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Resumo
O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que objetivou compreender, por
meio dos dizeres dos instrutores de informática do Programa de Educação Continuada do
SESI de Blumenau, suas percepções acerca dos saberes que caracterizam o bom instrutor de
informática, bem como desvelar os saberes dinamizados pelos mesmos em suas práticas
docentes em cursos de informática para trabalhadores-estudantes no contexto industrial
atendido pelo SESI. A coleta de dados foi realizada com cinco instrutores de informática do
SESI de Blumenau. Foram tomados como unidade de análise três eixos propostos, a saber:
Razões para ser um instrutor de informática; Características do bom instrutor de informática;
Saberes necessários ao bom instrutor de informática. A análise de dados foi subsidiada nos
estudos de Tardif (2008) acerca dos saberes docentes, dadas as aproximações da ação do
instrutor com a atividade docente e nas discussões de Marchesi (2008) acerca da dimensão
emocional movimentada entre docentes e estudantes ao estabelecerem relações de ensino e de
aprendizagem. Os resultados permitiram inferir que os sujeitos da pesquisa mobilizam
diversos saberes no contexto educacional em que atuam, destacando-se o saber experiencial
como atributo e imprescindível ao cotidiano da sala de aula. Fica evidente que outros saberes
são também mobilizados, visto que o saber docente é um saber plural, composto por saberes
disciplinares, curriculares e experienciais. Verificou-se ainda que os instrutores reconhecem o
valor emocional implícito em sua prática docente, sendo este elemento vital para envolver os
trabalhadores-estudantes no habitat escolar constituído dentro do chão de fábrica.
Introdução
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De acordo com esta perspectiva, todo profissional deve estar preparado para utilizar o
computador como ferramenta tecnológica a serviço do homem e reconhecer que esta
tecnologia abre uma significativa otimização na vida das pessoas. É evidente que o uso do
computador traz facilidades como a rápida localização, barateamento no armazenamento,
divulgação, pesquisa, alteração, inclusão, exclusão dentre outras possibilidades que o mesmo
nos permite.
Em sua obra Tecnopólio, Postman (1994) propõe uma visão crítica frente às
transformações culturais resultantes das inovações tecnológicas, e conclama que “é um erro
supor que qualquer inovação tecnológica tem um efeito unilateral apenas. Toda tecnologia
tanto é um fardo como uma bênção” (p.14).
Entretanto, não podemos negligenciar a significativa contribuição provocada pelo uso
do computador, que tem auxiliado pesquisadores e proporcionado um salto qualitativo para a
realização de pesquisas científicas, bem como nas mais diversas áreas do conhecimento
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humano. Na sociedade da informação, a privação do acesso a este bem tecnológico pode ser
configurada, de certo modo, como um fator de exclusão, que reduz as possibilidades de
crescimento pessoal e profissional de sujeitos privados desta condição. A busca de
alternativas para suprir tais carências vem sendo crescentes, e cada vez mais, projetos e
programas que visam à progressão da inclusão digital ganham espaço no mercado de trabalho,
tanto na esfera pública, quanto na iniciativa privada.
Para as indústrias, possibilitar o acesso aos bens tecnológicos torna-se um meio de
contribuir para a redução do quadro de exclusão social, e ao mesmo tempo, uma forma de
qualificar suas equipes de trabalho. Reconhecendo esta demanda, e em consonância com as
principais necessidades demandadas pelas indústrias catarinenses, o Serviço Social da
Indústria (SESI), vem ofertando desde 2009 o Programa de Educação Continuada, pautado
sob uma perspectiva que
[...] compreende ações educativas situadas fora das etapas e modalidades escolares
tradicionais, mas que permeiam, suplementam e atualizam conhecimentos nelas
adquiridos e/ou produzem e sistematizam novos conhecimentos. Aplica-se a todas as
pessoas, em qualquer período da vida, deriva de motivações e objetivos os mais
diversos: ampliar ou aperfeiçoar conhecimentos, inclusive aqueles relacionados à
educação básica; aperfeiçoar formações ligadas à vida profissional; ampliar o senso
ético e estético; desenvolver competências relacionadas à vida familiar e pessoal.
(SESI, 2010, p.10)
Desenvolvimento
O objetivo central deste artigo é compreender, por meios dos dizeres dos instrutores de
informática do Programa de Educação Continuada do SESI de Blumenau, suas percepções
sobre os saberes que caracterizam um bom instrutor de informática.
