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A ATUAÇÃO PARTICIPATIVA ENTRE HISTORIADORES E COMUNIDADE:


PROCESSO METODOLÓGICO DE INVENTÁRIO PARTICIPATIVO

CLÁUDIA FEIJÓ DA SILVA∗

Como proposta de implantação de metodologias para a criação e


desenvolvimento dos Pontos de Memória, - incentivados pelo Instituto Brasileiro de
Museus (Ibram/MinC) -, a partir do ano de 2009 propõe-se o desenvolvimento da
metodologia de Inventários Participativos (IP) no âmbito das comunidades onde os
Pontos de Memória estão instalados. Partindo do pressuposto que o inventário é
composto por bens materiais e imateriais, o mesmo deve contemplar o desenvolvimento
processual, no intuito de aprimorar os acervos que representam as iniciativas
comunitárias de memória e museologia social.

Salienta-se que a criação de inventários participativos em comunidades


historicamente excluídas, onde os patrimônios foram até então negligenciados, é de
extrema importância, pois o reconhecimento de tais patrimônios pode significar uma
nova perspectiva de formação do patrimônio social brasileiro, onde se reconhece a
importância das diferentes contribuições sociais para a construção da Nação. Contudo,
não basta que as comunidades inventariem seus patrimônios, é necessário que os órgãos
públicos também os reconheçam, principalmente pelo fato de que:

[...] até o advento da Nova Museologia1, o patrimônio considerado,


difundido e valorizado foi aquele distante da realidade brasileira, e
que desconsiderou a diversidade étnica enquanto patrimônio, é que
faz-se necessário o fomento e o desenvolvimento de atividades que
construam uma dinâmica diferenciada e possibilidades de
articulações, com a finalidade de fortalecer a memória social popular


Mestra em Educação (UFRGS); Professora História da Rede Pública de Ensino do Estado do RS;
Membro do Conselho Gestor do Ponto de Memória Lomba do Pinheiro.
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A chamada Nova Museologia nasce a partir do Movimento Internacional por uma Nova Museologia
(Minom), organizando na década de 1980. O Movimento foi influenciado pelas discussões ocorridas
durante a Mesa Redonda de Santiago do Chile (1972). O Minom apresentou, na Carta de Quebec (1984) a
afirmação da função social dos museus (Silva, 2013: 44).
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e a história que se perpetuou apenas por meio da oralidade (SILVA,


2012:173).

É nesse sentido que o Ponto de Memória Lomba do Pinheiro tem atuado, na


intenção de valorizar seus patrimônios fora do território do bairro, e nesse sentido
trabalhar a favor da autoestima de sua população. Concebe-se tal pensamento partindo
do pressuposto que o Brasil é constituído por diferentes etnias, portanto, por diferentes
referências, o que até pouco tempo não garantiu uma representação social igualitária.

O primeiro patrimônio, com referências africanas a ser tombado no


país, foi o terreiro de candomblé Casa Branca em Salvador, Bahia.
Cogito esse como o primeiro processo de protagonismo pelo
patrimônio popular brasileiro, pois houve uma atuação no espaço
geográfico e histórico. Tal desempenho colaborou para uma mudança
social, sendo os sujeitos envolvidos considerados como partícipes que
criaram novas possibilidades para a história (SILVA, 2012:176).

Nesse sentido, faz-se necessário ressaltar que:


[...] o conhecimento e o reconhecimento de identidades plurais são
condições fundamentais para a construção da cidadania, através do
entendimento de que as pluralidades têm o mesmo lócus social porque
são igualmente, partes integrantes de um todo (MELO; SILVA, 2010,
p. 8).

É dessa forma que o bairro Lomba do Pinheiro é constituído, por diferentes


etnias, diferentes grupos com interesses distintos, portanto, nada mais plausível que
trabalhar com a metodologia de inventário participativo, considerando a opinião da
população local, e responsável pela eleição dos patrimônios que considera importantes
para representar sua história. Para Victos Ortiz “[...] a concepção de Inventário
Participativo tem por trás de si o debate sobre o direito de decidir o que é e o que não é
possível de preservação [...]” (ORTIZ, 1999:01). Por isso, para contemplar a proposta
de inventário participativo, no Ponto de Memória Lomba do Pinheiro, houve a
necessidade de pesquisa sobre a criação de diagnósticos, mapeamento e inventários
realizados anteriormente.
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Faz-se necessário relatar que o bairro Lomba do Pinheiro já possuía pesquisa


realizada nos anos de 2006 e 2007, denominada Mapeamento Cultural. A pesquisa
ocorreu sob coordenação do historiador Caiuá Al-Alam e envolveu diversos jovens
pesquisadores do bairro Lomba do Pinheiro, aconteceu de forma participativa, no que
tange à pesquisa, assim como na forma de produção da pesquisa.

