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Aparecida Dinalli
Doutora em Direito Político e Econômico. Pesquisadora da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul. dinalli.contato@gmail.com
I Introdução
Esta pesquisa será feita, em primeiro lugar, por meio de uma revisão legislativa e
documental sobre as bases do financiamento da educação pública no Brasil e, em
segundo lugar, por meio de dados obtidos sobre os recursos públicos pela Lei de Acesso
à Informação e junto ao endereço eletrônico do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE). Os dados referem-se aos valores anuais alocados para políticas
educacionais via transferência legal automática federal.
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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais
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Souza mostra que a Constituição de 1988 é criadora de novas institucionalidades e,
entre elas, uma nova organização do federalismo brasileiro. Nesse contexto, conforme a
autora, são ampliadas as competências tributárias de estados e municípios,
possibilitando, em tese, maior capacidade de gestão de políticas públicas por parte dos
entes subnacionais. Para a autora, essa nova engenharia constitucional define novos
processos de governança local, que se efetiva em um sistema desigual e sem clareza de
ser ou não sustentável a longo prazo.
[...]
“Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda
Constitucional, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos
recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal (LGL\1988\3) à
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos
trabalhadores da educação, respeitadas as seguintes disposições:
A tabela mostra um evidente crescimento dos recursos do FUNDEB, mas é notável como
o crescimento diminui proporcionalmente ao longo do tempo. Entre 2007 e 2008 o valor
do repasse foi de R$ 13.800.475,3 a mais, enquanto entre 2018 e 2019 o crescimento
foi de R$ 7.110.370,2. A tabela seguir também é muito significativa, porque mostra a
instabilidade dos recursos passados do FUNDEB para o Estado de São Paulo.
educação.”
2010 6.792.095
2011 7.003.802
2012 7.341.164
2013 7.607.577
2014 7.869.869
2015 7.972.230
2016 8.279.479
Fonte: Dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, junto ao FNDE (2018).
Fonte: Dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação (2018) junto ao FNDE.
É notável a instabilidade dos valores repassados ao longo dos anos, ora aumentando,
ora diminuindo. Novamente o modelo brasileiro de federalismo tornando mais difícil para
os municípios pobres uma continuidade no financiamento nas ações de educação infantil.
Notamos que quanto mais o município depende de repasses da União por meio de
transferências legais automáticas mais ele fica vulnerável, dada a instabilidade dos
repasses.
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Souza enfatiza alguns problemas inerentes ao federalismo brasileiro:
complexidade. A federação tem sido marcada por políticas públicas federais que se
impõem às instâncias subnacionais, mas que são aprovadas pelo Congresso Nacional e
por limitações na capacidade de legislar sobre políticas próprias – esta última também
constrangida por decisões do poder Judiciário. Além do mais, poucas competências
constitucionais exclusivas são alocadas aos estados e municípios [...]”
Soma-se aos problemas levantados por Souza a ampla gama de competências atribuídas
aos municípios na área educacional e a desigualdade na capacidade dos mesmos em
cumpri-las. A Constituição Federal (LGL\1988\3), em seu artigo 211, determina que os
entes federativos devem trabalhar em regime de colaboração no que se refere aos
serviços educacionais. Contudo, Souza (2005) menciona que a ideia de um federalismo
cooperativo no Brasil efetivamente não se concretizou, já que os municípios têm
capacidade desigual de implantar suas próprias políticas públicas, o que torna o
federalismo enquanto instituição um espaço de competição por recursos públicos, não de
cooperação entre os entes subnacionais.
2012 R$ 39.677.295,41
2013 R$ 20.789.650,39
2014 R$ 43.176.168,84
2015 R$ 13.516.218,76
2016 R$ 33.584.013,43
2017 R$ 61.979.629,77
2018 R$ 31.112.368,47
Finalmente, temos o Programa Dinheiro Direto na Escola, que afeta não só a educação
infantil, como toda a rede pública de educação. Na tabela a seguir podemos verificar o
repasse de recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola. Inicialmente podemos
verificar, entre 2010 e 2013, um crescimento nos repasses, que, embora diminuiu em
2013, mostra aumento considerável. Há, em 2014, ampla diminuição do valor, que
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seus impactos nos programas educacionais federais
coincide com o início da crise econômica no Brasil. Contudo, o repasse mais que dobra
em 2015. O valor diminui novamente em 2016, para crescer em 2017 e cair novamente
em 2018.
