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fone na mão, Tadeu João Paulo da Cunha Jr., 10 anos, canta para o mundo
No compasso da dança, Ana Heloísa da Rocha Renato, 9 anos, brinca com luz e
sombra
O que é arte? Onde pode ser encontrada? Quem é capaz de apreciá-la? Quem a
produz? Ao pensarmos nessas perguntas, é natural que evoquem respostas associadas
ao universo da cultura erudita. Arte é um quadro de Portinari, uma sinfonia de Mozart,
um filme de Godard ou uma coreografia de Deborah Colker. Habita museus
concorridos, refinadas salas de concerto, cinematecas cult e teatros renascentistas. Está
à disposição de uns poucos privilegiados dotados de sensibilidade aguçada para
decifrar suas mensagens. E, sobretudo, é realizada exclusivamente por indivíduos
geniais, predestinados, únicos. Em uma palavra: para ser artista, é preciso ter um dom.
O foco na expressão dos alunos visa romper com os limites das atividades
estereotipadas (desenhos para colorir, reprodução de quadros de artistas consagrados
etc.), mas não se confunde com o espontaneísmo do tipo "deixar fazer tudo". Tem a
ver com o percurso criativo individual, processo pelo qual os artistas passam ao
realizar suas obras (leia os depoimentos ao longo da reportagem). Diz respeito a um
mergulho no universo artístico: conhecer referências e explorar materiais como base
para produzir.
Para o educador, significa ter preparo e prontidão para orientar a turma nos desafios
artísticos. Estimular o potencial criador de crianças e jovens enriquece o
desenvolvimento deles como sujeitos e cidadãos. "Ao produzir arte, o estudante amplia
sua forma de perceber o mundo e de opinar sobre ele", analisa Maria José Spiteri,
professora de Estética e História da Arte da Universidade Cruzeiro do Sul, em São
Paulo. Mas a realidade de muitas escolas está a Louvres de distância desse ideal.
Marque com um X se alguma das práticas abaixo é recorrente no seu ambiente de
ensino.
Em seguida, fizemos um zootropo, um tambor circular com pequenas fendas por onde
se vislumbram algumas figuras. Quando giramos o objeto, elas se movem. Completei
o trabalho de repertório com diversas animações, que a criançada assistiu empolgada.
Quando chegou a hora da produção, meu papel era ajudar a resolver as dúvidas.
Percebi que alguns cuidados, como a sequência certa de cenas e ângulo, vieram das
referências com as quais eles tiveram contato nas aulas. Com essa base, eles
entenderam que são capazes."
Kelly Sabino, professora da Escola de Aplicação da USP
"Na criação de esculturas, uso bastante a memória de cenas do cotidiano. Vou direto
ao material, usando as mãos para fazer e refazer até chegar ao mais próximo do que
está na minha cabeça."
Simone Grecco, artista plástica
Nessa trajetória, um primeiro passo é pôr a turma para enfrentar desafios artísticos.
Cabe ao professor apresentar a provocação, como faz Maria da Paz Melo, docente da
EM Valéria Junqueira Paduan, em Santa Rita do Sapucaí, a 386 quilômetros de Belo
Horizonte. Seus alunos, cujas fotos e obras ilustram esta reportagem, precisam lidar
com situações como desenhar o movimento de fios e barbantes pendurados no teto.
Além de recorrrer a questionamentos que envolvam aspectos técnicos, é possível
desafiar abordando um determinado tema (a sensação de viver numa grande cidade),
estudando a fundo um movimento artístico (o renascimento italiano) ou investigando
como se estruturou a produção de arte em um certo lugar (a confecção de máscaras nas
tribos africanas). O objetivo é levar a garotada a mergulhar no contexto de produção e
conhecer como se expressam os artistas.
Vários exercícios enfocavam o improviso. Elaboramos uma melodia curta que todos
aprenderam a tocar. Depois, tiramos a melodia e cada um improvisou em cima da
mesma base harmônica. Outras vezes, eu limitei o número de notas - já pedi que
improvisassem com apenas duas.
Seguir caminhos que inspirem meninos e meninas a criar não quer dizer riscar da tela
práticas como a releitura ou a cópia. A ideia é dar um novo significado a elas. Imitar o
que foi feito por alguém conhecido ou tentar passar para o papel o que se vê no quadro
não funciona. Mas a cópia é um procedimento útil para entender como o artista
resolveu problemas técnicos - relativos ao uso dos materiais, por exemplo. A releitura,
por sua vez, consiste em entender como ele produziu e reinterpretar seu olhar. Para
Maria José, é o oposto de tentar fazer igual. "Na verdade, trata -se de buscar responder
a perguntas do tipo: Como esse artista olhou o mundo?."
Ensinar Arte dessa maneira requer uma postura pedagógica específica. Para desafiar a
turma - e ter preparo para auxiliar a cumprir a tarefa -, cuidar da formação é essencial.
"Não me satisfiz com a graduação em Artes. Me especializei em artes cênicas, busquei
o mestrado e agora o doutorado", conta Carmem. Atividades úteis para a construção de
repertório também precisam ser rotineiras, como defende Rejane Coutinho, do
Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "É importante frequentar
concertos, conhecer os artistas da sua cidade, buscar os sites de museus nacionais e
internacionais que disponibilizam visitas virtuais." Quanto mais referências, menor o
risco de trazer para as aulas artistas incensados pela mídia e pelo mercado, mas sem
reconhecimento da crítica ou de seus pares. "Quem ensina precisa se preocupar em
saber de onde vem o artista e como ele está localizado no mercado de arte", defende
Rosa Iavelberg.
E uma última provocação: se a ideia é criar, o professor precisa se expor. "Os docentes
devem experimentar fazer arte. Como eles vão ensinar as crianças a produzir se nunca
fizeram isso?", indaga Maria Cristina da Rosa Fonseca da Silva, professora do Centro
de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Para ensinar, vivenciar
o percurso criativo também é fundamental. Compartilhar os caminhos da expressão
com seus alunos, melhor ainda.
Com os alunos do 7° ano, foi assim. Eles contaram que tinham vontade de dançar, mas
sentiam vergonha. Planejei uma sequência para todos experimentarem a dança como
linguagem artística. Me inspirei em propostas de Rudolf Laban (1879-1958), Viola
Spolin (1906-1994) e Pina Bausch (1940-2009). Exploramos uma conexão entre dança
e teatro. Provoquei a turma a criar símbolos para expressar ações como girar, correr e
saltar. Sugeri objetos para compor as cenas, como água, terra e cadeiras. Em outro
momento, cada um trouxe a fotografia de um momento especial. O importante não era
a beleza estética, mas a lembrança que as imagens traziam. Eles escreveram essas
memórias e contaram para um colega. Depois, transformaram a narrativa em
movimentos corporais realistas ou abstratos, com base no que vimos antes. Eles se
apresentavam ao fim de cada encontro e um avaliava o trabalho do outro."