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1. DESCRIÇÃO GERAL

1.1. Ficha Técnica

Nome original: “16PF Fifth Edition, Administrator’s Manual”


Autores do teste: R.B. Cattell, A.K.S Cattell e H.E.P Cattell, 1993
Autores do manual original: Mary T. Russell e Darcie L. Karol, 1994
Adaptação portuguesa de: CEGOC-TEA, Lisboa, 1998
Co-edição de: TEA EDICIONES E CEGOC-TEA
Proprietária dos direitos da versão original: I.P.A.T: Institute for Personality and Ability
Testing, Champaign, Illinois
Aplicação: Individual ou Colectiva
Duração: Variável, entre 40 e 45 minutos
População: Adolescentes e adultos
Objectivo: Avaliação de 16 traços de primeira ordem e 5 dimensões globais da
personalidade; incluem 3 medidas de estilos de resposta (manipulação de imagem,
infrequência e aquiescência).
Normalização: Notas percentílicas e decatipos, para adolescentes e adultos de ambos os
sexos.

1.2. Descrição Geral do 16PF

Raymond B. Cattell, com o objectivo de identificar os principais traços que permitem


descrever a personalidade, aplicou técnicas factoriais a listagens de adjectivos, resultantes
de estudos como os de Allport & Odbert (1936) que procuravam descrever o comportamento
humano. No seguimento desses estudos factoriais, em que encontrou 12 factores (Cattell,
1943; 1945; cit. em Goldberg, 1995), a que veio a juntar mais 4, elaborou o 16PF
(Questionário de Personalidade de 16 Factores). A Forma 5, ainda que actualizada e revista,
continua a ser constituída pelas mesmas 16 escalas primarias de personalidade
identificadas por Cattell há mais de 45 anos.
As escalas continuam a designar-se pelas letras A a Q4 e identificam-se a partir de
um título descritivo (por exemplo, A é Afabilidade, B é Raciocínio e C é Estabilidade). Os
antigos factores de segunda ordem denominam-se agora “dimensões globais”. Contudo, o
seu suporte teórico continua a ser uma estrutura factorial similar à encontrada
anteriormente, o que confirma os dados originalmente descritos por Cattell.
O instrumento contém 185 itens destinados a medir quer os 16 traços primários quer
o índice MI (Manipulação da Imagem ou Desirabilidade Social). As escalas contêm entre 10
e 15 itens e a prova pode ser aplicada, individualmente ou em grupo, em menos de uma
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hora. O nível de leitura exigido está ao nível do ensino básico. Além das propriedades
aplicáveis a todas as Formas do 16PF, na Forma 5 procurou-se optimizar alguns aspectos:
1. Foi revisto o conteúdo dos itens para os tornar adequados a uma linguagem
mais actual, procurando-se ainda eliminar ambiguidades. Também se tentou evitar
enviesamentos referentes a aspectos como sexo, raça e cultura.
2. As alternativas de resposta aos itens das escalas de personalidade
unificaram-se no seu formato mediante a inclusão de uma alternativa intermédia que se
representa pelo sinal de interrogação, “?”.
3. Foram construídos novos índices para medir os desvios de resposta. O índice
MI (Manipulação da Imagem) é formado por itens independentes dos das escalas de
personalidade e vem substituir as escalas de "distorção" ou "boa/má imagem" das
edições anteriores. Nesta Forma 5 foram incorporados um índice de Infrequência (IN) e
outro de Aquiescência (AQ). Contudo, nenhum destes índices deve ser considerado
como necessário para “ajustar" os decatipos obtidos no perfil.
4. Foram melhoradas as características psicométricas do instrumento. Nos
estudos originais obteve-se uma medida da garantia, baseada na avaliação da
consistência interna, com valores entre 0,64 e 0.85, e uma média de 0,74; a medida da
garantia avaliada pelo método de teste-reteste apresenta uma média de 0,80 num estudo
com duas semanas de intervalo e de 0,70 quando o intervalo é de 2 meses. Também nos
estudos originais foram actualizados os critérios de Adaptação/Ajustamento e Potencial
de Criação e acrescentaram-se outros, como Empatia e Auto-estima.

Em resumo, o 16PF-5, enquanto medida de largo espectro da personalidade, é um


instrumento útil para predizer a conduta das pessoas em situações e actividades muito
diferentes, quer em orientação escolar e profissional quer em contexto de selecção de
pessoal. O psicólogo clínico também pode beneficiar de medidas "normais" de
personalidade nas quais se enquadra os "desvios" dos seus casos especiais. Os
departamentos de recursos humanos podem aproveitar a informação dada pela
multiplicidade das suas escalas, ponderando-a de acordo com os requisitos das funções dos
trabalhadores avaliados.

1.3. Fundamentos Teóricos do 16PF

Há 49 anos quando Cattell e colaboradores se propuseram medir todos os traços de


personalidade, supuseram que as distintas denominações que se davam à personalidade
deveriam estar relacionadas com os adjectivos que as pessoas usam normalmente para
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descrever os outros. Portanto, começaram a sua investigação, partindo de uma listagem de


18.000 adjectivos ingleses, elaborada por Allport e Odbert (1936).
Inicialmente, os investigadores pediram a "observadores exteriores" que
classificassem sujeitos que conhecessem bem, através de um subconjunto de adjectivos.
Com esta técnica estatística, é possível reduzir um vasto número de variáveis a um número
mais reduzido que explique satisfatoriamente o conjunto maior. Deste modo, pretenderam
evitar a existência de termos similares na lista de Allport e Odbert. A seguir, submeteram à
análise factorial as classificações feitas pelos observadores. Cattell planeava, deste modo,
identificar factorialmente os traços primários da conduta, aqueles que Allport pudessem
explicar o espectro total da personalidade.
A análise factorial das avaliações dos observadores, dados conhecidos como "dados-
L" ("Life-data" ou dados de observação), identificou 12 traços que explicavam a variabilidade
dos descritores implicados no citado léxico. Estes traços ou factores, etiquetaram-se com as
letras do alfabeto (A, B, C, etc.); faltam algumas letras, como o D ou o j, que identificavam
traços encontrados unicamente nas análises de amostras de crianças ou adolescentes.
As listas de adjectivos assim avaliadas foram transformadas em perguntas ou itens
de escolha múltipla e denominaram-se “dados-Q” (“Questionnaire-data” ou dados de
questionário). Numa série de estudos, as respostas a estes itens foram submetidas a
análise factorial e os seus resultados serviram para elaborar as 16 escalas primárias do
16PF. Doze dessas escalas medem os factores denominados previamente com as letras do
alfabeto e as quatro escalas restantes medem factores designados com as letras Q 1 a Q4
porque surgiram na análise dos '"dados-Q".
Da mesma maneira que os elementos químicos se consideram primários e básicos
na constituição de todo o tipo de matéria ou organismo, Cattell conceptualizou as 16
dimensões primárias, identificadas factorialmente, como traços básicos da personalidade. E
para descrever as qualidades inerentes as pontuações obtidas nas 16 escalas, Cattell criou
nomes distintivos. Por exemplo, denominou "Esquizotímia" aquela reserva característica que
está subjacente nas pontuações baixas da escala A, e utilizou o termo "Ciclotímia" para
explicar o calor humano e afectuoso das pessoas com pontuação alta nessa escala A;
depois nas edições seguintes utilizaram-se termos mais acessíveis para essas variáveis; na
versão portuguesa a escala A é conhecida pelo termo "Afabilidade"' e é acompanhada de
adjectivos que ajudam a definir melhor os pólos alto e baixo da escala.
Tanto na primeira como nas versões seguintes, Cattell analisou factorialmente as 16
escalas primárias para obter factores globais que reunissem (em forma de "agrupamentos")
as escalas primárias. Estes factores globais, designados "factores de segunda ordem"
surgem, de forma consistente, em número de cinco (tanto nos estudos originais como nos
estudos feitos noutras culturas). Têm sido referidos como Extroversão, Ansiedade,
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Dureza, Independência e Auto-Controlo e resumem as interrelações das escalas


primárias, permitindo examinar a personalidade numa perspectiva mais ampla do que a
especificidade das escalas permite.
Em resumo, o 16PF resulta da intenção de Cattell de identificar os traços primários
da conduta mediante a análise factorial do conjunto dos descritores da personalidade total.
Esta forma de construção de provas, através de procedimentos de análise factorial,
distingue-se de outros métodos de construção de testes de personalidade. Nalguns casos,
por exemplo, os inventários são compostos por itens que reflectem constructos definidos por
uma determinada teoria da personalidade (por exemplo: os questionários que medem as
"necessidades" de Murray). Noutros inventários, o conteúdo dos itens está estruturado para
diferenciar grupos entre si (por exemplo, os testes que diferenciam os grupos "clínicos" dos
chamados "normais").
Dado que o 16PF é uma medida de largo espectro da personalidade normal para
adolescentes e adultos, tem sido utilizado em diferentes situações de avaliação (escolar,
clínica, orientação, industrial, organizacional e de investigação) e para medir vários tipos de
comportamento. Estas aplicações incluem a predição de critérios de execução e de
avaliações comportamentais, a determinação de semelhança no perfil de personalidade
entre membros de grupos específicos, a avaliação de alterações de personalidade
resultantes de tratamentos ou manipulações experimentais, ou a predição de outros critérios
e de outras medidas de constructos.

1.4. Desenvolvimento Original do 16PF Forma 5

Depois da primeira edição do 16PF (1949) foram feitas quatro revisões com claras
melhorias nas escalas (1956, 1962, 1967-69 e 1993). O resultado desta quarta revisão de
1993 é a "quinta" edição (e daí o número "5" na sua denominação); é caracterizada por
melhores índices psicométricos do que as versões anteriores e atende às mudanças
culturais e profissionais (por exemplo, foram tidos em consideração os «APA's Standards for
Educational and Psychological Testing» de 1985).
Para elaborar esta quinta revisão, extraíram-se os itens das edições anteriores que
apresentassem alta correlação com a escala a que pertencem e menor com as outras
escalas. Os itens escolhidos foram revistos no seu conteúdo e redacção, eliminando-se ou
alterando-se os conteúdos ambíguos ou inadequados. Também se encurtou e simplificou a
sua redacção, tendo ainda havido o cuidado de evitar enviesamentos por influência do sexo
ou da raça.
O sistema de pontuação foi construído sobre uma escala de tipo "Likert", com três
pontos: um extremo, em direcção ao construto a medir, que recebe 2 pontos, e outro
extremo que recebe O pontos; ao ponto médio desta escala de medida é atribuído 1 ponto,
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tendo-se verificado a sua unificação na quinta edição, propondo-se uma interrogação ("?")
como alternativas entre os dois extremos.
A primeira e as sucessivas edições experimentais foram aplicadas a várias amostras,
que permitissem a análise dos resultados das alterações. Em cada fase foi-se reduzindo o
número de itens, a partir dos dados referentes às correlações item-total, às intercorrelações
das escalas ou aos índices de consistência interna. A última edição experimental continha
14 itens para cada escala (excepto a escala B que incluía 15 questões).
Finalmente, aplicou-se a técnica de "pacotes" ou grupos de itens (seis por escala).
Submeteram-se as pontuações de uma amostra de 3.498 sujeitos a uma análise factorial
visando a identificação dos componentes principais. Foi dessa amostra total que se
seleccionou a amostra normativa nacional. Os 16 factores resultantes submeteram-se a uma
rotação Harris-Kaiser e a duas rotações manuais do próprio R.B.Cattell; deste modo,
chegou-se à definição de seis factores gerais (cinco dimensões globais e um factor de
inteligência); quase todos os "pacotes" saturavam no seu próprio factor e não nos outros.
Reduziu-se o número de itens para a versão final e o instrumento foi tipificado com
base nos resultados obtidos na amostra normativa. O Quadro 1 resume a composição das
escalas de personalidade do 16PF original, indicando o número de itens de tipo Sa (sem
alterações ou modificado apenas numa ou duas palavras), tipo Pa (pequenas alterações nas
palavras ou na redacção da frase), tipo As (alterações significativas, mas mantendo a
mesma ideia) e tipo In (itens novos). No Quadro 1 não estão incluídos os 15 itens das
escalas B (Raciocínio) nem os 12 de MI (Manipulação da Imagem), mas a sua composição
está comentada noutro lugar.
Quanto às escalas B e MI, em cada uma das fases experimentais foram testados
novos Itens. No princípio, reuniram-se 43 itens B de formas ou análises anteriores, foram
depois submetidos a sucessivas triagens, mantendo-se no final apenas os 15 que apresenta
a Forma 5. Esses 15 compreendem cinco itens para cada um dos seguintes aspectos do
raciocínio: verbal, numérico e lógico. Para a análise dos itens, estudou-se a sua capacidade
discriminativa entre vários níveis de capacidade, evitaram-se possíveis enviesamentos de
sexo e raça e estudou-se a sua correlação com outras medidas de inteligência.
A escala MI pretende avaliar comportamentos, sentimentos e atitudes socialmente
desejáveis. Também neste caso se reuniram todos os itens existentes previamente (alguns
enquadrados como medida de "distorção motivacional"), e estudaram-se as correlações com
a escala a que pertencem e com outras medidas de desirabilidade social. Os 12 Itens que
fazem parte da versão final do instrumento só pontuam nesta escala e são independentes
das escalas de personalidade.
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O conteúdo das outras duas escalas de "estilos de respostas", Infrequência (IN) e


Aquiescência (AQ), foi baseado na análise de frequências das respostas encontradas na
amostra normativa.
A escala IN é constituída pelos itens e alternativas de respostas (A, B ou C) que
apresentaram uma frequência muito baixa. Foi, assim, realizado um estudo para estimar a
precisão da escala na detecção das pessoas que tinham respondido ao acaso; uma
pontuação alta, portanto, indica que o sujeito escolheu as alternativas de respostas
consideradas infrequentes na amostra normativa e, provavelmente, respondeu ao acaso ou
sem prestar atenção à tarefa. Para obter esta pontuação só se consideram as alternativas
intermédias ("?") destes itens. A escala AQ desenvolveu-se, considerando as respostas
"Verdadeiro" e o seu objectivo é detectar a tendência à "aquiescência" dos sujeitos que
respondem afirmativamente, independentemente do conteúdo do item. Tanto a escala de B
(Raciocínio) como as medidas IN e AQ de "estilos de resposta" pontuam-se numa escala
dicotómica: 1 ponto na direcção do construto e 0 pontos nos outros casos. No entanto, a
escala de desirabilidade social (MI) pontua-se, como as restantes escalas de personalidade,
numa escala "Likert" de 0/1/2 pontos.

Quadro 1. Alterações à versão original do 16PF

Escalas Sa Pa As In Total
A Afabilidade 2 4 2 3 11
C Estabilidade 2 2 2 4 10
E Dominância 0 5 3 2 10
F Expansividade 5 4 0 1 10
G Atenção-normas 3 4 2 2 11
H Atrevimento 8 2 0 0 10
I Sensibilidade 3 7 0 1 11
L Vigilância 2 1 5 2 10
M Abstracção 2 0 5 4 11
N Privacidade 1 2 3 4 10
O Apreensão 0 2 7 1 10
Q1 Abertura à mudança 2 5 2 5 14
Q2 Auto-suficiência 4 1 4 1 10
Q3 Perfeccionismo 1 1 3 5 10
Q4 Tensão 0 3 4 3 10
Totais 35 43 42 38 158
Percentagens 22 27 27 24 100
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1.5. Descrição das Dimensões Primárias

Como já foi referido, o 16PF-5, ainda que actualizado e revisto, continua a medir as
mesmas dezasseis escalas primárias de personalidade identificadas por Cattell nos estudos
originais.
O Quadro 2 facilita a compreensão dos constructos medidos pelas referidas escalas
mediante uma designação genérica e alguns adjectivos específicos dos pólos baixo
(assinalado com o sinal menos "-“) e alto (com o sinal mais "+"). No capítulo destinado à
interpretação dos resultados das aplicações práticas, o leitor pode encontrar uma descrição
mais fundamentada e detalhada de cada escala.

Quadro 2. Descrição das escalas primárias através de adjectivos


Escala Os pólos baixos (-) e alto (+) definem uma pessoa…
A- Fria, impessoal, distante e reservada
Afabilidade
A+ Calorosa, afável, generosa e atenta aos outros
B- De pensamento concreto
Raciocínio
B+ De pensamento abstracto
C- Reactiva e emocionalmente instável
Estabilidade
C+ Emocionalmente estável, adaptada e madura
E- Deferente, cooperante e evita os conflitos
Dominância
E+ Dominante, assertiva e competitiva
F- Séria, reprimida e cuidadosa
Animação
F+ Alegre, espontânea, activa e entusiasta
G- Inconformista, pouco cumpridora e indulgente
Atenção às normas
G+ Atenta às normas, cumpridora e formal
H- Tímida, temerosa e coibida
Atrevimento
H+ Atrevida/segura socialmente e empreendedora
I- Objectiva, nada sentimental e calculista
Sensibilidade
I+ Sensível, esteta e sentimental
L- Confiante, sem suspeitas e adaptável
Vigilância
L+ Vigilante, desconfiada, céptica e prudente
M- Prática, "com os pés assentes na terra" e realista, pragmática Distraída,
Abstraçao
M+ imaginativa e idealista
N- Aberta, genuína, simples e natural
Privacidade
N+ Fechada, calculista, discreta; não se abre
O- Segura, despreocupada e satisfeita
Apreensão
O+ Apreensiva, insegura e preocupada
Q1- Tradicional e agarrada ao que lhe é familiar
Abertura à mudança
Q1+ Aberta à mudança, experimental e analítica
Q2- Seguidora e integra-se em grupos
Auto-suficiência
Q2+ Auto-suficiente, individualista e solitária
Q3- Flexível e tolerante com a desordem ou com as faltas
Perfeccionismo
Q3+ Perfeccionista, organizada e disciplinada
Q4- Relaxada, calma e paciente
Tensão
Q4+ Tensa, enérgica, impaciente e intranquila

Esta nomenclatura (letras e sinal) tem sido empregue, em geral, para referir os
sujeitos cujos decatipos se situam em ambos os extremos (1-3 na esquerda e 8-10 na
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direita) da escala de decatipos. Este mesmo esquema e nomenclatura emprega-se também


para aludir às relações de uma variável com outra; por exemplo, quando se afirma que "a
Afabilidade (A+) se relaciona com a Extroversão (Ext+) " a expressão indicará uma relação
positiva, enquanto que ao sugerir que "a Sensibilidade (I-) contribui para a Dureza (Dur+) " a
expressão indicará que a Dureza é mais própria da pessoa situada no pólo baixo da
sensibilidade (calculista, objectiva e nada sentimental), ainda que também se possa dizer
que "a Sensibilidade (I+) contribui para a Receptividade (Dur-) ", ou seja para o pólo baixo
da Dureza (ver as descrições do Quadro 3 no ponto 1.6).

