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Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 0925/13

Data do Acordão: 29-10-2014

Tribunal: 2 SECÇÃO

Relator: CASIMIRO GONÇALVES

Descritores: RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA
COIMA
CONSTITUCIONALIDADE
OPOSIÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO
DESPACHO DE
REVERSÃO

Sumário: I – Tendo em conta


que o acórdão do
Plenário do Tribunal
Constitucional n.º
437/2011, proferido
no proc. n.º 206/10,
julgou não ser
inconstitucional a
norma do artigo 8.º
n.º 1 do RGIT, e
tendo em conta que,
na sequência dessa
jurisprudência mais
qualificada em
termos de controlo
da
constitucionalidade
das normas, a
jurisprudência do
STA sofreu uma
alteração, passando
também a acolher
essa posição, deve
decidir-se pela não
inconstitucionalidade
da norma, em
conformidade com o
disposto no artigo
8.º n.º 3 do CCivil.
II – A
fundamentação
formal do despacho
de reversão basta-
se com a alegação
dos pressupostos e
com a referência à
extensão temporal
da responsabilidade
subsidiária que está
a ser efectivada (nº
4 do art. 23º da
LGT) não se
impondo, porém,
que dele constem os
factos concretos nos
quais a AT
fundamenta a
alegação relativa ao
exercício efectivo
das funções do
gerente revertido.

Nº Convencional: JSTA000P18120
Nº do Documento: SA2201410290925
Data de Entrada: 23-05-2013
Recorrente: FAZENDA PÚBLICA
Recorrido 1: A............
Votação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral
Texto Integral: Acordam
na Secção do Contencioso Tributário do
Supremo Tribunal Administrativo:

RELATÓRIO
1.1. A Fazenda Pública recorre da sentença que,
proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal do
Porto, julgou procedente a oposição à execução
fiscal deduzida por A…………, com os demais sinais
dos autos, contra a execução fiscal n.º
3387200801067826 e apensos para cobrança de
IVA, IRS e coimas fiscais no montante global de
4.011,16 Euros, inicialmente instaurada contra a
sociedade B…………, Lda. e posteriormente
revertida contra o oponente.

