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Belém, Pará
Abril, 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento
Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Belém, Pará
Abril, 2014
BANCA EXAMINADORA
ORIENTADOR
MEMBRO
MEMBRO
MEMBRO
MEMBRO
AUTORIZO a reprodução total ou parcial desta tese por processos de
i
“E fui andando, voltei ao zero
Um recomeço é uma forma de se encontrar”
ii
Agradecimentos
Ao Aécio, por me ensinar o que é amar, por me fazer acreditar no amor. Pela vida que
construímos juntos. Por acreditar em mim e me mostrar que as vezes as decisões mais loucas
são as mais sensatas. Obrigada por fazer tudo tão mais fácil. Que eu possa te fazer tão feliz
Aos meus pais, que desde cedo me mostraram o valor da educação. E investiram o que
tinham e o que não tinham, ao longo de toda uma vida, para que para que hoje eu completasse
essa etapa. Ao meu irmão, pelo apoio nos momentos difíceis. À Ivy, pelo amor incondicional
independente da distância.
Especialmente à minha sogra que me apoiou neste doutorado como a um filho dela, e Dona
Mavi, que me enchia de felicidade ao contar para todo mundo que em breve haveria mais uma
doutora na família.
Aos pais das crianças atendidas neste trabalho, que me confiaram a vida de seus filhos.
Obrigada pelo exemplo de amor e dedicação. O que vocês fizeram e fazem todos os dias não
pode ser descrito. O compromisso de vocês são os pilares desta forma de intervenção. Desejo
que esse exemplo de superação seja seguido por muitos e que de alguma forma eu tenha
Às minhas crianças, que me motivam a ser uma pesquisadora e uma psicóloga melhor.
Que eu possa de alguma forma ter contribuído não só para um presente, mas para um futuro
de vocês.
Às minhas amigas, Maíra, Gabi P., Gabi R. e Karol, por todos esses anos de amizade,
pelas risadas em momentos tão precisos. Que a gente envelheça juntas e com graça, com
muita graça.
iii
Aos amigos Aline, Delage e Felipe, que me apoiaram mesmo quando minhas decisões
pareciam desprovidas de sanidade. Obrigada, pela amizade cada dia mais sólida e verdadeira.
Adriana e Luiz, pela compreensão com a minha falta de tempo. Prometo que agora vai
melhorar!
Ao Romariz, por ter acreditado que eu seria capaz de realizar um doutorado em dois
anos. Por ter me aceitado como orientanda com todas as consequências advindas disso. Por
ter sido um exemplo de pesquisador, orientador e líder. Pelo respeito que teve comigo e com
esse trabalho, me dando autonomia e suporte para executar as atividades. Aprendi muito sobre
Aos meus meninos, que participaram de cada etapa deste trabalho e sem os quais este
não existiria. Pelas horas dedicadas ao trabalho, leitura, coleta e tabulação de dados. Este
pesquisa não é decorrente do trabalho de uma pessoa, mas sim deste grupo, que se superou
estabeleceram uma parceria e trabalharam lado a lado para construção deste trabalho.
À minha amiga Andrea, pela amizade e suporte nos momentos mais difíceis, pelo
seria possível.
Exemplos de que não basta amar o que se faz, é preciso ter dedicação acima da média.
Obrigada, pelos sábados e domingos de trabalho e churrasco! É muito difícil iniciar novas
amizades após uma certa idade, dessas que sentimos que irá durar uma vida , mas vocês dois
de trabalho em conjunto, pelas revisões e consultorias. Por muitas (e muitas vezes!) deixar
suas prioridades profissionais de lado para ajudar nas minhas. E por me ensinar a lidar com o
v
Borba, M. M. C. (2014). Intervenção ao autismo via cuidadores. Tese de Doutorado. Belém:
Universidade Federal do Pará, Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do
Comportamento. 138 páginas.
Resumo
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento de grande
prevalência na população mundial. A intervenção analítico-comportamental ao autismo vem
sendo apontada internacionalmente com uma das formas mais efetivas de atendimento, desde
que individualizada, intensiva, precoce e extensiva. Nessas condições, embora altamente
efetiva, a intervenção analítico-comportamental é inacessível à maioria da população afetada
no Brasil. Neste sentido, intervenções via cuidadores podem constituir uma alternativa
eficiente e viável. Entretanto, pesquisas sobre a efetividade dessas formas de intervenção
indireta são escassas, especialmente no Brasil. O objetivo deste trabalho foi desenvolver um
programa de intervenção via cuidadores e avaliar sua eficácia para ensino de habilidades
básicas (sentar, esperar, toque aqui, atender ao nome, rastreamento visual, imitação com e
sem objeto). Participaram seis crianças, com até seis anos, diagnosticadas com TEA e seus
respectivos cuidadores. Os cuidadores passaram por ensino conceitual e prático e eram
supervisionados semanalmente. Os programas eram aplicados prioritariamente por tentativa
discreta. Os resultados mostraram efetividade da intervenção via cuidadores, com amplo
sucesso dos programas para desenvolver os desempenhos básicos acima mencionados.
Também foi documentada a manutenção e generalidade dos repertórios aprendidos.
Adicionalmente, o presente trabalho de tese inclui outros dois componentes que constituem
relatos de pesquisa básica sobre a aquisição de tatos e mandos, as quais foram conduzidas no
contexto do atendimento via cuidadores cujo estabelecimento foi relatado no primeiro
componente. A viabilidade desses estudos subsequentes mostra que o ambiente de um serviço
bem estruturado de intervenção comportamental ao autismo é também profícuo para o
desenvolvimento de pesquisa básica sobre variáveis de procedimento para aquisição de
repertórios específicos.
Palavras-chave: intervenção via cuidadores, tentativa discreta, autismo.
vi
Borba, M. M. C. (2014). Autism intervention via caretakers. Doctorate Dissertation. Belém:
Universidade Federal do Pará, Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do
Comportamento, 138 pages.
Abstract
Autism Spectrum Disorder is a developmental disorder highly prevalent in the world
population. Behavior-Analytic Intervention to autism is being pointed internationally as one
of the most effective ways of intervention, provided that it is individualized, intensive, early,
and extensive. Under such conditions, although highly effective, Behavior-Analytic
Intervention is inaccessible to most of the affected population in Brazil. Having said that,
intervention via caretakers may result as an efficient and viable alternative. Nevertheless,
research on the efficacy of such ways of indirect intervention are rare, particularly in Brazil.
The purpose of the present work was to develop an intervention program via caretakers and
evaluate its efficacy to teach basic skills (“sit down”, “wait”, “greeting”, “attend when called
by name”, “visual tracking”, “imitation with and without objects”). Six children diagnosed
with ASD (with ages up to six years old) participated together with their respective
caretakers. The caretakers were given conceptual and practical teaching and were supervised
one a week. The teaching programs were carried out mainly by discrete trial. The results show
efficacy of the intervention via caretakers, with the teaching programs being well succeeded
to develop the above mentioned basic repertoires. Also, this research documented
maintenance and generality of the taught repertoire. Additionally, the present dissertation
includes other two components that are reports of basic research on the acquisition of tacts
and mands, carried out in the context of the caretaker-based intervention program reported in
the first component. The viability of such subsequent studies shows that a well-designed
environment to deliver behavior-analytic services is also adequate to the development of basic
research on procedural variables implied in the acquisition of specific repertoires.
Key-words: intervention via caretakers, discrete trial instruction, autism.
vii
Sumário
APRESENTAÇÃO 1
INTRODUÇÃO 4
PRÉ-REQUISITOS ...................................................................................................................... 17
MÉTODO 19
PARTICIPANTES........................................................................................................................ 19
AMBIENTE ................................................................................................................................ 20
PROGRAMAS ............................................................................................................................. 26
viii
RESULTADOS 31
ABLA ....................................................................................................................................... 33
DISCUSSÃO 59
REFERÊNCIAS 73
ARTIGOS JÁ SUBMETIDOS 79
ANEXOS xiv
ix
Índice de Figuras
Figura 2. Nível ABLA apresentado pelas crianças nas três aplicações realizadas ao longo do
estudo. 32
Intraverbal 36
x
Índice de Tabelas
Tabela 1. Nome e idade das díades e intervenções realizadas por outros profissionais 19
Tabela 3. CARS 34
xi
Apresentação
durando na maioria das vezes por toda a vida. Paula, Ribeiro, Fombonne e Mercadante (2011)
apontam uma prevalência de 1 a cada 368 crianças de 7 a 12 anos, porém esses dados são
Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, aponta uma prevalência
De acordo com o DSM–V (APA, 2013), TEA é caracterizado como uma deficiência
inflexibilidade de rotina e rituais, e interesse sensorial não usual. O transtorno pode ou não ser
comprometimentos da saúde.
intensiva, vem se destacando, nas últimas décadas, como uma forma de intervenção ao
autismo que pode levar a um considerável avanço no desenvolvimento das crianças, com
indivíduo. Porém, sua maior efetividade a forma de intervenção precisa ser individualizada,
precoce, intensiva e extensiva. Por essa razão ela pode ser onerosa e de difícil acesso a grande
parte da população brasileira. Nesse sentido, alternativas como a intervenção via cuidadores,
que supervisionam o atendimento, desponta como uma alternativa para a expansão da Análise
1
do Comportamento Aplicada, (ABA, na sigla em inglês Applied Behavior Analysis) ao maior
número de famílias.
autismo, não havendo serviço público avaliação da eficiência e qualidade desse serviço, tanto
eficácia baseado na análise objetiva do desempenho das crianças atendidas, com realização de
O presente trabalho de tese inclui três estudos. O primeiro deles relata a implantação
Pará. A implantação do serviço se constituiu como parte das atividades previstas no projeto de
Desenvolvimento (APRENDE).
Esse primeiro estudo inclui uma apresentação das bases de uma análise do
ensino, além dos demais materiais de apoio desenvolvidos pela experiência de intervenção via
pesquisa básica sobre aspectos dos procedimentos para aquisição de repertórios específicos,
os outros dois estudos do presente trabalho de tese se constituem de relatos de pesquisa dessa
2
natureza que foram conduzidas no contexto do atendimento via cuidadores cujo
Os artigos dos dois estudos posteriores são provenientes de uma fase mais avançada
Acredita-se que o relato de uma experiência como esta no Brasil possa inspirar
3
Análise do Comportamento Aplicada
aplicadas para a solução de demandas humanas (Malavazzi, Malerbi, Del Prette, Banaco, &
Kovac, 2011). Além da pesquisa, destaca-se ainda a prática profissional com a prestação de
ciência e prática. O equilíbrio entre esses dois objetivos permanece em constante discussão.
mais difícil, uma vez que o local de coleta de dados é a própria sociedade (Baer, Wolf, &
ajuda ao cliente (cf. Hawkis & Anderson, 2002). Para pesquisadores como Tourinho e Sério
(2010), a análise aplicada seria um ponto intermediário entre a pesquisa básica e a prestação
de serviço.
Baer et al. (1968) definiram a ABA como um processo onde princípios da análise do
básica, há uma busca pela identificação das variáveis que mantêm e controlam um
generalidade1.
1
O termo “generalização” vem sendo utilizado no contexto aplicado para referir (a) a manutenção do
desempenho ensinado em novos contextos ou com diferentes aplicadores e (b) o surgimento de comportamento
novo, como imitação generalizada, seguimento generalizado de instruções, emparelhamento generalizado por
identidade etc. O termo “generalização”, contudo, tem definição diversa e já bem estabelecida em Análise do
Comportamento, no contexto de controle de estímulos. Naquele contexto, o termo inclusive alude a fenômeno
4
Dizer que a pesquisa deve ser aplicada implica que a escolha do que será investigado
é feita com base na importância desse assunto para a sociedade. Há grande relação entre o
analítica implica que a análise de um comportamento deve deixar claro que variáveis estão
detalhada, sendo possível uma replicação (tecnológica), e também deve partir dos princípios
que a intervenção precisa estar comprometida em efetivamente causar uma mudança esperada
generalidade, ou seja, ser mantido com o passar do tempo e em diferentes ambientes (Baer et
desses conceitos. Os autores apontaram que a solução dos problemas sociais investigados na
conjunto, uma vez que não adianta modificar o comportamento utilizando métodos
oposto ao apontado no item “a” acima. Por essa razão, as ocorrências descritas nos itens “a” e “b” acima serão
aqui referidas como “refinamento de controle de estímulos” e “generalidade” respectivamente.
5
Além disso, em sua revisão sobre as dimensões da análise comportamental aplicada,
que um bom design é aquele que responde de modo convincente as perguntas de pesquisa em
seu contexto, mesmo que nem sempre ele possa ser enquadrado facilmente nos conceitos já
analista comportamental aplicado deve ser criativo para organizar o ambiente de forma a
definido.