1.6. Descrição das dimensões Globais

Além das escalas primárias (A a Q4), o 16PF-5 permite obter dimensões globais da
personalidade, ou "factores de segunda ordem". O Quadro 3 esquematiza essas dimensões
globais mediante adjectivos que definem os pólos baixos e altos das mesmas.
Estas dimensões não só são muito semelhantes aos factores secundários de edições
anteriores do 16PF, como encontram alguma correspondência com as dimensões do
Modelo dos Cinco Factores de Personalidade, ou BIG FIVE, como demonstraremos no
capítulo de Justificação Estatística.

Quadro 3. Descrição das dimensões globais através de adjectivos


Dimensões/Escalas Os pólos baixo (-) e alto (+) definem uma pessoa...
EXTROVERSÃO Ext- Introvertida, socialmente inibida
A+ F+ H+ N- Q2- Ext+ Extrovertida, sociável e participativa
ANSIEDADE Ans- Imperturbável, pouco ansiosa
C- L+ 0+ Q4+ Ans+ Perturbável, muito ansiosa
DUREZA Dur- Receptiva, de mente aberta, Intuitivo
A- 1- M- Ql- Dur+ Dura, firme, inflexível, fria, objectiva
INDEPENDÊNCIA Ind- Submissa, aceita acordos, cede rapidamente
E+ H+ L+ Q 1 + Ind+ Independente, crítica, gosta da polémica
AUTO-CONTROLO AuC- Não reprimida, segue os seus impulsos
F- G+ M- Q3+ AuC+ Auto-controlada, reprime os impulsos

1.7. Escala de Decatipos

As pontuações directas do 16PF transformam-se numa escala típica de 10 pontos


denominados "decatipos". É uma escala de medida que tem mostrado na prática um bom
nível de discriminação dos resultados.
Os decatipos distribuem-se sobre uma escala de dez pontos equidistantes em
unidades típicas (supondo que a distribuição seja normal), com média no decatipo 5,50 e um
desvio padrão de 2 decatipos. Portanto, os decatipos centrais 5 e 6 estendem-se,
respectivamente, meio desvio padrão para ambos os lados da média e compreendem o
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grupo central da população, enquanto que os extremos superiores do decatipo 10 e inferior


do decatipo 1 se encontram a dois e meio desvios padrão de ambos os lados da média.
Assim, pode considerar-se que os decatipos 5 e 6 são valores médios, 4 e 7
mostram um pequeno desvio (numa ou noutra direcção, respectivamente), 2-3 e 8-9 indicam
um grande desvio e 1 e 10 são valores extremos. Todas estas posições devem ser
entendidas como relativas à população específica sobre a qual se realizou a normalização
ou tipificação.
Nas descrições indicados nos subcapítulos anteriores das escalas primárias e das
dimensões globais, as zonas referidas como "pólo baixo" e "pólo alto" referem-se aos
decatipos 1-3 e 8-1. Em cada um destes pólos encontra-se 16% da população e na zona
central ficam compreendidos os dois terços (68%) da mesma.
A figura 1 ilustra estas correspondências sobre uma curva normal ou de Gauss. Na
base, estão as escalas de pontuações típicas "z", decatipos e percentis, assim como as
percentagens incluídas.
Figura 1. Correspondência entre pontuações típicas (Pz), decatipos (DE) e percentis (Pc)

1.8 Aplicações Práticas

Enquanto instrumento de medida da personalidade, o 16PF em geral e a Forma 5 em


particular, podem ser úteis em situações muito diferentes na prática clínica, organizacional
ou educativa. Esta aplicabilidade apoia-se nas suas principais características. Em primeiro
lugar, avalia várias dimensões da personalidade. Além disso, as suas medidas têm uma
orientação "funcional" (i.e., as escalas não se apoiam em concepções subjectivas ou
apriorísticas, mas orientam-se por traços próprios do desenvolvimento normal da
personalidade). Finalmente, as suas medidas integram-se num corpo organizado de
conhecimentos práticos e teóricos.
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Por todas estas razões, as avaliações que permite realizar podem ser úteis em:

a) Aplicações industriais: Existe uma longa história de estudos em que, com o 16PF,
se procurou identificar o perfil característico de muitas actividades profissionais (tais como
piloto de aviação, professor, polícia ou vendedor). Em muitos casos foram encontradas
diferenças significativas entre os grupos profissionais nalguns traços de personalidade. Isto
sugeriu a possibilidade de aplicar equações de regressão para estimar o ajustamento do
perfil de um candidato aos perfis característicos das profissões ou atender selectiva e
unicamente a essas escalas diferenciais.
O 16PF pode também ser útil em estudos de "potencial humano", Por vezes, os
departamentos de recursos humanos pretendem utilizar a descrição dos traços de
personalidade dos empregados para fins de promoção, formação ou mudanças na
organização, etc.
No que se refere a selecção de pessoal, são conhecidas as relações entre
dimensões de personalidade (como a extroversão ou grau de socialização) e diferentes
critérios de comportamento no trabalho.
b) Orientação e aconselhamento escolares: A actividade escolar está ligada, em
maior ou menor grau, a traços de personalidade porque na aprendizagem, além das
variáveis aptitudinais, estão subjacentes alguns traços comportamentais ou motivacionais
que podem ser avaliados com as escalas do 16PF-5. Além disso, também ao nível da
Orientação Escolar e Profissional, o estudo dos traços de personalidade poderá ajudar o
sujeito no seu processo de auto-conhecimento.
c) Diagnóstico clínico: Enquanto alguns profissionais consideram que os diagnósticos
psiquiátricos correntes se deveriam basear na analogia das perturbações com as
enfermidades físicas, categorizando, para isso, os sujeitos com esses problemas em grupos
qualitativamente diferentes, há outros que consideram que a classificação deve ser um
problema de dimensões mais que de categorias. Assim, em vez de classificar cada pessoa
com problemas dentro de uma categoria ou outra, atribuem-lhe uma posição sobre o
contínuo das dimensões globais da personalidade. Este método, além de ser mais fiável,
está mais de acordo com os dados experimentais. Por exemplo, simplificando a estrutura da
personalidade num modelo bidimensional e ortogonal (que permite quatro quadrantes), em
vez de classificar um sujeito com a etiqueta de um ou outro quadrante, são-lhe atribuídas
coordenadas cartesianas de maior ou menor afastamento da zona central. Deste modo, não
somente é enquadrado num ou noutro quadrante como também lhe corresponde um
determinado grau de afastamento ou de gravidade do problema.

Por outro lado, existe uma relação entre o diagnóstico da personalidade e a eficácia
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de um tratamento terapêutico. Este poderá ser mais eficaz em relação a determinados


traços de personalidade que a outros. A escolha de um ou de outro tratamento pode,
inclusivamente, depender da posição precisa do sujeito na estrutura multidimensional da sua
personalidade. Além disso, no tratamento das perturbações do comportamento, o 16PF-5
pode ajudar no diagnóstico ou na avaliação das alterações conseguidas com um certo tipo
de intervenção terapêutica.

d) Aplicações experimentais: A investigação em psicologia tem revelado um interesse


frequente pela relação entre traços de personalidade e outras variáveis que caracterizam o
comportamento dos indivíduos. Também aqui o 16PF-5 pode facilitar o controlo de
determinadas variáveis sujeitas a investigação.

1.9. Material para a Aplicação

Além deste manual (com as bases teóricas, descrição, normas de aplicação e


cotação, fundamentos estatísticos e interpretação dos resultados), é necessário o seguinte
material:
 Caderno de perguntas
 Folha de respostas
 Disquete para cotação

Na versão portuguesa, a prova é cotada informaticamente. O utilizador deve


introduzir em computador as respostas do sujeito (A, B ou C) para obter, através do
programa, todas as pontuações directas nas 16 escalas primárias, nos 3 índices de estilos
de resposta e nas 5 dimensões globais. Estes resultados podem ser convertidos em
percentis e/ou em decatipos através da consulta das tabelas 1 a 5 no manual. O programa
de cotação fará automaticamente a conversão das notas brutas em decatipos, definindo
assim uma representação gráfica do perfil obtido. Este perfil pode-se imprimir directamente,
ficando este registo numa folha que incluirá os dados do sujeito (nome, idade e
escolaridade) e os seus resultados em decatipos para as 16 escalas primárias, as cinco
dimensões globais (com descrições do pólo alto e baixo para facilitar a leitura do gráfico) e
os três estilos de resposta (MI, IN e AQ), aqui sem descrições qualitativas.
Normalmente, a introdução das respostas dadas no computador pode exigir entre 2 e
4 minutos, enquanto que o uso de grelhas de correcção manual exige bastante mais tempo
e não tem a segurança e precisão do suporte informático.
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2. NORMAS PARA A APLICAÇÃO

2.1. Instruções Gerais

Esta Forma do 16PF destina-se à aplicação a adolescentes ou a adultos, individual


ou colectivamente. Para a compreensão dos itens, só é necessária uma capacidade de
leitura ao nível do ensino básico. Outros instrumentos de características similares são o
HSPQ (Questionário de Personalidade para Adolescentes) especialmente elaborado para
adolescentes e aplicável entre os 12 e os 18 anos de idade e o CPQ (Questionário de
Personalidade para Crianças), para crianças entre os 8 e os 12 anos.
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As perguntas apresentam-se com três alternativas de resposta; com excepção da


escala B, a alternativa média é sempre um ponto de interrogação (?). Os 15 itens de
raciocínio estão posicionados no fim do caderno de perguntas, depois dos itens referentes à
personalidade. Esta apresentação facilita a continuidade das respostas de personalidade e
separa-as da avaliação intelectual, o que pode ser desejável nalguns contextos.
A prova não tem tempo limite, mas os sujeitos devem ser encorajados a trabalhar
com rapidez. Aplicam-se aqui as normas comuns à aplicação de qualquer teste,
especialmente no que diz respeito à importância de se criar um clima favorável para que os
sujeitos sejam cooperantes e respondam com sinceridade à prova. Passados cerca de 10
minutos do inicio, o examinador pode evitar que alguns sujeitos se detenham muito nalguns
itens, sugerindo: " Lembrem-se que não devem pensar muito sobre o conteúdo de uma
frase; leiam-na e dêem a primeira resposta que lhes ocorra”. Em geral, a aplicação da prova
demora entre 35 e 50 minutos.
Quando, nalguma situação, se deseje dar ao sujeito a ideia de uma maior
confidencialidade das respostas e pontuações, pode-se aconselhá-lo o identificar-se na
folha de respostas pelo nº do seu Bilhete de Identidade, ficando apenas o examinador a
conhecer o seu nome.

2.2. Instruções Especificas

As instruções para a aplicação do teste estão impressas no caderno.


Estas instruções podem ser lidas em voz alta pelo examinador quando se trate de
aplicações colectivas, enquanto os sujeitos as seguem mentalmente. No caso de um exame
individual, o sujeito pode lê-Ias em silêncio, estando presente o examinador para tirar
qualquer dúvida.
"Em seguida encontrará uma série de frases que permitirão conhecer a sua forma de
sentir e os seus interesses. Em geral, não existem respostas certas ou erradas, porque as
pessoas têm interesses diferentes e vêem as coisas de diferentes pontos de vista.
Responda com sinceridade para que se possa conhecer melhor a sua maneira de ser. Anote
as suas respostas na folha de respostas. Em primeiro lugar, escreva os seus dados (nome,
idade, etc.) no cabeçalho. Para cada frase há três respostas possíveis (A, B, C) e
normalmente a alternativa B é um ponto de interrogação (?) que só deve ser assinalado
quando não lhe for possível decidir entre A e C. Na folha de resposta encontrará estas letras
dentro de uns quadrados. É neles que deverá dar as suas respostas. As perguntas estão
numeradas. Siga a numeração quando Ihes responder. Leia atentamente cada pergunta e
as respostas possíveis; assim, será mais fácil decidir-se.
Agora leia os exemplos que se seguem para praticar um pouco. Pense como Ihes
iria responder. Se tem dúvidas, exponha-as ao examinador".
14

O sujeito responde depois aos 3 exemplos e é encorajado a colocar as suas dúvidas.


Salienta-se, em seguida, que o sujeito deve ser rápido e sincero nas respostas, que
deve evitar a alternativa intermédia B e que deve procurar responder a todas as questões,
sendo-lhe garantida a confidencialidade das suas respostas.
É conveniente que os sujeitos tenham compreendido perfeitamente a tarefa antes de
começarem. Assim, é aconselhável que, uma vez iniciada a prova e durante os primeiros
momentos, o examinador verifique se o sujeito está a seguir as instruções evitando que
pareça estar a ler as suas respostas. Convém assinalar que não devem escrever nada no
Caderno mas apenas na Folha de Respostas e que devem responder com sinceridade e
com rapidez, tendo o cuidado de não esquecer nenhuma questão.
Uma vez finalizada a prova, e antes que o sujeito se retire, convém que se reveja a
sua folha de respostas, para verificar se seguiu as instruções dadas. No caso contrário
talvez seja possível pedir-lhe que corrija as deficiências, pois uma prova incompleta pode
invalidar todo o esforço da aplicação.
A Folha de respostas foi concebida de forma que a cada coluna de resposta
corresponda uma página do Caderno. Isto evita equívocos ao responder. Finalmente, os
itens da escala B (Raciocínio) estão agrupados na página final do Caderno e na última
coluna da Folha de Respostas.

2.3. Normas para a Cotação e Pontuação

As respostas dadas ao 16PF-5 são corrigidas com um programa de cotação


informatizado (apresentado numa disquete). O programa, mediante a introdução das
respostas do sujeito (A, B ou C), vai calcular as notas brutas para cada uma das 16 escalas
primárias e três estilos de resposta.
As pontuações directas obtidas nas escalas primárias, dimensões globais e estilos
de resposta, são transformadas automaticamente em decatipos.
Manualmente, podem converter-se as notas brutas em percentis ou em decatipos
Existem três tabelas de normas: uma para o sexo masculino (tabela 1), outra para o sexo
feminino (tabela 2) e uma terceira que se refere à amostra total, independentemente do sexo
(tabela 3).
Nessas tabelas, cada coluna refere-se a uma escala, desde A a Q4, e no corpo da
tabela encontram-se as pontuações directas correspondentes a cada percentil (impresso no
início de cada linha) e a cada decatipo (impresso no fim de cada linha).
Nas duas últimas linhas encontram-se as estatísticas básicas obtidas na amostra de
tipificação empregue.
Ao tipificar os estilos de resposta e estudar as distribuições de frequências de ambos
15

os sexos, não se encontraram diferenças significativas que justificassem uma derivação de


normas separada. Por isso, as tabelas de normas referem-se à amostra total. A tipificação
realizou-se em percentis (tabela 4). Não obstante, se o utilizador deseja ter os valores
decatipos destas escalas, pode consultar a tabela 5. A consulta baseia-se nos mesmos
critérios referidos para as escalas primárias.
A disquete de cotação permite também obter a representação gráfica dos resultados
do sujeito.

2.4. Elaboração de um Perfil Gráfico

Depois de introduzidos os dados e escolhida a tabela de normas a utilizar, o


programa de cotação permite representar graficamente o perfil. Nessa folha, pode-se
considerar uma zona central que corresponde a média do perfil. Compreende os decatipos 4
e 7. Numa distribuição normalizada (curva de Gauss) ficam aí compreendidos 68% dos
casos, os dois terços dessa população. Portanto, se um dos pontos do perfil sai desses
limites (decatipos 1 a 3 ou 8 a 10), deve ser considerado um desvio significativo à média, no
sentido do pólo baixo ou do pólo alto da variável.
Se a linha chega aos decatipos extremos (1 ou 10) o afastamento é muito
significativo porque, numa distribuição normalizada, só 2,50% se situam em cada extremo.
O significado dos desvios nas dimensões globais é muito mais importante porque os
dados (decatipos estimados das dimensões globais) provêm do conjunto da informação de
várias escalas primárias. Isto é, um desvio da zona média numa dimensão global (fora do
âmbito 4,00 a 7,00) é bastante significativo nessa dimensão específica.
No entanto, é preciso ter em conta que os decatipos referentes as dimensões globais
são aproximados pois resultam de pesos factoriais que, por razões práticas, foram
arredondados às décimas. Se estes tivessem sido considerados em centésimas, o valor
encontrado seria ligeiramente diferente.

4. NORMAS DE INTERPRETAÇÃO

A finalidade deste capítulo é ajudar o utilizador do 16PF-5 a integrar e interpretar


todos os resultados do instrumento. Nos seus vários pontos tenta sintetizar-se grande parte
da informação técnica e orientações apresentadas nas publicações originais (Russel e
Karol, 1994; Conn e Rieke, - 1994).

