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CAPÍTULO 2
2.1 Introdução
Você tem diante de si um texto Braille e deixa que sua mão aberta
passeie ao acaso pelo papel. Uma sensação de aspereza estimula sua pele e nada
um bordado abstrato, ora uma pauta musical, ora parecem sugerir flores ou
pequenos peixes. Como num jogo de quebra-cabeça você pode se perguntar: Qual
é a senha ou a chave que me fará acessar a lógica desse jogo? Aqui a pergunta a
ser feita não é exatamente esta: aqui, importa-nos saber como é que o código Braille
desse código em relevo, onde nos permitiremos avaliar de que modo o código Braille
partir de tal viés implica aventurar-se por um caminho que, por sua característica
evitar. Nossa aventura é singular. Estamos em um terreno virgem, onde nada ainda
ser recalcados, para que possamos elaborar um discurso viável a uma compreensão
apoio que nos permitam aplicar alguns dos achados semióticos à escrita em relevo.
Esses pontos de apoio são alguns dos contributos da semiótica peirceana, assim
situamos o lugar das análises do código Braille nos campos teóricos propostos,
Braille e para caracterizar a sua semiose genuína, não basta evidenciar as ligações
que esse alfabeto estabelece com a linguagem oral, por considerarmos que, em se
responsabilidade que nos cabe é, pois, imensa. É certo que muitos dos problemas
aqui suscitados não passarão de pistas para futuras investigações. Assim, um alerta
porque o nosso trabalho transpõe frontalmente essa fronteira dos objetos visuais
Braille para a composição das letras, palavras, do texto escrito, enfim, de todas as
outras linguagens que a pontografia traduz, o leitor poderá sentir alguma estranheza
ícone diagramático, nos seus processos de associação e combinação, nas suas leis
verdade o equívoco reside unicamente no fato de se pensar uma matriz tátil por um
certo que falar de escrita em relevo é sair-se de um panorama em que o texto escrito
matriz gráfica em sua forma de pontos, o faz para atender unicamente a uma
estatuto ainda precisa ser validado por uma teorização competente e por estratégias
Nöth esclarece:
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algum lugar. Supomos mesmo que o lugar privilegiado para essa saída é o relevo, o
maior potencial analítico que nos propicie uma caracterização adequada desse
Assim como frisáramos, no primeiro capítulo, que toda uma história dos
relevo.
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pela Lingüística, os quais estão ainda por ser explorados no campo da escrita
condicionamentos intracerebrais.
lugar para situarmos o sistema Braille no campo dos estudos semióticos? Nossa
código Braille, dum ponto de vista mais genérico, acha-se circunscrita ao campo da
locus específico de abordagem semiótica do nosso alfabeto. De fato, ele pode ser
[...] Distinguimos três maneiras de interpretar um signo verbal: êle pode ser
traduzido em outros signos da mesma língua, em outra língua, ou em outro
sistema de símbolos não-verbais. Essas três espécies de tradução devem
ser diferentemente classificadas:
1) A tradução intralingual ou reformulação (rewor ding) consiste na
interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma
língua.
2) A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na
interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua.
3) A tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação
dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais.
(JAKOBSON, 1970, p. 63-64).
foi realizado por Plaza, que também reconhece como contribuições importantes sob
1
Deely apresenta um esquema de classificação dos objetos semióticos da seguinte forma:
Antropossemiose – “[...] através do desenvolvimento de modalidades semióticas entre os humanos
e outros animais, da linguagem da espécie humana e, conseqüentemente de tradições históricas e
culturais em geral [...]”
Zoossemiose – “[...] através do desenvolvimento de modalidades semióticas entre plantas e animais,
entre animais, e entre animais e o ambiente físico [...]”
Biossemiose – “[...] no mundo orgânico como tal (incluindo processos endossemióticos) [...]”