Baer et al. (1987) apontam ainda que, por mais que os resultados da análise aplicada
intervenção os autores discutem que não basta analisar a mudança de um comportamento, mas
é necessário também analisar o impacto que essa mudança causou na vida do individuo.
controle I e 21 crianças no grupo controle II. Cada criança do grupo experimental recebeu
mais de 40 horas de intervenção direta por semana, via profissional. Além disso, os pais eram
6
parte da equipe de intervenção e recebiam um treinamento extensivo de como proceder com a
semanais de intervenção e não passavam por procedimentos com punição. O grupo controle
II, que recebia a mesma intervenção do grupo controle I, fazia parte de outro projeto de
pesquisa. A duração da intervenção foi de mais de 2 anos para os três grupos. Os resultados
atingindo nível intelectual e educacional compatível com a idade, em contraste com apenas
2% dos grupos controle. Entre as críticas ao trabalho de Lovaas, está o uso de estimulação
aversiva no ensino das crianças, a necessidade de uma grande equipe e aparato para a
intervenção, além dos problemas de controle experimental, não havia participantes com
autismo grave.
semanais), precoce (iniciado antes dos seis anos) e duradoura (durar no mínimo 2 anos). Esse
Precoce (Early Intensive Behavioral Intervention, EIBI) (cf. Anderson, Avery, DiPietro,
Edwards, & Cristian, 1987; Diggle, McConachie, & Randle 2005; McEachin, Smith, &
Green (2011) aponta que a base do método EIBI está relacionada com: a intensidade
7
comportamentos aprendidos; a preocupação com a generalidade da aprendizagem; a
capacitação do profissional que emprega a terapia; e o início da intervenção antes dos 5 anos.
adaptativo dentro da média, além de padrão típico de emoções, habilidades sociais, com
experimental foi composto de 35 crianças. A pesquisa foi realizada em contexto escolar, com
parte da intervenção em uma sala separada e outra parte em contexto domiciliar (via
cuidadores) por 10 horas por semana. Os programas eram aplicados por um facilitador e pelos
controle que também recebia 10 horas de intervenção, mas de uma intervenção eclética. Esses
acadêmicas e de vida diária, comunicação e interação social, com muitas crianças atingindo
8
melhoras a médio e longo prazo (Eikeseth et al., 2002; Jacobson, Mulick, & Green, 1998;
Apesar de ser uma intervenção comprovadamente eficaz nos casos de TEA, a ABA
nos moldes de EIBI ainda é acessível apenas a uma pequena parcela da população brasileira.
Smith, Buch, et al. (2000) apontaram que por ser one-to-one (com um cuidador para cada
intervenção estão sendo investigadas, como a intervenção em ambiente escolar (cf. Eikeseth,
et al., 2002), a via ensino de cuidadores (cf. Lafasakis & Sturmey, 2007; Sheinkopf & Siegel,
Diggle et al. (2005) e Steiner, Koegel, Koegel, e Ence (2012) apontaram que o ensino
constantemente nas intervenções realizadas via profissional e nas demais intervenções, como
a escolar (cf. Anderson et al. 1987; Lovaas, 1987; Eikeseth, et al., 2002). Steiner et al. (2012)
colocam que por estarem em interação com a criança a maior parte do tempo e em diferentes
ambientes, os pais poderiam realizar uma intervenção mais intensiva e com amplo potencial
9
cuidadores ainda estão em uma fase inicial, havendo resultados favoráveis e desfavoráveis,
Smith, Buch, et al. (2000). Eles aplicaram o EIBI através de programas da UCLA, (University
of California, Los Angeles), mas sem o uso de estimulação aversiva. A intervenção envolvia
ensino dos cuidadores durava 26.2 horas por semana e era realizado através de tentativa
discreta.
(imitação vocal e não vocal, falar frases curtas, cooperar com pedidos de outros, brincar
funcionalmente e habilidades de vida diária), mas apenas duas mantiveram essas habilidades
não ter controle sobre a intervenção após os cinco primeiros meses, o que pode ter
Smith, Buch, et al. (2000) apontam ainda que entre os fatores que podem diminuir a
efetividade da intervenção via cuidadores estão: demanda excessiva aos pais, que além de
trabalhar, cuidar da casa, de outros irmãos e da criança com TEA, precisaria atuar diretamente
Outra pesquisa cujos resultados não foram favoráveis ao ensino de cuidadores foi
desenvolvida por Bibby et al. (2001). Estes autores investigaram a aplicação do modelo da
10
UCLA via cuidadores, através de tentativa discreta e ensino incidental. Os progressos das
por 30.3 horas por semana. Os dados foram avaliados após três meses e depois após um ano
autores não fornecem informações detalhadas sobre como foi realizado o ensino dos
ambiente com o qual a criança interage, de modo que, em um programa de ensino parental, os
pais são ensinados a modificar não apenas o comportamento da criança, mas também o deles
próprios, visto que estes interferem diretamente nas crianças (Crockett, et al., 2007; Marinho,
2010). Matson, Mahan, e Matson (2009) apontam esta variável como uma das razões para o
Todavia, a maioria dos resultados são favoráveis a intervenção via cuidadores. Steiner,
et al. (2012) relatam que a intervenção via cuidadores é efetiva para reduzir comportamentos-
TEA.
sobre intervenção via cuidadores que envolvessem: crianças de no máximo seis anos, com
cuidadores, follow-up e uso de testes. Os resultados desta revisão mostram que ainda há
poucos estudos comparativos com grupos de participantes passando por outras formas de
Matson et al. (2009) também realizaram uma revisão abrangendo pesquisas com
pais são habilitados para ensinar diversas habilidades, com resultados efetivos da
prazo.
Graupner (2005). Eles replicaram o modelo desenvolvido pela UCLA (Lovaas, 1987;
McEachin et al., 1993), porém sem o uso de estimulação aversiva, com orçamento menor e
procurando identificar que crianças seriam beneficiadas com esse tipo de intervenção.
intervenção por semana, entre seis e dez horas de supervisão em casa e uma hora por semana
intervenção por semana (com exceção de uma família que escolheu receber 14 horas de
intervenção), seis horas por mês de supervisão em casa, e uma supervisão com o autor do
nos resultados dos testes de QI de 48% das crianças. Além disso, o grupo via cuidadores
apresentou melhoras tão expressivas quanto o grupo de intervenção via profissional. Entre as
12
variáveis pré-intervenção que influenciaram nos resultados Sallows e Graupner (2005)
das famílias era realizado entre 4 a 6 semanas, e a intervenção durou dois anos. Os resultados
mostraram que as crianças que aprenderam com mais rapidez no início do ensino tiveram os
melhores resultados após dois anos de intervenção. Além disso, os dados corroboraram
estudos anteriores sobre o impacto positivo de uma intervenção EIBI em crianças com
padrão na escola. O acompanhamento das crianças era realizado por telefone. Os resultados
tentativa discreta sobre a aprendizagem da aplicação dessa forma de ensino em três mães,
sobre a generalidade para habilidades não ensinadas aos pais diretamente e sobre
crianças aparece em diferentes pesquisas. Koegel, Glahn, e Nieminen (1978) analisaram qual
aprenderam a realizar tentativa discreta somente com a demonstração de uma pessoa, mas a
generalidade para novas habilidades só ocorreu no segundo modelo. Outro dado importante
obtido pelos autores foi de que a melhora no desempenho estava diretamente relacionada à
respostas dos cuidadores, e extensão dessa aprendizagem para habilidades não treinadas. As
crianças tiveram apenas pequenas melhoras, mas os pais só aplicaram entre 4 a 6 blocos de
Autismo e Inclusão Social) mantido, há alguns anos, por meio de uma parceria entre o
Universidade Federal do Pará, o qual sediou o presente trabalho de tese. É possível, portanto,
14
comportamental ao autismo no Brasil, incluído a intervenção via cuidadores, sejam
tentativa discreta é uma pequena unidade de ensino onde o aplicador apresenta um estímulo
discriminativo, com ou sem dica, aguarda a resposta da criança por um tempo pré-
passos que vão de habilidades mais simples para habilidades mais complexas, com dicas
discreta é, na maioria das vezes, realizado através de instruções orais ou por escrito,
modelação (ao vivo ou por vídeo), role-play e prática com feedback, com vídeos sendo usados
aprendizagem para criança e sua motivação para aprender. A tentativa discreta possui três
vantagens: como cada tentativa é curta, esse procedimento leva a muitas oportunidades de
ensino; o ensino one-to-one proporciona um maior conhecimento da criança; ela é mais fácil
A quantidade de horas de intervenção com tentativa discreta para que haja ganhos
15
significativos para as crianças é colocada pela maioria dos pesquisadores como variando entre
20 e 40 horas por semana, porém além de onerosa essa pode ser uma intervenção estressante
para a família e para a criança. Alguns pesquisadores (cf. Smith, Douahoe, & Davis, 2000)
professores e três pais. Os resultados demonstraram eficácia dos dois procedimentos tanto
Wightman et al. (2012) testou um pacote para o ensino de tentativa discreta (cf. Fazzio
participantes eram 13 tutores novatos, a intervenção era realizada na casa da criança. O treino
procedimento traz uma alternativa econômica, uma vez que não há necessidade de feedback,
demonstração ou modelagem. Entretanto, algumas questões não ficaram claras, como o papel
Além da tentativa discreta, outro procedimento de ensino comum aos pais é o ensino
16
incidental, onde o ensino é realizado através de oportunidades diárias, de modo menos
estruturado, porém mais contextualizado. Smith (2001) apresenta o ensino incidental como
um dos procedimentos de ensino que podem ser realizados em conjunto com a tentativa
discreta para aumentar a generalidade da aprendizagem de repertórios pela criança para outros
na tentativa discreta.
Pré-requisitos
com suas características e necessidades. Entretanto, currículos padrões podem servir de guia
neste processo, estabelecendo pré-requisitos que devem ser alcançados antes que habilidades
Fazzio (2007) aponta que os currículos ABA, com intervenção intensiva, podem
acadêmico, de lazer e socialização. Taylor e McDonough (1996), por sua vez, indicam como
pareamento. Smith (2001) coloca a aprendizagem da imitação como essencial, uma vez que
17
quando iniciada pela criança, e imitação estavam mais relacionadas às habilidades de
linguagem.
sua eficácia.
crianças diagnosticadas com autismo vem aumentando. É possível prever que haverá grande
modelo EIBI descrito por Lovaas (1987). Pelas características já mencionadas acima, o
modelo original requereria maciço investimento governamental para ser aplicado via
profissionais de forma ampla no Brasil. Isso é verdade em especial observando-se que tanto o
sistema educacional quanto o sistema de saúde brasileiros não estão preparados para tal
demanda. Steiner et al. (2012) apontam que é escasso o número de trabalhos que indicam
como conduzir uma intervenção via cuidadores e que não é claro como deve ser realizado um
deste trabalho foi avaliar, dentro do modelo ABA, (sem intervenção EIBI) a intervenção via
Método
Participantes
Participaram do estudo seis crianças, quatro meninos e duas meninas, com diagnóstico
de TEA, e seus respectivos cuidadores (ver Tabela 1). Todos os cuidadores eram pais
biológicos das crianças e haviam concluído pelo menos o Ensino Médio. Nenhum dos pais
Grupo 1.
O primeiro grupo foi formado com cinco cuidadores. Destes, apenas três vieram às
reuniões de capacitação teórica. Uma mãe abandonou o grupo no meio do ensino conceitual.
Outra mãe, apesar de passar por todo o procedimento, não entrou na pesquisa em função de
sua criança apresentar outras síndromes associadas ao autismo. Permaneceram desse primeiro
Grupo 2.
O Grupo 2 começou quatro meses após o primeiro grupo, sendo constituído por cinco
cuidadores e cinco crianças que permaneceram até o final desta pesquisa. Destes, a família de
2
Todos os nomes de crianças e cuidadores são fictícios. Para facilitar a leitura, o nome dos cuidadores sempre
começa com a mesma letra do nome dado à criança.
19
TABELA 1.
Ambiente
Além da coleta de dados realizada pelos cuidadores pelo menos quatro vezes por
semana no ambiente residencial, com duração média de 2 horas, era realizada uma vez por
universidade continha cinco mesas e 16 cadeiras infantis, dois armários e brinquedos dentro
Instrumentos e Materiais
Câmera de vídeo;
Brinquedos e comestíveis;
20
Teste ABLA, Assesment of Basic Learning Abilities (DeWiele & Martin,
1998);
pelo atendimento via profissional, sendo realizadas apenas algumas adaptações de linguagem
Os programas eram elaborados seguindo passos com diversos níveis e tipos de ajuda,
21
Os participantes foram encaminhados ao APRENDE através do Hospital Bettina Ferro
de Souza, que já realizava uma triagem de acordo com os critérios de inclusão, que eram os
seguintes: crianças de até seis anos, sem histórico de comportamento autolesivo grave, como
bater repetidamente partes do corpo causando lesões físicas, e cuidadores com escolaridade
mínima de nível médio e disponibilidade de tempo de: duas tardes durante o ensino conceitual
e uma tarde durante o ensino aplicado, e de 2 horas para aplicação em casa, cinco vezes por
semana..
Primeiramente foi realizada uma reunião com vários cuidadores onde foi apresentando
cuidadores e esclarecido quais seriam trabalhadas; foi apresentado o papel que os cuidadores
esclarecido (Anexo 3). Em seguida, esses cuidadores passaram por uma anamnese para
confirmação dos critérios (Anexo 10). As crianças selecionadas foram encaminhadas para um
realizando o processo de pairing. Em uma terceira sessão foi realizada a avaliação onde era
aplicado o teste ABLA, um teste que aponta se a criança é capaz de realizar a habilidades de:
previstas no ABLLS (Assessment of Basic Language and Learning Skills) (Anexo 2).
22
Procedimento de Ensino Conceitual
Comportamento. O ensino feito através de encontros realizados duas vezes por semana por
baseado em Keller (1999). Cada pai recebia uma cartilha para leitura individual, com o
assunto que seria abordado e algumas atividades ao final (Anexo 4). Após a leitura individual,
conceitos ensinados, o grupo abria para discussão. A pesquisadora então realizava uma
apresentação dos conceitos estudados e, apresentava vídeos ilustrando esses conceitos, para
que os cuidadores realizassem análise das situações. Os temas abordados nos encontros
foram:
(5) revisão;
birra, estereotipia e interesse restrito. Para este encontro foram convidadas todas as pessoas
23
que de uma forma ou de outra faziam parte do dia-a-dia da criança, como tios, irmãos e avós.
Em todos os encontros, foram servidos lanches, como sugerido por Marinho (2010).