4.1. Aspectos Gerais


16

Ao utilizar esta prova, o profissional deve ter em conta que a investigação original se
baseou na análise factorial. Assim, as dimensões globais são factores secundários e as
escalas são factores primários. O utilizador que considere ambos os constructos deve
identificá-los com uma letra ou abreviatura (A a Q4, Ext a AuC) e a denominação da variável
subjacente (Afabilidade, Estabilidade, Tensão, Auto-Controlo, etc.).
As escalas primárias são bipolares e interpretáveis nos seus dois pólos. No Quadro 2
(ponto 1.5) indicaram-se alguns adjectivos para descrever as pessoas que se situam nos
pólos baixo e alto. É óbvio não se pode assumir que um dos pólos seja "bom" e o outro
"mau"; por exemplo, a pessoa que pontua alto em A (os casos A+) costuma ser generosa,
afável, calorosa e atenta aos outros, enquanto que a que pontua baixo (A-) tende a ser
impessoal, distante e fria. Parece estar claro que, em algumas situações, a pessoa A - se
pode adaptar-se muito bem e ter uma actividade produtiva, enquanto que noutras situações
será mais adequada a pessoa A+ pelas suas qualidades de atenção aos outros.
No ponto 1.7 descreveu-se a escala das pontuações transformadas (decatipos)
empregue no 16PF-5. O utilizador pode, assim, considerar que na maioria (os dois terços ou
68% centrais da distribuição normal), as suas apreciações sobre a personalidade dos
sujeitos não terá um erro maior de um decatipo. Se este utilizador quiser elevar o seu nível
de confiança (N.c.) a 0,05, teria que admitir a possibilidade de um erro de medida de 2
unidades decatipo, aproximadamente. A esse nível de confiança (o que significa uma
medida correcta em 95% dos casos), a banda de possíveis erros abriu-se a duas unidades
para ambos os lados da medida empírica; por exemplo, o sujeito obteve um decatipo 7, a
esse nível de confiança, podemos dizer que a sua verdadeira medida estará situada na zona
7 ± 2, ou seja entre os decatipos 5 e 9.
Estas considerações aconselham que o profissional não sobrestime diferenças entre
decatipos empíricos, sobretudo quando estão situados nos extremos da escala. Há
situações em que a resposta a um item (numa alternativa que recebe dois pontos), pode
supor um aumento de 2 unidades decatipo (isto pode ser visto nas tabelas de normas), isto
é, que uma só resposta no questionário pode decidir um aumento considerável no resultado
final.
4.2. Estratégia na Interpretação

A estratégia recomendada para a interpretação de um perfil do 16PF-5 implica uma


avaliação com a seguinte:
1. Estilos de resposta
2. Dimensões globais sequência
3. Escalas primárias
A seguir descrevem-se estes passos. Em geral, os estilos de resposta avaliam-se
17

primeiro para detectar enviesamentos de resposta que hajam distorcido o perfil; a seguir
examinam-se as dimensões globais porque permitem uma visão ampla da pessoa;
finalmente, atende-se às escalas primárias para obter detalhes específicos da
personalidade.

4.3. Interpretação dos Estilos de Resposta

O 16PF-S tem três índices de estilos de resposta: Manipulação da imagem (MI),


Infrequência (IN) e Aquiescência (AQ). No capítulo 3 comentaram-se os fundamentos
teóricos e resultados estatísticos da versão original e da adaptação portuguesa destas três
escalas. A sua leitura facilita uma primeira aproximação aos resultados do instrumento.
Estas escalas de estilos de resposta têm como finalidade alertar para possíveis
enviesamentos de resposta por parte do sujeito.
As pontuações directas, bem como os percentis e os decatipos correspondentes,
podem ser obtidos com a ajuda da disquete de cotação. Quando se obtenha uma pontuação
extrema em algum destes índices, o examinador deve elaborar algumas hipóteses sobre as
razões que podem levar o sujeito a adoptar esse estilo de resposta (se possível deve
procurar os dados existentes sobre o sujeito: história prévia, resultados de outros testes,
notas de exames actual, etc.). Há situações em que pode ser necessário rejeitar os
resultados do exame actual e repeti-lo.
A escala Manipulação da imagem (MI) contém 12 itens que não pontuam em
nenhuma das escalas de personalidade. Essencialmente é uma medida da "desirabilidade
social". Uma pontuação elevada sugere respostas socialmente desejáveis, e uma baixa
aponta para um desejo por parte do sujeito de admitir traços ou condutas socialmente não
desejáveis.
Como se indicou anteriormente, esta atitude pode ter, basicamente, dois
componentes, um de manipulação da imagem em relação a si mesmo e outro em relação
aos outros. Em ambos os casos existe a possibilidade desta atitude ser consciente ou
inconsciente, ou do sujeito ter normalmente um comportamento desse tipo. Uma pontuação
alta pode também reflectir um sinal de "adaptação inteligente" às exigências do meio
envolvente, assim como uma forma específica de se comportar (como seria o caso de um
membro de determinado grupo social em que sejam genuínas essas condutas).
No capítulo 3, sugeriu-se a possível correcção do perfil real do sujeito somente nas
situações em que se crê necessário, porque essa actuação modificaria substancialmente o
valor discriminativo do 16PF-5. Talvez fosse preferível determinar um "ponto crítico"
(facilitado por normas em percentis -Tabela 4) que discrimine valores extremos da
desirabilidade social.
18

A escala de Infrequência (IN) é formada por itens das outras escalas do 16PF-5 em
função da baixa percentagem de casos que os escolheram. Para a sua inclusão na escala
só se considerou a alternativa intermédia (a assinalada com o ponto de interrogação "?").
Por isso, ainda que o conteúdo de um item seja "infrequente" nas suas alternativas A ou C,
para a escala IN só se incluíram os casos em que a alternativa escolhida pelo sujeito foi a B.
Uma pontuação alta ("infrequente") sugere que o sujeito respondeu a muitos itens de
um modo diferente da maioria das pessoas. Uma possível justificação pode ser por ter
respondido ao acaso, sem atender aos conteúdos das questões, ou devido a reacções
extremas a determinados conteúdos, ou ainda por dificuldades de compreensão na leitura
ou tentativa de "evitar dar má impressão". O examinador deve procurar compreender as
razões que levaram o sujeito a responder desta forma.
A terceira das escalas de estilos de resposta é a de Aquiescência (AQ), destinada a
apreciar a tendência "Sim, Senhor" com que respondem algumas pessoas sem atender ao
conteúdo específico da questão. Poderia também ser um índice de incongruência do sujeito
que afirma conteúdos dispares, ou reflecte uma má imagem de si mesmo ou tem uma
grande necessidade de aprovação por parte do examinador. As normas elaboradas (em
percentis) são bastante discriminativas, e é aconselhável que o utilizador defina (de acordo
com a sua situação específica de exame) um ponto crítico que discrimine com bastante
precisão os casos de aquiescência. Em qualquer das situações, deveria tentar determinar as
possíveis causas: inconsistência, indecisão, necessidade de aprovação, etc.

4.4. Interpretação das Dimensões Globais

No ponto 1.6 do capítulo "Descrição geral", deste Manual, fez-se uma sumária
descrição das dimensões globais. Cada uma delas é constituída por um grupo de escalas
primárias e vem definida no seu pólo alto (+) e baixo (-) por adjectivos. Na "Justificação
estatística" fundamentou-se a sua construção e relacionaram-se os resultados obtidos em
todas as escalas do 16PF-5 com as de outros instrumentos de medida da personalidade.
A partir destes resultados, o leitor terá avaliado a semelhança entre estas cinco
dimensões globais e os "Big Five" ou cinco grandes da personalidade; para sua melhor
compreensão é necessário ter sempre presente as escalas primárias que compõem essas
dimensões e o pólo positivo ou negativo que sustenta o construto. Por exemplo, quando
uma pessoa pontua A+ (Afabilidade), F+ (Expansividade) e H+ (Atrevimento), estes valores
contribuem para a dimensão global de Extroversão, tal como as pontuações de N- (baixa
Privacidade) e de Q2- (Orientação para o grupo). Além disso, o utilizador pode consultar o
Quadro 30 onde se resumem as principais correlações entre as cinco dimensões do 16PF-5
19

e outras medidas de personalidade. Todos os índices (expressos em centésimas) são


significativos a p <0,01.

Quadro 30. Relações significativas entre dimensões globais e outras medidas da


personalidade
16PF-5 PRF CPI NEO MBTI
Dimensão Esc. De conteúdo Escala “popular” Escala ou faceta Preferência/Tipo
Global (N=225) (N=212) (N=257) (N=119)
Afiliação (56) Sociabilidade (59) E2 Gregariedade (70) Extroversão (68)
Exibição (54) Presença social (54) E1 Calor (61) Introversão (-61)
Conforto/dar (40) Aceitação de si (49) E6 Emoções positiva (47) Juízo (-26)
Ajuda/pedir (39) Empatia (48) E3 Assertividade (45) Sentimento (19)
Divertimento (38) Cap.Estat.social (40) E5 Proc.excitação (39) Pensamento (-18)
Autonomia (-25) Dominância (31) A1 Confiança (38)
Impulsividade (23) Independência (25) A3 Altruísmo (32)
Dominância (20) Flexibilidade (21) N3 Depressão (-28)
Extroversão Racionalidade (-20) Sent. Bem estar (19) N4 Auto-consciencio(-31)
Abert. mudança (18) Tolerância (18) O1 Fantasia (26)
O2 Estética (24)
O3 Sentimentos (24)
A6 Sensibilidade (24)
N6 Vulnerabilidade (-22)
C6 Deliberação (-22)
N1 Ansiedade (-21)
E4 Actividade (21)
Defensividade (42) Independência (-54) N3 Depressão (66) Extroversão (-38)
Agressão (36) Cap. estat.social (-50) N1 Ansiedade (63) Introversão (23)
Exibição (-22) Tend. intuitiva (-50) N2 Hostilidade (59)
Racionalidade (21) Sent. bem estar (-49) N4 Auto-consciencio.(55)
Reconh. social (20) Empatia (-48) Nó Vulnerabilidade (51)
Afiliação (-18) Boa impressão (-47) A1 Confiança (-47)
Presença social (-46) N5 Impulsividade (30)
Realização/ind. (-45) E6 Emoções positiva(-29)
Eficiência intel. (-45) E3 Assertividade (-26)
Ansiedade Sociabilidade (-41) E1 Calor (-24)
Tolerância (-38) E2 Gregariedade (-23)
Realiz./normas (-37) A4 Complacência (-23)
Dominância (-34) O4 Acções (-21)
Aceitação de si (-33) A2 Rectidão (-19)
Fem. /Mas. (30) C5 Auto-disciplina (-19)
Auto-controlo (-28)
Responsab. (-24)
Socialização (-22)
Flexibilidade (-22)
Abert. mudança (-34) Flexibilidade (-32) O2 Estética (-53) Sensação (56)
Compreensão (-32) Cap. estat.social (-27) O1 Fantasia (-41) Intuição (-56)
Racionalidade (27) Aceitação de si (-26) O3 Sentimentos (-37) Sentimento (-26)
Ordem (26) Empatia (-26) O6 Valores (-33) Pensamento (24)
Sensibilidade (-26) Independência (-21) O4 Acções (-31)
Dureza Conforto/dar (-23) Realização/ind. (-21) C2 Ordem (28)
Impulsividade (-19 Presença social (-19) A6 Sensibilidade (-26)
Sociabilidade (-18) C4 Realização (23)
Auto-controlo (18) C6 Deliberação (23)
A3 Altruísmo (-22)
C5 Auto-disciplina (21)
Independência Dominância (54) Dominância (53) E3 Assertividade (60) Extroversão (39)
Exibição (47) Aceitação de si (53) N4 Auto-consciencio(-44) Sensação (-36)
Agressão (29) Independência (51) A4 Complacência (-44) Introversão (-35)
Abert. mudança (29) Sociabilidade (45) E4 Actividade (40) Intuição (32)
Submissão (-28) Presença social (40) A5 Modéstia (-34) Pensamento (22)
Evitam.do risco (-23) Cap.estat.Social (33) E2 Gregariedade (32) Sentimento (-19)
Divertimento (22) Tend. intuitiva (29) A2 Rectidão (-31)
Defensividade (21) Fem. /Mas. (-27) N6 Vulnerabilidade (-31)
Impulsividade (19) Auto-controlo (-22) E5 Proc.excitação (25)
Eficiência intel. (22) O4 Acções (24)
Empatia (19) N1 Ansiedade (-23)
N3 Depressão (-22)
E6 Emoções positiva (22)
20

C1 Competência (21)
E1 Calor (20)
O5 Ideias (20)

Impulsividade (-60) Auto-controlo (54) C2 Ordem (57) Percepção (-57)


Racionalidade (54) Flexibilidade (-54) C6 Deliberação (57) Juízo (54)
Ordem (54) Boa impressão (46) C4 Realização (44) Sensação (38)
Divertimento (-39) Realiz./normas (44) C5 Auto-disciplina (44) Intuição (-35)
Autonomia (-34) Socialização (40) C3 Dever (42)
Abert.mudança (-34) Sent. respons. (32) C1 Competência (39)
Resistência (33) Presença social (-25) O1 Fantasia (-35)
Auto-Controlo
Evitam.do risco (32) Sent. bem estar (20) N5 Impulsividade (-32)
Realização (31) O4 Acções (-32)
Exibição (-25) E5 Proc.excitação (-25)
O6 Valores (-24)
E2 Gregariedade (-23)
E6 Emoções positiva(-22)
A2 Rectidão (20)

No Quadro 31, apresentam-se as correlações significativas das escalas primárias com


outras medidas de personalidade. As denominações das variáveis do questionário NEO-PI-
R são baseadas nas adaptações portuguesas de Lima (Lima & Simões, 1995; Lima, 1997).

Quadro 31. Relações significativas entre as escalas primárias e outras medidas da


personalidade
16PF-5 PRF CPI NEO MBTI
Escalas Esc. De conteúdo Escala “popular” Escala ou faceta Preferência/Tipo
Primarias (N=225) (N=212) (N=257) (N=119)
Afabilidade (A) Conforto/dar (39) Empatia (42) E2 Gregariedade (46) Extroversão (48)
Afiliação (35) Sociabilidade (37) E1 Calor (44) Introversão (-36)
Exibição (30) Presença social (32) A3 Altruísmo (33) Pensamento (-32)
Ajuda/pedir (27) Aceitação de si (32) E6 Em.positivas (31)
Autonomia (-26) 03 Sentimentos (29)
A6 Sensibilidade (27)
Raciocínio (B) Ordem (-26) Eficiência intel. (22) Intuição (27)
Estabilidade Afiliação (27) Sent. bem estar (52) N3 Depressão (-69) Extroversão (36)
Defensividade (-27) Independência (51) N6 Vulnerabilid. (-59)
(C)
Dominância (26) Presença social (47) N1 Ansiedade (-57)
Exibição (26) Tend. intuitiva (47) N4 Auto-consc. (-53)
Cap. estat. social (42) N2 Hostilidade (-49)
Realiz./normas (42) A1 Confiança (40)
Eficiência intel. (42)
Realiz. /ind. (40)
Empatia (40)
Dominância (E) Dominância (48) Dominância (50) E3 Assertividade (55) Extroversão (31)
Agressão (34) Aceitação de si (45) A4 Complacência (-48)
Submissão (-33) Independência (45) A5 Modéstia (-40)
Exibição (31) Sociabilidade (35) N4 Auto-conc. (-39)
Presença social (33) E4 Actividade (38)
A2 Rectidão (-31)
C1 Competência (31)
Animação (F) Divertimento (52) Presença social (51) E5 Proc.excitação (57) Introversão (-51)
Afiliação (50) Sociabilidade (50) E2 Gregariedade (55) Extroversão (48)
Exibição (49) Aceitação de si (43) E1 Calor (45)
Impulsividade (37) Auto-controlo (-38) E6 Em. positivas (41)
Empatia (36) E3 Assertividade (35)
E4 Actividade (30)
Atenção às Impulsividade (-47) Auto-controlo (39) C6 Deliberação (39) Percepção (37)
Autonomia (-37) Boa impressão (37) C3 Dever (36) Juízo (25)
normas (G)
Racionalidade (37) Sento respons. (36) C4 Luta aquisição (32)
Ordem (33) Realiz./normas (34)
21

Realização (30) Flexibilidade (-32)


Resistência (30) Sociabilidade (31)
Divertimento (-30)
Atrevimento Exibição (71) Sociabilidade (63) E6 Assertividade (62) Extroversão (65)
Dominância (46) Aceitação de si (60) E2 Gregariedade (51) Introversão (-52)
(H)
Afiliação (39) Presença social (54) N4 Auto-consc. (-49)
Diversão (36) Independência (51) E1 Calor (43)
Cap. estat. social (50) E5 Proc.excitação (34)
Dominância (48) N1 Ansiedade (-33)
Empatia (43) N3 Depressão (-33)
E6 Em. positivas (33)
N6 Vulnerabilid. (-32)
E4 Actividade (31)
Sensibilidade Compreensão (25) O2 Estética (43) Intuição (28)
O1 Fantasia (27) Sentimento (28)
(I)
O3 Sentimentos (26)
Vigilância (L) Agressão (31) Tolerância (-47) A1 Confiança (-62)
Defensividade (30) Sent. bem estar (-42) N3 depressão (39)
Boa impressão (-41) N2 Hostilidade (35)
Realiz. /ind. (-41) A2 Rectidão (-33)
Empatia (-40) N1 Ansiedade (31)
Distracção (M) Impulsividade (37) Auto-controlo (-46) O1 Fantasia (44) Sensação (-41)
Abert. à mudança (26) Sociabilidade (-44) C5 Auto-discip. (-35) Intuição (41)
Racionalidade (-28) Realiz./normas (-41) C2 Ordem (-33) Percepção (31)
Evitam. do risco (-26) Sent. bem estar (-39) C6 Deliberação (-33) Juízo (-25)
Ordem (-26) Boa impressão (-38) C1 Competência (-32)
Autonomia (25) O2 Estética (26)
O3 Sentimentos (26)
O4 Acções (26)
Privacidade (N) Ajuda/pedir (-41) Sociabilidade (-30) A1 Confiança (-41) Extroversão (-40)
Afiliação (-34) Presença social (-30) E1 Calor (-37) Introversão (37)
Exibição (-32) Cap. estat. social(-28) E2 Gregariedade (56)
Aceitação de si (-27) E3 Assertividade (-29)
E6 Em. positivas (-29)
Apreensão (O) Dominância (-28) Independência (-50) N1 Ansiedade (61) Pensamento (-33)
Exibição (-26) Fem. /Masc. (45) N4 Auto-consc. (56) Extroversão (-32)
Reconhec. social (26) Presença social (-33) N3 Depressão (54) Sentimento (27)
Dominância (-32) N6 Vulnerabilid. (41)
Tend. intuitiva (-31) N2 Hostilidade (33)
Aceitação de si (-25) E3 Assertividade (-28)
Sent. bem estar (-25)
Eficiência intel. (-27)
Cap. estat. social(-27)
Abertura à Abert. à mudança (42) Tend. intuitiva (35) O4 Acções (43) Sensação (-59)
Sensibilidade (30) Realiz. /ind. (32) O2 Estética (40) Intuição (54)
mudança (Q1)
Compreensão (30) Cap. estat social (28) O5 Ideias (30) Juízo (-29)
Racionalidade (-25) Eficiência intel (27) O6 Valores (28)
Flexibilidade (26) O1 Fantasia (27)
Independência (25)
Empatia (25)
Auto- Afiliação (-45) Sociabilidade (-45) E2 Gregariedade (-62) Extroversão (-49)
Conforto/dar (-38) Presença social (-39) E1 Calor (-48) Introversão (42)
suficiência (Q2)
Autonomia (33) Empatia (-34) E6 Em. positivas (-36)
Ajuda/pedir (-33) Cap. estat. social(-27) A1 Confiança (-36)
Divertimento (-29) Aceitação de si (-26) A3 Altruísmo (-30)
Exibição (-26) Sent. bem estar (-25) E5Proc.excitação (-28)
E3 Assertividade (-26)
A6 Sensibilidade
Perfeccionismo Ordem (66) Flexibilidade (-57) C2 Ordem (68) Juízo (57)
Racionalidade (56) Auto-controlo (29) C6 Deliberação (-49) Percepção (-53)
(Q3)
Impulsividade (-45) Boa impressão (27) C4 Luta aquisição (44)
Resultados (35) Realiz. /normas (26) C5 Auto-discip. (40)
Resistência (34) C1 Competência (38)
Divertimento (-29) C3 Dever (35)
N5 Impulsividade (-27)
Tensão (Q4) Agressão (46) Boa impressão (-41) N2 Hostilidade (54)
Defensividade (46) Empatia (-35) A4 Complacência (-41)
Submissão (-31) Cap. estat. Social (-33) N1 Ansiedade (28)
Tend. intuitiva (-27) A1 Confiança (-25)
Tolerância (-26) O4 Acções (-27)
Realiz. /ind. (-26) N5 Impulsividade (26)
Auto-controlo (-25) N3 Depressão (25)
O2 Estética (-25)
22

Antes de começar a examinar especificamente cada uma das dimensões globais de


um perfil, o utilizador deveria atender a dois aspectos gerais: o número de picos e a
congruência das escalas neles implicadas.