A princípio o material arquivado demonstrou-se de fundamental importância


para a continuidade ou mesmo a ressignificação dos fluxos e contrafluxos culturais do
bairro Lomba do Pinheiro. Essa pesquisa serviu como embasamento para caminhos a
serem traçados para o Inventário Participativo a ser desenvolvidos pelos(as)
dinamizadores(as) do Ponto de Memória Lomba do Pinheiro.

Como forma de continuidade, na intenção de não desprezar trabalhos já


consolidados, houve a necessidade de entender melhor os conceitos que envolvem
inventários participativos, fez com que buscássemos outras experiências, considerando
que só conhecíamos relatos sobre o inventário participativo de Viamão (município que
tem limites territoriais com o bairro Lomba do Pinheiro), assim como, o inventário de
Santa Cruz, Rio de Janeiro, executado pelo NOPH (Núcleo de Orientação e Pesquisa
Histórica) e Ecomuseu de Santa Cruz.

Contudo, após estudo de ambos os casos, fez-se necessário levar em


consideração as diferenças entre tais experiências. A experiência de Viamão fora
construída entre os anos de 1998 e 1999, mediada pela Secretaria de Municipal de
Cultura de Viamão. Para Victor Ortiz “A ideia desta forma de inventariar, buscando a
participação direta do cidadão, e não apenas a opinião técnica, não está simplesmente na
concepção obvia de que as ações públicas devem ser participativas para alcançarem
ampla representatividade social” (ORTIZ, 1999:01).
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Considerando que a ação de inventariamento do patrimônio local do bairro


Lomba do Pinheiro, não é uma ação da esfera pública, mas sim de uma organização
representativa do bairro, foi necessário refletir conjuntamente, no âmbito do Conselho
Gestor, sobre as formas de atuação a ser adotada. O fato principal é que até 2010,
poucos grupos ou entidades desenvolveram tal prática, o que levou-nos a criar e
desenvolver uma metodologia própria, que levasse em consideração o respeito da
diversidade dos cidadãos do bairro Lomba do Pinheiro, assim como a experiência dos
pesquisadores envolvidos no processo, portanto, o diálogo e a conexão entre saberes
acadêmicos e populares se fizeram estritamente necessários.

Primeiramente considerando que, enquanto os pesquisadores profissionais


carregam os saberes da sistematização de dados, por exemplo; os moradores do bairro
Lomba do Pinheiro carregam os saberes a serem pesquisados, são capazes de criar
articulações, de buscar fontes, de apontar soluções de pesquisa, o que para os
pesquisadores parecem complexas para execução, justamente por causa da falta de
conhecimento empírico sobre as realidades local.

O processo de Inventário Participativo desenvolvido pelo Ponto de Memória


Lomba do Pinheiro foi executado a partir das seguintes etapas: planejamento;
elaboração de estratégias; formação/qualificação do conselho gestor e
pesquisadores; pesquisa; registro da pesquisa; tratamento das fontes
(acondicionamento, oficina de produção textual).

A primeira etapa do processo do inventário participativo deu-se a partir do


planejamento durante reuniões do Conselho Gestor do Ponto de Memória Lomba do
Pinheiro em conjunto com historiadores e lideranças comunitárias. A intenção foi
discutir os métodos a serem adotados e executados pelo grupo, assim como cronograma
de execução para o inventário. Além das reuniões que visaram o aprofundamento de
discussões sobre a metodologia, também procedemos com visitas técnicas em
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instituições museológicas do estado do Rio Grande do Sul. Cabe destaque para a


participação de integrantes do Conselho Gestor na II Jornadas Formação em museologia
comunitária, na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, assim como no IV Encontro
Internacional de Ecomuseu e Museus Comunitário, em Belém do Pará. As participações
em eventos fez parte da qualificação proposta ao Conselho Gestor, assim como para os
pesquisadores que participaram do processo de inventário participativo.