1.2. Alega e termina com a formulação das


conclusões seguintes:
A. A douta sentença do Tribunal a quo de que se
recorre julgou procedente a oposição apresentada,
com a qual visava o oponente a extinção da
execução fiscal revertida contra ele, em sede do
processo de execução fiscal (PEF) n.º
3387200801067826 e apensos, que pendem no
Serviço de Finanças do Porto-4, onde consta como
original devedora a sociedade B…………, Lda.,
NIPC ………, por dívidas relativas a COIMAS
FISCAIS, IVA e, IRS, no valor de quantia exequenda
de 4.011,16 Euros.
B. Para assim decidir, considerou a douta sentença
ser inconstitucional o art. 8º do RGIT, por apelo à
mais recente jurisprudência do STA, citando alguns
acórdãos como por exemplo, os Ac. do STA nºs
0186/10, de 08/09/2010 e 0767/10, de 10/11/2010,
concluindo que por esse motivo, as dívidas por
coimas não podem ser exigidas ao revertido, ainda
que em termos de responsabilidade subsidiária;
considerou também haver falta de fundamentação
do despacho de reversão da execução fiscal contra
o oponente, uma vez que o mesmo, não faz
qualquer referência aos pressupostos da
responsabilidade subsidiária, tais como, ao exercício
da gerência ou, da culpa pela insuficiência do
património social.
C. Sendo que, o teor da decisão da douta sentença
foi: “Nestes termos, julgo a presente oposição
procedente e, consequentemente, determina-se a
extinção da execução fiscal nº 3387200801067826 e
aps. relativa às Coimas Fiscais revertidas contra o
aqui oponente, e anula-se o respectivo despacho de
reversão da execução fiscal.”.
D. Ressalvado o devido respeito com o que desta
forma foi decidido, não se conforma a Fazenda
Pública, já que considera que a Douta Sentença sob
recurso padece de erro de julgamento de Direito.
E. Com efeito, no que respeita à
inconstitucionalidade do art. 8º, n.º 1 do RGIT, a
Douta Sentença, alicerçando a sua posição na
referida jurisprudência do Supremo Tribunal
Administrativo (STA), nomeadamente nos Acórdãos
0186/10, de 08/09/2010 e, 0767/10, de 10/11/2010,
não se suportou na mais recente jurisprudência
daquele Tribunal Superior.
F. Na verdade, tendo presente que a sentença
recorrida foi lavrada em 2012-09-21, a Mma Juiz do
Tribunal a quo nunca poderia julgar inconstitucional
o art. 8º, n.º 1 do RGIT, com base na mais recente
jurisprudência do STA, “a que aderimos
inteiramente”, uma vez que, a mais recente
jurisprudência do STA, aponta no sentido contrário
àquele que a Mma Juiz do Tribunal a quo retira da
mesma.
G. O que se demonstra pela simples leitura de
alguns desses Acórdãos, que nos permitimos,
identificar e subscrever, a saber: o Acórdão
0623/2012, de 2012-06-27 do STA; o Acórdão
0797/2010, de 2011-12-14 do STA; e, também
o Acórdão 0122/2011, de 2011-11-23 do STA, que
agora em conclusões, nos abstemos de transcrever
por desnecessidade de repetição.
H. Também, não nos podemos esquecer da posição
firmada no Acórdão n.º 437/2011 do Plenário do
Tribunal Constitucional (PTC), processo 206/2010,
onde se reiterou a decisão no sentido de não julgar
inconstitucional o artigo 8.º, n.º 1, alíneas a) e b), do
RGIT, quando interpretado no sentido de que
consagra uma responsabilidade pelas coimas que se
efetiva pelo mecanismo da reversão da execução
fiscal, contra gerentes ou administradores da
sociedade devedora.
I. De salientar que, todos estes Arestos são
posteriores aos indicados pela Mma. Juiz do
Tribunal a quo em que se baseou para fundamentar
a inconstitucionalidade do art. 8º, n.º 1 do RGIT e,
anteriores à sua decisão e, todos eles apontam para
a constitucionalidade do referido normativo, em
detrimento do sentido seguido pela sentença do
Tribunal a quo, sendo esta matéria, até tida por
assente jurisprudencialmente, depois da posição
assumida pelo TC primando pela constitucionalidade
do art. 8º, n.º 1 do RGIT.
J. Relativamente à falta de fundamentação,
considera a Fazenda Pública que o erro de
julgamento se verifica em dupla vertente: a
fundamentação existe e ainda que não existisse,
jamais poderia ter a consequência determinada na
douta sentença de extinção da execução fiscal nº
3387200801067826 e apensos.
K. Embora no segmento decisório a Douta Sentença
se refira exclusivamente a Coimas Fiscais,
entendemos tratar-se de mero erro de escrita, em
virtude de constar do intróito e segmento probatório
que o processo executivo inclui também IRS e IVA.
L. No que concerne à exigência de fundamentação
dos atos administrativos (conceito em que se
inserem os atos tributários, à face do preceituado no
art. 120º do CPA), é formulada no art. 268º, n.º 3, da
CRP, que estabelece que “os actos administrativos
estão sujeitos a notificação aos interessados, na
forma prevista na lei, e carecem de fundamentação
expressa e acessível quando afectem direitos ou
interesses legalmente protegidos”.
M. Em matéria tributária, o dever de fundamentação
dos atos decisórios de procedimentos tributários e
dos atos tributários é concretizado, de forma
genérica, no art. 77º da LGT, nos termos do qual “a
decisão de procedimento é sempre fundamentada
por meio de sucinta exposição das razões de facto e
de direito que a motivaram, podendo a
fundamentação consistir em mera declaração de
concordância com os fundamentos de anteriores
pareceres, informações ou propostas, incluindo os
que integrem o relatório da fiscalização tributária” e,
a “fundamentação dos actos tributários pode ser
efectuada de forma sumária, devendo sempre conter
as disposições legais aplicáveis, a qualificação e
quantificação dos factos tributários e as operações
de apuramento da matéria tributável e do tributo”.
N. Com a devida vénia, o STA tem vindo a entender
que a exigência legal e constitucional de
fundamentação visa, primacialmente, permitir aos
interessados o conhecimento das razões que
levaram a autoridade administrativa a agir, por forma
a possibilitar-lhes uma opção consciente entre a
aceitação da legalidade do ato e a sua impugnação
contenciosa.
O. Fora de situações especiais em que são exigidos
acrescidos de fundamentação, o ato considera-se
suficientemente fundamentado quando é atingido
formalmente esse propósito, dando a conhecer os
elementos que a lei exige que sejam indicados e,
sendo atingido tal objetivo, qualquer irregularidade
ou omissão deverá considerar-se sanada, aferindo-
se tal efeito face ao ato efetivamente praticado,
perante o qual terá que ser cotejada a sua
adequação.
P. A fundamentação formal visa possibilitar um
conhecimento concreto das razões que
determinaram a AT, a atuar como atuou, permitindo
conhecer o seu itinerário cognoscitivo e valorativo,
enquanto a fundamentação material ou substancial
caracteriza-se pela enunciação de motivos aptos e
legítimos a suportar a decisão de fundo, visando
encontrar a base substancial que a legitima, por
forma a demonstrar que se verificam os
pressupostos legais dos quais depende a sua
atuação.
Q. A AT emanou decisão fundamentada no sentido
de reverter as dívidas da execução fiscal em causa,
contra o oponente, com base no art. 160º do CPPT,
no art. 23º, n.º 2 e 4 e, 24º, n.º 1, alínea b), ambos
da LGT, na sequência da informação que sustenta o
despacho de reversão, decorrendo da referida
informação a confirmação do cumprimento dos
pressupostos da reversão.
R. Concluímos, portanto, que o despacho de
reversão se mostra plenamente fundamentado.
Sem prescindir,
S. Por outro lado, entende a Fazenda Pública que,
se apenas está em causa um vício de
fundamentação do despacho de reversão aqui em
crise, dele apenas poderá advir a anulação do ato,
por força do art. 135º do Código do Procedimento
Administrativo (CPA), nunca obstando à sua
renovação, desde que observado o formalismo em
falta, ou seja, desde que expurgado do vício que o
afetava.
T. Efetivamente, o Tribunal a quo ao determinar a
extinção da execução fiscal, pressupõe uma
avaliação de mérito da matéria controvertida (da
pretensão executiva), obstando a que seja renovada
a instância, efeito esse que nunca poderia advir da
procedência da oposição pelo vício de falta de
fundamentação do despacho de reversão, porque,
como se defende, o efeito produzido seria sempre o
da anulação do ato de reversão contra o oponente,
não impedindo que este seja renovado, expurgados
dos vícios que o afetava.
U. À semelhança do que sucede no processo civil
[art. 814º, alínea c), do CPC], a oposição enquanto
contestação, também poderá ter por finalidade a
mera absolvição da instância executiva derivada da
falta de pressupostos processuais [cfr. arts. 487º,
n.os 1 e 2, 493º, n.os 1 e 2 e, 494º, do Código de
Processo Civil (CPC)].
V. De facto, anulado o despacho de reversão, deixa
de haver fundamento legal para que o revertido se
mantenha na execução fiscal, configurando-se uma
situação, quanto à pretensão executiva, de
ilegitimidade passiva enquanto pressuposto
processual (cf. art. 26º, n.º 1, do CPC), que
constituindo uma exceção dilatória, não pode
conduzir a uma decisão sobre o mérito da
pretensão, mas antes impõe que o juiz se abstenha
de apreciar o pedido, proferindo uma decisão de
absolvição da instância [arts. 288º, n.º 1, alínea d) e
660º, n.º 1, do CPC].
W. Assim, se os vícios formais do despacho de
reversão podem servir de fundamento de oposição à
execução fiscal [art. 204º, n.º 1, alínea i) do CPPT], a
procedência da oposição com esse fundamento terá
como consequência, não só a anulação do ato de
reversão(que, caso fosse o único efeito jurídico
prosseguido, teria como meio processual
eventualmente mais adequado a reclamação do art.
276º do CPPT), mas também a absolvição do
oponente da instância executiva.
X. Absolvição da instância que (contrariamente à
extinção da execução fiscal, que constitui uma
verdadeira absolvição da pretensão executiva), não
impede o OEF de proferir novo despacho de
reversão em que, desta vez, fundamentando
suficientemente o ato, sane o vício que determinou a
anulação, no mesmo sentido se refere o Acórdão
0726/2012, de 2012-10-10 do STA que, não se
transcreve por desnecessidade de repetição.
Y. Nesta conformidade, padece assim a douta
sentença sob recurso de erro de julgamento de
direito, porquanto fez errónea interpretação dos
factos e aplicação do disposto nas normas legais
aplicáveis in casu, mais concretamente, dos arts.
487º, n.os 1 e 2, 493º, n.os 1 e 2, 494º, 814º, alínea c),
26º, n.º 1, 288º, n.º 1, alínea d) e, 660º, n.º 1, todos
do CPC, e o art. 77º da LGT, pelo que deverá a
mesma ser anulada.