Vítor, Haroldo, Cláudio, Edgar para tratar de situações familiares que estavam interferir no
desempenho da criança. Além disso, todas as dúvidas dos pais eram retiradas, sendo
respostas; avaliar os resultados; modificar o passo de acordo com o critério. O feedback era
24
Entrega dos Programas para leitura e solução de dúvidas.
Tentativa do cuidador com a criança, sem registro dos dados. Ao final, o cuidador
analisava os dados registrados pelo monitor e avaliava o Passo.
Tentativa do cuidador com a criança, com registro dos dados. Ao final, o cuidador
analisava os dados registrados e avaliava o Passo.
programas. Não foi estabelecido um critério preciso do que seria considerado bom
ausência de um critério preciso de aquisição desta habilidade determinou que houvesse falha
tentar analisar os dados produzidos por eles em casa com o objetivo de tomar decisão sobre
avanço, manutenção ou recuo de passo no programa de ensino. Por essa razão, após
25
aproximadamente um mês de coleta, um novo ensino de como analisar os dados e modificar
demonstravam maior precisão nas tentativas discretas, foram ensinados os demais programas:
imitação com e sem objeto, atender ao nome, rastreamento visual e atenção ao estímulo. A
necessidade de realizar este ensino em outro dia e sem a presença da criança, realizando o
ensino através dos passos descritos na Figura 2, com um dia para ensino só do cuidador e
Programas
Inicialmente era realizada a medida de linha de base das diversas habilidades pré-
requisito para embasar a definição sobre que programas as crianças já dominavam e quais
modo que, ao final do ensino, as habilidades das crianças pudessem atender aos critérios de
Taylor e McDonough (1996) de serem demonstradas mediante instrução dos cuidadores, sem
ajuda, com todos os componentes, em diferentes contextos, com diferentes pessoas e vários
estímulos.
26
Função do Responsável e Corresponsável
Cada família era assistida por dois pesquisadores, um responsável pelo caso e um
Ambos possuíam um check-list com as funções que cada um deveria executar para um
com base nas dúvidas e dificuldades que a equipe apresentava para realizar a intervenção, e
Treino da Equipe
pós-graduação de Psicologia, com experiência em ABA e que haviam passado por seis a dez
momento, foi realizado role-playing dos programas com duas pessoas fazendo papeis da
feedback. Os papéis eram invertidos no decorrer do tempo, de modo que todos passavam por
27
Uma psicóloga clínica e estudante de doutorado com experiência na clínica com
crianças com autismo, supervisionava os treinamentos. Além disso, foram realizadas reuniões
semanais para discussão dos casos entre os membros da pesquisa e reuniões semanais para
discussão de literatura, porém nem todos os membros participaram das reuniões de literatura.
cuidadores entregavam as folhas de registro dos programas aplicados em casa para avaliação
e feedback. Com base nos resultados, era definido que passo do programa a criança realizaria
Os dados dos programas que a criança estava realizando em casa eram coletados na
presença do responsável pelo caso e do monitor auxiliar. Este era um momento importante
para verificar a confiabilidade dos resultados trazidos da coleta em casa, uma vez que
em casa poderiam indicar alguma inconsistência na coleta de dados. Além disso essas
analisar os dados junto com o cuidador e definir que passo ele realizaria em casa, com base
quanto aos dados. As filmagens também eram usadas para análise dos experimentadores e
28
adicionais aos cuidadores ou análise funcional de algum comportamentos-problema que
estivesse ocorrendo.
Teste de Preferência
Antes de iniciar a sessão, era realizado pelo auxiliar um teste de preferência através do
Multiple Stimulus Without Replacement, MSWO (Carr, Nicholson, & Higbee, 2000; DeLeon
& Iwata, 1996). Neste teste, cinco itens (brinquedos ou comestíveis) eram apresentados ao
mesmo tempo em uma mesa, e a criança era instruída a escolher um. Ao primeiro brinquedo
escolhido, era atribuído o valor “1” na folha de registro. A criança interagia por cerca de 10
segundos com o brinquedo. Após esse período, o brinquedo era retirado e era solicitado que a
criança escolhesse outro brinquedo. Ao segundo brinquedo, era atribuído o valor “2” na folha
de registro. Isso era repetido até que restasse apenas um brinquedo. Todos os cinco itens eram
então reapresentados, reiniciando o procedimento por mais duas vezes. Ao final, os valores
numéricos atribuídos a cada brinquedo ao longo do teste eram somados e os brinquedos com
menor valor numérico eram os mais preferidos. Os três brinquedos preferidos eram usados
durante a sessão como reforçadores. Caso a criança demonstrasse interesse por outro item que
não havia sido selecionado para o programa, este era imediatamente inserido na tentativa
discreta.
Linha de Base
para aquele passo. As respostas corretas não eram reforçadas ou corrigidas. Após
29
na tarefa. Foram realizadas cinco tentativas de cada passo. O passo selecionado para início do
ensino era aquele onde a criança apresentava no mínimo quatro acertos. Caso a criança
Passo 1. Não era realizada linha de base do Passo 1 para não expor a criança a possíveis erros
sem necessidade.
Correção de Erro
A resposta era considerada errada caso a criança não respondesse dentro do tempo
estipulado ou apresentasse resposta diferente daquela definida como resposta correta. Nesse
caso, era aplicado um procedimento de correção de erro: Se a criança não emitisse a resposta
ou emitisse uma resposta diferente da definida como correta, o cuidador retirava os estímulos
que havia disponibilizado no campo visual da criança e olhava para o lado por 5 segundos.
Após esse tempo, ele apresentava o estímulo novamente e iniciava uma tentativa do Passo 1,
como consequência para acertos em tentativas de correção, se iniciava uma nova tentativa
com o item sendo mais uma vez apresentado para criança e com nível de ajuda previsto no
passo corrente. Se a criança errasse por três vezes consecutivas, para manter o engajamento da
Controle da Frequência
cuidadores nas orientações. Isso estava prejudicando o progresso das crianças. Muitas vezes
30
os pais só realizavam a troca de passo durante a orientação, e passavam até 15 dias realizando
esta demorava mais tempo para ser identificada. Nos casos em que o cuidador se atrasava,
punitivas para o não cumprimento das mesmas (Anexo 8) e o segundo estabeleceu as regras e
uma premiação ao final do mês para os cuidadores que obtivessem um número mínimo de
Resultados
começado a intervenção três meses antes, de Jéssica ter pedido desligamento do programa
31
TABELA 2.
Cronograma de atividades das crianças.
Meses Haroldo Vítor, Cláudio Jéssica Edgar
Luna
Nov/2012 Apresentação
Anamnese
1a AH
Out/2013 3a AH 3a AH 1a Follow-up
ABLA ABLA Ensino
Ensino Ensino
ABLA. Destes, apenas Jéssica obteve avanços nas avaliações posteriores, indo para o Nível 1
meses sem intervenção). Luna iniciou no Nível 3 e avançou para Nível 4, na segunda e
5
Nível no ABLA
0
1A 2A 3A
Avaliação
33
CARS
O CARS é uma escala que avalia a gravidade do autismo. Nessa escala é considerada
normal a criança cujo resultado final fica entre 15 e 29,5; autismo leve/moderado entre 30 e
TABELA 3.
Luna 1Av
Vítor 1Av
Luna 2Av
Haroldo
Haroldo
Cláudio
Cláudio
Jéssica
Jéssica
Edgar
Edgar
Vítor
1Av
2Av
2Av
1Av
2Av
1Av
2Av
1Av
2Av
Relacionamento
Interpessoal 2 1,5 2 2,5 3 3 3 2,5 1,5 1 3 2
Imitação 2,5 1 3 2 3 2 4 1,5 2 1 4 2
Resposta
Emocional 2 2 3 2 3 2,5 2 2,5 1,5 1 2 2
Expressão
Corporal 2,5 1,5 3 2 3 2,5 3 2 2 1 2,5 2
Uso de Objetos 2,5 1 2,5 2 3 1,5 3 1,5 2,5 1 2,5 3
Adaptação a
mudanças 3 3 3 3 2 3 2 1 3 1 2 2
Uso do Olhar 2,5 1,5 3 2,5 3 2,5 3 2 2 1 2,5 2
Uso da Audição 2,5 1 3 2 4 3 2,5 2 2,5 1 3 2
Uso do Paladar 2 1 1,5 1,5 2 1,5 1,5 1 1 1 2 2
Medo e
Nervosismo 1,5 1,5 1,5 1,5 3 2 3 2 3 1,5 1,5 1
Comunicação
Verbal 3,5 1,5 3 2,5 4 2,5 3 3 3 1,5 4 4
Comunicação
não-Verbal 3 1,5 3 1,5 3 2 3 2,5 2,5 1 3 2
Atividade 3 1,5 3 2,5 3 2,5 2 2 3 1,5 3 2,5
Grau das
respostas de
inteligência 1 1 3 3 3 2,5 3 2 2 1 3 2
Impressão
Geral 2 2 3 3,5 3 3 3 3 2 1 3 3
TOTAL 35,5 22,5 40,5 34 45 36 41 30,5 33,5 16,5 41 33,5
34
Foram realizadas duas avaliações, a primeira na entrada das crianças no projeto
cada criança foi realizada por duas pessoas diferentes, sem que uma tivesse conhecimento das
notas atribuídas pela outra, os valores foram somados e divididos por dois, valores com
demais crianças iniciaram com autismo grave e na segunda avaliação apresentaram autismo
leve/moderado.
Inventário de Habilidades
intensidade e frequência da primeira para a terceira avaliação, o que pode ter influenciado no
também nos programas dessas crianças no mesmo período em que a avaliação foi realizada.
problema. Mesmo assim, havia indícios de que esses repertórios eram mantidos pelos pais, o
que levou a equipe a iniciar uma nova capacitação de cuidadores para que os pais das crianças
35
Avaliação dos pré-requisitos: comportamento colaborativo, imitação, atenção conjunta,
Como pode ser observado na Figura 3, Cláudio foi a única criança a iniciar a avaliação
dos pré-requisitos com um repertório igual ou superior a 80% para todas as habilidades.
Entretanto, a criança precisou realizar alguns programas relativos a essas habilidades uma vez
que os últimos passos dos programas de ensino dessas habilidades eram mais complexos do
que os exigidos nesta avaliação. Por exemplo, atenção ao estímulo avaliava se a criança
achava o objeto com um copo e um giro, enquanto o último passo do programa pedia três
copos e três giros. Da mesma forma, a criança esperava por 1 segundo durante a avaliação,
36
r
Figura 4. Percentagem de acertos no Inventário de Habilidades para: colaboração, imitação, atenção conjunta, atenção ao estímulo e controle
instrucional. As barras brancas indicam ausência da habilidade, as cinzas que a habilidade é emergente e as pretas presença da habilidade.
37
Jéssica, Luna e Haroldo apresentaram aumento na percentagem de acerto para todas as
habilidades (exceto comportamento colaborativo para Jéssica, que caiu levemente da segunda
para terceira avaliação). Os resultados de Vítor são mais instáveis, com melhoras nas
Por fim, Edgar não apresentou grande variação de desempenho entre a primeira e a
terceira avaliação, pois a mãe estava ausente do projeto no período da segunda avaliação
geral).
aumento da precisão nesses repertórios para Vítor, Jéssica, Luna e Haroldo, indicando a
comparado à linha de base, para todas as habilidades, a exceção de intraverbal para Jéssica.
Essa melhora já foi observada na segunda avaliação, sendo que neste momento nenhum
comportamento vocal havia sido ensinado diretamente, uma vez que as crianças ainda não
38
Figura 5. Percentagem de acertos no Inventário de Habilidades para: mando, tato, ecóico e Intraverbal. As barras brancas indicam ausência da
habilidade, as cinzas que a habilidade é emergente e as pretas presença da habilidade.
39
Os dados relativos a Vítor mostram, contudo, que seu desempenho nas habilidades de
mando caiu. Na primeira avaliação, essa criança apresentou 100%, mas o mando era realizado
com frases como “me dá!” “é meu!”, na terceira avaliação, a criança já havia iniciado o
programa de mando de modo que essas respostas não eram mais consideradas corretas, uma
vez que era exigida a topografia “por favor, X”. O desempenho na segunda avaliação foi
melhor que na terceira para o mando, tato e ecoico. O desempenho de Edgar apresentou pouca
avaliações para Cláudio e Haroldo (chegando a 80%), reduziu para Vítor, Jéssica e Edgar e se
manteve estável para Luna (60%). Já a precisão na discriminação por identidade visual-visual
aumentou para Cláudio, Vítor, Luna e Haroldo, permanecendo em 0% para Jéssica e Edgar. A
discriminação arbitrária, por sua vez, aumentou para Cláudio, Luna e Haroldo, mantendo-se
estável em Vítor, Jéssica e Edgar. Cláudio já apresentava habilidade motora fina ao iniciar o
projeto. Vítor, Jéssica, Luna e Haroldo, por sua vez, aumentaram a precisão desse
para Cláudio, Jéssica e Haroldo ao longo de todas as avaliações. Luna apresentou os maiores
progressos nesta habilidade, indo de 20% na primeira para 80% na terceira. Vítor teve uma
queda de desempenho na última avaliação e Edgar obteve 60% na primeira avaliação, mas
Programas de colaboração.
Sentar.
O programa sentar foi realizado por Vítor, Luna, Haroldo e Edgar. Vítor
repertório da criança não era estável, havendo baixa no desempenho em dias onde a
birra estava mais intensa. Todos os gráficos podem ser observados na Figura 7. Luna e
100% na linha de base, e terem mostrado manutenção deste repertório nos dois follow-
up.
