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OS SABERES DO BOM INSTRUTOR DE INFORMÁTICA:

PERCEPÇÕES DOS INSTRUTORES DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO


CONTINUADA DO SESI DE BLUMENAU

CHIARE, Lidiane Gonzaga - FURB


lidiane_gonzaga@hotmail.com

RIBEIRO, Adilson José - FURB


adilsonjribeiro1@gmail.com

RAUSCH, Rita Buzzi - FURB


rausch@furb.br

Eixo Temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que objetivou compreender, por
meio dos dizeres dos instrutores de informática do Programa de Educação Continuada do
SESI de Blumenau, suas percepções acerca dos saberes que caracterizam o bom instrutor de
informática, bem como desvelar os saberes dinamizados pelos mesmos em suas práticas
docentes em cursos de informática para trabalhadores-estudantes no contexto industrial
atendido pelo SESI. A coleta de dados foi realizada com cinco instrutores de informática do
SESI de Blumenau. Foram tomados como unidade de análise três eixos propostos, a saber:
Razões para ser um instrutor de informática; Características do bom instrutor de informática;
Saberes necessários ao bom instrutor de informática. A análise de dados foi subsidiada nos
estudos de Tardif (2008) acerca dos saberes docentes, dadas as aproximações da ação do
instrutor com a atividade docente e nas discussões de Marchesi (2008) acerca da dimensão
emocional movimentada entre docentes e estudantes ao estabelecerem relações de ensino e de
aprendizagem. Os resultados permitiram inferir que os sujeitos da pesquisa mobilizam
diversos saberes no contexto educacional em que atuam, destacando-se o saber experiencial
como atributo e imprescindível ao cotidiano da sala de aula. Fica evidente que outros saberes
são também mobilizados, visto que o saber docente é um saber plural, composto por saberes
disciplinares, curriculares e experienciais. Verificou-se ainda que os instrutores reconhecem o
valor emocional implícito em sua prática docente, sendo este elemento vital para envolver os
trabalhadores-estudantes no habitat escolar constituído dentro do chão de fábrica.

Palavras-chave: Saberes docentes. Instrutores de informática. Bom instrutor.

Introdução
1662

A “universalização” do computador em diversos enredos humanos, integrados em


máquinas e equipamentos impõe uma admiração incondicional, uma devoção desenfreada da
importância e soberania da tecnologia. Porém, a tecnologia não substitui o homem, mas
promove melhorias em suas atividades de trabalho, estudo e no avanço do conhecimento, mas
não é o único responsável por isso.
Para Freire (1968) a tecnologia pode ser entendida como “expressão natural do
processo criador em que os seres humanos se engajam no momento em que forjam seu
primeiro instrumento com que melhor transformam o mundo”. Aliás, a tecnologia faz “parte
do natural desenvolvimento dos seres humanos” (p. 98). Contudo, para Freire a tecnologia
também é vista com uma grande carga de politicidade, visto que é permeada de ideologia,
pois atende a interesses diversos de governos, empresas e grupos de pessoas, e na maioria das
vezes o problema não é tecnológico, mas sim político, em especial quando a visão da
tecnologia fica inteiramente afastada do princípio da dignidade da pessoa humana. Sobre o
lugar da tecnologia no meio social, Freire enuncia

O que me parece fundamental para nós, hoje, mecânicos ou físicos, pedagogos ou


pedreiros, marceneiros ou biólogos é a assunção de uma posição crítica, vigilante,
indagadora, em face da tecnologia. Nem, de um lado, demonologizá-la, nem, de
outro, divinizá-la. (FREIRE, 1992, p. 133).

De acordo com esta perspectiva, todo profissional deve estar preparado para utilizar o
computador como ferramenta tecnológica a serviço do homem e reconhecer que esta
tecnologia abre uma significativa otimização na vida das pessoas. É evidente que o uso do
computador traz facilidades como a rápida localização, barateamento no armazenamento,
divulgação, pesquisa, alteração, inclusão, exclusão dentre outras possibilidades que o mesmo
nos permite.
Em sua obra Tecnopólio, Postman (1994) propõe uma visão crítica frente às
transformações culturais resultantes das inovações tecnológicas, e conclama que “é um erro
supor que qualquer inovação tecnológica tem um efeito unilateral apenas. Toda tecnologia
tanto é um fardo como uma bênção” (p.14).
Entretanto, não podemos negligenciar a significativa contribuição provocada pelo uso
do computador, que tem auxiliado pesquisadores e proporcionado um salto qualitativo para a
realização de pesquisas científicas, bem como nas mais diversas áreas do conhecimento
1663

