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1.1 INTRODUÇÃO
Com a crescente exigência de se atingir grandes produções com índices de produtividade cada
vez mais elevados, o setor industrial impôs um novo paradigma para a engenharia de manutenção:
manter os níveis de disponibilidade de seus equipamentos o mais próximo possível da utilização plena,
durante todas as horas do ano. Neste contexto, as técnicas de manutenção condicionada ou
condicional tornaram se extremamente vantajosas e necessárias. Neste tipo de manutenção, alguns
parâmetros do sistema ou equipamento são monitorado durante seu funcionamento, através de
inspeções periódicas, e se a análise desses parâmetros indicar a existência de um funcionamento não
adequado, estima-se a tendência evolutiva do defeito e programa-se uma parada para correção. No
Brasil, a manutenção condicionada é conhecida como manutenção preditiva.
A principal vantagem desse processo de manutenção é a diminuição do custo de produção
devido às interrupções periódicas e a diminuição da probabilidade de introdução de novos defeitos nas
operações sistemáticas de montagem e desmontagem. Outras vantagens podem ser identificadas como:
• aumento do tempo médio entre cada revisão;
• eliminação de panes não atendidas;
• diminuição de estoque de peças de reposição;
• diminuição do custo de cada intervenção;
• eliminação da substituição de componentes em estado operacional;
• minimização de paradas não programadas decorrentes de quebra de componentes durante o
serviço.
A prática da manutenção preditiva envolve três fases principais:
• A detecção do defeito – consiste na observação de que os valores medidos dos parâmetros
de controle indicam uma evolução mais acelerada que a decorrente da degradação normal do
equipamento;
• O estabelecimento do diagnóstico – é o resultado da análise dos valores dos parâmetros de
acompanhamento estabelecido, com base em modelos de desgaste e informações anteriores
sobre o equipamento, a origem e a gravidade de seus possíveis defeitos;
• A análise de tendência – consiste em se ampliar o diagnóstico e se prever, na medida do
possível, quanto tempo se dispõe antes da parada forçada pela quebra propriamente dita.
Nessa fase, o equipamento é submetido a uma vigilância estrita e se faz a programação do
reparo.
Dentre as várias técnicas disponíveis, aplicadas à manutenção preditiva, destaca-se a
manutenção baseada na análise de vibrações, que tem se provado particularmente útil e indispensável
na monitoração e detecção prematura de anomalias de operação de máquinas rotativas (ventiladores,
compressores, bombas, turbinas, etc.), na detecção e reconhecimento da deterioração de rolamentos,
no estudo de mau funcionamento típicos em maquinaria com regime cíclico de trabalho, laminadores,
prensas, etc., e na análise de vibrações dos processos de propagação de trincas, notadamente em
turbinas e outras máquinas rotativas ou vibratórias. Este método também permite uma grande
confiabilidade na operação de instalações e na interrupção de uma máquina em tempo hábil, para
substituição de peças desgastadas.
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
Na usinagem mecânica com ferramental sofisticado, a medição das vibrações é essencial para a
melhoria da qualidade final do produto. 0 método é aplicado na engenharia civil para o estudo do
comportamento das estruturas sujeitas a carregamentos provocados por um tráfego de alta velocidade.
A idéia básica do método de análise de vibrações aplicado à manutenção preditiva é que as
estruturas das máquinas excitadas pelos esforços dinâmicos decorrentes de seu funcionamento,
respondem com sinais vibratórios cuja freqüência é idêntica àquela dos esforços que os provocaram. O
sinal de vibração, tomado em algum ponto do equipamento, será a soma das respostas vibratórias da
estrutura às diferentes freqüências dos esforços excitadores.
Considerando a deterioração do equipamento traduz-se por uma modificação na distribuição da
energia vibratória, e que sua conseqüência mais freqüente é o aumento do nível de vibrações, pode-se
partir da tomada do sinal vibratório em pontos determinados do equipamento, acompanhar a evolução
desses sinais e identificar o aparecimento de esforços dinâmicos novos ou o aumento abrupto da
amplitude da resposta, que são indicadores do surgimento de defeitos ou degradação do
funcionamento.
