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do Nordeste do Brasil
(Capitanias de Pernambuco e Itamaracá nos Séculos XVI e XVII)
Recife
2001
SUMÁRIO
Resumo
Agradecimentos
Apresentação
Introdução............................................................................................................ 08
Capítulo I
Desenvolvimento da Arte da Navegação e
Reconhecimento do Oceano Atlântico.............................................................. 14
• No Velho Mundo
1. Conhecimentos Náuticos Portugueses..................................................17
• No Mar
2. Descobrindo o Oceano......................................................................... 33
Capítulo 2
A Conquista do Litoral Brasileiro.....................................................................43
1. Mapeamento do Litoral Brasileiro: Rotas Oceânicas e
Paragens Marítimas............................................................................ 45
2. Expedição Exploradora de 1501......................................................... 51
3. Primeira Associação entre a Coroa e Particulares:
Arrendamento da Exploração do Brasil (1502).................................. 54
4. Trinta Primeiros Anos: os europeus conhecem o Brasil.....................56
5. Novas Associações entre a Coroa e Particulares:
Criação das Capitanias........................................................................65
MAPAS
Capítulo 3
Portos, Barras e Ancoradouros no Nordeste do Brasil:
Do Rio São Francisco à Baía da Traição.......................................................... 72
• Nas Capitanias de Pernambuco e Itamaracá
1. Caracterização Geográfica do Litoral Nordestino................................ 75
2. Descrições e Ocupações....................................................................... 86
3. Relações de Portos e Ancoradouros..................................................... 92
Considerações Finais..........................................................................................105
Bibliografia.........................................................................................................109
Contatos com o Autor.........................................................................................114
2
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar o desenvolvimento da arte da navegação, praticada
pelos europeus desde o século XV, como ferramenta de implementação da expansão colonial européia.
Podemos dizer que, ao mesmo tempo em que era impulsionadora, a navegação era impulsionada pelo
alargamento do mundo conhecido.
Com os êxitos portugueses através da costa e ilhas atlânticas africanas, culminando com a
chegada à Índia; bem como com o êxito de Cristóvão Colombo, atingindo terras ao navegar para o
Ocidente, tudo isso ainda nos finais do século XV, vemos a partir do início do século XVI a
“construção” do Novo Mundo, representada pela tentativa de incluir aquele novo e vasto universo no
mundo conhecido pelos europeus. Se as idéias iam sendo construídas pouco a pouco, a economia e a
política integraram rapidamente o novo continente à ordem mundial, pois a exploração de fauna, flora e
população data desde os primeiros contatos. Assim, em meados do século XVI, menos de sessenta anos
depois de chegar ao novo continente, a Europa já o tinha integrado à geopolítica e à sua economia,
tornando-o em “paraíso” para os que colonizavam e “inferno” para os colonizados.
O conhecimento do mundo era cada vez mais complexo. Com as viagens no Atlântico Sul,
novas estrelas foram incluídas nos compêndios de astronomia. A navegação que um século antes
permitia quase que exclusivamente navegar às vistas da terra, agora era dotada de conhecimentos
astronômicos, fazendo com que os navios se localizassem em pleno alto-mar, mantendo seu curso.
Apesar de tudo, os naufrágios ainda eram freqüentes, pois as embarcações ainda eram precárias, e eram
aperfeiçoadas gradualmente. Todo esse desenvolvimento da navegação teve que ser adaptado ao contato
com os novos litorais. Escrivães, a bordo das esquadras, anotavam tudo que pudesse ser observado sobre
estas terras. Em seus escritórios, os cartógrafos transpunham os dados dos pilotos, capitães e escrivães,
para suas cartas e mapas, para que as novas partes da Terra passassem a fazer parte do mundo
conhecido. Tinham que localizar os acidentes geográficos, os locais onde se poderia aportar e descer em
terra. Onde se poderia encontrar água para abastecer as frotas e armadas. Pouco a pouco se conhece os
regimes de ventos e os regimes de correntes marinhas no lado ocidental do oceano. Essas informações
eram fundamentais para a navegação.
No final, vêm à tona aquelas informações tão caras aos primeiros exploradores destas áreas,
quase esquecidas no tempo, pois fica fácil passar por cima de detalhes ao se contar a história desde o
prisma do vencedor. As informações sobre o meio físico do litoral nordestino foram levantadas a peso de
ouro, para não dizer a peso de vidas humanas, nos inícios do processo exploratório. No entanto ao
olharmos para trás, nos dias atuais, parece um período de facilidades, iludidos que somos pelo véu do
sucesso português de conhecer e ocupar esta parte do mundo. As entrelinhas do processo ainda
estão presentes materialmente, concretamente, por estas terras. As praias, as enseadas, os deltas fluviais,
os próprios rios, ainda estão presentes aqui, esperando que se olhe para eles com olhos inquiridores,
perguntando a si mesmos, de que histórias foi palco aquele lugar.
3
Agradecimentos
contribuíram para a realização deste trabalho resultaria na elaboração de não singela lista de
convívio com mestres e amigos alicerçaram muitas e importantes bases para o exercício
do conhecimento.
e Marli, pelo empenho no atendimento, sempre que foi necessário tratar dos assuntos
4
Agradeço, de maneira muito especial, a Damiana Crivellare pelo apoio,
cunhadas, bem como a toda família Crivellare Gomes, pelo apoio, compreensão e confiança
Enfim, reparto com todos a felicidade de ter cumprido mais uma etapa na escola da
vida.
5
Apresentação
Este trabalho, uma dissertação para obtenção do grau de mestre, pretende analisar
Universidade Federal de Pernambuco. Por ocasião dos trabalhos arqueológicos, nos foi
européia no Brasil.
trabalho que tratasse a respeito do processo de adaptação dos europeus, ao meio físico
primeiros exploradores, diante dos novos problemas que surgiram a partir do contato com
6
dos professores doutores Marcos Albuquerque e Veléda Lucena (1998). Sentindo a
históricas primárias impressas, uma vez que os relatos dos cronistas e navegadores do
período tratado, assim como outros importantes documentos coloniais, como relações e
documentos têm ainda muitas faces a serem desvendadas, novas perguntas devem ser feitas
antes que se considerem esgotados. Para nos debruçarmos sobre estes documentos
longo do tempo, análises, impressões e opiniões a respeito do período tratado, o que nos é
de muita valia, permitindo balizar o empenho de acrescentar algo ao que já foi feito.
respeito do período colonial brasileiro, através da análise da interação do ser humano com o
meio, como relação capaz de produzir elementos importantes para a construção histórica
da sociedade brasileira.
7
Introdução
O estudo dos mares e oceanos, e das ligações intercontinentais que se fazem através
deles, recebeu um grande impulso a partir da década de 1950, através da obra de Fernand
esta vertente de estudos na escola francesa, desencadeando o interesse por estudos análogos
sobre o Atlântico.
(1504 – 1650), e também Frédéric Mauro, que publicou um estudo sobre as navegações
Estava aberto, portanto, esse ensejo histórico, somando-se à vasta historiografia dos
No ano que passou - que foi marcado pelas celebrações dos quinhentos anos do
publicações a respeito deste fato, em grande parte reedição de documentos antigos sobre
esta fase, mas também alguns estudos recentes sobre a expansão portuguesa. Na realidade,
desde 1992, com as celebrações dos quinhentos anos da travessia de Cristóvão Colombo,
8
entre essas publicações. Entre as edições de documentos antigos que foram reimpressos,
encontramos as Cartas de Duarte Coelho a El-Rei, edição organizada por José Antônio
Marítima, organizada por Bernardo Gomes de Brito, e que consiste em uma compilação de
América, Ásia e África, em 1998. Os relatos do alemão Hans Staden, que veio aventurar-se
no Brasil na primeira metade do século XVI, obra reeditada em rica edição, em 1999.
outros que, ainda agora, chegam às livrarias, impulsionados pelo interesse de novos
leitores, estudiosos ou não, sobre o assunto de nossa história colonial, suscitado pelas
a demanda por mais informações sobre nosso passado mais remoto, e põe novamente à
disposição documentos que já estavam quase inacessíveis nas coleções de referência das
Os estudos mais recentes publicados sobre o período, foram mais voltados para
da sociedade brasileira. Entre eles, encontramos a “tese” do abandono do Brasil por parte
de Portugal, ao longo dos primeiros trinta anos da colonização. Este conceito, a nosso ver,
deixa de ter sentido se nos debruçarmos sobre a documentação relativa ao período, e teria
9
sido uma ótima surpresa se este conceito tivesse sido contestado durante o período das
Fernandes Gama, Pereira da Costa, Aires de Casal e Varnhagen, acrescidos pelos estudos
navegações européias – como Sousa Viterbo, Carlos Malheiro Dias, Jaime Cortesão,
pelos estudos de Jorge Couto, António Silva Ribeiro, António Vasconcelos Saldanha -, e
ainda, dos franceses - como Pierre e Huguette Chaunu, Frédéric Mauro e Guy Martiniére,
acrescidos dos estudos de Laurent Vidal – necessita ser ainda discutida, para que haja uma
no Brasil. Esta produção tem de cumprir o papel de fomentar novas discussões, de lançar
como os de Jean de Léry, e Hans Staden, que trazem importantes informações a respeito da
travessia oceânica no período tratado; as cartas de doação do rei D. João III aos donatários
Gabriel Soares de Sousa; e o Livro que dá Razão do Estado do Brasil, de 1612, de Diogo
de Campos Moreno. Além destes documentos textuais, lançamos mão de dois mapas do
10
século XVI, quais sejam, o Planisfério de Cantino, de 1502, e a carta de Lopo Homem-
Procuramos nos ater a alguns aspectos da expansão européia, nos séculos XVI e
XVII, talvez pouco discutidos no Brasil, como é o caso dos aspectos técnicos relacionados
os europeus aos pontos mais distantes do globo, propiciando inclusive, a primeira viagem
apesar das várias conseqüências duvidosas, que se seguiram, quanto ao custo/benefício das
do século XV, com o gradual aprendizado proporcionado pela conquista das ilhas atlânticas
e da costa africana, num esforço que conjugou vários aspectos distintos, mas que logrou o
tomadas desde os primeiros contatos com as terras ocidentais, mas que, dada a aceleração
necessidade, por parte dos portugueses, de alterar o curso que estava sendo impresso ao
América Portuguesa, persiste desde a primeira década dos quinhentos, até a primeira
metade do século XVII, quando finalmente Portugal tem assegurada sua posse desta parte
do mundo.
11
No terceiro capítulo, procuraremos sistematizar uma série de informações a respeito
da aplicação dos avanços da arte de navegar ao litoral nordestino, mais especificamente aos
deverá ter sido necessário, por parte dos colonizadores, no processo de ocupação. Portanto,
procuraremos informar sobre a malha hidrográfica que compõe esta área, bem como
Por outro lado, a seqüência do texto procurará refazer a trajetória dos antigos
começando por abarcar todo o hemisfério ocidental, até conseguirmos enxergar a pequena
célula que representou Pernambuco e Itamaracá no vasto império colonial português dos
contribuir, ainda com o episódio das navegações, para ampliar um pouco a compreensão do
12
The period [fifteenth century], especially the earlier half of it,
is commonly called the Age of Discovery, and with reason.
Geographical exploration, however, is only one of many
kinds of discovery. The age saw not only the most rapid
extension of geographical knowledge in the whole of
European history; is saw also the first major victories of
empirical inquiry over authority, the beginnings of that close
association of pure science, technology, and everyday work
which is no essential characteristic of the modern western
world.
J. H. Parry
13
Capítulo 1
Desenvolvimento da Arte da Navegação e
Reconhecimento do Oceano Atlântico
NO VELHO MUNDO
1. Conhecimentos Náuticos Portugueses
NO MAR
2. Descobrindo o Oceano
desde o século XV, ao qual estão ligados os processos subseqüentes de conquista da África,
amplas e variadas raízes, ocupando seu lugar na história da Humanidade por responder a
Está fundada em meios que são antes de tudo econômicos, mas entre esses meios
não podemos esquecer a experiência acumulada por incontáveis gerações de indivíduos que
buscaram e encontraram; outros que fracassaram, que tomaram caminhos errados, que
naufragaram. Seria como dizer que o risco das conquistas esteve acompanhado de idéias
que eram aceitas, muitas vezes ilusórias, e a herança dessas aventuras só aparece na história
quando os seus frutos fazem jus às hipóteses levantadas por seus protagonistas.
1
FAVIER, Jean. Los Grandes Descubrimientos: de Alejandro a Magallanes. México: Fondo de Cultura
Económica, 1995, pág. 8.
14
A “tradição” de que nos fala Jean Favier, está no contexto das experiências
acumuladas, como mencionado acima, através de gerações que foram acrescendo novas
constatação empírica de que esses conhecimentos milenares não eram suficientes para
aprendizado, onde ao empirismo das tentativas e erros foi associado todo o aparato técnico
tomar partido por uma visão desses processos que privilegia um espaço e uma mentalidade
diante da dinâmica histórica dos acontecimentos. Relativizando essas exp ressões, podemos
dizer que o que ocorreu foi o “descobrimento do mundo” para a Europa, pois nem na
África, nem na Ásia, e tampouco na América, os povos estavam a espera dos navegantes
2
PINTO, João Rocha. “Imagem e Conhecimento da África” in Lisboa Ultramarina: 1415 - 1580: a
invenção do mundo pelos navegadores portugueses. Organizado por Michel Chandeigne. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1992, pág. 107.
15
Para buscarmos um melhor entendimento dos processos, teremos que recuar um
pouco mais no tempo, para ensejarmos a compreensão de alguns aspectos presentes nas
transformações pelas quais passou a Europa durante o longo processo que levou aos
continente europeu, a partir dos fina is da Idade Média, levando impulsos distintos às suas
diferentes regiões.
