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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e

seus impactos nos programas educacionais federais

REFORMA DO ESTADO, POLÍTICAS ECONÔMICAS NEOLIBERAIS E SEUS


IMPACTOS NOS PROGRAMAS EDUCACIONAIS FEDERAIS
Reform of the State, neoliberal economic policies and their impacts on federal
educational programs
Revista de Direito Constitucional e Internacional | vol. 113/2019 | Maio - Jun / 2019
DTR\2019\27918

Adriana Duarte de Souza Carvalho da Silva


Doutora em Ciência Política. Pesquisadora de pós-doutorado da Universidade Estadual
Paulista. adriana.dsc@hotmail.com

Aparecida Dinalli
Doutora em Direito Político e Econômico. Pesquisadora da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul. dinalli.contato@gmail.com

Área do Direito: Constitucional


Resumo: Esta pesquisa tem como interesse avaliar as políticas educacionais brasileiras a
partir dos impactos que as políticas macroeconômicas neoliberais têm sobre elas,
considerando como, nas últimas décadas, o neoliberalismo têm se tornando hegemônico,
impactando inclusive a alocação de recursos para o sistema educacional brasileiro. Para
isso, foram obtidos dados junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,
que mostram o recuo nos investimentos em programa educacionais. Coroando esse
processo, temos a Emenda Constitucional 95/16, que instituiu um novo regime fiscal
para vigorar nos próximos 20 anos, valendo, portanto, até 2036, que implica na
diminuição de investimentos em educação. Dessa forma, ao final, será indicado como as
propostas de Reforma do Estado terão efeitos também sobre a educação.

Palavras-chave: Programas educacionais – Políticas macroeconômicas – Neoliberalismo


– Gasto público – Emenda Constitucional 95
Abstract: This research has as interest to evaluate Brazilian educational policies based
on the impacts that neoliberal macroeconomic policies have on them, considering how,
in the last decades, neoliberalism has become hegemonic, impacting even the allocation
of resources to the Brazilian educational system. For this, data were obtained from the
National Fund for Education Development, which show the decline in investments in
educational programs. To crown this process, we have the Constitutional Amendment
number 95, which instituted a new tax regime to be in force in the next twenty years,
and therefore, until 2036, which implies a decrease in investments in education. In this
way, in the end, will be indicated how the proposals for the State Reform will have
effects on education.

Keywords: Educational programs – Macroeconomic policies – Neoliberalism – Public


spending – Constitutional Amendment 95
Sumário:

I Introdução - II 1.As transferências constitucionais e legais automáticas no


financiamento da educação básica pública no Brasil - III 2.Avaliação das políticas
educacionais brasileiras: neoliberalismo e crise econômica. - IV 3.Reformas
estruturantes do estado e a Emenda Constitucional 95 do teto dos gastos públicos - V
Considerações finais - VI Referências bibliográficas

I Introdução

A década de 1990, especialmente com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho Estado


1
de Bresser-Pereira , inaugura estratégias neoliberais de se fazer políticas
macroeconômicas. O próprio texto do PDRAE já indicava que a adoção do neoliberalismo
traria consequências para a implementação de políticas públicas, o que não poderia ser
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seus impactos nos programas educacionais federais

diferente no que se refere a políticas educacionais, especialmente ao seu financiamento.

Atualmente o financiamento da educação básica brasileira depende, em grande parte, de


recursos da União, que são descentralizados para estados e municípios via transferências
constitucionais (FUNDEB) e transferências legais automáticas (Programa Nacional de
Alimentação Escolar Programa Dinheiro Direto na Escola, Programa de Apoio a Estados e
Municípios para a Educação Fundamental de Jovens e Adultos, entre outros). O objetivo
desse esquema de financiamento é garantir maior autonomia aos entes federativos,
conforme propõe a própria Constituição de 1988.

Contudo, o desenho institucional do financiamento da educação básica tornou todo o


sistema educacional brasileiro dependente das flutuações da economia, uma vez que os
cálculos para a transferência de recursos são feitos por meio de porcentagens definidas
sobre a arrecadação de impostos, o que, em momentos de crise econômica e, portanto,
de baixa arrecadação, significará que a educação necessariamente será subfinanciada.
Outro limite do desenho institucional do atual esquema de financiamento da educação
básica é dado especialmente pelo nosso modelo de federalismo, que privilegia os
municípios industrializados em detrimento dos municípios mais pobres e, dessa forma, já
que a capacidade tributária municipal é desigual, os serviços públicos de educação são
melhores financiados nos municípios mais ricos. Finalmente, com os avanços do
neoliberalismo, trazendo novos desenhos institucionais para a economia, especialmente
com a Emenda Constitucional do Teto dos Gastos Públicos, a educação acaba por ser
profundamente impactada.

Diante da problemática apresentada, esta pesquisa tem como objetivo, em primeiro


lugar, descrever e avaliar o esquema de financiamento da educação pública básica
brasileira via transferências legais automáticas, que define programas específicos. Em
segundo lugar, apresenta-se a proposta de conhecer e averiguar os recursos
descentralizados por meio desses programas e sua adequação à realidade empírica das
escolas. Nossa hipótese é a de que a crise econômica dos últimos anos, somada às
políticas neoliberais de ajuste fiscal, tenham diminuído os recursos decentralizados para
esses programas, causando efeitos negativos sobre o sistema de ensino básico.

