,
João;GUEDES, Roberto; SAMPAIO, Antonio C. Jucá de (orgs.). Arquivos paroquiais e história Nireu. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a
social na América lusa. Séculos XVII e XVIII. Métodos e técnicas de pesquisa na reinven ão de chegada da corte. Rio de Ja neiro: Jorge Zahar, 2004, p.210-213.
um corpus documental. Rio de Janeiro: Mauad X, 2014, p. 127-186. FRAGOSO, João. Aonta-
25 ACMRJ. Notícias do Bispado.
mentos para uma metodologia em História Social a partir de assentos paroquiais (Rio de Janei-
ro, séculos XVII-XVIII}.ln: FRAGOSO; GUEDES; SAMPAIO. Arquivas paroquiais ..., op. cit., 2014, 26 Cf. interessantes estudos sobre devoção de forros e escravos em: SOARES. Devotos da cor.
p. 19-126; TOSTES, Ana Cabral. O lugar social das homens "pardos" no cenário rural da cidade
do Rio de Janeiro (Recôncavo da Guanabara, freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Campo
l
j
2000; OLIVEIRA , Anderson José M. Devoção Negro: santos pretos e catequese no Brasil Colo-
nial. Rio de Janeiro: Quartet, 2008.

Grande, século XVIII). Rio de Janeiro, UFRJ-P PGHIS. Dissertação de Mestrado, 2012; SOUZA,ln- 27 Os forros equivalem a 58,8% da população escrava na cidade. Cf. Resumo Total da População
grid Ferreira de. Vivendo além da cativeiro: os libertos da Sé do Rio de Janeiro (1701-1797). Rio que existia no ano de 1779, compreendidas as quatro freguesias desta cidade do Rio de Janei-

'
de Janeiro, UNIRIO-PGHIS, Dissertação de Mestrado, 2014; GUEDES, Roberto; SOARES, Márcio. l ro, até o último de dezemb ro do dito ano, também dos que nasceram e falecera m no mesmo
1
As alforrias entre o medo da morte e o caminho da salvação de portugueses e libertos (Rio de ano de 1799. ln: População do Rio de Janeiro (1799-1900}. Disponível e m: http://biblioteca .
'
Janeiro, segunda metade do século XVIII). ln: GUEDES, Roberto; RODRIGUES, Cláudia; WANDER- ibge.gov.br /visua1iza cao/monografi as/GEBIS%20-%20RJ/RJ 1799_1900.pdf. Para outros locais,
LEY, Marcelo da Rocha (orgs.). Últimos vontades: testamento, sociedade e cultura na América cf. AGUIAR, Júlia Ribeiro. Por entre asfrestas das normas: nobreza da terra, elite das senza la s
ibérica (séculos XVII e XVIII). Rio de Janeiro: Mauad X, 2015. 1 e pardos forros em uma freguesia rural do Rio de Janeiro (São Gonçalo, sécs. XVII-XV III).Rio de
Ja neiro: UFRJ, PPGHIS. Dissertação de Mestrado, 2015.

184 ROBERTO GUEDES


FORMAS DE LIBERDA DE 185
tes reinóis, geralmente autoi ntitulados homens de negócio que se concentrava m diziam amos lusos ao man ummr seus escravos, como cu idavam dos forros
na freguesia da Ca ndelária, palco de atuação privilegiado do grupo, mas tam- ao proferir suas ú ltimas vontades? As doações de liberdade e o zelo diferiam
bém havia negocian tes menos abastados e gentes pobres. O raio de atuação da conforme os perfis sociais senhoriais, incluindo os amos forros?
elite mercan til pod ia i r de Minas Gerais ao Oriente, abrangendo Angola e Cos- Atendo-me, quali tativamente, a testadores que alforriaram, dividi, para
ta da Mi na, sem desprezar conexões com Bahia e Pernambu co.28 Era comum efeito de análise, considerando a naturalidade um critério, os senhores em
que tratantes atlân ticos de cativos vindos do reino vivessem algum tempo no portugueses, "cariocas" l ivres e forros do Reino de Angola. Sem que cada gru-
Rio de Janeiro para fazer ou ampliar suas fortunas, entre os quais homens po fosse homogêneo, representam perfis senhoriais diferentes que v iabilizam
em trânsito ou sem vínculos afetivos mais sólidos na cidade, mas q ue nela analisar se havia, ou não, diferenças substancia is nos atos de libertar e cuidar
ditaram seus testamentos antes de morrerem. Concomitan temente, outros dos libertos con forme suas ori gens. Todavia, mais importante do que a con-
comerciantes reinóis tentaram se estabelecer politicamente na cidade, no que juntura de expansão e da naturalidade, cumpre lembrar que todos viveram
sofreram grande resistência da nobreza da terra conqu istadora que reservava em uma monarquia pluriconci nental católica33 na qual predominavam valores
para si instituições de pod er, sobretudo a câmara municipal. 29 Em quaisquer cristãos oriundos da segunda escolástica, como exempl i fica o caso anterior de
casos, os adventícios porrugueses eram homens em aprendizado do ser senhor Madalena de Souza, que, ainda pequena, fora do interior da Índia para o Rio
de escravos,30 e talvez se espel hassem na nobreza da terra que se aparentava de Janeiro, onde aprendeu a salvar a alma nos moldes cristãos. Salvar a alma
com escravos e forros, sobretudo com pardos.31 era o mais imprescindível quando se enunciava um testamento, mesmo que os
Diante desse q uadro setecentista de grandes mudanças,32 o que as alfor- testadores aproveitassem o momento para ajustar contas terrenas, distribuir
rias testamentais dão a conhecer sobre enlaces entre patronos e forros? O que recursos, encaminhar a vida de herdeiros e/ou legatários, dos cônjuges , dos fi-
lhos, dos cativos e, é claro, dos forros. O qu itar as contas terrenas não era con-
traditório com o salvar a alma, ligavam-se.34 A propósito, naquela economia
28 SAMPAIO, Antônio Carlos J ucá de. Na encruzilhada do império: hierarquias sociais e conjunturas inseparável da política, da religiosidade, do parentesco, as disposições pias
econômicas no Rio de Janeiro (c. 1650-c . 1750). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,2003; MA-
nos testamentos movimentaram mais recu rsos em valor do que os negócios
THIAS. As múltiplas faces..., op. cit.,2012. registrados em cartórios, até pelo menos a primeira metade do século XVIII.
29 FRAGOSO, João. Um mercado dominado por bandos: ensaio sobre a lógica econômica da no-
35
breza da terra do Rio de Janeiro Seiscentista. ln: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; MATTOS, Desse modo, em testamentos, encaminhar a vida de forros, parentes e
Hebe Maria; FRAGOSO, João Luís Ribeiro Fragoso. (orgs.). Escritos sobre histório e educação:
membros da família era parte dos deveres morais dos testadores, mas, em con-
Homenagem à Maria Yedda Leite Unhares. Rio de Janeiro: Mauad X/FAPERJ, 2001,p. 247-288;
SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá de. A curva do tempo: as transformações na economia e na trapartida, eles exigiam missas por sua alma, bons comportamentos. A prote-
sociedade do Estado do Brasil no século XV III. ln: FRAGOSO, João; GOUVA, Maria de Fátima
(orgs.). O Brasil Colonial. V. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, p. 307-338.
30 Sobre o aprendizado de ser sen hor, cf. ALVES, Marcelo Inácio de O. Senhores de Escravos no 33 Sobre o conceito, cf. FRAGOSO, João; MONTEIRO, Nuno Gonçalo (orgs.). Um reino e suas repú-
Recôncavo do Rio de Janeiro: estratégias de legitimação do poder senhoria l (Freguesia de São blicas no Atlântico. Comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XV II e
Gonçalo do Amarante, século XVIII). Seropédica/Nova Iguaçu, UFRRJ. Dissertação de Mestrado, XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017, p. 401-431.
2014.
34 Havia os que só testavam par2 salvar a a lma: "Declaro que não possuo nada de meu, pois [me]
31 FRAGOSO,João. Nobreza principal da terra nas Repúblicas de Antigo nos trópicos de base es- estão sustentando minha filha e meu genro,aos quais peço pelo amor de Deus me queiram
cravista e açucareira: Rio de Janeiro, século XV II a meados do século XV III!. ln: FRAGOSO, João; fazer o meu enterro e todo o bem que puderem por minha alma" ACMRJ, FS, LOFC,1726-1729,
GOUVA, Maria de Fátima (orgs.). O Brasil Colonial 1580-1720. V. 1. Rio de Janeiro: Civilização Maria Ferreira, 19/09/1728, 85.
Brasileira, 2014, p. 159-240; Elite das Senzalas e nobreza princ ipal da terra numa sociedade 35 FRAGOSO. Apontamentos..., op. cit., 2014; FRAGOSO, João; GUEDES, Roberto. Notas sobre a
rural de Antigo Regime nos Trópicos: Campo Grande {Rio de Janeiro), 1704-1740. ln: Ibidem,
transformações e consolidação do sistema atlântico luso no século XVIII. ln: FRAGOSO; GOUVEA.
p. 241-306. AGUIAR. Par entre frestas e normas ..., op. cit., 2014; OLIVEIRA, Victor Luiz Álvares.
O Brasil Colonial 1720-1821..., op. cit.,2014, p. 9-57; FRAGOSO,João.E as plantations viraram fu-
Retratos defamília, sucessão de terras e ilegitimidade: a nobreza da terra de Jacarepaguá, XV I-
maça: nobreza principalda terra, Antigo Regime e escravidão mercantil. ln: História, São Paulo,v.
-XVIII. Rio de Janeiro: UFRJ, PPGHIS. Dissertação de Mestrado, 2014.
34, n. 2,p. 58-107, 2015.Para outras searas, vide:VON WOBESER, Gisela. EI crédito eclesiástico en
32 Ver, ainda, os trabalhos indispensáveis de BICALHO,Maria F.A Cidade e o Império: Rio de Janei- la Nueva Espaiia siglo XVIII. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 1994; AGUIRRE,
ro na dinâmica Colonial. Portuguesa. Séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Rodolfo. Los fundadores de capellanías y elfortalecimiento deiclero secular de México en elsiglo
2003; CAVALCA NTI.O Rio de Janeiro setecentis ta..., op. cit., 2004. XVII. ln: GUEDES; RODR IGUES; WANDER LEY.Últimas Vontades.. ,op. cit.,2015.