1.3. O recorrido apresentou contra-alegações,


formulando as conclusões seguintes:
1) Decidiu o Tribunal a quo que “Concluímos, assim,
que com fundamento em inconstitucionalidade no n.º
1 do artigo 8º do RGIT, as dívidas por coimas não
podem ser exigidas ao revertido, ainda que em
termos de responsabilidade subsidiária».
2) Concluiu ainda o mesmo Tribunal, “(...) pela falta
de fundamentação do despacho de reversão da
execução fiscal contra o Alegante, uma vez que o
mesmo, não faz qualquer referência aos
pressupostos da responsabilidade subsidiária
exercício da culpa pela insuficiência do património
social.”
3) Pretexta a Fazenda Pública que não se conforma
com a Douta decisão que julgou procedente a
oposição à execução, por considerar que a decisão
incorreu em erro de julgamento de direito porque,
em seu entender “(...) a decisão da sentença
recorrida foi lavrada em 2012-09-21, a Mma. Juiz do
Tribunal a quo nunca poderia julgar inconstitucional
o art.º 8º, n.º 1 do RGIT, com base na mais recente
jurisprudência do STA, “a que aderimos
inteiramente”, uma vez que, a mais recente
jurisprudência do STA, aponta no sentido contrário
àquele que a Mma. Juiz do Tribunal a quo retira da
mesma, (...).”.
4) Pretexta ainda a Fazenda Pública que «A AT
emanou decisão fundamentada no sentido de
reverter as dívidas da execução fiscal em causa,
contra o Alegante, com base no art.º 160º do CPPT,
no art.º 23º, n.º 2 e 4 e, 24º, n.º 1, alínea b), ambos
da LGT (...)”, concluindo assim, «que o despacho de
reversão se mostra plenamente fundamentado”.
ORA,
5) A responsabilização dos responsáveis
subsidiários nos termos previstos no artigo 8º RGIT,
não pode deixar de ser interpretada como uma
transmissão do dever de cumprimento da sanção,
para terceiros, na forma da responsabilidade pelo
pagamento das multas e coimas.
6) Com efeito, o Supremo Tribunal Administrativo
tem vindo nestes casos recentemente a pronunciar-
se, por exemplo, nos processos n.º 064/10 de
14/04/2010; 0193/10 de 05/05/2010; 055/10 de
19/05/2010, 0186/10 de 08/09/2010 e 0767/10 de
10/11/2010, pelainconstitucionalidade material do n.º
1 do artigo 8º RGIT, por violação do princípio
constitucional da intransmissibilidade das penas.
7) Assim, conclui-se pela inconstitucionalidade do
artigo 8º do RGIT, por violação do princípio da
intransmissibilidade das penas, consagrado na
Constituição da República Portuguesa.
8) O n.º 10 do artigo 32º CRP, dispõe que são
assegurados ao arguido, em quaisquer processos
sancionatórios, incluindo as contra-ordenações, os
direitos de audiência e de defesa, os quais, nestes
casos, não estão assegurados ao revertido, pois,
como transcreve o Acórdão n.º 220/89 do Tribunal
Constitucional, “... tem que concretizar, desde logo,
a possibilidade de recurso ou impugnação judicial do
acto sancionatório e a possibilidade efectiva de
contraditar eficazmente os elementos trazidos pela
acusação”.
9) Com efeito, ainda o Supremo Tribunal
Administrativo tem vindo nestes casos recentemente
a pronunciar-se, por exemplo, nos processos n.º
064/10 de 14/04/2010; 0193/10 de 05/05/2010;
055/10 de 19/05/2010, 0186/10 de 08/09/2010 e
0767/10 de 10/11/2010, pela inconstitucionalidade
material no art.º 8º, n.º 1 RGIT, por violação do
princípio constitucional dos direitos de audiência e
defesa (art.º 32º, n.º 10 CRP), e ainda, pela
inconstitucionalidade do mesmo artigo, por violação
do principio da presunção da inocência (n.º 2 do
artigo 32º da CRP).
10) Assim, conclui-se pela inconstitucionalidade do
artigo 8º do RGIT, por violação dos princípios do
direito de audiência e defesa e por violação do
princípio da presunção de inocência, consagrados
na Constituição da República Portuguesa.
11) Ainda, ao admitir-se a mudança de sujeitos
responsáveis para pagamento da coima, outra
interpretação não se poderá ter, a não ser a que, a
mesma natureza da responsabilidade acompanha a
respectiva transmissão, impossibilitando assim, que
a coima produza os efeitos e os fins que a sua
própria natureza a obriga, não podendo os
Administradores ou Gerentes substituir-se a esta na
responsabilidade para pagamento de uma coima
através da transmissão forçosa dessa obrigação.
12) Por isso, conforme é o caso do n.º 1 do artigo 8º
do RGIT, a sanção que seja aplicada a pessoa a
quem não pode ser imputada responsabilidade pela
sua prática, não é necessária para satisfação dos
fins que a previsão de sanções tem em vista e, por
isso, é constitucionalmente proibida a sua aplicação
de acordo com o n.º 2 do artigo 18º da CRP, onde se
tipifica o princípio nuclear da necessidade de
qualquer restrição de direitos fundamentais,
13) concluindo-se assim, pela inconstitucionalidade
do artigo 8º do RGIT, por violação do princípio
nuclear da necessidade de qualquer restrição dos
direitos fundamentais, consagrados na Constituição
da República Portuguesa.
ALÉM DISTO,
14) não fica ainda qualquer dúvida de que existe
nesta transmissão de coima que o n.º 1 do artigo 8º
do RGIT enuncia, uma ofensa aos valores
constitucionais, como os princípios da culpa, da
igualdade e da proporcionalidade.
15) Ora, uma tal limitação da eficácia delimitativa à
culpa do agente do facto que o responsabiliza
mostra-se constitucionalmente desconforme.
16) Assim, tal como os recentes Acórdãos n.º
481/2010 e 24/2011 do Tribunal Constitucional,
