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RAIZA VARELLA
Sumário
O Garoto que eu Abandonei
Parte I
Introdução
Prefácio
Capítulo 1 - Marcela
Capítulo 2 - Gustavo
Capítulo 3 - Marcela
Capítulo 4 - Gustavo
Capítulo 5 - Bárbara
Capítulo 6 - Marcela
Capítulo 7 - Gustavo
Capítulo 8 - Marcela
Capítulo 9 - Marcela
Capítulo 10 - Marcela
Capítulo 11 - Bárbara
Capítulo 12 - Marcela
Capítulo 13 - Marcela
Capítulo 14 - Bárbara
Capítulo 15 - Marcela
Capítulo 16 - Marcela
Capítulo 17 - Marcela
Capítulo 18 - Gustavo
Capítulo 19 - Marcela
Capítulo 20 - Marcela
Capítulo 21 - Gustavo
Capítulo 22 - Gustavo
Capítulo 23 - Marcela
Capítulo 24 - Gustavo
Capítulo 25 - Bárbara
Capítulo 26 - Marcela
Capítulo 27 - Gustavo
Capítulo 28 - Marcela
Capítulo 29 - Marcela
Capítulo 30 - Marcela
Capítulo 31 - Gustavo
Capítulo 32 - Marcela
Capítulo 33 - Gustavo
Capítulo 34 - Bárbara
Capítulo 35 - Marcela
Capítulo 36 - Ian
Parte III
Capítulo 37 - Marcela
Capítulo 38 - Marcela
Capítulo 39 - Ian
Capítulo 40 - Gustavo
Capítulo 41 - Gustavo
Capítulo 42 - Bárbara
Capítulo 43 - Marcela
Capítulo 44 - Ian
Capítulo 45 - Gustavo
Capítulo 46 - Ian
Capítulo 47 - Marcela
Capítulo 48 - Gustavo
Parte IV
Capítulo 49 - Marcela
Capítulo 50 - Bárbara
Capítulo 51 - Anna
Capítulo 52 - Lucas
Capítulo 53 - Marcela
Capítulo 54 - Marcela
Parte V
Epílogo – Bárbara
Para o garoto que eu nunca vou abandonar, para Lucca o
fruto do meu conto de fadas particular. Mamãe te ama
mais do que você pode imaginar.
“Em pé diante das cinzas. Em pé diante do céu de
inverno. Em pé diante do chamado. Ouça o choro da
batalha. Deixe-o gritar desde as montanhas, desde a
floresta até a capela. Porque a morte é uma boca faminta,
e você é a maçã.”
Bárbara
Eu daria qualquer coisa para ser filha única. Minha
orelha esquerda, o dinheiro que tenho na poupança, meus
pares de sapatos e todos os sorvetes que estão escondidos
no meu freezer, embora não sejam de fato meus. Porque,
vou te dizer, ter irmãos é um pé no saco, principalmente
dois tão cabeças-duras como os meus. Para mim, é um
mistério o que minha mãe estava pensando quando
resolveu ficar com eles ao invés de colocá-los em uma
cestinha e deixar na porta de uma igreja qualquer. Ela
vive em outra dimensão na maior parte do tempo. Se eu
fosse julgar, diria que só se deu conta do tamanho da
burrada quando era tarde demais.
Augusto, meu irmão mais velho, é o menor dos meus
problemas, já que ele foi domesticado. E pensar que era o
mais descrente em se tratando de amor. Achei que mulher
nenhuma teria o poder de mudá-lo – e ele, com certeza,
pensava o mesmo –, mas não contávamos com a doce e
tímida Anna entrando em nossas vidas, tomando conta de
seu coração à força e fincando uma bandeira de
encoleirado nele. Monstro se transformara e agora exibe
uma postura muito diferente do homem mulherengo de
antes, que não valia nem uma moeda de um centavo. Uma
postura de homem de família. Meus olhos se enchem de
água todas as vezes em que ele abraça sua noiva e passa
as mãos por sua barriga minúscula que abriga uma vida.
A vida deles.
Eu sempre quis que eles se acertassem, encontrassem
uma garota boazinha de quem eu, obrigatoriamente,
gostasse e montassem no cavalo branco por elas. Eu sei,
eu sei, eu e os cavalos. Meu maior problema é que
Gustavo, meu irmão do meio, fez diferente; ao invés de
montar em um cavalo, ele encontrou uma égua e se
apaixonou por ela. Ele, agora, é minha maior decepção,
ele e aquele creme mágico que prometia diminuir celulites
e não passou de perda de tempo.
Só de pensar que ele estava namorando justo ela, a
mulher que tentou destruir minha felicidade e me fez
passar pela maior humilhação da minha vida, eu tinha
vontade de gritar, me jogar no chão e fazer birra que nem
aquelas criancinhas medonhas fazem no supermercado.