Esta pesquisa será feita, em primeiro lugar, por meio de uma revisão legislativa e
documental sobre as bases do financiamento da educação pública no Brasil e, em
segundo lugar, por meio de dados obtidos sobre os recursos públicos pela Lei de Acesso
à Informação e junto ao endereço eletrônico do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE). Os dados referem-se aos valores anuais alocados para políticas
educacionais via transferência legal automática federal.

Este trabalho justifica-se pela lacuna na literatura especializada em compreender o


impacto das transferências automáticas para a educação. A literatura em políticas
públicas educacionais foca-se principalmente em estudar o FUNDEB (transferência
constitucional) e poucos estudos são publicados sobre as transferências legais
automáticas. Além disso, este estudo tem como perspectiva original avaliar os gastos
com políticas educacionais via programas, sustentados pelas transferências automáticas
e os valores recebidos. Finalmente, avaliar como o ajuste fiscal, cujo maior emblema é a
Emenda Constitucional do Teto dos Gastos Públicos, aponta perspectivas preocupantes
para as políticas educacionais.

O aporte teórico deste estudo é composto por doutrinadores em direito Constitucional e


Educacional, bem como a literatura neoinstitucionalista, que tem como fundamento
análise do desenho institucional das políticas públicas e seu impacto dos resultados da
sua aplicação.

II 1.As transferências constitucionais e legais automáticas no financiamento da educação


básica pública no Brasil

1 1.1.FUNDEB: transferência constitucional para Educação

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Souza mostra que a Constituição de 1988 é criadora de novas institucionalidades e,
entre elas, uma nova organização do federalismo brasileiro. Nesse contexto, conforme a
autora, são ampliadas as competências tributárias de estados e municípios,
possibilitando, em tese, maior capacidade de gestão de políticas públicas por parte dos
entes subnacionais. Para a autora, essa nova engenharia constitucional define novos
processos de governança local, que se efetiva em um sistema desigual e sem clareza de
ser ou não sustentável a longo prazo.

O federalismo brasileiro, inaugurado pela Constituição de 1988, traz implicações


importantes para a educação, especialmente ao definir competências e prerrogativas
para estados e municípios. Os §§ 2º e 3º do artigo 211 determinam as prerrogativas dos
entes federados por nível de ensino, conforme podemos verificar a seguir:

“Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime


de colaboração seus sistemas de ensino.

[...]

§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação


infantil.

§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e


médio.”

O texto constitucional também define os mínimos percentuais que necessariamente


devem ser aplicados por ente federativo, sendo 18% da União e 25% dos Estados e
municípios, conforme o artigo 212, caput.

Esse sistema educacional que surge constitucionalmente descentralizado, contudo, é


criado a partir das realidades regionais e locais desiguais e na prática se concretiza de
forma insuficiente justamente por causa delas, como veremos ao longo do texto. O
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais de Educação (FUNDEB) talvez seja a principal marca do federalismo
brasileiro em educação, que mostra que a União deixa para estados e municípios
enormes responsabilidades sobre a educação básica pública e faz repasses regulares de
recursos para que seja possível sua manutenção.
4
Souza explica que o federalismo brasileiro tem como base o princípio de que a
repartição de recursos federais acomodaria as desigualdades regionais – sendo o
FUNDEB um exemplo dessa lógica. Contudo, mostra a autora, o desenho institucional do
federalismo impacta sobre a distribuição de recursos orçamentários, o que, na prática,
produz disparidade regional.

O FUNDEB é uma transferência constitucional, que, conforme o Senado Federal (2012, p.


5
68) : “[...] correspondem às parcelas de recursos arrecadados pelo Governo Federal e
repassados aos municípios, conforme determinado na Constituição Federal
(LGL\1988\3)”. Assim, dessa forma, o FUNDEB tem base constitucional, conforme
podemos verificar a seguir no artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias:

“Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda
Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos
recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal (LGL\1988\3) à
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos
trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes disposições:

I – a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre o Distrito Federal, os Estados


e seus Municípios é assegurada mediante a criação, no âmbito de cada Estado e do
Distrito Federal, de um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, de natureza contábil.”
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O FUNDEB, tendo natureza contábil, implica que porcentagens específicas de impostos


voltem à população por meio de serviços públicos e universais de educação básica. Mas
também implica o reconhecimento de que a União é a maior fonte de receitas do País e
que, para manter a lógica do federalismo na gestão de serviços públicos educacionais, é
fundamental que esses recursos sejam repassados aos Estados, Distrito Federal e
municípios. Na tabela a seguir é possível verificar a estimativa de receita do FUNDEB de
2007 a 2019:

Tabela 1: Estimativas de receitas do FUNDEB de 2007 a 2019

Ano Total de receita estimada


2019 R$ 156.368.057,1
2018 R$ 149.257.686,9
2017 R$ 141.843.941,7
2016 R$ 136.937.461,4
2015 R$ 130.498.956,9
2014 R$ 117.263.015,7
2013 R$ 116.768.859,0
2012 R$ 102.602.115,1
2011 R$ 95.982.984,6
2010 R$ 83.095.667.618,5
2009 R$ 72.700.083,20
2008 R$ 61.944.570,2
2007 R$ 48.064.094,9

Fonte: FNDE, 2019

A tabela mostra um evidente crescimento dos recursos do FUNDEB, mas é notável como
o crescimento diminui proporcionalmente ao longo do tempo. Entre 2007 e 2008 o valor
do repasse foi de R$ 13.800.475,3 a mais, enquanto entre 2018 e 2019 o crescimento
foi de R$ 7.110.370,2. A tabela seguir também é muito significativa, porque mostra a
instabilidade dos recursos passados do FUNDEB para o Estado de São Paulo.