Vítor avançou para o P3 (independente) e retornou duas vezes para o P2. Após
atingir o P3, pela terceira vez optou-se por não voltar a criança de passo, mesmo diante
do baixo desempenho. Uma vez que a baixa precisão de desempenho estava relacionada
sessão antes das férias (56% de acerto), e no primeiro follow-up o repertório foi de
100%. Apesar de os pais não terem realizado o registro, eles relataram realizar o
programa neste período. Haroldo atingiu a independência após cinco blocos e manteve
42
realizado o primeiro follow-up onde o passo independente era avaliado independente de
43
Figura 7: Percentagem de acerto para cada bloco de tentativas na aplicação do programa Sentar para os participantes Haroldo, Edgar, Vitor e Luna.
Os dados na área identificada com LB correspondem à medida de linha de base. A área marcada em cinza mostra o percentual de respostas
independentes
44
Esperar.
programa, tendo sido expostas a todas as fases. Houve uma inconsistência em relação à
exigência da topografia neste programa (se a criança deveria colocar mão sobre mão em cima
da mesa ou as mãos lado a lado sobre a mesa). Assim, nos passos finais do programa, essa
topografia não era exigida. Muitas crianças chegavam a apresentar a topografia no início, mas
emitiam outras respostas após alguns segundos, como mudar as mãos de posição.
s,) para o P5 (3 s), não foi realizado pelos cuidadores ao longo do ensino, apesar disso a
(7 s). Edgar estava no P3 (3 s mais ajuda leve), no momento em que essa pesquisa foi
esperavam por 5 s (P5) e Vítor por 1 s (P4). Edgar continuava no P3. Já no segundo follow-
up, o desempenho de Cláudio, Vítor e Luna foi de 100% nos três passos (P8, P9 e P10). O
desempenho de Jéssica foi de 80% na manutenção, não foi realizado os passos de RCE e
generalidade neste programa e em nenhum outro pois a criança se recusava a interagir com
qualquer pessoa além da mãe e a fica minimamente distante desta. Este comportamento foi
apresentado nos primeiros dias de adaptação da criança no APRENDE, mas havia entrado em
45
Figura 8. Percentagem de acertos no programa Esperar.
Toque aqui.
repertório independente com precisão. Para Vítor, Jéssica, Luna, Haroldo e Edgar, o
repertório independente de entrada foi nulo. Entretanto, ao começar o ensino de Vítor, Luna e
crianças (Vitória, Lúcia e Edna) relataram que aplicaram o programa (que havia sido ensinado
como um exemplo durante a fase de ensino teórico) de modo incidental por cerca de duas
semanas. Deste modo, optou-se por não realizar o ensino deste programa a essas crianças.
de passo uma vez. Jéssica atingiu a independência já no segundo bloco e Haroldo no sexto
bloco de ensino. Ambos mantiveram um desempenho entre 80% e 100% nos dois follow-up
(Figura 8) .
47
Figura 9. Percentagem de Acerto no Programa Toque Aqui.
48
Programas de atenção.
Atender ao nome.
O programa atender ao nome foi realizado por todas as crianças (Figura 9). A linha de
base mostrou que a maioria das crianças (Edgar, Cláudio, Vítor, Jéssica e Luna) estava nos
passos iniciais entre P1 e P3. Apenas Haroldo iniciou do P7 (dica visual sem o brinquedo).
Com exceção de Luna, todas as crianças avançaram no ensino sem retorno de passo.
superior a 80% antes do follow-up. Além disso, a cuidadora de Jéssica relatou ter aplicado o
programa durante as férias. O repertório de Cláudio, Jéssica e Haroldo se manteve entre 80%
fase de ensino. Luna e Edgar apresentaram desempenho preciso no segundo follow-up nos
passos de RCE e generalidade, mas apresentaram precisão baixa no passo de manutenção (0%
e 60%).Vale ressaltar que o programa de Atender ao Nome era composto por diversos passos
olhar o aplicador sem estar com o brinquedo ou outro distrator, entre os Passos 5 e 8 ela
deveria olhar o aplicador enquanto estava engajada em uma atividade, e entre os Passos 9 e
12, olhar para uma outra pessoa, a pelo menos um metro de distância e enquanto estava
engajada em uma atividade. Desta forma, por mais que algumas crianças não tenham
49
Figura 10. Percentagem de acerto do Programa Atender ao Nome
Rastreamento visual.
Luna, Vítor e Edgar apresentaram 100% de acertos na linha de base, não sendo,
aproximadamente seis meses antes desta linha de base, Vítor mostrou baixa precisão na
habilidade de encontrar uma bala embaixo de um copo e Luna apresentou esse repertório
como emergente. O programa foi realizado com Haroldo, Jéssica e Cláudio, com todas as
crianças atingindo a precisão de desempenho esperada no último passo e nas últimas fases de
Após a linha de base, Haroldo iniciou o programa a partir do P11 (três copos e sem
giro); Jéssica iniciou do P12 (três copos e um giro); Cláudio realizou duas medidas de linhas
de base, com um intervalo de três meses entre elas. Na primeira, ele ficou no P11 e na
segunda no P13 (três copos e dois giros). Observa-se na Figura 10 que, para Haroldo, houve
uma queda na precisão do seu desempenho de 80% para 0% quando ele avançou para o P14
(três copos e três giros). Esse resultado, entretanto, ocorreu devido à dificuldade da cuidadora
de girar três vezes o copo antes de a criança achar o estímulo. Em outras palavras, a criança
interrompia a sequência de giros dos copos, emitindo a resposta de busca na direção do copo
correto. É possível afirmar que a medida de desempenho aqui expressa em 0% reflete mais
100% e 80%, respectivamente. Jéssica por sua vez apresentou um repertório de 100%, mas no
P11 (3 copos e sem giro). No segundo follow-up, Haroldo e Cláudio apresentaram precisão de
51
Figura 11. Resultado do Programa Rastreamento Visual
52
Programas de imitação.
O programa de imitação sem objeto foi realizado por cinco crianças (Vítor, Jéssica,
Luna, Haroldo e Edgar). As crianças concluíram com sucesso a aplicação do programa, tendo
sido expostas às fases de aferição de linha de base, aplicação dos passos e medidas de follow-
up. Cláudio apresentou repertório independente, com 100% de precisão, já na linha de base.
Cláudio. Foram então realizadas algumas sessões apenas para verificar a amplitude do
de entrada. Para a maioria dos participantes, o repertório independente de entrada foi nulo
(Jéssica, Luna e Edgar) ou muito baixo (Haroldo = 20%). Vinícius, apresentou um repertório
intermediário (40% já na primeira medida). Com base nesses resultados, Jéssica, Luna,
Haroldo e Edgar iniciaram o programa a partir do Passo 1. Vítor deveria ter iniciado desse
passo, mas por uma falha de aplicação do procedimento ele iniciou do Passo 4.
foi em geral acima de 90% ao final da aplicação dos passos do programa, exceto para Luna
(80%). Houve variação na quantidade de blocos necessários para que cada criança atingisse
este repertório. Cláudio manteve a alta precisão de repertório ao longo de toda a exposição ao
programa.
Houve retorno de passo para Vítor, Jéssica, Luna e Edgar. O retorno de Jéssica, foi
após sucessivas quedas de precisão de desempenho, e o avanço após vários blocos em que o
primeiros não realizaram os avanços de passo necessários. Esse follow-up foi realizado com
todas as crianças com a exceção de Edgar, que ainda não havia começado o programa.
Haroldo e Cláudio não realizaram o programa durante este período. Todas as crianças
apresentaram desempenho igual ou superior a 80% durante o primeiro follow-up. Para Vítor e
Luna, essa foi a primeira vez que o repertório independente foi identificado e a precisão do
Vítor e Luna ao programa é que, mesmo tendo seu repertório atingido a precisão prescrita
para avançar de passo durante o período de férias, seus cuidadores os retiveram no passo
situações não estruturadas (Passo 7). O desempenho foi de 100% para quatro crianças (Luna,
Vítor, Cláudio e Haroldo) em todos os três passos. Jéssica havia encerrado sua participação no
projeto quando foi realizado o segundo follow-up, tendo sido obtido apenas o desempenho no
Passo 5 (80%), após aproximadamente três meses sem a aplicação de qualquer programa.
O programa de imitação com objeto foi realizado por todas as crianças (Figura 12).
Elas passaram pela fase de linha de base, aplicação do programa e follow-up. Todas
entrada com precisão de 0%. Já Jéssica acertou 40% das respostas e Edgar 20%. Assim, todos
iniciaram o programa a partir do Passo 1. O número de blocos de treino para que cada criança
bloco de ensino, com precisão de 95%. Por outro lado, Luna realizou 59 blocos até atingir o
Vítor apresentou o repertório independente durante mais da metade dos blocos realizados no
Passo 2 (ajuda leve). Porém, como estes blocos foram realizados no período de férias, e a
A decisão de avançar Luna do Passo 2 (ajuda leve) para o Passo 4 (independente), foi dos
supervisores após observar que Luna esperava pela ajuda, chegando a esticar as mãos para
Houve retorno de passo para Luna e Edgar, mas dentro do esperado. No primeiro
(80%, 100% e 80%, respectivamente). Vítor teve esse repertório identificado pela primeira
vez, como citado anteriormente. Luna, apresentou repertório de 40%, retornando ao Passo 1
(ajuda física).
56
Figura 13. Percentagem de acerto do programa Imitação com Objeto
Edgar iniciou este programa no momento em que as demais criança estavam fazendo o
primeiro follow-up, e deste modo o primeiro follow-up de Edgar foi realizado no momento em
que as demais crianças estava fazendo o segundo Follow-up. O resultado de Edgar mostrou
generalidade.
passos. Apresentaram desempenho inferior ao esperado Vítor no passo de RCE (60%), Luna,
imitação com objeto, com manutenção dessa aprendizagem a curto prazo, porém com baixa
retornar ao projeto o desempenho nestes três programas continuavam no Passo 1 para esperar
0% de respostas independentes no esperar, mas 100% no P3 (3s mais ajuda leve) e 60% de
respostas independentes no último passo do atender ao nome, como pode ser observado nas
Figuras 6, 7 e 9.
rastreamento visual e imitação sem objeto, imitação com objeto. Como pode ser observado
nas figuras 7, 8, 9, 10, 11, 12. Durante a última medida antes da interrupção do atendimento
desempenho foi de (80%, 100%, 40% (3 copos e 2 giros), 100%, 80%, 100%,
respectivamente).
Discussão
O objetivo deste trabalho foi avaliar, dentro do modelo de intervenção via cuidadores,
habilidades ensinadas como pré-requisitos neste estudo foram: sentar, esperar, toque aqui
(colaboração); rastreamento visual e atender ao nome (atenção); imitação motora com e sem
objetos. Essas habilidades são algumas das citadas por Sallows e Graupner (2005) e Fazzio
(2007) como variáveis que interferem diretamente nos bons resultados da intervenção.
com bons procedimentos para aferição de linha de base, adequada gradação de passos, efetivo
a esse panorama geral dos dados é feita ao programa atender ao nome, que não produziu
avanços comparáveis aos dos demais programas aplicados. Todas as crianças apresentaram
melhoras na escala do CARS, com duas crianças atingido níveis considerados iguais aos de
programas foram, de forma geral, bem sucedidos. A etapa de ensino conceitual, efetuada
através do Método Keller contribuiu para que se pudesse lidar com as diferenças individuais
de repertório de entrada dos cuidadores. Esse parece ser um desafio importante para
Brasil.
procedimentos de ensino de tentativa discreta. Um dos poucos trabalhos que relata ensino
conceitual é de Weiss (1999), que realizou workshop de dois dias, nos quais foi realizado o
ensino dos cuidadores. Porém, julgou-se que ele seria importante para maior generalidade do
uso dos programas em diferentes contextos da vida das famílias. A aprendizagem conceitual
por parte dos pais também pode ter permitido um melhor manejo dos comportamentos,
através dos relatos dos cuidadores, que passaram a descrever e analisar os comportamentos
das crianças ao modo analítico-comportamental. Além disso, as duas cuidadores com maior
haviam tido mais dúvidas durante o ensino conceitual. Sugere-se em pesquisas futuras que
essa variável, ensino conceitual, seja diretamente manipulada para melhor averiguação dos
seus efeitos no ensino dos cuidadores e desempenho das crianças, além da análise de formas
playing com feedback imediato. Exceção à eficiência dos procedimentos deve ser feita quanto
ao ensino dos procedimentos de análise dos dados das crianças para avanço, manutenção e
recuo de passo nos programas. Foram frequentes as situações em que os cuidadores hesitaram
possível que esse tipo de dificuldade possa ser contornada com o desenvolvimento de
60
ferramentas informatizadas de apoio ao registro dos dados que informem automaticamente o
crianças, duas características importantes da EIBI não foram plenamente atingidas neste
por cada família na aplicação dos programas. Embora fosse solicitado que os cuidadores
aplicassem os programas diariamente e o tempo médio de cada sessão fosse de uma hora e
meia, o tempo ideal está entre quatro e oito horas diárias. Quanto à duração mínima indicada
de dois anos de intervenção, o programa de intervenção dentro do qual a coleta dos dados
aqui relatados foi encerrada após aproximadamente oito meses, incluindo neste tempo os
follow-up. As crianças continuaram a realizar novos programas após a coleta desta pesquisa.
Uma vez que não era objetivo pesquisar diretamente as variáveis do ensino dos
cuidadores que contribuem para o sucesso da aplicação dos programas, optou-se por realizar
esse ensino prático. Tomando-se como base procedimentos de pesquisas que obtiveram
sucesso no ensino de tentativa discreta para famílias (cf. Crockett, et al., 2007) de modo a
tratando de aplicadores profissionais. Esse parece ser outro desafio importante para a
desenvolvimento das crianças. Koegel, et al. (1978) apontam que o desempenho da criança
61
melhora de acordo com a aplicação correta do cuidador. Além disso, Smith, Buch, et al.