186 ROBERTO GUEDES FORMAS DE LIBERDADE 187


ção dos senhores-patronos e os comport amentos submissos dos dependentes em missas pelas almas de seus "filhos defuntos" e 16 mil-réis pelas almas
eram vistos como deveres. O cumpri mento destas obrigações morais e espiri- de seu s "escravos defuntos"; e "desta sorte acabou o dito testador da forma
tuais fazia parte dos caminhos para a salvação da alma, cada um arcando com e maneira corno acima tenho dito", registro u o pad re no assento de óbito.38
o que lhe cabia. Por exemplo, em 1728 o português Antônio Marques Esteves,
As disposições testamentárias de Antônio Marques Esteves eram perme-
viúvo e pai de dois filhos padres, era senhor de 18 escravos, de terras próp rias
adas pela moral católica. Igualmente às enjeitadas que criara, os legados às
em Irajá, de um<:. chácara no Andaraí, de 12 casas na cidade, além de credor
meninas pardas forras foram condicionados ao casamen to, q ue, sublinhe-se
de várias pessoas que lhe deviam valores expressivos. Mandou rezar milhares
bem, era um sacramento, implicava h onra e idoneidade da mu lher. Tudo foi
de missas para salvar sua alma e as de outras pessoas. Disse que, depois de
permeado pela moral católica. De fato, os valores das m issas pelas almas de
pagos seus legados e o que era de direito a seus herdeiros, sua alma seria sua
sua mulher, de seus filhos e de seus escravos falecidos, respectivamente, de-
herdeira. No caminho da salvação eterna, alforriou o alfaiate pardo Manoel
cresceram, mas isso evidencia uma concepção de casa e de família hierarqui za-
com a condição de o pardo provar ter cumprido as encomendas de 50 missas
das, como eram as de antigo regime .39 Foi nessa família cheia de dependentes
em prol da alma de seu senhor, "mostrando quitação ao Reverendo Pároco" da
submissos hierarquizados que ele agiu como um pater cristão cuj as obrigações
freguesia. Só depois disso, os testamenteiros lhe passariam a "carta de alforria
morais amparara m até u ma parda órfã porque esta moça era filha de seu so-
para q ue seja forro livre e isento de toda a escravidão como qualquer criatu-
brinho com sua cativa falecida; todos da casa senhorial, pelo menos a falecida
ra que livre nascesse" . A permuta reciprocamen te desigual entre desiguais36
escrava mãe e a menina. Na sua consciência de pater, Antônio Esteves devia
atesta um acordo prévio no qual o cativo devia zelar pela alma de seu patrono
cristãmente olhar para a filha da escrava morta para compensa r o pecado da
falecido em troca de se livrar da escravidão, que, deve-se lembrar, era ju stifica-
carne de seu sobrinho. Para esse senhor, o cuidar dos escravos e forros signi-
da com base na religiosidade, prov inha do pecado. 37 A obrigação de Antônio
ficava exercer os deveres cristãos, até no além -túmulo, incluin do missas para
Esteves de livrar o cativo do pecado-escravidão exigiu do forro prestar serviços
as al mas dos escravos e casamento para as pardas forras vivas.40 Tudo isso,
em missas para a salvação senhorial. O senhor tam bém deixou o pardo José,
por outro lado, exigia dos libertos, além do bem servir, o cumprimento de
irmão do ou tro pa rdo, "forro, livre e isento de toda a escravid ão", frisando que
obrigações religiosas : mandar rezar missas pela alma do senhor por parte dos
a ambos já dera cartas de alforria condicional. Mandou aos testamenteiros
homens e casar por parte das mulheres .11 Bons comportamen tos e bons ser-
descontar da terça o valor das manum issões.
viços de forros subalternos .
Antônio Marques Esteves não parou aí. Legou 50 m il-réis a um homem
Todos os forros de Antônio Marques Esteves e todos aos quais ele deixou
porque ele já era casado com uma exposta que o senhor criara em sua casa.
legados eram pardos, pois não raro testadores diferenciavam as qualidades
Para u ma tal "menina" Quitéria, filha de urna parda escrava, deixou 50 mil-
ou origens de seus cativos e J ibertos.42 Os irmãos Manoel e José foram iden-
-réis a serem en tregues ao marido da legatária depois que ela casasse. Doou
outros 50 mil-réis a Maria, "moça parda" que j á recebera carta de alforria. Essa
Maria parda era filha de um sobrinho do testador "e de uma minha escrava 38 Já Antônio Ribeiro Nunes mandou rezar 200 missas pelas a lmas de seus pais e também 200 pelas
que foi e já é defunta por nome Maria". Mas o legado só seria dado depois de a almas de seus escravos.ACMRJ, FS, LOFC, 1716-179,Antô nio Ribeiro Nunes, 23/01/1719, 59 .

menina estar "casada". Por fim, ordenou a seus testamenteiros qu e encomen- 39 HESPANHA. lmbecillitos..., op. cit., 2010.