Então, com seus portos voltados para o Atlântico e com uma estrutura política capaz
de bancar tamanha ousadia, Portugal lança-se pelas costas da África em busca da rota para
o rico Oriente: as Índias. É um sinal dos tempos, pois em Portugal o poder real está
firmemente alicerçado na aliança com a burguesia e, como tal, une cada vez mais os
interesses mercantis com o fervor religioso. Enquanto isto, os reinos cristãos que viriam a
formar a atual Espanha estão em guerra contra o reino islâmico de Granada 4 até 1492.
importância desta conquista pode ser atestada por Paul Teyssier, como segue:
3
Corporação mercantil dos estados germânicos, que comercializavam as mercadorias orientais através dos
portos interiores (fluviais) do centro-norte europeu e dos portos dos mares do Norte e Báltico. As mercadorias
orientais eram-lhe fornecidas pelos comerciantes venezianos e genoveses.
4
Último enclave muçulmano na Península Ibérica.
16
A 21 de agosto de 1415, D. João I, rei de Portugal, à frente de uma
poderosa esquadra, apodera-se de Ceuta, cidade marroquina situada
na margem sul do estreito de Gibraltar. Essa conquista dá início, na
história portuguesa, ao período das navegações e dos
descobrimentos. Atravessando o estreito para tomar Ceuta, esse
monarca começa uma expansão que, em pouco mais de um século,
levará navegadores, comerciantes, administradores e missionários
portugueses através de imensas extensões do globo. 5
almirante Colombo, a serviço da Espanha, dava a notícia do que viria a ser chamado pelos
o mundo transforma-se cada vez mais rapidamente, pois assim como a Europa, os povos
NO VELHO MUNDO
a diversidade de elementos que contribuíram para que a obra das “grandes descobertas”
17
As águas do Mediterrâneo não ofereciam maiores perigos naturais aos navegadores,
haja vista que o conhecimento de seu meio físico foi alcançado desde a antiguidade. No
oceânica” do Atlântico, fazia-se mister desvendar os “segredos” a ele inerentes, tais como
mar aberto, desde o Mar do Norte, depois no Atlântico Sul, até que se conseguisse alcançar
mistérios e monstros.
7
BARROS, Rustom Lemos de. Obra citada, pág. 05.
18
atualizando-os a respeito dos ventos, correntes, marés, sondas e magnetismo nas mais
variadas regiões, que eram a partir de então incluídas no “mundo conhecido”. Todo o
esforço que foi despendido no intuito de consolidar estas informações, no dizer de António
das costas, usando-as como referência, e afastando-se delas apenas em rumos muito
seriam capazes de realizar tal façanha, mesmo no século XV, como nos mostra George
8
RIBEIRO, António Silva. A Hidrografia nos Descobrimentos Portugueses. Lisboa: Europa-América,
Coleção Biblioteca da História, 1994, pág. 23.
19
suficientes para financiar grandes viagens para longe das águas
costeiras, atravessando o oceano aberto 9 .
Zurara nos descreve a apreensão com que os mareantes 10 lusos se aproximavam do limite
sul de seu mundo conhecido, o Cabo Bojador 11, os chineses sob o governo do imperador
mais de quarenta países, em torno do Índico. Utilizando frotas de grandes juncos 12. Apesar
de seus conhecimentos técnicos, que poderiam tê- los levado a percorrer todo o mundo, as
Ao mesmo tempo, também os árabes com seus domínios abarcando desde a Ásia até
Deste modo, quando os portugueses, na sua grande aventura em busca das Índias,
Outros elementos que não apenas tecnológicos, combinados entre si, deram aos
9
WINIUS, G. “Exploradores Orientais”, História em Revista, v. As Viagens dos Descobrimentos, 1400-
1500, Rio de Janeiro: Time Life/Abril Livros, 1994.
10
Como eram chamados os trabalhadores do mar, os “homens do mar”.
11
Localizado na costa noroeste da África, no território do atual Saara Ocidental.
20
lutas contra os muçulmanos -, a ganâ ncia obstinada - representada pela busca incessante do
Ocorre que muitos destes elementos eram comuns a outros estados da Europa, no
corrida desenfreada, onde os prêmios almejados eram o monopólio das rotas de comércio,
mar. Desta forma, ao conquistarem em 1415 o rico porto comercial muçulmano do norte da
África, a cidade de Ceuta, esta operação militar pode ser vista como uma ação combinada
respeito são, muitas vezes, conflitantes, variando de uma apologia cega até a negação de
convencionou chamar Fase Henriquina da Expansão Portuguesa 13, teve por motivação,
12
Estes barcos eram muito grandes para a época, tendo um dos maiores já conhecidos, a capacidade de
transportar 1500 toneladas, e 135 metros de comprimento, necessitando de 500 homens para cuidar dos
cinco mastros, munidos de velas rígidas de bambu. (WINIUS, G. op. cit., pág. 31-32)
13
LEITE, Duarte. História dos Descobrimentos Marítimos, Lisboa: Edições Cosmos, 1958.
21
conquistas territoriais, associadas a interesses políticos e econômicos, sempre
acompanhados do zelo religioso e missionário. Os efeitos desta fase continuaram, como nos
Com estas conquistas, nas costas norte e noroeste do continente africano, Portugal
garantia o abastecimento de trigo, marfim, couros, algodão, ouro e “por fim numerosos
cativos de várias espécies [sic]. Os escravos foram um dos mais lucrativos negócios que
A conquista crescente das costas africanas, por parte dos lusitanos, está
Ibérica, com o Reino de Granada, e no Leste europeu, após a queda de Constantinopla, sob
forma, as rotas terrestres de acesso ao Oriente Médio pelos Bálcãs estavam fechadas, assim
14
LEITE, Duarte. Obra citada, pág. 68.
15
LEITE, Duarte. Obra citada, pág. 72.
16
Quando a cidade passa a ser chamada Istambul.
22
Como corredor comercial, o Mediterrâneo era utilizado desde a antigüidade pelos
porção mais oriental para os comerciantes cristãos. Durante este período, o caminho
percorrido pelos produtos que chegavam à Europa vindos do Oriente, iniciava cruzando o
seguindo nos navios mercantes até as cidades-estado de Gênova e Veneza. A partir destes
portos seguiam para o resto da Europa através dos rios centro-europeus ou cruzavam as
Colunas de Hércules 17 , rumo às costas atlânticas da Europa e ao Mar do Norte, levados nas
cristãos nas águas do Mediterrâneo oriental. Isto era devido à ação livre dos corsários e
piratas muçulmanos que, sem a oposição das esquadras do Império Bizantino que lhes
davam combate, atuavam livremente contra os navios mercantes europeus. Deste modo, as
potências comerciais, como Gênova e Veneza, bem como as cidades comerciais da Hansa
germânica entram num processo de declínio, ao mesmo tempo em que os portos atlânticos
marítimas, ressaltando que desde 1400, “os navegadores portugueses percorriam todos os
17
Como era denominado, pelos antigos, o Estreito de Gibraltar. Segundo alguns autores, seria a corruptela do
nome do conquistador árabe que cruzou o estreito quando da invasão da Península Ibérica, no século VII. Seu
nome Gabar-El-Tárik teria, com o tempo, adquirido a forma de Gibraltar.
23
mares conhecidos na época [pelos europeus], incentivando o comércio, colonizando e
fazendo descobrimentos”.18
do conhecimento clássico greco- latino, fazem com que as antigas idéias sobre a
Humanidade e o Universo dêem lugar a novas concepções, abrindo espaço para novas
mais acessíveis, trazendo à luz e disseminando o conhecimento que, havia séculos, estava
impressa em 1475. No entanto, quando esta obra chega a ganhar fama na Europa, em finais
do século XV, apesar do fascínio que causa, está quase obsoleta face as descobertas mais
das mais distintas nações. Assim, em Portugal, italianos, maiorquinos e alemães estão a
18
DREYER-EIMBCKE, Oswald. O Descobrimento da Terra: História e Histórias da Aventura
Cartográfica. São Paulo: Melhoramentos/EDUSP, 1992, pág. 84.
24
serviço do aperfeiçoamento da ciência náutica. Para esta “escola” é contratado o
funda a chamada Escola de Sagres, sobre a qual existem muitas polêmicas e controvérsias.
Sobre as polêmicas a respeito da “escola”, Duarte Leite cita outro grande estudioso do
caminhos para novas fontes de matérias-primas e novos mercados que pudessem dar
ao longo da costa ocidental da África e das ilhas Atlânticas ao longo do século XV. Assim a
19
LEITE, Duarte. Obra citada, pág. 124-125.
20
LEITE, Duarte. Obra citada, pág. 129.
21
DREYER-EIMBCKE. Oswald. Obra citada, pág. 84.
25
Ilha da Madeira é conq uistada em 1418; os Açores em 1427; o Cabo Bojador é ultrapassado
rumo ao sul em 1434; as Ilhas de Cabo Verde em 1444; o Cabo da Boa Esperança em 1488
missionário, já uma característica lusitana, parecia mais arraigado no espírito deste Infante,
detentor que era do título de Grão-Mestre da Ordem de Cristo. Como tal, havia assumido a
missão de estabelecer contatos com o reino lendário do Preste João, “que se imaginou
naquela época, situado na ´Índia Africana´” [atual Etiópia]23 . Este poderoso monarca
cristão, distante da cristandade conhecida, seria um grande aliado dos europeus contra os
muçulmanos e também um grande parceiro comercial, pois as lendas a respeito deste reino
Mediterrâneo até Alexandria, no Egito, para então descer o curso do Nilo - caminho para o
mítico reino do Preste João - restava ao Infante contornar o litoral africano e contatá- lo pelo
oriente. Portanto, por seu fervor religioso, o Infante tornou-se o grande defensor português
Por outro lado, a idéia portuguesa de contornar a África para atingir as Índias das
especiarias é atribuída, por Duarte Leite, ao reinado de D. João II após duas expedições: a
22
CHANDEIGNE, Michel (Org.). Lisboa Ultramarina: 1415 – 1580: a invenção do mundo pelos
navegadores portugueses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992, Anexo 1, pág. 242 e 243.
23
DREYER-EIMBCKE. Oswald. Obra citada, pág. 85.
26
fundamental importância para a consecução destes planos grandiosos, assim como o
aperfeiçoamento tanto dos mapas e das cartas de marear, quanto das construções navais,
mundo através dos tempos, pois neles encontramos representações e registros de aspectos
nos mapas, se começava a criar certas expectativas quanto a partes do globo ainda não
conhecimento do mundo por parte do homem, ela também teve o seu papel impulsionador
no processo de descoberta.
Até fins da Idade Média eram produzidos dois tipos de mapas: Aqueles que
atlântica da Europa.
era cristã. Ele demonstrou como uma imagem de um mundo redondo podia ser projetada
linhas horizontais eqüidistantes, que viriam a ser os atuais paralelos, que determinam as
27
latitudes. 24 A determinação das coordenadas de longitude, no entanto, só seria equacionada
impulso à nova era de descoberta do mundo. Começaram a ser produzidos mappae mundi
regiões do mundo - dos melhores caminhos de locomoção, bem como das formas de acesso
às diversas regiões - foi, quase sempre, tratado como segredo de Estado. Assim, a partir dos
estratégicas entre estados- nação destinadas a resguardar seus conhecimentos uns dos
outros.
eram extremamente estratégicos, sendo seus segredos necessários para a manutenção dos
Vários mapas passaram então, a ser produzidos com erros propositais, e até mesmo
o valor das medidas utilizadas era objeto de sigilo estatal, impedindo que fossem utilizados
com precisão por quem não os conhecesse ou tivesse a chave de seus desvios.
24
Embora algumas de suas medições se revelassem erradas mais tarde, seu método causou sensação e a
influência da GEOGRAFIA cresceu ao longo do século [XV]. In WINIUS, George. Mapas de um Mundo
em expansão. Ensaio in série História em Revista, v. Viagens de Descobrimento, 1400-1500, Rio de Janeiro,
Time Life / Abril Livros, 1994.
25
SOBEL, Dava. Longitude: a verdadeira história de um gênio solitário que resolveu o maior problema
científico do século XVIII. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.
28
No século XIII, provavelmente relacionado com a introdução da bússola na
os portos (voltado mais para a navegação que para interesses geográficos). Neles
Geralmente eram desenhados sobre pele bovina (em formato grande, que permitia
uma visão mais ampla, ou totalizante, já que mostrava em uma única face a representação
de uma grande área; ou em formato de atlas, que facilitava o manuseio, porém restringia a
base para a orientação náutica (muitas vezes, por medida de segurança, levava-se a bordo
um segundo exemplar, como reserva). O seu manuseio nos navios fazia com que se
por isso mesmo, preservados. No século XVI o termo portulano começou a ser utilizado
para designar qualquer coleção de instruções náuticas - com seus respectivos mapas.
26
DREYER-EIMBCKE, Oswald. O Descobrimento da Terra: História e Histórias da Aventura
Cartográfica, São Paulo, Melhoramentos / EDUSP, 1992. Pág. 71.
29
Com seus roteiros abarcando áreas cada vez mais distantes do mundo conhecido,
metade do século XV, que evoluiu sob esforços dos lusitanos e de alguns ibéricos ao seu
observado (como é o caso do astrolábio e do quadrante); e aqueles que davam esta altura
III e II a.C.; herdado posteriormente pelos gregos, o astrolábio chegou à Espanha através
dos Árabes. Este antigo instrumento, no entanto, teve que ser simplificado para uso nas
A balestilha não era conhecida dos mareantes portugueses do século XV, que a
século XV com o astrolábio, e seu uso foi se consolidando aos poucos, pois para a
27
FONTOURA DA COSTA, A. O Conhecimento Náutico dos Portugueses à Época dos Descobrimentos .
Lisboa: Agência do Ultramar, 1961, pág. 11.