(2000) afirmam que a aprendizagem dos pais pode ocorrer, mas isso não levar a um
pesquisas futuras ambas medidas de desempenho, dos cuidadores e das crianças, sejam
realizadas para uma maior análise da relação entre precisão de aplicação dos cuidadores e
desenvolvimento da criança.
Houve variação no tempo que cada criança levava para adquirir precisão em um
repertório. Essa variação parece estar relacionada com o repertório de entrada de cada criança.
Com crianças como Cláudio e Haroldo, que tiveram os melhores resultados no ABLA e no
inventário de habilidades, a aprendizagem foi mais rápida e fluente (com menor incidência de
recuos de passos). Outro ponto que pode ter interferido e cujo controle não foi realizado é
repertórios em quase todas as crianças. Também houve aumento significativo de precisão dos
acima de 80%. Uma hipótese é de que a aprendizagem de repertórios como atenção conjunta
tenha ocorrido através das solicitações dos cuidadores, durante a aplicação dos programas,
para que a criança olhasse para algum estímulo. Os programas de sentar e esperar, por si só,
Contudo, as variáveis que levam a aprendizagem sem treino direto devem ser
múltipla.
Edgar que realizou aproximadamente três meses de intervenção, se ausentou por quatro
meses, e retornou ao projeto. A díade Edna/Edgar já faltava com grande frequência antes da
interrupção, além de ser inconsistente na aplicação dos programas. E a segunda foi Jéssica,
filha de Júlia, que interrompeu a intervenção pouco tempo após o primeiro follow-up em
função de problemas familiares e precisou viajar para outro estado. Porém, ao contrário da
primeira díade (Edgar e Edna) Júlia era assídua no APRENDE e aplicava a intervenção com
regularidade e precisão, tendo sido a primeira cuidadora a realizar mudança de passo com
precisão.
aqui aplicado. Elas são situações que acidentalmente simulam manipulações de reversão entre
com a Condição A sendo a condição sem intervenção, como a linha de base e as interrupções
apresentou progressos em dois dos três repertórios, tendo progredido apenas após o retorno da
intervenção. Já Jéssica apresentou manutenção das habilidades adquiridas em cinco dos seis
repertórios. Esses dados sugerem que a aprendizagem das crianças estão relacionadas à
aprendizagem dos programas é mantida mesmo após a interrupção da intervenção, porém com
emissão restrita à cuidadora. Infelizmente, como a criança só pôde ir um dia ao projeto depois
63
a interrupção, não foi possível avaliar se após um tempo de readaptação com a equipe a
desempenho de Edgar e Vítor nos dias em que esses comportamentos estavam presentes.
Entretanto, seria necessário um registro para uma relação confiável entre as birras e a queda
frente a esse repertório. Foi observado que ambas as mães relatavam saber que estavam
reforçando comportamentos inadequados das crianças, mas não conseguiam manejar seu
incidental, os resultados do programa toque aqui, onde três crianças aprenderam o repertório
através do ensino incidental, dão indícios de que ele era realizado e influenciava a
aprendizagem das crianças. Outra informação que corrobora esse indício são os relatos
informais dos cuidadores de que passaram a realizar ensino desse repertório em diferentes
situações cotidianas, como na hora das refeições e do banho. Essa variável deve ser melhor
controlada, uma vez que através do ensino incidental a intensidade da intervenção pode
O sucesso de uso do ensino incidental aplicado por cuidadores, em conjunto com uma
intervenção via profissional por tentativa discreta, já foi relatado em diversas pesquisas (cf.
Lovaas, Koegel, Simmons, & Long, 1973). Sendo o arranjo contingencial de tentativa discreta
um dos mais utilizados no ensino de crianças diagnosticadas com autismo em pesquisas com
intervenções via cuidadores por exigir habilidades complexas, havendo na literatura relatos de
resultados negativos (cf. Bibby et al., 2001; Smith, Buch, et al., 2000) e resultados positivos
(cf. Crockett, et al. 2007; Koegel et al., 1978, Lafasakis & Sturmey, 2007). A presente
aplicados foram estruturados na forma de tentativas discretas, com o ensino não controlado de
do ensino incidental, com verificação de seus efeitos tanto sobre o engajamento dos
Os dados desta pesquisa contradizem estudos como os de Bibby et al. (2001) e Smith,
Buch, et al. (2000) que apontam para baixa efetividade do ensino de cuidadores. Porém, o
pesquisadores. Bibby et al. (2001) por exemplo, não desenvolveram um sistema de ensino dos
Já Smith, Buch et al. (2000) apontaram para o fato de que a aplicação de programas
por cuidadores não apresentava qualidade tão elevada quanto a aplicação por profissional, o
que de acordo com os autores pode ter influenciado na baixa generalidade e manutenção do
estudo ter obtido excelente grau de generalidade, ele foi realizado após alguns meses sem a
intervenção, e não após dois anos como no estudo de Smith, Buch et al. (2000). Há assim
65
Apesar de não ter sido realizado um procedimento para medir o desempenho dos
relação à troca de passos dos programas. Esse dado é observado especialmente nos dados de
crianças como Vítor e Luna que, por vezes, permanecem no mesmo passo, mesmo com
desempenho para avançar. Os relatos dos cuidadores apontam para dois motivos principais
para isso: não querer retornar um passo com a criança e não se sentir seguro para avançar um
passo sozinho.
resultaram em um progresso lento das crianças, como usar as horas da intervenção com
intervenções não efetivas ou tentar ensinar habilidades avançadas para as quais a criança não
estava preparada. Porém, após supervisão, eles passavam a evitar esses erros. Essa melhora
também foi encontrada nos cuidadores da presente pesquisa, após sucessivos treinamentos
Apesar das melhoras, optou-se ao final desta pesquisa pela implantação de um sistema
onde os dados coletados pelos cuidadores passaram a ser registrados em uma planilha no
Excel programada para avisar ao cuidador que passo ele fará no bloco seguinte. Os efeitos do
uso deste novo sistema não incidiram sobre os dados relatados no presente trabalho.
essencial que a sessão seja fonte de reforçadores, com a consequente motivação para estar ali.
Porém, isso não significa que todas as suas demandas serão reforçadas. O ensino de
66
repertórios como os de sentar e esperar possibilitam essa organização da sessão, fazendo com
O programa toque aqui, por sua vez, ajudou na administração de momentos de crise
(por ser uma resposta fácil, que pode ser pedida logo após uma birra, para só então
criança esteja errando. Por ser uma resposta simples, os cuidadores relataram que outros
membros da família, como avós e tios passaram a utilizar essa resposta na interação com a
criança, havendo reforçamento positivo para o familiar e para criança. Além disso, o toque
crianças foi o de atender ao nome, com resultados positivos para metade das crianças
(Cláudio, Jéssica e Haroldo), porém sem que essas crianças tivessem passado por todos os
passos (foi identificado que elas já mostravam independência durante o primeiro follow-up).
A efetividade deste programa não pode ser comprovada, sendo impreciso afirmar se o
repertório foi atingido por metade das crianças em função do arranjo de contingências deste
repertório exigido no programa atender ao nome inclui a resposta de olhar para o cuidador
(cuja a consequência intrínseca é o acesso à face do mesmo, com possível contato visual) sob
controle de estímulo vocal. É possível que a aplicação deste programa, embora seja inserida
na área de pré-requisitos, deva ser planejada para ser efetivada mediante a garantia de
Jéssica apresentou baixo desempenho no follow-up. Porém a criança ainda não havia
completado o ensino deste programa quando o follow-up foi realizado. Vítor e Luna não
realizaram o programa por terem apresentado bom desempenho na linha de base, realizada
primeira avaliação dessas crianças não foi identificado esse repertório, indicando a
aprendizagem sem ensino direto. Esses casos parecem mostrar que o suprimento de alguns
repertórios passe a ser um desafio muito menor para as crianças. Pesquisas posteriores devem
Por fim, os dados relativos aos desempenhos de Luna no programa imitação com
ajuda. Uma característica de Luna neste programa era a de esperar pela ajuda dos cuidadores
menor nível necessário de intrusão da ajuda deve ser buscado. Não há parâmetros exatos para
procedimentos de ajuda. Esse pode ser um desafio grande para a intervenção via cuidadores.
Alguns pontos são identificados como importantes para o sucesso de uma intervenção
via cuidadores. Os pais precisam aplicar os programas em casa com uma frequência regular, e
Koegel et al. (1978), cuja pesquisa mostrou que o desempenho da criança está diretamente
aplicados corretamente. Esses três pontos não foram apresentados pela díade Edna e Edgar e
parecem estar diretamente relacionados aos resultados mais lentos e menor desempenho da
criança
Uma variável que deve ser considerada é a distância (220 Km) que essa família
morava de Belém: vir para as supervisões exigia um custo financeiro, de tempo e esforço
físico para a família. Além disso, a mãe concentrava toda a responsabilidade pela criança, seu
cuidado diário, aplicação de programas e ainda trabalhava. Como alternativa para ajudar a
família, a cuidadora foi orientada a realizar atendimento psicológico e foi solicitado que o pai
observaram que as respostas de birra da criança aumentavam de frequência sempre que o pai
estava perto, e que este reforçava a birra da criança, colocando-a no colo e dando o que ele
solicitava. Uma vez que esse repertório estava influenciando na evolução da criança, o pai
também foi convidado a realizar o treinamento, para começar a ajudar a mãe com a
intervenção.
sobre o mesmo tema (algumas das quais já pontualmente citadas anteriormente). Entre elas, é
bem como buscar a comparação através de grupo controle. A quantidade de horas aplicadas
pelos cuidadores deve ser medida semanalmente, bem como se deve buscar estabelecer
alguma forma de controle (ou de manipulação direta) do ensino realizado de modo incidental.
69
Um procedimento para aferição da qualidade do ensino dos cuidadores (por tentativa
discreta) deve ser elaborado (e.g. Fazio, 2007). Seria desejável que as crianças passassem pela
realizem medidas de linha de base de todos os programas que comporão o currículo de ensino
da criança antes de qualquer intervenção. Essa medida não foi possível na presente pesquisa
repertórios deve ser acompanhada a longo prazo, com identificação dos efeitos dessa forma de
prognóstico da criança.
Sugere-se que pesquisas futuras avaliem a generalidade do que foi aprendido pelos
novas habilidades. Além disso, e apesar da indicação de que algum nível do componente
tentativa com feedback) a fim de investigar quais delas são mais eficazes para aprendizagem,
Por fim, um desafio é aumentar as horas de intervenção diárias a fim de alcançar uma
intervenção com carga horária similar àquela sugerida pelo EIBI. Contudo, para isto, variáveis
sociais e familiares precisam ser consideradas, uma vez que os pais têm outras ocupações,
70
como trabalho, cuidado da casa e de outros filhos. Uma alternativa seria o ensino de mais de
um membro da família para que haja revezamento na aplicação dos programas. Porém, para
integração entre os membros da equipe deve ser intenso. Sugere-se a investigação dessa
região norte.
De acordo com Baer et al. (1968, 1987) são sete as dimensões da Análise Aplicada do
repertórios pré-requisito e verbais em crianças com TEA via cuidadores. O tratamento dado à
desenvolvimento) foram tratados tomando-se como objeto as relações entre o indivíduo e seu
cuidadores uma vez por semana no laboratório. Uma vez que a maioria dos dados eram
coletados na casa dos participantes, sugere-se em pesquisas futuras que os dados sejam
forma a permitir uma medida de concordância inter-observador. Além disso, uma visita
domiciliar, uma vez por mês seria importante para verificar a confiabilidade dos resultados in
loco.
A análise aqui feita é também conceitual uma vez que todo o ensino dos cuidadores e
intervenção esteve voltada para efetivamente produzir as alterações planejadas para o avanço
perspectiva de que isso também possa ser perseguido no desempenho dos cuidadores implica
72
a dimensão de generalidade. Aqui, como em qualquer trabalho de Análise Comportamental
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78
Artigos Já Submetidos
integralmente na forma como foram submetidos para publicação. Eles são um produto direto
Resumo
mando e mando com autoclítico, com o uso de dica modelo vocal (ecoica) com e sem atraso.
Participaram três crianças diagnosticadas com TEA (e seus respectivos cuidadores), duas
dados mostraram a efetividade deste tipo de intervenção para o ensino de mando, com 100%
mando com autoclítico, uma criança atingiu 100% de acertos ao final do programa, enquanto
outra atingiu 40% por apresentar apenas dois dos quatro mandos ensinados. Os dados
79
mostraram que a intervenção via cuidadores é uma forma promissora de dar amplo acesso a
Abstract
The present paper reports an applied research investigating the efficacy of a caregiver-
(ASD). We taught mand and mand with auticlitic by using vocal modeling cues with and
without delays. Three five-year-old children (two girls and one boy) diagnosed with ASD
(and their respective carevivers) participated. They had no mand repertoire. The caregivers
were systematically taught how to carry out the teaching programs and record the data. After
that, they were given systematic supervison once a week. The data show the effectivity of the
caregiver-based intervention to teach mand, with 100% accuracy at the final step and with
evidence of generality for new stimuli. With respect to mand with auticlitic, one child (of the
two submitted to this part of the program) reached 100% accuracy at the end of the
intervention, while the other one reached 40%, presenting only two of the four mands that
were tentatively tought. The data show that caregiver-based approach is a promissing way to
autism in Brazil.