Nossa família é estruturada, é uma unidade
indivisível e inabalável. Eu morreria pelos meus irmãos,
mas, no momento, tudo que tenho vontade de fazer é matar
um deles. Não posso, simplesmente não posso, vê-lo
jogando a vida fora por um amor que não é de verdade, e
vou fazer o que for preciso para protegê-lo.
Se, para isso, eu tiver que jogar sujo, que seja. Mas
uma coisa eu digo: Gustavo não se casará com aquela
mulher, ou eu não me chamo Bárbara Vitorazzi.
Prefácio
Dias atuais
— Tomo mundo para o chão, isso é um assalto! —
berrou alguém por cima das vozes e do burburinho de
conversas no banco lotado.
Foi o suficiente para que eu revirasse os olhos e
arremessasse meu celular em um cesto de lixo, xingando
alto sem pensar duas vezes, antes de me jogar no chão e
colocar as mãos sobre a cabeça, igual nos filmes.
O banco próximo ao cubículo nunca havia sido
assaltado, disso eu tinha certeza – eu havia feito um
trabalho para o segurança –, e eu nunca, sob hipótese
alguma, ia àquele banco específico. Qual era a
probabilidade de duas coisas que nunca aconteceram
antes, ocorrerem simultaneamente? Tinha que ser comigo,
porque, na minha vida, a probabilidade estatística não era
confiável.
Retiro as mãos da cabeça e rolo de lado, tentando
achar meu alvo. O assaltante que se danasse! Eu estava em
uma pindaíba tão grande que perder aquele caso
significava dar adeus à eletricidade e voltar à época em
que as pessoas acendiam velas e ferviam água para tomar
banho. Isso, claro, se o gás também não resolvesse
acabar; como eu disse, as probabilidades eram sempre
negativas quando se tratava de mim.
Avisto o homem a um metro de distância, também
jogado no chão. Sua peruca está em uma posição esquisita
e sua testa pinga suor, parece realmente amedrontado. Dou
uma olhada em volta e vejo apenas dois assaltantes; um
está extorquindo a moça com cara de entediada sentada
atrás do caixa, e o outro está dando um sacode no gerente.
Então, me arrisco a girar cento e oitenta graus e me
arrastar com os cotovelos pelo chão sujo, até estar diante
do homem que levanta o olhar e me encara perplexo com
seu óculos pendendo do nariz rechonchudo.
— O senhor está bem? — pergunto, fingindo uma
preocupação que não existe.
— O banco está sendo assaltado! — responde,
atônito, como se eu fosse cega.
Reviro os olhos e ele limpa o suor rapidamente como
se estivesse com medo de se mexer mais do que o
necessário. — Como posso estar bem?
— Eu vi, parece que vamos todos morrer — lamento,
fazendo uso de sua covardia, até estalo a língua para
parecer realmente chateada com a ideia de levar uma bala
na cabeça.
Mas, pensando bem e lembrando com clareza da
minha fatura do cartão de crédito, aquela não chegava a
ser uma ideia de todo ruim.
— Vamos? — pergunta, com os lábios tremendo.
Tenho que morder a língua com força para evitar cair
na gargalhada.
— Pelo menos foi o que aquele cara — aponto para
um dos assaltantes, o mais mirradinho deles — disse antes
de ter batido naquela velhinha ali — aponto para uma
coisinha pré-histórica que dorme tranquilamente em uma
cadeira da recepção, alheia a toda a cena à sua volta. —
Você o viu bater na velhinha né? Acho até que deve ter
matado a coitada, não estou vendo o peito dela se mexer.
Ele me olha de olhos arregalados e encara a velhinha
com atenção.
— Oh, meu Deus, você tem razão, também não a vejo
respirar.
Ele apoia os cotovelos no chão e afunda a cabeça nas
mãos. Será que vai demorar muito para ele começar a
falar?
— Então, como eu estava te contando, ele também
falou que é um assassino cruel e impiedoso, mas que
prefere matar homens, principalmente aqueles que usam
óculos, algo sobre ter sido molestado por um tio míope na
infância.
Agora deu. Ele levanta a cabeça rapidamente e
arranca os óculos, jogando-os longe. Agora posso rir,
acho que ele não vai mais ver.
— Eu não posso morrer, não posso — lamenta, com
os olhos se enchendo de água. — Ainda não fiz nada na
minha vida, não pulei de paraquedas, não fiz fortuna.
Deus, eu nem saí do armário.
Engasgo, por essa eu não esperava.
— Posso imaginar o quanto seja claustrofóbico —
murmuro contente, jogando uma das mãos para trás e
tateando o bolso do jeans em busca do celular, mas não o
encontro. Merda, estava na lixeira. — Espera, eu já volto.