É importante ressaltar, a partir do conceito apresentado, que o procedimento se baseia em um
princípio comparativo, ou seja, o que se analisa é a evolução histórica do equipamento a partir de um
instante tomado como referência, ou por comparação com dados estatísticos baseados em
equipamentos semelhantes. O instante escolhido para referência é após o “amaciamento” de um
equipamento novo, ou após uma reforma, ou mesmo, após o restabelecimento operacional decorrente
de uma ação de manutenção corretiva.
Na manutenção preditiva por análise de vibração, é necessário utilizar técnicas de
processamento do sinal vibratório com o objetivo de extrair as informações que permitam
correlacionar algumas características do sinal com o estado do equipamento. Dentre as várias técnicas
que podem se aplicadas são: análise do nível global de vibração, análise do espectro de vibração,
média temporal síncrona, demodulação ou técnica do envelope e diagramas de órbita.
A implementação de um sistema de monitoração e análise de vibrações de máquinas tornou-se
possível através do desenvolvimento de instrumentos de medição e de análise de vibrações
denominados Analisadores de Sinal Dinâmico (ASD). As vibrações em máquinas são uma
combinação complexa de sinais causados por uma variedade de fontes internas de vibração. O poder
dos ASD reside na sua capacidade de reduzir estes sinais complexos às suas partes componentes.
No exemplo ilustrado na Figura 1.1, a vibração produzida por debalanceamento residual do
rotor, por defeito de rolamento e pelo engrenamento – cada fator ocorrendo numa freqüência
específica. Representando a amplitude de vibração em função da freqüência – o espectro de vibração,
o ASD torna possível a identificação das fontes individuais de vibração.
Os dados de vibração são separados em componentes de freqüência através do ASD; a análise
pode associar estas componentes a elementos específicos da máquina e determinar, dependendo do
objetivo, se alguma componente individual é anormal. A energia total em cada componente é
geralmente pequena, e a capacidade do ASD para separar as componentes individuais dá uma
indicação da sensibilidade da medição. Em geral, uma grande alteração numa componente individual
causa uma alteração extremamente pequena no nível global de vibração da máquina.
Analisadores de Sinal Dinâmico podem também fornecer o gráfico da amplitude de vibração em
função do tempo, uma representação que é muito útil na investigação de vibração impulsiva (e.g.
engrenagem desgastada). O formato de mapa espectral/cascata adiciona uma terceira dimensão aos
gráficos de amplitude de vibração versus freqüência. A terceira dimensão pode ser tempo, rotação ou
um contador de disparo acionado por um evento externo.
Os ASD podem ter várias formas, tamanhos e configurações, podendo ser portáteis alimentados
por bateria até modelos de precisão para uso em bancada ou para montagem em sistemas com controle
de computador. Podem possuir sistema de alimentação de um canal ou múltiplos canais (até ~500).
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
Quase todos permitem a automatização e controle através de computador, possuindo também uma
variedade de recursos e programas para pós-processamento.
Amplitude
Conversão da
vibração em sinal
elétrico tempo
Amplitude Amplitude
rotação
• Histórico da máquina
mancal de
rolamento
engrenagens • Análise
• Manutenção
• Teste da máquina
freqüência freqüência
Redução do sinal a suas Correlação das componentes com as Documentação, análise e
componentes características e os defeitos da máquina arquivamento dos resultados
Figura 1.1 O processo de análise de vibrações de máquinas
As técnicas de análise de vibrações são antigas, entretanto, só recentemente com o advento dos
modernos ASD, a análise detalhada de dados de vibração tornou-se eficaz e conhecida. Os objetivos
primordiais da análise dos dados de vibrações são:
• Simplificar e reduzir os dados da vibração a uma forma compacta e de fácil interpretação;
• Associar as características da vibração com as características específicas da máquina
vibrando;
• Fornecer uma medição que possua consistência e repetibilidade e portanto permita
caracterizar a vibração de uma máquina;
• Identificar as características que mudam com o tempo e condições de operação, ou ambos.
