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Homem
Por Felipe Miranda & Equipe 20/07/17
“As pessoas fazem previsões montando boas histórias em suas cabeças. As pessoas
conseguem prever muito pouco e já montam explicações para tudo. As pessoas vivem
sob muita incerteza, gostando disso ou não. As pessoas acham que podem narrar o
futuro se elas trabalharem suficientemente duro. As pessoas aceitam qualquer
explicação, contanto que ela se encaixe no história crível.”
Isso é quase um poema de Amos Tversky. Infelizmente, não tive o prazer de conhecê-lo
pessoalmente. Por sorte - e pelo pequeno crescimento que a Empiricus conseguiu -,
porém, pude encontrar seu grande parceiro de trabalho, Daniel Kahneman, prêmio Nobel
de Economia. Nós o trouxemos para falar a nossos clientes sobre os vieses que os
investidores tradicionalmente incorrem ao tomar suas decisões. Cientes dos erros típicos,
eles poderiam corrigir a rota e melhorar suas aplicações.
Mas o mais legal pra mim foi quando o Rodolfo lhe perguntou sobre a famosa parábola do
peru de Natal, de Bertrand Russel e apropriada por Nassim Taleb, repetida aqui umas
setecentas mil vezes. Só para não perder o costume (a gente insiste para ver se a ideia
passa por osmose): um peru é alimentado sem nenhuma volatilidade por 360 dias do
ano. A confiança naquela família, bem como seu peso e qualquer outro indicador de
saúde do bicho, vai crescendo em linha reta. Até que, subitamente, quando parecíamos
estar numa relação de amor recíproco, no ápice do carinho e amor, o peru vira o próprio
jantar e é servido suculento para a família.
“Olha, se você for ver, este peru teve uma vida muito boa. Eu adoraria ter vivido como
ele.”
Pode soar contraintuitivo, mas encontra respaldo científico. Do que Kahneman estava
falando exatamente? O peru não acaba morto no final?
Bom, morrer todos nós vamos. O fim da história já é conhecido, e é muito diferente do
que o Fukuyama escreveu. Importa mesmo a travessia.
Kahneman fazia uma referência tácita à tendência do cérebro humano a fazer, com peso
desproporcional, pequenas doses de satisfação, sem volatilidade e com previsibilidade.
Sentimos o gosto doce daquelas bolinhas da homeopatia e ficamos viciados na ração
diária. Cem ganhos consecutivos de 1 real vão lhe causar muito mais satisfação pessoal
do que um único ganho de 100 reais - embora, financeiramente, claro, seja
rigorosamente a mesma coisa.
Ao mesmo tempo, fugimos de prejuízos, mesmo que pequenos e que impliquem um
grande lucro no futuro, como o diabo foge da cruz, naquilo que ficou documentado por
aversão a perda. Um prejuízo nos causa muito mais dor do que um lucro da mesma
magnitude nos gera felicidade. Então, vamos tentar de qualquer jeito evitar pequenas
perdas, mesmo que elas sejam apenas um meio para um futuro lucro formidável e maior
do que a soma aritmética dos prejuízos anteriores - claramente, não se trata de uma
postura financeiramente inteligente, mas custa muito psicológica e emocionalmente
incorrer em vários resultados negativos no meio do processo.
Quando eu estive com Nassim Taleb fazendo seu curso em Nova York, contei o
acontecido. Ele sempre se disse amigo de Kahneman e eu, ingenuamente, achei que
gostaria da provocação. Esqueci da sua tradicional humildade e paciência. Recebi de
volta, asperamente:
“He didn’t get the point.” (Ele não entendeu o ponto) - seguido de um avermelhado nas
bochechas e uma respiração ofegante que me obrigaram a agradecer gentilmente e voltar
para o meu cantinho calado.
Quem realmente não entendeu o ponto? Qual dos dois está certo?
Link
Taleb defende a famosa estratégia de “buy the tails” (compre as caudas).