Abandono o homem, que agora chora silenciosamente
enquanto murmura para si mesmo as coisas que nunca
tinha feito até então, algo como “transar com um negão e
contar para a mãe que foi ele quem quebrou o cachorrinho
de cerâmica quando tinha 10 anos”. Cara estranho. Volto
me arrastando até a lixeira em busca do meu celular. Não
demoro muito para encontrá-lo; ele e dois ou três
chicletes mastigados que se grudaram na minha capinha
dos Minions. Depois, me arrasto de volta até o homem
choroso, apertando os botões para gravar nossa conversa.
— Nunca fiz algo estúpido, como, sei lá, ter filhos.
Não fui a nenhuma convenção de Supernatural, mesmo
achando os dois atores gatos pra caramba, nunca tive um
gato.
Ele não calava mais a boca, então resolvi interferir.
— Vamos voltar a falar do armário — comento, sem
paciência, quando a polícia anuncia nos megafones que o
prédio está cercado.
— Isso, e tem o armário. Eu vou morrer sem contar
para minha mulher que sou gay e apaixonado pelo irmão
dela desde antes de nos casarmos, isso não é justo —
lamenta, esfregando os olhos. — Não é justo que eu tenha
ficado casado com ela porque ele se recusa a me assumir.
Zé Alfredo sempre foi melhor de cama, sabe? — pergunta,
fungando. — Talvez por isso eu tenha concordado.
— Jura?
Agora estou verdadeiramente interessada na história
de vida deste homem e penalizada também, tanto que
ajeito sua peruca em um ato de solidariedade.
— Não entra, se não vou matar todo mundo! — berra
um dos assaltantes parado em cima de mim. Me viro de
barriga para cima ao me assustar com a sua voz, e ele olha
para baixo, me encarando, com a arma ainda apontada
para a porta de vidro. — Me dá essa porra aqui! —
murmura, tentando tomar o celular das minhas mãos.
— Ah, mas não dou mesmo! — replico, fazendo força
para puxar o celular de volta.
— Você não tem medo de morrer, não, mulher? —
pergunta, perplexo.
— Só tenho medo de ficar sem a funcionalidade do
meu micro-ondas, querido, agora larga esse celular ou vou
ser obrigada a te fazer largar! — resmungo, dando um
último puxão e arrancando o celular de seu aperto. Eu,
hein, cara arrogante.
Tenho mais medo da companhia elétrica e dos caras
que adoram cortar um fio no poste do que daquele menino
esquelético com uma arma que, está na cara, é feita de
plástico. Ele parece perceber no meu olhar que não vai
adiantar insistir e dá meia-volta me xingando baixinho,
para tentar assustar um cara de meia-idade que começa a
retirar o relógio do pulso assim que percebe sua
aproximação. O que está acontecendo com os homens?
Sacos de batata já me deixaram mais orgulhosa.
Enfio o celular dentro da calça para evitar que ele
seja tomado das minhas mãos novamente e me viro de
lado, colocando a cabeça em cima do antebraço. Fecho os
olhos e tento tirar uma soneca até que a polícia decida
invadir o banco com uma sensação de trabalho bem feito e
uma fome dos diabos. Porém, antes que eu consiga dormir,
escuto gritos, me sento rapidamente e encontro a velhinha
dorminhoca de pé, dando guarda-chuvadas no menino que
tentou tomar meu celular. Para a idade que tinha a mulher,
ela batia forte. Eu estava me sentindo vingada enquanto o
menino gritava tanto de dor que o comparsa foi ajudar, seu
erro foi ter guardado a arma antes; em sua cabeça, uma
velhinha não ia muito longe com as agressões. Mas ela foi
e só parou quando os dois moleques estavam no chão,
chamando pela ajuda da polícia.
— Você não disse que ela estava morta? — perguntou
o homem, se sentando também e arrastando a bunda para
frente para poder observar a cena ao meu lado.
— Devo ter me enganado.
Dou de ombros, já até tinha me esquecido que ele
existia. Como eu pudera? Seria ele quem iria pagar o meu
Amex aquele mês, eu deveria ser mais grata.
— Quem será que ganharia no ring: ela ou o Anderson
Silva? — pergunto para passar o tempo.
— Não sei, acho que ela — murmura distraidamente
—, mas eu torceria para ele. Aqueles músculos fortes e
bem torneados, hum, aqueles braços me envolvendo...
Decido, mais ou menos aí, lacrar meus ouvidos e me
arrastar que nem uma minhoca para debaixo de uma mesa
mais adiante. Eu já estava carente por mim mesma sem ter
que pensar em braços quentinhos e musculosos me
abraçando, então, é claro que imaginar aquele cara suado
e com a peruca ainda meio torta — mesmo depois de
todos os meus esforços — ganhando esse prêmio, me
deixou um pouquinho ressentida.