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
k
kt l
x θ
m I
θ m
(a) 1gdl (b) 1gdl (c) 1gdl
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
As vibrações mecânicas podem ser diferenciadas em duas classes básicas: vibração livre ou
vibração forçada. A vibração livre ocorre quando o movimento oscilatório do sistema é mantido
somente por forças restauradoras e na ausência da ação de qualquer força excitadora. Neste caso, o
sistema, se deslocado de sua posição de equilíbrio estável e posteriormente solto, passa a oscilar
livremente em uma ou mais de suas freqüências naturais, características do sistema. O número de
freqüências naturais está diretamente relacionado com o número de graus de liberdade – gdl(s)
considerados. Na Figura 1.2 são exemplificados diferentes sistemas modelados através de parâmetros
concentrados (Fig. 1.2a-e) ou elementos finitos (Fig. 1.2f), com diferentes números de gdl(s).
A vibração forçada ocorre quando o sistema é submetido à ação de forças excitadoras
periódicas; nestes casos, o sistema, na condição de regime permanente, é obrigado a vibrar na
freqüência da excitação. Se esta freqüência coincidir com uma das freqüências naturais do sistema, o
mesmo estará na condição de ressonância e as oscilações resultantes podem atingir amplitudes
elevadas, o que normalmente é indesejável. Algumas exceções a esta regra são notadas em
equipamentos projetados propositadamente para serem ressonantes, uma vez que somente uma
pequena quantidade de energia é necessária para se atingir grandes oscilações; são exemplos destes
equipamentos os alimentadores automáticos de materiais e os compressores alternativos magnéticos.
Em sistemas rotativos, normalmente a rotação é a principal fonte causadora de vibrações e
quando a freqüência de rotação coincide com uma das freqüências naturais do sistema, tem-se o
fenômeno de ressonância do sistema e esta rotação é denominada rotação crítica. Nesta condição, as
características dinâmicas dos eixos rotativos mudam de maneira significativa. Cabe ressaltar que,
algumas freqüências naturais de sistemas rotativos variam com a rotação, por exemplo as freqüências
relacionadas à vibração flexional; sendo assim, a determinação precisa das rotações críticas de um
sistema rotativo exige muitas vezes a associação de ensaios dinâmicos em diferentes rotações e de
estudos analíticos elaborados.
Outro aspecto importante envolvendo o fenômeno de ressonância na análise de vibrações em
máquinas é a ressonância de transdutores de vibração que limita a faixa de freqüências de utilização de
transdutores de velocidade e de aceleração.
Os sistemas vibratórios estão sempre sujeitos a um certo grau de amortecimento que impõem
uma resistência ao movimento vibratório, reduzindo a amplitude de vibração e podendo causar
eventualmente até mesmo a parada da oscilação. O amortecimento pode se apresentar de diferentes
formas tais como atritos viscosos ou deslizantes, amortecimento interno ou magnético. Quando o
efeito do amortecimento pode ser desprezado, as vibrações são consideradas não amortecidas.
x(t)
k A t
x
m
T
(a) (b)
Figura 1.3 Sistema massa-mola e diagrama deslocamento x tempo
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
x = A. sen(2π Tt ) (1.1)
Uma outra forma de visualização do movimento harmônico pode ser obtida através da análise
do movimento da projeção, ao longo de um eixo vertical x, de um ponto P que descreve uma trajetória
circular uniforme de raio A e com velocidade angular ω constante, conforme ilustrado na Figura 1.4.
x x
A.sen(ωt)
P
A ωt
θ
ω
θ=ωt 2π
Figura 1.4 Movimento harmônico como projeção de um ponto
x = A. sen(ωt ) (1.2)
2π
ω= = 2 πf (1.3)
T
x = A. sen(ωt ) (1.4)
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
x , x& , &x&
x&
ω2Α
x ωΑ
A t
θ
&x&
θ=ωt
Os três parâmetros de medida de vibração de fato estão relacionados e cada um deles pode ser,
teoricamente, deduzido dos demais através de um ASD; entretanto, o processo de derivação numérica
é bastante complexo quando comparado com a integração numérica, o que impõem limitações na
aplicação prática destas relações.
As amplitudes dos parâmetros de vibração de uma máquina variam com sua velocidade angular
e este efeito, associado às limitações dos transdutores de vibração, usualmente implicam em que
somente um dos parâmetros fornecerá as informações necessárias para a análise. Este efeito é ilustrado
na Figura 1.6 onde são apresentados os níveis globais de vibração num ventilador de baixa rotação e
num par de engrenagens de alta rotação. Os dois itens devem ser observados: (1) os níveis de
deslocamento e aceleração são bem distintos, e (a) a rotação é praticamente constante.
