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LARA CRUZ SOARES

RONIT MAZER SAUERMAN


SHIRLEY MENEZES

ASPECTOS PSICOLÓGICOS DE NAPOLEÃO


BONAPARTE: ESTUDO BIOGRÁFICO

CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU


SÃO PAULO
2007
LARA CRUZ SOARES
RONIT MAZER SAUERMAN
SHIRLEY MENEZES

ASPECTOS PSICOLÓGICOS DE NAPOLEÃO


BONAPARTE: ESTUDO BIOGRÁFICO

Trabalho de pesquisa teórico-empírica da cadeira de


Psicopatologia geral II, sob orientação da Profª Maria
Ângela Colombo Rossetto.

CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU


SÃO PAULO
2007
“O infortúnio também encerra glória e heroísmo. Se tivesse morrido no
trono, com a auréola da onipotência, a minha história ficaria incompleta para
muita gente. Hoje, mercê da desgraça, posso ser julgado por aquilo que
realmente sou”

Napoleão Bonaparte (1821)


SUMÁRIO

Resumo ................................................................................................................................5

Introdução............................................................................................................................6

1. Biografia ..........................................................................................................................8

2. Características Psicológicas.............................................................................................24

3. Considerações Finais .......................................................................................................25

4. Referência Bibliográfica..................................................................................................28
Resumo

É propósito deste trabalho analisar alguns aspectos da personalidade de Napoleão


Bonaparte, baseando-se nos escritos do biógrafo Paul Johnson, e no sistema classificatório
proposto pelo DSM–IV. Napoleão nasceu em Ajácio, Córsega, em 15 de Agosto. Aos 10
anos ingressou na escola militar de Brienne. Toda sua trajetória em diante foi marcada por
grandes conquistas profissionais: papel ativo na resistência da Revolução Francesa,
comandante do batalhão de artilharia em Toulon. Enquanto Brigadeiro participou da
campanha na Itália. Comandou a guarnição de Paris, esmagou a insurreição monárquica,
salvou a Convenção - que o designou general-em-chefe do exército do interior. Tornou-se
comandante-chefe do exército da Itália. Em 1797 casou-se com Josefina. Ganhou batalhas
em Nice, Lodi, Milão, Arcole, Rivoli. Participa da Campanha do Egito. Foi eleito primeiro
cônsul. Coordenou a Batalha de Marengo. Tornou-se Cônsul vitalício. No ano de 1804, ele
e Josefina foram coroados imperadores da França. Comandou as Batalhas de Trafalgar e de
Austerlitz. Em 21 de Novembro (1806) ordenou o bloqueio à Inglaterra. Casou-se com a
princesa Maria Luísa da Áustria (1810). Invadiu a Rússia, mas retirou-se no inverno. Em
1814 abdicou do trono e partiu para a ilha de Elba, mas no ano seguinte regressou à França
num governo de cem dias. Derrotado em Waterloo, abdicou e foi exilado na ilha de Santa
Helena, onde morreu em 5 de Maio. Napoleão foi uma personalidade ambiciosa, narcisista,
marcada pela falta de empatia, onipotência, determinação e crueldade.
Introdução

Napoleão Bonaparte foi soldado, general, comandante de exércitos e um grande


destruidor da capacidade militar de seus adversários. Durante toda sua carreira, empenhou-
se em deslocar-se rapidamente para uma posição na qual obrigasse o inimigo a enfrentar
uma batalha de grandes proporções, destruir as forças adversárias e, em seguida, ocupar a
capital para ditar os termos da paz. Tinha temperamento audacioso, hiperativo, agressivo e
era impaciente por resultados. Usava a velocidade como uma arma a seu favor, já que
conseguia atacar o inimigo antes que este estivesse completamente mobilizado e
posicionado. Tinha capacidade de entender mapas e planejar rotas mais rápidas e seguras,
estudar o terreno, reconstruí-lo visualmente em sua mente. Era extremamente rápido,
freqüentemente era visto chicoteando não apenas seu próprio cavalo, mas também o de seus
soldados que cavalgavam ao seu lado. Ao buscar cada vez mais rapidez para seus para seus
exércitos, sacrificou centenas de animais, que morreram impelidos além de suas forças.
Não tinha qualquer consideração pela vida dos soldados, porém esses, se
identificavam com ele e o admiravam. Em uma ocasião, disse que sacrificaria com prazer
um milhão de homens a fim de assegurar sua preponderância.
Em varias ocasiões, abandonou o exército à própria sorte e retornou sozinho a Paris.
Perdeu inúmeros exércitos. Seus discursos em público eram curtos e simples: “Soldados,
espero de vocês uma dura luta hoje. Sejam valentes e decididos! Quero ter orgulho de
vocês!” Gostava de ser admirado, esperava receber sempre os aplausos de seus homens.
Escolhia todo o seu subordinado segundo suas próprias opiniões, sem consultar ninguém.
Era capaz de manipular multidões. Seus homens sabiam que compunham o melhor de todos
os exércitos. Conseqüentemente inspirava medo. O temor era a arma mais útil e mais
freqüentemente empregada por Napoleão. O medo lhe proporcionava a vantagem inicial,
pois conseguia corroer as defesas do inimigo antes mesmo de atacá-los Tinha explosões
violentas, que aterrorizavam a todos a sua volta e assim espalhava medo. Às vezes perdia o
controle e em geral se arrependia.
Sua vida pessoal e sexual não deixa de ser um mistério. Sabe-se que afeiçoou-se a
Josefina, antes e por um tempo após o casamento. Teve encontros sexuais nas campanhas e
tudo era feito às pressas. Quando sentia desejo sexual, ordenava: “traga uma mulher”.
Seus ordenanças conheciam seus gostos, as mulheres eram despidas e entravam em sua
alcova nuas.
O que mais o caracterizava era a energia, flexibilidade e constância de sua atenção.
Era capaz de trabalhar 18 horas seguidas em um ou diversos assuntos. Nunca estava
cansado, nunca lhe faltou inspiração, mesmo quando estava em situações violentas ou
enraivecido. São palavras de Napoleão:

“Diversos temas e assuntos estão arquivados em cérebro como em um


gaveteiro. Quando quero tratar de algum deles, abro uma gaveta e fecho outra.
Nenhuma delas se mistura e isso jamais me incomoda ou me fatiga. Se sinto
sono, fecho todas as gavetas e vou dormir... estou sempre trabalhando. Medito
muito. Se sempre pareço pronto a encarar situações, pronto a enfrentar que
vier, e porque pensei nesse assunto longamente antes de atacá-lo. Previ tudo o
que pode acontecer... trabalho o tempo todo, no jantar e no teatro. Desperto
durante a noite para retomar o trabalho. Não há nada relativo à guerra que eu
não possa fazer pessoalmente”.