dassem 48 mil-réis em missas pela alma de sua mu lher falecida, 32 mil-réis 40 ACMRJ, FS, LOFC, 1726-1729, Antônio Marques Esteves, 06/09/1728, 82.
41 Tal como disse Dorotea Monteiro em 1717, e la e ra "Senhora de uma mulatinha por nome Luzia"
a quem "deixo forra com condição que [permanecer! honrada, e casando a deixo forra; e sendo
caso que ela faça o contrário do que digo ficará sendo escrava de meu filho". A CMRJ, FS, LOFC,
36 LEVI, Giovanni. Reciprocidade mediterrânea. ln: OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de; A LMEIDA , Carla 1717-1719, Do rotea Monteiro, 09/10/1717, 16 . ·

l
M. e. de. Exercícios de microhistório. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2009, p.51-59.
42 GUEDES, Roberto. Senhoras pretas forras, seus escravos negros, seus forros mulatos e parentes sem
37 VAINFA S, Ronaldo. Ideologia e escravidão: os letrados e a sociedade escravista do Brasil colo- qualidades de cor: uma história de racismo ou de escravidão? (Rio de Janeiro no limiar do sécu·
nial. Petrópolis : Vozes, 1986;DAVIS, David B. O problema da escravidão na cultura ocidental. lo XVIII). ln: DEMETRIO; SANTIROCCH; GUEDES. Doze capítulos..., op. cit., 2017, p. 17·50; PAIVA,
Rio de Jane iro:Civ ilização Brasileira, 2001;OLIVEIRA, Anderson J. M.Igreja e escravidão africana Eduardo F. Senhores pretos, filhos crioulos, escravos negros: por uma problematização histórica da
no Brasil Colonial. Especiorio, v. 10, p. 356-388, 2009.
qualidade, da cor e das dinâmicas de mestiçagens na Ibero-A mérica.ln: IVO, lsnara Pereira; PAIVA,

188 ROBERTO GUEDES

FORMAS DE LIBERDAD E 189


tificados como escravos pardos quando o senhor mencionou os cativos que
possuía , mas entre estes havia crioulos (que nem sempre eram nascidos no outro lado, mas com o mesmo fim religioso, a venda de escravos também aten-
Brasil),43 monjolos, minas, ganguelas; nenhu m dos quais recebeu manumis- dia ao salvamento da alma senhorial, dos forros ou até dos cativos falecidos.
são ou legados. Como Antônio Esteves, outros senhores também distinguiam Não raro, os mesmos senhores que alforriavam e deixavam legados terrenos,
as qualidades de cor de seus alforriados, comparativamente aos que permane- ou que pediam rezar missas por entes ou cativos falecidos, também determina-
ciam na escravidão.44 Isso não era regra, mas pesquisas já i ndicaram que par- vam a seus testamenteiros a venda de escravos para cumprir suas disposições
dos eram ridos por vi rtuosos e até rejeitavam mu latos e pretos nos estatutos religiosas, inclusive a quitação de dívidas, sem esquecer que quitar as dívidas
de suas irmandades. J u lgavam-se mai s virtuosos e consideravam pretos e mu- era dirimi r culpas. Atestando esse caminho para a salvação, em 1727 o corpo
latos pecadores.45 Até a nobreza da terra fluminense privil egiava os enlaces do português solteiro Caetano Fernandes 48 foi "encomendado com licença do
parentais com pardos. Ou, o que dá quase no mesmo, por serem ben eficiados, Reverendo Pároco", sepultado na Misericórdia e "amortalhado em u m lençol
eles eram designados como pardos, formando grande parte da elite das senza- por ser pobre". Para desfrutar desse enterro digno desejado, implorou em tes-
las.16 Pardo não era necessari amente um fenótipo, frequentemen te não era; tamento: "peço pelo amor de Deus ao meu Reverendo Vigário [que] me queira
era também, e sobretudo, uma designação social, política, religiosa.47 dar sepultura ou à Santa Casa da Misericórdia, pois sou tão pobre que nem para
uma missa tenho com que a mande dizer". Realmente, só possuía uma "pipa
Pardos ou não, o olhar para os forros, como procedeu Antônio Marques
casco da Ilha com um resto de vinho", três cami sas de seu uso, três ceroulas e
Esteves, estava longe de ser uma questão meramente material e terrena. Por
um capote de picote usado. Declarou que a "negrinha por nome Joana" era "de
Isabel Duarte da Luz, escrava de Sebastiana de Oliveira, a qual negrinha Joana"
Eduardo França (orgs.). Dinâmicos demestiçagens no Mundo Moderno: sociedades, culturas e tra- ele comprara "com dinheiro da dita Isabel Duarte", e daí quis que lhe devolves-
balho. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2016, p. 45-70; PAIVA, Eduardo; FERNANDEZ CHAVES,
sem a "negrinha por ser sua". Restituiu a escrava para pagar d ívida e ficar em
Maneio F; PEREZ GARCIA, R. M.{orgs.). De que estamos falando? Antigos conceitos e modernos
anacronismos: escravidão e mestiçagens. Rio de Janeiro: Garamond, 2016. paz com a consciência. Mas mesmo tão pobre, mais do que uma escrava que lhe
43 Veja-se o caso de "uma crioula de Guiné por nome Anna" escrava de Albana da Costa em 1717. emprestara dinheiro para comprar outra cativa, o testador afirmou: "me não
ACMRJ, FS, LOFC, 1717·1719, Albana da Costa, 12/11/1717, 18. lembro que deva coisa alguma que alguma pessoa diga que lhe devo mostrando
44 GUEDES. Senhoras pretos forros..., op. cit.,2017; PAIVA. Senhores pretos, filhos crioulos..., op. clareza se pague". Por fim, todo o restante de seus bens seria herdado por sua
cit.,2016.
alma. Como afirmei, pagar dívida era extinguir culpas, pecados, mesmo sem
45 VIANA, Larissa M. O idioma da mestiçagem: as irmandades de pardos na América portugue-
sa. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. É preciso ainda diferenciar cor como essência, de
certeza ele tê-los cometido. Se a escrava devolvida fosse do testador, ele a vende-
cor como acidente. Prevaleceu a segunda. Cf. OLIVEIRA, Andersen. Santos Pretos e Pardos na ria para cumprir suas disposições testamentárias, salvar sua alma e morrer em
América Portuguesa: catolicismo, escravidão, mestiçagens e hierarquias de cor.Studio Historico, paz com a consciência? Essa pergunta contrafactual encontra resposta no testa-
Histór ia Moderna, v. 38, p. 65-93, 2016.
mento da preta forra solteira, sem filhos, Maria Correia de Sá, de 1700, e no da
46 FRAGOSO, Elite dos Senzalas, 2014; AGUIAR, Júlia; GUEDES, Roberto. Pardos e pardos forros:
;;gentes da escravidão e da mestiçagem (São Gonçalo do Amarante, Rio de Janeiro, Século
"carioca" casada, com filhos, Albana da Costa, de 1717. A primeira man umitiu
XVIII). História social em registros paroquiai s (Sul-Sudeste do Brasil,séculos XVIII-XIX). Rio de e deixou bens a cativos mulatos, ao mesmo tempo que: se "negro João Fernan-
Janeiro:Mauad X, 2016. des" pagasse por si 50 mil-réis se tornaria "forro" com carta de "liberdade".
47 EISENBERG, Peter.Homens esquecidos. Escravos e trabalhadores livres no Brasil - Séculos XVIII Porém, se não pagasse, "o venderiam seus testamenteiros a quem por ele mais
e XIX . Campinas: Editora da Unicamp, 1989, p. 269-270;FARIA, Sheila de Castro. A colônia em
movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998; GUEDES. desse". O destino do dinheiro da autocompra ou da venda do cativo a terceiros
Egressos do cativeiro..., op. cit.,2008; Mudança e Silencio sobre a cor: São Paulo e São Domingos era preciso: "a metade do valor do negro João Fernandes, que são cinquenta mil
(séculos XVIII e XIX). Africano Studio, v. 14, p. 93-118, 2010; O vigá rio Pereira, as pardas forras, réis, por que se há de libertar, vinte e cinco mil réis, que é a dita metade, man-
os portugueses e as famílias mestiças. Escravidão e vocabulário social de cor na freguesia de s.
Gonçalo (Rio de Janeiro, período colonial tardio). ln: FRAGOSO; GOUVEA. O Brasil colonial..., , da se digam em missas pela alma de seu marido". 49 O resto quitava legados,
op. cit.,2014; PAIVA, Eduardo França. Dor nome ao novo: uma história lexical da Ibero-América,
entre os séculos XVI e XVIII (as dinâmicas de mestiçagens e o mundo do trabalho). Belo Horizonte:
Autêntica, 2015; IVO, lsnara Pereira; PAIVA, Eduardo França. Dinâmicos demestiçagens no mundo 48 ACMRJ, FS, LOFC, 1726-1729, Caetano Fernandes, 16/10/1727, 28.
moderno: sociedades, culturas e trabalho.Vitória da Conquista: Edições Uesb, 2016. 49 ACMRJ, FS, Livro de Óbitos da Freguesia do Santíssimo Sacramento da Sé, 1693-1700, Mari
Correia de Sá, 03/09/1700, 75.