Em questão de minutos, o banco foi invadido por
cerca de quinze policiais perplexos com uma velhinha, e
os dois assaltantes machucados foram presos sem
nenhuma resistência, até porque a senhora ainda
empunhava o guarda-chuva. Escapei no meio do tumulto,
para evitar ficar horas plantada em uma delegacia feito
uma estátua enquanto algum delegado desinteressado
pegava os depoimentos de todos, e corri para meu carro,
dando a partida enquanto recuperava meu celular e
apertava algumas teclas no visor.
— Dona Telma, boa tarde, aqui quem fala é a
Marcela. Quando a senhora teria um tempinho para me
encontrar? — questiono, tentando soar profissional, mas
não consigo esconder a satisfação da vitória na minha voz,
porque a mulher do outro lado da linha começa a chorar.
Odeio quando elas choram.
— Você conseguiu, não foi? Pegou ele! — Funga e
soluça ao mesmo tempo. — Quem é a vadia que está
saindo com meu marido?
Sou obrigada a morder a língua de novo antes de
apontar o dedo e fazer “há-há” para o para-brisa por puro
prazer diabólico.
— Acho melhor conversarmos pessoalmente —
aconselho.
— Tudo bem, tem razão. Você pode vir até a minha
casa? — pergunta, assoando o nariz. Eca.
— Claro, chego em alguns minutos. — Enfio o
celular dentro da calcinha e canto pneus, feliz porque hoje
vou comer bem!
Vinte minutos depois, estou tocando a campainha de
uma mansão imponente em um bairro chique de
Florianópolis enquanto tiro meu celular da calcinha.
Depois de tantos anos, era bom ter algo vibrando dentro
das calças, mesmo que fosse o telefonema da moça que
trabalha para a operadora de cartão de crédito querendo
me cobrar. Ultimamente, não dava para escolher muito.
— Você chegou! — exclama ela, tentando sorrir e
falhando, então volta a cair no choro.
Não me mexo, tenho uma regra tácita: não consolo
mulheres traídas. Elas estavam naquela situação porque
queriam, e meu tempo era precioso demais para perdê-lo
com os problemas dos outros.
— Espero que você não se importe, mas chamei
minha cunhada para me dar apoio nesse momento tão
difícil da minha vida — disse, torcendo os lábios
pintados de vermelho em um lamento, enquanto eu ergo
minhas sobrancelhas com deleite.
— A senhora tem quantos irmãos? — tento soar
desinteressada, mas, porra, sério?
— Um só, querida.
Há poucas coisas que ainda têm o poder de me
surpreender quando acontecem na minha vida, mas essa,
com certeza, foi uma delas.
— Ela não estaria interessada em investigar o marido
também? — A ideia de pagamento em dobro fez minhas
pernas fraquejarem de felicidade. Uma garota poderia
sonhar, certo?
— Ah, não, não. Meu irmão é um príncipe, ela não
precisa se preocupar com ele. — Faz um aceno de mão,
abandonando minha ideia, enquanto me dá passagem para
entrar em um hall imenso, tão grande que meu apartamento
caberia dentro dele, duas vezes.
— Certo.
Vamos ver o que esta senhora vai achar quando eu
contar que o tal príncipe andava brincando de gata
borralheira com o peruzinho do seu marido. Será que,
dessa vez, eu apanho? Não é tão incomum assim as
pessoas descontarem a ira das descobertas que faço em
mim. Eu deveria ter me prevenido, mas deixei o spray de
pimenta no carro; essa senhora rica e refinada não me
pareceu uma grande ameaça, mas duas senhoras ricas,
refinadas e furiosas, bom, aí a coisa mudava de figura.
— Judith, essa é a moça sobre a qual eu lhe falei.
Uma senhora mais jovial e bem vestida ergue os
lábios do cafezinho que tem nas mãos para me olhar dos
pés à cabeça. Não deve ter gostado do que viu, porque
desvia o olhar e volta para o cafezinho sem se importar
em me cumprimentar, estalando a língua em reprovação.
Eu até estava planejando ter dó dela, mas agora a vontade
tinha desaparecido.
— Vamos logo ao que interessa, dona Telma.
Ela assente e se senta no sofá, cruzando as mãos
acima do colo como uma verdadeira dama. Eu reviro os
olhos e emendo:
— Primeiro, meu dinheiro! — Estendo a mão,
enquanto a mulher do cafezinho volta a estalar a língua,
fazendo meu sangue começar a ferver.
Só não pulo no pescocinho torrado de bronzeamento
artificial dela porque várias notas de cem presas a um
elástico são colocadas na palma da minha mão. Sorrio e
conto as notas por cima, não é porque a mulher é rica que
é honesta. Depois de conferir se estava tudo ali, saco o
celular e coloco o áudio para rodar.
— O que está acontecendo? — pergunta, alarmada
pelas vozes de fundo, paro o áudio para uma breve
explicação.
