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modo geral, tem trabalhado com essa afirmativa, das mais variadas formas. É certo
que quanto mais a espécie humana for capaz de produzir suportes extra-sensoriais
raciocinar por esse ângulo, quando afirma que os indivíduos são constantemente
codificações de tradução dos sinais do mundo são soluções para a sua permanência
recodificações.
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Braille,1 método de leitura e escrita criado na terceira década do século XIX, o qual
uma cultura tiflológica,2 é possível que estejamos inaugurando também uma nova
vêm ocorrendo nas formas como os indivíduos cegos apropriam-se dos bens
como um lugar privilegiado, de modo que esta realidade deixa reverberar, no âmbito
1
Optamos por grafar a palavra Braille em todo o texto com letra maiúscula, embora, usualmente, o
termo seja usado com b minúsculo quando se refere ao alfabeto em relevo.
2
Mais usada na Europa, a palavra tiflologia refere-se aos estudos dedicados à problemática da
cegueira.
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predominou, por centenas de milhares de anos, como a matriz por excelência para a
mundo dado em que a comunicação oral, aliada a um mundo tátil difuso eram as
chaves por excelência para uma tímida intervenção dos indivíduos cegos na cultura.
de Pós-Graduação interessada por este tema de análise. Nosso projeto original era
em geral.
percepção tátil.
que Morin chama de obsessão cognitiva, 3 porque comprovávamos agora com muita
clareza, que a cegueira sempre nos inquietara, não somente como condição
prudência nesse terreno. Sabíamos que era necessário ultrapassar esse gesto
3
Morin trata do problema ao analisar as razões que movem os indivíduos ao conhecimento, muitas
vezes guiados por pulsões, angústias etc. Ele afirma:
[...] O exame desta pulsão conduz, entre outras coisas, ao problema das
obsessões cognitivas, onde se exprimem não só as formas espirituais da
«ansiedade vital» mas também necessidades, carências, angústias.
Ansiedade, carências, necessidades, angustias animam uma busca que
aspira à resposta calmante, tranquilizante, euforizante. A obsessão
cognitiva de um indivíduo corresponde sem dúvida a um complexo
«idiossincrássico» em que interrogações/angústias puderam diversamente
conservar-se ou transformar-se segundo inibições ou sobredeterminações
familiares e culturais, de tal modo que, ao sair da infância, na idade
adolescente, um certo tipo de questões ansiogénicas e um certo tipo de
respostas aliviantes se impõem de maneira imperativa em cada qual.
(MORIN, 1986, p. 123).
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fala tátil que preside o ser e o estar dos indivíduos cegos na cultura e que nem
sempre foi compreendida como uma visão legítima do mundo, tanto nas
revolução que a escrita em relevo promoveu na vida dos indivíduos cegos. Tal
e à sua renovação.
com inúmeras pessoas cegas acerca das novas bases em que fixávamos nossa
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trabalho traria para o sistema Braille, ou mesmo para a coletividade cega. Nossa
resposta era sempre desconcertante: o Braille não se tornaria melhor ou pior após a
coletividades cegas.
humana.
como uma visão de mundo? Renova ainda o cenário para uma investigação
retângulo de seis pontos justapostos e suas implicações tanto na vida dos indivíduos
cegos como na cultura de um modo geral. Isto implica dizer que, para além do seu
cultura, a fim de que se possa tocar nos pontos de dialogicidade, existentes entre
percepção tátil e percepção visual, cujas veias parecem ter sido rompidas, seja por
estrutura uma visão diferente do mundo, mas nem por isso passível de exclusão ou
Rosch:
sobretudo a partir dos trabalhos dos seus estudiosos, com ênfase nos trabalhos de
nossos argumentos.
pela condição da cegueira. Este foi também um modo de resgatar, mesmo de forma
condição de vida, aspectos fundamentais que muitas vezes a ciência nem sempre
enquanto signos táteis. Para que o leitor pudesse ter uma melhor visibilidade dessas
Braille por conversão por meio da fonte Braille Médio (ver figuras 5, 6, 7 e 8).
Braille como uma estratégia que refinou e qualificou esse modo de percepção,
munditactência.
contexto atual pontuando, mesmo que de modo sucinto, o diálogo desse sistema
4
Para uma melhor compreensão desta concepção, adotada pelos semioticistas da escola de Tártu,
ver sobretudo o capítulo 3 deste trabalho.
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Braille como um meio natural de leitura e escrita das pessoas cegas? De que modo
vida.