190 ROBERTO GUEDES


FORMAS DE LIBERDADE 191
missas, etc. Por sua vez, a carioca casada com filhos recomendou que, logo da sociedade fluminense. Deve-se advertir que as doenças eram vistas pelo
que falecesse, seu testamenteiro venderia sua "crioula do gentio da Guiné" "a prisma religioso,54 posto que o discu rso médico cicntificista do Oitocentos
quem ela muito quiser", e "de alguma coisa que fiq ue da minha terça mando ainda estava longe de chegar.55Daí que afamados dons espiritu ais curativos do
1 que se me digam em missas para minha alma".5º A cativa apenas escolheria
de quem continuaria escrava.
preto forro de Angola extrapolava a fregu esia urbana, haja vista que ele curou
gente em Guapi. Ademais dos pagamentos monetários recebidos ou a receber,
Manoel de Barros ganhou também, por sua reputação espiritual-curativa, o
As questões espirituais, portanto, dispostas em vida dos testadores para
cu idado do padre de sua paróquia que o enterrou na capela de São Domingos
saldar contas com o mundo terreno e para traçar uma boa rota ao além eram
e rezou as missas que o natural do Reino de Angola lhe pediu. O padre cuidou
fundamentais nas relações entre senhores-patronos e escravos-forros com
da alma do forro curandeiro.
obrigações morais religiosas recíprocas, que podiam até envolver terceiros.
Além do amor, que era um ordenador social num mundo com esferas estatais O forro Manoel de Barros tinha créditos, mas também dívidas a pagar, so-
fragilíssimas, 51 os favores espirituais e afetivos eram dados e retribuídos. Ma- bretudo com seu testamenteiro, João Ferrei ra Mun iz da Conceição, a q uem fez
noel de Barros - descrito pelo padre que redigiu seu assento de óbito como herdeiro juntamente com Teresa de Jesus, a quem chamou de "prera forra".
"preto forro", mas natural "do Reino de Angola" em seus próprios dizeres - Mais ainda, ele deixou "forra" a sua "preta por nome Suzana" com a condição
faleceu solteiro, sem herdeiros, em 1727, com "todos os sacramentos". Mora- de permanecer "em companhia do testamenteiro" que lhe "administrará".56
dor na freguesia da Candelária, seu corpo foi amortalhado em um lençol, enco- Para ele, alforriar significava delegar a alguém o cuidado e o governo dos for-
mendado pelo seu reverendo pároco e sepultado na Capela de São Domingos. ros, o que explica esse tipo de liberdade condicional tutelada. A propósito, esta
Em testamento, afirmou possuir, entre outros bens, o "molecão" Francisco e era a mesma concepção de liberdade pela qual, como se viu, o padre "carioca"
a "preta" Suzana. O testador era credor do padre carmelita Francisco Barto- Guilherme de Souza, a ilhéu Isabel do Espírito Santo, o portugu ês reino!An-
lomeu da qu antia de "quatro moedas de ouro novas", dívida procedida, disse tônio Marques Esteves, a indiana forra Madalena de Souza e a natural da Cos-
ele, de "uma cura de feitiços que lhe fiz a uma preta sua". Inácio Sardinha, ta da Mina Maria de Souza Capacha condicionaram as manu missões de seus
"morador cm Guapi", também lhe devia por serviços cu rativos, precisamente escravos. Em seu ato de alforria e em seu ju ízo sobre liberdade, o curandeiro
"quatro mil réis de uma [cura] que fez a um preto seu".52 Além do fato de preto forro do Reino de Angola também em nada difere de Páscoa de Oliveira,
o senhor forro chamar os escravos de pretos, nota-se que, para ele, o curar mencionada páginas atrás, mas cujo perfil social era a de u ma mulher natural
feitiços era um serviço religioso prestado, mesmo que esse serviço não fos- da freguesia da Candelária, filha legítima, casada, com filhos. Não se explicita
se tão ou nada cristão,53 o que era aceito pelo padre e por outros membros sob que condições a manum itida Suzana perman ceria com o testamenteiro,
mas, de qualquer modo, para o senhor liberto natural de Angola ela continuaria
a prestar os bons serviços, cristãos ou não, para merecer a liberdade alforriada.
50 ACMRJ,F5, LOFC, 1717-1719, Albana da Costa, 12/11/1717, 18. Até aqui o que se observa é que uma senhora fi lha legítima nascida e ca-
5 1 CARDIM, Pedro. Amo r e amiza de na cult ura polótica dos séculos XVI e XV II. l usitania Sacra, 2
sada na cidade, um português filho legítimo viúvo com herdeiros forçados
série, 11,p. 35-36 e 57, 1999; Religião e ordem social. Revista de História das Ideias, Coimbra,
n.22, 2001;GODOY.Mestiçagem..., op. cit.,2017; GODOY, Silvana; GUEDES, Roberto. Filhos de
brancos, bastardos e mamelucos em famílias mestiças (São Paulo, séculos XVIe XVII):notas.
Acervo, 2017.
54 ROSEMBERG,Charles. Framing disease: illness, society and h1story. ln:Explanníng epidemies
52 ACMRJ, FS, LOFC, 1729-1736, Manoel de Barros, 17/07/1736, 281. and others studies in the history of medicine. Cambridge: Cambridge University Press, 1992, p.
53 Sobre curandeiros, feiticeiros, bruxos, etc. na era moderna,ver: MANDROU, Robert. Magis- 305-3 18; NOGUEIRA, André Luís de Lima. Entre cirurgiões, tambores e ervas. Calunduzeiros e
trados e feiticeiros na França do século XVII. São Paulo: Ed.Perspectiva, 1979; LEVI, Giovanni. curadores ilegais em ação nas Minas Gerais (século XV III).Rio de Janeiro:Ga ramond, 20 16.
A herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: 55 SOARES, Márcio de Sousa. A doença e a cura: saberes médicos e cultura popular na corte im-
Civiliza ção Brasileira, 2000; GINZBURG, Cario. Os queijos e os vermes. O cotidiano e as ideias de perial. Niterói: UFF-PPGHIS. Dissertação de Mestrado, 1999; COELHO, Edmundo Campos. As
um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987;SOUZA, Laura profissões imperiais : medicina, engenharia e advocac ia no Rio de Janeiro, 1822- 1930. Rio de
de Melo e Souza . O diabo e a terra de Santo Cruz: feitiçaria e religiosidade'popular no Brasil Janeiro: Reco rd, 1999.
colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986; VAINFAS,Ronaldo. A heresia dos Índios. São
56 ACMR J ,LOFC,1729-1736, Manoel de Barros, 17/07/1736, 28 1.
Paulo: Companhia das Letras, 1995.