Não gostava de delegar poderes, por isso, buscava promover apenas os homens que
executavam as suas ordens com precisão, e não aqueles que tinham vontade própria. Essa
fraqueza foi fundamental para o fracasso do império, pois Napoleão utilizava seus
marechais e generais não apenas para comandar exércitos distantes, cuja supervisão
detalhada ele não poderia exercer, mas também para governar províncias e reinos, dirigir
embaixadas, sufocar rebeliões e tratar de todas as crises que de tempos em tempos se
espalhavam por territórios de quase 80 milhões de habitantes.
O presente trabalho teve por objetivo levantar as características psicológicas de
Napoleão Bonaparte. Para tal analisou-se a biografia escrita por Paul Johnson (2002).
1. Biografia

Nasceu em 15 de Agosto de 1769 em Ajaccio, na ilha da Córsega. Era o ano em que


a Revolução Industrial começava a tomar força na Inglaterra. A Córsega era pobre,
selvagem, desprezada, além de política e economicamente insignificante, considerada sem
valor pelas cortes européias. Um ano antes do nascimento de Napoleão a ilha havia sido
vendida à França por ínfima quantia, o que fez dele, ao nascer, automaticamente cidadão
francês.
A linhagem familiar vinha originalmente da pequena nobreza da Toscana do século
XVI, com uma riqueza apenas suficiente para garantir a propriedade da casa e permitir-lhes
empregados. O pai, Carlo Mario da Bonaparte, e a mãe, Letícia Ramolino casaram-se
quando ela tinha 14 anos. Ambos eram de origem italiana, porém de uma família que se
misturara com pequenos proprietários rurais do interior. Napoleão, ou seja, Nabulion, como
foi registrado, era o segundo filho de oito irmãos. Segundo os historiadores, a natureza rija
vem da mãe e não do pai, que aparentemente era uma pessoa pouco marcante e que morreu
jovem.
A análise histórica de seus autógrafos mostra que ele originalmente assinava
Buonaparte, e posteriormente passou a assinar Bonaparte. O nome Napoleão foi
relutantemente adotado ao tornar-se imperador por motivos de protocolo real, mas ele
dificilmente assinava por extenso, preferindo simplesmente “Nap” ou “Np”, ou ainda
apenas “Bonaparte”. Era um homem que não se interessava por comidas ou bebidas, fazia
suas refeições em dez minutos. Jamais entrava em farras e nunca foi visto bêbado. Gostava
de exigir disciplina dos que conviviam com ele e não fez amigos de longa data.
Jamais teve ambições ligadas a Córsega, para ele o futuro não estava no interior,
mas fora da ilha, em alto-mar e nas grandes massas continentais. Uma vez que deixou a
terra natal, nunca demonstrou por ela nenhum interesse, mas tampouco deixou transparecer
qualquer sinal de envergonhar-se de sua origem. Jamais demonstrou afeição pela Itália
como país e desprezava os italianos.
Tinha uma precoce ambição. Desde a infância admirava a Marinha Real Inglesa e
sonhava em comandar seus imponentes barcos, o que, porém exigia dinheiro e influência
que sua família não dispunha. Assim acabou desenvolvendo mágoa contra os ingleses, em
parte em função de sua crença de que o poder que a supremacia nos mares lhes conferia era
de certa forma antinatural, e até mesmo injusto.
Napoleão gostava muito de matemática, o que mais tarde seria de inestimável valor
em sua ascensão profissional. Instruía-se lendo muito. Aos dez anos de idade, o Ministério
da Guerra lhe concedeu uma vaga em um dos colégios militares reais. Após passar um ano
em Autun aprendendo francês, seguiu para o colégio militar em Brienne onde permaneceu
por cinco anos. Quando estava com quinze anos, seu pai morre de câncer no estômago e
Napoleão então assume, por consenso geral, o lugar do pai como chefe da família. Fez o
melhor que pôde por seus irmãos, da forma que acreditou ser adequada, desde que eles lhe
obedecessem. Ao terminar o curso em Brienne, muda-se para Paris para mais um ano na
academia para oficiais. Ao sair, tornara-se um soldado profissional francês e a França
revolucionária de 1790 era o celeiro ideal para um soldado ambicioso e enérgico como ele.
Em 1792, o ministério girondino forçou Luís XVI a declarar guerra contra a Áustria
e posteriormente contra a Sardenha. Nesse mesmo ano, Napoleão foi promovido a capitão.
No ano seguinte, a França revolucionária declarou guerra contra a Inglaterra, Holanda e
Espanha e Napoleão foi então enviado para combatê-los em Toulon, onde estava a Marinha
Real Inglesa. Em poucas semanas, seu profissionalismo e competência, fizeram-no diretor
de operações, embora fosse muito jovem e de patente muito inferior aos comandantes.
Havia alguns brilhantes futuros generais nessa operação, mas foi Napoleão quem liderou o
ataque. O General Du Teil recomenda-o então a Paris dizendo: “Não tenho palavras para
enumerar todos os méritos de Bonaparte: muita ciência e igual inteligência, e talvez até
mesmo demasiada coragem. Os senhores ministros devem consagrá-lo à glória da
República”. Napoleão foi imediatamente promovido a brigadeiro, saltando os postos de
major e coronel.
Em 1793, Napoleão volta à Córsega como crítico e adversário de Paoli, general que
então organizava uma milícia para tornar a ilha uma República independente. Como
conseqüência toda sua família é expulsa da Córsega e todos fogem para a França. Mesmo
diante dessa amarga situação, este fato lhe proporcionou um roteiro para o tipo de poder
que ambicionava e Paoli, mesmo sendo seu inimigo, passa a ser seu herói e mentor. Paoli
não era simplesmente um guerreiro, era um homem do Iluminismo, para quem a revolução
e a luta armada eram apenas os meios para a criação de uma república humanitária, uma
comunidade modelo. Napoleão, que já buscava o poder, encontrou no arquétipo de Paoli
uma forma de conferir um propósito a esse poder: ele seria o Paoli de toda a Europa para
que o todo o continente, quiçá o mundo, tivesse um governo melhor. Nunca foi capaz de
perceber, porém, que a violência da conquista era incompatível com o idealismo planejado.
Em 1794, o Exército Francês derrota os Exércitos da Áustria e da Savóia em Dego.
Napoleão esteve no comando da artilharia e o sucesso da campanha foi a ele atribuído pelo
então general Dumerbion. A artilharia, para Napoleão, encarnava o princípio do poder. O
objetivo do poder em sua opinião, não era apenas o de esmagar o inimigo para que fizesse
sua vontade, porém inspirar o medo, para que não precisasse ser utilizado. Era preciso que
o exército inimigo o temesse, pois, quando o medo tomasse conta dos espíritos, metade da
batalha estaria ganha.
Em 1795 eclode em Paris uma revolta popular com a finalidade de destruir a
Convenção e o controle das tropas regulares que iria combatê-los foi entregue a Napoleão.
Ele então resolve, com o objetivo de amedrontar e dispersar as multidões, usar a artilharia
com um tipo de munição que produziria muito sangue e mutilaria as vítimas. A tentativa de
golpe terminou imediatamente e a Revolução Francesa se tornou coisa do passado. Inicia-se
uma nova era: a da ordem imposta pela intimidação.
A Revolução acabara, mas deixara atrás de si mecanismos para a repressão ao
indivíduo e uma concentração da autoridade nunca antes vista, acompanhada de ainda uma
doutrina de que esta concentração expressava a vontade geral de um povo unido. Na
prática, a Revolução criou o Estado totalitário moderno.
Depois de Toulon e Dego, Vendemiário foi o terceiro dos êxitos de Napoleão no
comando da artilharia, o que o projetou para a estratosfera do poder. Mas ele queria o
