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Diálogos Originais – Que Cavação é essa?

(Dir: Estevão Garcia / Luis Alberto Rocha Melo)

O filme documental “Um alegre churrasco na estância do Coronel Alexandrão” foi recuperado por:

Universidade Federal Fluminense, Secretaria do Audiovisual/MinC e Forcine

O Coronel Alexandrão e família.

Um panorama privilegiado das prodigas e acolhedoras terras do Coronel Alexandrão.

A paisagem natural é fascinante e deixa encantado quem se dispõe a entrar na mata para desfrutar das
cachoeiras, que produzem cenários deslumbrantes e poços perfeitos para um mergulho.

E viva a saudável atividade do ócio contemplante!

O grandioso e imponente coronel Alexandrão recebe em sua simpática estância o Coronel Praxedes e
demais convidados para um suculento assado. A boa vizinhança faz o progresso e a bonança é irmã da
cordialidade.

E na aprazível tarde que se esvai, sob o canto dos rouxinóis, o fumo de rollo rola solto.

Um momento de enlevo e de beatitude, em que são tratados assuntos de moral elevada, plenos de graça e
espírito.

Um espetacular incêndio devastou as terras e a casa do Coronel Alexandrão. Algumas vistas do


monumental sinistro.

O terrível incêndio, de triste memória para todos aquelles que o sofreram, não pode ser remediado.

Complemento nacional nº 9545

Restaurare

Restaurar: do latim restaurare, obter de novo a posse ou domínio de...

Recuperar, reconquistar, recobrar, reaver.

Pôr em um estado decente algo que estava em um estado lamentável.

Pôr de novo em vigor, instituir novamente, restabelecer, restituir.

Essa é a tarefa desses corajosos brasileiros,

vítimas de incontáveis alergias, que dão o sangue em nome de um bravo e único ideal:

recuperar a memória do cinema brasileiro.

Esses homens levantam cedo.

E cedo estão prontos para mais um dia de trabalho

em que o desejo e a ânsia de trazer à vida velhas imagens do passado não cessam jamais.

E entre todos esses abnegados heróis, se destaca um homem...

ELE...que já esteve nas pirâmides do Egito...

... Nas profundezas do oceano Pacífico...

... Nas ruínas incas, maias e aztecas...

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... Nos velhos palácios das mil e uma noites em busca de negativos perdidos.

ELE, o genial, o incrível, o fantástico Arqueólogo Cinematográfico.

Eu prefiro falar sobre o cinema mudo brasileiro.

É um período muito mais rico, tem personagens muito mais fascinantes.

Por quê? Olha... Mais de 90% dos filmes feitos nesse período já se perderam.

Não há documentação sobre as produtoras.

E nem se conhece registro sonoro ou visual da maior parte das pessoas que trabalharam nessa época.

E são pessoas muito importantes, geraram uma prática, trabalharam 20, 30, 40 anos seguidos.

Geraram até mesmo uma ideologia.

Ou melhor, várias ideologias, entre elas a ideologia da “cavação”.

As pesquisas mais antigas apontavam produções de 1912, 1913,

como os filmes mais antigos que foram recuperados no Brasil.

Se bem que existe o caso do filme pornográfico,

mas não se sabe se é um filme brasileiro ou um filme estrangeiro.

Mas agora a gente achou dois fragmentos de filmes:

um que mostra um churrasco e outro que mostra um incêndio, os dois passados na fazenda de um mesmo
coronel,

e que vêm pôr em dúvida a primazia desses filmes. Mas não se pode saber ao certo,

porque quase nada existe nem sobre o L. A. Ramos, nem sobre a Prosopopéia Actualidades...

Não sabemos inclusive se este cidadão era de fato o cinegrafista ou o proprietário da Prosopopéia...

Este seria o cinegrafista L. A. Ramos.

E esta talvez fosse a sede da sua Prosopopéia Actualidades.

Este é o Coronel Alexandrão e sua esposa.

Aqui vemos a lata contendo o filme recuperado

em que se vê registros do Coronel Alexandrão em suas terras.

Acreditou-se, durante muito tempo, que o filme havia virado cinza,

tal como o gado, os porcos, as galinhas, o casarão e a família do Coronel Alexandrão.

Mas graças a um trabalho rigoroso de recuperação destes fragmentos,

e da contratipagem de todo o material encontrado,

foi possível resgatar este valioso documento que pertence ao heróico período da história primitiva do
cinema brasileiro.

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Teria o hipotético L. A Ramos sido apenas o cinegrafista do incêndio?

Pesquisas recentes indicam que ele teria sido contratado para filmar o churrasco

oferecido pelo Coronel Alexandrão.

Com a verba ganha com este trabalho, L. A. Ramos teria fundado a Prosopopeia Actualidades.

E - ironia da história? - o primeiro cinejornal da Prosopopeia não teria sido outro

senão as filmagens do trágico incêndio nas terras do mesmo Coronel Alexandrão...

Com a palavra o historiador especialista em coronelismo, Abraão Aragão.

O termo “coronelismo” vem desde 1831, com a criação da Guarda Nacional.

Os coronéis eram chamados de “homens bons” porque tinham dinheiro e posse.

Mas afinal, o que é coronelismo?

É a lei do “eu quero, eu mando e eu posso”.

Um coronel rico, com muita terra, tinha tudo do poder.

Mas um pequeno agricultor, com a terrinha lá dele, não tinha nada.

Os coronéis eram sempre cercados por um bando de bajuladores, agregados, e jagunços que eram os
homens da pistolagem.

O que nos sugere a restauração do documentário sobre o Coronel Alexandrão, é que desde os primórdios

sempre houve uma conivência, uma cumplicidade, entre o coronelismo e o cinema brasileiro.

Esse aqui é o lugar onde provavelmente ficava a casa do Coronel Alexandrão, há cerca de 50 anos atrás.

Sem nenhuma explicação aparente, houve um grande incêndio que transformou o secular casarão em um
amontoado de cinzas.

O senhor se lembra do incêndio?

Me alembro... Queimô... Queimô tudo... Tudinho... Foi mesmo...

Quantos anos o senhor tinha?

Ih... Queimô... Num tinha mais nada... Você olhava assim, só tinha fumaça... Tudo, tudinho mesmo, como
eu tô contando pro sinhô...

E o que foi que provocou o incêndio?

Óia, moço, eu não sei... Só sei que queimô tudo, tudinho mesmo... Num sobrô nada!

Acho que é isso...

Olha... Vai chegar um momento em que não sei se vai poder dar conta desse montante

e vamos começar a perder obras simplesmente por causa do tempo.

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Isso é uma bomba-relógio de enormes conseqüências culturais,

porque é um patrimônio histórico que se perde.

Se o desconhecimento da história do cinema brasileiro já é grande hoje em relação ao passado remoto,

ele também vai ser grande daqui a 20, 30, 40, 50 anos em relação ao nosso presente, ao momento atual.

E assim segue a luta nem sempre gloriosa de nossos restauradores.

Com abnegação, altruísmo e persistência, buscam promover a memória cinematográfica no Brasil.

Pois é na preservação de nossa imagem que se encontra a chave de nosso futuro.

O futuro de nossos jovens, ávidos de conhecimento e de saber.

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