humano. Na sociedade da informação, a privação do acesso a este bem tecnológico pode ser
configurada, de certo modo, como um fator de exclusão, que reduz as possibilidades de
crescimento pessoal e profissional de sujeitos privados desta condição. A busca de
alternativas para suprir tais carências vem sendo crescentes, e cada vez mais, projetos e
programas que visam à progressão da inclusão digital ganham espaço no mercado de trabalho,
tanto na esfera pública, quanto na iniciativa privada.
Para as indústrias, possibilitar o acesso aos bens tecnológicos torna-se um meio de
contribuir para a redução do quadro de exclusão social, e ao mesmo tempo, uma forma de
qualificar suas equipes de trabalho. Reconhecendo esta demanda, e em consonância com as
principais necessidades demandadas pelas indústrias catarinenses, o Serviço Social da
Indústria (SESI), vem ofertando desde 2009 o Programa de Educação Continuada, pautado
sob uma perspectiva que

[...] compreende ações educativas situadas fora das etapas e modalidades escolares
tradicionais, mas que permeiam, suplementam e atualizam conhecimentos nelas
adquiridos e/ou produzem e sistematizam novos conhecimentos. Aplica-se a todas as
pessoas, em qualquer período da vida, deriva de motivações e objetivos os mais
diversos: ampliar ou aperfeiçoar conhecimentos, inclusive aqueles relacionados à
educação básica; aperfeiçoar formações ligadas à vida profissional; ampliar o senso
ético e estético; desenvolver competências relacionadas à vida familiar e pessoal.
(SESI, 2010, p.10)

O programa de Educação Continuada do SESI consiste na oferta de cursos livres de


curta, média e longa duração, todos organizados in company, ou seja, no interior do espaço
industrial. O Programa conta atualmente com 90 cursos, oferecidos dentro da jornada de
trabalho, todos eles disponibilizados sem custo para os trabalhadores. O ambiente das
indústrias se configura, então, como espaço de aquisição de novos saberes, haja vista que:

[...] a educação continuada pode ocorrer em diferentes locais: organizações


educacionais, em casa, no trabalho ou em espaços de interação social. Pode realizar-se
de múltiplas formas, tais como: cursos (presenciais, semi-presenciais ou a distância) e
outras ações educativas (congressos, seminários, palestras, workshops, entre outros).
Pode ocorrer também de forma individualizada ou grupal, como em comunidades de
práticas, servindo-se dos mais diversos meios: livros, periódicos, rádio, TV, vídeo,
CD, internet. (SESI, 2010, p.10)
1664

Dentre os cursos oferecidos por meio do Programa de Educação Continuada do SESI,


destacamos a série de cursos intitulada “Educação num Clique”. Como todos os demais
cursos do Programa, os cursos desta série são ministrados no interior do ambiente industrial, e
objetivam oportunizar aos trabalhadores o acesso a conhecimentos básicos de informática. Os
cursos de informática da série “Educação num Clique” são realizados em laboratórios cuja
estrutura física é concedida pelas indústrias parceiras do programa, e os demais recursos como
profissionais, equipamentos e materiais didáticos são subsidiados pelo SESI.
A apropriação de conhecimentos em informática é uma das aprendizagens que possui
lugar de destaque no cenário atual. Representada em especial pelo acesso ao computador,
ferramenta tecnológica cada vez mais presente nos contextos das indústrias dos mais diversos
setores produtivos e utilizado tanto para a organização das tarefas administrativas, quanto para
controle e operacionalização das variadas etapas dos seus processos de produção. A finalidade
dos cursos de informática da série “Educação num Clique” é instrumentalizar os trabalhadores
para conhecer e operar o computador. O pré-requisito para o acesso é de que os estudantes
possuam vínculo empregatício ativo com as indústrias parceiras do Programa.
No município de Blumenau, o programa de Educação Continuada do SESI conta
atualmente com seis instrutores de informática, que atuam nos cursos da série “Educação num
Clique”. Nos anos de 2009, 2010 e 2011, o programa já atendeu aproximadamente 500
estudantes, em parceria com cerca de 10 das maiores indústrias de diferentes segmentos
produtivos no médio Vale do Itajaí.
A aquisição da aprendizagem das noções iniciais de informática se dá ao longo das 30
horas de curso, distribuídas em 15 encontros presenciais nos quais estudantes se familiarizam
com o computador: seus componentes, programas, ícones, as possibilidades de uso e recursos,
por meio de situações práticas de aprendizagem mediadas pela intervenção dos instrutores.
Estes profissionais, cujo pré-requisito para contratação é a formação técnica
comprovada na área de Informática, instruem os estudantes na incursão dos conteúdos
programáticos orientados em um referencial teórico-metodológico, desenvolvido
especialmente pela Coordenadoria de Educação do SESI de Santa Catarina para a série
“Educação num Clique”. Os instrutores recebem frequentemente acompanhamento
pedagógico por meio da intervenção do Supervisor Pedagógico do Programa, profissional que
orienta e subsidia a elaboração dos planejamentos e das estratégias didáticas a serem
utilizadas nas aulas.
1665