Tabela 2: Repasses do FUNDEB para São Paulo

Ano Repasse para o Estado de São Paulo via


FUNDEB
2010 R$ 12.145.830.040,10
2011 R$ 13.369.048.590,12
2012 R$ 14.149.713.132,44
2013 R$ 15.567.095.810,55
2014 R$ 15.479.324.285,23
2015 R$ 15.802.436.416,87
2016 R$ 15.593.878.083,67
2017 R$ 16.002.630.806,21

Fonte: Lei de Acesso à Informação, Secretaria Estadual de Educação de São Paulo


(2018)

Na tabela a seguir é possível acompanhar a instabilidade desses recursos:

Tabela 3 – Volume de repasses do FUNDEB para São Paulo

Anos Diferença entre repasses


2010 a 2011 O valor aumenta em R$ 1.223.218.550, 02
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2011 a 2012 O valor do repasse diminui R$ 7.806.645,42


2012 a 2013 O valor do repasse aumenta R$
1.417.382.678,11
2013 a 2014 O valor é negativo. São repassados R$
87.771.525,32 a menos
2014 a 2015 O valor aumenta um pouco, em R$
323.112.131,64
2015 a 2016 O valor volta a ser negativo. São
repassados R$ 208. 558.333,2 a menos
2016 a 2017 O valor volta a aumenta. São repassados
R$ 408.752.722,54

Fonte: própria autora, 2018.


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Tsebelis aponta que o federalismo fiscal é uma instituição importante e que merece ser
analisada do ponto de vista dos resultados decisórios, que são, em última instância, as
políticas públicas. Assim, o federalismo fiscal brasileiro tem efeitos imensos sobre as
políticas educacionais. Se os municípios devem investir 25% de sua arrecadação própria
com educação, então os municípios mais desenvolvidos terão mais investimentos que os
municípios menos desenvolvidos, o que envolve disponibilidade e desempenho dos
serviços públicos educacionais. Assim, há construção de um federalismo que produz
injustiça social.

O autor aponta como as políticas macroeconômicas também impactam nos resultados


das políticas públicas. Assim, as políticas neoliberais que foram adotadas nos últimos
anos, baseadas no crescimento com corte de gastos, não em investimentos, têm como
resultado o corte nos gastos com políticas educacionais.
7
Souza , ao estudar essa percepção em estados brasileiros, concluiu:

“O fator/constrangimento institucional considerado é o desenho do federalismo


brasileiro, em particular do federalismo fiscal, que construiu mecanismos insuficientes de
equalização fiscal entre estados e regiões. Uma das principais consequências dessa
característica é que os conflitos distributivos são sempre mais agudos. Ademais, com a
política federal de ajuste fiscal, passaram a existir menos recursos nacionais a serem
distribuídos para o amortecimento das tensões regionais.”

Com o arrefecimento das políticas macroeconômicas neoliberais, ampliam-se as


consequências nefastas do desenho do federalismo fiscal brasileiro, uma vez que são
diminuídos os volumes das transferências federais para as unidades subnacionais.

No tópico seguinte mostraremos como esse desenho institucional impacta


profundamente as transferências legais automáticas.

2 1.2.As transferências legais automáticas

O federalismo tem amplo impacto no financiamento da educação. Esse modelo de


federalismo, inaugurado pela Constituição de 1988, pauta-se pela descentralização de
repasses para as políticas públicas, o que demanda a transferência de recursos para os
municípios. Assim, as transferências legais automáticas são centrais para o
funcionamento do federalismo em educação no Brasil, considerando que elas são um dos
mais importantes instrumentos de descentralização de recursos para a educação
atualmente. Conforme o Senado Federal (2012, p. 68):

“As transferências automáticas consistem no repasse de recursos financeiros sem a


utilização de convênio, ajuste, acordo ou contrato, mediante o depósito em conta
corrente específica, aberta em nome do beneficiário. Essa forma de transferência é
empregada na descentralização de recursos em determinados programas da área de
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educação.”

As descentralizações feitas via transferências legais automáticas são sempre realizadas


por meio de programas específicos, criados por meio de leis. Temos, por exemplo, o
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE), ambos regulamentados pela Lei 11.947/2009 (LGL\2009\2062).

Os recursos financeiros que serão utilizados para as transferências legais automáticas


são consignados no orçamento federal e depois o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) faz o repasse para os Estados, Distrito Federal e Municípios.
8
Cruz mostra que as transferências legais automáticas se tornam necessárias justamente
pela capacidade desigual de arrecadação tributária dos Estados e municípios, o que
acaba por exigir da União uma função redistributiva, possibilitando recursos financeiros
supletivos para que a oferta de educação básica pública universal seja possível em todo
o Brasil. Sobre o tema, determina a CF/88 (LGL\1988\3):

“Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime


de colaboração seus sistemas de ensino

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as


instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais
e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”.

Neste tópico apresentaremos dados obtidos junto do Fundo de Desenvolvimento da


Educação (FNDE) e pela Lei de Acesso à Informação. Os dados selecionados referem-se
ao financiamento de ações relacionadas à educação infantil. A realidade do poder local é
bastante contraditória, porque tem ampla gama de desafios na gestão da educação
infantil, mas também é a unidade federação com menor aporte financeiro. Na tabela a
seguir podemos verificar o aumento no número de matrículas na educação infantil em
todo o Brasil.