conclui-se pela inconstitucionalidade do artigo 8º do
RGIT, por violação do princípio da culpa, da
igualdade e da proporcionalidade, consagrados na
Constituição da República Portuguesa.
DO MESMO MODO,
17) o Tribunal a quo, decidiu bem, ao decidir “(…)
pela falta de fundamentação do despacho de
reversão da execução fiscal contra o Alegante, uma
vez que o mesmo, não faz qualquer referência aos
pressupostos da responsabilidade subsidiária
exercício da culpa pela insuficiência do património
social.”.
18) Como se alcança do regime legal de
fundamentação que incide genericamente sob a
prática de actos administrativos tributários, a
fundamentação da decisão está sujeita a um
apertado mecanismo (cfr. art. 77º da LGT).
19) Exigência que bem se compreende, face à
necessidade de facultar aos contribuintes
administrados a formação de um juízo consciente
sobre a conveniência, ou não, de impugnar o acto e
da garantia da transparência e da ponderação da
actuação da administração fiscal assegurando a
possibilidade de controle hierárquico e jurisdicional
do acto.
20) Nestas circunstâncias, a fundamentação deve
dar a conhecer ao interessado o itinerário
cognoscitivo e valorativo seguido pelo Autor da
decisão, sendo certo que se a fundamentação não
esclarecer a motivação do acto por obscuridade,
contradição ou insuficiência, o acto considera-se não
fundamentado (cfr. art. 77º da LGT e art. 125º do
CPA).
21) A A.T. não procurando obter outros como era
sua obrigação, A.F. promoveu o acto de reversão
contra o aqui Alegante.
22) Em rigor, a A.F. limitou-se a verificar
documentalmente a qualidade de gestor nominal do
obrigado subsidiário, e constatada a qualidade de
gestor de direito, limitou-se a reverter a execução,
sem alegar e provar um único facto que pudesse
demonstrar o exercício efectivo e de facto da
gerência da sociedade «B…………, LDA.”, por parte
do Alegante.
23) Este comportamento omisso radica
[presumivelmente] na putativa presunção de que a
gerência de direito faz presumir a gerência de facto,
o que terá “dispensado” a A.F. de alegar e provar
factos demonstrativos de que para além da gerência
de direito, o Alegante praticou actos próprios nessa
qualidade, implicando, assim, que a A.F. não
demonstrasse o efectivo exercício da gerência.
24) Não gozando a A.F. de qualquer presunção
legal, cabe-lhe alegar e demonstrar factos que
comprovem o exercício de facto da gerência pelo
aqui Alegante, pressuposto que, de resto, entronca
no dever geral de fundamentação a que a A.F. está
obrigada ao prolatar o despacho de reversão, tal
como estabelece o art. 23º n.º 4 da LGT.
25) Pois bem, lendo e relendo o despacho de
reversão, a A.F. limita-se a invocar a qualidade de
gerente nominal do Alegante, sem invocar um único
facto demonstrativo do exercício efectivo da
gerência, postergando, assim, o dever de prova (cfr.
art.74º, n.º 1 da LGT) a par do dever geral de
fundamentação (cfr. arts. 23º, n.º 4 e 77º da LGT),
pelo que é ilegal o despacho de reversão, quer pela
violação clara do dever de fundamentação, quer pela
inexistência dos pressupostos formais legitimantes
da presente reversão.
E AINDA,
26) a A.F., não logrou fundamentadamente
demonstrar a insuficiência dos bens da devedora
originária.
27) Quando, por imposição do ónus da prova, bem
como por via do dever geral de fundamentação que
sobre ela impende, deveria ter demonstrado de
modo justificativo que a devedora originária não
disponha de bens em quantidade suficiente para
satisfação do crédito tributário.
28) A Administração Tributária, deveria ter apurado o
valor total dos bens da devedora principal, e só na
hipótese de o valor total da divida tributária
apresentar um valor superior ao valor total dos bens
da devedora originária, é que deveria concluir pela
insuficiência do património societário, e em
consequência, determinar a reversão da execução
fiscal, contra o responsável subsidiário.
29) e, tendo em atenção a fundamentação
apresentada pela A.F., só pode concluir-se que os
factos que sustentam o acto de reversão, não são
claros nem suficientes para legitimar as conclusões
extraídas pela A.F..
30) Não são claros nem suficientes, na medida em
que as afirmações da A.F. não deixam perceber com
suficiente clareza e certeza as razões porque se
decidiu pela reversão da execução fiscal contra o
aqui Alegante,
31) pois, não esclarecem devidamente o contribuinte
interessado da alegado e presumida gerência de
facto, bem assim, da inexistência de bens no esfera
patrimonial da devedora originária, não lhe
possibilitando conhecer o itinerário cognoscitivo e
valorativo seguido pelo Autor do acto a que se opõe.
32) Assim, em face da retórica argumentativa
antecedente estamos perante um vício da
fundamentação, susceptível de à luz da al. c) do art.
99º do CPPT afectar a validade intrínseca do acto
tributário, em que se traduz o acto de reversão da
execução fiscal, que conduz à anulabilidade do acto
por vício de forma, e sendo anulado não poderá
manter-se na Ordem Jurídica.
Encurtando razões
33) deverá manter-se a decisão recorrida,
concluindo-se pela procedência da oposição e
declarando-se, em consequência a extinção da
execução fiscal relativamente ao aqui Alegante.
Assim, determinando a anulação do despacho de
reversão e confirmando a decisão proferida pelo
Tribunal “a quo”, farão V. Ex.as inteira e sã JUSTIÇA!