— Ah, nada de mais. Enquanto eu seguia seu marido,
o banco em que estávamos foi assaltado — ela coloca
uma das mãos sobre o coração e, com a outra, cobre sua
boca aberta —, mas não precisa se preocupar; ele ainda
está vivo para a senhora fazer o que quiser com ele, e
todo o pânico do momento foi essencial para que ele
saísse... — engasgo. — Para que ele se entregasse mais
facilmente.
— Como você pode ser tão fria, mocinha? — me
repreende. — Meu marido acabou de passar por um
trauma. Ah, Nossa Senhora — na minha opinião, não era
hora de chamar a santa, mas me calei —, eu não deveria
estar fazendo isso com o Arnaldinho, ele não merece toda
essa desconfiança.
Ela volta a chorar, um choro culpado dessa vez, já vi
muitos destes também. Não perco tempo, então enfio o
maço de notas dentro do bolso e aperto o play novamente,
antes que ela desista.
Ela tenta me mandar parar, até tapa os ouvidos com as
mãos, mas sua expressão começa a mudar enquanto escuta
a voz do seu marido entregando todos seus podres.
Quando o áudio termina, ela me olha, atônita, as duas
mãos caídas no sofá ao lado do corpo e os olhos
perdidos. Antes que eu tenha qualquer reação, ambas
congelamos ao ouvir um barulho alto de vidro se
espatifando e olhamos em sincronia para a mulher do
cafezinho, que arremessou a xícara com força no papel de
parede florido. Fiquei agradecida por não ser na minha
cabeça e comecei a fazer o caminho até a porta a passos
largos.
— Sua... sua...
Gente fina não xinga, não?
— Piranha? Safada? Vagabunda? — tento ajudar, mas
ela balança a cabeça.
— Mentirosa — cospe, por fim, estalando a língua
novamente.
Eu vou bater nessa mulher, ah, se vou!
— A culpa não é da menina, Judith, ela só estava
fazendo o trabalho dela. — Funga dona Telma, tentando se
recompor. — Era a voz do Arnaldinho... — Então, ela
explode em lágrimas novamente, agarrando o decote de
sua blusa e o puxando com força. Essa é nova, nunca vi
uma mulher tentar ficar pelada de raiva.
— Não tem como termos certeza — ralha a outra,
incrédula — e, mesmo se tivéssemos, isso não é algo que
alguém deva saber — emenda, franzindo os olhos e me
indicando com a cabeça.
— Tem razão — concorda dona Telma, soltando a
blusa alargada e alisando a saia, parecendo decidida —,
pega ela!
Nunca corri tão rápido na minha vida. O que salvou o
meu pescoço? O tal do Arnaldinho estava entrando pela
porta quando passei correndo por ela.
Santo Arnaldinho!
Mas, como alegria de pobre dura pouco, comigo não
foi diferente. Assim que estava chegando próximo ao Totó
— meu lindo Fusca azul —, tropecei e caí de cara no
asfalto. As últimas coisas de que me lembro antes de
apagar é ver Arnaldinho sair correndo da casa com duas
lunáticas enrugadas em seu encalço vindo em minha
direção, se agachar e passar a mão pelo meu braço, me
levantando e me escorando em seu corpo gorducho, me
levando até meu carro e tateando meu bolso em busca das
chaves, as quais não demorou a encontrar. Ele me joga no
banco do passageiro do Totó e dá a volta correndo, entra
pelo lado do motorista e dá a partida, arrancando com
tudo.
É, acho que, no fim das contas, eu gostava do
Arnaldinho!
Capítulo 2 - Gustavo
“E se eu puder fazer por ti o que ninguém jamais fez por mim, eu faço.”
Detonautas
Eu escolho ela
Caso novo
Péssima ideia
Hóspede indesejado
De: Anna
Para: Babi
Qual é o plano? Bom, foda-se! Independente de qual
seja, eu estou dentro.
De: Babi
Para: Anna
Ainda não sei bem, mas vou pensar em alguma coisa.
Passo por um Ian tendo uma “conversa séria” com
uma menininha sonolenta sobre como é errado dormir na
barraca de garotos e, em vez de ajudar nossa filha, digito
o número da Barbie e espero que a ligação se complete.
— Desculpe ligar tão tarde, mas preciso da voz da
minha consciência neste momento. Tem alguns minutos,
grilo falante? — pergunto, falando rápido e baixo,
enquanto me sento no banco do jardim e contemplo o anjo
cuspindo água na fonte que dei de presente para os meus
irmãos quando eles se mudaram.
— Está em que temporada de Once Upon a Time? —
pergunta, rindo por causa da minha referência ao grilo.
— Na terceira, mas não é sobre isso que eu quero
conversar. — Levanto o olhar para conferir se estou
sozinha e desembucho de uma vez. — Marcela me ligou
agora há pouco para dizer que caiu fora do caso, e que
Camila está mais limpa do que o carro do meu irmão.