PDDE Valor
2010 R$ 697.039.550,51
2011 R$ 737.782.104,74
2012 R$ 850.523.285,15
2013 R$ 905.106.974,30
2014 R$ 437.535.685,75
2015 R$ 1.162.893.275,06
2016 R$ 763.270.919,86
2017 R$ 928.051.500,00
2018 R$ 901.509.340,46
“Deste modo o Estado reduz seu papel de executor ou prestador direto de serviços,
mantendo-se entretanto no papel de regulador e provedor ou promotor destes,
principalmente dos serviços sociais como educação e saúde, que são essenciais para o
desenvolvimento, na medida em que envolvem investimento em capital humano; para a
democracia, na medida em que promovem cidadãos; e para uma distribuição de renda
mais justa, que o mercado é incapaz de garantir, dada a oferta muito superior à
demanda de mão-de-obra não-especializada. Como promotor desses serviços o Estado
continuará a subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a
participação da sociedade”.
até mesmo diminuição de gastos com educação, podemos notar os impactos do ajuste
fiscal nas políticas educacionais.
Essa lógica, contudo, entra em contradição com o fato de que a educação é pública e
gratuita e que, conforme a Constituição, é um direito que demanda prestações positivas
dos governos. Assim, dentro da lógica constitucional não é possível abandonar a
educação e deixá-la completamente nas mãos do mercado. Dessa forma, o que as
políticas neoliberais implicam é que os serviços educacionais acabam recebendo menos
recursos públicos.
O neoliberalismo, somado à enorme crise econômica que assola o Brasil desde 2014,
teve impactos, por exemplo, nos valores do salário-educação, conforme podemos
verificar na tabela a seguir:
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Reforma do Estado, políticas econômicas neoliberais e
seus impactos nos programas educacionais federais
A tabela mostra o aumento dos valores, excetuando 2017, contudo, o crescimento dos
valores ao longo do tempo é muito inferior ao crescimento de 2011.
Essa nova proposta de economia tem como base a realização de reformas estruturantes
do Estado, como a da Previdência, a Tributária e Fiscal e as Privatizações baseadas no
liberalismo econômico, fixando o limite dos investimentos públicos, coroando o princípio
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friedmaniano fundante da Escola conservadora de Chicago.
A fixação do teto para os gastos públicos federais, objeto das PEC 241/55, foi aprovada
em 16 de dezembro de 2016, estruturando-se na Emenda Constitucional 95, que
instituiu um novo regime fiscal para vigorar nos próximos 20 anos, valendo, portanto,
até 2036.
No art. 102 do ADCT (LGL\1988\31) será fixado, para cada exercício, um limite
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individualizado para a despesa primária total do Poder Executivo, do Poder Judiciário,
do Poder Legislativo, do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público da União e da
Defensoria Pública da União, cabendo a cada um deles a responsabilidade pelo
estabelecimento do seu limite.
“O Brasil precisa reforçar o enfrentamento das fragilidades estruturais que até agora
impediram o País de atingir seu pleno potencial econômico e social. Isso requer a
implementação de um conjunto muito ambicioso de reformas, que representa a maior
reformulação da governança econômica do Brasil em décadas”
“O pagamento dos benefícios da Previdência Social tem sido o principal fator responsável
pelo aumento do gasto público total no Brasil nos últimos 20 anos. Entre 1997 e 2017, o
total de despesas não financeiras do Governo Central aumentou de 14% para 19,5% do
PIB – um aumento de 5,5 pontos percentuais. O aumento dos benefícios previdenciários
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representa 3,6 pontos percentuais desse total.”
“O sistema tributário brasileiro apresenta dois problemas principais que impedem que
uma economia emergente funcione bem. Primeiro, a carga tributária total é muito alta e
chega a 33% do PIB. Isso está acima da média de outras economias emergentes e muito
acima da média da América Latina (cerca de 20% do PIB). Em segundo lugar, o sistema
tributário é extremamente complexo, o que gera custos significativos, em termos de
tempo e recursos em geral, tanto para as empresas cumprirem as exigências fiscais
quanto para as autoridades fiscais verificarem a conformidade. A complexidade do
sistema também cria muitos pontos contenciosos que dão origem a litígios fiscais e,
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portanto, à incerteza em relação às receitas fiscais.”
O governo deve realizar como parte das Reformas Estruturantes um amplo programa de
privatizações e concessões em todas as áreas relacionadas à infraestrutura.
Esse regime, também chamado de “teto de gastos”, estabeleceu limite para a despesa
primária federal.
“O limite estabelecido pelo NRF, contudo, não será suficiente para a realização do ajuste
fiscal necessário. Ele requer reformas que permitam o controle da despesa obrigatória. A
existência do teto sinaliza a disposição e a intenção do Governo em manter disciplina
fiscal de longo prazo, o que ajuda na convergência das expectativas para um nível mais
baixo de dívida no futuro, sua sustentabilidade e solvência, com reflexo no custo da
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dívida já no presente” (p. 26)
“Art. 1º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a vigorar acrescido dos
seguintes arts. 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113 e 114: [...].”