1.4. O MP emite Parecer nos termos seguintes:


«FUNDAMENTAÇÃO
Questões decidendas:
1ª Inconstitucionalidade da norma constante do art.
8º nº 1 RGIT
2ª Falta de fundamentação do despacho de reversão
1. Primeira questão decidenda
Foi apreciada e resolvida no acórdão do Plenário do
Tribunal Constitucional nº 437/2011, 3 outubro 2011
(disponível emwww.tribunalconstitucional.pt) o qual,
pondo termo a prolongada controvérsia jurídica, se
pronunciou no sentido de não julgar inconstitucional
o artigo 8º, nº 1, alíneas a) e b). do RGIT, quando
interpretado no sentido de que consagra uma
responsabilidade pelas coimas que se efectiva pelo
mecanismo da reversão da execução fiscal, contra
gerentes ou administradores da sociedade
devedora
A doutrina do acórdão:
a) alinha com anterior jurisprudência do Tribunal
Constitucional, expressa nos acórdãos n.ºs
129/2009, 12 março 2009; 150/2009, 25 março 2009
(sobre norma de idêntica redacção constante do art.
7º-A RJIFNA)
b) foi posteriormente reiterada nos acórdãos nº
561/2011, 22 novembro 2011 (sobre norma de
idêntica redacção constante do art 7º-A RJIFNA);
249/20 12, 22 maio 2012
c) proclama como pressupostos fundamentais do
juízo de não inconstitucionalidade formulado:
- a natureza civil da responsabilidade subsidiária dos
gerentes ou administradores consagrada no artigo
8º, n° 1 do RGIT, radicada no dano provocado à
administração tributária por uma actuação culposa
que impossibilitou o pagamento das coimas devidas;
- a adequação do mecanismo da reversão para a
efectivação da responsabilidade civil subsidiária por
aplicação da norma constante do art. 23º nº 1 LGT;
- o funcionamento do mecanismo legal da reversão
da execução com observância de um processo
equitativo e do direito de defesa através do exercício
do contraditório, mediante:
- a atribuição à administração tributária do ónus de
alegação e prova da actuação culposa dos
administradores e gerentes
- a precedência de audição do responsável
subsidiário e a declaração fundamentada dos
pressupostos e extensão da reversão, a incluir na
citação (art. 23º nº 4 LGT)
A jurisprudência do STA consolidou o entendimento
de que, antes do início da vigência da Lei nº 3-
B/2010, 28 abril que conferiu a actual redacção ao
art. 148º nº 1 al. c) CPPT, o processo de execução
fiscal não era o meio processual adequado à
cobrança coerciva de quantia emergente da
responsabilidade civil dos gerentes pelas coimas
aplicadas às sociedades (cf. acórdãos STA-SCT
20.02.2013 processo nº 808/12; 16.01.2013
processo nº 312/12; 21.11.2012 processo nº
1176/11; 11.07.2012 processo nº 824/12)
No caso concreto acresce à impropriedade do meio
processual a omissão de referência à culpa do
gerente revertido na insuficiência do património da
sociedade para pagamento da coima e ao
fundamento normativo correspondente (art. 8º nº 1
als. a) e b) RGIT)
2. Segunda questão decidenda
Quadro normativo: arts. 23º nºs 2 e 4, 24º nº 1 e 77º
nº 1 LGT; art. 153º nº 2 CPPT
Argumentário
1º A responsabilidade subsidiária efectiva-se por
reversão do processo de execução fiscal (art. 23º nº
1 LGT)
O despacho de reversão dá início ao procedimento
para efectivação da responsabilidade subsidiária;
sendo um acto administrativo tributário, o despacho
de reversão está sujeito a fundamentação, como
corolário do princípio constitucional da
fundamentação expressa e acessível dos actos
administrativos (art. 268º nº 3 CRP; arts. 23º nº 4 e
77º nº 1 LGT)
2º São pressupostos da responsabilidade subsidiária
(arts. 23º nº 4 e 24 nº 1 LGT):
- a inexistência ou fundada insuficiência dos bens
penhoráveis do devedor principal, dos responsáveis
solidários e seus sucessores (art. 23º nº 2 LGT; art.
153º nº 2 CPPT);
- o exercício efectivo do cargo nos períodos
relevantes de verificação do facto constitutivo da
dívida tributária ou do prazo legal de pagamento ou
entrega (art. 24º nº 1 LGT)
3º Enquanto acto administrativo tributário o
despacho de reversão deve incluir igualmente a
indicação das normais legais que determinam a
imputação da responsabilidade subsidiária ao
revertido, por forma a permitir-lhe o eventual
exercício esclarecido do direito de defesa (art. 77 nº
1 LGT)
4º A fundamentação formal do despacho de
reversão deve bastar-se com a mera alegação dos
pressupostos e extensão temporal da
responsabilidade subsidiária (art. 23º nº 4 LGT)
5º Em caso de discordância o revertido exercerá o
direito de defesa mediante dedução de oposição
onde, de acordo com as regras de repartição do
ónus da prova aplicáveis às distintas situações das
previsões legais:
- incumbe à administração tributária comprovar a
alegação de exercício efectivo do cargo e a culpa do
revertido na insuficiência do património da pessoa
colectiva ou ente fiscalmente equiparado para a
satisfação da dívida tributária, quando esta se tenha
constituído no período de exercício do cargo ou cujo
prazo legal de pagamento ou entrega tenha
terminado após aquele exercício (art. 24º nº 1 a)
LGT)
- incumbe ao revertido comprovar que não lhe é
imputável a falta de pagamento pelas dívidas
tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega
tenha terminado no período de exercício do cargo
(art. 24º nº 1 al. b) LGT)
6º A jurisprudência do STA-SCT pronunciou-se no
sentido propugnado quanto ao conteúdo da
fundamentação do despacho de reversão (acórdãos
STA-SCT 31.10.2012 processo nº 580/12;
23.01.2013 processo nº 953/12)
No caso concreto a fundamentação formal do
despacho de reversão contém expressa referência
ao fundamento normativo, em termos que tornam
inequívoca a imputação ao revertido da qualidade de
responsável subsidiário (art. 24º nº 1 al. b) LGT)
O fundamento normativo enunciado contém uma
presunção de culpa do gerente na insuficiência do
património da sociedade para pagamento da quantia
exequenda, sendo dispensável a sua invocação
expressa no despacho de reversão; o revertido
poderá ilidir a presunção na oposição à execução
Neste contexto o processo deve ser devolvido ao
tribunal recorrido para apreciação da questão
prejudicada: ilegitimidade substantiva do oponente
por ausência de responsabilidade pelo pagamento
da dívida exequenda (art. 204º nº 1 al. b) CPPT)
CONCLUSÃO
O recurso merece provimento parcial.
A sentença impugnada deve ser revogada e
substituída por acórdão com o seguinte dispositivo:
- declaração de constitucionalidade das normas
constantes do art. 8º nº 1 RGIT;
- declaração de existência de fundamentação formal
do despacho de reversão, na parte respeitante a IVA
e IRS;
- devolução do processo ao tribunal recorrido para
apreciação da questão prejudicada da legitimidade
substantiva do oponente»

1.5. Corridos os vistos legais, cabe decidir.

FUNDAMENTOS
2. Na sentença recorrida julgaram-se provados os
factos seguintes [ora se rectificando o erro de escrita
constante da al. F) infra, pois que, como logo se
constata pelo carimbo aposto na PI ali mencionada,
a oposição foi apresentada em 5/2/2010 e não em
5/2/2012, como, claramente por erro, na predita
alínea se fez constar].
A). Pelo Serviço de Finanças do Porto 4 foi
instaurado contra a sociedade “B…………, Lda.”, o
processo de execução fiscal nº 3387200801067826
e aps., para cobrança de dívidas provenientes de
IRS, IVA e Coimas Fiscais, do ano 2008, no valor
total de 4.011,16 €, cf. P.E. junto aos autos.
C). Por despacho de 05/01/2010, a execução supra
identificada em a) veio a reverter contra o aqui
oponente, na qualidade de responsável subsidiário,
com os seguintes fundamentos, que melhor constam
das decisões de fls. 10 dos autos:
“Face às diligencia de fls. _______, e estando
concretizada a audição do(s) responsável(veis)
subsidiário(s), prossiga-se com a reversão da
execução fiscal contra A………… contribuinte
………, morador em PCT ……… …….. …… …… -
PORTO - 4100-…… PORTO na qualidade de
Responsável Subsidiário, pela dívida abaixo
discriminada.
Atenta a fundamentação infra, a qual tem de constar
da citação, proceda-se à citação do(s) executado(s)
por reversão, nos termos do Art. 160º do C.P.P.T
para pagar no prazo de 30 (trinta) dias a quantia que
contra si reverteu sem juros de mora nem custas (nº
5 do Art. 23º da L.G.T., cf. fls. 10 do PE junto aos
autos.
(…)”
D). Da nota de citação por reversão consta como
fundamentos da reversão “Inexistência ou
insuficiência de bens penhoráveis do devedor
principal e responsáveis solidários, sem prejuízo do
benefício da excussão (art. 23º nº 2 da LGT).
Dos administradores, directores, ou gerentes e
outras pessoas que exerçam, ainda que somente de
facto, funções de administração ou gestão em
pessoas colectivas e entidades fiscalmente
equiparadas por não terem provado não lhes ser
imputável a falta de pagamento da dívida, quando o
prazo legal de pagamento/entrega da mesma
terminou no período de exercício do cargo (art.
24º/nº1/b) LGT)”, cf. fls. 12 do P.E. junto aos autos.
E). O oponente foi citado para a execução em
07/01/2010, cf. fls. 11 verso do P.E. junto aos autos.
F). A presente oposição foi apresentada em
05/02/2012, cf. fls. 1 dos autos.