Atuando como sujeito cuja tarefa primordial é a de instruir pessoas na aquisição de
novos conhecimentos, a ação do instrutor revela aproximações com a atividade do professor,
tendo como aspecto em comum a docência. Para subsidiar nossa compreensão, nos apoiamos
nas discussões de Tardif (2008) sobre os saberes docentes.
Segundo o autor, a discussão sobre saberes docentes parece assunto simples, pois “um
professor é, antes de tudo alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir
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esse saber a outros.” (p. 31). Entretanto, ensinar não é simplesmente transmitir “conteúdos”,
tendo em vista que o mero retransmissor de conhecimentos alheios, não terá espaço para os
desafios e transformações impostos pela sociedade contemporânea. A relação com os saberes
possui um caráter especial na constituição da profissão docente, tanto que
[...] a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de transmissão
dos conhecimentos já constituídos. Sua prática integra diferentes saberes, como os
quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir o saber docente
com um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes
oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e
experienciais (TARDIF, 2008, p. 36).
É um termo que designa instrumentos para a obtenção de dados por meio dos quais o
pesquisador apresenta ao respondente um estímulo para ser preenchido com palavras
[...] Ao ser completado, ele pode revelar motivações, crenças e sentimentos que
dificilmente seriam captados por meios convencionais, tais como questionários ou
entrevistas estruturadas. (VERGARA, 2010, p. 203).
Razões para ser instrutor Um bom instrutor é... Um bom instrutor precisa...
de informática
Uma vez feito o envio, estabelecemos o prazo de uma semana para a recolha das
devolutivas, e após o recebimento das mesmas passamos à fase da análise, estruturada em três
categorias que estabelecemos como parâmetros para conduzir a discussão: a) Razões para ser
um instrutor de informática; b) Características do bom instrutor de informática; c) Saberes
necessários ao bom instrutor de informática. Apresentamos a seguir os resultados da pesquisa,
desenhados em consonância com os pressupostos teóricos que a sustentaram.
Por meio de um formulário enviado via e-mail, como primeiro tópico de pesquisa, os
sujeitos foram convidados a discorrer sobre as razões que os levaram a atuar como instrutores
de informática do Programa de Educação Continuada do SESI de Blumenau:
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Quadro 2: Respostas dos sujeitos acerca das razões para serem instrutores de informática
SUJEITOS RAZÕES PARA SER INSTRUTOR DE INFORMÁTICA
S1 “Ser instrutor de informática no SESI é uma maneira de complementar meus
rendimentos.”
S2 “Atuo por que é gratificante ver a aprendizagem de pessoas que não sabiam como segurar
um mouse, e ao final de 30 horas, conseguem viajar pelo mundo da internet”.
S3 “Num primeiro momento representou um desafio, por que não tinha experiência com
informática pedagógica para adultos. Depois da primeira turma formada, desafio
superado, comecei a perceber o quanto trabalhar com adultos é bom. Hoje me sinto
realizado atuando nesta atividade”.
S4 “Por que informática é área que escolhi como profissão e me especializei, e eu adoro”.
S5 Por que é uma área na qual possuo bastante conhecimento e da qual gosto muito”.
Fonte: Formulário respondido pelos sujeitos no mês de maio de 2011.
Nos dizeres dos sujeitos, evidenciam-se diferentes razões as quais os mesmos atribuem
a permanência na atividade de instrutor. Embora haja a explicitação de motivações de ordem
financeira, como destaca em sua fala o S1, predominam motivações de caráter emocional,
sentimento que atribuem ao exercício da docência como instrutores de informática do SESI,
destacando também como forte motivo a satisfação pessoal que o exercício desta atividade
lhes proporciona.
O exercício da atividade de instrutor é apontado, ainda, como uma forma de valorizar
saberes oriundos da formação técnica, a exemplo de S5 quando destaca o conhecimento como
um motivo que vai além do fator emocional, para justificar sua permanência como instrutor
de informática.
Marchesi (2008) reconhece o valor da dimensão emocional atribuído ao ato da
docência, ao afirmar que “o conhecimento, o afeto, e a ação estão entrelaçados na vida,
principalmente em uma profissão tão carregada de emoção como a docente” (p.99).
Entretanto, o autor relaciona a emoção a outros elementos constituintes da docência,
destacando conhecimento e ação como aspectos presentes no exercício desta atividade.
Quadro 3: Respostas dos sujeitos acerca das características do bom instrutor de informática
SUJEITOS UM BOM INSTRUTOR É...