30
navegação por rota e distância, os conhecimentos práticos apenas, passados de geração para
certa instrução, como nos informa António Silva Ribeiro, dizendo que “a metodologia do
ensino náutico deve-se ter mantido inalterável até meados do século XV porque permitia,
face ao âmbito e intensidade das actividades marítimas, preparar os pilotos para navegar
composto por dezoito capítulos que estipulam obrigações, taxa, penas, procedimentos
28
RIBEIRO, António Silva. A Hidrografia nos Descobrimentos Portugueses . Lisboa: Europa-América,
1994, pág. 33.
31
Assim, com o surgimento dos regimentos da navegação astronômica, foi
possibilitada uma maior autonomia na navegação por regiões ainda não conhecidas. Como
exemplos, podemos citar alguns destes regimentos: do Norte (estrela polar), utilizado para
navegação ao norte do Equador; do Sul (Cruzeiro do Sul), utilizado para navegação ao sul
ou Bússola. A primeira agulha azimutal é descrita por João de Lisboa (1514), ainda
descrita por Pedro Nunes (1537) e segundo Fontoura da Costa “devia já ser conhecida
século XV chamavam nordestear e noroestear, para descrever essa variação para leste ou
para oeste. Os termos Declinação (desvio magnético) e Desvio (desvio devido ao navio) e
Variação (soma da declinação e do desvio) “não foram empregados no sentido preciso que
variação da agulha?”, à qual ele nos responde “Problema assaz complexo, que nenhuma
mediterrâneos devem tê- la observado por volta do século XIV e os portugueses no XV.
29
FONTOURA DA COSTA, A. Obra citada, pág. 70.
30
FONTOURA DA COSTA, A. Obra citada, pág. 70.
32
NO MAR
2. Descobrindo o Oceano
portugueses, concorrem entre si, e algumas vezes aliaram-se, para conseguir o êxito
mercantil.
A idéia de contornar a África para atingir a Índia já era muito presente desde o
século XIII. Em 1291 partem de Gênova os irmãos Vivaldi (Ugolino e Vadino Vivaldi)
juntamente com Tedino Doria. O final da viagem está fixado: a Índia. Eles darão a volta na
Não se terá mais notícias deles, até que Antonietto Usodimare, em 1455, encontra
Vivaldi. Outros genoveses chegam em 1312 até as Ilhas Canárias. Em 1341, alguns deles,
havia explorado até então pensara em estabelecer-se nele. É isso que os franceses Jean de
31
FAVIER, Jean. Los Grandes Descobrimientos: de Alejandro a Magallanes . México: Fondo de Cultura
Económica, 1995.
32
FAVIER, Jean. Obra citada, pág. 320.
33
as tripulações e os camponeses que seriam os colonos, já nas ilhas, onde sucedem-se motins
a ir até uma latitude subtropical e atinge o Paralelo 26, já numa área em que as lendas
dizem que a água do mar ferve como em uma caldeira e que os marinheiros são sugados,
Cabo Bojador - também chamado de Cabo do Medo - é apenas o limite das correntes que
levavam até ali, sem demasiadas dificuldades, os barcos vindos do norte, ao largo da costa
africana.
Bojador, e desde deste ponto para o sul, encontrando correntes contrárias, os barcos
europeus teriam que fazer uma difícil escolha: retornar ou seguir para alto- mar, buscando
melhores condições de navegação para atingir o sul. Hoje nos parece fácil, mas Jean Favier
nos lembra: Jaume Ferrer, em 1346, pasó adelante. Nunca se le volvería a ver 33 . Se havia
de esperar até 1434 para que, com seu barco ligeiro e entrando mar adentro, cerca de umas
O grande feito português, portanto, não é ter cruzado aquela parte do Mar
Tenebroso e o Cabo do Medo, mas o feito de ter retornado dessa travessia. Outros já
haviam transposto aquela barreira, como vimos, mas é o português Gil Eanes que encontra
mais para dentro do oceano, os ventos do regresso. Jean Favier nos descreve, de maneira
33
FAVIER, Jean. Obra citada, pág. 327.
34
(...) ahora los navegantes portugueses dominan el sistema complejo
de los vientos y de las corrientes, constantes o estacionales, que
permiten ir y volver. Doblar el Cabo Bojador para encontrar al sur
las corrientes que permiten ir más allá, remontar al margen del
alisio para ir buscar en el noroeste los vientos y las corrientes de
oeste que, si el navegante es lo bastante valeroso para alcanzar en
el corazón del Atlántico la latitud de Lisboa, incluso la de Oporto,
empujam directamente hacia la costa portuguesa, eso es lo que los
marinos aprenden en los años 1440 que vem, con la aparición de
las grandes carabelas fuertemente aparejadas, la consolidación del
progreso realizado en la década de 1430. La altamar ya no da
miedo, y ella es la que va abrir la ruta del sur. 34
A partir de então, os portugueses guardam o segredo de toda essa técnica. Claro que
totalmente discretos sobre os meios utilizados. Se faz saber que Portugal tem agora um
Aos 08 de janeiro de 1455, através de uma bula, o Papa Nicolau V proíbe toda a
setembro - Portugal assina com seus vizinhos católicos o chamado Tratado de Alcobaça, no
Bojador.
34
FAVIER, Jean. Obra citada, pág. 328.
35
FAVIER, Jean. Obra citada, pág. 335.
35
No período de 1469 a 1474 a exploração portuguesa da costa africana fica a cargo
de um negociante, que paga uma renda à Coroa Portuguesa para explorar essa área e ainda
obriga-se a descobrir cem léguas de costa por ano 36 . É nessa fase que se vai explorando as
costas da Malagueta, do Marfim e do Ouro e ainda as ilhas São Tomé, Príncipe e Fernão do
Se a costa africana era negócio privado de Portugal, o mesmo se pode dizer dessa
parte do Oceano Atlântico. Claro que os segredos das navegações vazam, apesar de todo o
zelo de Estado, no entanto, com seu poderio naval a Coroa Portuguesa detém a supremacia
no mar.
Em 1483, Diogo Cão chega à foz do Rio Congo. Retorna ao norte e dois ou três
anos depois regressa a estas paragens. Desta ve z porém, ultrapassa a foz do Congo e chega
nas proximidades do Trópico de Capricórnio. Chega a alcançar a latitude de 21º 48’ S, mas
Após a morte de Diogo Cão, o rei de Portugal, D. João II - sobrinho- neto do Infante
- organiza uma verdadeira “expedição científica”, dirigida por João Afonso d’Aveiro.
36
NOGUEIRA, Fernando. Os Grandes Descobrimentos Portugueses e a Expansão Mundial da Europa.
Lisboa: Ed. Verbo, 1990, pág. 24.
37
FAVIER, Jean. Obra citada, pág. 336.
36
grande tarefa dessa expedição é estabelecer as latitudes exatas e traçar um mapa completo
do mundo conhecido.
Português. Dizimada por enfermidades, ela regressa de um ponto próximo ao Paralelo 18.
Em 1487 o rei resolve intentar outra investida mais ao sul. A passagem tinha que
existir. No dia primeiro de agosto de 1487, Bartolomeu Dias parte de Lisboa com duas
Mais adiante aparece nova surpresa. Encontra agora ventos contrários, cada vez
mais os ventos sopram do sudeste, impedindo a viagem fluente, com bordos breves,
Bartolomeu Dias se mostra notável navegante, unindo seu sólido conhecimento dos regimes
de ventos a uma grande “intuição”. Afastando-se da costa, Dias alcança ao sul a latitude
onde sopram os ventos do oeste, próximo ao Paralelo 40, que corresponde ao sul,
enfrentando uma grande tempestade, ele dobra o cabo, sem vê-lo. Na volta, por conta desta
tempestade que enfrentou na ida ao dobrar aquela proeminência rochosa, chamar- lhe-á
Cabo das Tormentas. O “caminho” está finalmente aberto. O rei, após a chegada de
Bartolomeu Dias a Lisboa, rebatiza o cabo como da Boa Esperança. A passagem austral
37
Após essa etapa, tão perseguida pelos navegadores do Infante, durante a maior parte
navegando para o ocidente. Prudentemente, depois de enco ntrada a passagem austral, o rei
portuguesa do contato marítimo com a Índia - havia a intenção, por parte de navegadores
sigilosas, as notícias correm e com elas, é claro, alguns segredos se vão espalhando. Sem
mencionar o fato de que os pilotos e marinheiros podiam trocar de patrão se assim lhes
aprouvesse.
põe termo a quase sete séculos de ocupação muçulmana em terras ibéricas. Após terem sido
expulsos belicamente, restava no reino, agora sob a égide da Igreja Católica Romana, uma
islâmica: deixar a Península, rumo ao norte da África ou, para poder ficar, converter-se ao
cristianismo. Logo após os muçulmanos, chega a vez dos judeus serem postos contra a
parede.
38
Que juntamente com os cristãos, tiveram durante o período de ocupação árabe um dos momentos de maior
integração e respeito mútuo, como não se havia tido em nenhuma outra parte da Europa.
38
Na retirada forçada, essas populações levavam apenas o que havia de mais
transportável, muitas vezes deixando para trás objetos de valor, que logo eram confiscados
pela Coroa. Muitas vezes grandes fortunas foram confiscadas, paralelamente à expulsão das
Politicamente, a busca do caminho marítimo pelo ocidente era a única saída para o
recém unificado estado espanhol. Enquanto esteve envolvido na guerra contra o Islã, seu
vizinho lusitano havia construído um império colonial na costa africana e havia encontrado
a passagem para o Oceano Índico. Somando-se a isso, em 1455 havia recebido o aval do
Papa Nicolau V, e em 1479 havia assinado um tratado, com a própria coroa castelhana,
Portanto, para a Espanha concorrer com seu vizinho ibérico nessa corrida rumo ao
Índico, teria que romper dois acordos internacionais. O seu próprio tratado, e ainda, ir de
encontro à palavra do Papa, cuja autoridade lhe era soberana, haja visto o fervor católico
espanhol, acirrado por séculos de lutas religiosas contra os seguidores do Islã, nas quais
conhecidas caravelas (Pinta, Santa Maria e Niña). No ano seguinte, retorna com a notícia de
Duarte Leite nos informa que antes de 1500 já havia navegadores portugueses
explorando o Atlântico Ocidental, sendo possível, inclusive, que algum tenha atingido a
Flórida 39. Assim, entre 1495 e 1498, João Fernandes Labrador e Pedro de Barcelos chegam
39
NOGUEIRA, Fernando. Obra citada, pág. 27.
39
à Groenlândia, que segundo Fernando Nogueira foi uma redescoberta européia desta ilha,
pois havia sido explorada séculos antes pelos vikings. Entre 1500 e 1502 é a vez de Cabral
coloca em questão é o papel português na formação daquele que passaria para a história
Desde 1476, quando chega à costa algarvia, até o aceite de sua proposta por parte
dos reis católicos Fernando e Isabel, Colombo teve contato íntimo não só com as técnicas e
os conhecimentos, mas também com a prática da navegação atlâ ntica desenvolvida pelos
portugueses, em viagens à Ilha da Madeira e à Costa da Mina. Assim, Portugal parece ter
comerciante de lãs, vinhos e açúcar num navegador oceânico.40 Pierre Chaunu sintetiza
“descobridor”, seus próprios feitos desde a exploração da costa da África e seus rios, a
das ilhas atlânticas, tais como Fernando de Noronha, Ascensão, Santa Helena, Trindade,
Martim Vaz, Tristão da Cunha, sem mencionar os Açores, Cabo Verde, São Tomé e
ocidentais (Brasil) por explorar, Portugal teve que manter frotas armadas para vigilância do
40
NOGUEIRA, Fernando. Obra citada, pág. 28.
41
NOGUEIRA, Fernando. Obra citada, pág. 28.
40
Estreito de Gibraltar, contra piratas árabes. Nas águas do Arquipélago dos Açores também
havia frotas para escoltar os comboios carregados de especiarias que retornavam da Índia.
apenas o reconhecimento e ocupação das terras que margeiam este Oceano, inclui também
o conhecimento dos rios que nele deságuam, das ilhas que o povoam, estendendo-se, ainda,
Inclui ainda o conhecimento dos ventos e correntes; do céu e das estrelas que dele
comunicação intercontinental através dele. Esta importância é ressaltada ainda pelo fato de
aquele conhecimento gerado ter sido apreendido por outros estados europeus, que depois
41
El movimiento es natural en el hombre. El mas allá no es sólo
aquello adonde tiende el destino del hombre; es también
aquello sobre lo que se interroga en su vida cotidiana. Es el
más allá de las colinas para el aldeano, el más allá del
horizonte para el marino. La sed de conocer lleva al hombre
a inventar, más tarde a desplazerse.
Mas allá, las cosas no pueden sino ir mejor. Allende esse
horizonte que cierra el terreno de las certidumbres y que
abre el de lo imaginario, ¿cómo dejaría de encontrarse el
país de la primavera eterna, el de los verdes pastizales, el de
las tierras fértiles, el de los frutos de oro? En términos de
economía doméstica, ¿cómo no esperar, del Occidente
desconocido como del ecuador calculado, la pimienta barata
y el oro abundante? Las “otras ovejas que no son de este
redil” anunciadas por la Escritura ¿no estarán al alcance de
un viaje? ¿Por qué contentarse com la mediocridad de los
espacios conocidos?