O planejamento para a execução do inventário participativo ocorreu por meio de


diversas reuniões que visaram discutir formas diferenciadas de aproximação do
Conselho Gestor e pesquisadores das Associações Comunitárias e grupos sociais
organizados no bairro Lomba do Pinheiro. Na intenção de facilitar o desenvolvimento
do trabalho, foram atribuídas responsabilidades de forma setorizada. A distribuição de
tarefas se dividiu da seguinte maneira: 1. Coordenação geral; 2. Consultoria local (OEI);
3. Conselho Consultivo; 4. Pesquisadores; 5. Mediadores do Inventário Participativo; 6.
Comissão de textos; 7. Comissão de fotografia.

Como conclusão do processo de trabalho, criou-se como meio de divulgação


exposição e material catálogo da exposição, ambos respeitando a pesquisa histórica,
assim como as demandas da comunidade local.

Como parte da metodologia de trabalho estabelecida em parceria com o Ibram


(Instituto Brasileiro de Museus) e OEI (Organização do Estado Ibero-americanos), em
2011 foi promovida Oficina de capacitação em conservação de acervos, ministrada pela
professora Silmara Küster da UNB (Universidade de Brasília). Esta oficina visou
preparar o Conselho Gestor do Ponto de Memória, assim como os pesquisadores, para a
conservação dos acervos a serem colhidos durante o inventário participativo, assim
como refletir sobre a manipulação de tais acervos. Como por exemplo, o grande número
de jornais e fotografias que compuseram o corpus documental da pesquisa. Nesse caso,
foi importante planejar as diversas etapas sobre contato com os acervos, fonte de parte
da pesquisa. Primeiramente houve a necessidade de higienização e tratamento, para
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após ser manipulado de forma apropriada, na intenção de não sofrer deterioração


excessiva. Logo, a necessidade em pensar e planejar as condições de salvaguarda do
acervo.

O INVENTARIAMENTO

Para esta etapa previu-se a criação de instrumentos de sondagem e pesquisa, na


intenção de sistematizar os dados que compuseram o IP. Primeiramente houve a
necessidade de debater no grupo de trabalho sobre o conceito para inventário
participativo, já que este não estava completamente esclarecido. Principalmente no que
tange a diferenciação entre pesquisa histórica com usos de fontes orais, escritas,
imagéticas, etc., e o inventário propriamente dito. Nesse caso, convém esclarecer que a
pesquisa histórica, produzida através de registros oral individual ou coletivo2, é
considerada documento que compõe o inventário participativo e não o próprio
inventário. Portanto, cabe aqui apresentar a definição de inventário participativo adotada
pela equipe do Ponto de Memória Lomba do Pinheiro: O inventário participativo
consiste no procedimento de relacionar bens patrimoniais de caráter material e imaterial
de forma participativa, ou seja, criando e promovendo mecanismos capazes de
considerar a opinião e a participação constante de um número significativo de pessoas
e/ou grupos pertencentes à comunidade que possui o patrimônio a ser inventariado.

Pensando na extensão do bairro Lomba do Pinheiro e partindo da ideia de que o


inventariamento não deve se esgotar, resolvemos delimitar a pesquisa da seguinte
forma: a. O bairro foi dividido em 4 microrregiões (faces); b. Formou-se uma equipe de
mediadores do inventário participativo c. As associações de moradores das Vilas do
bairro foram sensibilizadas na intenção de responsabilizarem-se pela pesquisa em cada
local e após remeterem os instrumentos de sondagem e pesquisa para os mediadores; d.
os bens patrimoniais móveis poderiam ser doados, emprestados ou mesmo permanecer

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Como exemplo de registro coletivo de história oral citamos as Rodas de Memória comumente
confundidas com o próprio inventário participativo.
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em seus locais de origem; e. Os bens patrimoniais imóveis foram mapeados, listados,


registrados e fotografados; f. As manifestações culturais, consideradas patrimônio
imaterial foram listadas, necessitando de registro posterior; g. O registro do
inventariamento está disponível em material cartográfico.

Estabeleceu-se como método o contato com lideranças comunitárias


responsáveis por associações de moradores e/ou responsáveis por outras formas de
organizações sociais, na intenção de mobilizar um número significativo de moradores
em torno da proposta de realizar o inventário de forma ampla e participativa. As
lideranças contatadas foram responsáveis por promover nas associações reuniões com
os moradores, na intenção de debater acerca de seus patrimônios, assim como tiveram a
responsabilidade em registrar nos instrumentos de sondagem os bens materiais e
imateriais considerados patrimônios local. A equipe de mediadoras do IP
responsabilizou-se pelo contato com as lideranças comunitárias, convidando-os para
fazer parte da pesquisa, participação em reuniões promovidas pelas associações ou
grupos diversos, coleta dos instrumentos de sondagem e coleta de acervos
esporadicamente doados ao Ponto de Memória.