comando supremo no ataque à Itália, pois um general que retornasse de uma campanha
conquistadora e vitoriosa dessa envergadura teria a nação aos seus pés. Por isso ele queria a
Itália, e a conseguiu.
No início do ano de 1796, casa-se com Josefina, uma mulher sofisticada e sem
ilusões que lhe havia sido apresentada anos atrás por Barras - político influente a quem
interessava um romance entre os dois. De início, o interesse nasce por parte dele, mas ela
decepciona-se por seu aspecto baixote, pálido, magro e sombrio. Aparentemente a
insistência do jovem, com toda desesperada decisão que era capaz, fez com que Josefina
finalmente se enternecesse por ele. Dois dias após seu casamento, Napoleão parte para a
Itália.
A invasão da Itália foi a primeira campanha estratégica de Napoleão. Para um corso
italiano que virara francês, era algo que tinha lógica: conquistar seu país de origem e
transformá-lo em dependência de sua nova pátria. Apesar da limitação de recursos, a
audácia de Napoleão o fez vitorioso em Montenotte, Dego (outra vez), Mondovi e
Codogno. Em Lodi, 3500 franceses venceram 10 mil soldados inimigos e em seguida
entraram triunfantemente em Milão. Seguiu-se a conquista da Lombardia através de suas
táticas astuciosas. O coroamento foi uma vitória famosa em Arcola em novembro de 1796,
em uma batalha típica de Napoleão, com estratégia arriscada salva por táticas inteligentes.
Tornara-se, segundo os jornais, o general mais bem sucedido da República.
Em 1797, ganhou a decisiva batalha de Rivoli, o que o fez não apenas um general
de batalhas, mas também procônsul imperial de fato, se não ainda em título. As instruções
que recebia inicialmente estritas, aos poucos foram sendo relaxadas, à medida que remetia
quantidades cada vez maiores de ouro e prata ao Tesouro francês, e podia, por isso, seguir
sua própria política. Assim, criou comitês nas principais cidades italianas, atendendo em
seguida às solicitações de independência dos governos locais, sob “proteção da França”.
Foi uma imensa vitória territorial para a França e a opinião pública reconheceu a obra de
Napoleão.
Aos 28 anos de idade, tornara-se o homem mais poderoso da República, a quem os
políticos queriam ver longe de Paris. Não foi difícil, portanto convencê-los de seu mais
novo plano, calculado para causar forte impacto: a conquista do Oriente. O desejo de
Napoleão era transformar-se em um Alexandre, o Grande moderno. Segundo suas próprias
palavras: “A Europa é pequena demais para mim... preciso ir para o Leste”. Foi a primeira
oportunidade de Napoleão dedicar-se à publicidade de larga escala e tirou disso o melhor
proveito possível. Já não era mais um general sedento de conquistas, mas a própria
personificação da cultura francesa, chefiando uma missão “civilizadora”. Conquistou
Alexandria em julho de 1798 e marchou rumo o Cairo. No caminho ocorreu a batalha que
ficou conhecida como “Batalha das Pirâmides”, na qual o Exército egípcio foi chacinado
pelos soldados franceses.
Chegando ao Cairo, Napoleão intitulou-se Governador Geral do Egito, compôs um
Senado e começou a elaborar uma Constituição. A situação começou a mudar quando a
frota francesa foi praticamente destruída no porto de Alexandria e como se não bastasse, 3
mil soldados franceses morreram vítimas da peste bubônica. Paralelamente, recebeu a
notícia de que Josefina estava tendo um caso e reagiu formando uma ligação com uma
francesa de 21 anos, a sua “Cleópatra”. Mesmo assim, resolveu invadir a Síria para impedir
um possível ataque turco. Tomou Gaza e Jaffa, onde mandou matar 4.500 prisioneiros por
medo que se revoltassem, o que foi feito a golpes de baioneta ou por afogamento, a fim de
economizar munição, caracterizando talvez o pior dos crimes de guerra cometidos por
Napoleão.
Apesar de algumas vitórias contra a Turquia, o Exército de Napoleão não conseguiu
tomar Acre. Esta fora sua primeira derrota militar, o que o desconcertou. Resolveu voltar ao
Egito com força reduzida e diante de uma terrível tempestade de areia no Sinai, abandonou
o que restava de seu exército e regressou à França em 1799, onde já circulavam notícias
desastrosas sobre a guerra na Europa.
Napoleão usou o pretexto de “salvar” a França para justificar sua volta, visando com
isso, ao mesmo tempo apagar seu fracasso no Egito e subir ainda mais na escala de poder. E
assim esta última campanha ficou conhecida entre os intelectuais franceses como “um
sucesso cultural” e Napoleão como príncipe inovador cultural. O Louvre seria em breve
rebatizado Musée Napoléon.
Ao ser transformado em herói cultural, Napoleão confirmou seu julgamento sobre
os franceses: “eram volúveis, frívolos e de atenção curta, capazes de esquecer grandes
problemas por uma excitação passageira”. Seus reveses haviam sido esquecidos enquanto
seus sucessos eram recordados. E assim ele passou a ser visto como o homem que salvaria
a França das loucuras do Diretório e suas farras econômicas.
No final de 1799, o Diretório foi dissolvido e um Consulado foi estabelecido, para o
qual Napoleão foi nomeado o primeiro-cônsul. Na prática, o que surgiu foi uma ditadura
militar onde Napoleão tinha mais poder do que Luis XIV, pois dominava as Forças
Armadas. Como as instituições jurídicas da França tinham sido avassaladas pela
Revolução, foi fácil para Napoleão imprimir no país a força de sua personalidade,
transformando-se em cônsul vitalício em 1802, após vencer mais duas batalhas na Itália.
Em 1804, foi nomeado imperador com o título de Napoleão I. Uma nova
Constituição, que dava ao imperador a faculdade de designar seu próprio sucessor, foi
aprovada em um plebiscito com resultados eleitorais falsificados. A coroação se deu na
Catedral de Notre Dame, com uma decoração dourada - cujo símbolo era uma abelha de
ouro. O papa esteve presente e foi obrigado a esperar por quatro horas no frio glacial para,
em seguida, ver seu papel específico na ocasião negado, quando Bonaparte tomou as coroas
no altar e pôs ele mesmo na sua própria cabeça e na de Josefina.
Josefina era mais velha que Napoleão, tinha saúde frágil, era de classe social mais
elevada, mas encantou-se com o seu ardor e poder de decisão. Queixava-se que ele era
rápido e egoísta na cama. Apreciava muito roupas e acessórios, com os quais gastava
fortunas. O casal passava grande parte do tempo separados, e quando estavam juntos, não
eram íntimos. Josephine teve vários casos amorosos antes de conhecê-lo, e consta que teve
amantes durante suas longas ausências.
Tanto Napoleão como Josefina eram ciumentos, discutiam ardentemente. Não
tiveram filhos, o que para Josefina era devido a uma deficiência era dele, afinal ela teve um
filho anteriormente. Ele acreditava que a deficiência era dela, mas como Josefina era mais
velha, pensava que ela morreria antes dele, então poderia casar-se e produzir herdeiros.
Napoleão recebeu mulheres mesmo quando estavam juntos no palácio, o que ela pode
perceber quando em algumas noites não pode entrar em seus aposentos.. Porém, de ambos
os lados, os casos não tiveram conseqüências mais profundas. Ele detestava as infidelidades
dela.. Um dos casos de Napoleão deixou de ser apenas um eventual encontro: a condessa
Maria Walewska. Ao atravessar a Polônia em 1806, conheceu um grupo de jovens vestidas
de camponesas, que fizeram-lhe uma serenata em uma das paradas da carruagem.
Impressionou-se com a beleza de uma delas e mandou buscá-la para ser trazida a sua