Jean Favier
42
Capítulo 2
A Conquista do Litoral Brasileiro
1. Mapeamento do Litoral Brasileiro: Rotas Oceânicas e Paragens Marítimas
2.Expedição Exploradora de 1501
3.Primeira Associação entre a Coroa e Particulares: Arrendamento da Exploração do
Brasil (1503)
4.Trinta Primeiros Anos: os europeus conhecem o Brasil
5.Nova Associação entre a Coroa e Particulares: Instituição das Capitanias
maioria das vezes, o quanto eram frágeis e precárias as condições destas travessias.
encontrou-se diante de novas realidades, tanto físicas quanto humanas, às quais teve de
adaptar-se gradativamente.
americano demandava cuidados e perícias cada vez mais apuradas, haja vista que a
aportagem. Esse processo, na realidade, teve que ser efetuado durante décadas, dadas as
43
Esse aspecto do trabalho de reconhecimento do litoral brasileiro, empregando as
configuração litorânea de maneira mais ampla possível, desde cobertura vegetal até de
através dos registros de viagem, relatos e crônicas, está a espera de olhares mais
Brasil.
teve de valer-se de outros elementos, que não apenas os antigos portulanos. Novas cartas
deveriam ser construídas, pois ao entrar em contato com regiões ainda não navegadas
cartográfica.
44
1. Mapeamento do Litoral Brasileiro: Rotas Oceânicas e Paragens Marítimas
pelo embate entre várias nações pela posse das terras que se iam “descobrindo”, bem
como das rotas marítimas que se iam abrindo. O conhecimento dos caminhos marítimos
era tratado como verdadeiro segredo de Estado, o que pode ter levado a desvios
de Léry ao Brasil, na segunda metade do século XVI. Léry verifica, quando da sua
escala nas Ilhas Canárias, que havia nos livros e nos mapas uma indicação errada da
Sete dias depois aproximamo -nos de três ilhas chamadas pelos pilotos
normandos Graciosa, Lanceloti e Forte Aventura e pertencentes ao
grupo das Ilhas Afortunadas. São sete ao todo, creio eu [sabemos, hoje,
que o arquipélago é composto por oito ilhas], e todas habitadas por
espanhóis. Embora se ensine nos livros que se acham a 11º aquém do
Equador, e por conseguinte na zona tórrida, e assim se verifique em
muitos mapas, eu afirmo, por ter visto fazer o ponto com o astrolábio,
que se acham seguramente aos 28º na direção do Polo Ártico. Há pois
um erro de 17º e é preciso dizer que os autores espanhóis, enganando-
se a si e aos outros, as afastam de nós. 42
através de alguns mapas produzidos ainda no início do século XVI. À primeira vista, nos
costa, permanece o mesmo o mesmo nos vários mapas, no entanto, ele traz outros
42
LÉRY, Jean de. Viagem à Terra do Brasil. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1961, pág. 58.
45
detalhes importantes de se notar, tais como mudanças no traçado geral do litoral, como
no mapa de 1502, atribuído a Cantino, quando não estão representados ainda o Estreito
de Magalhães e a costa do Pacífico da América do Sul (ver mapa 1). Já na carta de Lopo
expansão portuguesa – foi confeccionado para presentear o rei francês Francisco I, que
sobe ao trono em 1515; seria uma demonstração da grandeza lusitana diante do novo
43
ALBUQUERQUE, Luís de, SANTOS, Annie Marques dos. “Os Cartógrafos Portugueses” in Lisboa
Ultramarina: 1415 – 1580: a invenção do mundo pelos navegadores portugueses. Organizado por Michel
Chandeigne. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992, pág. 65.
46
O desconhecimento de elementos extremamente necessários à consecução das
terra firme. Exemplo disso, podemos tomar do relato de Hans Staden, quando da sua
segunda viagem para a América Meridional. Partindo da Europa em 1549, ele nos diz
que os navios de sua esquadra, antes de cruzarem o Oceano Atlântico, ainda nas Ilhas
depois, por uma tempestade, a nau em que se encontrava Staden separou-se e perdeu-se
44
BARROS, Rustom Lemos de. Embarcações e Frotas Portuguesas: Evolução e Atuação no Nordeste
Brasileiro até 1720. Dissertação de Mestrado. Recife: UFPE/Programa de Pós-Graduação em História, 1982,
pág. 286.
45
STADEN, Hans. Meu Captiveiro entre os Selvagens do Brasil, Rio de Janeiro: Companhia Editora
Nacional, [1925], pág. 24.
47
equinoxio, e vice-versa; e como é assim por cinco mezes a fio, não
pudemos seguir nosso rumo durante cento e vinte dias. 46
piloto verificou a altura do sol e viu que estávamos a 28 gráos de latitude”, conforme a
“descobrir” portos, bem como registrar nos mapas e nos roteiros náuticos, as
46
STADEN, Hans. Obra citada, pág. 25.
47
STADEN, Hans. Obra citada, pág. 26.
48
Eram as chamadas expedições exploradoras e expedições guarda-costas denotando, no próprio nome destas
expedições, o caráter de não-ocupação da costa, mas de reconhecimento e documentação, como se a ocupação
viesse em seguida, como continuação do reconhecimento do litoral.
48
notáveis da costa 49. Mais ainda, e de suma importância, traziam quando possível, as
conhecidas, poderiam passar a ser chamadas, também, de defesas naturais. Para que se
treinado e que conhecesse a região 50 . Estas formações naturais seriam associadas, mais
europeus.
força e da direção dos ventos, bem como da força e da direção das correntes marítimas,
o roteiro teria que fornecer informações sobre as configurações do fundo dos portos e
dos seus canais de acesso, bem como trazer instruções para que o piloto pudesse
49
pleno êxito como resultar numa jornada infrutífera e, muitas vezes,
calamitosa. Alguns dados obtidos sobre a ida de embarcações para
Índia podem exemplificar bem a questão: dos setecentos e vinte um
navios que para lá se dirigiram, no século XVI, cem perderam-se e
vinte e cinco arribaram. Tais números foram provocados, não só pelo
corso/pirataria, mas principalmente devido às imprevidências dos
pilotos e freqüência com que passavam a velejar fora da época dos
ventos favoráveis. Sabe-se ainda que, com base nas mesmas
condicionantes, particularmente no período compreendido entre 1582 e
1602, “... se perdieron por vías de aguas u otros accidentes técnicos, a
veces en plena bonanza 38 naves de las Índias [...] [que] representa una
pérdida de 20 o más milhones en oro”. 52
uma noção da cautela que era requerida, ao aproximar -se de áreas não conhecidas,
em 22 de abril de 1500.
se seguiu após este primeiro avistamento, nos é descrito por Eduardo Bueno desta
forma:
52
BARROS, Rustom L. de. Obra citada, pág. 292.
53
BUENO, Eduardo. A Viagem do Descobrimento: a verdadeira história da expedição de Cabral. Rio de
Janeiro: Objetiva, 1998, pág. 11.
54
BUENO, Eduardo. Obra citada, pág. 12.
50
Após este primeiro ancoradouro, em frente a foz do Rio Caí, a aproximadamente
terra firme. No dia seguinte, 23 de abril, seguiram para o norte numa trajetória paralela
ao litoral, em dois grupos, os navios menores seguiram uma trajetória mais próxima à
costa e os grandes navios mais afastados. Encontraram, então, dois locais seguros na
Baía de Cabrália, tendo cada um dos grupos de navios permanecido separados, até
desconhecida.
envia uma outra expedição oficial, que parte de Lisboa em 14 de maio de 1501,
composta por três caravelas e “sob comando de um chefe que – conjecturas mais
admissíveis – indicam ser D. Nuno Manuel, mas assessoriado [sic] por Américo
Vespúcio.” 55
As notícias desta expedição são escassas, tendo chegado até nós através de
alguns relatos e missivas tanto de origem portuguesa quanto de origem italiana, como é
apontado por Moacyr Soares Pereira, ou através das obras de alguns cronistas do século
XVI, como Antônio Galvão, Damião de Góis, Jerônimo Osório e Gabriel Soares de
Sousa. Além destes, vamos encontrar a narrativa desta viagem nas “famosas e
55
PEREIRA DA COSTA, F. A . Anais Pernambucanos -1493-1590. Recife: FUNDARPE, 1983, pág.50.
51
controvertidas cartas do florentino Américo Vespúcio, relativas às suas terceira e
A esta expedição de 1501 são dadas algumas atribuições. É assim que nos fala
expedição, Moacyr Soares Pereira nos dá um panorama das relações entre a Coroa
banqueiros italianos, sendo motivado por sua propalada destreza como cosmógrafo e
O convite lhe foi feito a mando do Rei de Portugal, pois, segundo fala Pereira da
56
PEREIRA, Moacyr Soares, Expedição de 1503 à Terra de Santa Cruz. Recife: Revista IAHGP, [?], p 09.
57
PEREIRA, Moacyr Soares. Obra citada, pág. 09.
52
nas viagens que recentemente havia feito na parte septentrional da
América, a qual tinha visitado por ordem do rei da Espanha. 58
Estes mercadores florentinos tinham, portanto, o interesse de que Vespúcio chegasse até
oferecer estas novas terras. Muito provavelmente, este verdadeiro lobby italiano em
terras portuguesas foi responsável pelo convite real, e por outro lado, estes mercadores e
banqueiros ainda “insistiram para que ele [Vespúcio] deixasse a Espanha, transferindo-
se para Portugal.”59
Giovanni Francesco Affaitadi, que era um opulento representante de uma casa comercial
Piero Pasqualigo. No entanto, a Lettera de Vespúcio, referente a esta sua terceira viagem
ao Novo Mundo, indica a data da chegada como sendo 7 de setembro de 1502. Segundo
Moacyr Pereira, a carta de Vespúcio seria uma fonte mais segura que a de Affaitadi.
58
PEREIRA DA COSTA, F. A . Obra citada, pág. 51.
59
PEREIRA, Maocyr Soares. Obra citada, pág. 10.
53
3. Primeira Associação entre a Coroa e Particulares: Arrendamento da Exploração do
Brasil (1502)
arrendamento, que tinha a duração de três anos, do final de 1502 ao final de 1505.
contrato régio. É assim que enviam uma nova expedição exploratória, que parte de
Lisboa em 1503.
Este contrato de arrendamento da exploração das novas terras não foi uma
atlântica africana. Sobre este contrato anterior, quem nos dá a notícia é João de Ba rros,
60
Esta denominação substituía, já em 1502, a de Terra de Vera Cruz, referida nos escritos de Caminha e do
Mestre João, segundo Moacyr Soares Pereira, obra citada, pág. 11.
61
PEREIRA, Moacyr Soares. Obra citada, pág. 11.
54
(...) por tempo de cinco anos a Fernão Gomes, um cidadão honrado de
Lisboa, por duzentos mil réis cada ano, com a condição que, em cada
um destes cinco anos, fosse obrigado a descobrir pela costa adiante cem
léguas [cerca de 600 quilômetros], de maneira que no cabo de seu
arrendamento, desse quinhentas léguas descobertas [cerca de 3000
quilômetros]. 62
Neste caso, Fernão Gomes deveria começar sua exploração a partir da Serra
Leoa, que era o último ponto conhecido pelos navegantes portugueses antes do
arrendamento. Este ponto havia sido descoberto por Pero de Cintra e Soeiro da Costa.
Marfim e do Ouro e ainda as ilhas de São Tomé, do Príncipe, Fernão Pó e Ano Bom,
bem como tomada posse em nome do Rei de Portugal, das quinhentas milhas de costa
previstas no contrato.
O contrato de Santa Cruz, apesar da menor duração, três anos em relação aos
meridiano de Tordesilhas”. 63
A expedição de 1503 foi dada ao comando de Gonçalo Coelho. Foi composta por
seis navios, um dos quais, mais uma vez, estava sob o comando de Américo Vespúcio,
62
BARROS, João de. in PEREIRA, Moacyr S., Obra citada, pág. 13.
63
PEREIRA, Moacyr Soares. Obra citada, pág. 13.
55
Gonçalo Coelho era Escrivão da Fazenda Real e, por natureza do cargo, também tinha
século XIX. Encontramos nos principais estudos historiográficos sobre este período,
como é o caso da obra de Capistrano de Abreu, disseminada esta idéia, como podemos
ver:
Por outro lado, é interessante notar como essa idéia do abandono ainda está
presente nos meios historiográficos atuais, como podemos atestar em recente publicação
64
ABREU, Capistrano de. Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 1988, pág. 37.
56
que o Brasil foi “descoberto” por Cabral, em 1500, e aí teria sido “esquecido” pela
visitaram o Brasil nos primeiros anos da colonização, bem como através de alguns
documentos oficiais da Corte portuguesa, como veremos mais adiante, que ao contrário
Claro que, por ser o período mais recuado da história da colonização européia no
Brasil, este período conta com alguns obstáculos e dificuldades para pesquisas mais
maior parte dos livros sobre a história do Brasil, que geralmente reduzem o período que
65
BUENO, Eduardo. Obra citada, pág. 36.
66
VARNHAGEN, F. A . Obra citada, pág. 106.
57
uma vez que este seria, digamos assim, o modus operandi português, desde os
propriamente dito, bem como o estabelecimento de outras estruturas coloniais, tais como
vilas e engenhos.
marítimas por parte dos conquistadores. Então, para ocupar, seria necessário conhecer,
em primeiro lugar.
Esse conhecer exigiu grande esforço e grande despesa, tanto material quanto
humana, pois o litoral brasileiro guarda seus perigos, assim como a travessia oceânica.
destaca as agruras por que passaram os expedicionários e seu capitão, nos primórdios
deste processo :
58
especulação desta costa, e veio a recolher-se a Lisboa com menos dois
navios, entregando a el-rei as informações que achava. 67
próximas da costa atlântica marroquina, até o Estreito de Gibraltar, e das ilhas atlânticas
próximas da Europa, como os arquipélagos dos Açores e das Canárias, este último
mesmo espanhóis. No entanto, nas águas abaixo do Cabo Bojador, até o Golfo da Guiné,
várias bulas papais, que refrearam os interesses espanhóis na exploração desta parte do
Atlântico.
67
PEREIRA DA COSTA, F. A . Obra citada, pág. 64.