Tabela 4: Dados do Censo Escolar da Educação Infantil

2010 6.792.095
2011 7.003.802
2012 7.341.164
2013 7.607.577
2014 7.869.869
2015 7.972.230
2016 8.279.479

Fonte: INEP (2018)

Contudo, o crescimento no número de matrículas não implica necessariamente a


ampliação dos recursos, conforme demonstram os dados que veremos a seguir.

Um exemplo importante de transferência legal automática é o Programa Brasil


Carinhoso. Conforme o FNDE (2019) o Programa Brasil Carinhoso (Lei 12.722/12
(LGL\2012\3640)) tem como foco a educação infantil pública e gratuita e garante
segurança alimentar e nutricional, além do acesso, permanência e cuidados integrais da
criança matriculada. Na tabela a seguir podemos verificar o pagamento do valor total
entre outubro 2014 e outubro de 2016 aos estados da federação, que posteriormente
farão os repasses aos municípios.

Tabela 5: Repasses do Programa Brasil Carinhoso


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Ano Valores repassados


Outubro/ 2014 R$ 765.646.699,04
2015 R$ 405.770.140,62
2016 R$ 545.755.258,49
2017 R$ 39.920.093,42
2018 R$ 79.906,58
Total R$ 6.123.583.986,57

Fonte: Dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, junto ao FNDE (2018).

Ao contrário dos recursos do FUNDEB, que é uma transferência constitucional e cujos


mínimos estão definidos na CF/88 (LGL\1988\3), não há mínimos obrigatórios para as
transferências legais automáticas. Conforme podemos verificar nos dados
supramencionados, os valores diminuem ao longo dos anos indicados. Do ponto de vista
do federalismo, isso implica que os municípios com menor arrecadação própria,
especialmente os municípios menos industrializados, são amplamente impactados pelos
repasses da União e que a diminuição desses valores certamente implicará na diminuição
no desempenho e na disponibilidade dos serviços públicos de educação.
10
Souza , ao analisar nosso modelo de federalismo, afirma: “[...] o Brasil adotou um
modelo de federalismo simétrico em uma federação assimétrica”. Isso implica que as
competências de cada unidade subnacional são as mesmas para cada uma delas, mas há
unidades mais pobres e outras mais ricas e há unidades que dependem mais da União
do que outras.

Outro programa central e de amplo impacto na educação infantil é o Proinfância, que


garante os serviços públicos de educação infantil por meio de ações de aprimoramento
da infraestrutura física das escolas. O dinheiro recebido por meio do programa também
permite a compra de mobiliário para as creches. A seguir é possível verificar dados sobre
o total de repasses da União para o programa entre 2010 a 2017.

Tabela 6: Financiamento do Proinfância

Ano Valores repassados


2010 R$ 533.653.636,86
2011 R$ 788.701.403,21
2012 R$ 1.477.638.581,68
2013 R$ 698.631.892,40
2014 R$ 929.174.550,71
2015 R$ 306.316.321,57
2016 R$ 415.584.555,93
2017 R$ 319.612.566,70

Fonte: Dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação (2018) junto ao FNDE.

É notável a instabilidade dos valores repassados ao longo dos anos, ora aumentando,
ora diminuindo. Novamente o modelo brasileiro de federalismo tornando mais difícil para
os municípios pobres uma continuidade no financiamento nas ações de educação infantil.
Notamos que quanto mais o município depende de repasses da União por meio de
transferências legais automáticas mais ele fica vulnerável, dada a instabilidade dos
repasses.
11
Souza enfatiza alguns problemas inerentes ao federalismo brasileiro:

“Desde a promulgação da Constituição de 1988, outorgar o rótulo de centralizado ou


descentralizado ao federalismo brasileiro parece não dar conta da sua atual
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complexidade. A federação tem sido marcada por políticas públicas federais que se
impõem às instâncias subnacionais, mas que são aprovadas pelo Congresso Nacional e
por limitações na capacidade de legislar sobre políticas próprias – esta última também
constrangida por decisões do poder Judiciário. Além do mais, poucas competências
constitucionais exclusivas são alocadas aos estados e municípios [...]”

Soma-se aos problemas levantados por Souza a ampla gama de competências atribuídas
aos municípios na área educacional e a desigualdade na capacidade dos mesmos em
cumpri-las. A Constituição Federal (LGL\1988\3), em seu artigo 211, determina que os
entes federativos devem trabalhar em regime de colaboração no que se refere aos
serviços educacionais. Contudo, Souza (2005) menciona que a ideia de um federalismo
cooperativo no Brasil efetivamente não se concretizou, já que os municípios têm
capacidade desigual de implantar suas próprias políticas públicas, o que torna o
federalismo enquanto instituição um espaço de competição por recursos públicos, não de
cooperação entre os entes subnacionais.

Outro importante programa de apoio para a educação infantil municipal é o Programa de


Apoio a Novos Estabelecimentos de Educação Infantil, criado em 2011. O objetivo do
programa, segundo o FNDE (2018) é financiar os municípios e o DF com matrículas que
ainda não tenham sido incluídas no Censo Escolar do ano anterior.

Tabela 7 Educação Infantil – Novos Estabelecimentos – Manutenção da Educação


Infantil.