V (APA, 2013), pelo déficit de comunicação e de interação social, e pela presença de padrões
níveis de gravidade.
ao autismo (Cohen, Amerine-Dickens, & Smith, 2006; Eikeseth, Klintwall, Jahr, & Karlsson,
2012; Eikeseth, Smith, Jahr, & Eldevik, 2002; Eldevik, Hastings, Jahr, & Hughes, 2012;
Lovaas, 2003; Sallows & Graupner, 2005; Smith, Eikeseth, Klevstrand, & Lovaas, 1997). Um
dos trabalhos pioneiros nesta área foi realizado por Lovaas (1987) com 19 crianças com
com 40 horas semanais por dois anos. Os resultados mostraram melhoras nas funções tidas
padrões típicos ou próximos do típico. Nove das crianças conseguiram terminar o ensino
mantidos na adolescência, sem nenhuma intervenção adicional especial (Green, 2011). A base
da intervenção intensiva, precoce e duradoura delineada por Lovaas, que foi criticada em seus
pontos negativos (Sallows & Graupner, 2005), vem sendo aperfeiçoada e constituiu o cerne
do que é hoje conhecido como EIBI (Early and Intensive Behavioral Intervention).
programas de intervenção ao autismo via ensino de cuidadores tem que ser estudada no
contexto brasileiro, como uma possível alternativa viável e efetiva no tratamento de crianças
desenvolvimento de novos repertórios em crianças com autismo foi realizado por Sallows e
Graupner (2005). O objetivo desse estudo foi verificar a replicabilidade do trabalho de Lovaas
(1987), sem a estrutura de um grande centro e sem uso de estimulação aversiva. O estudo foi
realizado com dois grupos de crianças: o primeiro atendido via profissional, chamado de
6 a 10 horas de atendimento em casa por semana com um supervisor, e 1 hora por semana
com o supervisor geral. O grupo de intervenção via cuidadores contou com dez participantes,
as crianças eram atendidas em média 31 horas por semana pelos cuidadores, em média eram
realizadas 6 horas de supervisão em casa e uma hora a cada dois meses de reunião com o
supervisor geral. Os resultados foram semelhantes aos de Lovaas (1987), com a maioria das
como as acadêmicas (Sallows & Graupner, 2005). Entre os preditores de bons resultados
destaque. De acordo com Kaplan e Sadock (2007), o uso da linguagem comunicativa por
crianças diagnosticadas com TEA, especialmente até os 7 anos, está relacionada com os
melhores prognósticos na vida adulta. Ensinar a criança a pedir pelo que deseja (mando –
82
Skinner (1957/1992) definiu o comportamento verbal como um comportamento
operante cuja relação com as consequências que o mantêm é mediada por outras pessoas
verbais, que inicialmente são controladas pela identidade entre o estímulo e a própria
resposta. Posteriormente, respostas verbais aprendidas como ecoicos podem assumir outras
Já o mando é a categoria pela qual as pessoas solicitam, dão ordens, conselhos, fazem
perguntas, pedem atenção, ou seja, requerem reforçadores específicos (Barros, 2003; Passos,
estímulos aversivos), sendo mantido, por um ouvinte, pela apresentação de reforço positivo
ou a remoção do estímulo aversivo especificado no pedido ou ordem (Barros, 2003; Brino &
Souza, 2005; Leblanc et al., 2011; Passos, 2003). O déficit no repertório de mando é
considerado um dos mais evidentes e duradouros em crianças com autismo (Weiss, 2001).
O ensino do mando tem sido usado para o treino de diferentes habilidades. Ingvarsson
e Hollobaugh (2010) ensinaram quatro crianças com autismo a emitir mandos (nesse caso na
forma de perguntas) através do uso de dica modelo vocal imediata e atrasada. Lechago, Carr,
Grow, Love e Almason (2010) ensinaram três meninos com autismo a emitir mandos por três
83
informações diferentes até conseguirem o item desejado. Cada pergunta era ensinada
separadamente antes de uma tentativa que envolvesse fazer as três perguntas. Shillingsburg,
Powell e Bowen (2013) ensinaram cinco crianças com autismo a emitir mandos para a
ouve apenas a resposta que deve emitir, está relacionado com bons resultados, seja através do
uso de botões que reproduzam a fala (cf. Betz, Higbee, Kelley, Sellers, & Pollard, 2011), ou
da dica ecoica (ou dica modelo vocal3) apresentada vocalmente por uma pessoa (cf. Kodak &
Clements, 2009). No estudo de Kodak e Clements (2009), um menino com autismo que não
um treino de ecoico era realizado antes dos treinos de mando e tato e estes eram realizados
extinção tem se mostrado como uma possibilidade para aumento dessa variabilidade (Betz,
Hanley, Ingvarsson e Tiger (2007) sugerem treinos alternados dos repertórios de mando e
mando com autoclítico, com reforçamento diferencial e uso de dica modelo vocal. Os
3
Embora boa parte da literatura mencione o termo “dica ecoica”, optamos por usar o termo “dica
modelo vocal” (DMV) por ser mais preciso, uma vez que a dica em si não é ecoica, mas sim a resposta à dica
84
resultados desses autores também mostram que o ensino de mandos pode reduzir
(OM) e outros estímulos, como a dica modelo vocal ou apresentação do estímulo que será
entregue como reforçador do mando. Esse controle múltiplo dificultaria a emissão de mandos
espontaneamente, uma vez que sem a dica verbal ou sem a presença do estímulo a criança
poderia não emitir o mando (Sweeney-Kerwin, Carbone, O’Brien, Zecchin, & Janecky,
2007). Sweeney-Kerwin et al. (2007) realizaram um procedimento para que o mando ficasse
sobre o controle apenas da OM. Para isso, eles consideraram como mando apenas aqueles que
ocorriam após 15 segundos de o estímulo ter sido entregue e consumido ou que ocorriam sem
social natural inclui componentes autoclíticos que, neste caso, consistiriam em componentes
operantes da resposta verbal com função de modificar ou modular o mando de forma a torná-
lo mais efetivo na produção das consequências específicas que o mantêm. Assim, ao solicitar
algo (mando), a inclusão de componentes operantes como “por favor”, por exemplo,
experimentos na área é realizado por Ingvarsson (2011), porém com um menino com parcial
com autoclítico quando itens preferidos eram usados, porém com pouca generalidade. Não há
85
dados relatados na literatura sobre a eficácia de procedimentos de intervenção indireta para
comportamental para ensino de mandos, com e sem autoclíticos, através de dica modelo vocal
Método
Participantes
cuidadores participaram dos programas: um menino, Vítor de 5 anos, e duas meninas, Luna 6
anos e Jéssica 5 anos. Todas apresentavam comportamento ecóico, mas não apresentavam
porque foi prematuramente desligada do programa em razão de a família ter se mudado para
outro estado.
Ambiente
Os dados foram coletados uma vez por semana nas instalações de uma universidade
pública do norte brasileiro e na casa dos participantes, em média quatro vezes por semana. A
sala de atendimento continha cinco mesas e 16 cadeiras infantis, dois armários e brinquedos
Ensino de Cuidadores
86
Os cuidadores haviam passado por um programa de Ensino de Cuidadores onde eles
através método Keller (1999), com 16 a 20 horas de ensino de aplicação de programas, onde
era realizada: leitura dos programas, análise de vídeos com a aplicação, demonstrações dos
monitor com a criança e tentativa supervisionada do cuidador com a criança. Eles já haviam,
suas crianças.
Teste de Preferência
Stimulus Without Replacement, MSWO (Carr, Nicholson, & Higbee, 2000; DeLeon & Iwata,
1996) Neste teste, cinco brinquedos eram apresentados ao mesmo tempo em uma mesa, e a
criança era instruida a escolher um. Ela interagia por cerca de 10 segundos com o brinquedo.
Após esse período, era solicitado que a criança escolhesse outro brinquedo. Isso era repetido
até que restasse apenas um brinquedo. Todos os cinco itens eram então reapresentados,
reiniciando o procedimento por mais duas vezes. Os três que haviam sido escolhidos por
primeiro mais vezes eram usados durante a sessão. Caso a criança demonstrasse interesse por
outro item que não havia sido selecionado para o programa, este era imediatamente inserido
no programa.
Linha de Base
cinco tentativas em cada passo, com 5 segundos de espera pela resposta. Não eram fornecidas
87
dicas como perguntar “o que você quer?”, caso ela não respondesse. O ensino era iniciado
pelo passo onde a criança apresentasse no mínimo 4 acertos, ou era iniciado pelo Passo 1, se a
Programas
os seguintes passos:
imediatamente dizia o mando ou o mando com autoclíticos e esperava até 3s pela resposta.
resposta independente da criança. Se ela não ocorresse, ele dizia o mando ou o mando com
item e esperava 5s pela resposta independente. O mando emitido pela criança em uma
sem realização deste programa, a criança deveria emitir o mando ou mando com autoclítico
em uma situação não estruturada e com uma pessoa que não o cuidador.
Para o ensino de mando, não foram formados grupos de estímulos, sendo utilizados
todos os itens pelos quais a criança demonstrasse interesse. Quando os Passos 4 e 5 foram
múltiplos exemplares: “Eu quero X”, “Me dá X”, “Posso X?”, “Por favor, X”. Além disso, foi
realizado uma sondagem antes de começar os Passos 1 e 2, através de três tentativas para
verificar resposta independente. Se a criança acertasse duas tentativas o bloco era realizado no
Passo 3.
tentativas.
Os critérios para troca de passo eram: (1) para avançar o passo, mais de 90% de
para retornar o passo, menos de 75% de acertos. Os cuidadores realizavam um bloco por dia.
Alguns exemplos de como realizar o programa de modo incidental eram ensinados aos
pais, mas nenhuma forma de controle desta forma de ensino era realizada, nem era cobrado
dois pais que fizessem esse tipo de ensino. Além disso, outros programas de ensino eram
Correção de Erro
A resposta era considerada errada caso a criança não respondesse dentro do tempo
erro. Por exemplo, se a criança pedisse usando o mesmo mando da tentativa anterior, o
cuidador retirava o item da vista da criança e olhava para o lado por 5s. Após esse tempo ele
apresentava o item novamente e emitia mando com autoclítico (correto, ou seja, diferente
daquele apresentado pela criança) e esperava ela repetir de acordo com o passo. Se a criança
acertasse a resposta ela não era reforçada: ao invés disso, se iniciava uma nova tentativa com
89
o item sendo mais uma vez apresentado para criança. Se a criança errasse por três vezes
consecutivas, uma resposta fácil era pedida e ela recebia um reforçador de menor magnitude.
aplicação dos programas. Eles preenchiam folhas de registro entregues antes da aplicação de
cada programa. Ao final de uma semana, eles retornavam para a sessão de supervisão
trazendo os dados. Uma sessão de aplicação do programa era realizada e filmada durante a
sessão de supervisão de forma que a confiabilidade dos dados trazidos de casa era verificada.
Em nenhum caso foi encontrada discrepância entre os valores trazidos nas folhas de registro
das sessões feitas em casa e aqueles valores obtidos nas sessões no laboratório.
Resultados
Luna iniciou o programa de DMV (Dica Modelo Vocal) para Mando, com 8% de
acertos e encerrou com 100%, já Vítor e Jéssica iniciaram com 0% de acertos e encerraram
com 100%. No programa DMV para mando com autoclítico, Luna e Vítor iniciaram com 0%
90
100%
Frequência de Acertos
80%
60%
40%
20%
0%
1a. Sessão Mando Última Sessão Mando 1a. Sessão de Mando Última Sessão de
com Autoclítico Mando com
Autoclítico
Sessões
Figura 1. Primeira e última sessão de Luna, Vítor e Jéssica nos Programas DMV para Mando
e DMV para Mando com Autoclítico.
Vítor iniciou o programa do Passo 1. Observou-se que que ele permaneceu mais
tempo do que deveria, nos Passos 1, 2 e 3, de acordo com os critérios para avanço de passo
(ver Figura 2). Isso aconteceu devido à cuidadora não realizar a troca de passos em casa, o
que acabava acontecendo apenas na supervisão semanal. Nos Passos 4 e 5, Vítor apresentou
mando com autoclítico, programa já iniciado neste momento; porém, ele falou apenas “eu
quero, o X, sim” e “por favor, o X, sim” o que será discutido adiante. Ao final do programa
Vítor emitia 33 mandos, sendo que 21 não havia sido diretamente ensinados (ver Figura 5).
cuidadores de Luna tentaram realizar a mudança de passo em casa. Contudo, houve alguns
erros no seguimento dos critérios: Eles avançaram para o Passo 2 sem que houvesse atingido
o critério, e para o Passo 3 um bloco após o critério ter sido atingido. Isso, contudo, não
prejudicou o desempenho da criança, que atingiu a independência no Bloco 11. Nos Passos 4
91
e 5, a criança apresentou mando com variedade de autoclíticos. Ao final do programa Luna
emitia 17 mandos independentes sendo que 6 não havia sido diretamente ensinados (ver
Figura 5).
Jéssica iniciou o programa no Passo 1. Uma diferença nos dados de Jéssica é que a
cuidadora realizava as trocas de passo com maior precisão que os cuidadores das outras
crianças do estudo. No Bloco 7, ela começou o Passo 3, porém, como houve baixa precisão de
desempenho, voltou de passo. Ela é a única criança a retornar de passo e a primeria criança a
atingir 100% de acertos, no Bloco 10. Os Passos 4 e 5 de Jéssica foram executados após dois
meses sem quaquer tipo de intervenção, uma vez que a criança havia viajado para outro
durante o Passo 5 de o desempenho foi de 0%, a criança apenas esticava a mão para pedir pelo
item. Ao final do programa, Jéssica emitia 17 mandos, sendo que 4 não haviam sido
e aprendidos. Essa diferença ocorreu pois algumas vezes as crianças não demosntravam
interesse, durante os passos independentes, por estímulos que elas se interessaram durante oo
ensino.