59
Ao iniciar a exploração da costa americana, Portugal seguiu os mesmos passos da
oriental do Atlântico Sul até finais do século XV, desde os primeiros anos da exploração
da Terra de Santa Cruz, os portugueses tiveram fazer valer sua primazia à ferro e fogo,
denominada “Barra de Itamaracá”. Não foi por acaso que o rei mandou que se erigisse
Itamaracá foi, logo nos primórdios dos contatos europeus com o novo continente,
conhecida como uma região onde ocorria o pau-brasil de melhor qualidade. Por essas
duas fortes razões é que foram instaladas as feitorias de Cristóvão Jacques, na parte sul
Já em 1516, ano em que o rei manda a Cristóvão Jacques fundar uma feitoria real
ao sul da Ilha de Itamaracá, Pereira da Costa nos dá notícia de uma embaixada do Rei de
68
ALBUQUERQUE, M. O Processo Interétnico em uma feitoria quinhentista no Brasil. Revista de
Arqueologia. São Paulo, 7:99-123, 1993, pág. 103.
60
Neste mesmo ano de 1516, eram tão freqüentes as viagens de
navegadores franceses aos portos do Brasil, onde faziam grandes
carregamentos de produtos do país, que el-rei D. Manuel, por
intermédio de seus agentes, dirigiu a respeito uma representação ao
governo francês. 69
Binot Palmier de Gonneville, auxiliado por dois pilotos portugueses, Sebastião Moura e
Diogo Couto. A expedição atingiu o Brasil em janeiro de 1504, no atual litoral de Santa
permanecendo até julho de 1504 no Brasil, tempo em que fez contatos amigáveis com as
populações nativas, como nos atesta o historiador francês Laurent Vidal, estudioso das
Ils mirent ce temps à profit pour traiter avec les indiens de l´ethnie des
Carijos pour une cargaison de peaux et plumes, et s´attirer leur
sypathie, à tel point que le chef Carijo proposa que son fils Essomericq
accompagné d´um fidèle serviteur Namoa, embarque sur le navire de
retour, afin qu´il revienne instruit dans les arts de la civilisation. [...]
Essomericq est le premier d´une longue série d´Indiens brésiliens qui
viendront em France. 70
A atitude francesa de levar índios Carijó até a França, no início do século XVI, é
nativas do Brasil. Em seu retorno para a Europa, Gonneville sobe o litoral brasileiro,
69
PEREIRA DA COSTA, F. A . Obra citada, pág. 94.
70
VIDAL, Laurent. La Présence Française dans le Brésil Colonial au XVIe Siécle. Conferência proferida
por ocasião do Fórum Internacional de História e Cultura no Sul da Bahia, Porto Seguro, abril/1999, pág. 03.
61
passando pela Baía de Todos os Santos e Cabo de Santo Agostinho, onde faz seu
carregamento de pau-brasil. 71
encontrar uma rota ocidental para atingir as Índias, mais especificamente “le Cathay et
les Moluques”, como nos diz Laurent Vidal. Entre 1524 e 1529 eles fazem quatro
travessias atlânticas e “leurs ´échecs´ repétés vont mettre le Brésil au premier plan des
expedição com o intuito de fundar uma colônia francesa no Brasil, idéia que foi adiada
por conta do rei de Portugal ter tomado conhecimento dos seus preparativos e enviado
uma embaixada junto ao rei da França, em 1522, “pour le prier d´interdire le départ, ce
qu´il obtint en fin de compte.”73 Sobre o mesmo fato, Pereira da Costa nos dá a notícia
71
PERRONE-MOISÉS. Leyla. Voyage de Gonneville (1503 – 1505) Et la Découvert de Normandie par les
Indiens du Brésil. Paris: Chandeigne, 1995, pág. 126.
72
VIDAL, Laurent. Obra citada, pág. 04.
73
VIDAL, Laurent. Obra citada, pág. 04.
62
respostas indeterminadas, mais aparentes que decisivas, e com o único
fim de entreter tempo. 74
Assim, cada vez mais familiarizados com a realidade física do litoral (portos,
rios, enseadas), com suas potencialidades (frutas, ervas, madeiras) e com seus
Outra vez Pereira da Costa nos dá notícias das atividades européias, desta vez da
expedição dos irmãos Parmentier, que partem do porto de Dieppe, na França, em 1520,
rumo ao Brasil:
Logo em seguida, cita o relato de viagem lavrado por um dos próprios viajantes,
João Parmentier, que nos revela a freqüência com que os franceses visitavam o litoral
brasileiro: “A parte mais freqüentada pelos franceses e bretões, está situada entre o
área, frente à Espanha, existe uma corrida contra o tempo no sentido da aferição das
reais dimensões do quinhão que cabe a cada uma das nações na costa oriental da
74
PEREIRA DA COSTA, F. A. Obra citada, pág. 103.
75
PEREIRA DA COSTA, F. A . Obra citada, pág. 101.
63
sul-americano, é fruto de muita controvérsia na primeira metade do século XVI. Tanto
Portugal tentava incluir em seus domínios a região do estuário do Rio da Prata; quanto a
Em 1508 a Espanha envia uma expedição comandada por Vicente Yañez Pinzón
e João Dias de Solis, que deveria fazer o reconhecimento da costa que vai do Cabo de
Santo Agostinho até o Rio da Prata. Esta expedição é conseqüência dos relatos de ambos
os navegadores, acrescidos de mais dois outros experientes navegadores, que são Juan
Cristóvão Jaques, que além da incumbência de reconhecer o litoral até o Rio da Prata,
tinha a especial missão de fundar uma Feitoria Régia em Itamaracá, como vimos
anteriormente. Em 1526 é a vez de chegar ao Cabo de Santo Agostinho mais uma frota
espanhola, sendo esta comandada por João Cabot, que, como nos diz Pereira da Costa,
76
PEREIRA DA COSTA, F. A . Obra citada, pág. 78.
64
5. Nova Associação entre a Coroa e Particulares: Instituição das Capitanias
Como vimos até agora, Portugal tem de lutar contra a concorrência estrangeira,
principalmente neste começo do século XVI, contra a Espanha e contra a França, sendo
o embate com o primeiro travado mais no campo diplomático, para fazer valer o tratado
de 1494; já com a França, que não reconhecia o tratado, alia tanto a força bélica,
prisioneiros, bem como enviando embaixadas ao rei francês para reclamar da ação dos
navios franceses na América Portuguesa. Essa pressão externa faz com que a Coroa
portuguesa resolva redirecionar o processo de exp loração, haja vista que os passos até
então executados não eram suficientes para fazer frente à cobiça francesa por suas terras.
Em 1534, a Coroa portuguesa lançando mão mais uma vez da associação com
reais que houvessem prestado serviços à Coroa. Mesmo sendo uma espécie de “prêmio”, o
77
VIDAL, Laurent. Obra citada, pág. 04.
65
Sobre a instituição do sistema de capitanias hereditárias no Brasil, encontramos
Brasil, em 1685.
desde os Açores até Angola, passando por Cabo Verde, Madeira, Serra Leoa, Brasil e
São Tomé.
economicamente, havia um esforço por parte da Coroa para reintegrar este espaço ao
Poder Real, o que era muito difícil de aceitar por parte do donatário, mesmo sabendo que
A menção feita pelo autor ao “prêmio”, resulta de uma doutrina antiga, que está
78
SALDANHA, Antonio Vasconcelos de. As Capitanias: O Regime Senhorial na Expansão Ultramarina
Portuguesa. Madeira, Portugal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 1992.
79
SALDANHA, Antonio Vasconcelos de. Obra citada, pág. 65.
66
além de estar centrado na própria construção das doações régias, era um componente
fundamentais.
rei, como indivíduo, comercializar ou alienar qualquer bem que se enquadrasse nesta
Isto é, a capitania representava uma parte do reino, doada pelo rei, não como
indivíduo, mas como instituição majestática. Essa doação deveria ser confirmada, ou
não, por cada novo rei que viesse a ocupar o trono. Por outro lado, como um esforço
português desde o século XV, como vimos, e deveria estar apenas à espera das
informações detalhadas a respeito das terras americanas, para que também ali fosse
implantada essa forma administrativa. As ilhas atlânticas apresentavam pelo menos dois
aspectos que lhes havia possibilitado implantar esse regime tão cedo. Em primeiro, lugar
80
SALDANHA, Antonio Vasconcelos de. Obra citada, pág. 24.
67
as pequenas dimensões territoriais de cada ilha, sendo mais fácil de dominar e ocupar;
em segundo lugar, o fato de a maioria das ilhas terem sido encontradas desertas, com
raras exceções.
em 1526, de açúcar produzido em Pernambuco. Ora, essa informação nos leva a deduzir
que quando Duarte Coelho desembarcou em Pernambuco, quase dez anos depois, já
estivesse ciente de que a área era propícia para o plantio da cana e produção do açúcar,
como podemos atestar pelo que nos diz Varnhagen: “Pagavam de direito, na casa da
Índia, o quarto e a vintena dos respectivos valores [impostos], e que, no número desses
´Pernambuco e Tamaracá´”.81
agraciados com o “prêmio” sequer pisando em suas terras; outros que chegaram a vir para a
uma das que haviam fracassado pela ação do donatário, havia sido recuperada pela
Coroa, e somando -se a esse fato a sua privilegiada localização, aproximadamente central
em relação às capitanias que lhe estavam ao norte e ao sul, foi escolhida para sede do
81
VARNHAGEN, F. A . História Geral do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, v. 1, 1978, pág. 106.
68
novo governo, ganhando desde então novo alento, pelos investimentos estatais
Após o período muitíssimo conturbado das três primeiras décadas, até que se
amainadas, permanecendo os franceses com incursões isoladas pelas áreas mais afastadas
das vilas emergentes, tais como Olinda, Salvador e São Vicente. No entanto, ainda no
século XVI a Coroa portuguesa verá a França passar da ação de piratas e corsários
isolados à uma ação de cunho estatal, com a tentativa de implantação de uma colônia
Em 1580, após a morte do rei D. Sebastião, que não deixa herdeiros, Portugal se
vê às voltas com os problemas sucessórios, até que termina por perder sua autonomia,
passando a ter o rei de Espanha como seu soberano. O período que vai de 1580 até 1640
ocorre o que se convencionou denominar de União Ibérica, que significa a união das
duas coroas, primeiramente sob o poder do rei Filipe II, da Espanha, passando para seus
sucessores, Filipe III e Filipe IV. Decorrente disso, mas também pela recente autonomia
que conquista nos finais do século XVI, vamos encontrar também os holandeses nos
O empreendimento francês abrira uma nova fase dos embates entre Portugal e
69
Com a expulsão dos holandeses de Pernambuco, em 1654, finalmente Portugal
tinha assegurado o domínio da sua colônia, sua costa e seus mares, recebendo, ainda nos
séculos XVII e XVIII, a incursão de corsários e piratas que saquearam vilas e cidades,
Os problemas com a Espanha passam a ser outros, decorrentes dos sessenta anos
espanholas na América, havia perdido a sua razão de ser, já que ambas as partes estavam
sob uma mesma jurisdição. Com isso começa-se, por parte dos colonos portugueses
assim como no norte, adentra-se através do Amazonas. Com o fim da União Ibérica, em
70
Tendo chegado a três continentes, a Europa se
apropria deles. Primeiro, nomeia – com suas
palavras e seus preconceitos – os lugares e seus
habitantes. Depois, os marca e, finalmente, os
ocupa. Mas cada qual de forma diferente.
Jacques Attali
71
Capítulo 3
Portos, Barra s e Ancoradouros no Nordeste do Brasil:
do Rio São Francisco à Baía da Traição
NAS CAPITANIAS DE PERNAMBUCO E ITAMARACÁ
1 .Caracterização Geográfica do Litoral Nordestino
2. Descrições e Ocupações
3. Relação de Portos e Ancoradouros
no tocante à navegação marítima com a Europa, seja pela maior proximidade geográfica
com o Velho Mundo, em relação ao restante do litoral brasileiro, seja pelas condições das
litoral brasileiro nas rotas atlânticas. Até 1530 esse empenho foi caracterizado por ações de
reconhecimento, exploração e defesa, como vimos no capítulo anterior, mas também estava
intensificando sua utilização como escala para as embarcações que faziam a rota do
82
BARROS, Rustom Lemos de. Embarcações e Frotas Portuguesas: Evolução e Atuação no Nordeste
Brasileiro até 1720. Dissertação de Mestrado. Recife: UFPE/Programa de Pós-Graduação em História, 1982,
pág. 206.
72
atualmente ao norte do Estado da Paraíba, até a foz do Rio São Francisco, que atualmente
Esta área contava, além dos elementos expostos acima, com condições físicas
haja vista o número relativamente significativo de enseadas e baías que, juntamente com as
elementos bastante favoráveis para as condições da navegação praticada nos séculos XVI e
XVII.
Hereditárias, verificamos que um dos principais elementos presentes nas cartas de doação
capítulo anterior, pois, ao determinar os quinhões doados, o rei faz menção aos marcos
geográficos para balizar e delimitar os lotes. Ora, o conhecimento dos acidentes físicos do
litoral, pelo qual o rei sabe exatamente quantas léguas caberá a cada súdito decorre
trinta anos. Como podemos ver nos trechos das carta de doação que se seguem.
73
Duarte Coelho, Fidalgo da minho casa, a El-Rey meu Senhor, e
Padre que Santa Gloria haja, e a mim tem feito assim nestes
Reynos, como nas partes da India, onde me servio muito tempo,
[...] Hei por bem, e me apraz de lhe fazer, e como de feito por esta
presente Carta faço mercê, e irrevogável Doação que entre vivos e
valedora deste dia para todo sempre de juro, e herdade para elle, e
todos os seus filhos, netos, herdeiros e successores, que apoz elle
vierem, [...] segundo adiante irá declarado, de sessenta legoas de
terra na dita Costa do Brazil, as quaes se comessarão no Rio de S.