FORMAS DE LIBEROADE 193


192 ROBERTO GUEDES
e um preto forro curador de feitiços natural do Reino de Angola, e os demais res? Barros nasceu na África Central, onde havia sociedades umbilicalmcnte
senhores de diferentes perfis, origens e experiências aqui perscru tados, estavam ligadas à economia atlântica escravista da época moderna nas quais não preva-
mergulhados no mundo da espiritualidade e suas práticas de alforria legaram leciam "modernas noções de 'Estado' ou 'reinos'", o que denota que os cativos
aos forros formas variadas de amparo no post-mortem senhorial: a própria manu- resgarados "chegavam às A méricas não com noções de insti tu ições estáveis
missão que livrava os forros do pecado da escravidão, missas para os libertos, o como 'Estado' em suas mentes". Ao contrário, os escravos aqui aportados
casamento e o consequente acesso a legados para dote, o amparo de testamen- "pcP.savam em metáforas de poderes protetores exercidos por benfeitores
teiros/herdeiros, ou uma combinação disso tudo. Nada nessas modalidades de (patronos) pessoais e poderosos em favor de clientes leais". Era desse modo
alforria era fruto de uma concepção individualista de liberdade. Tudo nelas se porque os "sentimentos políticos do tipo patrono-cliente eram mais flexíveis
casava bem com a noção de casa ou família hierarquizadas e com o papel de um e transferíveis para o Novo Mundo do que seriam os conceitos mais estrutu-
pater família (mesmos das mulheres) em uma monarquia católica. rados de Estados instiru cionalizados".59 Descarte, é crível que tais valores
Manoel de Barros não era nem português nem nascido no Estado do Brasil, i nflu enciaram o comportamento político de escravos e de forros que reconhe-
um estado permeado de influências culturais de múltiplos povos indígenas e ciam autoridades senhoria i s, inclusive as concepções de liberdade de libertos
africanos. Que ori entações va lorativas levaram o nascido no Rei no de Angol a a em relação a seus antigos senhores convertidos em patronos. Efetivamente,
alforriar sua escrava, deixando-a em companhia de seu testador/herdeiro? Su- não se dá azo a pensar que os alforriados se comportassem baseados em no-
ponho que a resposta esteja além dos valores políticos cristãos de uma monar- ções de liberté, egalité et fratern ité, nem quando manu mitidos, nem q uando li-
quia católica, mas sem os excluir. Sem os excluir porque o curador de feitiço bertaram seus cativos. Para eles, a liberdade dependeme não era sinônimo de
pedira missas por sua alma, implorou pelo cuidado de outro cristão, o padre, precariedade. Era parte de suas culturas polít icas, as quais, numa monarqu ia
mesmo que sua preocupação com a morte e o enterro dignos se pau tasse em católica, se i mbricavam com o dever político-mora l do patrono de olhar pelos
cosmogonias religiosas africanas, que não eram avessas às católicas e até as forros. Com essa visão política clientelista, Manoel de Barros era a única ando-
incorporam.57 Igualmente, ademais da religiosidade, pod ia ser o caso de Ma- rinha vinda de Angola a voar no céu das mil e uma hierarquias?
noel de Barros se conduzir a parti r de elementos oriundos de culturas políticas Num assento de óbito feito pelo padre em 1730, Martinho de Barros era
africanas, que, como a cu ra de feitiços, também atravessaram o atlântico em "preto forro do gentio da Guiné", casado na cidade com "Gracia Rodrigues
navios negreiros, o que é pouco considerado na histor iografia brasileira da preta forra".60 Nos seus próprios dizeres em testamento, ele asseverou ser
escravidão, 58 que enfatiza dimensões culturais e religiosas das continuidades "natural do Gentio da Guiné do Reino de Angola,61 de J á vim para esta ci-
africanas no Brasil e/ou suas ressignificações. Ora, política, religiosidade e dade na qual fui escravo de Pedro de Barros, e ao depois do sargento mor
cultura podiam andar juntas e se mestiçarem. André Pi nto, ao qual dei o meu valor e me passou carta de alforria que se acha
Sendo assim, no âmbito da política, a modalidade de alforria condicional nas notas". Amortalhado num lençol e sepultado na capela de São Domingos,
(a perm anência com o testador, o olhar para os forros) dada pelo preto forro Martinho de Barros escolheu como seus testamenteiros , respectivamente, em
Manoel de Barros, natural do Reino de Angola, significa que concepções de primeiro, segundo e terceiros lugares, sua mulher, o ex-senhor sargento-mor
poder africanas primavam por consolidar formas de dependência e de relações que lhe concedeu a manumissão e o padre Inácio Ferreira. Por razões desco-
assimétricas como as que atavam clientes e patronos, forros e seus libertado- nhecidas, o forro carregava o sobrenome de seu primeiro senhor, não o de
quem lhe deu carta de alforria. Deu carta?! Como deu , se ele pagou por ela?!

57 Cf. CRAEMER, Willy; VANS INA, Jan; FOX, Renée. Religious Movements in Central Africa: a the-
oretical study. Comparative Studies in Society and History, v. 18, n. 4, p. 458-475, Oct. 1976;
THORNTON, John. Afro-Christian syncretism in the kingdom of Kongo. Journal af Africon His- S9 MILLER, Joseph. África Central durante a era do comercio de escravizados, de 1490 a 1850. ln:
tory, n. 54, p. 53-77, 2013; A cultural Histary of the Atlantic Wor/ d, 1250-1820. Cambridge: HEYWOOD, Linda (org.). Diáspora negro no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008, p.52-53.
Cambridge U. P.,2012 60 ACMRJ, FS, LOFC, 1729·1736, Martinho de Barros, 23/03/1730, 32.
58 Exceções tímidas são:MATHEUS. A produção da diferenço..., op. cit.,2016 e GUEDES. Senhoras 61 Gentio da Guiné ainda significava uma alusão genér ica à África. A procedência era Reino de Ango·
pretos forros ..., op. cit., 2017. la, África Central. Sobre o assunto,cf. SOARES. Devotos do cor..., op. cit.,2000. Capítulos 1e 2.