presença. Era uma jovem de 18 anos, esposa do conde Walewski e mãe de um menino, a
Condessa Maria Walewska, que não desejava tornar-se amante de Napoleão. Com o desejo
de salvar a Polônia de um ataque, as autoridades polonesas, o marido e a família exerceram
intensa pressão para que ela concordasse. Disseram que a independência da Polônia
dependia dela. Quando foi levada a presença de Napoleão e rejeitou seus avanços, ele
gritou: “Se você fizer com que eu me zangue, destruirei a Polônia como este relógio” e
lançou o relógio ao chão, destruindo-o. Ela desmaiou e ele a estuprou enquanto estava
inconsciente. A moça acabou afeiçoando-se a Napoleão, deixou o marido, ficou grávida e
deu a luz a um filho homem. Napoleão ficou extremamente feliz, pois agora sabia que era
capaz de produzir um herdeiro e perpetuar sua dinastia. Assim, divorciou-se de Josefina
(que morreu em 1814), mas mesmo assim não ficou com Walewska. Ordenou que ela
voltasse a seu marido e a registrar o filho como se fosse dele. Disse a seu irmão Lucien:
“Minha preferência teria sido dar a coroa a minha amante, mas razões de estado obrigam-
me a aliar-me com soberanos”. Walewska voltou a visitá-lo, após o fim do casamento de
Napoleão com Maria-Louise, talvez acreditando que ele ainda não estivesse liquidado e que
seu filho pudesse ser rei da Polônia. Isso não aconteceu e Walewska morreu decepcionada
em 1817, com apenas 28 anos de idade.
Napoleão quis casar-se com uma princesa russa, filha do Czar Alexandre I
(Romanov). Este casamento criaria um pacto de sangue com o Estado mais poderoso da
Europa oriental. Alexandre não concordou, pois se uma princesa Russa casasse com
Napoleão, deveria ele abdicar da Igreja Ortodoxa e abraçar o catolicismo. Isso poderia
revoltar os súditos do czar. Esta recusa foi um dos mais graves percalços da carreira do
ditador. A recusa fez com que a invasão da Rússia se tornasse mais provável, porque
Napoleão ressentiu-se muito dessa ofensa e passou a analisar com mais hostilidade às ações
do czar.
Maria-Louise, filha do imperador da linha dos Habsburgo, era sobrinha de Maria
Antonieta. Cresceu aprendendo que Napoleão era um anticristo, o comandante da mais
horrenda catástrofe de toda a história da Europa na década de 1790. Foi então apresentada a
Napoleão como o homem com o qual deveria se casar. e seu mundo ideológico foi abaixo.
Porém, a disciplina dos Habsburgo era que as princesas casariam com homens poderosos,
ainda que não desejassem, mesmo se tivessem objeções a sua aparência, costumes, moral,
religião ou nacionalidade. Por fim, dispôs-se a enfrentar seu destino sacrificando-se, mesmo
se tinha sentimentos conflitantes. Napoleão gostou dela, que era grande, loura e suntuosa.
Era também lenta. Sempre impaciente, ele a impelia dando tapinhas em suas nádegas
dizendo: “Vamos, mexa-se”.
Em seu casamento com Maria-Louise, 13 cardeais boicotaram a cerimônia porque
achavam que seu casamento anterior com Josephine não fora satisfatoriamente anulado,
então o novo matrimônio constituía bigamia. Napoleão então expulsou-os de seus
apartamentos e ordenou que fossem empurrados para a rua, com suas batinas vermelhas ao
vento. Na noite de núpcias já foi concebido o futuro rei de Roma.
Maria-Louise acabou se afeiçoando fortemente ao imperador, mas o sentimento não
sobreviveu a suas longas ausências e a seus fracassos. Em 1814, sabe-se que ela partiu para
encontrá-lo em Viena, e que ele a esperou ardentemente. Prem, o cavalheiro que a escoltava
era bem-apessoado e ela jamais chegou a seu destino. Tornou-se duquesa governante de
Parma, voltou a casar-se duas vezes e terminou seus dias em 1847.
Em 1806, impedido pela Marinha Britânica de comercializar seus produtos através
do Bloqueio Continental resolve reagir agredindo o poderio naval britânico perturbando seu
comércio por meio de um boicote universal a seus produtos - onde as armas francesas
reinavam ou estivessem sob sua influência. Este ato ficou conhecido como Sistema
Continental. Mas com isto Napoleão, somente conseguiu aumentar o contrabando que era
benéfico aos ingleses.
Então resolve permitir a entrada de algumas mercadorias britânicas com um
complexo sistema tarifário. O resultado foi que governos não diretamente controlados pela
França, embora fizessem parte do sistema, praticamente não procuraram fazê-lo funcionar.
Isso era algo que seu orgulho não podia tolerar e o levou a duas guerras desastrosas, a
primeira com a Espanha e a segunda com a Rússia.
Napoleão foi traído por algo que constituía seu mais forte dom ou instinto: a
imaginação geográfica. Capaz de organizar campanhas inteiras com os menores detalhes
topográficos estudando mapas, embarcava agora, cartograficamente cego, numa aventura
desesperada. Cometia o erro elementar que na escola militar os jovens são instruídos a
evitar: “Nunca reforce um fracasso”.
A ocupação da Espanha fora um fracasso e teria de ser abandonada ou substituída
por uma concepção inteiramente diversa. Em vez disso Napoleão continuou a mandar
reforços, pequenos e grandes, mas nunca em escala suficiente para uma mudança radical. A
impossibilidade de uma rápida vitória na Espanha ou mesmo de qualquer vitória decisiva,
foi uma das principais razões que levaram Napoleão a lançar uma ofensiva contra a Rússia.
Desprezando a elite governante da Rússia (tinha igual opinião sobre a Espanha),
cujo exército fizera debandar sem grande dificuldade na campanha de Austerlitz e por
considerar o czar Alexandre como uma tarefa inacabada, Napoleão resolve lançar uma
ofensiva sobre a Rússia. Desejava que o czar Alexandre viesse humildemente negociar a
paz, assim como outros legítimos potentados fizeram.
Mas a questão com o czar Alexandre é também de outra ordem. Embora houvesse
confirmado sua aliança com a França em Erfurt (1808), o czar havia insultado e depreciado
Napoleão ao deixar de reconhecer uma óbvia insinuação de que ele desejava casar-se com
sua irmã, não o considerando digno de entrar para a “família”1.
Napoleão precisava desesperadamente de algo espetacular que assegurasse ao
público francês que ele ainda era um super-homem, que restaurasse seu prestígio na Europa
e compensasse o dispendioso impasse na Espanha. Assim em meados de 1812, pretendendo
a dominação da Rússia e sua integração ao Sistema Continental, as imensas hostes estavam
prontas para cruzar o Neva e entrar na Rússia, com um exército de 800 mil soldados. Mas a
Rússia estava acostumada a números grandes: incontáveis habitantes, aldeias, rios,
quilômetros, temperaturas, pântanos, planícies, áreas selvagens.
O principal enfrentamento durou doze horas. Tecnicamente a vitória pertenceu a
Napoleão, mas as perdas foram de ambos os lados foram enormes: 40 mil russos e talvez 50
mil franceses. Ao contrário dos russos, Napoleão não podia repor facilmente suas perdas,
muito menos o imenso gasto de munição para artilharia.
Depois desse dispendioso encontro o caminho de Moscou estava livre, mas á
medida que o exército francês avançava, os Russos adotaram a estratégia de incendiar as
cidades, a fim de impedir que os franceses saqueassem e pudessem se recompor. Assim
muitos cavalos valiosos foram sacrificados e assados, em meio a horrendas cenas de
bebedeira e pilhagem. Somando-se a este cenário, fortes nevadas estavam prestes a chegar,
o que impediria manter aberta a estrada até Moscou. Napoleão resolve então retroceder
pensando possivelmente mais além.