Francisco, que he do Cabo de S. Agostinho para o Sul, e acabarão
no rio que cerca em redondo toda a Ilha de Itamaracá ao qual rio
ora novamente ponho o nome de rio de Santa Cruz, e ma ndo que
assi se nomeie, e chame de aqui em diante, e isto com tal
declaração que ficara com o dito Duarte Coelho a terra da banda do
sul, e o dito rio onde Christovão Jacques fez a primeira caza de
minha Feitoria, e a cincoenta passos da dita caza da Feitoria pelo
rio a dentro ao longo da praia se poerá hum padrão de minhas
Armas, e do dito padrão se lançará huma linha cortando al oeste
pela terra firme a dentro, e a terra da dita linha para o Sul será do
dito Duarte Coelho, [...] e assi entrará na dita terra e demarcação
della todo o rio de S. Francisco, e a metade do rio de Santa Cruz
pela demarcação sobredita. [...] E por firmeza de todo lhe mandei
dar esta minha Carta por mim assignada, e asselada do meu sello de
Chumbo. Manoel da Costa a fez em Évora a dez dias do mês de
março, Anno do Nassimento de Nosso Senhor Jezu Christo de mil
quinhentos e trinta e quatro. E eu Fernão de Alvares Thezoureiro
Mor d’El-Rey Nosso Senhor, Escripvão de sua Fazenda a
sobrescrevi. REY 83
D. João &c. A quantos esta minha carta virem: faço saber que
considerando eu quanto serviço de Deos a meu proveito, e bem do
meu Reyno e Senhorios, e dos Naturaes e Subditos delles, he ser
minha Costa, eterra do Brazil mais povoada do que até agora foi
[...] ouve por bem de a mandar repartir, e ordenar em Capitanias de
certas em certas legoas, para della prover aquellas pessoas que bem
me parecese, [...] e pelo qual havendo eu respeito à criação que fez
83
Carta de Doação de D. João Rei de Portugal a Duarte Coelho in FERNANDES GAMA, José Bernardo.
Memórias Históricas da Província de Pernambuco, Recife: Arquivo Público Estadual, 1977, edição fac-
símile, pág. 42 a 53.
74
Pero Lopes de Souza, fidalgo da minha casa, e aos serviços que me
tem feito [...] hei por bem e me apraz de lhe fazer mercê, como de
feito por esta presente carta faço mercê e irrevogável doação, entre
vivos valedora deste dia para todo sempre, de juro e herdade, para
elle e todos os seus filhos, netos, herdeiros e successores, que apoz
elle vierem, [...] segundo adiante irá declarado, de 80 legoas de
terra na dita Costa do Brazil, repartidas nesta maneira: 40 legoas
que começarão de 12 leguas ao sul da ilha da Cananéa, e acabarão
na terra de Santa Anna, que está em altura de 28 gráos e um terço; e
na dita altura se porá o padrão, e se lançará um linha, que se corra a
loeste: e 10 leguas que começarão do rio de Curpare, e acabarão no
rio de São Vicente; [...] e as 30 leguas que fallecem, começarão no
rio que cerca em redondo a ilha de Itamaracá, ao quel rio eu ora
puz – Rio da Santa Cruz -, e acabarão na bahia da Traição, que está
em altura de 6 gráos. [...] e será sua a dita ilha de Itamaracá, e toda
a mais parte do dito rio da Santa Cruz que vai ao norte; [...] Manoel
da Costa a fez em Évora a 21 dias do mez de Janeiro de 1535.
REY 84
sul. No entanto, para efeito de análise e descrição, faremos um corte espacial e nos
deteremos à parcela mais oriental desta costa, que vai do Cabo de São Roque, ao norte
(atualmente localizado no Estado do Rio Grande do Norte) até a Ilha de Itaparica, ao sul
O trecho compreendido entre o Cabo de São Roque até a Ilha de Itaparica apresenta
um clima tropical com boa umidade e é caracterizado pelo aparecimento, em alguns trechos
84
Carta de Doação de D. João Rei de Portugal a Pero Lopes de Sousa in FERNANDES GAMA, José
Bernardo. Obra citada, pág. 105 a 115.
75
da orla marítima, de paredões escarpados que podem atingir até 150m em alguns trechos
Este trecho é ainda caracterizado por paredões de arrecifes que acompanha quase
cordão costeiro.
litorânea, temos que distinguir dois tipos, quais sejam os arrecifes coralíneos e os arrecifes
mortos e vivos que terminam por formar grandes barreiras submersas ou semi-submersas.
O segundo tipo é formado pelo surgimento do arenito, tipo de rocha sedimentar, que tem
composição da água do mar, em regiões que já foram áreas de arrebentação, ou seja, a área
de atividade marítima imediatamente anterior à linha litorânea, onde ocorre a ação das
ondas costeiras, e que por conta das alterações dos níveis do mar, depois de formado o
85
COUTO, Jorge. A Construção do Brasil: Ameríndios, Portugueses e Africanos, do início do povoamento a
finais de quinhentos. Lisboa: Cosmos, 1998, pág. 27.
86
SETTE, Hilton, ANDRADE, M. C. Estudos Pernambucanos. São Paulo: Editora do Brasil, [s. d.], pág.
26.
76
paredão arenítico, passa a ser uma área de contenção das ondas e das correntes marítimas.
Muitas vezes os dois tipos de arrecifes podem estar associados, como podemos ver através
da explanação a seguir:
encontramos as redes fluviais, que também proporcionam, em seus deltas e estuários, locais
A malha hidrográfica que compõe esta parcela do litoral é caracterizada por rios de
pequeno porte, destacando-se como maiores apenas os rios São Francisco, seguindo-se o
Domingos). Além destes, encontramos muitos rios pequenos, que apesar do baixo caudal,
foram significativos para a construção da malha de ocupação européia deste território, haja
vista que todos eles, tanto os maiores quanto os menores, eram navegáveis em seus baixos
interior 88.
87
SETTE, Hilton, ANDRADE, M. C. Obra citada, pág. 21.
88
ANDRADE, M. C. Economia Pernambucana no Século XVI. Recife: Arquivo Público Estadual, 1962,
pág. 26.
77
Tanto na Capitania de Itamaracá como na de Pernambuco podemos destacar alguns
rios que tiveram desde cedo suas barras utilizadas como portos, e no decorrer do processo
de ocupação tiveram suas margens exploradas, iniciando com a extração do pau-brasil, com
dos solos que abrangem a maior parte da faixa de Mata Atlântica ao norte do São
Francisco, hoje denominada de Zona da Mata. Nessa área ocorrem tipos de solos propícios
caminhos naturais de escoamento da produção dos engenhos que se iam instalando em suas
várzeas. Através destes corredores naturais, a produção poderia ser levada até os portos
dimensão das principais bacias fluviais que compõem essa área, o que nos levou a incluir a
descrição dos principais rios, enumerando seus principais afluentes, bem como a extensão
de seus cursos, para que possa servir de base para estudos mais aprofundados a respeito da
das capitanias de Pernambuco e Itamaracá, sem citar o Rio São Francisco, um dos mais
78
Assim, na Capitania de Itamaracá podemos destacar os seguintes cursos d’água, no
sentido norte-sul89 :
Rio Mamanguape –
Borborema apertado entre penedos e alcantis. Lança-se no Atlântico após um curso de 150
Mundaú, o Uruçu, o Guarabira, o Araçaji e o Pirpirituba. Perto da foz, que está a 6º 47’ 12”
S e 34º 57’ 45” W Gr., recebe ainda os riachos Grupiúna e Jacaré, mais propriamente furos
da lagoa Acajutibiró”.
“Rio de 330 quilômetros de curso que, a princípio à Capitania, depois à Província e, por
fim, ao Estado, deu seu nome. Rio de planalto, atravessando regiões de solo pouco
permeável na quase totalidade de seu curso. Começa por três rios distintos: o da Serra, o do
Meio, e o Sucuru. Sua foz se abre quase no meio do litoral paraibano a 6º 57’ 20” S e 34º
48’ 45” W. Gr. Seus principais afluentes, a começar do planalto da Borborema: da margem
89
As informações a respeito dos rios Mamanguape, Paraíba e Gramamae são do Dicionário Corográfico do
Estado da Paraíba, de autoria de Coriolano de Medeiros (Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa
Nacional, 1950). Os demais são do Dicionário Topográfico, Estatístico e Histórico da Província de
Pernambuco, de autoria de Manuel da Costa Honorato (Recife: Governo do Estado de Pernambuco, edição
fac-símile, 1976).
79
perenes. Tem [também] a denominação de Paraíba do Norte, para distinguir -se de Paraíba
Rio Gramame –
Pedras de Fogo. Recebe as águas de vários riachos e ribeiros, entre os quais o Mombaba, o
Prata, o Utinga, o São Bento. Ao S. das barreiras de Jacarapé, lança-se no Atlântico, depois
Rio Goiana –
cidade de Goyanna, donde corre de rumo leste quase sete léguas de extensão pelas grandes
voltas que encontra, não obstante Ter o terreno por ele regado nada mais que quatro léguas;
Rio Tracunhaém –
“Rio que nasce no lugar denominado Dorandongos, na freguesia de Bom Jardim, termo do
Limoeiro; corre 25 a 30 léguas, sob o nome de Japomim, e despeja no rio Goyanna, pouco
adiante da vila deste nome, com um curso de quase 40 léguas, depois de ter recebido os
Rio Capibaribe-Mirim –
“Rio que nasce na serra do Fervedor, no lugar denominado Estreito; junto com o ribeiro
Tracunhaém, forma o rio Goiana, no qual despeja 5 léguas distante da foz. O seu curso é
80
extenso, e se introduz pelas matas. Na foz tem 30 braças de largura e 25 palmos de fundo,
porém diminui progressivamente até 5 palmos de fundo ao passo que se afasta da foz. Em
seu curso são seus confluentes os riachos Cruangi, Água- Torta, Mucambo e Ferreiros”.
Canal de Santa Cruz e alguns de seus confluentes (Tejucupapo, Itapessoca, Siri e Congo):
conquanto a sua barra não seja tão larga como a de Catuama, é muito franca e conserva
ainda muita água em todo o canal que vai da barra ao porto da ilha, a qual tem mais de meia
Riacho de Tejucupapo –
“Corre várias voltas um espaço de 5 léguas do rio Itapessoca, com o qual se une, e entre os
Riacho de Itapessoca –
“despeja na barra de Catuama, entre os outeiros do Funil e Seleiros, com uma foz de 120
braças; o qual é navegável em toda a sua extensão por barcaças, até o encosto do riacho
Massaranduba. Sua extensão é de mais de légua, finda a qual faz um alagado, onde se lança
o riacho Massaranduba”.
81
Riacho do Siri –
“que se divide em dois, denominados Siri e Sibaúma. O riacho Siri tem meia légua de
Rio do Congo –
sentido norte-sul:
Rio Igarassu –
“Rio que nasce nos corgos do engenho Utinga; vai fazer barra na Ilha de Itamaracá, depois
de correr o espaço de 9 léguas fazendo grandes voltas. É formado pelas águas das ribeiras
Rio Beberibe –
“Ribeiro que nasce nas serras que demoram ao ocidente de Olinda; as suas águas correm ao
Rio Capibaribe –
“Rio que nasce na fralda ocidental da serra do Jacarará, um dos ramos dos Cariris Velhos,
no Olho-d’Água do Gavião e Lagoa do Angu; num leito de roc has de sua fonte até a
comarca de Pau-d’Alho, é arenoso daí até o Recife, e se lança no oceano depois de ter feito
82
um curso de 80 léguas pouco mais ou menos. Em seu curso este rio recebe pelo lado do
norte os seguintes riachos: das Pêgas, do Arroz, Urubu, Grota, Fenda, Tapado, Patos, Onça,
Salgadinho, Amparo, Mel, Duas Pedras, Piraíba, Mussurépe, Água-Fria, Massiape, Caiará,
Cachaça, Dindi, Timbi, Camaragibe, Monteiro e Parnamirim, vindo da nascença para a foz;
e pelo lado do sul os riachos: Carapotós, da Madre de Deus, das Tabocas, São Domingos,
Preguiça, Almas, Cortume, Paridas, Breguinho, Barrinha, Urubu, Pedra, Salobro, Catolé,
Mandassaia, Cachoeira, Santa Vitória, Pitombeira, Mandacaru e Rio da Cruz. São portanto,
71, seus afluentes, não falando em alguns que por insignificantes não são mencionados”.
Rio Jaboatão –
“Rio que nasce acima do engenho Jenipapo, corre de oeste a leste, fazendo grandes voltas,
até lançar-se no oceano, na barra das jangadas. A sua foz tem 140 braças de largura e 20 a
25 palmos de fundo que diminuem sucessivamente. Em seu curso recebe as águas dos
Rio Pirapama –
“nasce na freguesia de Santo Antão, no lugar denominado Quaresma; despeja na barra das
Arandu, Araríba, Cajabussú e Tapugi, vindos do norte, e o riacho Utinga, vindo do sul. Sua
83
foz é pouco mais de duas léguas ao norte do Cabo, e tem 60 a 70 braças de largura, 20
palmos de fundo”.