194 ROBERTO GUEDES FORMAS DE LIBERDADE 195


seja, pessoas criam umas nas outras, mesmo que houvesse dívidas irrecuperá-
Simplesmente, a condição da liberdade é predominantemente decidida,
veis; malparadas, como se dizia à época. O tempo do pagamento das passivas
ainda que negociada, pelo senhor, mesmo se paga às custas do cativo ou de
não era dado apenas pelo mercado, muito menos preferencialm ente. Não raro,
terceiros. A concreti zação da manumissão resultava de uma relação política,
passavam-se anos sem q ui tá-las, 62 mas às vésperas da morte os testadores
afetiva, religiosa, não raro de parentesco, etc. e, logo, não era uma simples
delas se lembravam para morrer em paz com a consciência. Por isso, o forro
compra e venda de mercado ria baseada na l ei smithiana do liv.re mercado da
Martinho de Barros implorou aos testamenteiros q ue "se houver alguma pes-
oferta e da procu ra. Até quando um senhor dizia dar a alforria com a condição
soa a quem eu deva alguma cousa, mostrando clareza, mando se pague para
de o cativo nunca mais voltar, a fim de livrar-se de quem o incomodava, a
descargo de minha consciência". Ele tinha recursos para saldar as dívidas para
negociação política estava presente, mas também aí nas condições senhoriais.
com seu patrono, porém não o fez, para contin uar arado a ele. Permanecendo
O problema em conceber a alforria, paga ou não, como conqu ista, e não pre-
endividado, mas implorando pela salvação da alma, disse aos seus testamen-
dom inantemen te como concessão, é d e ordem heurística. Quase sempre só é
teiros que no dia do seu falecimen to se dessem "quatro patacas repartidas
possível saber sobre as manumissões concretizadas e documentadas. Ocasiões
pelos pobres". Endividad o, sim, ele era, mas não pobre . A dívida para com seu
em que os cativos as al mejaram, mas não lograram êxito, raramente foram re-
senhor era de ou tra natureza.
gistradas, a exemplo de processos de ação de liberdade, majori tariamente em
fins do século XIX. Portan to, o não sucesso dos cativos em se libertarem não Ao invés de pagar ao seu patrono, o capitão-mor André Pinto, o alforriado
legou muitos vestígios. Por isso desconheço docu mentos de carta fracassada natural de Angola preferiu se man ter unido pela d ív ida a quem ainda chamava
de alforria registrada em cartório, mui to menos em série. Seria o caso de con- de "Senhor", mesmo depois de l iberto e mesmo tendo arcado com a sua alfor-
quista da permanência na escravidão ou de uma conquista às avessas!? ria. Ele devia saber que o despender recu rsos financeiros por sua manumissão
não o tornava menos cliente. Foi essa a bagagem política de clientela que
Martinho de Barros, q ue pagou por sua alforria e a recebeu de seu senhor,
trouxera do Reino de Angola que se mestiçou com a dos deveres morais cris-
não tinha filhos ou herdei ros forçados. Suas ú ltimas vontades foram ser se-
tãos de uma monarquia católica. A dívida de gratidão de Martinho para com
pultado na capela do Senhor São Dom ingos, ser encomen dado pelo seu vigário
o senhor sargento-mor não era apenas por receber a l iberdade e pelo crédito
com mais nove sacerdotes, para o que despenderia a esmola de costume, e
para a aquisição da saia de sua mulher. As permutas entre clientes e patronos,
receber para sua alma dez missas de corpo presente no dia do seu falecimento.
que implicavam submissão, obediência, afeto e serviços (bons serviços) por
Ele também declarou possuir "duas morad inhas de casas térreas" em chãos
parte do forro e proteção, afeto e amparo por parte do senhor deveriam se
aforados à Igreja de São Domingos e três escravos. Inicialmen te, sua vida de
estender no post-mortem. O liberto disse que, corno dever moral, os senhores
senhor se iniciara com o suor do seu trabalho de ped reiro porque entre seus
deviam cuidar dos forros mesmo após a morte, quer deixando-lhes legados,
bens havia uma caixa grande, uma pequena com roupa, e "ferramenta de pe-
como se viu em vários casos, quer alforriando-os em testamento, mesmo que
dreiro". O senhor forro de Angola também fez benfeitorias em uma "roça
as alforrias dependessem da morte do senhor e/ou da de quem o amo deixasse
no Botafogo", que devia estar em chãos alheios porque ele não frisou que as
os libertos servindo em companhia. Por isso, para Martinho de Barros as obri-
terras eram suas, mas, em compensação, receberia aluguéis de pelo menos
gações morais do capitão-mor André Pinto deveriam continuar. Além de cum-
uma das casas térreas na cidade, se morasse na outra. Suas dívidas não resul-
prir as tarefas como testamenteiro, o senhor-patrono tinha outras obrigações:
tavam da compra de escravos, como as daquele português pobre que tomara
emprestado de uma escrava para tal fim. As passivas de Martinho de Barros Declaro que despois de pagas as minhas dividas, e cumpridos os meus
procediam de um crédito de 40 mil-réis de credor não especificado e de "um legados, declaro, instituo por meu universal herdeiro ao sargento mor
corte de saia de camelão e mais o que" dissesse o seu "Senhor", o "sargento A ndré Pinto, a quem peço ampare, como até agora fez, à minha
mor André Pinto", que lhe concedera a alforria paga. mulher, como espero de sua benignidade. Declaro que depois de
Martinho de Barros podia vender um dos escravos, uma das casas, ou mes-
mo labutar como pedreiro, para pagar suas dívidas, mas naquele mundo de 62 Cf. FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento. Fortuna e família nocotidiano coloni I. Rio
baixa liquidez as dívidas atavam as pessoas. Dava-se e recebia-se crédito, ou de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