2012 R$ 39.677.295,41
2013 R$ 20.789.650,39
2014 R$ 43.176.168,84
2015 R$ 13.516.218,76
2016 R$ 33.584.013,43
2017 R$ 61.979.629,77
2018 R$ 31.112.368,47

Fonte: FNDE (2018)

No caso desse programa podemos verificar enorme instabilidade de recursos, que


também marca o Programa Caminho da Escola, financiado pelo BNDS:

Tabela 8: Financiamento do BNDS ao Programa Caminho da Escola

Ano Municípios Ônibus Valor


2010 135 747 R$ 133.139.350,00
2011 83 316 R$ 56.363.640,00
2012 70 450 R$ 74.032.140,00
2013 6 31 R$ 6.619.000,00
2014 39 295 R$ 63.311.010,00
2015 11 61 R$ 13.690.400,00
2016 - -
2017 - -

Fonte: Lei de Acesso à Informação, junto ao FNDE (2018)

Finalmente, temos o Programa Dinheiro Direto na Escola, que afeta não só a educação
infantil, como toda a rede pública de educação. Na tabela a seguir podemos verificar o
repasse de recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola. Inicialmente podemos
verificar, entre 2010 e 2013, um crescimento nos repasses, que, embora diminuiu em
2013, mostra aumento considerável. Há, em 2014, ampla diminuição do valor, que
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coincide com o início da crise econômica no Brasil. Contudo, o repasse mais que dobra
em 2015. O valor diminui novamente em 2016, para crescer em 2017 e cair novamente
em 2018.

Tabela 9 – Financiamento do Programa Dinheiro Direto na Escola

PDDE Valor
2010 R$ 697.039.550,51
2011 R$ 737.782.104,74
2012 R$ 850.523.285,15
2013 R$ 905.106.974,30
2014 R$ 437.535.685,75
2015 R$ 1.162.893.275,06
2016 R$ 763.270.919,86
2017 R$ 928.051.500,00
2018 R$ 901.509.340,46

Fonte: FNDE (2019)

O PDDE, conforme dados do FNDE (2019), tem caráter de suplementação financeira,


visando aumento do desempenho escolar. O programa engloba várias ações, que vão
desde a alfabetização até a integralização do horário escolar.

III 2.Avaliação das políticas educacionais brasileiras: neoliberalismo e crise econômica.

As políticas sociais educacionais são o resultado do desenho institucional brasileiro e são


reflexo das desigualdades regionais, do federalismo fiscal e das políticas econômicas. De
fato, a adoção de políticas econômicas de caráter neoliberal nos últimos anos impactou
na gestão dos serviços públicos educacionais, especialmente seu financiamento, pois
modifica a forma como de relacionamento entre Estado, mercado e sociedade.
12
Leme enfatiza que a característica geral das políticas econômicas neoliberais é o livre
mercado e, ao contrário do Welfare State, o corte de custos e o ajuste fiscal. Para a
sociedade, isso implica corte de custos com serviços sociais e a responsabilização do
indivíduo na busca no mercado daquilo que o Estado não mais oferece. Esse é o
Estado-mínimo, com amplo protagonismo do mercado.
13
O PDRAE de Bresser-Pereira (1995), que teve enormes impactos na adoção do
neoliberalismo no Brasil, prega o ajuste fiscal, a liberalização comercial, a privatização
de estatais e a redução do papel do Estado nos serviços não exclusivos deste. No
contexto dessa proposta, o Estado não é mais o protagonista no desenvolvimento
econômico e social do país, ficando então de responsabilidade do mercado e da própria
sociedade. O que fundamenta o plano de Bresser-Pereira é a necessidade de superar a
crise brasileira, que possa fazer superar as desigualdades sociais econômicas e criar um
14
padrão de desenvolvimento. No que se refere à educação, o PDRAE de Bresser-Pereira
(1995, p. 13) determina:

“Deste modo o Estado reduz seu papel de executor ou prestador direto de serviços,
mantendo-se entretanto no papel de regulador e provedor ou promotor destes,
principalmente dos serviços sociais como educação e saúde, que são essenciais para o
desenvolvimento, na medida em que envolvem investimento em capital humano; para a
democracia, na medida em que promovem cidadãos; e para uma distribuição de renda
mais justa, que o mercado é incapaz de garantir, dada a oferta muito superior à
demanda de mão-de-obra não-especializada. Como promotor desses serviços o Estado
continuará a subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a
participação da sociedade”.

Contudo, quando verificamos os dados supramencionados que revelam instabilidade ou


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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais

até mesmo diminuição de gastos com educação, podemos notar os impactos do ajuste
fiscal nas políticas educacionais.

Essa lógica, contudo, entra em contradição com o fato de que a educação é pública e
gratuita e que, conforme a Constituição, é um direito que demanda prestações positivas
dos governos. Assim, dentro da lógica constitucional não é possível abandonar a
educação e deixá-la completamente nas mãos do mercado. Dessa forma, o que as
políticas neoliberais implicam é que os serviços educacionais acabam recebendo menos
recursos públicos.

O neoliberalismo, somado à enorme crise econômica que assola o Brasil desde 2014,
teve impactos, por exemplo, nos valores do salário-educação, conforme podemos
verificar na tabela a seguir:

Tabela 10: Arrecadação bruta do salário-educação, de 2010 a maio de 2018

Ano Total arrecadação bruta


2010 R$ 11.160.251.200,57
2011 R$ 13.250.657.913
2012 R$ 14.924.042.524
2013 R$ 16.731.100.003
2014 R$ 18.487.200.515
2015 R$ 19.279.153.887
2016 R$ 19.715919.749
2017 R$ 12.069.801.530
Até maio de 2018 R$ 9.347.728.441

Fonte: FNDE (2018)


15
Segundo Cortes o salário educação é: “Contribuição patronal criada com a finalidade
de suplementar os recursos públicos destinados à manutenção e ao desenvolvimento do
ensino, se constituindo numa fonte adicional ao ensino fundamental público. O objetivo
quando da sua criação era o de eliminar o analfabetismo no país.”