Rio Ipojuca –
“Rio que nasce na Serra do Acaí ou Ararubá; despeja no oceano entre Serinhaém e o Cabo,
com um curso de 72 léguas pouco mais ou menos, 12 léguas ao sul do Recife; aos 8ºº 25’
Porto de Galinhas, o qual é frequentado por embarcações pequenas. Em seu curso recebe
Rio Serinhaém –
“Rio que nasce das duas fontes Palmeira e Brejinho, que saem da serra do Mondé, três
léguas distante da povoação de Bezerros; passa por quatro cachoeiras, mistura-se com água
salgada no engenho Anjo, uma légua distante da vila de Serinhaém e despeja no oceano na
distância de duas léguas. Em seu curso recebe muitos e inumeráveis riachos, dos quais são
Subiró; ao sul os riachos Papiruçú, Bonito-Grande, Onça, Capivara, Pedrez, Capoeiras, Pé-
84
Rio Formoso –
“Belo e elegante rio que nasce na freguesia de Una, atravessa a vila do Rio Formoso, e,
misturando suas águas com as salgadas no engenho do mesmo nome, se lança no oceano,
quatro milhas ao norte do forte de Tamandaré, pouco mais ao sul da ponta da Gamela e
correndo encostado à ponta do Manguinho. A sua foz dista légua e meia da cidade de seu
nome. Neste ponto, porém, já não é tão belo como na foz. Em seu curso recebe o riacho
Goicana, ao norte, e o riacho Aringuide, ao sul. Na foz tem 250 braças de largura”.
Rio Una –
“Rio que tem origem das várzeas da fazenda do Agreste, ao pé de uma pequena serra,
província, depois de 60 léguas de curso. Em seu curso recebe os riachos da Chata, Pirangy,
Carrilho, Verde, Preto, Jundiá, Palmeira, Quandu, Timbó, Estiva, Roncadeira e Barro-
Branco, ao norte”.
A relação acima nos dá uma noção da malha disponível para a exploração da região.
Muitos dos rios que compõem esta malha não são perenes, tendo vazão apenas nas épocas
das chuvas, principalmente aqueles que percorrem as áreas mais afastadas do litoral. Esta
pode ter sido uma das razões que dificultaram a penetração além da zona da mata, na
direção dos sertões. No entanto, os principais rios além de serem perenes, tinham seus
85
2. DESCRIÇÕES E OCUPAÇÕES
Esta área litorânea, que vai do Cabo de São Roque, ao norte (localizado no atual
Estado do Rio Grande do Norte) até o Cabo de Santo Agostinho, ao sul (localizado no atual
Estado de Pernambuco), foi um dos trechos que primeiro foi abordado com olhos mais
atentos, e também documentado, por parte dos europeus, como exposto no capítulo dois.
A área já havia sido reconhecida pelos espanhóis, através de Vicente Yáñez Pinzón,
que esteve presente no Cabo de Santo Agostinho em janeiro de 1500, portanto meses antes
da tomada oficial de posse por parte dos portugueses, que foi efetivada com a expedição de
Pedro Álvares Cabral. Talvez por conta da existência do Tratado de Tordesilhas, de 1494,
os espanhóis não tenham lutado frente os portugueses pela ocupação desta área. No entanto,
o contato espanhol com esta parte do litoral – chegada ao Cabo de Santo Agostinho, onde
Pinzón chegou a desembarcar, bem como sua viagem deste cabo, seguindo o rumo norte,
margeando o litoral, até chegar à foz do Amazonas – está documentada por historiadores e
cronistas europeus do próprio século XVI, tais como Pedro Mártir de Anglería (Décadas
del Nuevo Mundo), Gonzalo Fernández de Oviedo (Historia General y Natural de las
Indias), Frei Bartolomé de las Casas (Historia de las Indias) e Antonio de Herrera (Historia
General de los Hechos de los Castellanos en las Islas y Tierra Firme del Mar Oceano). O
26 de enero [de 1500] descubrió tierra bien lejos, y esto fué el cabo
que ahora llaman de San Agustín, al cual llamó Vicente Yáñez
Cabo de Consolación, y los portugueses dicen la Tierra de Santa
Cruz, y ahora del Brasil. 90
90
LABRADO, Julio Izquierdo. El Descubrimiento del Brasil por Vicente Yáñez Pinzón: El Cabo de
Santo Agostinho. in Conferência proferida no Seminário Internacional “Vicente Yáñez Pinzón e o
Descobrimento do Brasil”, Cabo de Santo Agostinho: inédito, 2000, pág. 10.
86
Este episódio, que concorre com a apropriação oficial portuguesa, haja vista a
antecedência dos espanhóis ser apenas desautorizada por conta do Tratado de Tordesilhas
de 1494, quando o meridiano demarcatório passou a ser definido como a 370 léguas a oeste
das ilhas do Cabo Verde (passando então a incluir a parte continental da América do Sul
que viria a ser a América Portuguesa e posteriormente o Brasil), foi sucedido por uma ação
portuguesa que visava o início do reconhecimento das terras que de jure lhe pertenciam.
Desta forma, no ano seguinte às passagens tanto de Pinzón quanto de Cabral pelo litoral
Assim, em 1501 o rei D. Manuel apresta uma flotilha, que parte de Lisboa em 14 de
maio, na direção das terras noticiadas por Pedro Álvares Cabral no ano anterior, composta
por apenas três caravelas. De acordo com Pereira da Costa, mesmo admitindo, o autor,
haver controvérsias a este respeito, indica ser D. Nuno Manuel o comandante da expedição,
Roque, em 16 de agosto deste ano, e foi costeando a terra, dirigindo-se para o sul, atingindo
o cabo de Santo Agostinho em 28 de agosto, chegando até o Rio São Francisco, chamado
pelos indígenas de pará (mar na língua tupi) e que ficou durante algum tempo sendo
denominado como o pará, levando alguns copistas a grafar Opara, forma considerada
91
COSTA, Pereira da. Anai s Pernambucanos 1493 – 1590, v. 1., Recife: Fundarpe, 1983, pág. 50.
87
errônea por Teodoro Sampaio. 92 Durante este percurso, os pilotos e cosmógrafos da
calendário cristão, os pontos notáveis da costa (estes últimos são os acidentes geográficos
capazes de servir de referência para a aproximação das embarcações vindas de alto mar,
deste litoral levada a efeito pelos portugueses. Após esta expedição ainda serão enviadas
mais duas, 1502 e 1503, que percorrerão quase a totalidade da costa brasileira, consagrando
já neste período, algumas paragens marítimas, entre as quais a Ilha de Itamaracá e o Cabo
de Santo Agostinho.
Na realidade, desde os primeiros contatos dos europeus com esta faixa de costa, as
Santa Cruz, que separa a Ilha de Itamaracá do continente, era denominada em relatos dos
depois da chegada de Duarte Coelho e da fundação da Vila de Olinda, quando o atual porto
do Recife passou a ser utilizado de forma mais incisiva, passou-se então a designar como
porto de Pernambuco tanto a Barra de Itamaracá (parte sul do Canal de Santa Cruz) quanto
o porto do Recife, como nos atesta Methódio Maranhão em Duarte Coelho e a Colonização
de Pernambuco:
92
COSTA, Pereira da. Obra citada, pág. 51, 58 e 61.
88
Itamaracá, do Rio Iguarassú, que era o Pernambuco Velho; e o
porto de Olinda, do Arrecife ou Recife dos Navios, que seria o
Pernambuco Novo. 93
Posteriormente a este momento inicial, a Ilha de Itamaracá e seu entorno foi, senão
a primeira, das primeiras áreas da costa brasileira utilizada pelos europeus para atividades
permanentes. É nesta região que é instalada em 1516 uma feitoria real portuguesa por
Cristóvão Jaques 94. Desde este período são relatados freqüentes combates entre portugueses
e franceses.
importante salientar essa dupla presença européia na faixa litorânea que vai do Rio São
brasil, cada qual cooptando nações indígenas distintas como aliadas nesta exploração, bem
como pela posse da feitoria e controle desta faixa litorânea. Estes embates prosseguirão
mesmo após a instalação das capitanias, como diz Manuel Correia de Andrade:
Esta presença foi um dos motivadores da ação fixadora portuguesa, como meio de
debelar as pretensões francesas a estas terras, como é o caso das campanhas contra as
93
MARANHÃO, Methódio. Duarte Coelho e a Colonização de Pernambuco, in Conferencia Feita em
Sessão Solenne do Gabinete Portuguez de Leitura, Recife: Imprensa Industrial, 1935, pág. 21.
94
“A instalação da Feitoria de Cristóvão Jaques em Pernambuco, representa portanto o primeiro assentamento
europeu em terras brasileiras”. ALBUQUERQUE, Marcos. O Processo Interétnico em uma Feitoria
Quinhentista no Brasil. Revista de Arqueologia, São Paulo, 7:99-123, 1993, pág. 107.
89
desmembramento desta capitania em 1585, quando é criada a Capitania da Paraíba, como
recurso para melhor ocupar e vigiar as terras que vinham sendo utilizadas pelos franceses e
denominados de “monções”. Esta nomenclatura foi utilizada por pilotos, mestres de navios
documentos.
oceanos.
Assim, os continentes são mais quentes que os oceanos no verão, invertendo-se essa
relação no inverno. No primeiro caso ocorrem baixas pressões nos continentes (maiores
diariamente, pela manhã as baixas pressões localizam-se no oceano, fazendo com que os
95
ANDRADE, Manuel Correia de. Itamaracá, uma Capitania Frustrada. Recife: FIDEM – Centro de
Estudos de História Municipal – CEHM, 1999, pág. 24.
90
No trato cotidiano, os mareantes denominavam estes movimentos de “monções
Outra variante de relevo para as navegações, diz respeito às marés. Segundo Jaime
executadas ao longo das costas e ao acesso às formações naturais utilizadas como portos e
ancoradouros.
corrente sul/norte, que impedia as embarcações que se dirigiam ao litoral sul de dobrarem o
Diante deste quadro, a coroa chegou a determinar que as frotas deveriam partir de
Lisboa, em fins de março ou abril, atingindo a Índia em setembro ou outubro. O retorno era
estabelecido em fins de janeiro do ano seguinte, o que permitia chegar a Lisboa em agosto
ou setembro. Quando não se observava este cronograma, os resultados das viagens eram,
em sua grande maioria, desastrosos. Dispersões provocadas pelos temporais e ventos fortes;
levavam ao fracasso.
91
Até certo ponto, muitos dos problemas referentes à navegação para a Índia, foram
para partidas de Lisboa ao Brasil, e retorno deste para a Metrópole, foi alvo de vários
experimentos ao longo do tempo. Os elementos que tinham que ser conciliados neste
esquema náutico eram: fazer coincidir com os meses de verão na partida de Portugal,
chegada à Colônia, e partida desta e chegada a Lisboa. Além disto deveria ainda haver a
Apesar dos ventos serem mais propícios às travessias, a conciliação dos fatores expostos
A tabela que mostraremos a seguir foi construída com o objetivo de permitir uma
que desempenharam importante papel para a ocupação da área delimitada, de acordo com o
exposto até o momento. Seguimos, da mesma forma que na relação dos rios, o sentido
nome com o qual o local é atualmente conhecido e, logo abaixo deste, outras denominações
que aparecem em fontes e referências históricas. Na segunda coluna, tentamos dar uma
localização aproxi mada, haja vista que nem sempre foi possível encontrar as coordenadas
92
exatas de cada localidade tratada. Na terceira coluna, incluímos algumas características do
porto, ressaltadas pelos textos citados, e que podem denotar o maior ou menor grau de
importância que teve, no período colonial, este local. Por fim, na quarta e última coluna,
procuramos rastrear as referências mais antigas a respeito da utilização do local, quando ele
deve ter aparecido em textos descritivos ou em mapas e cartas náuticas, que também são
assim, incluí-la neste capítulo, pois permite que se tenha uma noção da disponibilização de
decorrem do fato de que as fontes tratadas nem sempre traziam informações sobre todos os
pontos, mas que poderá ser complementada futuramente, em continuando estes estudos.
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Baía da Traição Limite norte da Capitania “Ancoradouro de naus” Século XVI (c. 1587)
de Itamaracá, separando- “porto muito cômodo para (Gabriel Soares de
(variações do nome a da Capitania do Rio muitos navios” Sousa – Notícia do
potiguar: Acajutibiró ou Grande. (J. A. G. de Mello, Fontes Brasil)
Acejutibiró) para a História do Brasil
Holandês, pág. 44)
- Ponta de Lucena Ponta de terra que forma “podem capazmente surgir Século XVII (c. 1638)
uma baía, os maiores navios” (J. A . Gonsalves de
aproximadamente entre (J. A. G. de Mello - Fontes Mello)
93
três e quatro quilômetros para a História do Brasil
ao norte do Rio Paraíba. Holandês, pág. 93)
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Barra do Rio Litoral norte do atual “Entram caravelas da costa” Século XVI (c. 1587)
Mamanguape Estado da Paraíba. (Gabriel Soares de Sousa, (Gabriel Soares de
Notícia do Brasil) Sousa, Notícia do
(Variações do nome: Brasil)
Maguape, Manguape,
Mamanguaba,
Mongonguape)
- Barra do Rio Paraíba Litoral norte do atual “Tem um ilhéu na boca, que Século XVI (c. 1587)
Estado da Paraíba (ao o divide em duas barras: (Gabriel Soares de
(Barra do Rio São norte da atual cidade de Barra Norte, entram Sousa, Notícia do
Domingos; Porto de João Pessoa). caravelões. Barra Sul, entram Brasil)
Cabedelo; Porto da naus grandes”.
Paraíba) (Gabriel Soares de Sousa,
Notícia do Brasil)
- Porto dos Franceses Entre a Ilha de Itamaracá “É capaz de grandes naus” Século XVII
e o Rio de Aramama. Os (Diogo de Campos Moreno, (c. 1612)
franceses desde muito Livro que dá Razão so Diogo de Campos
cedo freqüentavam esta Estado do Brasil) Moreno – Livro que dá
parte do litoral. Razão so Estado do
94
Brasil)
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Porto do Rio Abiaí Antigo limite entre a “Foram os franceses se Século XVI
cidade de Goiana e a organizando para melhor (Pereira da Costa,
(Porto do Rio Auijayá; Paraíba (cf. Pereira da poderem comerciar nas Anais Pernambucanos)
Porto do Rio Abiá) Costa, vol. I, pág. 164) costas de Itamaracá,
estabelecendo ao norte um
porto conhecido como Porto
dos Franceses e outro no Rio
Auijayá, hoje Abiaí.”