FORMAS DE LIBERDA DE 197


196 ROBERTO GUEDES
meu falecimento farão meus testamenteiros inven tário de tudo o que se à toa a própria senhora Rangel duvidava da legalidade daquele seu suposto
achar no casal, para então se entregar à minha mulher, Gracia Rodrigues direito de patrona. No entanto, se tal direito escrito ou costumei ro vigoras-
a metade dos bens que lhe penencem, e da outra a metade darem meus se, enquadrar-se-ia na mesma lógica jurídica para os filhos que morriam com
testamenteiros em cu mprimento ao que neste meu testamento ordeno. testamentos e sem descendentes, já que os 2/3 de sua meação voltaria m aos
Por tudo assi m ser minha última vomade; e desta sorte acabou o dito seus pais vivos. O viúvo do cônju ge só herdaria se o filho falecido não tivesse
testador seu testamento na forma como nele se declara. [Grifos meus]
parentes até o décimo grau.66 No caso dos forros casados sem herdeiros, seus
Apesar de apelar à benignidade senhorial para com a sua mulher, Maninho 2/3 dos bens retornariam a seus patronos, o que significa que vigia o mesmo
institu i seu patrono como herd eiro, e não a ela. Ele agiu de modo diferente princípio para forros e ingênuos (nascidos livres) casad os sem herdeiros. Pre-
do também forro angolano Manoel de Barros, que, também sem filhos e as- dominava a noção de casa-família, na qual o senhor era o pater dos forros e
cendentes, enunciou sua mulher e seu ex-senhor como sucessores. Por que dos filhos, se fosse o caso. Se fosse porque libertos sem filhos ou ascendentes,
Martinho só pronunciou o patrono como herdeiro, excluin do a mulher? Não frequememente instituíam-se herdeiros em testamento que não eram os seus
tendo herdeiros forçados, instituir o ex-senhor como sucessor era parte dos patronos.67 Mas é preciso aferir se, em tais situações, os senhores já estavam
direitos de patrono? Não encontrei nada explíciro nas Ordenações Fil ipinas falecidos, o que pesquisas não problematizaram.
nesse sentido.63 Mas nelas consta que se um cônjuge falecesse abintestado Ainda que a questão permaneça em aberto,68 Martinho de Barros não evo-
(sem testamento), e sem herdeiros ascendentes ou descendentes até o décimo cou nenhum direito escrito ou costumeiro para instituir seu patrono como
grau, o enviuvado se tornava sucessor. Não há exceção para forros.64 Então, herdeiro e testamenteiro . Foi à benignidade senhorial que ele apelou em aten-
já que sendo casada e tendo Martinho feito testamen to, a herdeira deveria ser ção à sua mulher e ao seu próprio post-mortem. Tudo indica que o patrono
a mulher, Gracia. Ou, realmente, o fato de tornar o ex-senhor herdeiro seria capitão-mor sempre cumprira a sua obrigação de olhar pelos forros, como até
uma regra sucessória imposta aos forros? Ou u m direito costumeiro? Catarina agora o fez. Martinho e Gracia eram casados nos moldes cristãos, o que supõe
de Mendonça Rangel, na vizinha freguesia da Sé, disse em 1731 que alforriara a anuência senhorial para a realização do sacramento. Ele afirmou que meta-
a criou la joana que faleceu na Bahia. Por isso, ela entendia que "me pertence a de dos bens era da sua mulher, ou seja, o senhor deve ter permitido que ele
herança de seus bens, e tenho mandado procu ração ao Reverendo Padre Bento acumulasse pecúlio, talvez ainda quando era escravo.69 Marti nho até pagara
Soares da Fonseca para cobrar o que [me] tocasse por herdeira pelo direito por sua liberdade, com a perm issão de seu senhor. Não se sabe se as terras
de Patrona, se se entende o tenho e o que por legado me deixasse a dita Joan- em Botafogo, onde ele e a mulher tinham roça, eram do patrono, mas nelas
na".65 Foi o ún ico caso que encontrei em quase dois mil testamentos lidos, o casal fez suas benfeitorias. Duas casas térreas na cidade e três escravos não
tão raro como práticas de reescravização que carecem de empiria. Daí que não eram pouca coisa no contexto urbano do Rio de Janeiro da primeira metade do
sécu lo XVIII, porém o casal afirmou a liberdade pela posição senhorial, pelo
menos Martinho falou como tal sem manum itir ninguém, quem sabe pensan-
63 Pergunteia colegas especia listas em alforria e nenhum deles me confirmou a pergunta. Há, no
do em sua mulher ou na venda de seus bens para cumprir legados, pagar dívi-
entanto, uma alusão em Hespanha segundo a qual o fisco, com exceção dos forros, poderia ser
herdeiro. Para os nascidos livres,"na falta de testamento, todas as classes sucessórias falhas- das, dar aos pobres e rezar missas para salvar a alma. Precisamente, na relação
sem, o herdeiro dos bens seria o fisco, recebendo os bens com os respectivos ônus (Ord. Fil. com seu patrono, Martinho lhe pediu: ampare como até agora fez à minha mulher,
2, 26, 17).Em Portugal, porém, os bens dos [que] morriam sem testamento e sem herdeiros
como espero de sua benignidade, o que atesta que, há algum tempo, o ex-senhor
legítimos - mesmo os estrangeiros - eram consignados à redenção dos cativos"."Exceção era
o caso de sucessão dos libertos, em que o patrono - e seus consanguíneos até ao 52 grau - ti-
nha direitos sucessórios". HESPANHA, Antó nio M. Como os juristas viom o mundo. 1550-1750:
Direitos, estados, coisas, contratos, ações e crimes. Lisboa: Centro de Investigação sobre Direito 66 Vide Ordenações Filipinas, Livro IV.Tits. XCI,XCIV.
e Sociedade/Createspace, 2015, p. 435. Cabe aferir sua jurisprudência para o Estado do Brasil. 67 Para o Rio de Janeiro setecentista, cf. FAR!A. Sinhás pretas ..., op. cit., 2004.
Agradeço a indicação à A na Paula Rodrigues Machado. 68 Em parceria com Ana Paula Rodrigues Machado,desenvolvo pesquisa sobre como os forros
64 Vide Ordenações Filipinas, Livro IV.Tit. XCIV. sem ascendentes ou descendentes instituíam herdeiros em testamento .
65 ACMRJ,FS, Livro de Registro de Óbito da Freguesia do Santíssimo Sacramento da Sé, 1727-1730, 69 Os negócios do forro não podiam atrapalhar os do patrono,sob pena de revogação da alforria.
Imagem 126, Página 163 verso. Ver: Ordenações Filipinas, Livro IV, Título LXlll.

198 ROBERTO GUEDES FORMAS DE LIBERDADE 199


oficial de carpinteiro", porém se o negro falecesse se pagaria o que era de há-
vinha olhando pelo casal; e mesmo que Gracia não fosse liberta pelo mesmo bito e costume. Requereu várias missas por sua alma, inclusive em Portugal,
patrono, ela era mu lher de seu forro. A expectativa de Martinho de Barros era legando bens para igreja s, co;,ventos, irmandades, etc. Todavia, como era de
a de que seu amo comin uasse a cuidar de sua mulher forra, iminente viúva, parcos recursos quando enviuvou, fez questão de afirmar enfaticamente que
numa típica e exemplar relação amorosa en tre senhores e subalternos, entre "em minha vida tenho mandado fazer por min ha alma, e de min ha mulher
patronos e clien tes no pós-alforria. e mãe e pai várias missas por cuja razão me não alargo a mandar dizer mais
Em suma, os Barros, Manoel e Martinho, não sei se parentes, evidenciam neste testamento". J\ inda doou 50 mil-réis a parentas de sua mu lher, se elas
que os libertos oriu ndos de Angola viam na dependência algo natural, conce- casa.Jsem. Confirmou a alforria de cativa cuja carta já estava registrada em
biam a man u missão não como sinônimo de produção de self made-men. Expe- cartório e disse ter "em casa um enjeitado por nome Caetano e uma fêmea
rimentaram a dependência subserviente da escravidão, da qual ficaram livres, por nome Elena". Pediu à sua filha testamenteira q ue os favorecesse como
e experimen taram-na novamente na condição de forros, até à hora da morte, pudesse, "merecendo eles". Os forros e enje itados, portanto, deviam fazer por
quando alguém, incluind o seus patronos, devia amparar suas almas. Vivencia- merecer para recebe rem legados e alforrias e outras benign idades senhoriais.
ram-na também como senhores, alforriando ou não seus cativos. Como o ma- Com efei to, para o português Francisco Rosa do Faial, mu ito preocupado ao
nu mitido curandei ro de feitiços Manoel de Barros acostou a cativa alforriada longo de sua vida em rezar pela a l ma de sua mu lher e de seus pais, a obrigação
Joana ao seu testamenteiro, o forro Martinho de Barros deixou à benignidade
·1
moral para com os libertos ia além da manumissão e de legados materiais . Ele
de seu patrono os cuidados para com sua mulher liberta quase viúva. Qu içá,
diferente de Manoel, Martinho insti tui apenas seu patrono como sucessor por
postular q u e, nas condições de forra, mulher e viúva, Gracia seria incapaz de
l sublinhou que deixava à Maria da Fonseca, "parda que assiste em minha casa,
forra, por esmola trinta mil réis", mas se a parda forra falecesse antes dele, não
receberia nada "porq ue neste caso farei o que puder por sua alma", tal como
autogoverno. Talvez? ! fizera pela de sua mu lher. Olhar para os forros era também salvar suas almas.
Aliás, materialmen te, parece que, sendo meeira dos bens, a viúva de Mar- Os forros submissos guardavam sentimento de gratidão?
tinho de Barros não estava desamparada, o que induz a pensar que o esmero À guisa de conclu são, pode-se dizer que sim. Operava-se com uma ideia de
como obrigação do senhor seria de outra natureza. Provavelmente, tratava-se l iberdade associada ao pertencimen to a uma casa, a um grupo, a uma família,
de proteção às mulheres naquele mundo governado pelos homens, mas tam- ainda que não excl usivamente, e mesmo que "apenas" na memória. Em 1740,
bém podia ser um cuidado espiritual. Rezar missa para ela quand o morresse. Joana da Fonseca, designada pelo pad re como preta forra, era casada com Ma-
Não há como saber se seriam essas as benignidades exigidas pelo forro ao noel de Araújo, "preto forro" também pelos dizeres do padre que assentou
patrono, mas parece que a assistência espiritual foi dever moral de outros o óbito no livro.71 O corpo de Joana da Fonseca foi amortalhado em lençol,
senhores, ao menos de Francisco da Rosa Faial, falecido em 1728.70 Viúvo, depositado e sepul tado na igreja de São Domingos, na qual se rezaram missas
filho legítimo natural da Ilha do Faial, morador na freguesia da Candelária, de corpo presente com dez sacerdotes. Ela se declarou "natural da cidade da
fora casado na mesma ilha com Luzia Rodrigues, a quem buscou outrora "para Bah ia", mas com lamento se reportou à sua "mãe já falecida que a não conhe-
este Rio donde faleceu", "em cujo tempo pouco possuía de bens, e lhe fiz por ci". De seu matrimônio com Manoel de Araújo, ficaram duas filhas então jt
sua alma o que as mi nhas posses prometiam", disse o português em testa- casadas. Não mencionou que o marido e as filhas eram forros, pois a eles e
mento. Casou sua filha única e legítima Maria Rosa com Domingos Pereira, aos genros se referiu apenas com a linguagem do parentesco. Entre os bens
mas, como o genro era "um estragado", levou a filha para a sua "companhia", do casal, havia "cinco escravos chamados Mateu s, Roque, Antônio, e outro
nomean do-a pri meira testamentei ra. O testador também pediu que seu corpo Antônio, e Rosa". Tinha benfeitorias em Andaraí, "nas terras dos padres da
fosse amortalhado no hábito de Santo Antônio e que os padres do conven to Companhia com sua roda de mandioca de cobre, um forno do mesmo, dois ta-
lhe rezassem 40 missas de corpo presente. Para cobrir os custos, deu mais do chos, um grande e outro pequeno e os mais preparas de fazer farinha". Usava,
que o necessário ao convento, "um negro por nome Antônio com princípio de