O salário-educação depende da oferta de empregos, já que é pago sobre a folha de


pagamento. Assim, se diminuem os empregos e as políticas sociais de emprego e renda,
consequentemente ocorre a diminuição nesses repasses.

Na tabela a seguir podemos ver o crescimento/diminuição nos valores do


salário-educação:

Tabela 11: Evolução dos valores do Salário-Educação (2010-2018)

Ano Total arrecadação bruta


2010 R$ 11.160.251.200,57
2011 aumento de R$ 2.090.406.712,43
2012 aumento de R$ 1.673.384.611
2013 aumento de R$ 1.807.057.479
2014 aumento de R$ 1.747.100.521
2015 aumento de R$ 791.953.372
2016 aumento de R$ 436.765.862
2017 diminuição de R$ 7.646.118.219
Até maio de 2018 9.347.728.441

Fonte: Elaborado pelas autoras (2019)

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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais

A tabela mostra o aumento dos valores, excetuando 2017, contudo, o crescimento dos
valores ao longo do tempo é muito inferior ao crescimento de 2011.

IV 3.Reformas estruturantes do estado e a Emenda Constitucional 95 do teto dos gastos


públicos

A Constituição Cidadã de 1988, que completou 30 anos de sua promulgação em 2018,


estabeleceu em normas constitucionais seus fundamentos (Art. 1º) e seus objetivos (Art.
16
3º) um projeto constituinte de um Estado de Bem-Estar Social
17
Em outubro de 2018 pela vontade geral da maioria passamos a ter, a partir de janeiro
de 2019, um novo governo e uma nova proposta de economia.

Essa nova proposta de economia tem como base a realização de reformas estruturantes
do Estado, como a da Previdência, a Tributária e Fiscal e as Privatizações baseadas no
liberalismo econômico, fixando o limite dos investimentos públicos, coroando o princípio
18
friedmaniano fundante da Escola conservadora de Chicago.

A fixação do teto para os gastos públicos federais, objeto das PEC 241/55, foi aprovada
em 16 de dezembro de 2016, estruturando-se na Emenda Constitucional 95, que
instituiu um novo regime fiscal para vigorar nos próximos 20 anos, valendo, portanto,
até 2036.

No art. 102 do ADCT (LGL\1988\31) será fixado, para cada exercício, um limite
19
individualizado para a despesa primária total do Poder Executivo, do Poder Judiciário,
do Poder Legislativo, do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público da União e da
Defensoria Pública da União, cabendo a cada um deles a responsabilidade pelo
estabelecimento do seu limite.

Na Mensagem ao Congresso Nacional, em 2019, na 1ª Sessão Legislativa Ordinária da


56ª Legislatura – Brasília: Presidência da República, 2019 – (Documentos da Presidência
da República) foi apresentado aos Deputados Federais (513) e aos Senadores da
República (81) as Reformas Econômicas segundo o Liberalismo Econômico da Escola de
Chicago.
20
Na análise do Panorama Econômico apresentado na Mensagem destacamos que:

“O Brasil precisa reforçar o enfrentamento das fragilidades estruturais que até agora
impediram o País de atingir seu pleno potencial econômico e social. Isso requer a
implementação de um conjunto muito ambicioso de reformas, que representa a maior
reformulação da governança econômica do Brasil em décadas”

Para garantir a sustentabilidade das contas públicas, condição necessária para a


estabilidade macroeconômica e o crescimento destaca na mensagem:

“No plano macroeconômico, a consolidação fiscal é o grande desafio; assim, torna-se


primordial a aprovação das reformas da Previdência, da Administração Pública, Tributária
21
e Microeconômica”

Na análise da Escola de Chicago, o tratamento do problema fiscal é “implementar política


pública na qual os gastos públicos caem como proporção do PIB e a percepção de risco
22
relativa à dívida pública diminua”.

A justificativa para as Reformas Econômicas Estruturantes está na abertura de espaço


para o investimento privado em detrimento do setor público.

O Brasil passará por Reformas com o objetivo de aumentar as taxas de crescimento da


produtividade objetivando um crescimento elevado e sustentável.

A reforma da Previdência é fundamental para que se estabilizem definitivamente as


contas públicas do País. A reforma do sistema de seguridade social é necessária para
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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais

garantir o financiamento futuro e a continuação do pagamento de benefícios aos


aposentados atuais.

“O pagamento dos benefícios da Previdência Social tem sido o principal fator responsável
pelo aumento do gasto público total no Brasil nos últimos 20 anos. Entre 1997 e 2017, o
total de despesas não financeiras do Governo Central aumentou de 14% para 19,5% do
PIB – um aumento de 5,5 pontos percentuais. O aumento dos benefícios previdenciários
23
representa 3,6 pontos percentuais desse total.”