Não era segredo para ninguém que Augusto só faltava
colocar aquele Audi dentro da banheira e lhe dar um
banho de espuma com final feliz. Depois de alguns
barulhos de desagrado de Vivian, que espelhava
exatamente o que eu estava sentindo, voltei a falar.
— O problema é que ela disse que talvez o Mala
fosse feliz com aquela mulher, mas algo na voz dela... —
Faço uma pausa, olhando novamente para o anjo. — Não
sei, Vi, mas tenho a impressão de que ela nunca conseguiu
esquecer o meu irmão.
— Você tirou toda essa conclusão porque ela disse
que talvez a Piranha o fizesse feliz? — pergunta.
É por isso que amo a minha amiga, ela não parece
nem em dúvida, nem confusa, parece apenas estar tentando
entender meu ponto de vista.
— O tom de voz dela sugeria que não quer que isso
aconteça de verdade — conto, ansiosa com muitos
pensamentos martelando na minha cabeça. — Eu não sei,
posso ter confundido ressentimento com amor encubado,
mas algo me diz que, se alguém pode fazer esse casamento
afundar, é aquela garota.
— Mas ela não quer mais trabalhar no caso, não é?
— questiona Barbie, batucando uma das unhas no celular.
Eu já disse que ela tinha TOC? Pois é, tinha e era
muito irritante.
— Pare de bater no telefone! Assim não consigo
pensar — reclamo.
— Desculpe, só estou nervosa. Achei que ela
conseguiria alguma prova contra aquela mulher asquerosa,
mas, já que não conseguiu, não há muito o que possamos
fazer, até porque os sentimentos da moça não nos ajudam
em nada. Seu irmão é quem deveria ser afetado.
— Você é um gênio! — grito e depois tapo a boca,
olhando para a porta novamente, a barra ainda está limpa.
— Gustavo tem que rever a Marcela.
— Como vamos fazer isso? — pergunta, animada.
Com ela era sempre “vamos”, nunca “vai”. Existe
amiga melhor e mais perfeita?
— Não sei. — Era esse o problema, eu não conseguia
ter nenhuma ideia.
— Ah, ia ser tão bom se o Gustavo tivesse um podre,
não é, amiga? — murmura de forma pensativa. — Mas ele
é muito bonzinho para fazer alguma coisa errada...
Não escuto mais nada do que ela diz, porque alguma
coisa estala na minha cabeça. Um neurônio que acabou de
pegar no tranco.
— Eu já disse que você é um gênio hoje? — pergunto,
empolgada.
— Já, com essa foram duas vezes. — Ela ri. — Qual
foi a brilhante ideia que eu te dei, Dr. House?
— Você não vai querer saber... — murmuro
perversamente.
Quando Ian entra no quarto, finjo que estou dormindo.
Ele vai tentar me fazer prometer que não vou mais
interferir na vida do Mala, e minha resposta só pode ser
considerada uma mentira se ele a ouvir, mas, como estou
dormindo...
— Pare de fingir, eu sei que está acordada —
exclama, me fazendo cócegas.
— Pare, por favor — imploro, rindo. — Não, nas
costelinhas, não!
Ele ri e me puxa para seu peito,enquanto me viro e
fico de frente para ele. Ah, aqueles olhos. Eles estão
decepcionados hoje, e me odeio por saber que é por
minha causa. Mas não posso, simplesmente não posso,
ficar sem fazer nada enquanto meu irmão enterra o “felizes
para sempre” dele a sete palmos do chão.
— Amor, por favor — implora, cravando os olhos
azuis-piscina nos meus.
— Ian — lamento, fechando os olhos para não me
deixar ser ludibriada por tanta beleza e encantamento. —
Não posso não fazer nada.
— Bárbara, você já foi longe demais. — Sua voz se
endurece e eu me encolho. — Olha pra mim, amor —
pede, mais afável. — Se eu descobrir que você foi
procurar essa moça outra vez, ou falou dela para o seu
irmão, vou ficar extremamente decepcionado com você,
entendeu?
Inexplicavelmente, sinto vontade de chorar.
— Você não entende — falo, com a voz embargada.
— É claro que entendo, Bá. — Ele me puxa
novamente para seu peito e eu deito minha cabeça nela,
sentindo sua mão em meus cabelos. — Mas o Gustavo já
se machucou por causa dessa moça uma vez, você só vai
piorar as coisas ao tentar se livrar de um problema lhe
dando outro. O lugar dela é fora da vida dele.
— Como você pode saber? — questiono, fazendo
birra.
— Eu vi como ele ficou da última vez em que a viu, e
você, não — me lembra, me empurrando gentilmente até
que eu me sente, voltando a me encarar de forma decidida.
— Se tivesse visto o nome dela, estaria na lista de
inimigos ao lado do da Camila. Ela não é a solução que
você está buscando, entendeu?