100% LB
Frequência de Acertos
80%
60%
40%
20%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Blocos
92
Figura 2. Frequência de acertos por blocos do programa de DMV para Mando do Vítor.
100%
LB
Frequência de Acertos
80%
60%
40%
20%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Blocos
Figura 3. Frequência de acertos por blocos do programa de DMV para Mando da Luna.
100%
LB
Frequência de Acertos
80%
60%
40%
20%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Blocos
Figura 4. Frequência de acertos por blocos do programa de DMV para Mando da Jéssica.
93
35
30
Número de Mandos
25
20
15
10
5
0
DMV Independente Independente Total
Ensianados Emergiu
Tipo de Mando
criança deveria ter avançado para o Passo 2 no Bloco 5 e para o Passo 3 no Bloco 8, em
função da sondagem. Um novo ensino aos cuidadores sobre como trocar de passos foi
permanecendo no Passo 3, mesmo com desempenho de 75% pois sempre que ela ia retornar o
passo o critério da sondagem era alcançado. Quando o Passo 4 foi realizado no laboratório,
observou-se que a criança estava apresentando apenas duas variações de mando “eu quero, o
X, sim”, “por favor o X, sim”. Durante o procedimento de correção de erro a criança quase
não repetia a frase diante da dica modelo vocal da mãe “eu quero X”: ao invés disso, ela dizia
“sim”. Após três tentativas de correção, caso a resposta adequada não ocorresse, a mãe pedia
94
Luna iniciou o programa no Passo 2. No Bloco 4, ela retornou para o Passo 1 onde
permaneceu por cinco blocos, apesar de ter atingido o critério. Os avanços de passo
desempenho de 100% no Bloco 14. Nos Passos 4 e 5, ela apresentou 100% de acertos (ver
Figura 7). Nos Passos 4 e 5, a criança emitiu os seguintes mandos, “eu quero X, por favor”,
“me dá X, por favor”, “Por favor, fazer X”. Apesar de ela não emitir o mando “posso X?”,
observa-se que ela apresentava novas variações de mando não diretamente ensinadas,
100% LB
90%
Frequência de Acertos
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Blocos
Independente PASSO 1 - DV
Passo 2 - 3s + DV Passo 3 - Independente
Passo 4 - RCE Sondagem
Figura 6. Frequência de acertos por bloco no programa DMV para mando com autoclítico do
Vítor.
95
100%
Frequência de Acertos LB
80%
60%
40%
20%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Blocos
Figura 7. Frequência de acertos por bloco no programa DMV para mando com autoclítico da
Luna.
Discussão
mandos (com e sem autoclíticos) a crianças diagnosticadas com autismo, por dica modelo
vocal fornecida pelo cuidador. Para isso, foi utilizado um procedimento de ensino através de
O mesmo resultado foi encontrado por Kodak e Clements (2009), porém esses autores
realizam, além da dica modelo, um treino de ecoico antes do treino de mando e um treino de
tato dos estímulos ensinados durante o mando. Os dados aqui apresentados indicam que o
96
repertório de mando pode ser aprendido com o uso de procedimentos mais simples e sendo
repertório, com todas as crianças tendo apresentado mandos não ensinados, especialmente
Vítor que apresentou 21 novos mandos. Esse resultado de Vítor pode ser decorrente da
característica da criança que passava menos tempo com um brinquedo, variando assim com
essencial pois, leva à aquisição do repertório sem necessidade de ensino direto. Porém, este
resultado ocorre com pouca frequência em procedimentos onde apenas o mando é ensinado
ensino alternado de tato e mando com MEI (cf. Nuzzolo-Gomez & Greer, 2004) ou o com o
ensino alternado de mando com mando com autoclítico (cf. Hernandez et al., 2007). Uma
grupo pré-determinado estaria mais próximo ao contexto natural de ensino. Um outro aspecto
que pode explicar o dado é que os pais relatavam realizar o ensino incidental com bastante
frequência em casa, o que pode ter contribuído para a generalidade (ou mais precisamente a
produtividade do repertório). Porém essa é uma variável quer precisa ser melhor controlada
Outra questão interessante é que Vítor e Luna passaram a apresentar apenas mando
com autoclítico nos Passos 4 e 5, programa que estava sendo ensinado a essas crianças
durante o mês em que o programa de ecoico para mando não era mais realizado. O mesmo
não ocorreu com Jéssica, que saiu do projeto e não passou pelo programa de DMV para
mando com autoclítico (ver Figura 4). Esse resultado é similar ao encontrado por Hernandez
et al. (2007), reforçando a ideia de que a aprendizagem de repertórios verbais mais complexos
97
como o mando com autoclítico pode depender da extinção de repertórios menos complexos
como o mando.
Outra questão importante é que a criança apresentou 100% de acertos no Passo 4, mas
com a cuidadora, mesmo sem a continuidade do tratamento, mas esse repertório não é
estendido a outras pessoas. Supõem-se que esse resultado seja decorrente da baixa exposição
da criança a outras pessoas durante o período ausente, o que foi relatado pela mãe. Entretanto,
Para o ensino de mando com autoclítico, o procedimento se mostrou eficaz para Luna.
A criança não apenas aprendeu a emitir os mandos com autoclíticos ensinados em 14 sessões
(ver Figura 7), como passou a apresentar variações destes com novas classes gramaticais não
diretamente ensinadas. Este dado é extremamente importante e o que o gerou precisa ser
melhor investigado em pesquisas futuras. Uma hipótese é que ele esteja relacionado ao uso de
mando com autoclíticos de modo incidental, uma vez que os cuidadores de Luna eram os que
Vítor, por sua vez, apresentou restrição do repertório para apenas dois tipo de mando.
Esse resultado pode ser decorrente da não adequação do procedimento de correção de erro no
qual a criança muitas vezes não emitia o mando durante a tentativa de correção. Além disso,
Vítor entrava em contato com um reforçador, mesmo que de menor magnitude, após três
tentativas, o que também pode ter levado a ficar sob controle de um esquema de razão fixa.
Sugere-se como alternativa para o ensino dessa criança nova aplicação do ensino com
múltiplos exemplares, porém com mudança no procedimento de correção de erro para o uso
de extinção nas respostas repetidas, como o sugerido por Betz et al. (2011).
trocas de passo pelos cuidadores. Embora quase todos tenham mostrado essa dificuldade, a
98
única criança cuja aprendizagem foi prejudicada por este problema foi Vítor, durante o ensino
do programa ecoico para mando. Esse problema parece ter duas fontes: a primeira a
dificuldade em fazer o cálculo necessário para a troca de passo, o que poderia ser resolvido
através de recursos informatizados como uma planilha programada para avisar que passo o
cuidador deve fazer toda vez que ele inserisse os dados. A segunda é mais delicada: muitos
pais sabem como trocar os passos, mas não o fazem por terem receio de errar ou por não
querer retornar um passo com a criança ou reforçam respostas que deveriam ser consideradas
erradas por não querer registrar um erro. Neste caso, há necessidade de um trabalho de
de mandos quando o estímulo não está presente; controle dos mandos emitidos durante a fase
Considerações Finais
via cuidadores para o ensino de mandos e mando com autoclíticos. Um dos poucos dados
como este foi encontrado Ingvarsson (2011) contudo, com crianças com parcial
mostra-se como uma alternativa eficaz para o ensino de crianças com TEA seguindo os
elementos fundamentais apontados desde Lovaas (1987), porém demandando um menor custo
intervenção ao autismo no contexto cultural local, com claro impacto tanto para a teoria
99
quanto para o desenvolvimento de tecnologia social aplicada, na direção de dar mais amplo
acesso a procedimentos com evidências empíricas de eficácia, para a população afetada pelo
autismo no Brasil.
Referências
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103
Intervenção via cuidadores para o ensino de tato com autoclítico em crianças com
diagnóstico de autismo.
Resumo
Autismo foi avaliada em contexto aplicado no Brasil. Foram ensinados repertórios de tato e
tato com autoclítico. Participaram três crianças diagnosticadas com TEA (e seus respectivos
cuidadores), dois meninos (4 e 5 anos de idade) e uma menina (6 anos), sem repertório de
programas através de tentativa discreta e registrar os dados. Após o treino, passaram a ser
para o ensino de tatos com autoclíticos, com todas as crianças registrando 0% de precisão de
final de ensino. Foi também avaliada a manutenção do desempenho um mês após o treino,
com registro de manutenção total para uma criança e parcial para duas. Os dados mostraram
que a intervenção via cuidadores é uma forma promissora de dar amplo acesso a intervenção
Abstract
evaluated in applied context in Brasil. We taught tact and tact with auticlitic. Three children
diagnosed with ASD (and their respective carevivers) participated (one girl and two boys).
104
They had no tact with autoclitic repertoire. The caregivers were systematically taught how to
carry out the teaching programs and record the data. After that, they were given systematic
supervison once a week. The data show the effectivity of the caregiver-based intervention to
teach tact with autoclitics, with all children showing 0% accuracy performance during
baseline measurement and pertantage close to 100% accuracy at the final training. The
maintenance of the repertoire was also avaluated in a follow-up session a moth after, with
one child showing total and two partial maintenance. The data show that caregiver-based
105
De acordo com o DSM V (APA, 2013), os Transtornos do Espectro do Autismo
(TEA) são caracterizados pelo déficit em comunicação e interação social, sendo observados a
primeiros sinais aparecem ainda na primeira infância e prejudicam diferentes âmbitos da vida
da criança.
TEA (Cohen, Amerine-Dickens, & Smith, 2006; Eikeseth, Klintwall, Jahr, & Karlsson, 2012;
Eikeseth, Smith, Jahr, & Eldevik, 2002; Eldevik, Hastings, Jahr, & Hughes, 2012; Lovaas,
2003; Sallows & Graupner, 2005; Smith, Eikeseth, Klevstrand, & Lovaas, 1997). Esses
aplicação dos programas de ensino eleitos conforme criteriosa avaliação do caso, vem
despontando como uma alternativa viável em termos de custos. Esta forma de intervenção é
maioria dos estudos, os cuidadores passam a receber orientação profissional regular (cf.
Gillett & LeBlanc, 2007; Matson, et al., 2009, Sallows & Graupner, 2005; Smith, Buch, &
Gamby, 2000).
Extensa pesquisa sobre sua eficácia, e sobre seus pontos fortes e fracos, deve ser
intervenção via cuidadores ainda é pouco investigada. Uma revisão feita por Wolery e
Garfinkle (2002) sobre a intervenção comportamental mostrou que apenas 7 dos 72 estudos
analisados foram realizados via cuidadores. McConachie, Philp, e Diggle (2007), por sua vez,
106
realizaram uma revisão apenas dos trabalhos de intervenção via cuidadores e encontraram
poucos estudos adequados na área. Além disso, apesar de esses estudos sugerirem a melhora
informação.
verbais é um dos mais importantes. Tanto por estarem correlacionados com os melhores
prognósticos para a vida adulta (Kaplan & Sadock, 2007), quanto por envolverem um
repertório esperado pelos pais e pela sociedade uma vez que facilita a interação e inclusão da
criança.
O ensino de repertório verbal via cuidadores pode ser realizado através de diferentes
métodos de ensino. Gillett e LeBlanc (2007), por exemplo, ensinaram três cuidadores a
habilidade seria ensinada. Segundo esses autores, esse método favorece a generalidade do
nos três participantes. Porém não há especificações sobre que tipo de repertórios verbais são
Hsieh et al. (2011) realizaram o treino de três cuidadores, através de ensino incidental.
solicitar um item ou atividade, para isso os pais deviriam: organizar o ambiente, conseguir a
atenção da criança, fornecer uma dica, esperar 5s pela resposta da criança, reforçar ou corrigir
significativamente.
107
O ensino pode ainda ser realizado através de tentativa discreta. Nessa estratégia de
tentativa discreta pode facilitar o ensino de diversas habilidades, como as sociais, acadêmicas
e de linguagem. Esta forma de ensino é uma das mais comumente usadas no treinamento de
crianças com autismo (Lafasakis & Sturmey, 2007; Matson et al., 2009).
O ensino de pais para o uso de tentativa discreta foi investigado, por exemplo, por
Lafasakis e Sturmey (2007). Eles ensinaram três pais de crianças com autismo a aplicarem
Outro estudo que usou tentativa discreta foi realizado por Crockett et al. (2007). Duas
mães foram ensinadas a realizar tentativa discreta para ensinar os repertórios de: atender ao
nome, tato, brincar com bola e ecoico para uma criança e de atender ao nome, escrever,
contar e escolher para outra criança. Os resultados mostraram que os cuidadores aprenderam
a usar a tentativa discreta corretamente. Entretanto, os ganhos para as crianças foram leves,
Smith et al. (2000) investigaram a intervenção via cuidadores, com o uso de tentativa
mostraram que nos cinco primeiro meses, cinco das seis crianças estudadas apresentaram
ganhos nas áreas da linguagem receptiva, imitação verbal e não verbal. Entretanto, os testes
de follow-up, cerca de dois a três anos após o ensino, demonstraram manutenção das
habilidades para apenas duas crianças, embora os pesquisadores não tivessem controle sobre
108
o que aconteceu neste período. Além disso, os pais aprenderam a usar o procedimento de
que a intervenção via profissional poderia ser mais efetiva que o ensino via cuidadores.
investigada em todos os seus aspectos. É possível que essa forma de intervenção seja muito
apropriada para gerar ganhos em todas as áreas de déficits da população afetada, entre elas o
(discriminativo) é não-verbal e é descrito pela própria resposta (Brino & Souza, 2005;
Skinner, 1957/1992). A aprendizagem do Tato está relacionada, dentre outras coisas, com o
Eshleman, 2012).