1
Apesar de todas as suas vitórias e reinos, Bonaparte era ilegítimo aos olhos dos Romanov.
Nesta altura o exército de Napoleão contava com um efetivo de somente 95 mil
soldados, e a maioria dos cavalos desaparecera. Os russos então iniciaram um contra-ataque
com forças cada vez mais numerosas, destruindo a maior parte da retaguarda. Com menos
de 40 mil homens sob seu comando, a neve caía e a retirada transforma-se em debandada.
Na travessia de numerosos rios cujas pontes haviam sido destruídos, Napoleão perde mais
20 mil soldados e dias depois desiste da campanha.
No caminho de volta à França, viajaram em trenós puxados por cavalos, junto com
Caulaincourt, chefe da casa civil imperial, homem de confiança que organizara o
assassinato de d’Enghein. Permaneceram nos trenós durante cinco dias e quase morreram
de frio á temperatura de 25 graus negativos. Napoleão se aquecia cobrindo-se com as peles
de Caulaincourt e falando sem parar, ensaiando suas explicações e todas as suas arengas
terminavam com maldição aos ingleses: “Se não fossem eles, eu seria um homem de paz”.
Sua chegada em território francês foi acompanhada de um comentário satírico já
preparado, na verdade uma frase de Voltaire: “Do sublime ao ridículo basta um passo”.
Repetiu essas palavras diversas vezes durante uma peroração de três horas. Após uma
viagem de treze dias, chegaram ao Palácio das Tuileries, em Paris e no dia seguinte
Napoleão trabalhou durante quinze horas sem parar, mandando cartas peremptórias para
todo o império.Uma vez de volta a seu trabalho em Paris, a lembrança das neves da Rússia
se esvaíram rapidamente e o otimismo de Bonaparte regressou. No dia seguinte a sua volta,
começou a organizar novo exército, convocando jovens recrutas e chamando soldados e
unidades experientes de todos os cantos do que restava do império.
O jovem Napoleão fora considerado uma figura romântica, porém era um
julgamento superficial acerca de um jovem esbelto que fizera coisas extraordinárias. O
Bonaparte maduro, robusto e imperioso, com seu propalado culto da razão em tudo e seu
pendor dogmático2, era cada vez mais considerado como ultrapassada relíquia de um
classicismo empoeirado que já ficara obsoleto. Os intelectuais, escritores e artistas alemães
foram os primeiros a voltar-se contra ele. Os pintores alemães adotaram uma iconografia
antinapoleônica. Durante um certo tempo o próprio Bonaparte havia investido milhões para
promover sua imagem.
O resultado de um desses investimentos é o impressionante quadro “Bonaparte entre
as vítimas da peste em Jaffa”, que mostra o jovem general enfrentando corajosamente o
risco de contágio ao confrontar seus soldados e civis enfermos. Mas os alemães agora se
moviam precisamente na direção oposta, projetando imagens góticas, anticlássicas e
antibonapartistas na consciência popular.