— Sim. — O que mais eu ia dizer?
— Me promete que vai ficar de fora dessa vez?
Lembro da voz da Marcela ao telefone: “Talvez seu
irmão seja feliz com ela”, e toda a dor que senti em cada
uma de suas palavras, e minto para o meu marido.
— Sim, prometo.
Ian beija minha boca com doçura e me abraça, me
puxando para baixo dos lençóis.
Naquele momento, eu ainda não sabia o quanto aquela
mentira me custaria. Se soubesse, talvez tivesse feito
exatamente o que ele me mandou fazer. Nada.
Capítulo 12 - Marcela
“Tantas decepções eu já
vivi
Aquela foi de longe a mais
cruel
Um silêncio profundo e
declarei:
‘Só não desonre o meu
nome’.”
Pitty
Traição
Jogando sujo
Esbarrando no passado
Me abraça?
De: camilagata@vivafeliz.com
Para: gaelmontezan@construpark.com
Está tudo certo para nossa viagem. Ele realmente
acreditou que eu estava indo passar as festas de final de
ano com minha família em Curitiba. Claro que tive que
fazê-lo acreditar, se é que me entende. Mas valeu a pena
cada segundo, afinal, eu estava mesmo pensando em
você em cada um deles.
Teremos dez dias só para nós dois, gato, mal posso
acreditar. Estou tão animada!!!!!
Bjs, bjs, bjs! ;)
Natal em família
Matando o amor
***
O pernil assassinado
“O espelho pode
mentir, não mostra como
você é por dentro.”
Demi Lovato
Murilo,
eu desejaria nunca ter tido a necessidade de lhe
mandar essa carta. Sei que você é casado, assim como é
um homem honesto e justo. Vi isso no seu olhar no dia
em que nos conhecemos. Também sei que minhas
palavras podem destruir sua família, e essa não é, nem
nunca foi, minha intenção. Mas preciso que me ajude.
Eu vivo à base de medo e tenho um dono cruel. Um
homem importante que controla minha vida e faz dela
um verdadeiro inferno. Quando te vi pela primeira vez,
perdido pelos campus, me aproximei unicamente para
lhe pedir socorro. Você andava distraído, perdido e com
a cabeça baixa; eu vi quando você se abaixou e deu o
pouco de água que ainda restava em sua garrafa para
um cão, então pensei que Deus havia te enviado para ser
a minha salvação.
Eu não esperava me apaixonar por você.
O que vivemos naqueles vinte dias foi muito
importante para mim, foi o combustível para que eu
suportasse esses doze anos de tortura nas mãos do meu
carrasco. Por que eu não implorei para que você me
levasse embora e me desse abrigo? Porque, quando
falou da sua filha, seus olhos brilharam e, no meio
daquele brilho, eu também vi sua esposa. Você se deixou
levar, mas sempre as colocou em primeiro lugar. Quando
me disse que ia embora, que ia voltar para elas, eu me
calei.
Aqueles dias de felicidade foram tudo o que tive
desde então, pois, além da lembrança, você me deixou
algo sólido ao que pudesse me agarrar. Uma pequena
garotinha, a quem dei o mesmo nome que o meu, na
esperança de que ela conseguisse o que não consegui
nessa vida: ser feliz e não ter medo. E é por causa dela
que, hoje, lhe escrevo.
Ele sabe que ela não é filha dele e a pune por isso.
Fora os castigos, as surras e toda a privação, eu o
peguei se aproveitando dela. Ele nunca me bateu tanto
quanto o dia em que entrei na frente da minha filha, da
sua filha, para protegê-la.
Não faça por mim, faça por ela. Minha menina tem
seu sangue e precisa de ajuda.
Por favor, venha buscá-la, Murilo, eu te imploro.
Com amor, Helena.
Bú
O elo perdido
***
O segredo dela
As lágrimas de Bárbara
Branca de Neve
O que eu fiz?
Eu perdi tudo
“Nunca devemos
envergonharmo-nos das
nossas próprias lágrimas.”
Charles Dickens
A garota do rio
“E, entre tudo que ele poderia ser pra mim, ele
escolheu ser saudade.”
Caio Fernando Abreu
O convite prometido
Um mês depois
Finalmente, depois de várias semanas na casa dos
meus pais, na minha casa nova, eu conseguia respirar
aliviada ao andar por entre os cômodos. É engraçado
como a gente se acostuma com as lembranças, até as mais
dolorosas.
Não foi fácil. Despejei um litro de lágrimas ao
arrancar os lençóis que cobriam cada um dos móveis, ao
olhar por tempo demais para cada um dos porta-retratos
ou tocar cada um dos pertences que foram das minhas
perdas. A situação se tornou tão caótica, que Arnaldinho
me obrigou a andar com um balde pendurado no braço,
porque estava cansado de escorregar nas poças que
minhas lágrimas formavam no chão.