No contexto industrial, é comum que sujeitos que nunca tiveram acesso ao


computador enfrentam certo temor ao primeiro contato com esta ferramenta. O fato de não
conhecer a máquina pode gerar dúvidas a respeito do funcionamento de seus componentes e
certa insegurança sobre o modo como se deve operá-los. Neste momento, a figura de um
mediador experiente e crítico contribui para a desmistificação da ferramenta, na medida em
que se desvelam para o outro as possibilidades da mesma.
Implícito neste processo de mediação entre um sujeito e outro, na busca de construir
um novo conhecimento, há de certa forma uma atividade de docência, visto que docência é
uma ação voltada direta ou indiretamente para o ato de ensinar. A docência se caracteriza
como a ação e o processo de ensinar, por meio de mediação, prática, produção, organização,
difusão e aprimoramento de conhecimentos em espaços escolares e não escolares. Neste
sentido, para Freire “não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos
apesar de diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro.
Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. (2004, p. 22-23).
Portanto, a docência pode ser conceituada como interação educativa que se constitui
no processo de ensino-aprendizagem, na pesquisa e nos diversos contextos educativos, da
escola ao chão de fábrica. Por consequência, o trabalho docente se caracteriza por meio de
processos e práticas de mediação, apropriação, organização e divulgação de conhecimento.
Ele passa a ser um sujeito em plena ação e interação com o outro. Ademais, “ensinar é
trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos.” (TARDIF;
LESSARD, 2005, p. 31).

Desenvolvimento

O objetivo central deste artigo é compreender, por meios dos dizeres dos instrutores de
informática do Programa de Educação Continuada do SESI de Blumenau, suas percepções
sobre os saberes que caracterizam um bom instrutor de informática.
Atuando como sujeito cuja tarefa primordial é a de instruir pessoas na aquisição de
novos conhecimentos, a ação do instrutor revela aproximações com a atividade do professor,
tendo como aspecto em comum a docência. Para subsidiar nossa compreensão, nos apoiamos
nas discussões de Tardif (2008) sobre os saberes docentes.
Segundo o autor, a discussão sobre saberes docentes parece assunto simples, pois “um
professor é, antes de tudo alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir
1666

esse saber a outros.” (p. 31). Entretanto, ensinar não é simplesmente transmitir “conteúdos”,
tendo em vista que o mero retransmissor de conhecimentos alheios, não terá espaço para os
desafios e transformações impostos pela sociedade contemporânea. A relação com os saberes
possui um caráter especial na constituição da profissão docente, tanto que

[...] a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de transmissão
dos conhecimentos já constituídos. Sua prática integra diferentes saberes, como os
quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir o saber docente
com um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes
oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e
experienciais (TARDIF, 2008, p. 36).

Investigar as percepções dos instrutores sobre os saberes que caracterizam o bom


instrutor de informática é um meio de obter pistas da origem de saberes que eles próprios
movimentam no cotidiano de suas atividades docentes.
A definição do tema de nossa investigação ocorreu no mês de maio do ano de 2011, no
qual encaminhamos os procedimentos da pesquisa solicitando autorização da Coordenadoria
de Educação, da Gerência Regional e da Gestora de Serviços de Educação do SESI no
município de Blumenau. Mediante a aprovação destas instâncias, ainda no mês de maio de
2011 estabelecemos contato via e-mail com cinco instrutores de informática do Programa de
Educação Continuada do SESI de Blumenau, os quais apresentamos no Quadro 1:

Quadro 1: Informações sobre os sujeitos da pesquisa


Sujeitos da Formação Tempo que atua como
Pesquisa instrutor no SESI
S1 Ensino Superior em Ciências da Computação Especialização 02 anos e 06 meses
em Tecnologias de desenvolvimento WEB (em andamento)
S2 Tecnólogo em Processamento de Dados 02 anos 08 meses
Bacharelado em Teologia
Especialização em Teologia (concluída em 2011)
S3 Curso de manutenção de micros 03 anos
Graduação em Pedagogia
S4 Graduação em Ciências da Computação 02 anos e 08 meses
Mestrado em Ciências da Computação
S5 Técnico em eletrônica 01 ano e 6 meses
Graduação em Engenharia Elétrica (em andamento)
Fonte: Dados informados pelos instrutores no mês de maio de 2011.
1667

Dos cinco instrutores, constatamos que um possui Graduação em Pedagogia. Os


demais sujeitos estão habilitados a atuar como instrutores pelo fato de possuírem
conhecimento técnico ou mesmo Graduação específica na área de informática.
Mediante a sinalização positiva por parte dos instrutores, formalizamos sua
participação por meio de assinatura em um Termo de Consentimento. Recolhidas as
assinaturas, enviamos aos instrutores um formulário via e-mail, no qual solicitamos que nos
fornecessem informações sobre sua formação, experiência profissional e razões pelas quais
optaram por atuar como instrutores de informática no SESI. Para coletar outras respostas que
viessem ao encontro do objetivo da pesquisa, utilizamos a estratégia da técnica de
complemento, que segundo Vergara (2010),

É um termo que designa instrumentos para a obtenção de dados por meio dos quais o
pesquisador apresenta ao respondente um estímulo para ser preenchido com palavras
[...] Ao ser completado, ele pode revelar motivações, crenças e sentimentos que
dificilmente seriam captados por meios convencionais, tais como questionários ou
entrevistas estruturadas. (VERGARA, 2010, p. 203).

Os estímulos repassados aos instrutores foram os seguintes:

Razões para ser instrutor Um bom instrutor é... Um bom instrutor precisa...
de informática

Uma vez feito o envio, estabelecemos o prazo de uma semana para a recolha das
devolutivas, e após o recebimento das mesmas passamos à fase da análise, estruturada em três
categorias que estabelecemos como parâmetros para conduzir a discussão: a) Razões para ser
um instrutor de informática; b) Características do bom instrutor de informática; c) Saberes
necessários ao bom instrutor de informática. Apresentamos a seguir os resultados da pesquisa,
desenhados em consonância com os pressupostos teóricos que a sustentaram.

Razões para ser um instrutor de informática

Por meio de um formulário enviado via e-mail, como primeiro tópico de pesquisa, os
sujeitos foram convidados a discorrer sobre as razões que os levaram a atuar como instrutores
de informática do Programa de Educação Continuada do SESI de Blumenau:
1668

Quadro 2: Respostas dos sujeitos acerca das razões para serem instrutores de informática
SUJEITOS RAZÕES PARA SER INSTRUTOR DE INFORMÁTICA
S1 “Ser instrutor de informática no SESI é uma maneira de complementar meus
rendimentos.”
S2 “Atuo por que é gratificante ver a aprendizagem de pessoas que não sabiam como segurar
um mouse, e ao final de 30 horas, conseguem viajar pelo mundo da internet”.
S3 “Num primeiro momento representou um desafio, por que não tinha experiência com
informática pedagógica para adultos. Depois da primeira turma formada, desafio
superado, comecei a perceber o quanto trabalhar com adultos é bom. Hoje me sinto
realizado atuando nesta atividade”.
S4 “Por que informática é área que escolhi como profissão e me especializei, e eu adoro”.
S5 Por que é uma área na qual possuo bastante conhecimento e da qual gosto muito”.
Fonte: Formulário respondido pelos sujeitos no mês de maio de 2011.