O Tato é mantido por reforçamento social generalizado. Uma vez que crianças com
autismo podem apresentar baixa sensibilidade a este tipo de reforçamento, seu ensino pode
ser difícil. Além disso, diferente do Mando - que ocorre no contexto da motivação da criança
para obter acesso a algo - os estímulos usados no ensino do Tato podem ser irrelevantes para
a criança (Sundberg, Endicott, & Eigenherr, 2000). É por isso que alguns autores apontam a
importância das operações motivadoras para a aprendizagem deste repertório (e.g. Davis,
A adequação do repertório de Tato a situações sociais está relacionada com o seu uso
em conjunto com respostas autoclíticas, que modulam e modificam esses tatos. O uso de
ensino padrão onde é realizada uma pergunta do tipo “o que é isso?”; uso de intraverbal;
estímulos textuais; dica ecoica e até linguagem de sinais (Sundberg et al., 2000; Valentino &
Shillingsburg, 2011). Além disso, alguns estudos têm investigado a emissão de tato a partir
do ensino conjunto deste com os repertórios de mando e ecoico (e.g. Kodak & Clements,
(e.g. Finn, Miguel, & Ahearn, 2012). Embora seja amplamente investigado na intervenção
via profissionais, o ensino de repertórios verbais, em especial o tato, ainda é pouco explorado
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi propor e avaliar um programa de ensino de
tato com autoclítico para crianças com diagnóstico de autismo, através de seus cuidadores, e
investigar a manutenção desse ensino, com o cuidador e com outras pessoas, após um mês
sem intervenção. As crianças foram ensinadas a nomear objetos do seu cotidiano, como o
Método
Participantes
Participaram do estudo três crianças, dois meninos e uma menina, com diagnóstico de
TEA e seus respectivos cuidadores. Vítor (5 anos) e sua mãe Vitória (43 anos); Haroldo (4
anos) e sua mãe Heloísa (26 anos) e Luna (6 anos) e seu pai Lucas (46 anos) e sua Lúcia (42
anos). Todos os cuidadores haviam concluído pelo menos o Ensino Médio. Todas as crianças
4
Embora boa parte da literatura mencione o termo “dica ecoica”, optamos por usar o termo “dica
modelo vocal” (DMV) por ser mais preciso, uma vez que a dica em si não é ecoica, mas sim a resposta à dica
modelo vocal, quando ocorre é que é uma resposta ecoica.
110
apresentavam repertório ecoico, além de emitirem alguns variedades de mando e tato, mas
Ambiente
Os dados foram coletados pelos cuidadores, uma vez por semana nas instalações de
uma universidade pública do norte brasileiro e, no mínimo quatro vezes por semana, na casa
dos participantes. A sala de atendimento continha cinco mesas e 16 cadeiras infantis, dois
Ensino de Cuidadores
Nesta fase, eram realizadas as seguintes atividades: leitura dos programas, análise de vídeos
cuidador com a criança. Eles já haviam, no momento da presente pesquisa, aplicado cerca de
oito programas pré-requisitos para as suas crianças (atender ao nome, atenção ao estímulo,
imitação com objeto, imitação sem objeto, sentar, esperar, toque aqui e rastreamento visual),
sessão de supervisão trazendo os dados. Uma sessão de aplicação do programa era realizada e
filmada durante a sessão de supervisão de forma que a confiabilidade dos dados trazidos de
casa era verificada. Em nenhum caso foi encontrada discrepância entre os valores trazidos
nas folhas de registro das sessões feitas em casa e aqueles valores obtidos nas sessões no
laboratório.
Teste de Preferência
Stimulus Without Replacement, MSWO (Carr, Nicholson, & Higbee, 2000; DeLeon & Iwata,
1996). Neste teste, cinco brinquedos eram apresentados ao mesmo tempo em uma mesa, e a
criança era instruída a escolher um. Ela interagia por cerca de 10 segundos com o brinquedo.
Após esse período, era solicitado que a criança escolhesse outro brinquedo. Isso era repetido
até que restasse apenas um brinquedo. Todos os cinco itens eram então reapresentados,
reiniciando o procedimento por mais duas vezes. Os três que haviam sido escolhidos mais
vezes eram usados durante a sessão como reforçadores. Caso a criança demonstrasse
interesse por outro item que não havia sido selecionado para o programa, este era
Linha de Base
onde foi investigado se as crianças emitiam tato com autoclítico de modo independente ou
com DMV, após 3 segundos de espera. A partir deste resultado, o cuidador era orientado
112
Programa
Luna e Vítor foram ensinados a realizar tato com autoclítico de dois grupos com cinco
estímulos em cada. Haroldo foi ensinado a tatear três grupos com cinco estímulos em cada.
Os estímulos utilizados em cada grupo variaram de criança para criança, uma vez que os pais
O programa de tato com autoclítico foi realizado de acordo com os passos descritos
abaixo:
resposta independente da criança. Se ela não ocorresse, ele emitia o tato com autoclítico e
tato com autoclítico com uma pessoa diferente do cuidador. Esse passo foi realizado após o
As respostas corretas eram seguidas por elogios. De acordo com a criança, também
respondesse errado, era aplicado o procedimento de correção de erro, que será detalhado a
seguir.
113
Os pais eram instruídos a realizar o programa no mínimo quatro vezes por semana. A
duração do ensino variava de criança para criança, uma vez que elas realizavam outros
“intraverbal sim/não”.
aos pais, mas nenhuma forma de controle deste ensino era realizada, nem era cobrado dois
Mudança de Passo
eram realizadas três tentativas. Caso a criança acertasse duas tentativas, o cuidador avançava
para o Passo 3.
Para avançar o passo, a criança deveria ter mais de 90% de acertos em dois blocos
de 75% de acertos, ela retornava ao passo anterior. Os cuidadores realizavam um bloco por
dia.
tentativas.
Correção de Erro
A resposta era considerada errada caso a criança não respondesse dentro do tempo
erro. Por exemplo, se a criança não emitisse o tato com autoclítico ou emitisse um tato que
DMV e esperava a resposta ecóica da criança, de acordo com o passo. Respostas corretas em
tentativas de correção com DMV não eram reforçadas: ao invés disso, se iniciava uma nova
tentativa com o item sendo mais uma vez apresentado para criança. Se a criança errasse por
três vezes consecutivas, para manter o engajamento da criança, o aplicador solicitava uma
menor magnitude, ou seja, algo que ela gostava, mas não era o reforçador preferido.
Resultados
Como pode ser observado na Figura 1, Luna começou o ensino do Grupo 1 no Passo
sondagem e avançou para o Passo 3, apresentando 100% de acerto. Nos Passos 4 e 5, Luna
Passo 1. Após dois blocos ela avançou para o Passo 2 e após mais três blocos para o Passo 3
onde obteve 100%. Nos Passo 4 e 5 o desempenho foi 75% em ambos. O repertório de Luna
nos dois Grupos ficou independente após uma média de 4,5 blocos de ensino.
115
100%
200%
80%
180%
60%
160%
40%
140%
Percentual de Acerto
20%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Blocos
G1 G2 G1 - P1 G1 - P2 G1 - P3 G1 - P4 G1 - P5 Sondagem
Figura 1. Percentual de acerto no ensino de tato com autoclítico para Luna, com os
percentuais de acerto em cada bloco de tentativas em cada passo (P1 a P5) do procedimento
de treino.
Vítor iniciou o Grupo 1 no Passo 2, e após dois blocos atingiu critério de Sondagem e
avançou para o Passo 3, antes da porcentagem de acertos ter atingido o critério para avanço
de passo, e o desempenho foi de 65%. Sendo assim, no Bloco 3 ela deveria ter retornado o
repertório de Vítor nos Grupos 1 e 2 ficou independente após uma média de 2,5 Blocos de
Ensino.
116
200%
100%
180%
80%
60%
160%
40%
140%
Percentual de Acerto
20%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Blocos
Figura 2. Percentual de acerto no ensino de tato com autoclítico para Vítor, com os
percentuais de acerto em cada bloco de tentativas em cada passo (P2 a P5) do procedimento
de treino.
Haroldo foi a única criança a realizar três grupos de estímulos, tendo todos iniciados
do Passo 1. O Grupo 1 iniciou com 91% de acertos. A cuidadora avançou para o Passo 2 e a
criança apresentou 42% de acertos. O retorno de passo não foi realizado na sessão seguinte
em função de Haroldo apresentar critério por sondagem para avançar para o Passo3, onde ele
se manteve nos Blocos seguintes com desempenho de 80%, 77%, 85%. Nos Passos 4 e 5, a
cuidadora avançou para o Passo 3 ao invés de avançar para o Passo 2. Essa mudança fez com
117
que o desempenho caísse para 67% de acertos. Os cuidadores não retornaram ao Passo 2 nos
Blocos seguintes pois Haroldo atingia sempre o critério da Sondagem e se mantinha no Passo
e se manteve neste Passo pela sondagem. Na Figura 3, é possível perceber uma melhora
crescente no desempenho da criança. Nos Passos 4 e 5, o desempenho foi 83% para ambos. O
100%
300%
80%
280%
60%
260%
40%
240%
20%
220%
100%
200%
Percentual de Acerto
80%
180%
60%
160%
40%
140%
20%
120%
100%
80%
60%
40%
20%
0%
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Blocos
Figura 3. Percentual de acerto no ensino de tato com autoclítico para Haroldo, com os
percentuais de acerto em cada bloco de tentativas em cada passo (P2 a P5) do procedimento
de treino.
118
Por fim, a Figura 4 mostra o percentual de acertos na Linha de Base, no Passo 3 e no
Passo 5. É possível observar que Vítor, Haroldo e Luna não possuíam repertório
independente de tato com autoclítico antes da intervenção dos cuidadores. Essa habilidade foi
apresentada com mais de 90% de acertos para as três crianças no Passo 3. Após um mês do
término do ensino e com outras pessoas apresentando os estímulos (Passo 5), o percentual de
acertos, considerando todos os grupos, de Vítor foi de 60%, de Luna de 78% e de Haroldo de
94%.
100%
80%
Percentual de Acerto
60%
40%
20%
0%
Vítor Haroldo Luna
Discussão
O objetivo deste trabalho foi propor e avaliar um programa de ensino de tato com
autoclítico para crianças com diagnóstico de autismo, através da intervenção via cuidadores,
bem como averiguar a manutenção desse repertório com o cuidador e com outras pessoas, um
mês após o encerramento do programa. O ensino foi realizado através de DMV com e sem
atraso. Os dados obtidos apontaram a aprendizagem deste repertório por todas as crianças,
119
Como pode ser observado na Figura 4, Haroldo teve um aumento de 0% na Linha de base
para 92,5% no Passo 3 e 60% no Passo 5. Já Luna foi de 0% para 100% no Passo 3, e 78% no
Passo 5 e Haroldo foi de 0% para 91,6% no Passo 3 e 94%no Passo 5. Em pesquisas futuras,
sugere-se que a Linha de Base seja realizada com cada um dos estímulos usados no treino e
ensino de repertórios verbais e não apenas motores, como foi investigado pelos referidos
Os dados mostram ainda que o repertório de tato com autoclítico passou a ser emitido
de forma independente após uma média de 2,5 Blocos para Vítor, 4,5 Blocos para Luna e 3,3
contradizem a suposição de Crockett et al. (2007) de que seria necessário um grande número
de sessões para o repertório melhorar, sendo passível de observação após meses ou anos.
Além disso, embora para duas crianças os resultados após um mês sem intervenção
tenham sido inferiores aos resultados durante a fase de treino, o percentual de acertos ainda
diária ao programa, com Vitor apresentando 60% de acertos nessa fase, Haroldo 94% e Luna
78%. Entretanto, um teste de follow-up, após um período maior de tempo, como o realizado
por Smith et al. (2000) seria importante para investigar se há uma tendência decrescente no
desempenho da criança.
Outro ponto que deve ser investigado em pesquisas futuras é a variável que leva ao
bom desempenho de Haroldo nos Passo 4 e 5 (ver Figura 3) quando comparado a Vítor e
120
Luna. Uma hipótese é que esse desempenho esteja relacionado a operação motivadora dos
estímulos como colocado por Davis et al. (2012) e ao contato que a criança teve com aquele
estímulo durante o tempo sem treino. Neste caso específico de Haroldo, o que está sendo
nomeado aqui como tato poderia ser mais propriamente nomeado de mando. Porém, como
não houve teste de preferência dos estímulos utilizados para o ensino, afim de analisar o real
valor reforçador de cada um deles, nem registro do quanto as crianças interagiam com os
estímulos ensinados durante o tempo sem ensino, essa hipótese não pode ser confirmada.
Ao observar os dados de Haroldo (ver Figura 3), outro dado que destoa em relação às
demais crianças é que seu desempenho no Passo 5 é superior ao seu desempenho no Passo 4,
chegando a atingir 100% nos Grupos 1 e 2. É também possível que o desempenho no Passo 4
tenha sido inferior devido as respostas de birra da criança na presença da cuidadora, o que
para seguir o critério exato de mudança de passo, cometendo alguns erros. Dado similar foi
encontrado por Smith et al. (2000) que apontam que os cuidadores não aprendem a aplicar o
imprecisão não pareceu afetar o desempenho da criança que apresentou uma linha crescente
assistemática a emergência de novos tatos com autoclíticos, o que poderia ser investigado em
pesquisas futuras, bem como a transferência de função do repertório de tato para o repertório
121
O ensino de repertórios verbais a crianças com autismo através do treinamento de
autoclítico, com manutenção considerável deste repertório após um mês sem intervenção.
três crianças.
Referências
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psicologia, 9, 251-230.
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