3.1. Enunciando como questões a decidir as que se


prendem com a falta de fundamentação do
despacho de reversão, a (i)legitimidade do oponente
e a (in)constitucionalidade da reversão das coimas,
a sentença começou por apreciar, desde logo, esta
última, na parte em que a dívida em execução
respeita a dívida por coimas; e apelando a
jurisprudência do STA, veio a concluir que na
execução fiscal, a reversão, nos termos do art. 8° do
RGIT, por dívidas de coimas, contra os gerentes ou
administradores dos executados originários, é
inconstitucional, por violação dos princípios da
intransmissibilidade das penas, da presunção de
inocência e da violação dos direitos de audiência e
defesa.
E apreciando, em seguida, a invocada falta de
fundamentação do despacho de reversão
(fundamento de oposição subsumível à previsão da
al. l) do n.º 1 do art. 204.º do CPPT, concluiu que tal
despacho não está fundamentado, pois que, além de
não referir em que qualidade o ora oponente é
revertido, aludindo-se apenas à inexistência de bens
penhoráveis, também nada é dito quanto à
existência de culpa pela insuficiência do património
social ou pelo não pagamento das obrigações
tributárias, nem quanto às eventuais disposições
legais em que a AT fundamenta a responsabilidade
subsidiária dos oponentes — apenas é feita uma
referência ao art. 23.º n.º 2 e ao art. 24º, ambos da
LGT; mas não sendo nunca mencionada na
fundamentação qualquer referência à qualidade de
gerente (apenas a transcrição do preceito legal) e à
culpa, não pode o revertido conhecer quais os
verdadeiros fundamentos por que a AT entendeu
responsabilizá-los pelas dívidas exequendas. Ou
seja, nada é dito quanto ao pressuposto da culpa do
oponente.
E, face à procedência deste fundamento da
oposição, a sentença julgou, consequentemente,
prejudicado o conhecimento das demais questões
suscitadas (art. 660.º, n.º 2 do CPC).

3.2. Discorda a recorrente Fazenda Pública,


alegando, como se viu, que, quanto à questão da
inconstitucionalidade, o erro de julgamento decorre
desde logo do facto de a sentença ignorar a mais
recente jurisprudência do T. Constitucional e do STA
e, quanto à questão da falta de fundamentação, o
erro de julgamento se verifica em dupla vertente: a
fundamentação existe e ainda que não existisse,
jamais poderia ter como consequência a extinção da
execução fiscal, como foi determinado na sentença;
sendo que, além disso, embora o segmento
decisório se refira exclusivamente a «coimas
fiscais», tratar-se-á, certamente, de mero erro de
escrita, já que consta do intróito e do segmento
probatório que o processo executivo inclui também
dívidas de IRS e IVA.

3.3. As questões a decidir são, portanto, as de saber


a norma constante do art. 8.º do RGIT é
inconstitucional e se há, no caso, falta de
fundamentação do despacho de reversão.
Vejamos.

4.1. Salienta-se, antes de mais, que apesar de


recorrente Fazenda Pública se referir (na Conclusão
K das alegações do recurso) a um eventual erro de
escrita no segmento decisório da sentença, não se
nos afigura que tal erro ocorra.
Na verdade a circunstância de a sentença referir,
quer no respectivo relatório, quer na al. A) do
Probatório, que a execução é instaurada para
cobrança de dívidas de Coimas Fiscais, IVA, IRS
não permite, sem mais, concluir pela ocorrência do
dito erro de escrita.
É que, apesar de terem sido alegados vários
fundamentos de oposição (falta de fundamentação
do despacho de reversão, ilegitimidade do oponente,
inconstitucionalidade do art. 8º nº 1 do RGIT) a
sentença começou por logo apreciar esta questão da
(in)constitucionalidade da reversão das coimas
(questão que, necessariamente, interessaria apenas
a parte da dívida exequenda emergente das ditas
coimas fiscais) julgando procedente esse
fundamento da oposição e só em seguida, face a tal
julgamento, passou à apreciação da questão da
fundamentação do despacho de reversão (a
apreciação da restante questão, atinente à
(i)ilegitimidade, veio a ser considerada prejudicada
em face do sentido da decisão quanto às demais
questões).
Ora, assim sendo, compreende-se que a sentença
tenha, no segmento da decisão em que a Fazenda
Pública considera haver erro de escrita, determinado
a «extinção da execução fiscal … relativa às Coimas
Fiscais», ou seja, na parte relativa às coimas fiscais,
e tenha, quanto ao mais, determinado a anulação do
«… respectivo despacho de reversão da execução
fiscal». É que, quanto à restante dívida exequenda
(proveniente de IRS e IVA), procedendo a oposição
por se ter considerado que o despacho de reversão
não está fundamentado, apenas caberia, como fez a
sentença, determinar-se a anulação do próprio
despacho de reversão, mas não já determinar-se a
extinção da execução.
Ou seja, do próprio contexto da declaração
claramente se constata que não ocorre o erro
material invocado.