Número De Picos

Como se indicou anteriormente, os picos de um perfil (com decatipos extremos,


inferiores a 3,50 ou superiores a 7,50) normalmente indicam as características mais
marcantes da personalidade do sujeito. Se num perfil há muitos picos, isto sugere uma
maior distintividade da personalidade.

Congruência

Em relação à interpretação de uma dimensão global, o profissional deveria identificar


as escalas que são congruentes com a sua pertença a essa dimensão (sobretudo as quatro
ou cinco principais e assinaladas no Quadro 3), e aquelas que vão na direcção oposta.
Conhecendo a tendência de certas variáveis contribuírem para uma dimensão, o avaliador
pode identificar outras combinações não esperadas e elaborar hipóteses sobre possíveis
expressões de conflito na vida pessoal do sujeito.
Por exemplo, se uma pessoa tem uma pontuação alta na dimensão Extroversão e
todas as escalas implicadas são congruentes com essa tendência, o mais provável e que
essa pessoa oriente o seu comportamento para as outras pessoas de maneira consistente.
No entanto, se a pessoa é extrovertida em algumas das escalas implicadas e introvertida
noutras, pode ter conflitos internos para actuar com ambivalência em diferentes situações.
No pólo oposto (caso com tendência à introversão), poder-se-ía pensar numa pessoa que
fosse A- (reservada), com pontuação média em F (Animação) e em H (Atrevimento), e alta
em Q2+ (auto-suficiente e individualista); esta pessoa poderá ser reservada, séria e auto-
suficiente, mas não tímida; se não há sinais de ansiedade ou falta de auto-confiança, a
pessoa sentir-se-á bem com a sua introversão. Contudo, pode pensar-se noutra pessoa com
valor médio-baixo em Extroversão, resultado médio em A (Afabilidade) e em F (Animação),
H- (tímida ou baixa em Atrevimento) e Q2- (orientada ao grupo ou baixa em Auto-
suficiência): esta pessoa seria mais tímida e dependente que a do exemplo anterior. O mais
provável é que esta segunda pessoa se relacione melhor com os outros; outra hipótese é
que ela esteja orientada para o grupo (Q2) para dar resposta à sua timidez.
As normas interpretativas que se incluem nos seguintes pontos são baseadas nos
resultados do 16PF-5; o utilizador poderá ir redefinindo os conteúdos das dimensões e
escalas a partir dos casos com que se depare.
23

Extroversão

De acordo com os principais componentes define-se uma pessoa...


Introvertida versus Extrovertida
Reservada (A-) (A+) Afável
Séria (F-) (F+) Entusiasta
Tímida (H-) (H+) Atrevida/empreendedora
Calculista/fechada (N+) (N-) Simples/natural
Auto-suficiente (Q2+) (Q2-) Seguidora/integrada
Quadro 32. Caracterização da dimensão global Extroversão

A Extroversão tem sido incluída nas primeiras descrições da personalidade. Tem


havido consenso na atribuição do construto a Jung (1921), mas tem sido encontrado e
descrito em muitos estudos posteriores, tais como em Eysenck (1960) e Cattell (1957);
aparece também no actualmente popular modelo "Big Five" da personalidade (Goldberg,
1992). Na Monografia original (Cattell, 1970, pág. 117), a Extroversão é vista como orientada
para a participação social.
O extrovertido tende a mostrar orientação para as pessoas e a procurar relacionar-se
com os outros, enquanto que o introvertido tende a ser menos sociável e aberto, porque
dedica mais tempo a estar com ele mesmo do que com outros.
Tal como o reflectem os seus principais componentes, há vários aspectos que
formam a visão geral da extroversão: inclui-se a afabilidade interpessoal (A+), um tipo
sociável de busca de estimulação denominada Animação (F+), atrevimento (H+), espírito
franco (N-) e a necessidade de afiliação com outros, especialmente em grupo, variável
denominada Auto-suficiência (Q2-).
Há uma grande relação entre a dimensão Extroversão e a desirabilidade social;
várias das escalas que a compõem mostram relações muito significativas com a escala MI
(Manipulação de imagem, ou desirabilidade social); veja-se as descrições das escalas no
ponto seguinte. Por outro lado, ainda que ser introvertido seja socialmente menos desejável
que ser extrovertido, a introversão pode associar-se com a independência de pensamento,
assim como com uma tendência para pensar e deliberar, variáveis menos implicados no ser
extrovertido.
Tal como mostra a primeira parte do Quadro 30, a Extroversão relaciona-se
significativamente com muitas outras medidas de participação social, por exemplo com a
Afiliação, a Exibição e o Conforto/dar do PRF, assim como com todas as facetas de E
(Extroversão do NEO PI-R), com a Sociabilidade, a Presença social e a Capacidade para
adquirir um estatuto do CPI, e com a preferência Extroversão do MBTI.
A Extroversão pode incluir as condutas próprias de uma inclinação para manifestar
24

os sentimentos e mostrar-se empático, tal como sugerem as correlações com a Empatia do


CPI e com as facetas Sentimentos e Sensibilidade do NEO. Além disso está implicada uma
actuação social a partir das suas relações com a Dominância do PRF e com a Presença
social, a Capacidade para adquirir um estatuto social e a Dominância do CPI.
É provável que na Extroversão intervenham aspectos de diversão, flexibilidade e
tolerância, posto que aparecem relações significativas com escalas que avaliam esses
aspectos no PRF e no CPI, assim como em duas facetas da Abertura (O) do NEO, Fantasia
(O1) e Estética (O2). Também podem aparecer relações positivas com o Sentido de bem-
estar (CPI) e negativas com manifestações ansiosas do NEO, a Ansiedade (N 1), Depressão
(N3), Auto-conscienciosidade (N4) e Vulnerabilidade (N6).
No pólo baixo, a Introversão reúne as qualidades opostas: pouca sociabilidade e
baixa flexibilidade. Às vezes pode associar-se com independência de pensamento e
tendência a pensar e deliberar, tal como parecem indicá-lo as relações negativas com as
escalas Autonomia e Racionalidade do PRF, com as preferências de Pensamento e Juízo do
MBTI e com uma das facetas de Conscienciosidade, a escala Deliberação (C6) do NEO.

Ansiedade

De acordo com os principais componentes define-se uma pessoa...


Ajustada versus Ansiosa
Emocionalmente estável (C+) (C-) Reactiva
Confiante (L-) (L+) Vigilante, desconfiada
Segura (O-) (0+) Apreensiva
Relaxada (Q4-) (Q4+) Tensa, impaciente
Quadra 33. Caracterização da dimensão Ansiedade global

Como aconteceu com a Extroversão, a Ansiedade tem sido descrita desde os


primeiros estudos da personalidade, e continua a sê-Io no modelo "Big Five" (Goldberg,
1992). Para ela contribuem vários aspectos implícitos nas escalas primárias: define-se uma
pessoa reactiva (C-), desconfiada (L+), preocupada/apreensiva (0+) e tensa/impaciente
(Q4+).
A Ansiedade pode surgir como resposta a aspectos exteriores ou gerar-se
internamente. Pode ser uma activação da postura de "luta/fuga" associada a uma ameaça
real ou percebida, tal como se depreende das relações observadas. As pessoas com baixa
pontuação em Ansiedade tendem a ser pouco perturbáveis; poderia tratar-se de uma
minimização dos afectos negativos ou de uma falta de motivação perante a mudança por se
sentirem bem consigo mesmas. Como as pessoas ansiosas frequentemente experimentam
em maior medida os afectos negativos, podem ter dificuldades em controlar as suas
25

emoções ou reacções e podem ser levadas a adoptar condutas contraproducentes. Há uma


forte relação entre a desirabilidade social e a Ansiedade; várias das escalas que sustentam
esta dimensão estão correlacionadas com a escala MI do 16PF-5, assim como com a escala
Boa impressão do CPI.
Esta dimensão está relacionada com outras medidas do construto, incluídas todas as
facetas de N (Neuroticismo) do NEO. As pessoas ansiosas tendem a apresentar uma pobre
impressão social e a mostrar falta de confiança ou ambição assertiva, tal como o evidenciam
as relações negativas com as escalas de Dominância, de Presença social, de Capacidade
para adquirir um estatuto social, de Realização de si pela aceitação das normas ou pela
independência e de Boa impressão do CPI. A presença da sensação de não estar bem,
pode deduzir-se das suas relações negativas com as escalas de Sentido de bem-estar e
Aceitação de si do CPI e da relação com N6: Vulnerabilidade do NEO. O sentimento de
ansiedade pode impedir o sujeito de apreciar com clareza os outros e de se apreciar a si
próprio (dadas as relações negativas com Empatia e Tendência Intuitiva do CPI). Os
impulsos de "luta/fuga" podem ser consequência das relações com a Agressão e a
Defensividade do PRF. Na realidade, neste questionário, a Defensividade define-se como a
"predisposição para se defender perante um dano real ou imaginado" (Jackson, 1989, pág.
6). A tendência para não ser capaz de prevenir o descontrolo da tensão pode ser devida às
suas relações positivas com Impulsividade do NEO e Agressão do PRF e às negativas com
as medidas de Socialização, de Responsabilidade e Auto-controlo do CPI.

Dureza

De acordo com os principais componentes define-se uma pessoa...


Receptiva versus Dura
Afável (A+) (A-) Reservada
Sensível (I+) (I-) Objectiva/calculista
Abstraída (M+) (M-) Realista
Aberta à mudança (Q1+) (Q1-) Tradicionalista
Quadro 34. Caracterização da dimensão global Dureza

Originalmente, Cattell denominou esta dimensão "Cortertia", uma forma abreviada de


"Alerta cortical" (Cattell et al., 1970, pág. 119). Os sujeitos que pontuavam alto nesta variável
eram descritos como pessoas em alerta e dispostas a tratar os problemas de um ponto de
vista frio e racional. Posteriormente, adoptou-se e popularizou-se o termo de "postura dura".
No 16PF-5 a dimensão denominou-se em inglês "Tough-Mindedness" (Mentalidade
dura) e traduziu-se com o termo "Dureza", já utilizado na medida da personalidade. No
resumo apresentado nos parágrafos anteriores referem-se os seus componentes principais:
uma pessoa "dura" tende a ser reservada (A-), objectiva (I-), realista (M-) e tradicionalista
26

(Q1-). Além de actuar de modo frio e racional, a pessoa extremadamente dura pode dar a
impressão de ser inamovível, talvez porque tem critérios fixos. Isto é, não tende a abrir-se a
outros pontos de vista, nem a pessoas especiais nem a novas experiências.
No outro pólo, a pessoa receptiva é afável (A+), sensível (1+), abstraída (M+) e
aberta à mudança (Q1+), embora possa acontecer que este sujeito receptivo, ao contrário
do "duro", não tenha em consideração os aspectos práticos e objectivos de uma situação.
Os utilizadores das Formas A a D do 16PF não puderam obter esta dimensão entre
os "factores de segunda ordem" porque tinha ficado diluída entre os quatro factores
definidos, e o termo "dureza" tinha sido empregue para definir o pólo baixo da escala I
(Premsia, Sensibilidade branda). No presente 16Pf-5, o termo passou a definir a dimensão
global porque envolve um conjunto em que a escala I (Sensibilidade) é um componente
principal. A escala i contribui substancialmente para a dimensão Dureza: os aspectos de
sensibilidade e estética definem o seu pólo baixo; as pessoas "receptivas", as que se situam
neste pólo baixo, tendem a focar-se numa perspectiva cultural, refinada e sensível, uma vez
que estão abertas a relações interpessoais afáveis (A+), às ideias e à fantasia (M+), às
mudanças e às novas experiências (Q1+). Estas apreciações justificam-se a partir das
relações que mostra o Quadro 30, como por exemplo, a sua elevada correlação com a
dimensão Abertura do NEO e com quase todas, excepto uma, das suas facetas, assim como
com a Intuição e o Sentimento do MBTI.
Na Dureza parece haver uma certa inflexibilidade e falta de abertura; na realidade, a
dureza e a determinação podem aproximar-se da inflexibilidade e do
entrincheiramento/refúgio. As relações observadas sugerem que a pessoa "dura" pode ter
dificuldades para aceitar novos pontos de vista, mesmo os que implicam emoções. Em
contraste, a pessoa "receptiva" tem sentimentos de abertura à experiência, incluindo
estados afectivos de tipo negativo; consequentemente, esta pessoa pode ter dificuldades
para se sobrepor a reacções emotivas, para alcançar a objectividade e, portanto, para evitar
os aspectos práticos das situações. Existem estereótipos sociais que atribuem a
receptividade às mulheres e a dureza aos homens.
A relação entre Dureza e a tendência a focar os aspectos da vida sob uma
perspectiva racional e austera ou seca apoia-se nas relações positivas com o Pensamento e
a Sensação do MBTI, assim como com a escala Racionalidade do PRF. Algumas das
facetas da dimensão Sentido de responsabilidade do NEO relacionam-se positivamente com
Dureza (incluindo Ordem, Realização, Auto-disciplina e Deliberação), assim como com a
escala de Auto-controlo do CPI. No caso do PRF, tem uma relação negativa com
Impulsividade.
Mostrar-se "duro" pode significar perda de compreensão, de aceitação de si ou de
hedonismo, tal como sugerem as relações negativas com Compreensão e Sensibilidade do
27

PRF. A inflexibilidade está em sintonia com as relações negativas com a escala de


Flexibilidade do CPI e com as de Abertura à Mudança e de Compreensão do PRF. Por outro
lado, a ligação entre o pólo baixo da Receptividade e da Abertura à Experiência pode estar
implícita nas relações com todas, excepto uma, das facetas de Abertura à Mudança do
NEO: Fantasia, Estética, Sentimentos, Acções e Valores; a pessoa receptiva tende para a
emotividade e a empatia, tal como o indicam as relações com as preferências pela Intuição
e o Sentimento do MBTI. Além disso, tende também a mostrar-se afável e carinhosa, a partir
das relações com a escala Conforto/dar do PRF, com a Empatia e a Sociabilidade do CPI, e
com a faceta de Altruísmo do NEO.

Independência

De acordo com os principais componentes define-se uma pessoa...


Acomodada versus Independente
Deferente (E-) (E+) Dominante
Tímida (H-) (H+) Atrevida
Confiante (L-) (L+) Vigilante
Tradicional (Q1-) (Q1+) Aberta à mudança
Quadro 35. Caracterização da dimensão global Independência

A Independência gira à volta da tendência para ser activo e energicamente


determinado nos pensamentos e acções, e para ela contribuem várias escalas, como a
tendência a ser dominante, atrevido, vigilante e aberto à mudança. A pessoa independente
gosta de tentar coisas novas e de exprimir curiosidade intelectual, de acordo com os dados
da observação.
É evidente um forte componente de afirmação social, uma vez que a pessoa tende a
formar e a exprimir as suas próprias opiniões. Muitas vezes, é persuasiva e esforçada, tende
a desafiar o estabelecido e desconfia das interferências dos outros. No pólo extremo,
especialmente quando a conduta não é equilibrada pelo Auto-controlo, ou pela sociabilidade
da Extroversão ou pela sensibilidade da Receptividade (baixa Dureza), podem aparecer
aspectos desagradáveis. No 16PF-5, a Independência pode apresentar indícios de
inflexibilidade e de dominância, tal como sugerem as suas relações com outras variáveis. As
pessoas independentes podem sentir-se pouco confortáveis ou ineficazes em situações que
impliquem a necessidade de se adaptar aos outros.
Em contraste com o indivíduo independente, a pessoa acomodada costuma ser
deferente, tímida, confiante e tradicionalista. Não questiona o que encontra; pelo contrário
valoriza a amabilidade e a acomodação mais do que a auto-determinação. Tanto a situação
como as outras pessoas costumam influenciá-Ia, quer na formação das suas opiniões quer
na estruturação da sua conduta. No entanto, pode sentir-se pouco confortável ou ser
28

ineficaz em situações que exijam auto-expressão, assertividade ou persuasão. A sua


acomodação pode estar relacionada com o desejo de evitar riscos ou com a ansiedade.
Atendendo às relações positivas com as escalas Capacidade para adquirir um
estatuto social, Sociabilidade e Presença social do CPI, com a Exibição do PRF e com todas
as facetas da Extroversão do NEO, é muito provável que a pessoa independente alcance
uma boa "presença social". Também se pode sugerir um componente agressivo/dominante,
porque existem relações positivas com as escalas Agressão, Dominância e Defensividade
do PRF e com Dominância do CPI, e de sinal negativo com três das facetas de Amabilidade
do NEO (Rectidão, Complacência e Modéstia).
A sua curiosidade intelectual e desejo de tentar coisas novas são revelados pelas
relações positivas com as escalas Abertura à Mudança e Divertimento do PRF, com
Eficiência Intelectual e Tendência Intuitiva do CPI e com as facetas Acções e Ideias do NEO.
Pode incluir-se o componente de desobediência pela sua relação negativa com a faceta
Complacência do NEO e de sinal positivo com a escala independência do CPI.
A sugestão de desinibição e de falta de auto-controlo pode vir da relação negativa
com a escala Auto-Controlo do CPI e Impulsividade do PRF. Por outro lado, parece existir
uma relação entre a postura acomodada (dependente) e a ansiedade a partir das relações
negativas com quatro das cinco facetas de Neuroticismo do NEO (Ansiedade, Depressão,
Auto-Conscienciosidade e Vulnerabilidade); além disso este pólo baixo da Independência
relaciona-se com as escalas Evitamento do risco e Submissão do PRF.