Nos dizeres dos sujeitos, evidenciam-se diferentes razões as quais os mesmos atribuem
a permanência na atividade de instrutor. Embora haja a explicitação de motivações de ordem
financeira, como destaca em sua fala o S1, predominam motivações de caráter emocional,
sentimento que atribuem ao exercício da docência como instrutores de informática do SESI,
destacando também como forte motivo a satisfação pessoal que o exercício desta atividade
lhes proporciona.
O exercício da atividade de instrutor é apontado, ainda, como uma forma de valorizar
saberes oriundos da formação técnica, a exemplo de S5 quando destaca o conhecimento como
um motivo que vai além do fator emocional, para justificar sua permanência como instrutor
de informática.
Marchesi (2008) reconhece o valor da dimensão emocional atribuído ao ato da
docência, ao afirmar que “o conhecimento, o afeto, e a ação estão entrelaçados na vida,
principalmente em uma profissão tão carregada de emoção como a docente” (p.99).
Entretanto, o autor relaciona a emoção a outros elementos constituintes da docência,
destacando conhecimento e ação como aspectos presentes no exercício desta atividade.

Características do bom instrutor de informática

Como segundo tópico de pesquisa, os sujeitos deveriam discorrer sobre as


características de um bom instrutor de informática, complementando as sentenças de acordo
com suas compreensões:

Quadro 3: Respostas dos sujeitos acerca das características do bom instrutor de informática
SUJEITOS UM BOM INSTRUTOR É...
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S1 “Aquele que faz o aluno entender e visualizar aplicação do conteúdo que está sendo
passado. Fazendo com que o aluno se sinta atraído pelo conteúdo e interessado em
sempre buscar mais conhecimento. O bom instrutor é prático, direto, objetivo e o mais
lúdico possível ao passar o conhecimento ao aluno, para que o aluno veja o aprendizado
com prazer e não como uma coisa chata.”
S2 “Técnico e pedagogo.”
S3 “Aquele que tem comprometimento com o que faz. É respeitar o aluno com suas
dificuldades sem julgar. É estar aberto a aprender, não só ensinar. É sempre buscar
motivar esse aluno a querer mais. Um bom instrutor planeja cada detalhe para tornar a
aula prazerosa e única.”
S4 “Aquele que adora ver o aprendizado, o brilho no olhar dos alunos em cada coisa que ele
ensina, para isso precisa estar em constante aprimoramento.”
S5 “Paciente, atencioso, flexível, imparcial, atualizado, amigável...”
Fonte: Formulário respondido pelos sujeitos no mês de maio de 2011.

Em seus dizeres, S1 explicita uma preocupação de natureza didática em relação às


aulas de informática ministradas, evidenciada quando menciona a importância de que o aluno
compreenda os conteúdos e consiga visualizar a aplicabilidade dos mesmos, estabelecendo
relações entre a teoria e a prática, bem como a preocupação com as estratégias lúdicas e com a
garantia de um processo de aprendizagem prazeroso para o aluno. Ao enunciar a importância
de fazer com que o aluno se sinta atraído pelo conteúdo, os dizeres de S1 se aproximam das
ideias de Marchesi (2008), quando afirma que “é preciso dar um passo a mais e incorporar,
entre os objetivos do ensino, a necessidade de despertar o desejo do saber dos alunos e de
fazer com que se envolvam na atividade de aprender” (2008, p. 60).
A resposta emitida por S2 desvela um olhar para duas vertentes sobre a qual se apoia o
processo de ensino nos cursos de informática por ele ministrados: o termo técnico traduz a
especificidade técnica dos conteúdos de informática ministrados ao longo das aulas, que
precisam ser de domínio pleno do instrutor. Por sua vez, a inclusão do termo pedagogo, está
vinculada ao sentido de valor atribuído em face dos aspectos didáticos sob as quais se apoia o
instrutor, no ato de ensinar os conteúdos aos alunos.
Ademais, fica evidente na fala de S2 a necessidade do saber pedagógico, pois a prática
docente não é apenas um saber exclusivo das ciências da educação, visto que

[...] os saberes pedagógicos apresentam-se como doutrinas ou concepções


provenientes de reflexões sobre a prática educativa no sentido amplo do termo,
reflexões racionais e normativas que conduzem a sistemas mais ou menos coerentes
de representação e de orientação da atividade educativa. (TARDIF, 2008, p. 37).
1670

Nos dizeres de S3, identificamos uma sequencia de características atribuídas ao bom


instrutor, nas quais identificamos aproximações com a discussão acerca das habilidades
docentes proposta por Marchesi (2008), quando enuncia que para ser um bom professor é
necessário que
[...] o docente esteja, ele mesmo, interessado no conhecimento que pretende que
seus alunos aprendam. É difícil promover o desejo de saber se nós mesmos não o
manifestamos ao ensinar [...]. Ser capaz de facilitar o diálogo, a participação e a
colaboração dos alunos. A elaboração de experiências atraentes de aprendizagem
consegue atingir melhor seus objetivos quando toma em consideração os interesses
dos alunos [...]. A última das habilidades é ter uma certa capacidade de inovação. A
elaboração de situações de aprendizagem variadas e adaptadas ao contexto de cada
turma exige flexibilidade mental, segurança emocional e criatividade. É exatamente
o contrário da rotina, da indiferença e da homogeneidade (MARCHESI, 2008, p.
61).