71 ACMR J, FS, LOFC, 1736-1744, J oana da Fonseca, 22/05/1740, 141.


70 ACMRJ, FS, LOFC, 1726-1729, Fra ncisco da Rosa Fa ial, 06/07/1728, 72.
FORMAS D E LIBERDADE 201
200 ROBERTO GUEDES
guardava ou penhorava botões de ouro e prata e ou tros metais preciosos. 72
Suas posses lhe permi ti ram dotar suas "filhas para casarem com os maridos",
cujos dotes constituíram "as duas partes de meus bens", mas "da terça dispo-
l própria comprara, já era uma senhora de cinco escravos, mãe de duas fi l has
dotadas e casadas, mas, mui to provavelmente , na ocasião em que foi liberta,
devia ser u ma escrava de recursos materiais e simbólicos bem diferen tes, e,
nho na maneira seguin te": mesmo pagando por si, deve ter alcançado a liberdade com a permissão de seu
senhor, talvez falecido à época do testamento da então altiva senhora joana.
Deixo pela alma da minha mãe se mande dizer quarenta missas de que
O tempo e a distância física em relação a seu patron o, talvez até no plano espi-
se dará a esmola costumada. Declaro que [fui] escrava de Antônio
Fernandes Valqueire, [mas] suposto [lhe] dei dinheiro pela minha ritual, aumentaram a voz de Joana da Fonseca sobre sua própria liberdade; foi
liberdade, contudo lhe devo o ensino e a criação, e quero se mande um momento rememorado, quando era uma senhora já bem estabelecida. Ela
dizer vinte missas pela sua alma e [se] dê a esmola costumada. sequer dissera que seu ma rido e suas filhas eram forros e/ou de antepassado
Deixo que pela alma de meu compadre Antônio Dias se digam vinte escravo. A propósito, foi o padre q uem registrou que ela era preta forra, o que
m issas. Deixo ao Senhor São Domingos dez mil réi s por uma vez so- não era para ela uma autoiden tidade, uma autodesignação. Até ao se referir à
mente, outros dez mil réis ao Senhor Bom Jesus da mesma igreja de sua escravidão, ela não o fez primordialmente para ressaltar que comprara sua
São Domin gos de quem sou irmã, outros dez mil réis a Nossa Senhora liberdade. No contexto da fala, sua alusão à autocompra foi secundária, compa-
do Rosário dos pretos de quem sou também irmã, e peço me façam rativam ente à intenção de manifestar gratidão - Declaro que [fui] escrava de Antô-
os sufrágios costu mados e que se lhe paguem as mesadas que constar nio Fernandes Valqueire, [mas] suposto [lhe] dei dinheiro pela minha liberdade, contudo
dever. Deixo à minha afilhada joana, escrava da Senhora Tereza, que lhe devo o ensino e a criação, e quero se mande dizer vinte missas pela sua alma e [se] dê
meu marido conhece, no caso que case, duas moedas novas; e o mais
a esmola costumada. Visou realçar o sentimento de gratidão. No entanto, no ato
que crescer da minha terça mande que se me digam de missas, tirando
falho não intencional, disse o que disse sobre sua liberdade quando já era se-
[valor ilegível] que quero se deem de esmol a a dois pobres no dia de
nhora assentada na cidade fluminense. Por isso, todos os demais dizeres de seu
meu falecimen to. Declaro que no casal há uma escrava chamada
Rosa de nação mi na a qual meu marido forrará com a obrigação de testamento expressam sua posição de esposa, de mãe, de sogra, de proprietária,
que, dando a quantia que ele declarar, será forra, e esta é a minha de irmã de i rmandade com direito à cova, e de boa cristã senhora de escravos.
última vontade. E desta sorte acabou a dita testadora seu testamento Nesse último aspecto, ao se pronunciar como tal, Joana da Fonseca asseve-
na forma como nele se declara. [Grifos meus] rou possuir cinco escravos, nomeando-os e realçando sua condição superior,
pois fazer-se senhora era também um ato de fala, de enu nciação. 73 Assim, se,
Joana da Fonseca ordenou rezar por sua alma o mesmo nú mero de missas
de um lado, ao criar u ma memória, mesmo não intencionalmente, sobre sua
que o de sua mãe que sequer conhecera, 40 para cada. Pagou vinte missas
própria manumissão em testamento, quando já era há muito tempo senhora
pela alma do ex-senhor, igualmente ao que fez por seu padrin ho. Com altivez,
de si e de escravos, ressal tou o ter pago por sua liberdade, mas, de outro, ao
realçou que dera dinhei ro para su a liberdade, mas, agradecida, lembrou-se
alforriar sua escrava, salientou que, mesmo qu e a cativa pagasse por si, o valor
que fora seu ex-senhor quem a criou e ensinou. Vai aí uma ambivalência não
e as condições eram estabelecidas por ela, senhora, qu e delegou au toridade ao
contraditória. Evocou uma espécie de direito à liberdade por ter pago ao se-
marido. Em suma, mais uma vez se atesta uma ambivalência não contraditó-
nhor o valor de si, isto é, sua liberdade por si mesma. Parece qu e a época dessa
ria, um antagonismo em equilíbrio,74 pois, ao se reportar à sua manumissão ,
autocompra da liberdade era bem remota, posto que ela viera da Bahia e se
Joana da Fonseca usou a palavra liberdade, mas ao l ivrar sua escrava da es-
casara no Rio de janeiro, para onde, decerto, fora atraída pelos bons ven tos
cravidão, el a apenas a deixou forra, mesmo que a cativa se pagasse. Trata-se,
soprados pelo ouro das minas. Casou, acumulou recursos econômicos, dotou
social e politicamente, de lugares de fala distintos em situações distintas da
e casou as filhas, fez-se irmã de irmandades, senhora de escravos, quase uma
self-mad e-woman . Mas apenas quase. Quando rem emorou sua alforria que ela

73 GUEDES. Senhoras pretas forros ..., op. cit., 2017.


72 Sobre joias como investimentos dos forros, vide: PAIVA. Escravidão e universo cvlturol..., op. 74 FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala: formação da familia brasileira sob o regime da econo-
cit., 2001; FAR IA. Sinhás pretos..., op. cit., 2004. mia pa triarcal. 25.ed. Rio de Jane i ro:José Olympio, 1987.

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