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S1 “Aquele que faz o aluno entender e visualizar aplicação do conteúdo que está sendo
passado. Fazendo com que o aluno se sinta atraído pelo conteúdo e interessado em
sempre buscar mais conhecimento. O bom instrutor é prático, direto, objetivo e o mais
lúdico possível ao passar o conhecimento ao aluno, para que o aluno veja o aprendizado
com prazer e não como uma coisa chata.”
S2 “Técnico e pedagogo.”
S3 “Aquele que tem comprometimento com o que faz. É respeitar o aluno com suas
dificuldades sem julgar. É estar aberto a aprender, não só ensinar. É sempre buscar
motivar esse aluno a querer mais. Um bom instrutor planeja cada detalhe para tornar a
aula prazerosa e única.”
S4 “Aquele que adora ver o aprendizado, o brilho no olhar dos alunos em cada coisa que ele
ensina, para isso precisa estar em constante aprimoramento.”
S5 “Paciente, atencioso, flexível, imparcial, atualizado, amigável...”
Fonte: Formulário respondido pelos sujeitos no mês de maio de 2011.
[...] A atividade docente não é exercida sobre um objeto, sobre um fenômeno a ser
conhecido ou uma obra a ser produzida. Ela é realizada concretamente numa rede de
interações com outras pessoas, num contexto onde o elemento humano é
determinante e dominante e onde estão presentes símbolos, valores, sentimentos,
atitudes, que são passíveis de interpretação e decisão, interpretação e decisão que
possuem, geralmente, um caráter de urgência. (TARDIF, 2008, p. 49 e 50).
Quadro 4: Respostas dos sujeitos acerca dos saberes necessários para ser um bom instrutor de informática
SUJEITOS UM BOM INSTRUTOR PRECISA...
S1 “Estar sempre atualizado em questão de conhecimento e docência. Deve sempre
conhecer a realidade da turma, para poder adaptar o máximo possível o conteúdo a essa
realidade, para que o aluno veja a aplicação prática desse conhecimento. Em outras
palavras, precisa conhecer o conteúdo e saber passar isso para o aluno.”
S2 “Do conhecimento da tecnologia, estar atualizado, mas principalmente de perceber e
conciliar as necessidades de seus alunos que vem ou vão para uma jornada de trabalho.
Temos que ser dinâmicos e ter uma linguagem que todos entendam.”
S3 “Precisa ter conhecimentos específicos na área, até mesmo técnico. Estar atualizado
com as informações. Acima de tudo amar o que faz, encarar sua profissão como uma
missão. Se você ama o que faz, os resultados são positivos. E como instrutor, no ultimo
encontro quando você ouve os depoimentos de seus alunos não tem valor que substitua
essa emoção.”
S4 “Estar sempre atualizado e gostar do que faz”.
S5 “Acredito que para ser um bom instrutor de informática precisa ter um bom
conhecimento do assunto que está dando, precisa estar atualizado, ser humilde, pois
não sabe de tudo e gostar de desafios.”
Fonte: Formulário respondido pelos sujeitos no mês de maio de 2011.
Considerações finais
“um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da
formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.” (TARDIF,
2008, p, 36).
Compreendemos que os saberes movimentados pelos instrutores de informática do
Programa de Educação Continuada do SESI de Blumenau traduzem esta pluralidade,
originada na multiplicidade de experiências depreendidas de suas vivências, de sua formação
técnica e no próprio exercício cotidiano da docência.
Verificou-se ainda a importância atribuída pelos instrutores à dimensão emocional que
envolve suas práticas, sendo esta compreendida por eles como elemento vital para envolver os
trabalhadores-estudantes em Programas de Educação Continuada como os propostos pelo
SESI e outros de qualquer espécie, visto que toda relação de ensino e aprendizagem requer,
além da partilha de conhecimento, um vínculo social de confiança entre os sujeitos envolvidos
e a construção conjunta de novos significados. Tal premissa estará sempre implícita na
atividade docente, sejam quais forem os contextos em que ela for praticada. Na especificidade
do contexto industrial, ser um bom instrutor de informática é mobilizar saberes plurais ao
instrumentalizar os trabalhadores-estudantes para o uso da tecnologia, levando em conta a
dimensão social contemplada nesta atividade.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Tradução de Claudia
Schilling. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
______. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP,
2000.
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2004 (Coleção Leitura).
MARCHESI, Álvaro. O bem estar dos professores. Porto Alegre: Artmed, 2008.
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da
docência como profissão de interações humanas. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
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