Pragmaticamente, compre calls e puts bem fora do dinheiro. Como ninguém acredita nos
eventos improváveis e eles são menos raros do que nossa cabecinha linear gosta de
supor, apostar neles é uma estratégia barata. Obviamente, porém, eventos considerados
raros não acontecem todo dia. Então, apostar neles vai demorar para dar resultado. Você
perde, perde, perde e…. perde. Até que um dia ganha uma fortuna, que vai muito mais do
que compensar os prejuízos acumulados. O próprio Taleb ficou rico assim. Seu dia do
"f@#*% you money” foi a fatídica segunda-feira negra, quando ele estava comprado em
puts fora do dinheiro de S&P 500 e viu seu patrimônio multiplicar por várias vezes.
Financeiramente, Taleb está perfeito. Você pode ficar rico assim. O problema deste
negócio - e aqui a crítica de Kahneman se torna totalmente pertinente - é que adotar essa
estratégia de “perder, perder, perder, para um dia, sabe-se lá quando, ganhar”, embora vá
deixá-lo rico ao final do processo, pode lhe custar o fígado, os cabelos (bem-vindo!) e
talvez algo mais. Sem pitar, ninguém segura este rojão, diria o Chico Buarque. O custo
psicológico disso é gigantesco.
Eu, que não sou besta de tirar onda de herói, vacinado e caubói, preciso me contentar
com a morosidade da manhã desta quinta-feira. Mercados todos quase no zero a zero
enquanto aguardam sinalizações do Banco Central Europeu e safra de resultados
corporativos.
Mario Draghi fala às 9h30 e mercado teme eventual sinalização de fim dos estímulos
monetários. Moedas mostram bastante sensibilidade ao fato. Banco do Japão, na
madrugada, não trouxe novidades e agora atenções recaem sobre Super Mario.
Além da política monetária europeia, temos nos EUA pedidos de auxílio desemprego,
leading indicators e atividade na região da Filadelfia. Na esfera corporativa, saem
resultados de Microsoft, Visa e Ebay.
Por aqui, mercado de juros futuros se anima e volta a apresentar queda nas taxas após
IPCA-15 abaixo do esperado - mais sobre isso abaixo, na nota da Marília, focando os
desdobramentos nos investimentos em renda fixa.
Encerro com um breve agradecimento aos leitores da Empiricus. Neste Dia do Amigo,
preciso dizer muito obrigado a todos - inclusive pela ajuda em ter me levado até o
Kahneman e ao Taleb. Como pequena retribuição, temos um presente somente para
você.
Felipe Miranda
Analista CNPI
O índice acumulado em 12 meses caiu de 3,52 para 2,78 por cento, e portanto abaixo do
limite inferior da meta de inflação do Banco Central.
O índice de serviços subjacentes, o mais acompanhado pelo BC, seguiu caindo nos 12
meses acumulados. Isso é boa notícia para as quedas da Selic.
Esse número deve prover um combustível para a queda de juros do mercado, na semana
que antecede a reunião do Copom.
Marília Fontes
Analista CNPI
O ramp-up das operações S11D (mina que se tornou operacional no ano passado)
permite que a companhia reduza produção dos sistemas mais custosos (principalmente
Sul) para os sistemas mais eficientes. Com isso, gradativamente, o custo caixa de
produção se reduz com melhora de margens e a geração de caixa.
Olhando para a produção de metais básicos, os volumes sofreram boa redução, impacto
de paradas para manutenção, ajustes nas operações e problemas operacionais na Nova
Caledônia (sempre ela).
Optando por trabalhar com minério de maior qualidade (menor sílica) e por explorar as
minas com menor custo produtivo, a companhia informou que espera ficar no piso da
faixa de 360-380 milhões de toneladas de minério para o ano, mas confirmou o
compromisso de 400 milhões de toneladas ao ano no longo prazo.
Mesmo que tenha entregue números saudáveis e dentro das expectativas do mercado, o
minério teve um pregão bem negativo na Ásia, e fechou com queda de mais de 3 por
cento, o que deve refletir negativamente sobre os preços das ações da Vale por aqui.
Alexandre Mastrocinque
Analista CNPI
Daniel Malheiros
Analista CNPI
Apesar de ainda não apresentar evolução, acreditamos que, quando o ponto de inflexão
chegar, a melhora dos indicadores e valorização dos papéis será brutal, com excelente
retornos àqueles que tiverem paciência. Não à toa, o papel é recomendação do Palavra
do Estrategista.