Sempre dramática minha criaturinha sem-teto que
morava debaixo do meu teto.
Com o passar do tempo, doía menos estar dentro do
meu lar. Criei coragem para me desfazer da maior parte
dos móveis e objetos. Assim, em vez de chorar, sorri
quando vi um punhado de crianças de um orfanato
próximo ficarem eufóricas ao botar os olhos nos
brinquedos de Bento, e os senhores do um asilo anexo
ficarem emocionados com as sacolas de roupas.
Também guardei algumas coisas. Roupas da minha
mãe, pelas quais eu era apaixonada quando ela estava
viva, um relógio do meu pai e o protótipo de volante, o
brinquedo preferido do meu filho. Espalhei fotos de todos
pela casa e mandei embora o resto, junto com parte da
minha dor.
Eu me libertei.
Saí para jantar com meu casal de amigos preferidos
(os únicos que eu tinha), fui ao cinema e corri com uma
garrafa de água nas mãos e os fones presos aos ouvidos,
me sentindo realizada e mais magra a cada meio metro
percorrido. Cantei junto com a música. Assisti a milhares
de séries e fiquei meio viciada em uma coisinha do
demônio chamada Netflix, aquilo era do mal, sem dúvida
obra do tinhoso para que não conseguíssemos fazer mais
nada da vida depois de botar os olhinhos em sua criação.
Inclusive, até me arrisquei e saí para dançar, e ver
Arnaldinho dançando tango valeu cada minuto torturante
do passeio. Chorei em muitas dessas ocasiões, mas
permaneci firme na decisão de aceitar o passado.
A única coisa que não consegui, de fato, fazer, foi
esquecer um certo par de covinhas e seu dono.
Eu sonhava com elas dormindo e até acordada, mas
não o procurei. Ele tinha razão quando me acusou de não
ter caráter algum. Não merecia uma mulher que havia
cedido às suas investidas, quando sabia que ele não
estava em condições sequer de saber o que fazia; uma
mulher que havia fugido com o filho dele e sido uma fonte
de problemas por anos a fio. Ele não merecia alguém que,
ao invés de lhe mostrar o erro que estava cometendo ao se
casar com a mulher errada, escondeu as provas para
poder se aproximar dele e depois o traiu, mesmo que sem
intenção.
Ele merecia alguém melhor do que eu, uma chance de
escrever uma nova história em páginas que ainda estavam
em branco. Nossas páginas estavam manchadas com
muitas mentiras, abandonos e sangue para que pudéssemos
prosseguir com elas.
Visto minha fantasia de mulher light para fazer uma
caminhada com um propósito naquela manhã: comemorar
os setecentos gramas que perdi com os novos exercícios,
comendo um croissant de chocolate da padaria. No
caminho, me lembro de que preciso urgentemente da
minha fatura do cartão de crédito, não que eu tenha
dinheiro para pagá-la, mas precisava pôr os olhos no
valor antes de assaltar alguém.
Zé Alfredo saiu de casa definitivamente. Ele e
Arnaldinho estavam construindo a própria casa dos
sonhos em um terreno próximo e, por ora, ele havia ficado
com meu antigo muquifo – ops, apartamento, meu antigo
apartamento. Ele era tão gentil e maravilhoso quanto
Arnaldinho, mas tinha uma memória digna de uma ameba
com Alzheimer, nunca se lembrava de entregar minha
correspondência.
Uso minha chave para entrar e o silêncio que encontro
me diz que não há ninguém em casa. Encontro uma pasta
em cima da mesa de centro com meu nome. Com uma
rápida olhadela dentro, confirmo que são minhas cartas,
faturas, contas e uma revista gracinha sobre dietas que
assino, mas nunca usei para nada. Pego a pasta e vou
embora, compro meu croissant e volto correndo para casa.
No final da noite, eu adoraria bater na minha cabeça
com um martelo por não ter aberto as cartas quando
cheguei, mas já mencionei meu problema com o Netflix,
não é?
Quando a noite caiu e meus olhos não viam mais
bulhufas à minha frente, de tanto tempo que passaram
grudados no carinha da série White Collar (ele tinha
covinhas lindas, não chegavam nem perto das do Gus, mas
já era alguma coisa), decidi me abastecer de cafeína e,
finalmente, abrir a pasta.
Despejei tudo na mesa com desleixo e espalhei os
papéis sobre ela com uma das mãos espalmadas. Foi
quando perdi o ar, o ânimo e a minha recém-adquirida
vontade de viver. Os movimentos, a fala e o paladar. Em
instantes, me transformei em um amontoado de nada ao
pegar um envelope caro, engomado e bonito. Assim que
meus olhos se fixaram nele, eu soube do que se tratava:
era um convite de casamento. Do casamento dele.
O casamento do século
Perdão
Fim
Parte V