Auto-Controlo

De acordo com os principais componentes define-se uma pessoa...


Desinibida versus Auto-controlada
Entusiasta (F+) (F-) Séria
Inconformista (G-) (G+) Atenta às normas
Abstraída (M+) (M-) Prática
Tolera a desordem (Q3-) (Q3+) Perfeccionista
Quadro 36. Caracterização da dimensão global Auto-controlo

Esta dimensão refere-se ao domínio dos desejos ou urgências pessoais. A pessoa


com pontuação alta é capaz de inibir seus impulsos, e pode fazê-lo de várias formas,
dependendo da estrutura das escalas primárias implicadas. Por exemplo, esta pessoa pode
ser séria (F-), e/ou atenta às normas (G+), e/ou prática/realista (M-) e/ou perfeccionista
(Q3+). Pode também acontecer que esta pessoa não valorize a flexibilidade e a
espontaneidade, e que seja auto-controlada à custa dessas características.
As relações existentes com outras variáveis podem apontar para uma certa rigidez e
para uma dimensão socialmente desejável, tendo em conta as relações positivas com as
escalas Presença social e Boa Impressão do CPI.
29

No outro pólo, a pessoa não reprimida costuma atender às suas próprias urgências;
esta qualidade reflecte-se de vários modos: a pessoa que é espontânea e entusiasta (F+)
e/ou inconformista (G-) e/ou abstraída (M+) e/ou tolerante com a desordem (Q3-); pode ser
flexível nas suas respostas, mas em situações que exijam auto-controlo pode encontrar
dificuldades para se reprimir. Pode ser considerada como auto-indulgente, desorganizada,
incontrolável ou irresponsável. Pode, no entanto, encontrar força dentro de si para se
reprimir quando fôr importante fazê-lo.
A dimensão Auto-Controlo relaciona-se com outras medidas de auto-controlo. Essa
relação é positiva com todas as facetas da Conscienciosidade do NEO (Competência,
Ordem, Dever, Realização, Auto-Disciplina e Deliberação), com várias escalas do CPI
(Sentido de Responsabilidade, Socialização, Auto-controlo e Realização de si pela aceitação
das normas), e com algumas do PRF (Realização, Evitamento do Risco e Resistência); no
entanto, a relação é negativa com a Impulsividade do PRF.
Algumas das correlações podem sugerir que, quando o Auto-controlo é alto, se
restringem a auto-expressão social e a abertura à experiência; por exemplo, relaciona-se
negativamente com a escala Flexibilidade do CPI, com Divertimento, Autonomia e Abertura
à mudança do PRF, com algumas facetas de Extroversão do NEO (Gregariedade, Procura
de excitação e Emoções positivas), com algumas facetas da Abertura à mudança do NEO
(Fantasia, Acções e Valores), assim como com as preferências Intuição e Percepção do
MBTI.

4.5. Interpretação das Escalas Primárias

Para compreender bem as escalas primárias, o profissional não deve atender apenas
aos conteúdos incluídos neste ponto; deveria voltar, sempre que seja necessário, a todos os
pontos que aludam às escalas. Por exemplo, é importante recordar os índices de fidelidade,
a forma que têm as distribuições de frequências (visível de alguma maneira nas tabelas de
normas), as correlações com outras escalas ou variáveis, etc.
Para facilitar essa interpretação, incluem-se as estatísticas descritivas dos resultados
obtidos com a amostra portuguesa, no Quadro 37.
A informação básica para a interpretação baseia-se em toda a evidência disponível
aquando da elaboração do manual do 16PF-5; contudo, o utilizador pode ir acrescentando
os dados de validade objectiva ou subjectiva que obtenha nas suas aplicações práticas.
Antes de começar a examinar cada uma das escalas específicas, o profissional
deveria examinar o perfil no seu conjunto, para ver o número de picos e a forma geral do
perfil. Como se indicou quando se falou em dimensões gerais, as pontuações extremas (as
que ocupam os decatipos 1-3 e 8-10) apontam para as características mais distintivas do
30

sujeito; portanto, quanto maior fôr o número de picos (cristas ou vales) de um perfil, mais
característica será a manifestação da personalidade subjacente.
Se o perfil de uma pessoa tem poucos picos, é provável que tenha escolhido um
número elevado de vezes a alternativa média (“?”); se assim não é, poderá ter-se dado o
caso de ter respondido inconsistentemente aos itens de uma determinada escala. Em
qualquer caso, o profissional que interpreta esse perfil deve indagar possíveis causas desse
"perfil plano".

Quadro 37. Estatísticas descritivas da amostra normativa portuguesa


442 Total 196 Sexo Masc. 246 Sexo Femin.
Grupo
Média D.P. Média D.P. Média D.P.
A 14,19 4,41 11,52 4,13 16,31 3,35
B 7,94 2,52 8,14 2,61 7,78 2,43
C 13,63 4,09 13,68 3,73 13,59 4,36
E 13,74 3,36 13,80 3,25 13,70 3,45
F 12,64 4,01 12,09 4,06 13,07 3,93
G 13,86 4,46 13,71 4,42 13,97 4,50
H 11,06 6,15 10,60 5,75 11,43 6,43
I 11,73 5,33 7,91 3,58 14,77 4,46
L 11,12 4,32 11,06 4,23 11,17 4,40
M 7,02 5,18 7,41 4,87 6,70 5,40
N 11,25 4,82 11,90 4,68 10,73 4,87
O 12,10 4,93 11,16 4,96 12,85 4,78
Q1 16,72 4,43 15,93 4,40 17,35 4,36
Q2 4,33 4,51 4,96 4,48 3,84 4,49
Q3 14,21 4,59 13,76 4,85 14,58 4,36
Q4 10,03 5,26 9,66 5,18 10,33 5,31

O segundo tipo de exame global indicado anteriormente consistirá em determinar a


forma geral do perfil. Esta apreciação é sobretudo "holística" e aproximativa. Vamos supor
que se traça uma linha horizontal entre as escalas H e I, dividindo o gráfico em
aproximadamente duas metades; se a metade superior contém mais picos no pólo alto (+) e
a metade inferior mais picos no pólo baixo (-), tem-se um perfil mais "positivo" ou
socialmente mais desejável; tendência é a de uma linha inclinada para a direita. Se ocorre o
contrário (mais picos no pólo alto na parte inferior teremos uma linha inclinada para a
esquerda), sugere-se a possibilidade de um perfil socialmente menos desejável. Veja-se o
esquema que sugerem estes dois tipos de perfil.

Perfil ********** ********** Perfil


******** ********
socialmente socialmente
****** ******
mais **** **** menos
desejável ** ** desejável
* *
31

** **
**** ****
****** ******
******** ********
********** **********

Esta "receita" da linha inclinada parte do exame das relações entre as escalas
primárias e a desirabilidade social (escala MI), assim como das suas associações com
Ansiedade e Extroversão. Especificamente, na metade inferior do perfil, há mais escalas
cuja desirabilidade social aponta para pontuações baixas; o exame dessas relações com MI
mostra que na metade superior as mais implicadas são Afabilidade (A+), Estabilidade (C+),
Atenção às normas (G+) e Atrevimento (H+), enquanto que na metade inferior as pessoas
MI+ dão pontuações baixas em Vigilância (L-), Abstracção (M-), Privacidade (N-), Apreensão
(O-), Auto-suficiência (Q2-) e Tensão (Q4-). Naturalmente, há que não seguem esta
"receita", não correspondendo a uma determinada desirabilidade social.
O uso desta "receita da inclinação do perfil", com precaução, pode permitir uma visão
geral dos resultados; de notar, no entanto, que esta primeira impressão não pretende
substituir um exame detalhado das escalas primárias.
Além disso, o avaliador do perfil tem que ter sempre presente que as escalas e as
dimensões têm uma estrutura "oblíqua" (porque se assume que as variáveis não são
independentes e podem estar relacionadas, como o têm demonstrado realmente os dados
empíricos). Sabendo que determinadas escalas estão relacionadas, o profissional pode
identificar relações que acrescentem mais riqueza à interpretação do conjunto.
Em geral, quando uma escala se relaciona com uma determinada dimensão, o seu
comportamento normal é consistente com essa tendência; isto significa que, se uma pessoa
pontua significativamente na direcção introvertida, é normal que o faça também nas escalas
que definem esse pólo da dimensão e se descreva como uma pessoa distante (A-), séria
(F), tímida (H-), fechada (N+) e auto-suficiente (Q2+). No entanto, não é raro que uma
pessoa introvertida seja "extrovertida" em algum desses aspectos; por exemplo, suponha-se
que a pessoa citada é distante (A-), séria (F-), tímida (H-) e fechada (N+), mas orientada
para o grupo (Q2-, ou seja, na direcção extrovertida); apesar dos seus outros aspectos, esta
pessoa gosta do contacto do grupo e deseja-o para não "se sentir perdida entre a multidão".
Dada a probabilidade de que a pessoa experimente um conflito entre a sua orientação para
o grupo e sua tendência para a timidez, o profissional deveria explorar melhor essas
tendências interpessoais.
Assim, na interpretação de um perfil, o profissional deve procurar possíveis conflitos
e considerar hipóteses plausíveis para a sua solução; também pode ser útil comparar os
resultados presentes com resultados anteriores. Além disso, se os dados forem comentados
32

com a pessoa, este diálogo pode trazer novos dados.

Afabilidade (A)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(A-) Fria, impessoal e distante
(A+) Afável, calorosa, generosa e atenta aos outros

A escala sublinha a tendência que vai desde ser uma pessoa social e
interpessoalmente reservada até estar calorosamente implicada com os outros; ambos os
pólos correspondem a uma característica da personalidade normal.
A pessoa A- (reservada) tende a ser cautelosa nos seus contactos; costuma gostar
do trabalho solitário, e frequentemente este é de tipo mecânico, intelectual ou artístico. A
pessoa A+ (afável) tende a ter mais interesse nas pessoas e a preferir profissões em que
intervenham pessoas (tal como o sugerem as questões da escala), sentindo-se confortável
em situações que exijam proximidade pessoal.
A conduta A+ é socialmente mais desejável; de facto, a correlação com MI é positiva.
No entanto, uma pontuação muito alta indica que o aspecto desejável da Afabilidade
representa uma dependência extrema de pessoas e de relações íntimas. Uma pessoa com
uma pontuação A+ extrema pode sentir-se pouco confortável em situações em que as
relações pessoais não são acessíveis.
No outro extremo, um sujeito com pontuação baixa pode sentir-se pouco confortável
em situações em que se estabelece frequentemente relações interpessoais e onde se
manifestam emoções ou sentimentos. Em edições prévias do “16PF, Guia para seu uso
clínico” Karson e O’Dell (1976-1994, págs. 50-52) assinalam que a pessoa A- pode ser
bastante eficiente (por exemplo, muitos investigadores são A-); também sugerem que,
nalguns casos, um valor muito baixo pode indicar um historial de relações interpessoais
desagradáveis e pouco satisfatórias.
A Afabilidade (A+) é um dos principais diferenciadores entre homens e mulheres (ao
lado de outros, como Dominância e Sensibilidade). As mulheres têm um valor ligeiramente
mais alto em A+, sendo mais calorosas e atentas aos outros.
A pessoa com pontuação alta gosta de estar com aqueles que manifestam
abertamente as suas emoções, prefere trabalhar num local com muita gente em vez de só,
num gabinete, e os seus conhecidos descrevem-na como generosa e calorosa. No outro
pólo, quem pontua baixo pode dizer que prefere trabalhar num laboratório, num invento, em
vez de mostrar a utilidade dele a outras pessoas, que preferiria ser arquitecto a conselheiro,
e que se sente pouco confortável quando tem que falar dos seus sentimentos de afecto ou
carinho ou mostrá-los.
33

A escala de Afabilidade (A+) contribui para a dimensão de Extroversão juntamente


com Animação (F+), Atrevimento (H+) e os pólos baixos de Privacidade (N-) e Auto-
suficiência (Q2-). Isto significa que está relacionada com a procura de aproximação dos
outros, um componente da orientação geral das pessoas que tipifica a Extroversão. A
reserva, o pólo baixo da Afabilidade (A-) também contribui para a dimensão Dureza,
juntamente com o espírito utilitário (I-), prático (M-) e tradicional (Q1-), que sugere uma
personalidade inflexível e fria, consistente com o pólo baixo da Afabilidade.
O conjunto de correlações significativas encontradas entre Afabilidade e outras
medidas de personalidade, ilustra a estrutura psicológica da escala; há relações positivas
com as escalas de Calor, Gregariedade e Altruísmo do NEO, com as de Afiliação,
Conforto/dar e Ajuda/pedir do PRF, com as de Sociabilidade, Presença social e Empatia do
CPI e com a preferência de Extroversão do MBTI.
As relações com as facetas de Sentimentos, Emoções positivas e Sensibilidade do
NEO reforçam o aspecto do sentimento da escala A do 16PF-5 e as suas relações com a
dimensão Dureza (no seu pólo baixo ou "receptivo").

Raciocínio (B)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(B-) De pensamento concreto
(B+) De pensamento abstracto

A escala B contém 15 itens relacionados com a capacidade para resolver problemas


usando o raciocínio, Na literatura do 16PF esta escala descreve-se como um instrumento
curto para avaliar os aspectos intelectuais, e a sua intenção não é substituir uma medida
mais ampla e fiável da capacidade mental. Por consequência, há que interpretar com
cautela os seus resultados,
Embora o Raciocínio não seja um traço de personalidade incluiu-se no 16PF porque
o estilo cognitivo equilibra a expressão da maioria dos traços de personalidade.
A escala contém, em proporção igual, três tipos diferentes de itens de raciocínio:
verbal, numérico e lógico. Nove dos itens são novos no 16PF-5 e o resto procede das
Formas anteriores.
Uma pontuação alta indica que o sujeito resolveu correctamente a maioria dos itens,
enquanto a pontuação baixa assinala aqueles que escolhem as respostas incorrectas. Dado
que obter uma pontuação alta respondendo ao acaso não é fácil, deduz-se que estas
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pessoas têm uma boa capacidade mental de raciocínio (H, B. Cattell, 1989-1993, pág. 32).
Mas, por vezes, acontece que uma pessoa com capacidades médias ou altas obtenha uma
pontuação baixa. "Este caso pode dar-se num sujeito com pouca escolaridade, ou que está
deprimido, ansioso ou preocupado com os seus problemas; também pode ocorrer que o
sujeito se distraia com os estímulos ambientais, ou não interprete bem as instruções ou que,
por razões várias, não esteja motivado para se esforçar na procura da resposta correcta" (H,
B, Cattell, 1989-1993, pág. 32).
Devido à natureza verbal dos seus itens, uma pontuação mais baixa do que seria
provável, pode derivar de dificuldades na leitura ou no domínio da língua portuguesa.
Também poderia ser devida a falta de atenção; neste caso, a pontuação em IN
(Infrequência) pode ajudar a esclarecer este resultado.
Embora o raciocínio não seja um componente da personalidade, observam-se
algumas correlações significativas com as medidas da mesma. Dentro do 16PF-5, a escala
B apresenta relações significativas com as de Estabilidade (C+), Confiança (L-),
Pragmatismo (M-), Segurança (O-) e Relaxamento (Q4-). Talvez esta estrutura de relações
possa ser artificial e devida às características da amostra, ou apontar para conexões, entre
estas qualidades e os traços aptitudinais.
Quando nos estudos originais (Conn e Rieke, 1994) se relacionou esta escala com
outras medidas das aptidões, encontrou-se um índice de 0.61 com um inventário de
informação e de 0,51 com o Teste de inteligência livre de cultura (conhecido como Factor
"g", de Cattell). No caso de outras medidas de personalidade, observam-se relações com a
escala de Eficiência intelectual do CPI, com a de Ordem do PRF e com a Intuição do MBTI.
Em geral, não se observam enviesamentos em relação ao sexo ou a raça, mas o
nível cultural influencia as pontuações (Conn e Rieke, 1994).