4.2. Importa, então, apreciar a primeira questão


supra enunciada: a que se prende com decidida
«(in)constitucionalidade da reversão das coimas».
4.2.1. A sentença conclui pela procedência da
oposição, no que toca à dívida de coimas fiscais,
afirmando a inconstitucionalidade do n.º 1 do art. 8.º
do RGIT, em adesão à tese adoptada pelo STA nos
acórdãos proferidos em 8/9/2010, no proc. n.º
0185/10 e em 10/11/2010, no proc. n.º 0767/10, ou
seja, concluindo que a reversão feita em execução
fiscal, nos termos do art. 8.º do RGIT, de dívidas de
coimas, contra os gerentes ou administradores dos
executados originários, é inconstitucional, por
violação dos princípios da intransmissibilidade das
penas, da presunção de inocência e da violação dos
direitos de audiência e defesa.
Do assim decidido discorda a Fazenda Pública,
advogando que a actual jurisprudência do Tribunal
Constitucional e do STA se consolidou no sentido da
não inconstitucionalidade do art. 8.º do RGIT.
E tem razão nessa discordância.
Com efeito, na sequência da prolação do acórdão do
Plenário do Tribunal Constitucional n.º 437/2011,
proferido no processo n.º 206/10, no qual, pondo-se
termo a prolongada controvérsia jurídica, se julgou
não ser «inconstitucional a norma do artigo 8.º n.º 1
do RGIT, quando interpretado no sentido de que
consagra uma responsabilidade pelas coimas, que
se efectiva pelo mecanismo da reversão da
execução fiscal, contra gerentes ou administradores
da sociedade devedora», também a jurisprudência
do STA se alterou, por referência a essa
jurisprudência mais qualificada em termos de
controlo da constitucionalidade das normas,
passando, então, a acolher-se aquela posição,
porque adoptada em formação plenária, conforme
pode ver-se dos acórdãos proferidos em 19/4/2012,
no proc. n.º 1216/09, em 21/11/2012, no proc. n.º
1176/11, em 9/1/2013, no proc. n.º 1187/12, em
16/1/2013, no proc. n.º 312/12, em 30/1/2013, no
proc. n.º 1036/12, em 26/06/2013, no proc. n.º
554/13 e em 9/4/2014, no proc. n.º 0341/13,
Aliás, como bem refere o MP, aquela jurisprudência
constitucional foi posteriormente reiterada nos
acórdãos do T.Constitucional n.º 561/2011, de
22/11/2011 (sobre norma de idêntica redacção
constante do art. 7.º-A RJIFNA) e n.º 249/2012, de
22/5/2012, proclamando-se como pressupostos
fundamentais do juízo de não inconstitucionalidade
formulado, (i) a natureza civil da responsabilidade
subsidiária dos gerentes ou administradores
consagrada no art. 8.º, n.º 1, do RGIT, radicada no
dano provocado à AT por uma actuação culposa que
impossibilitou o pagamento das coimas devidas; (ii)
a adequação do mecanismo da reversão para a
efectivação da responsabilidade civil subsidiária por
aplicação da norma constante do art. 23.º, n.º 1, da
LGT; (iii) o funcionamento do mecanismo legal da
reversão da execução com observância de um
processo equitativo e do direito de defesa através do
exercício do contraditório mediante a atribuição à AT
do ónus de alegação e prova da actuação culposa
dos administradores e gerentes, e mediante, por
outro lado, a precedência de audição do responsável
subsidiário e a declaração fundamentada dos
pressupostos e extensão da reversão, a incluir na
citação (art. 23.º, n.º 4, da LGT).
Em suma, porque o juízo de não
inconstitucionalidade do art. 8.º do RGIT se
apresenta como orientação jurisprudencial mais
recentemente consolidada do STA, há que decidir
aqui também nesse mesmo sentido, ou seja, pela
não inconstitucionalidade daquele normativo, face
até ao disposto no n.º 3 do art. 8.º do CCivil.
Revogando-se, portanto, nesta parte, a sentença
recorrida.

4.2.2. E apesar de o MP também agora alegar que


antes do início da vigência da Lei n.º 3-B/2010, de
28/4, que conferiu a actual redacção ao art. 148.º,
n.º 1, al. c), do CPPT, o processo de execução fiscal
não era o meio processual adequado à cobrança
coerciva de quantia emergente da responsabilidade
civil dos gerentes pelas coimas aplicadas às
sociedades (cf. os acórdãos proferidos em
20/2/2013, no proc. n.º 808/12 e em 11/7/2012, no
proc. n.º 824/12) e que, no caso concreto, acresce,
ainda, à impropriedade do meio processual, a
omissão de referência à culpa do gerente revertido
na insuficiência do património da sociedade para
pagamento da coima e ao fundamento normativo
correspondente (art. 8.º n.º 1 als. a) e b) do RGIT), o
que é verdade é que nenhuma destas questões
(impropriedade do meio e falta de fundamentação do
despacho de reversão, nesta vertente da falta de
indicação do normativo legal para a reversão da
dívida emergente de coima fiscal) fora anteriormente
suscitada, pelo oponente ou pelo MP em 1ª instância
(o MP limitou-se, a fls. 35, a requerer que se
diligenciasse por apurar qual a natureza da dívida
exequenda em causa e, posteriormente, no Parecer
de fls. 46/49 não suscita qualquer questão nessa
matéria) e o oponente invoca apenas a falta de
fundamentação do despacho de reversão, mas
numa perspectiva global e relacionada com os arts.
268.º n.º 3 da CRP, 123º, 125.º e 214.º do CPA, 22.º,
n.º 4, 23.º nº 4, 74.º, n.º 1 e 77.º, da LGT, mas nada
alegando quanto à específica fundamentação
relativa à culpa do gerente revertido na insuficiência
do património da sociedade, para pagamento da
coima e ao fundamento normativo correspondente
(art. 8.º n.º 1 als. a) e b) do RGIT).
Acresce que, não obstante nas contra-alegações e
nas respectivas conclusões do recurso o
recorrido/oponente invoque agora a
inconstitucionalidade do art. 8.º do RGIT [por
violação dos princípios constitucionais (i) da
intransmissibilidade das penas, (ii) dos direitos de
audição e defesa, (iii) da presunção de inocência,
(iv) da necessidade de qualquer restrição aos
direitos fundamentais, (v) e da culpa, da igualdade e
da proporcionalidade], também aí não suscita a falta
de fundamentação do despacho de reversão,
naquela mencionada vertente específica.
Ora, não se negando que o Ministério Público pode,
em 1ª instância, arguir vícios do despacho de
reversão que não tenham sido arguidos pelo
oponente (cfr. acs. do STA, de 31/10/2012, proc. n.º
0948/12 e de 15/5/2013, proc. n.º 01021/12) no
caso, aqueles vícios ora apontados no Parecer do
MP, não foram ali arguidos, pelo que, não sendo de
conhecimento oficioso, não podem agora ser
apreciados.

4.3. Quanto à questão da falta de fundamentação do


despacho de reversão.
4.3.1. A sentença considera, quanto a esta matéria,
que o despacho de reversão não está
fundamentado, pois que, além de não referir em que
qualidade o oponente é revertido (no despacho
alude-se apenas à inexistência de bens
penhoráveis) também nada se refere nem quanto à
existência de culpa pela insuficiência do património
social ou pelo não pagamento das obrigações
tributárias, nem quanto às eventuais disposições
legais em que a AT fundamenta a responsabilidade
subsidiária do oponente — apenas é feita uma
referência ao art. 23.º n.º 2 e ao art. 24º, ambos da
LGT.
E mais se considera na sentença que, não tendo a
fundamentação feito qualquer referência à qualidade
de gerente (apenas se procede a mera transcrição
do preceito legal) e à culpa, então não pode o
revertido conhecer quais os verdadeiros
fundamentos por que a AT entendeu responsabilizá-
los pelas dívidas exequendas.
Discordando, a Fazenda Pública sustenta que a
decisão da reversão está fundamentada com base
no art. 160.º do CPPT, no art. 23.º, n.ºs 2 e 4 e no
art. 24.º, n.º 1, al. b), ambos da LGT, na sequência
de informação que sustenta aquela decisão e da
qual decorrem os respectivos pressupostos da
reversão.
Vejamos.