A fala de S3 aborda a importância do planejamento como recurso organizador da aula.


Remetemos este dizer à dimensão pedagógica, novamente destacada como aspecto primordial
das práticas docentes do bom instrutor.
Neste sentir, recebe lugar de destaque para S4 a necessidade do saber experiencial,
tratado por Tardif (2008) como o saber aprimorado e desenvolvido pelos docentes no
exercício de suas funções e na prática diária em sala de aula, que passa a incorporar de forma
“individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber-fazer e de saber-ser do
docente” (p. 39).
Por sua vez, a resposta de S5 evidencia a compreensão de que o instrutor não atua
sozinho, mas em comunhão com outros intervenientes, em especial com os alunos, pois

[...] A atividade docente não é exercida sobre um objeto, sobre um fenômeno a ser
conhecido ou uma obra a ser produzida. Ela é realizada concretamente numa rede de
interações com outras pessoas, num contexto onde o elemento humano é
determinante e dominante e onde estão presentes símbolos, valores, sentimentos,
atitudes, que são passíveis de interpretação e decisão, interpretação e decisão que
possuem, geralmente, um caráter de urgência. (TARDIF, 2008, p. 49 e 50).

S5 reconhece esta necessidade, atribuindo valor as interações com os estudantes e


demonstrando uma preocupação que vai além da capacidade técnica para a atividade de
docência que se propõe a executar.

Saberes necessários ao bom instrutor de informática


1671

Como terceiro e último tópico de pesquisa, os sujeitos deveriam discorrer sobre os


saberes necessários para ser um bom instrutor de informática, complementando as sentenças
de acordo com suas compreensões:

Quadro 4: Respostas dos sujeitos acerca dos saberes necessários para ser um bom instrutor de informática
SUJEITOS UM BOM INSTRUTOR PRECISA...
S1 “Estar sempre atualizado em questão de conhecimento e docência. Deve sempre
conhecer a realidade da turma, para poder adaptar o máximo possível o conteúdo a essa
realidade, para que o aluno veja a aplicação prática desse conhecimento. Em outras
palavras, precisa conhecer o conteúdo e saber passar isso para o aluno.”
S2 “Do conhecimento da tecnologia, estar atualizado, mas principalmente de perceber e
conciliar as necessidades de seus alunos que vem ou vão para uma jornada de trabalho.
Temos que ser dinâmicos e ter uma linguagem que todos entendam.”
S3 “Precisa ter conhecimentos específicos na área, até mesmo técnico. Estar atualizado
com as informações. Acima de tudo amar o que faz, encarar sua profissão como uma
missão. Se você ama o que faz, os resultados são positivos. E como instrutor, no ultimo
encontro quando você ouve os depoimentos de seus alunos não tem valor que substitua
essa emoção.”
S4 “Estar sempre atualizado e gostar do que faz”.
S5 “Acredito que para ser um bom instrutor de informática precisa ter um bom
conhecimento do assunto que está dando, precisa estar atualizado, ser humilde, pois
não sabe de tudo e gostar de desafios.”
Fonte: Formulário respondido pelos sujeitos no mês de maio de 2011.

Para os sujeitos da pesquisa, fica evidente a necessidade da competência técnica


relacionada aos aspectos específicos da docência, bem como a importância do
reconhecimento dos contextos onde o instrutor atua. Partindo destes dizeres, encontramos
aproximações com as ideias de Tardif (2008), quando conclama que o “professor ideal é quem
conhece sua matéria, sua disciplina e seu programa, além disso, apresenta conhecimentos
relativos a ciências da educação e da pedagogia, e acaba desenvolvendo um saber prático
tendo como referência a sua experiência cotidiana com os alunos” (p.39).
Deste modo, consideramos também oportuno que o instrutor esteja ciente de que o
ensino se desenvolve em um contexto de múltiplas interações, para melhor atender as
necessidades dos estudantes. Tal aspecto também se evidencia nos dizeres de S2, que destaca
ainda, uma preocupação com a linguagem adotada pelo instrutor e de sua utilização como
veículo facilitador da comunicação com os alunos, levando em consideração os divergentes
níveis de escolaridade dos trabalhadores e a ausência de conhecimentos prévios sobre
tecnologias e uso de informática, aspectos comumente encontrados entre os alunos atendidos
pelos instrutores nos cursos da “Série Educação num Clique”.
1672