Estabilidade (C)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(C-) Reactiva e emocionalmente instável
(C+) Emocionalmente estável, adaptada e madura

O sentido geral desta variável dirige-se ao modo de encarar os problemas


quotidianos da vida e seus desafios. A pessoa que pontua alto vai passando pela vida
controlando, com equilíbrio e de modo adaptado, os sucessos e as emoções. No outro pólo,
a pessoa com pontuação baixa experimenta uma certa falta de controlo sobre a sua vida;
tende a reagir contra ela em vez de adaptar-se activamente às alternativas que são
propostas. Esta escala tem um componente de bem estar emocional, tal como o mostram as
suas relações com outras variáveis de personalidade. No entanto, um valor elevado na
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variável pode indicar que o sujeito não é dado a revelar nem tão pouco a experimentar, os
chamados "sentimentos negativos" ou problemáticos.
A escala C tem uma relação elevada com a de Manipulação da imagem (MI).
Apresentar-se a si mesmo como capaz de encarar a vida de frente, é socialmente desejável,
e admitir que se sente incapaz de controlar os sentimentos ou de se adaptar é socialmente
pouco desejável. Quando um sujeito obtém uma pontuação muito baixa, está a admitir ter
sentimentos pouco desejáveis.
Em edições prévias do 16PF, Karson e O'Dell (1976-1980, pág. 43) sugerem que se
deve questionar o sujeito acerca de experiências de inadaptação e reactividade; no caso de
uma pontuação alta C+ acompanhada de uma MI+, esses autores aconselham que se
averigue se o sujeito nega todo o tipo de problemas só para dar uma imagem mais favorável
de si.
Atendendo ao conteúdo dos itens, quem pontua alto reconhece que raras vezes se
encontra com um problema que não possa enfrentar, que normalmente vai dormir satisfeito
com o dia que passou e que se refaz facilmente dos contratempos. A pessoa que pontua
baixo admite que tem mais variações de humor que a maioria, que as suas necessidades
emocionais não estão satisfeitas e que se sente como se não pudesse lidar com o facto de
pequenas coisas, por vezes, lhe correrem mal.
A reactividade (C-) é um componente principal da dimensão de Ansiedade,
juntamente com a Vigilância (L+), a Apreensão (O+) e a Tensão (Q4+). Os autores do
Manual original sugerem que a percepção de um sentimento de incapacidade para se
adaptar à vida e às suas exigências contribui para essa sensação ansiosa. A estabilidade
emocional (C+) não tem saturação na Dimensão de Auto-controlo, mas tem relações
moderadas com dois dos seus componentes: Atenção às normas (G+) e Pragmatismo (M-).
A relação entre C- e Ansiedade reflecte-se nas correlações que apresenta com
outras medidas de ansiedade e sensação de bem-estar: cinco facetas do Neuroticismo do
NEO (Ansiedade, Hostilidade, Depressão, Auto-conscienciosidade e Vulnerabilidade). Entre
todas as escalas primárias do 16PF-5, a Estabilidade (C+) é a que tem o maior índice de
relação com a Auto-estima tal como é medida pelo instrumento “Coopersmith Self-Esteem
Inventory" (Conn e Rieke, 1994).
Há outros aspectos da conduta C+ sugeridos pela análise de outras correlações. Por
exemplo, o êxito e a presença social podem estar subjacentes na relação positiva existente
com várias escalas do CPI, tais como Realização de si pela aceitação das normas,
Realização de si pela independência, Capacidade para adquirir um estatuto social e
Presença social. Também se relaciona positivamente com Tendência Intuitiva e a Eficiência
intelectual do CPI. Poder-se-á sugerir também a iniciativa a partir da relação positiva com a
Independência do CPI. Finalmente, a escala parece sugerir a presença de bons
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mecanismos de defesa, dada a relação negativa com a Vulnerabilidade do NEO e a relação


do pólo reactivo (C-) com Defensividade do PRF.

Dominância (E)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(E-) Deferente, cooperante, que evita os conflitos
(E+) Dominante, assertiva e competitiva

Esta escala implica a tendência para exercer a sua própria vontade sobre a dos
outros (E+), em lugar de acomodar-se aos desejos dos outros (E-). Vai mais além da
simples assertividade; nas situações em que esta serve para proteger os desejos, direitos
ou terreno próprio, a Dominância serve para subjugar os desejos dos outros aos próprios (H.
B. Cattell, 1989-1993, págs. 68-69).
Uma pontuação alta não elimina a possibilidade de que o sujeito seja mais assertivo
que agressivo. No entanto, a maioria destes E+ costumam mostrar-se esforçados em
manifestar seus desejos e opiniões (mesmo que não se Ihes tenha pedido) e em
conseguirem o que querem. Sentem-se livres para criticar os outros e tentar controlar a
conduta destes. Se a dominância pode levar a uma exigência de presença social, no
extremo pode chegar a alienar aqueles que não desejam ser subjugados.
A pessoa com pontuação baixa tende a evitar o conflito perante os desejos dos
outros. Não costuma "fazer frente" e renuncia aos seus desejos e sentimentos. Uma postura
deferente exagerada pode alienar quem deseja uma postura esforçada e participativa.
A Dominância (E+) é uma das escalas primárias (com, por exemplo, a Sensibilidade
I+) que diferencia claramente ambos sexos. As mulheres obtêm pontuações ligeiramente
inferiores, o que significa, que são mais deferentes.
Se se considerar o conteúdo dos itens, a pessoa E+ diz que se sente confortável
dando instruções aos outros, que pode chegar a ser dura e incisiva quando ser educada não
dá resultado, e que manifesta claramente as suas discordâncias com os outros. No outro
pólo, a pessoa E- costuma ser mais cooperante que assertiva, preferindo mudar de assunto
quando alguém a aborrece do que criar problemas ou enfrentar conflitos.
A Dominância (E+) é a escala que contribui mais para a dimensão de Independência,
juntamente com Atrevimento (H+), Vigilância (L+) e Abertura à mudança (Q1+). Para ser
independente, a pessoa tem que se esforçar para tomar decisões, ser assertiva e tentar
influenciar os outros.
A escala E como medida da Dominância pode ver-se validada pelas suas relações
positivas com as escalas de Dominância e Agressão do PRF, com a de Dominância do CPI
e com a Assertividade do NEO. Os seus aspectos de independência manifestam-se nas
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suas relações positivas com as escalas de Independência e Aceitação de si do CPI e na sua


relação negativa com a de Submissão do PRF. Se não é percebida como muito polémica, a
pessoa dominante pode exercer um forte predomínio social, tal como indicam as suas
relações positivas com as escalas Sociabilidade e Presença social do CPI, a Exibição do
PRF e a faceta de Competência do NEO. No entanto, o seu desejo de manipular os outros,
para os controlar, manifesta-se na correlação negativa com a faceta A2: Rectidão do NEO.

Animação (F)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(F-) Séria, reprimida e cuidadosa
(F+) Alegre, espontânea, activa e entusiasta

Na obra de H. B. Cattell (1989-1993, págs. 90-911), a exuberância subjacente na


escala F compara-se com a natural auto-expressão e espontaneidade que manifesta uma
criança antes de assumir o auto-controlo da socialização.
Uma pessoa F+ é entusiasta, espontânea e desejosa de atenção; é activa e dada a
estimular as situações sociais. Uma pessoa F+ extrema pode reflectir um aspecto
caprichoso considerado como imaturo e pouco fiável. Este entusiasmo e busca de atenção
do sujeito F+ pode adquirir proporções inadequadas em determinadas situações,
especialmente quando estas exigem recato e respeito.
Em contraste, a pessoa F- tende a levar a vida mais a sério; é mais calada ou
apagada, cuidadosa e menos dada à diversão; tende a inibir a sua espontaneidade,
chegando às vezes a parecer inibida ou circunspecta. Ainda que seja vista como madura,
talvez não seja percebida como divertida.
Atendendo ao conteúdo dos itens, o sujeito F+ diz que gosta de estar no meio de
muita actividade e excitação, que prefere andar na moda e com originalidade e que prefere
passar uma tarde com os amigos, numa festa animada. A pessoa F- costuma afirmar que
prefere estar ocupada numa tarefa tranquila pela qual tenha interesse a estar numa reunião
animada, que não se diverte com o rápido e vivo humor de algumas séries de televisão, e
que acredita mais na vida "levada a sério" do que no dito "Diverte-te e sê feliz".
A escala F contribui para o pólo positivo da dimensão de Extroversão, juntamente
com Afabilidade (A+) e Atrevimento (H+), e os pólos baixos de Privacidade (N-) e Auto-
suficiência (Q2-). Esta escala tem alguns aspectos de exuberância social (um espírito
animado e impulsivo) não incluídos nos restantes componentes da Extroversão. Isto pode
explicar a contribuição da Animação (F+) para o pólo não reprimido ou baixo da dimensão
de Auto-controlo do 16PF-5.
Os aspectos interpessoais da sua relação com a Extroversão podem apreciar-se nas
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correlações positivas com todas as facetas de Extroversão do NEO, especialmente com


Procura de excitação e Gregariedade, com a preferência Extroversão do MBTI, com as
escalas de Sociabilidade e Presença social do CPI, e com as de Afiliação e Exibição do
PRF. Além disso, há relações positivas com as escalas de Exibição e Divertimento que estão
de acordo com o carácter expressivo da Animação (F+); o aspecto descontrolado de F+
mostra-se pela sua relação negativa com o Auto-controlo do CPI e pela sua relação positiva
com a Impulsividade do PRF.

Atenção às Normas (G)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(G-) Inconformista, pouco cumpridora e indulgente
(G+) Atenta às normas, cumpridora e formal

A escala aprecia o grau em que as normas culturais relativas ao que é


correcto/incorrecto se interiorizaram e se utilizam como base do comportamento (Cattell,
1970, pág. 89). Esta variável associou-se com o conceito psicanalítico do "superego",
segundo o qual os ideais morais da cultura e do meio se interiorizam para controlar os
impulsos de auto-gratificação do "id".
Uma pessoa G+ tende a perceber-se a si própria como seguidora das regras, dos
princípios e dos bons modos. Em edições prévias do 16PF, a pessoa G+ era vista como
aquela que respondia aos itens da escala com base nos valores culturais convencionais (H.
B. Cattell; 1989-1990, pág. 110); estes eram os valores que se consideravam característicos
da cultura ocidental (USA, Europa do Norte, e próprios da ética puritana protestante).
Esta pessoa "cumpridora" põe o ênfase na importância do seguimento das regras, e
define-se a si mesma como "atenta às normas", formal e perseverante. Na realidade, em
virtude do seu dogmatismo, pode ser considerada sóbria, inflexível ou rígida consigo
mesma.
A pessoa com pontuação baixa costuma ignorar as regras, ou porque a sua
consciência do que é correcto/incorrecto está pouco desenvolvida (i.e., falta de valores
morais interiorizados), ou porque defende valores que não estão solidamente baseados nos
usos convencionais. O comportamento "inconformista" do sujeito G- parece implicar a
necessidade de autonomia, a flexibilidade, a necessidade de deixar de lado a seriedade, tal
como revelam as suas relações com outras medidas da personalidade. A pessoa G- pode
ter dificuldades para se adaptar a normas e regras estritas. É importante determinar se no
G- há uma falha no desenvolvimento de normas morais ou se simplesmente a pessoa segue
normas não convencionais. Em qualquer caso, a sua conduta só se pode predizer quando
se conhecem os princípios e motivações que guiam essas normas. Há outras escalas
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primárias que podem sugerir factores que influenciam a falta de auto-controlo do


inconformista G-, especialmente aquelas com que está correlacionada.
Há relações entre os valores assumidos pela pessoa "cumpridora" G+ e a
desirabilidade social, já que se observam correlações positivas e significativas com a
Manipulação de imagem (escala MI); isto significa que seguir as normas é socialmente mais
desejável que admitir que não se seguem.
Atendendo ao conteúdo dos itens, a pessoa G+ afirma que ao tomar uma decisão
pensa sempre no que é correcto e justo, que as pessoas deveriam esforçar-se para que as
normas morais sejam seguidas estritamente, e que é mais importante respeitar as normas e
as boas maneiras do que ser livre para se fazer o que se quiser. No outro pólo, a pessoa G-
diz que a maioria das normas foram feitas para não serem cumpridas quando haja boas
razões para isso, que a irrita a insistência das pessoas para que siga as mínimas regras de
segurança, e que ser livre para fazer o que se deseja é mais importante que ter bons modos
e respeitar as normas.
A escala G contribui positivamente para a dimensão de Auto-controlo e correlaciona-
se com os outros componentes da mesma: Seriedade (F-), Pragmatismo (M-) e
Perfeccionismo (Q3+). Também apresenta correlações moderadas com a Estabilidade (C+)
e o Relaxamento (Q4-), provavelmente para indicar que o seguimento do que é
convencional costuma provocar menos ansiedade do que agir contra as convenções. Há
uma relação modesta com a postura tradicional (Q1-), que sugere a uma tendência para que
Atenção às Normas (G+) se relacione com a tendência tradicional (Q1-) de preferir o status
quo.
A variável G+ tem uma elevada correlação com as medidas de socialização,
conformismo e controlo; assim, relaciona-se positivamente com as escalas de Resistência,
Ordem e Realização do PRF, e negativamente com as necessidades de Divertimento,
Impulsividade e Autonomia deste Questionário. G+ também se relaciona positivamente com
as facetas de Dever, Realização e Deliberação da dimensão Sentido de responsabilidade do
NEO; quanto ao CPI, as suas relações são positivas com Sentido de responsabilidade,
Socialização, Auto-controlo, Boa impressão e Realização de si pela aceitação das normas, e
negativa com Flexibilidade. Estes índices vêm mostrar que G+ contém itens de
perseverança, controlo dos impulsos, necessidade de ordem e desejo de influenciar os
outros como alguém responsável, assim como revela que a inflexibilidade pode advir de
uma postura "conformista" rígida.
Há relações significativas entre o pólo "inconformista" G- e a Autonomia,
Divertimento e Impulsividade do PRF. Tal como era de esperar, o G- tem relações negativas
com uma orientação controlada avaliada por outras medidas, tais como a faceta do Dever
do NEO, as escalas de Auto-controlo, Sentido de responsabilidade e a Sociabilidade do CPI,
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assim como as de Ordem, Racionalidade e Resistência do PRF.

Atrevimento (H)

Nos extremos descreve-se uma pessoa…


(H-) Tímida, temerosa e coíbida
(H+) Atrevida, segura socialmente e empreendedora

A pessoa com pontuação alta (H+) considera-se a si própria atrevida e "aventureira"


nos grupos sociais, e praticamente não mostra insegurança nas situações sociais. Costuma
iniciar os contactos sociais e não é tímida quando se encontra num ambiente novo. Parece
evidente um grau elevado de necessidade de exibição pessoal no pólo H+, com alguns
aspectos de dominância mais evidentes do que noutros componentes de Extroversão.
A pessoa que pontua baixo (H-) tende a ser socialmente tímida, cautelosa e
envergonhada; é-lhe difícil falar diante de um grupo de pessoas. É possível que exista uma
experiência subjectiva de não estar confortável perante as situações novas, sobretudo nas
interpessoais, por falta de auto-estima. Na realidade, o Atrevimento (H+) está entre as
variáveis que têm relações mais fortes com a predição da Auto-estima mediante o
Questionário de Coopersmith (Conn e Rieke, 1994).
A partir do conteúdo dos itens, a pessoa H+ diz que lhe é fácil começar uma
conversa com estranhos, que se integra rapidamente num novo grupo e que não lhe custa
falar perante um grupo numeroso de pessoas. A pessoa H- costuma afirmar que lhe custa
bastante começar uma conversa com estranhos, que fica tímida quando conhece uma
pessoa, e que se costuma sentir desconcertada quando, de repente, passa a ser o centro da
atenção num grupo social.
O Atrevimento (H+) contribui para o pólo positivo da dimensão Extroversão
juntamente com Afabilidade (A+) e Animação (F+) e com o pólo negativo da Privacidade (N-)
e da Auto-suficiência (Q2-). As suas contribuições parecem relacionar-se mais com o
estatuto e com a exibição pessoal. H+ também contribui positivamente para a dimensão
Independência, juntamente com Dominância (E+), Vigilância (L+) e Abertura à mudança
(Q1+). A capacidade de falar, com certo atrevimento, com outras pessoas tem o seu papel
na Independência, porque implica itens de persuasão e auto-expressão.
Os aspectos interpessoais que relacionam Atrevimento com Extroversão são
evidentes a partir das correlações positivas com a escala de Afiliação do PRF, com as de
Sociabilidade e Presença social do CPI, e com todas as facetas de Extroversão do NEO
(especialmente com Assertividade e Gregariedade). No PRF, o índice mais elevado é
positivo e relaciona esta escala com a Exibição.
As relações entre H+ e a Dominância do NEO, a Dominância do PRF e as escalas de
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Dominância, Presença social e Capacidade para adquirir um estatuto social do CPI,


sugerem os aspectos de dominância e poder na auto-expressão de atrevimento. A presença
da escala H na dimensão de Independência tem a ver com a relação que há entre H e a
escala de Independência do CPI. A possível presença de uma experiência subjectiva
desagradável no pólo tímido (H-) pode explicar-se pelas relações positivas com quatro das
facetas do Neuroticismo do NEO (Ansiedade, Depressão, Auto-conscienciosidade e
Vulnerabilidade), e negativas com a escala de Aceitação de si do CPI.
Finalmente há que assinalar que a escala H do 16PF-5 tem um peso fundamental na
equação de predição da Auto-estima tal como é medida pelo instrumento de Coopersmith
anteriormente citado (Conn e Rieke, 1994).

Sensibilidade (I)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(I-) Objectiva, nada sentimental e calculista
(I+) Sensível esteta e sentimental

O conteúdo desta escala do 16PF-5 aponta para o lado sentimental da pessoa; isto
significa que a pessoa com pontuação alta (1+) tende a fundamentar os seus juízos em
gostos pessoais e valores estéticos, enquanto que a pessoa que pontua baixo (I-) costuma
ter uma perspectiva mais utilitária das coisas.
A pessoa sensível (I+) apoia-se na empatia e na sensibilidade para fazer as suas
considerações, enquanto que a calculista (I-) mostra menos sentimentos e atende mais ao
lado funcional das coisas e do trabalho. A pessoa I+ costuma ser mais refinada nos seus
interesses e gostos, e mais sentimental do que o seu pólo oposto I-.
No extremo I+, a pessoa apoia-se tanto nos aspectos subjectivos das situações que
chega a negligenciar os aspectos mais funcionais. No outro pólo, a pessoa I- extrema pode
preocupar-se tanto com a utilidade e a objectividade, que chega a ignorar os sentimentos
dos outros. Como costuma ceder pouco à vulnerabilidade, pode encontrar problemas nas
situações que exijam sensibilidade.
Já em edições anteriores do 16PF, se encontraram relações entre a Sensibilidade e o
conceito "jungiano" da função de juízo: Pensamento versus Sentimento (H. B. Cattell, 1989-
1990, págs. 153-154), e a mesma tendência é evidenciada pelas correlações observadas
nos estudos do 16PF-5.
A sensibilidade desta escala está relacionada com estereótipos sexuais. Também
aqui a sensibilidade emocional como o refinamento são percebidos como qualidades de
"tipo" feminino, enquanto que a rudeza e a objectividade se atribuem ao estereótipo
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masculino. A escala I é a que apresenta maiores diferenças significativas intersexos (junto a,


por exemplo, a Afabilidade e Dominância).
Atendendo ao conteúdo dos itens, pode verificar-se que a pessoa que pontua alto
aprecia mais a beleza de um poema do que uma excelente estratégia desportiva, que na rua
se deteria mais perante um artista pintando do que ante um edifício em construção, e que
aprecia as boas novelas ou peças de teatro. No outro pólo, a pessoa prefere literatura de
acção realista a uma novela imaginativa, está mais interessada nas coisas mecânicas e tem
jeito para as arranjar; na sua infância empregava mais tempo a fazer coisas do que a ler.
A Sensibilidade (I+) é um dos principais componentes do pólo baixo (receptivo) da
dimensão Dureza, mas também apresenta relações moderadas com outras escalas do
16PF-5. As correlações maiores são com Abertura à mudança (Q1+), Abstracção (M+) e
Afabilidade (A+), que também saturam no pólo baixo dessa mesma dimensão global, a
Dureza.
A escala I+ também apresenta pequenas correlações com o pólo reactivo (C-) da
Estabilidade, o pólo submisso (D-) da Dominância e o pólo inconformista (G-) da Atenção às
normas. A pessoa pragmática (I-), portanto, pode mostrar tendência a ser emocionalmente
madura, dominante e atenta às normas. Este padrão de conduta adequa-se à noção da
objectividade não emocional da pessoa que não se permite a si mesma a vulnerabilidade, e
é característico do pólo baixo da escala I.
Em relação com outros instrumentos, a escala está muito correlacionada com três
facetas da Abertura à Mudança do NEO, com Estética, Fantasia e Sentimentos. Apresenta
relação positiva com as preferências de Sentimento e Intuição do MBTI. Mostra relação
significativa com as escalas de Compreensão e Evitamento do risco do PRF, e com a escala
de Feminilidade/Masculinidade do CPI.