A Reforma Tributária e Fiscal na mensagem enviada ao Congresso Nacional estabelece:

“O sistema tributário brasileiro apresenta dois problemas principais que impedem que
uma economia emergente funcione bem. Primeiro, a carga tributária total é muito alta e
chega a 33% do PIB. Isso está acima da média de outras economias emergentes e muito
acima da média da América Latina (cerca de 20% do PIB). Em segundo lugar, o sistema
tributário é extremamente complexo, o que gera custos significativos, em termos de
tempo e recursos em geral, tanto para as empresas cumprirem as exigências fiscais
quanto para as autoridades fiscais verificarem a conformidade. A complexidade do
sistema também cria muitos pontos contenciosos que dão origem a litígios fiscais e,
24
portanto, à incerteza em relação às receitas fiscais.”

O governo deve realizar como parte das Reformas Estruturantes um amplo programa de
privatizações e concessões em todas as áreas relacionadas à infraestrutura.

“À medida que a quantidade e a qualidade da infraestrutura aumentem, haverá impacto


sobre a produtividade, com reflexos positivos sobre a performance de médio e longo
25
prazo da economia.”

1 3.1.Novo regime fiscal

O Novo Regime Fiscal (NRF) introduzido pela Emenda Constitucional 95 de 15 de


dezembro de 2016 (LGL\2016\87870) é relevante e fundamental para as Reformas
Estruturantes propostas pelo Governo na Mensagem enviada ao Congresso Nacional na
abertura da 1ª Sessão Legislativa Ordinária desta 56ª Legislatura.

Esse regime, também chamado de “teto de gastos”, estabeleceu limite para a despesa
primária federal.

“O limite estabelecido pelo NRF, contudo, não será suficiente para a realização do ajuste
fiscal necessário. Ele requer reformas que permitam o controle da despesa obrigatória. A
existência do teto sinaliza a disposição e a intenção do Governo em manter disciplina
fiscal de longo prazo, o que ajuda na convergência das expectativas para um nível mais
baixo de dívida no futuro, sua sustentabilidade e solvência, com reflexo no custo da
26
dívida já no presente” (p. 26)

A Emenda Constitucional 95 altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,


para instituir o Novo Regime Fiscal.

“Art. 1º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido dos
seguintes arts. 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113 e 114: [...].”

“Art. 106. Fica instituído o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros, nos termos
dos arts. 107 a 114 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.”

Vários documentos da Organização das Nações Unidas consagram o direito ao


desenvolvimento como um direito fundamental dos povos: o art. 55 da Carta da ONU, o
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (16 de dezembro de
1996), a Declaração sobre o Progresso e o Desenvolvimento no Domínio Social (11 de
dezembro de 1969), a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento (aprovada pela
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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais

Assembleia Geral em 1986) e o Programa de Ação aprovado em Viena em 1993, na


Conferência das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, em que se proclamou que o
direito ao desenvolvimento é “um direito humano universal e inalienável e um a parte
integrante dos direitos fundamentais”.

No Brasil, um dos objetivos da EC 95/2016 (LGL\2016\87870) é reforçar, com o limite


dos investimentos públicos, o sistema de saúde privado.

Analisando o sistema adotado na União Europeia e o do Brasil identificamos como


principais obstáculos à efetividade e à universalidade do SUS brasileiro a concorrência
dos planos privados de saúde e os subsídios generosos que eles recebem do próprio
27
Estado, e não propriamente por motivos ligados à gestão do sistema.

A economia global de hoje é a economia do conhecimento e o pouco investimento nos


serviços públicos educacionais, como ocorre no Brasil, são grande entrave para o
desenvolvimento.

O maior problema da educação no Brasil está na gestão corrupta dos recursos públicos.

Um Estado no qual o professor é questionado no exercício da sua função docente não


pelo que deixou de ensinar e pela qualidade do que deveria ensinar, deve rever critérios
e investir mais na capacitação profissional e na gestão educacional.

A Educação é um Direito Humano Fundamental do cidadão brasileiro assegurado pela


Constituição Federal de 1988.

Os Direitos Humanos não são um dado pronto e estático, mas um processo permanente
28
de reconstrução, no dizer de Arendt . A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter
direitos, conforme afirma também Arendt.

EC 95/2016 (LGL\2016\87870) pretende alcançar um equilíbrio fiscal pelo lado do corte


do gasto, e não pelo investimento, razão pela qual entendemos que a Reforma da
Previdência é a mais necessária e urgente para o equilíbrio das contas públicas.
29
Stiglitz, que analisa como o nível de vida da sociedade norte-americana, desassistida
de um sistema público e universal de saúde, como pretendia o ex-Presidente Barack
Obama com o Obama Care e que foi revogada pelo atual Presidente Donald Trump, sofre
com o peso da desigualdade em um Direito Fundamental.

O Novo Regime Fiscal e a EC 95 do Teto dos Gastos Públicos são convergentes, visto que
as Reformas Estruturantes são necessárias, com destaque para a da Previdência, e
precisam de suporte constitucional para a sua implementação dentro do amplo debate
no Congresso Nacional, como estabelece o Estado Democrático de Direito.

O Brasil de 2019 é o paciente com uma virose letal – a corrupção.

A dosagem do antibiótico precisa matar a virose e não o paciente.

V Considerações finais

Esse artigo quis mostrar que as instituições importam efetivamente no resultado dos
programas governamentais. No Brasil, a junção do federalismo fiscal, do corte de gastos
públicos e a adoção de políticas macroeconômicas liberais impactam os programas
educacionais à medida que diminuem seu financiamento. Do ponto de vista social,
contudo, a diminuição das transferências federais para a educação pode implicar em
diminuição do número de vagas, a perda de qualidade dos serviços educacionais, a
limitação de compras de insumos pedagógicos, entre outros. Já do ponto de vista
econômico, pode ser entrave para o desenvolvimento. Finalmente, na esfera política,
enorme descontentamento da população.