“Art. 106. Fica instituído o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros, nos termos
dos arts. 107 a 114 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.”
O maior problema da educação no Brasil está na gestão corrupta dos recursos públicos.
Os Direitos Humanos não são um dado pronto e estático, mas um processo permanente
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de reconstrução, no dizer de Arendt . A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter
direitos, conforme afirma também Arendt.
O Novo Regime Fiscal e a EC 95 do Teto dos Gastos Públicos são convergentes, visto que
as Reformas Estruturantes são necessárias, com destaque para a da Previdência, e
precisam de suporte constitucional para a sua implementação dentro do amplo debate
no Congresso Nacional, como estabelece o Estado Democrático de Direito.
V Considerações finais
Esse artigo quis mostrar que as instituições importam efetivamente no resultado dos
programas governamentais. No Brasil, a junção do federalismo fiscal, do corte de gastos
públicos e a adoção de políticas macroeconômicas liberais impactam os programas
educacionais à medida que diminuem seu financiamento. Do ponto de vista social,
contudo, a diminuição das transferências federais para a educação pode implicar em
diminuição do número de vagas, a perda de qualidade dos serviços educacionais, a
limitação de compras de insumos pedagógicos, entre outros. Já do ponto de vista
econômico, pode ser entrave para o desenvolvimento. Finalmente, na esfera política,
enorme descontentamento da população.
Reformas estruturantes no Brasil são mais que necessárias para que a economia volte a
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seus impactos nos programas educacionais federais
crescer e para que o mercado volte a empregar. Dessa forma, é necessário que a
educação seja prioritária e que investimentos públicos no sistema de ensino voltem a
crescer, porque não há como pensar em desenvolvimento econômico descolado da
qualidade da educação.
Neste artigo demonstramos que queremos um Brasil sem corrupção, na qual a vontade
política dos governantes seja a realização de reformas, como a da Previdência, em que a
tributação seja maior para os que ganham mais e proporcionalmente menor para os que
ganham menos.
As reformas provocam mudanças que devem transformar a vida do cidadão com mais
segurança pública, menos criminalidade, saúde e educação de qualidade em um Estado
onde, como afirmou Rui Barbosa, o homem honesto não sinta vergonha de ser honesto.
VI Referências bibliográficas
FRIEDMAN, Milton; FRIEDMAN, Rose. Liberdade para escolher. Trad. Ana Maria Sampaio
et al. 2. ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1980.
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[www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582003000200006&lng=pt&nrm=iso].
Acesso em: 28.01.2019.
SOUZA, Celina. Governos locais e gestão de políticas sociais universais. São Paulo
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Acesso em: 04.02.2019.
STIGLITZ, Joseph. O preço da desigualdade. Trad. Dinis Pires. Lisboa: Bertrand, 2014.
TSEBELIS, George. Atores com poder de veto: como funcionam as instituições políticas.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.
2 SOUZA, Celina. Governos locais e gestão de políticas sociais universais. São Paulo
Perspec., São Paulo, v. 18, n. 2, p. 27-41, jun. 2004. Disponível em
[www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200004&lng=pt&nrm=iso].
Acesso em: 04.02.2019.
4 SOUZA, Celina. Federalismo e conflitos distributivos: disputa dos estados por recursos
orçamentários federais. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 2, p. 345-384, 2003. Disponível
em:
[www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582003000200006&lng=pt&nrm=iso].
Acesso em: 28.01.2019.
7 SOUZA, Celina. Federalismo e conflitos distributivos: disputa dos estados por recursos
orçamentários federais. Dados, Rio de Janeiro, v. 46, n. 2, p. 345-384, 2003. Disponível
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[www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582003000200006&lng=pt&nrm=iso].
Acesso em: 28.01.2019.
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[www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782005000100008&lng=pt&nrm=iso].
Acesso em: 21.01.2019.
11 Idem.
13 Idem
14 Idem.
18 FRIEDMAN, Milton; FRIEDMAN, Rose. Liberdade para escolher. Trad. Ana Maria
Sampaio et all. 2. ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1980.
21 Idem.
22 Idem.
23 Idem.
24 Idem.
25 Idem
26 Disponível em:
[www.casacivil.gov.br/central-de-conteudos/downloads/mensagem-aocongresso-2019/@@download/file
27 OCKÉ-REIS, Carlos Octávio. SUS: o desafio de ser único. Rio de Janeiro: Fiocruz,
2012.
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seus impactos nos programas educacionais federais
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