Vigilância (L)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(L-) Confiante, sem suspeitas e adaptável
(L+) Vigilante, desconfiada, céptica e prudente

Nesta escala primária está subjacente o contínuo que vai desde a tendência para
confiar (L-) até uma postura desconfiada perante os motivos e intenções dos outros. A
pessoa com pontuação alta crê que não é bem compreendida ou que os outros se podem
aproveitar dela, e considera-se diferente da maioria. Esta pessoa pode ser incapaz de
relaxar a sua Vigilância (L+) em situações em que seria apropriado fazê-lo. No extremo, a
sua desconfiança pode ter aspectos de animosidade, tal como sugerem as suas correlações
43

com outras variáveis. Em certas alturas, esta postura vigilante é uma resposta a
circunstâncias da vida (por exemplo, quando pertence a uma minoria racial ou oprimida).
A pessoa que pontua baixo costuma esperar um tratamento justo e leal, e atribui
boas intenções aos outros. A confiança (L-) pode relacionar-se com uma sensação de bem
estar e de relações satisfatórias, tal como o sugerem as correlações desta escala com
outras medidas. Contudo, os outros podem aproveitar-se de uma pessoa com pontuação
baixa extrema, porque esta não desconfia das motivações dos outros.
A escala L apresenta correlação significativa com a Manipulação de imagem (MI); o
pólo baixo, confiança (L-), corresponde aos comportamentos socialmente desejáveis.
A partir do conteúdo dos itens pode sugerir-se que a pessoa L+ considera que há
uma grande diferença entre o que se diz e o que se faz, que os outros tentam aproveitar-se
de quem é franco e aberto, que provavelmente não se pode confiar em mais de metade das
pessoas, e que se deve ter cuidado com as pessoas amáveis. Para a pessoa L-, todas estas
opiniões são "falsas".
A Vigilância (L+) contribui para a dimensão Ansiedade, juntamente com o pólo baixo
(C-) da Estabilidade, Apreensão (O+) e Tensão (Q4+). Este pólo L+ também contribui para a
dimensão de Independência, com Dominância (E+), Atrevimento (H+) e Abertura à mudança
(Q1+).
A mais elevada das correlações com outros instrumentos é entre L- e a faceta A1:
Confiança do NEO. Os componentes de bondade existentes em L- reflectem-se na sua
relação com Empatia e Tolerância do CPI; os aspectos relacionados com a boa opinião dos
outros em L- reflectem-se na relação com a escala de Boa impressão do CPI. A Vigilância
(L+) relaciona-se com três facetas de Neuroticismo do NEO: N1: Ansiedade, N2:Hostilidade
e N3:Depressão. Além disso, L+ relaciona-se negativamente com a escala de Sentido de
bem-estar do CPI.
Os componentes de agressividade e animosidade de L+ reflectem-se nas relações
positivas com N2:Hostilidade do NEO e com as escalas de Agressão e Defensividade do
PRF.

Abstracção (M)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(M-) Prática, "com os pés assentes na terra", realista e pragmática
(M+) Abstraída, imaginativa, idealista e abstraída

Esta escala M relaciona-se com o tipo de coisas que ocupam a atenção e o


pensamento de uma pessoa. O sujeito abstraído (M+) está mais orientado para os
processos mentais e para as ideias que para os aspectos práticos; no outro pólo, a pessoa
44

prática (M-) orienta-se para as sensações, os dados observáveis e a realidade ambiental.


Nas edições anteriores do 16PF (Cattell, H. B., 1989, págs. 191-192), a escala relacionava-
se, considerando a teoria de Jung, com as funções perceptivas da Intuição (M+) e da
Sensação (M-).
Nessas edições anteriores, uma pontuação alta reflecte mais uma intensa vida
interior que uma projecção para o ambiente, e associa-se com a imagem de um professor
"abstraído" (Krug, 1981, pág. 8). A pessoa M+ é abstraída, o que significa que está ocupada
pensando, imaginando, fantasiando e, muitas vezes, totalmente absorta pelos seus
pensamentos. Em contraste, a pessoa M- define-se como prática, e orienta-se mais para o
ambiente e suas exigências. Ainda que possa pensar em termos práticos e "com os pés
assentes na terra", a pessoa M- pode não ser capaz de gerar soluções viáveis para os
problemas.
Na realidade, no extremo, uma pessoa M- pode chegar a ser tão concreta e literal
que "as árvores não a deixam ver a floresta ". Por outro lado, um pensamento abstraído M+
pode levar à generalização de muitas ideias e relacionar-se com a criatividade (Rieke,
Guastello e Conn, 1994); no entanto, é possível que essa abundante elaboração de ideias
não tenha em conta os aspectos práticos (pessoas, processos e situações). Um sujeito
extremamente abstraído (M+) às vezes parece perder o controlo da sua atenção ou da
situação, e, por vezes, refere ter tido problemas ou acidentes por causa das suas
preocupações. Além disso, a escala M tem um peso negativo na dimensão global de Auto-
controlo, o que significa que a pessoa abstraída (M+) é pouco auto-controlada.
Atendendo ao conteúdo dos itens, a pessoa M+ admite que dá mais atenção aos
pensamentos e à imaginação que às coisas práticas que a rodeiam, que às vezes se
encontra tão centrada nos seus pensamentos que perde a noção do tempo e desorganiza
ou não encontra as suas coisas, e que às vezes negligencia os detalhes práticos, porque
está muito interessada nas ideias. No outro pólo, a pessoa M- considera que tende mais a
pensar em coisas realistas e práticas do que a imaginar ou pensar acerca de si própria.
Pode afirmar que está sempre ocupada com coisas práticas que necessitam de ser feitas, e
que as suas ideias são realistas e práticas.
A maior correlação da escala M é com a escala G; é um índice negativo e sugere
uma associação entre ser uma pessoa abstraída e uma pessoa indulgente. Também se
relaciona com a Abertura à mudança (Q1+), indicando que o comportamento abstraído se
relaciona com novas abordagens e soluções pouco convencionais. O resto das correlações
mostra a ligação entre a Abstracção (M+) e a falta de Auto-controlo, definida no pólo baixo
da Estabilidade (C-) e da Tolerância da desordem (Q3-).
Esta escala contribui também substancialmente para o pólo baixo da dimensão
Dureza, juntamente com Afabilidade (A+), Sensibilidade (I+) e Abertura à mudança (Q3+). A
45

variável relaciona-se negativamente com a Manipulação da Imagem (MI), ou seja, ser uma
pessoa prática (M-) é socialmente mais desejável que ser uma pessoa abstraída (M+).
A relação da escala com outros instrumentos indica uma relação muito intensa entre
a Abstracção (M+) e a Intuição do MBTI e entre o pólo baixo (M-) e a Sensação também do
MBTI; Ainda com o MBTI, a escala M relaciona-se positivamente com a Percepção e
negativamente com o Juízo, o que sugere que a pessoa prática (M-) se orienta mais para os
processos objectivos e observáveis que para o pensamento e a intuição.
Ainda que haja uma associação entre M- e desirabilidade social, as pontuações M+
relacionam-se com criatividade e abertura às ideias, porque se observam relações positivas
entre M e a escala de Abertura à mudança do PRF e várias facetas da Abertura do NEO,
tais como Fantasia, Estética, Sentimentos e Acções. A parte não convencional da pessoa
M+ aparece na sua relação positiva com a Autonomia do PRF e negativa com Socialização
e Realização de si pela aceitação das normas do CPI.
Também há uma relação negativa com o Auto-controlo e a Socialização do CPI
(assim como com a medida da Orientação positiva para as normas), com a Ordem do PRF e
com várias facetas da dimensão Conscienciosidade do NEO, tais como Competência,
Ordem, Auto-disciplina e Deliberação; aparece uma relação positiva com a escala de
Impulsividade do PRF. Finalmente, há que assinalar a relação negativa com a escala de
Sentido de bem-estar do CPI.

Privacidade (N)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(N-) Aberta, genuína, simples e natural
(N+) Fechada, calculista, discreta e que não se abre

A escala aprecia, no pólo baixo, a tendência para a naturalidade (N-) face a uma
postura fechada e de não abertura (N+). Nesta versão do 16PF-5, aparece relacionada com
a dimensão Extroversão.
A pessoa N+ diz que prefere "não abrir o jogo" em vez de "pôr as cartas na mesa".
No outro pólo, a pessoa N- fala com facilidade sobre si própria. Num caso extremo, a
pessoa N- costuma ser natural em situações em que seria melhor não sê-Io; isto pode
reflectir desinteresse ou medo de adoptar uma postura reservada, tal como sugerem
algumas das relações observadas. Entre estas relações está a relação negativa entre N e
Manipulação da imagem (MI), o que indica que a naturalidade (N-) é o pólo socialmente
desejável.
Atendendo ao conteúdo dos itens, a pessoa N+ prefere guardar os seus problemas
para si própria a discuti-los com os amigos; é-lhe difícil falar sobre assuntos pessoais e
46

afirma que não é fácil alguém tornar-se íntimo dela. No outro pólo, a pessoa N- diz que
costuma falar com facilidade dos seus sentimentos e que não dá respostas evasivas a
questões pessoais.
Dentro do 16PF-5, a escala N+ relaciona-se com a reserva (A-), a timidez (H-) e a
auto-suficiência (Q2+); o peso negativo de N na dimensão de Extroversão aponta para uma
relação entre a Privacidade (N+) e a Introversão, especialmente pelos seus componentes de
timidez, reserva e auto-suficiência.
Esta relação entre a naturalidade (N-) e a Extroversão vê-se corroborada pelas suas
relações com outros instrumentos; com todas as facetas da Extroversão do NEO; com as
escalas V1 (Orientação externa), Sociabilidade, Presença social e Capacidade para adquirir
um estatuto social do CPI. N+ apresenta relações negativas com as escalas de Conforto/dar
e Ajuda/pedir do PRF, assim como com Sentimento do MBTI, o que sugere que a
Privacidade (N+) não se enquadra bem com a união emocional a outra pessoa. A pessoa
fechada (N+) pode desconfiar dos outros, como indica a relação negativa com a faceta A1:
Confiança do NEO, e também pode estar descontente consigo própria, tal como o sugerem
as relações negativas com o índice de Realização pessoal V3 e a escala de Aceitação de si
do CPI.
Apreensão (O)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(O-) Segura, despreocupada e satisfeita
(O+) Apreensiva, insegura e preocupada

Uma pessoa com pontuação alta (O+) preocupa-se com as coisas e tem sentimentos
de apreensão e insegurança. Às vezes, estes sentimentos são resposta a uma situação
particular; noutras, esses sentimentos são parte de um padrão característico de conduta que
se manifesta em todas as situações da vida de uma pessoa. A preocupação pode ter
resultados positivos, porque a pessoa pode antecipar os perigos da situação e reconhecer
as consequências de determinados comportamentos, incluindo os interpessoais. Contudo a
pessoa apreensiva (O+) costuma oferecer uma imagem social pobre, tal como mostram as
relações observadas.
No outro pólo, a pessoa com pontuação baixa (O-) costuma mostrar-se segura, nada
predisposta à apreensão nem dominada por sentimentos de inadequação. Este tipo de
pessoa mostra-se confiante e auto-satisfeita; se a sua pontuação é muito baixa, essa
confiança pode ser bastante firme, inclusive em situações que sugeririam uma adequada
auto-avaliação e necessidade de mudança; nestes casos, essa auto-confiança pode vir de
uma recusa dos aspectos negativos do eu.
47

Também há itens de desirabilidade social nesta escala, e é o pólo baixo (O-) que
mais corresponde aos comportamentos socialmente desejáveis.
A partir do conteúdo dos seus itens observa-se que a pessoa com pontuação alta é
sensível, preocupa-se demasiado com as coisas que fez, sente-se ferida se os outros não a
aceitam e costuma ser muito autocrítica. A pessoa O- afirma que se preocupa menos que a
maioria, que não se importa de não ser aceite pelos outros nem fica a remoer sobre o que
deveria ter dito mas não disse.
O pólo alto O+ contribui substancialmente para a dimensão Ansiedade, juntamente
com baixa Estabilidade (C-), alta Vigilância (L+) e elevada Tensão (Q4+), ou seja, O+ é um
componente dos estados ansiosos.
Esta presença de O+ na dimensão de Ansiedade revela-se nas suas correlações
com quatro das seis facetas de Neuroticismo do NEO (especialmente Ansiedade, Auto-
conscienciosidade e Depressão). A ideia de que a pessoa O+ possa ser insegura em
situações sociais ou na relação com os outros é confirmada pelas relações negativas que
aparecem com as escalas de Aceitação de si, Independência, Capacidade para adquirir um
estatuto social e Dominância do CPI, com as escalas de Dominância e Exibição do PRF e
com a faceta de Assertividade do NEO. No pólo oposto, os valores O- relacionam-se com as
escalas de Aceitação de si e Sentido de bem-estar do CPI.
Abertura à Mudança (Q1)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(Q1-) Tradicional e agarrada ao que lhe é familiar
(Q1+) Aberta à mudança, experimental e analítica

A pessoa com pontuação alta (Q1+) costuma pensar na forma de melhorar as coisas
e gosta de fazer experiências; se observa que a realidade não a satisfaz ou é pouco
adequada, orienta-se para a mudança. No entanto a pessoa Q1- prefere as formas
tradicionais e conhecidas de ver as coisas; não se questiona sobre a forma como estão
feitas as coisas e prefere o que é familiar e previsível, ainda que essa forma de viver não
seja a ideal.
De acordo com o conteúdo dos itens, a pessoa Q1+ afirma que gosta mais de tentar
novas formas de fazer as coisas do que de seguir caminhos já conhecidos, que acha mais
interessante as pessoas se os seus pontos de vista forem diferentes dos da maioria, e que o
trabalho que já é familiar e habitual aborrece-a e faz-lhe sono. Pelo contrário, a pessoa Q1-
afirma que o trabalho que lhe é familiar e habitual lhe dá confiança, que no fundo não gosta
das pessoas que são "diferentes" ou originais, e que aqueles que questionam ou alteram
métodos que já são satisfatórios, podem vir a ter mais problemas.
48

No 16PF-5, a escala Q 1 + contribui para a dimensão de Independência, juntamente


com Dominância (E+), Atrevimento (H+) e Vigilância (L+). Esta escala Q1+ também contribui
para o pólo baixo, o de tipo receptivo, da Dureza, com Afabilidade (A+), Sensibilidade (I+) e
Abstracção (M+). Os seus componentes de inconformismo e de abertura a novas ideias
reflectem-se na sua correlação com o pólo baixo (G-) da Atenção às normas e com o pólo
alto (M+) da Abstracção.
A relação existente entre a abertura a novas ideias e a percepção mediante
processos intuitivos pode ver-se na correlação que há entre Q1+ e a preferência Intuição do
MBTI, a escala de Compreensão do PRF e as de Tendência intuitiva e Eficiência intelectual
do CPI.
Esta abertura também se reflecte na correlação positiva com as escalas de Abertura
à mudança e Sensibilidade do PRF, a de Flexibilidade do CPI e quase todas as facetas de
Abertura à mudança do NEO (tais como Fantasia, Estética, Acções, Ideias e Valores). O
aspecto de Independência da pessoa Q1+ aparece na sua correlação com as escalas de
Independência, Realização de si pela independência e Capacidade para adquirir um
estatuto social do CPI, assim como na correlação moderada com a escala de Autonomia do
PRF.

Auto-Suficiência (Q2)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(Q2-) Seguidora, que se integra num grupo
(Q2+) Auto-suficiente, individualista e solitária

Esta escala relaciona-se com o estabelecimento de contacto ou proximidade dos


outros. Uma pessoa Q2+ é auto-suficiente, prefere estar só e tomar as decisões por sua
conta. No entanto, a pessoa Q2- está orientada para o grupo, prefere estar rodeada de
gente e gosta de fazer as coisas com outros.
Parece ser socialmente mais favorável apresentar-se como extrovertido e orientado
para o grupo (Q2-) do que ser auto-suficiente (Q2+), tal como mostra a relação moderada,
mas positiva, com a escala de Manipulação da imagem (MI).
A pessoa auto-suficiente (Q2+) pode ter dificuldades em trabalhar ao lado de outras,
e custa-lhe pedir ajuda quando necessita. Ainda que o auto-suficiente possa actuar
autonomamente quando é necessário, a pessoa com pontuação muito elevada em Q2+
pode negligenciar os aspectos interpessoais e as consequências das suas acções. No outro
pólo, ser muito orientado para o grupo (Q2-) pode não ser muito eficaz em situações em que
não é possível ter ajuda ou quando os outros oferecem fraca orientação ou conselho.
49

Atendendo ao conteúdo dos itens que compõem a escala, a pessoa Q2+ gosta de
fazer planos, sem interrupções nem sugestões de outros, pode passar facilmente uma
manhã inteira sem ter necessidade de falar com ninguém e prefere trabalhar só. A pessoa
Q2- diz que gosta de colaborar com os outros, que gosta dos momentos em que há gente à
sua volta, e que prefere os jogos em que se formam equipas ou se tem um parceiro.
No 16PF-5, uma pontuação baixa nesta escala é parte da dimensão Extroversão ou
orientação para os outros, juntamente com Afabilidade (A+), Animação (F+), Atrevimento
(H+) e o pólo baixo (N-) da Privacidade.
Em relação com outras medidas da personalidade, a Orientação para o grupo (Q2-)
mostra relações com a escala estrutural V1 (uma medida ampla da sociabilidade) do CPI,
com as de Capacidade para adquirir um estatuto social, Sociabilidade e Presença social do
mesmo CPI, com a Afiliação do PRF, a Extroversão do MBTI e quase todas as facetas da
Extroversão do NEO, tais como Calor, Gregariedade, Assertividade, Procura de excitação e
Emoções positivas.
A Auto-suficiência (Q2+) relaciona-se positivamente com a Autonomia do PRF, o que
apoia o elemento individualista da Auto-suficiência. A relação é negativa, com as escalas de
Conforto/dar e Ajuda/pedir do PRF, com a Empatia do CPI e com a faceta A3: Altruísmo do
NEO. Este padrão de relações sugere que a pessoa Q2+ não dá a importância adequada
aos contactos afectivos com os outros. Finalmente, o pólo alto (Q2+) da escala relaciona-se
negativamente com as escalas de Sentido de bem-estar e Aceitação de si e apresenta uma
correlação modesta mas significativa com três facetas de Neuroticismo do NEO (Hostilidade,
Depressão e Auto-conscienciosidade); estas características poderiam aparecer em
pontuações extremas de Q2+.