Fitossemiose – “[...] através do desenvolvimento de modalidades semióticas entre vegetais e entre
plantas e o ambiente físico [...]”
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tradução intersemiótica até a década de 1980 − o que de fato caracteriza esse tipo
de abordagem como ainda bastante recente. No entanto, de acordo com o que foi
espécie de gramática.
indicador. Cria-se numa nova escrita por sulcos, o rastro onde pode ser percebida
num aspecto mais sutil em que pode ser apreciado o processo de tradução
intersemiótica do Braille.
paradigma da visualidade (ver capítulo 1), o grande achado da célula de Braille foi
relevo institui uma nova assinatura para o campo da percepção tátil. Assim, o
campo legítimo onde essa matriz de pontos se propõe como tradução intersemiótica
de atualização.
gradual, o relevo Braille deu uma maior visibilidade a esse complexo tátil. Do mesmo
passou pouco a pouco a ser exercitada, ora de forma mais tímida, ora de forma mais
perceptível.2
mundo da cultura.
solo mesmo da percepção tátil que o signo primordial (a célula Braille) deflagra uma
Pensar nesta matriz básica como uma espécie de lugar por onde
curvas das letras tradicionais em tinta são substituídas por marcas de pequenas
entre escrita Braille e linguagem verbal. No nosso entender, é para o complexo tátil
4
O tema aqui sugerido será mais convenientemente explorado no quarto capítulo deste trabalho.
66
E prossegue:
representar?
67
5
Vimos no primeiro capítulo que sessenta e quatro combinações possíveis dos seis pontos de Braille
geram as chamadas sete séries fundamentais do relevo Braille. Por agora nos ocuparemos somente
da análise das séries que representam as pontuações e as letras acentuadas.
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cela. Uma leve diferença de nível permite uma perfeita distinção entre letra e
Vírgula , É,
Ponto de vírgula ; É;
Dois pontos : É:
Ponto final; apóstrofo . É.
Ponto de interrogação ? É?
Ponto de exclamação ! É!
Reticências ... É...
Hífen ou traço de união - é-
Travessão − é--
Círculo ●
éõo
Abre e fecha parênteses ()
é()
Abre e fecha colchetes []
é[]
Abre e fecha aspas “”
É«
Asterisco *
É*
Barra /
É^,
Barra vertical |
É|
FIGURA 6 - Sinais de pontuação e acessórios6
acentuadas são visivelmente diversas das letras não acentuadas, o que demonstra a
a figura 7.
Vogais
a a e e i i o o u u
Acento Agudo
á á é é í í ó ó ú ú
Acento grave
à à - - - - - - - -
Acento cicunflexo
â â ê ê - - ô ô - -
Til
ã ã - - - - õ õ ü ü
Trema
- - - - - - - - - -
FIGURA 7 − Vogais acentuadas em Braille
representações.
tátil, Braille adotou para tal representação o processo das chamadas combinações
novo as letras que, precedidas de tal sinal, convertem-se nos números (ver
figura 8).
0 #j
1 #a
2 #b
3 #c
4 #d
5 #e
6 #f
7 #g
8 #h
9 #i
FIGURA 8 − Os números em Braille
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que também toma de empréstimo da simbologia matemática alguns dos seus sinais
que funcionam como informação sígnica nas divisões e tonalidades dos sons.
Todos esses saberes podem ser articulados naquilo que poderíamos chamar de
do texto em relevo.7
7
O chamado Braille informático, ou Braille de oito pontos, agrega à célula original mais dois pontos
para a representação dos múltiplos sinais que emanam da própria informática.
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informação.
De fato, são esses dois processos básicos que vão dar corpo à
assim aquela estrutura retangular primordial (a matriz dos seis pontos) e propiciando
percepção tátil. Tais idéias são fundamentais tanto em ciências cognitivas como em
Teoria da Informação.
sujeitos cingidos pela condição da cegueira, nas suas práticas diárias de leitura e
dissimilitudes:
cultura.