Nos dizeres de S3 novamente se evidencia a necessidade do saber técnico, proveniente


da formação profissional específica na área de informática. Entretanto, S3 confere à atividade
do instrutor um caráter de valor emocional, destacando sua satisfação por estar cumprindo
uma “missão” junto aos alunos.
Atribuímos este sentimento às palavras de Marchesi (2008), quando ao elencar
experiências emocionais positivas dos docentes, conclama que “os professores sentem que seu
esforço profissional é recompensado quando percebem que seus alunos aprendem”. (p. 108-
109). Além do saber específico movimentado no ato da atividade docente, a satisfação pessoal
e o reconhecimento dos alunos são elementos primordiais para S3.
Cumpre ressaltar, que nos dizeres de todos os sujeitos encontramos um ponto em
comum, que se trata da utilização das expressões “estar atualizado” e “estar sempre
atualizado”, o que evidencia a importância da constante busca por novos conhecimentos, em
face das grandes transformações provocadas pelas tecnologias na sociedade contemporânea.
Desta forma, evidencia-se que os instrutores reconhecem os saberes experienciais
como imprescindíveis para construir a atividade docente, visto que o saber experiencial
segundo Tardif (2008) é “um saber aberto, poroso, permeável, pois integra experiências
novas, conhecimentos adquiridos ao longo do caminho e um saber-fazer que se remodela em
função das mudanças na prática, nas situações de trabalho” (p. 110). Trata-se de um saber
dinâmico e evolutivo, pois faz parte da história de vida dos docentes em sua caminhada na
construção de sua identidade como docente.

Considerações finais

Os resultados da pesquisa evidenciam que os sujeitos mobilizam diversos saberes no


contexto educacional em que atuam. Contudo, observa-se com muita força a aplicação e
mobilização dos saberes experienciais como ingrediente imprescindível para compor o dia-a-
dia em sala de aula. Isto não quer dizer que os outros saberes são sejam mobilizados, apenas
reflete a necessidade imperiosa e permanente da construção de uma atividade docente que
esteja em plena sintonia com as plásticas e fluidas transformações do nosso contexto
tecnológico.
Ademais, ficou evidente nas falas dos instrutores que os saberes possuem um caráter
especial na constituição da atividade docente, pois sua prática integra diferentes saberes, com
os quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir o saber docente com
1673

“um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da
formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.” (TARDIF,
2008, p, 36).
Compreendemos que os saberes movimentados pelos instrutores de informática do
Programa de Educação Continuada do SESI de Blumenau traduzem esta pluralidade,
originada na multiplicidade de experiências depreendidas de suas vivências, de sua formação
técnica e no próprio exercício cotidiano da docência.
Verificou-se ainda a importância atribuída pelos instrutores à dimensão emocional que
envolve suas práticas, sendo esta compreendida por eles como elemento vital para envolver os
trabalhadores-estudantes em Programas de Educação Continuada como os propostos pelo
SESI e outros de qualquer espécie, visto que toda relação de ensino e aprendizagem requer,
além da partilha de conhecimento, um vínculo social de confiança entre os sujeitos envolvidos
e a construção conjunta de novos significados. Tal premissa estará sempre implícita na
atividade docente, sejam quais forem os contextos em que ela for praticada. Na especificidade
do contexto industrial, ser um bom instrutor de informática é mobilizar saberes plurais ao
instrumentalizar os trabalhadores-estudantes para o uso da tecnologia, levando em conta a
dimensão social contemplada nesta atividade.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Tradução de Claudia
Schilling. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

______. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP,
2000.

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2004 (Coleção Leitura).

MARCHESI, Álvaro. O bem estar dos professores. Porto Alegre: Artmed, 2008.

POSTMAN, Neil. Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia. São Paulo, 1994.

SESI/SC. Educação Continuada: Manual de Orientações técnicas e administrativas.


Florianópolis: Departamento Regional, 2010.

TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da
docência como profissão de interações humanas. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
1674

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de pesquisa em administração. 4. ed. São Paulo:


Atlas, 2010, p. 203.

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