Do primeiro item pode-se concluir que as considerações de freqüência importantes na seleção
do parâmetro de vibração. A aceleração não é uma boa escolha para análise em baixas freqüências,
enquanto que o deslocamento não é adequado para altas freqüências. Nota-se que estas limitações
referem-se aos parâmetros de vibração, não ao transdutor. As limitações da faixa de freqüências dos
transdutores são importantes na seleção do parâmetro, e serão discutidos posteriormente.
Figura 1.6 Variação dos níveis dos parâmetros de vibração com a rotação da máquina (1mil≡0,001in)
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
x,v,a x,v,a
t A t
T T
Existem fenômenos físicos que resultam em sinais de vibração que não apresentam
componentes periódicas ou harmônicas relacionadas. Tais sinais são considerados aleatórios ou
“randômicos” e possuem como característica comum a imprevisibilidade do seu valor instantâneo em
qualquer instante de tempo; entretanto, suas características podem ser descritas por propriedades
estatísticas. Como exemplos podemos citar as vibrações causadas por forças fluídicas e a saída de um
gerador de ruído. Na Figura 1.8 é apresentado um exemplo típico de sinal aleatório de vibração, onde
fica evidente a não repetibilidade do sinal.
x,v,a
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
x,v,a x,v,a
t t
(a) (b)
Figura 1.9 Sinais transientes de vibração
x,(v,a)
x =0
(a)
x,(v,a)
xpico xRMS
x
xpp |x|
t
(b)
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
Os valores máximos de Pico, xpico, e Pico-a-Pico, xpp, estão relacionados geralmente com a
intensidade dos esforços máximos e os limites de espaço físico a que está submetida a estrutura
vibrante. Estes valores nem sempre são muito significativos do ponto de vista de análise de vibração.
Os sinais de vibração podem ser representados por uma componente estática, invariante no
tempo, e uma componente dinâmica que varia no tempo. A componente estática ou estável é definida
pelo Valor Médio - "Mean Value", x , análogo ao nível d.c. de um corrente elétrica, e é determinado
pela seguinte integral
T
x = lim 1
T →∞ T ∫ x( t )dt (1.7)
0
A componente dinâmica é descrita pela Variância, σ 2x , que mostra como os dados oscilam em
torno do Valor Médio. A Variância é determinada pelo valor médio quadrático do sinal após a
subtração o seu Valor Médio
∫ [x( t ) − x ] dt
2
σ 2x = lim T1 (1.8)
T →∞
0
σx = σ 2x (1.9)
O valor médio da intensidade de um sinal de vibração pode ser definido através de seu Valor
Médio em Módulo - "Average Value", | x | . Este parâmetro desconsidera o “sentido” do sinal de
vibração e é determinado pela seguinte integral
T
| x |= lim1
T →∞ T ∫ x( t ) dt (1.10)
0
∫x
2
x 2 = lim 1 ( t )dt (1.11)
T →∞ T
0
x RMS = x 2 (1.12)
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Manutenção Preditiva Baseada na Análise de Vibrações Flávio Yukio Watanabe
No caso de uma vibração harmônica, como a exemplificada na Figura 1.9a, por se tratar de um
sinal bem característico, os parâmetros que o descrevem apresentam valores bem definidos
x pico = A x pp = 2 A
x =0 σ 2x ≡ x 2 = 0 ,5 A 2
Outros dois parâmetros empregados são o Fator de Forma, Ff, e o Fator de Crista, Fc, definidos
pelas expressões apresentadas a seguir
x RMS x pico
Ff = e Fc = (1.13)
x x RMS
O Fator de Forma e o Fator de Crista dão uma idéia da forma da onda do sinal em análise, ou
seja, indicam se ele é mais ou menos homogêneo ao longo do tempo. Grandes valores para o Fator de
Crista indicam a presença de algum pico destacado no período analisado, resultante, provavelmente,
de algum fenômeno repetitivo, com intervalos de tempo regulares. Valores de Fator de Forma próximo
de 2 indicam fenômenos tendendo a senoidal.
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