Reformas estruturantes no Brasil são mais que necessárias para que a economia volte a
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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais

crescer e para que o mercado volte a empregar. Dessa forma, é necessário que a
educação seja prioritária e que investimentos públicos no sistema de ensino voltem a
crescer, porque não há como pensar em desenvolvimento econômico descolado da
qualidade da educação.

Os dados dos anos referentes de 2010 a 2018 mostram a consolidação do processo de


adoção do neoliberalismo como política macroeconômica no Brasil. Agora, com o
acirramento do processo neoliberal e com a ênfase do livre mercado, espera-se que os
investimentos públicos em educação se renovem, já que devem ser eixo central na
Reforma do Estado.

A Constituição de 1988, diferentemente das sete constituições anteriores, começa com o


homem. O homem é seu fim e sua esperança. É a Constituição cidadã.

Neste artigo demonstramos que queremos um Brasil sem corrupção, na qual a vontade
política dos governantes seja a realização de reformas, como a da Previdência, em que a
tributação seja maior para os que ganham mais e proporcionalmente menor para os que
ganham menos.

As reformas provocam mudanças que devem transformar a vida do cidadão com mais
segurança pública, menos criminalidade, saúde e educação de qualidade em um Estado
onde, como afirmou Rui Barbosa, o homem honesto não sinta vergonha de ser honesto.

VI Referências bibliográficas

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1 BRESSER-PEREIRA, Luís Carlos. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado.


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2 SOUZA, Celina. Governos locais e gestão de políticas sociais universais. São Paulo
Perspec., São Paulo, v. 18, n. 2, p. 27-41, jun. 2004. Disponível em
[www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200004&lng=pt&nrm=iso].
Acesso em: 04.02.2019.

3 O conceito de novas institucionalidades, conforme a literatura neoinstitucionalista,


refere-se à criação de novas regras para o jogo político.

4 SOUZA, Celina. Federalismo e conflitos distributivos: disputa dos estados por recursos
orçamentários federais. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 2, p. 345-384, 2003. Disponível
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Acesso em: 28.01.2019.

5 SENADO FEDERAL. Manual de Obtenção de Recursos Federais para os Municípios.


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Acesso em: 09.11.2018.

6 TSEBELIS, George. Atores com poder de veto: como funcionam as instituições


políticas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p. 351.

7 SOUZA, Celina. Federalismo e conflitos distributivos: disputa dos estados por recursos
orçamentários federais. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 2, p. 345-384, 2003. Disponível
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Acesso em: 28.01.2019.

8 CRUZ, R.E. da. Os recursos federais para o financiamento da educação básica.


Fineduca – Revista de Financiamento da Educação, Porto Alegre, v. 2, n. 7, 2012.
Disponível em: [http://seer.ufrgs.br/fineduca/article/view/51383/31837]. Acesso em:
20.08.2018.

9 Mês do início do exercício do Programa Brasil Carinhoso, conforme Portaria


Interministerial 2, de 16 de setembro de 2014.

10 SOUZA, Celina. Federalismo, desenho constitucional e instituições federativas no


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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais

Brasil pós-1988. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, n. 24, p. 105-121, jun. 2005. Disponível
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Acesso em: 21.01.2019.

11 Idem.

12 LEME, Alessandro André. Neoliberalismo, globalização e reformas do estado:


reflexões acerca da temática. Barbaroi, Santa Cruz do Sul, n. 32, p. 114-138, jun. 2010.
Disponível em:
[http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-65782010000100008&lng=pt&nrm
Acesso em: 04.01.2019.

13 Idem

14 Idem.

15 CORTES, Bianca Antunes. Financiamento na Educação: Salário-Educação e suas


dimensões privatizantes. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 5, n. 4, p. 408-423, Dec.
1989. Disponível em:
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Acesso em: 11.02.2019.

16 KERSTENETZKY, Celia Lessa. O Estado do bem estar social na Idade da Razão: a


reinvenção do Estado social no mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

17 SANTOS, Wanderley Guilherme dos. O paradoxo de Rousseau: uma interpretação


democrática da vontade geral. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

18 FRIEDMAN, Milton; FRIEDMAN, Rose. Liberdade para escolher. Trad. Ana Maria
Sampaio et all. 2. ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1980.

19 Corresponde ao montante da despesa total antes do pagamento dos juros da dívida.

20 BRASIL. Mensagem ao Congresso Nacional, 2019 [recurso eletrônico]: 1ª Sessão


Legislativa Ordinária da 56ª Legislatura. Brasília: Presidência da República, 2019.
(Documentos da Presidência da República). Disponível em:
[www.congressonacional.leg.br/documents/59501/0/Mensagem+2019/037a1fba-624d-4404-9866-f5535
Acesso em: 21.02.2019.

21 Idem.

22 Idem.

23 Idem.

24 Idem.

25 Idem

26 Disponível em:
[www.casacivil.gov.br/central-de-conteudos/downloads/mensagem-aocongresso-2019/@@download/file

27 OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único. Rio de Janeiro: Fiocruz,
2012.

28 ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia de Bolsa, 2012.

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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais

29 STIGLITZ, Joseph. O preço da desigualdade. Trad. Dinis Pires. Lisboa: Bertrand,


2014.

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