(Pereira da Costa, Anais
Pernambucanos)
- Barra do Rio Goiana Litoral norte do atual “Navegável por sumacas até
Estado de Pernambuco, três léguas [c. 18km] acima”
(Barra do Rio Guayana; atual divisa entre este (Aires de Casal – Corografia
Barra do Rio Goyanna) Estado e o da Paraíba. Brazilica)
95
Pereira, Roteiro da Costa
Norte do Brasil, pág. 8)
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Rio Ubu Parte Norte do canal de Um dos locais onde eram Século XVI
Santa Cruz. desembarcados escravos. (c. 1569)
(portos do Engenho Ubu) (cf. Pereira da Costa, Anais (Pereira da Costa,
Pernambucanos, v.1, pág. Anais Pernambucanos,
385) v.1, pág. 385)
- Porto do Buraco Na confluência dos rios Capaz de abrigar pequenas Século XIX
Tracunhaém e embarcações. (c. 1859)
Carrapicho, ao lado da (cf. D. Pedro II – O
Ilha de Itapessoca. Imperador Intinerante)
96
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Povoação de Pilar do Povoação localizada na “A partir de 1750, Século XVIII (c. 1750)
Porto Ilha de Itamaracá. Atual transformou-se o Pilar numa (Pereira da Costa –
sede do município. espécie de ‘Porto Seguro’ Anais Pernambucanos)
para um grande número de
barcaças, transportando
açúcar e outros produtos
entre diversos pontos da
costa nordestina.”
(cf. Pereira da Costa – Anais
Pernambucanos)
- Barra de Itamaracá Entrada sul do Canal de “Entram navios de mais de Século XVI
Santa Cruz, ao sul da Ilha cem tonéis.” (c. 1516 e 1534)
(Porto de Pernambuco de Itamaracá. (cf. Gabriel Soares de Souza (Ordem Régia para
Velho; Rio de – Notícia do Brasil) fundação de uma
Pernambuco; Porto de feitoria real, por
Itamaracá; Feitoria de Cristóvão Jaques, em
Itamaracá; Porto dos 1516 e a Carta de
marcos; Estância dos Doação da Capitania
Marcos; Ancoradouro da de Pernambuco a
Ilha de Itamaracá,; Canal Duarte Coelho, em
da Barra de Entrada) 1534)
TOTAL DE PORTOS
IDENTIFICADOS NA 22 PORTOS
CAPITANIA DE
ITAMARACÁ:
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
97
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Barra de Maria Em frente à povoação de “Visitado por barcos que o Século XIX
Farinha mesmo nome, litoral atingem com o concurso da (c. 1877)
norte de Pernambuco. maré” (Francisco Filippe
(Pereira da Costa – Anais Pereira – Roteiro da
Pernambucanos) Costa Norte do Brasil)
- Barra de São José Entre Maria Farinha, ao “Barra que oferece bom Século XIX
norte, e Pau Amarelo, ao ancoradouro.” (c. 1877)
sul. (Francisco Filippe Pereira – (Francisco Filippe
Roteiro da Costa Norte do Pereira – Roteiro da
Brasil) Costa Norte do Brasil)
- Barra do Rio Tapado Atual município de “barreta com 22 palmos de Século XVII
Olinda, PE. profundidade, pedra, na (c. 1631)
(Surgidouro do Rio baixa mar, mas muito estreita (João Teixeira
Tapado) e dividida em dous canaes Albernás – carta
por uma grande pedra a meio náutica)
que é secca.”
(Sebastião Galvão –
Diccionario Chorographico,
histórico e estatístico de
Pernambuco)
98
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Passo do Fidalgo Atual município do “para se vai em barcas que Século XVII
Recife, PE. sobem o Rio Capibaribe.” (c. 1630)
“estava situado à (Pereira da Costa, Anais (Pereira da Costa,
margem esquerda do Rio Pernambucanos, v. 2., pág. Anais Pernambucanos)
Capibaribe, em Santana, 111)
e em terras que
originariamente
pertenceram ao Engenho
Casa Forte, e depois às
do Jequiá.”
(Pereira da Costa, Anais
Pernambucanos, v. 2.,
pág. 111)
99
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Enseada de Suape Ao sul do Cabo de Santo “Abriga grandes naus.” Século XVI
Agostinho, atual (Gabriel Soares de Sousa, (c. 1500)
(Porto do Cabo de Santo município de Ipojuca, Notícia do Brasil) (Pereira da Costa,
Agostinho; Cabo de Santo PE. Anais Pernambucanos)
Agostinho; Cabo de Santa
Maria de La Consolación;
Barra do Rio Suape; Porto
de Nazaré; Barra de
Nazaré)
100
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Ilha de Santo Aleixo A pouca distância do “Surgidouro e abrigo para Século XVI
litoral entre as barras de naus”. (Pereira da Costa,
Serinhaém e do Rio (Gabriel Soares de Sousa, Anais Pernambucanos)
Formoso. Notícia do Brasil)
- Barra do Rio de Atual município de “entram caravelões.” Século XVI (c. 1585)
Maracaípe Ipojuca, PE. (Gabriel Soares de Sousa, (Gabriel Soares de
Notícia do Brasil) Sousa, Notícia do
Brasil)
- Barra do Rio Formoso Atual município de Rio “entram navios da costa.” Século XVII
Formoso, PE. (Francisco Felippe Pereira,
Roteiro da Costa Norte do
Brasil)
101
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Barra do Rio Litoral norte do atual “Entram navios de honesto Século XVII
Camaragibe Estado de Alagoas. porte.” (c. 1640)
(J. A. G. de Mello, Fontes (J. A. G. de Mello,
(Rio Camaragipe; Rio para a história do Brasil Fontes para a história
Camuriji) Holandês, pág. 140) do Brasil Holandês)
- Baía da Barra Grande Litoral norte do atual “é uma baía fechada por um Século XVII (c. 1640)
Estado de Alagoas. arrecife, própria para (J. A. G. de Mello,
“está situado entre Porto recolher navios grandes e Fontes para a história
Calvo e Una.” como tem mais de uma do Brasil Holandês)
(J. A. G. de Mello, mulha [cerca de 2km] de
Fontes para a história extensão, pode abrigar um
do Brasil Holandês, pág. número vultoso deles.”
139) (J. A. G. de Mello, Fontes
para a história do Brasil
Holandês, pág. 139)
- Porto Calvo Litoral norte do atual “onde podem entrar navios Século XVII
Estado de Alagoas. de porte médio.” (c. 1630)
(Rio das Pedras) “este povoado dista (J. A. G. de Mello, Fontes (J. A. G. de Mello,
umas cinco milhas para a história do Brasil Fontes para a história
[cerca de 11km] da praia Holandês, pág. 140) do Brasil Holandês)
e é banhado por um rio
de 9 a 10 braças de
fundo, pelo qual se pode
subir do mar para o
povoado.”
(J. A. G. de Mello,
Fontes para a história
do Brasil Holandês, pág.
36)
- Barra do Rio de Santo Atual Estado de “onde podem entrar navios Século XVII
Antônio Grande Alagoas. de porte médio.” (c. 1640)
(J. A. G. de Mello, Fontes (J. A. G. de Mello,
para a história do Brasil Fontes para a história
Holandês, pág. 140) do Brasil Holandês)
- Porto Velho dos Entre a Barra de Santo “ancoradouro de naus” Século XVII
Franceses Antônio Grande e a (João Teixeira Albernás, (c. 1631)
Barra do Rio São carta marítima) (João Teixeira
Miguel, atual Estado de Albernás, carta
Alagoas. marítima)
102
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Barra do Rio de São Atual Estado de “entram navios da costa.” Século XVII (c. 1640)
Miguel Alagoas. (João Teixeira Albernás, (J. A. G. de Mello,
carta marítima) Fontes para a história
(Porto de São Miguel) do Brasil Holandês)
- Baía da Ponta de “fica duas milhas [cerca “Situado atrás de arrecifes e Século XVII
Jaraguá de 4,5km] ao norte de onde navios grandes podem (c. 1640)
Alagoas [atual cidade de ficar abrigados. (J. A. G. de Mello,
(Barra do Rio da Alagoa; Maceió]” Dá acesso à Vila das Alagoas Fontes para a história
Barra do Rio das Alagoas; (J. A. G. de Mello, [atual cidade de Maceió].” do Brasil Holandês)
Porto Jaraguá) Fontes para a história (J. A. G. de Mello, Fontes
do Brasil Holandês, para a história do Brasil
pág.139) Holandês, pág. 139)
103
REFERÊNCIA MAIS
DENOMINAÇÕES LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS ANTIGA
- Barra do Rio Cururipe Litoral sul do atual Bonita baía, onde navios
Estado de Alagoas. grandes podem entrar para
abrigar-se, sofrer limpeza e
reparo.
Capacidade para muitos e
grandes navios”
(J. A. G. de Mello, Fontes
para a história do Brasil
Holandês, pág.139)
- Rio São Francisco Atual divisa entre os “grande e caudaloso rio.” Século XVI
estados de Alagoas e (Pereira da Costa, Anais (c. 1501)
(Pará; Opara) Sergipe. Pernambucanos, v. 1, pág. (pereira da Costa,
58) Anais Pernambucanos)
TOTAL DE PORTOS
IDENTIFICADO NA 35 PORTOS
CAPITANIA DE
PERNAMBUCO:
104
Considerações Finais
século XV. Podemos dizer que, ao mesmo que era impulsionadora, a navegação era
o Europa assistiu com interesse o gradual avanço dos países ibéricos sobre o Mar
Oceano Atlântico foram sendo removidas. Haviam sido sedimentadas por lendas e
mitologias sobre sua natureza sobrenatural, as criaturas horrendas que o habitavam não
foram encontradas, nem tampouco foi encontrada a latitude das águas ferventes, capazes de
geográficos da costa africana, os portugueses foram sulcando com seus pequenos barcos a
seguida atingir o Oceano Índico. Antes do final do século XV, a Europa via-se estupefata
por esse feito português, que somado ao sucesso da viagem de Cristóvão Colombo, mesmo
que ainda não se soubesse tratar de um novo continente, abria novas perspectivas sobre a
O século XVI assiste à criação do Novo Mundo, depois de se ter certeza de que era
realmente um continente separado da Ásia. Mas, demonstrando como o fato era inusitado,
105
diferenciar das Índias Orientais, na tentativa de incluir toda aquela novidade numa mesma
existência de realidades ignoradas até então. O choque foi grande, pois não se sabia
conhecidas. Como classificar os povos que eram contatados? Não se conheciam suas
origens, nem mesmo suas línguas. E as plantas, tão diferentes, bem como sua fauna, tão
diversa da conhecida? Demorou muito para que tudo isso se tornasse familiar.
umas às outras em acumulação de riquezas. E terra era riqueza. Desde o início entram em
lutas, tendo como palco o Novo Mundo. Quem conhecesse primeiro seus segredos, e
conseqüentemente suas riquezas, teria em suas mãos um grande tesouro. Sem falar nos
povos da vertente pacífica, os Astecas e os Incas, que pagaram alto preço diante da fúria
ensandecida de aventureiros espanhóis, que os massacraram pelo ouro e pela prata que
possuíam. Na vertente atlântica, mesmo sem possuir grandes cidades, nem mesmo ouro ou
prata, seus habitantes não escaparam da fúria da cobiça por suas terras.
Atlântico Sul, novas estrelas foram incluídas nos compêndios de astronomia. A navegação
que um século antes permitia quase que exclusivamente navegar às vistas da terra, agora
106
pleno alto-mar, mantendo seu curso. Apesar de tudo, os naufrágios ainda eram freqüentes,
Todo esse desenvolvimento da navegação teve que ser adaptado ao contato com os
novos litorais. Escrivãos, a bordo das esquadras, anotavam tudo que pudesse ser observado
sobre estas terras. Em seus escritórios, os cartógrafos transpunham os dados dos pilotos,
capitães e escrivãos, para sua s cartas e mapas, para que as novas partes da Terra passassem
geográficos, os locais onde se poderia aportar e descer em terra. Onde se poderia encontrar
água para abastecer as frotas e armadas. Pouco a pouco se conhece os regimes de ventos e
agricultura. Não bastasse a existência de produtos típicos destas terras, que valiam altos
preços na Europa, tais como o pau-brasil e os papagaios, agora os europeus trazem seus
produtos para que sejam multiplicados nas novas terras. O “ouro branco” torna-se desde o
século dezesseis na grande riqueza produzida no Nordeste do Brasil. Por conta dele
Pernambuco e todo o litoral nordestino ao norte do Rio São Francisco é ocupado por
holandeses, na primeira metade do século XVII. Após sua expulsão, por parte de luso-
brasileiros, o Brasil não mais verá invasões deste tipo, apenas de saqueadores e piratas
interessados em gordo botim, roubando vilas e cidades litorâneas, como acontece com
No final, vêm à tona aquelas informações tão caras aos primeiros exploradores
destas áreas, quase esquecidas no tempo, pois fica fácil passar por cima de detalhes ao se
107
contar a história desde o prisma do vencedor. As informações sobre o meio físico do litoral
nordestino foram levantadas a peso de ouro, para não dizer a peso de vidas humanas, nos
inícios do processo exploratório. No entanto ao olharmos para trás, nos dias atuais, parece
um período de facilidades, iludidos que somos pelo véu do sucesso português de conhecer e
estas terras. As praias, as enseadas, os deltas fluviais, os próprios rios, ainda estão presentes
aqui, esperando que se olhe para eles com olhos inquiridores, perguntando a si mesmos, de
108
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HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio,1994.
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SOUSA, Gabriel Soares de. Notícia do Brasil. São Paulo: MEC, 1972.
112
VARNHAGEN, F. A . História Geral do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, v. 1, 1978.
113
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