Perfeccionismo (Q3)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(Q3-) Flexível e tolerante com a desordem ou com os erros
(Q3+) Perfeccionista, organizada e disciplinada

A pessoa com pontuação alta (Q3+) quer fazer bem as coisas; costuma ser
organizada, ter as suas coisas nos lugares adequados e fazer planos. Provavelmente gosta
e sente-se confortável em situações organizadas e previsíveis, e pode sentir como difíceis
as que não pode prever. No extremo pode chegar a ser inflexível.
Em contraste, uma pessoa Q3- tende a deixar as coisas ao acaso e sente-se mais
confortável numa situação sem muita ordem; contudo, esta pessoa Q3- pode ser
considerada preguiçosa, desorganizada e com falta de preparação. Em geral, não tem uma
clara motivação para se comportar de forma planeada e organizada, especialmente se isso
50

não for importante para ela.


Considerando o conteúdo dos itens, a pessoa perfeccionista Q3+ diz que guarda
sempre as suas coisas em perfeitas condições, que começa a fazer rapidamente o que há a
fazer, que gosta de fazer planos com antecedência e que todos os trabalhos devem ser bem
feitos. A pessoa Q3- afirma que não lhe importa se a sua casa está desorganizada, que nem
sempre tem tempo para pensar previamente em tudo o que necessita para uma tarefa, e
que alguns trabalhos não deveriam ser feitos tão cuidadosamente como outros.
No 16PF-5, o Perfeccionismo (Q3+) contribui para a dimensão de Auto-controlo,
juntamente com a Seriedade (F-), a Atenção às normas (G+) e a orientação prática (M-).
Ainda que o Perfeccionismo se correlacione com a manipulação da imagem (MI), o índice
não é muito elevado; talvez isto indique que o Perfeccionismo, ainda que possa ter aspectos
positivos, nem sempre é desejável.
Tal como a Atenção às normas (G+), com a qual apresenta uma elevada correlação,
o Perfeccionismo (Q3+) mostra correlações com outras medidas da personalidade, como
todas as facetas de Conscienciosidade do NEO. Estas relações apoiam a contribuição de
Q3 para a dimensão Auto-controlo.
Algumas das relações são mais próprias do Perfeccionismo (Q3) que da Atenção às
normas. Por exemplo, os dois índices mais elevados de Q3 têm a ver com a necessidade de
ordem: a escala de Ordem do PRF e a faceta de Ordem do NEO. Quase tão elevadas como
estas são as relações positivas com a escala Racionalidade do PRF e a preferência de
Juízo do MBTI, e as relações negativas com a Flexibilidade do cri e a Percepção do MBTI.
Este conjunto de relações sugere que o sujeito tem necessidade de predição e de
inflexibilidade no juízo que pode vir acompanhada de uma forte necessidade de ordem, e de
desagrado perante a ambiguidade. O componente de esforço face à perfeição e aos
resultados pode estar subjacente nas relações com a escala de Realização do PRF e a de
Realização de si pela aceitação das normas do CPI. O componente de desirabilidade social
sugerido anteriormente pode manifestar-se na relação positiva com a escala de Boa
impressão do CPI.

Tensão (Q4)

Nos extremos descreve-se uma pessoa...


(Q4-) Relaxada, calma e paciente
(Q4+) Tensa, enérgica, impaciente e intranquila

A escala está associada com a tensão nervosa. Uma pessoa Q4+ costuma
manifestar uma energia incansável e mostrar-se intranquila quando tem que esperar. Ainda
que um certo grau de tensão possa orientar efectivamente e mover para a acção, quando
51

esta é elevada pode chegar a atingir a impaciência e a irritabilidade. As relações com outras
medidas da personalidade sugerem a possibilidade de que uma tensão elevada pode às
vezes perturbar o auto-controlo ou impedir uma acção eficaz.
É possível que o profissional que lida com pessoas sinta necessidade de controlar a
fonte de tensão quando aparecem pontuações elevadas no perfil, já que estas podem
reflectir uma tensão característica da pessoa ou específica da situação concreta.
A pessoa com pontuação baixa (Q4-) costuma sentir-se relaxada e tranquila; é
paciente e não se frustra com facilidade; no extremo, esse baixo nível de energia pode levá-
Ia a perder motivação; ou seja, sente-se confortável e não empreende a mudança.
A desirabilidade social pode afectar os resultados da escala Q4. Como estes itens
são bastante “transparentes” em relação à variável medida, podem ser afectados pelo estilo
de resposta, e o sujeito responde de um modo favorável (Q4-) ou desfavorável (Q4+),
segundo a situação de exame. Na realidade, a correlação com a Manipulação de imagem
(MI) é a mais elevada no 16PF-5.
De acordo com o conteúdo dos itens, a pessoa Q4+ sente-se frustrada com os outros
demasiado rapidamente, fica incomodada e irritada se os seus planos, cuidadosamente
elaborados, tiverem de ser alterados por causa de outras pessoas, e sente-se intranquila e
nervosa quando, por algum motivo, tem que esperar longamente pela sua vez. Pelo
contrário, a pessoa Q4- não se incomoda se alguém a interrompe quando está a tentar fazer
algo, é-lhe fácil ser paciente com os outros, e não fica intranquila nem nervosa quando tem
que esperar longamente pela sua vez, por algum motivo.
No conjunto das escalas do 16PF-5, a escala Q4+ é a que mais contribui para a
dimensão global de Ansiedade, juntamente com o pólo baixo (C-) da Estabilidade, a
Vigilância (L+) e a Apreensão (O+).
A escala está relacionada com várias facetas de Neuroticismo do NEO, tais como
Ansiedade, Hostilidade, Depressão e Impulsividade: estas correlações reforçam o lugar que
a Tensão ocupa na dimensão Ansiedade. A correlação negativa com Auto-controlo do CPI e
a positiva com N5: impulsividade do NEO sugerem que uma tensão extrema pode interferir
no auto-controlo.
A afirmação de que a Tensão (Q4+) pode impedir uma acção eficaz tem suporte na
correlação negativa com a faceta O4: Acções do NEO e com as escalas Tendência intuitiva,
Empatia, Tolerância e Realização de si pela independência do CPI.
Com base na correlação de Q4+ com Agressão e Defensividade do PRF e com N2:
Hostilidade do NEO, pode sugerir-se a hipótese da tensão implicada em Q4 ser afim do
impulso de “lutar ou fugir”. A escala Q4 também se correlaciona negativamente com a de
Boa impressão do CPI, reforçando a relação com desirabilidade social referida num
parágrafo anterior.
52

5.TABELAS DE NORMAS
ESCALAS PRIMÁRIAS
SEXO MASCULINO

Tabela 1. 16 PF-5 Normas, sexo masculino (N=196)


Pontuações Directas

PC A B C E F G H I L M N O Q1 Q2 Q3 Q4 DC
99 21-22 14-15 16-22 20 20-22 26-28 18-20 10

98 19-20 13 19-20 19-20 19-20 21-22 15 19 17-19 20 20 25 15-17 19-20 9

95 - - - - - - 20 - - 16 19 19 23-24 - - 9

93 18 - - - 17-18 - 19 13-14 17-18 15 - - 22 13-14 18 8

90 17 12 - 18 - 19-20 18 - - 13-14 17-18 17-18 21 9-12 19-20 17 8

84 16 11 18 17 - - 17 12 16 - - - - - - 15-16 7

80 15 - 17 - 16 18 - 11 15 11-12 - 16 20 8 - - 7

75 - - - - 15 17 15-16 - 14 - 15-16 15 19 7 18 13-14 7

69 14 10 - - - - - 10 13 - - - - - 17 - 6

65 13 - 16 16 - 16 13-14 - - 9-10 - 13-14 - 6 - 12 6

60 - 9 15 15 14 15 - 9 - - 14 - 17-18 5 16 11 6

55 - - - - 13 - 11-12 - 12 8 13 12 - - 15 - 6
53

50 12 - - - - - - - - 7 - 11 - - - 9-10 5

45 11 - 14 - - 14 10 8 11 - 12 - 15-16 3-4 - - 5

40 - 8 13 14 12 13 9 7 - 6 11 9-10 - - 13-14 - 5

35 - - - 13 11 - 8 - 10 5 - - - - - 7-8 5

31 9-10 7 - - - 11-12 7 - 9 - 9-10 - 14 - 11-12 - 4

25 - - 12 - 10 - 6 6 - 4 - - 13 - - 5-6 4

20 8 6 11 11-12 9 10 5 5 7-8 3 - 7-8 - 1-2 10 - 4

16 - - - - - - - - - - 8 - 12 - 9 - 4

15 7 - 9-10 10 7-8 9 4 - 6 - 6-7 6 11 - - 3-4 3

10 6 5 - 9 - - 3 3-4 5 1-2 5 5 - - 7-8 - 3

7 5 - 8 - 5-6 8 - - - - 4 3-4 9-10 - 5-6 - 2

5 4 4 7 6-8 3-4 5-7 1-2 2 3-4 - 3 1-2 7-8 - 4 1-2 2

2 3 - 3-6 5 - 3-4 - 1 2 - - - 6 - 1-3 - 1

1 0-2 0-3 0-2 0-4 0-2 0-2 0 0 0-1 0 0-2 0 0-5 0 0 0 1

N 196 196 196 196 196 196 196 196 196 196 196 196 196 196 196 196 N

Méd 11,52 8,14 13,68 13,80 12,09 13,71 10,60 7,91 11,06 7,41 11,90 11,16 15,93 4,96 13,76 9,66 Méd

D.P 4,13 2,61 3,73 3,25 4,06 4,42 5,75 3,58 4,23 4,87 4,68 4,96 4,40 4,48 4,85 5,18 D.P

ESCALAS PRIMÁRIAS
SEXO FEMININO

Tabela 2. 16 PF-5 Normas, sexo feminino (N=246)


Pontuações Directas

PC A B C E F G H I L M N O Q1 Q2 Q3 Q4 DC
99 13-15 20 21-22 26-28 17-20 10

98 22 - 19 20 21-22 22 19-20 17-20 19-20 25 15-16 20 9

95 21 12 20 - 19 - 21 - - - - 13-14 19 9

93 - - 19 - - - 20 - 17-18 15-16 - 19-20 23-24 11-12 - 8

90 - 11 - - 18 19-20 19 - - 13-14 17-18 - - 9-10 19-20 17-18 8

84 20 - - 17-18 17 - - 20 16 12 - 18 - 7-8 - - 7

80 19 - - - - - 18 19 15 11 15-16 17 21-22 - - 15-16 7

75 - 10 17-18 - - 17-18 17 - - - - - - 6 - 14 7

69 - - - - 16 - - 18 14 10 14 - 20 5 18 13 6

65 - 9 16 15-16 15 - 16 17 13 9 13 15-16 19 - 17 - 6

60 - - 15 - - 16 15 - - 7-8 - - - 4 - - 6

55 17-18 - - - - 15 14 - - - 12 - - 3 - 11-12 6

50 - 8 - - 13-14 - 13 15-16 12 6 11 14 18 - 16 - 5
54

45 - - 14 - - - 11-12 - 11 5 10 13 17 - 15 9-10 5

40 - - 13 14 - 13-14 9-10 - - - 9 - - 2 - - 5

35 16 - - 13 12 - - 14 10 3-4 - 11-12 - 1 14 8 5

31 15 7 12 - 11 12 7-8 13 9 - 8 - 15-16 - 13 7 4

25 - - 11 - - 11 6 12 - - 7 10 - - 11-12 6 4

20 - 6 - 11-12 10 10 5 11 7-8 2 - 9 14 - - 5 4

16 - - 10 - 9 - - - - - 6 - 13 - - - 4

15 12-14 - 9 - - 9 3-4 9-10 6 1 5 7-8 - - 9-10 4 3

10 11 5 7-8 9-10 8 8 1-2 - 5 - - 5-6 11-12 - - 3 3

7 - - - 8 7 7 - 7-8 4 - 4 - - - 7-8 - 2

5 9-10 4 3-6 5-7 5-6 5-6 - 5-6 3 - 3 3-4 9-10 - 5-6 1-2 2

2 - - - - - 3-4 - - - - - - 7-8 - 3-4 - 1

1 0-8 0-3 0-2 0-4 0-4 0-2 0 0-4 0-2 0 0-2 0-2 0-6 0 0-2 0 1

N 246 246 246 246 246 246 246 246 246 246 246 246 246 246 246 246 N

Méd 16,31 7,78 13,59 13,70 13,07 13,97 11,43 14,77 11,17 6,70 10,73 12,85 17,35 3,84 14,58 10,33 Méd

D.P 3,35 2,43 4,36 3,45 3,93 4,50 6,43 4,46 4,40 5,40 4,87 4,78 4,36 4,49 4,36 5,31 D.P

ESCALAS PRIMÁRIAS
AMBOS OS SEXOS

Tabela 3. 16 PF-5 Normas, ambos os sexos (M+F) (N=442)


Pontuações Directas

PC A B C E F G H I L M N O Q1 Q2 Q3 Q4 DC
99 14-15 20 20 21-22 26-28 17-20 10

98 21-22 13 19 19-20 21-22 21-22 19 17-20 20 25 15-16 19-20 9

95 - - 19-20 - - - - - - 19 20 24 - - 9

93 - 12 - - - - 20 20 17-18 15-16 - 19 23 12-14 - 8

90 19-20 - - 18 17-18 19-20 19 19 - 13-14 17-18 - 22 9-11 19-20 17-18 8

84 - 11 - 17 - - 18 18 16 12 - 17-18 21 - - 16 7

80 - - 17-18 - - - 17 17 15 11 16 - - 7-8 - 15 7

75 18 10 - - 16 17-18 - 16 - - 15 16 20 - - 14 7

69 17 - - - 15 - 16 15 14 10 - 15 19 6 18 13 6

65 - - 16 16 - - 15 - 13 9 14 - - 5 17 - 6

60 - 9 15 15 - 15-16 14 13-14 - - 13 - - - - 12 6

55 15-16 - - - 14 - 13 - - 7-8 - 13-14 18 4 16 11 6

50 - - - - 13 - 11-12 11-12 12 - 12 - 17 3 15 10 5
55

45 - 8 14 - - 14 - - 11 6 11 12 - - - 9 5

40 13-14 - 13 14 12 13 9-10 10 - 5 10 11 16 - 14 - 5

35 - - - 13 11 - - 9 10 - 9 - 15 - 13 8 5

31 12 7 12 - - 11-12 7-8 - 9 3-4 - 9-10 - 1-2 12 7 4

25 11 - 11 - 10 - 6 7-8 - - 7-8 - 14 - 11 5-6 4

20 - 6 - 11-12 9 10 5 - 7-8 - - 8 13 - - - 4

16 10 - - - - - - - - - - 7 - - - - 4

15 9 - 9-10 10 - 9 3-4 5-6 6 1-2 5-6 - 12 - 9-10 4 3

10 8 5 8 9 7-8 - 1-2 - 5 - - 5-6 11 - 7-8 3 3

7 - - 7 - - 7-8 - - - - 4 - 10 - 6 - 2

5 5-7 4 5-6 6-8 5-6 5-6 - 3-4 3-4 - 3 3-4 9 - 4-5 1-2 2

2 - - 3-4 5 3-4 3-4 - 2 - - - 1-2 7-8 - 3 - 1

1 0-4 0-3 0-2 0-4 0-2 0-2 0 0-1 0-2 0 0-2 0 0-6 0 0-2 0 1

N 442 442 442 442 442 442 442 442 442 442 442 442 442 442 442 442 N

Méd 14,19 7,94 13,63 13,74 12,64 13,86 11,06 11,73 11,12 7,02 11,25 12,10 16,72 4,33 14,21 10,03 Méd

D.P 4,41 2,52 4,09 3,36 4,01 4,46 6,15 5,33 4,32 5,18 4,82 4,93 4,43 4,51 4,59 5,26 D.P

ESTILOS DE RESPOSTA
AMBOS OS SEXOS

Tabela 4. 16 PF-5 Normas, em percentis, de “Estilos de resposta” (N=442)


Escala MI Escala IN Escala AQ
P.D. Percentil P.D. Percentil P.D. Percentil
0-2 1 0 62 0-34 1
3 2 1 63 35-36 2
4 3 2 80 37 3
5 5 3 88 38-39 4
6 7 4 92 40 6
7 13 5 94 41 9
8 15 6 96 42 11
9 23 7-8 98 43 13
10 27 9-19 99 44 14
11 35 45 17
12 36 46 22
13 46 47 25
14 49 48 28
15 62 49 33
16 65 50 35
17 76 51 40
18 77 52 43
19 86 53 48
20 88 54 52
21 94 55 56
22-23 96 56 61
24 99 57 65
58 70
59 74
60 79
61 82
62 85
63 89
64 92
56

65-66 93
67 95
68-70 97
71 98
72-85 99

Tabela 5. 16PF Normas, em decatipos, de “Estilos de resposta” (N=442)


Decatipos
Esc. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média D.P.
MI 0-3 4-6 7-8 9-10 11-14 15-16 17-18 19-20 21-23 24 13,07 5,10
IN 0-1 2 3-4 5-8 9-19 0,98 1,95
AQ 0-36 37-40 41-44 45-48 49-53 54-57 58-61 62-66 67-71 72-85 52,79 8,70
Esc. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média D.P.

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