Entre os principais acervos inventariados estão: 1. O Bugio Ruivo; 2. Parada de


ônibus; 3. Figueiras; 4. Pinheiros (pinus e araucária); 5. Nascentes; 6. Sítios
Arqueológicos; 7. Ponto de Memória; 8. Saberes das benzedeiras; 9. Comunidades
Indígenas M’byá Guarani; 10. Comunidade Indígena Kaingang; 10. Artesanato local;
11. Equipamentos públicos.

PRODUTOS DECORRENTES DO INVENTÁRIO PARTICIPATIVO

Na intenção de divulgar e estimular a apropriação do Inventário Participativo,


decidimos pela criação de três meios de difusão: Exposição, Catálogo em formato de
mapa, banners expositivos doados às Associações de Moradores.
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A exposição apresenta os elementos patrimoniais inventariados, assim como os


históricos de 24 Vilas do bairro e duas comunidades indígenas, na exposição estão
apresentados acervos imagéticos, cartografias produzidas pelos moradores, depoimentos
orais, acervos impressos do tipo jornais, boletins, atas e etc. O catálogo contou com a
curadoria da professora Elizabeth R. Torresini. Para a construção das narrativas textuais
a curadora da exposição ministrou oficina de produção textual. O Material multimídia
está sendo desenvolvido juntamente com um grupo de professores das escolas estaduais
e municipais do bairro, para que tal material atenda as necessidades pedagógicas das
escolas da região.

O inventário participativo teve papel fundamental para a produção da exposição


“Lomba do Pinheiro: patrimônio inventariado e itinerários culturais” assim como para o
catálogo em formato de mapa. O inventário possibilitou um autorreconhecimento dos
grupos sociais do bairro enquanto partícipes da construção histórica do lugar. Assim
como vem possibilitando o reconhecimento do trabalho de valorização das memórias e
histórias locais a partir de diferentes lentes do cotidiano. O IP possibilitou novas
relações entre as comunidades, provocando diálogos com os diferentes grupos que
compõem as matrizes culturais do bairro. Como essência de mudanças é possível
observar as novas formas que as pessoas encontraram para se apresentar, se representar
e do mesmo modo (re)apresentar o bairro.

A atuação conjunta entre historiadores (pesquisadores profissionais) e os


pesquisadores moradores do bairro foi de pleno sucesso. O diálogo estabelecido entre os
grupos possibilitou o fortalecimento entre conhecimentos científico e conhecimentos
empíricos, respeitando a dinâmica cultural do bairro. Portanto, do mesmo modo que
garante-se a atuação de historiadores, privilegia-se os saberes essenciais da comunidade
para a construção da pesquisa, na mesma medida, ambos são reconhecidos. Dessa
maneira, as estratégias discursivas sobre a história local estão imbricadas aos saberes
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populares e a diversidade cultural local, criando-se, assim espaços de atuação cidadã e


de reconhecimento do protagonismo desses atores sociais.

REFERÊNCIAS:

MELO, K. M. R. S. E. ; SILVA, C. F.. Com Unidades na Lomba do Pinheiro:


Diversidades Étnicas e Culturais como Patrimônio. In: XVI Jornada de Ensino de
História e Educação e IX Seminário de Estudos Históricos: Políticas Públicas e desafios
para o ensino de História. Feevale. Novo Hamburgo, 2010.

ORTIZ, V. INVENTÁRIO PARTICIPATIVO DE VIAMÃO: Uma salutar


discussão sobre o direito de valorizar. Em: http://www.quarteirao.com.br/polo1.html
Acesso realizado em junho de 2013.

SILVA, C.F. Museus Comunitários: Protagonismo e Práticas cidadãs. In: IV


Encontro Internacional de Ecomuseu e Museus Comunitários: Patrimônio e Capacitação
dos Atores do Desenvolvimento Local. Prefeitura de Belém. Belém, 2012.

SILVA, C.F. Do NOPH ao Ecomuseu de Santa Cruz: representações no jornal


NOPH (1983-1990) e no jornal O Quarteirão (1993-2000). Santa Cruz, Rio de
Janeiro, Brasil. Dissertação de Mestrado. UFRGS. Porto Alegre, 2013.

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