4.3.2. Refira-se, em primeiro lugar, que as razões já


acima aduzidas para infirmar a alegação de
existência de erro de escrita, são também aplicáveis
no que respeita à alegação (constante das
Conclusões S e T) de que, por estar em causa um
vício de fundamentação do despacho de reversão,
dele apenas poderá advir a anulação do acto (por
força do art. 135.º do CPA), não havendo obstáculo
à sua renovação, desde que observado o formalismo
em falta, ou seja, desde que expurgado do vício que
o afectava.

4.3.3. Quanto ao mais, não sofre dúvida que a


responsabilidade subsidiária se efectiva por reversão
do processo de execução fiscal (n.º 1 do art. 23.º da
LGT) e que este despacho de reversão, sendo um
acto administrativo tributário, está sujeito a
fundamentação (art. 268.º n.º 3 da CRP; arts. 23.º
n.º 4 e 77.º nº 1, da LGT).
E sendo pressupostos da responsabilidade
subsidiária (arts. 23.º n.º 4 e 24.º n.º 1, da LGT) a
inexistência ou fundada insuficiência dos bens
penhoráveis do devedor principal, dos responsáveis
solidários e seus sucessores (art. 23.º n.º 2 da LGT;
art. 153.º n.º 2 do CPPT), bem como o exercício
efectivo do cargo nos períodos relevantes de
verificação do facto constitutivo da dívida tributária
ou do prazo legal de pagamento ou da respectiva
entrega (art. 24.º n.º 1 da LGT), então o despacho
de reversão, enquanto acto administrativo tributário,
deve, em termos de fundamentação formal, incluir a
indicação das normas legais que determinam a
imputação da responsabilidade subsidiária ao
revertido, por forma a permitir-lhe o eventual
exercício esclarecido do direito de defesa (nº 1 do
art. 77.º da LGT), e deve incluir, igualmente, a
declaração daqueles pressupostos e referir a
extensão temporal da responsabilidade subsidiária
(art. 23º nº 4 LGT). Daí que, em consonância com
este normativo, se tenha afirmado, no acórdão do
Pleno desta Secção do STA, proferido em 16/10/13,
0458/13, que a fundamentação formal do despacho
de reversão se basta com a alegação dos
pressupostos e com a referência à extensão
temporal da responsabilidade subsidiária que está a
ser efectivada, «não se impondo, porém, que dele
constem os factos concretos nos quais a AT
fundamenta a alegação relativa ao exercício efectivo
das funções do gerente revertido.» (cfr., igualmente,
os acórdãos desta Secção do STA, de 31/10/2012,
proc. nº 580/12 e de 23/1/2013, proc. nº 953/12).
Sendo que, em caso de discordância, o revertido
exercerá o direito de defesa mediante dedução de
oposição onde, de acordo com as regras de
repartição do ónus da prova aplicáveis às distintas
situações das previsões legais:
(i) - incumbe à AT comprovar a alegação de
exercício efectivo do cargo e a culpa do revertido na
insuficiência do património da pessoa colectiva ou
ente fiscalmente equiparado para a satisfação da
dívida tributária, quando esta se tenha constituído no
período de exercício do cargo ou cujo prazo legal de
pagamento ou entrega tenha terminado após aquele
exercício (al. a) do n.º 1 do art. 24º da LGT);
(ii) - incumbe ao revertido comprovar que não lhe é
imputável a falta de pagamento pelas dívidas
tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega
tenha terminado no período de exercício do cargo
(al. b) do n.º 1 do art. 24º da LGT);
Retornando ao caso concreto dos autos, e como
bem salienta o MP, a fundamentação formal do
despacho de reversão, referindo a «Inexistência ou
insuficiência de bens penhoráveis do devedor
principal e responsáveis solidários, sem prejuízo do
benefício da excussão (art. 23º nº 2 da LGT)» e
referindo expressamente a al. b) do n.º 1 do art. 24.º
da LGT, satisfaz o requisito legal da referência ao
fundamento normativo, em termos que tornam
inequívoca a razão da imputação ao revertido da
qualidade de responsável subsidiário (dívidas
tributárias cujo prazo legal de pagamento ou entrega
tenha terminado no período do exercício do seu
cargo). E contendo esse indicado fundamento
normativo uma presunção de culpa do gerente na
insuficiência do património da sociedade para
pagamento da quantia exequenda, é dispensável a
invocação expressa de tal culpa, no despacho de
reversão, podendo, todavia, o revertido ilidir essa
presunção, na oposição à execução que porventura
venha a deduzir.
Em suma, o despacho de reversão aqui em questão,
deve ter-se como fundamentado (fundamentação
formal).
E, assim sendo, não pode, também nesta parte,
manter-se a sentença recorrida.

4.4. Como, para além destas questões da


inconstitucionalidade e da fundamentação do
despacho de reversão foi alegado outro fundamento
autónomo de oposição à execução (legitimidade
substantiva do oponente), cuja apreciação foi
julgada prejudicada face à procedência dos
restantes fundamentos de oposição, deve esta
prosseguir para apreciação da eventual procedência
daquele, visto que, atentando na factualidade que
vem provada, só pode concluir-se pela insuficiência
dessa mesma matéria de facto para conhecer, em
substituição, daquela questão da legitimidade.
Impõe-se, portanto, que os autos baixem à 1.ª
instância a fim de que o tribunal recorrido conheça
dessa questão que julgou prejudicada pela solução
dada ao litígio.

DECISÃO
Nestes termos, acorda-se em, dando provimento ao
recurso, revogar a sentença recorrida e
a) declarando constitucional a norma constante do
n.º 1 do art. 8.º do RGIT, julgar improcedente esse
alegado fundamento de oposição, na parte
respeitante às dívidas emergentes de coimas fiscais;
b) julgar improcedente o também alegado
fundamento de oposição substanciado na falta de
fundamentação do despacho de reversão, na parte
respeitante às dívidas emergentes de IRS e IVA;
c) ordenar a baixa do processo para prosseguimento
da oposição, nomeadamente para que se conheça
do mérito do restante fundamento (legitimidade
substantiva do oponente) cuja apreciação foi julgada
prejudicada, se a tanto nada mais obstar.
Custas pelo recorrido, sem prejuízo do apoio
judiciário que haja sido concedido, dado que contra-
alegou o recurso.
Lisboa, 29 de Outubro de 2014. - Casimiro
Gonçalves (relator) – Francisco Rothes – Dulce
Neto.

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