Alexandre Mastrocinque
Analista CNPI
O aumento de capital ajuda bastante, uma vez que a companhia conseguirá levantar
capital para auxiliar em suas dívidas e, pelo menos, manter sua infraestrutura. Mas, com
um market cap de pouco mais de 3,2 bilhões de reais, quem não acompanhar a oferta
será diluído em mais de 70 por cento. Apesar de ser um passo importante para que a OI
consiga se reerguer, esperamos uma reação negativa dos papeis, em virtude do potencial
de diluição da oferta – continuamos de fora.
Alexandre Mastrocinque
Analista CNPI
O controlador– Adia (Abu Dhabi Investment) - subscreveram mais de 50 por cento das
ações.
Vemos com muito bons olhos o fato da BRPR ter um acionista com o bolso cheio (deep
pocket) por trás. Afinal alavancagem é um fator intrínseco do business de lajes/imobiliário.
Com a estrutura de capital mais leve, o presidente Martin Jacó, em entrevista ao Valor,
acredita que pode ser o melhor momento para voltar a comprar e aproveitar a virada do
ciclo.
Com as ações negociando a 0,5x o valor patrimonial, um cap rate implicito de dois dígitos
e o setor próximo a um ponto de inflexão, vemos valor e somos compradores.
Daniel Malheiros
Analista CNPI
Isto para mim foi uma surpresa, já que acreditava que após 17 de maio, dia da divulgação
da gravação do áudio de Joesley Batista e Temer, um clima de stand buy dominaria o
ambiente corporativo.
Para sorte da nossa economia, não foi isso que aconteceu. As vendas seguiram em um
ritmo positivo e sinais ficaram mais contundentes de que a retomada é uma realidade.
Além disso, veremos um efeito significativo de crescimento de lucro dada a redução nas
despesas financeiras, decorrente da queda na taxa Selic no segundo trimestre. Empresas
mais alavancadas mostrarão um alívio no bottom line, efeito que continuará nos próximos
meses, gerando um bom momento para as suas ações.
Max Bohm
Analista CNPI
De qualquer jeito, consideramos que este interesse será bem percebido pelo mercado e
deverá se refletir em RNEW11, LIGT3 e Cemig (CMIG4), uma vez que o desinvestimento
de Renova é gatilho para Light, cuja venda é parte vital para o avanço do processo de
desalavancagem e turnaround de Cemig (CMIG4).
Mantemos LIGT3 em nossas carteiras Vacas leiteiras e Empiricus Insider, alertas a
oportunidades que puderem surgir. Por enquanto, no valuation atual (0,75x vp)
enxergamos que onde há um mix de risco retorno mais atraente, apesar da volatilidade de
curto prazo, é em CMIG4, top pick da carteira Empiricus Insider.
Carlos Herrera
Analista CNPI
Calendário IPO
Carrefour (CRFB3) começa a negociar hoje no mercado. A expectativa é grande.
O Valor noticia que o mercado vê a oferta com cautela, nós também – recomendamos
ficar de fora de CRFB3 para focar em Biotoscana (GBIO33).
Se as ações vão subir, quanto e como, é impossível saber – apesar de sempre ser “óbvio”
ex-post.
Sabe como é, os banqueiros de investimento fazem de tudo para que as ações subam no
mercado pós-IPO.
Carrefour divulgou poucos dados, tem margens baixas, Abílio Diniz vendendo parte de
suas ações e preço pouco camarada.
Ele ficou bastante animado com o que ouviu, a economia está se dissociando da política
e o clima de otimismo é unânime.
Não deixe de ler e enxergar o mercado com a mesma perspectiva que Bohm tem sobre
as Microcaps.
Saiba mais
Fora isso, com base nas sinalizações apresentadas, nota-se que o mercado
ainda poderá continuar movimentando-se de maneira mais lateral, ou então,
poderá regressar em direção aos 64.100 pontos antes de tentar seguir adiante.
Por ora, entendemos que os sinais mais tímidos são reflexo de um respiro do
mercado, tentando tomar fôlego para uma nova investida.
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