Os biógrafos atribuem á decadência de Napoleão a fatores como idade, falta de


concentração, deterioração da saúde, gordura, cansaço, além do progressivo declínio de
suas faculdades mentais. Essas são razões materiais, porém, havia um motivo metafísico,
nas dimensões intelectual, cultural e espiritual. Na segunda metade da década de 1790,
Napoleão encarna por toda a Europa, o protesto contra os antigos legitimistas, sua
ineficiência, seus privilégios, seu obscurantismo e mau uso de recursos e acima de tudo o
talento o gênio da juventude. Por isso, prosperou e conquistou. No entanto, por volta de
1813, já estava ultrapassado. Seu momento terminara. Permeava por toda Europa um
renascimento religioso, chegara o tempo de romances e poemas, das últimas sinfonias de
Beethoven, algo que Napoleão não entendia, nem desejava.

2
JOHNSON, Paul. Napoleão. Tradução S. Duarte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. pg. 156
Com efeito, pode-se dizer que 1813 marcou o momento no qual a preponderância
militar na Europa, que pertencia a França desde de 1640, começou a pender para a
Alemanha. Lutava agora, contra uma Alemanha unificada, impelida por violento
nacionalismo. Por vezes, Napoleão parecia ter a vantagem numérica, mas pela primeira vez
a vantagem qualitativa pertencia a seus adversários. Napoleão não tinha temperamento para
uma batalha defensiva, mas continuava decidido a seguir seus instintos e levar a guerra a
uma solução final numa batalha colossal, ignorando o fato de que suas próprias baixas não
poderiam ser substituídas enquanto os aliados aumentavam constantemente sua força
numérica.
A Batalha de Leipzig, que durou três dias seguidos, marcou o enfrentamento final.
Foi chamada a batalha das nações, expressão grave que significava o que Bonaparte estava
fazendo com a Europa: precipitar uma nova forma de guerrear que não envolvia somente
exércitos profissionais e sim povos inteiros.3 Nesta batalha Napoleão foi obrigado a retirar-
se, deixando para trás cerca de 30 mil prisioneiros, e também algo inédito: 5 mil soldados
que fugiram para o campo oposto ainda durante a batalha!
Os franceses haviam aplaudido as conquistas de Napoleão, mas agora esse tempo
passara. Tudo parecia ter sido em vão, foram cerca de um milhão de homens mortos,
feridos, feitos prisioneiros, ou simplesmente desaparecido. Alemães e Russos agora
invadiam as fronteiras da França, saqueando, estuprando e matando assim como havia
acontecido em suas pátrias. Os franceses não gostaram do que viram e cederam. Napoleão
ainda fez uma tentativa final para reunir um exército, mas seus marechais remanescentes
recusaram-se a segui-lo, e em 6 de abril de 1814 ele formalmente abdicou dos tronos da
França e da Itália. Ofereceram-lhe um pequeno reino em Elba, que ele aceitara, partindo
para a ilha a bordo de um navio de guerra inglês em 28 de abril. Foi um fim melancólico e
confuso. Alguns acham que ele deveria ter caído lutando, mas Napoleão ainda conservava
ilusões, e seu apetite por batalhas não diminuíra. Assim, ainda restava um último e longo
suspiro para ele e seus admiradores.
De imperador de metade do continente, com 80 milhões de pessoas, passara agora a
príncipe de uma ilha com 32 quilômetros de comprimento e 12 de largura e uma população
estimada em 100 mil habitantes. Ali recebeu sua amante polonesa, Maria Walewska, que

3
JOHNSON, Paul. Napoleão. Tradução S. Duarte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. pg.161
trouxe seu filho Alexandre, que lhe fora mais fiel que Marie Louise, que não apenas deixou
de visitá-lo, mas logo adquiriu um amante.
Acolheu com prazer sua mãe Letícia e sua irmã Pauline, esta governou a casa,
organizou festas, mas Napoleão não permitiu - não por hábito, mas também porque pela
primeira vez em quinze anos já não possuía milhões para gastar - que grandes despesas
fossem feitas. A retirada estratégica Napoleão do governo francês previa um tratado de 2
milhões de francos por ano, aos quais mais tarde seriam acrescentados fundos para sua mãe
e sua irmã Pauline. Ele também possuía cerca de 4 milhões que preferia conservar como
reserva.
Ainda que gostasse de batalhas, deve-se dizer que Napoleão gostava de fazer coisas
construtivas. Em Elba, mesmo que tomado pelo tédio e agora gordo, começou por
reconstruir seu palácio. Trabalhou no jardim, aperfeiçoou as minas de ferro, as estradas,
pontes e portos; introduziu reformas na agricultura e na instrução pública e mandou fazer
pesquisas científicas. Isso demandava tempo e dinheiro, mas o governo francês desde o
início não havia mandado um único franco. Percebeu que as reformas menos custosas
ficariam prontas em pouco tempo, mas os novos progressos para transformar sua ilha em
um reino modelar exigiam recursos financeiros que ele não possuía. Tornou-se amargo,
inquieto e vingativo.
Em 1815, “o destino juntou-se ao temor e ao ódio”4 e ele regressou a França.
Tomou medidas complexas quanto ao seu destino, dando a impressão de que se dirigia a
Nápoles, mas três dias depois a tropa chegou a Antibes. Essa última campanha demonstrou
as características militares habituais – audácia, surpresa e rapidez – em sua melhor forma.
Quando a notícia do retorno de Napoleão chegara aos soberanos da Europa e seus
conselheiros, todos se reuniram horas depois considerando inaceitável e fatal sua
permanência para a tranqüilidade da Europa. E no Congresso de Viena foi tomada a decisão
de confinar Napoleão em Santa Helena, pois consideraram-o prisioneiro de guerra. Santa
Helena era uma ilha vulcânica, com 45 quilômetros de circunferência, utilizada para o
refornecimento de água a caminho da Índia. O seu porto era movimentado, freqüentado por
muitos navios militares e mercantes, tornado-o num lugar de fácil acesso muito embora
distante. Temendo uma tentativa de fuga, forma instalados em volta da ilha, uma patrulha

4
Napoleão apud Paul Johnson.
de brigues e uma guarnição de 2250 homens. Durante os seis anos em que Bonaparte viveu
ali, nenhuma tentativa de fuga foi organizada.

Napoleão foi autorizado a levar consigo um grupo de cortesãos e uma dúzia de


serviçais – seu guarda-costa, um mordomo, um cozinheiro, três camareiros, três serventes,
um contador, um copeiro e um limpador de lampiões. Sua última amante foi Albine – esta
era mulher de um de seus cortesões, o marquês Charles de Montholon – que também teve
um caso com um oficial britânico e partiu misteriosamente.
Foi atendido a intervalos irregulares por pelo menos seis médicos, num período que
começou em 17 de março de 1821 e terminou com sua morte em 5 de maio. Os médicos
discordavam quanto ao tratamento e entre os sintomas estavam: estômago inchado, pulso
fraco, temperatura oscilante, vômitos e tosse, suor e náusea abundantes, delírio, tremores,
soluços e finalmente perda de memória e alucinações. Recusou os serviços de três
sacerdotes que a família havia mandado afirmando não ter religião. O óbito foi contestado
pelo médico florentino Francesco Antommarchi, que efetuou também um exame post-
mortem. Atribuía a morte ao fígado inchado, presumivelmente causado pela hepatite.
Dentre as descrições do cadáver encontra-se a apresentação de seu corpo, um corpo que os
médicos chamam “femininização”, isto é, com ausência total de pelos e com peitos bem
desenvolvidos, ombros estreitos, quadris amplos e órgãos genitais pequenos.
A morte de Napoleão não foi notícia durante muito tempo. Suas últimas palavras, ao
que dizem, foram “tête d’armée” e ele foi enterrado como militar, com seu uniforme verde
preferido da cavalaria da Guarde e o famoso capote cinza que vestira em Marengo. A
sepultura foi marcada com uma lápide em que apenas havia as palavras CI-GIT (“aqui
jaz”), porque franceses e ingleses não chegaram a um acordo sobre a inscrição.
2. Características Psicológicas

A. Sentimento grandioso de sua própria importância.


B. Preocupação com fantasias de sucesso, poder, e brilhantismo.
C. Necessidade exibicionista de atenção e admiração constante.
D. Acreditava ter direito a favores especiais, tirando vantagens de outras pessoas.
E. Relacionamentos com outros que se alteram entre os extremos de superidealização e
desvalorização.
F. Falta de empatia: indiferença pelos sentimentos e necessidades alheias.
G. Violação dos direitos humanos.
H. Determinação.
I. Ambição.
J. Narcisismo.
K. Baixa tolerância à frustração.
L. Baixo limiar para descarga de agressão incluindo violência.
M. Propensão para culpar os outros.
N. Oferece racionalizações plausíveis para o seu mau comportamento.
O. Incapacidade de manter relacionamentos, muito embora não haja dificuldade em
estabelecê-los.
3. Considerações Finais

Observa-se em Napoleão uma grande fantasia e preocupação de sucesso e poder


ilimitados. Desde os tempos da Córsega, já ambicionava um futuro grandioso em alto-mar.
Sentia-se grandioso com relação a própria importância, superestimava sua
capacidade. Acreditava que poderia transformar a Europa e até o mundo em uma
comunidade modelo, e que a luta armada era apenas um meio para a sua criação. Assim,
encontrou justificativa para a sua desmesurada ambição pelo poder: desejava “maravilhar a
raça humana”. Mesmo diante da decadência, ainda conservava ilusões e seu apetite por
batalhas não diminuiu.
Era presunçoso e arrogante. Deixou isso claro através de várias atitudes, como a vez
em que exigiu o comando supremo no ataque à Itália, vislumbrando que uma vitória
grandiosa colocaria a nação aos seus pés.
Acreditava ser superior, desejava transformar-se em um Alexandre, o Grande.
Também acreditava ser "especial" e único. Achava que tinha um destino, e confiou nisso
durante a maior parte de sua vida. Contudo, embora tivesse certeza quanto ao que o destino
lhe reservava, estava resolvido a empregar sua força física, sua inteligência e sua vontade
para que os acontecimentos não o desviassem de seu rumo.
Napoleão desvalorizava as credenciais daqueles que o desapontaram, como fez em
relação à Marinha Real Inglesa, na qual não pode ingressar. Além disso, desprezava os
italianos e também os franceses, que segundo ele eram “volúveis, frívolos e de atenção
curta, capazes de esquecer grandes problemas por uma excitação passageira”.
Exigia admiração, gostava do aplauso de seus homens, e esperava recebê-lo.
Preocupava-se com o modo como se saia e no quanto era considerado pelos outros. Investia
milhões para promover sua imagem. Diante de seu fracasso no Egito, fez parecer que
voltara a França para salvá-la e conseguiu que a campanha ficasse conhecida como um
sucesso cultural, chegando a rebatizar o Louvre com seu próprio nome.
Napoleão explorava seus relacionamentos interpessoais, visando tirar vantagem de
outros para atingir seus próprios objetivos. Ajudava seus irmãos, desde que estes o
obedecessem. Dava títulos e propriedades aos seus militares em troca de sua fidelidade e
devoção.
Não tinha sentimentos de empatia. Não tinha qualquer apreço pela vida dos
soldados. Em uma ocasião, disse que sacrificaria com prazer um milhão de homens a fim
de assegurar sua preponderância. O objetivo do poder em sua opinião, não era apenas
esmagar o inimigo para que fizesse sua vontade, mais que isso queria inspirar o medo e o
terror para dominar os espíritos.
Em seus relacionamentos românticos tinha dificuldade em reconhecer os desejos,
experiências subjetivas e sentimentos dos outros. Segundo Josefina até na cama era rápido e
egoísta.
Comportamentos arrogantes e insolentes o caracterizavam. Era impaciente com as
“fraquezas” alheias, como com a lentidão de sua segunda esposa Maria-Louise. Exibia
atitudes esnobes, desdenhosas como com seu secretario fiel, Louis-Antoine Fauvelet de
Bourienne, a quem diante de seus protestos Bonaparte respondia: “Meu caro senhor, o
senhor é um idiota e não entende nada”.
Um menosprezo (desvalorização) da contribuição dos outros freqüentemente estava
implícito na apreciação exagerada de suas próprias realizações. Julgava que o povo se bem
governado poderia fazer coisas notáveis, mas que sem uma liderança sensata, não passava
de perigosa ralé. Considerava-se a personificação da vontade geral.
Napoleão podia matar, sem culpa, quantas pessoas fossem necessárias para suas
conquistas, como aconteceu em Gaza e Jaffa. Na ocasião, mandou matar 4.500 prisioneiros
por medo que se revoltassem, o que foi feito a golpes de baioneta ou por afogamento, a fim
de economizar munição. Total ausência de remorso e racionalização por ter ferido,
maltratado e matado tantas pessoas. Contudo justificava seu comportamento afirmando que
“Se não fossem eles, eu seria um homem de paz (referindo-se aos ingleses)”.
Tinha sentimentos de onipotência e auto-estima altamente elevada. O próprio
Napoleão afirmou: “Não há nada relativo à guerra que eu não possa fazer pessoalmente”
ou “... a Europa é pequena demais para mim, preciso ir para o Leste”. Considerava-se a
personificação da vontade geral, e que o destino tinha reservado a ele o poder. Queria ser o
governante de toda a Europa, quiçá, do mundo.
Era facilmente irritável, e tornava-se agressivo com facilidade. Tinha explosões
violentas, que aterrorizavam aqueles a quem se dirigia e espalhava medo entre seus
observadores. Ás vezes perdia o controle.
Era também uma pessoa vingativa. Quando o czar Alexandre I (Romanov) não
permitiu que ele se casasse com sua irmã, provocou a ira de Napoleão. Esta recusa fez com
que a invasão da Rússia se tornasse mais provável. Também costumava tomar nota de todos
os favores que prestava, para poder cobrá-los depois, em ocasiões oportunas.
Destaca-se a ausência de empatia, a falta de sensibilidade, e o desprezo aos
sentimentos e direitos alheios, que podem ser constatados em diversas passagens de sua
história, “... Ele considera os seres humanos como fatos ou coisas, nunca como pessoas
iguais a ele... Nem a piedade, nem a atração, nem a religião, nem uma ligação o desviaria
de seus objetivos...”5. Assim, não tinha qualquer apreço pela vida alheia, podendo sacrificar
tanto seus próprios soldados quanto aniquilar aldeias inteiras, a fim de atingir seus
objetivos.
Muito embora Napoleão Bonaparte apresente características que correspondem a
um quadro de Transtorno de Personalidade Anti-social, a biografia pesquisada não
esclarece sobre seu comportamento durante a infância, impossibilitando que tal diagnóstico
seja confirmado, já que “a característica essencial do Transtorno da Personalidade Anti-
Social é um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que inicia na
infância ou começo da adolescência e continua na idade adulta”6.
Entretanto Napoleão apresenta traços de uma personalidade narcísica. Dentre os
critérios indicados pelo DSM-IV que configura um Transtorno de Personalidade Narcisista,
ele se enquadro em todos os aspectos.

5
Madame de Stael in JOHNSON, Paul. Napoleão. Tradução S. Duarte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
6
DSM-IV. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Tradução: Cláudia Dorneles. 4ªed.
Porto Alegre: Editora Artmed, 2002.
4. Referência Bibliográfica

JOHNSON, Paul. Napoleão. Tradução S. Duarte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

DSM-IV. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Tradução: Cláudia


Dorneles. 4ªed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2002.

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