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O castelo da onisciência

A espera podia ser justificada, afinal era um grande dia. Todos haviam se reunido à porta do
desventurado Dom Villerfield, que ao contrário do que o nome indica, não passava de um jovem
rapaz na véspera de seus 20 anos. Todos, sem exceção, tinham vindo para parabenizá-lo. Todos
seus amigos, claro. Na porta estava Terry SkyBee, uma garota que gostava de ser confundida
com um garoto, e é claro o ... Não, na verdade só estava ela mesmo. Dom não tinha muitos
amigos.
A cidade na qual os dois apresentados personagens residiam, não era muito conceituada. Diz a
lenda que a cidade tem um prêmio como o local onde os nomes menos combinam com os
moradores. A lenda também diz que ela ganhou dez anos seguidos do concurso. E concurso
existe a sete.
O céu da cidade turística era sempre cinzento, o que contradizia com o nome “Santo Céu” e
também com o próprio título de turística. Não é a única cidade assim, claro, mas a outra tem
cinzas caindo dos céus e demônios andando nas ruas, então a comparação não é muito boa.
“Santo Céu” também tem demônios que andam pela rua, mas estes ainda estão disfarçados de
seres humanos, esperando aquela minúscula brecha para poderem julgar uns aos outros e dar
as punições sociais sem fundamento. Poderia dissertar sobre isso por mais cinco páginas, mas o
resto da narrativa perderia a filosofia e o sentido no caminho. Não que tenha alguma.

Dom testava se sua franja ficaria melhor no lado esquerdo ou direito, quando Terry entrou em
seu quarto. Ela havia cansado de esperar e tinha uma cópia da chave, então que se dane. Ela
chutou a porta do banheiro ameaçando que se ele não saísse em cinco minutos este também
seria seu último aniversário. Dom sabia que Terry não fazia piadas. Desesperado olhou para os
lados até avistar seu segundo amigo, Charly, o chapéu fedora. “Bem na hora, Char” pensou
antes dos segundos que demorou até saltar em direção a ele, colocá-lo e rodopiar até a porta
destrancando-a com maestria de um dançarino nato. Terry riu quando o avistou. Terry não
entendia de moda.

“Onde quer ir hoje, mestre?” Dom previu que ela iria falar então respondeu sem que ela
perguntasse: Vamos para o castelo.

“Péssimo costume” poderia ter falado Terry, afinal ela odeia quem acha que sabe tudo, tirando
ela da lista, claro. Ela era feminista, afinal. A garota sabia que não importava o que ela falasse,
mesmo que dissesse que não existia o tal castelo, nada iria parar Dom. Dê para um humano o
poder de criar tudo o que quiser e logo verá o quanto isso sobe à cabeça. Acham que podem
fazer tudo, só porque podem mesmo.

- Sei o que está pensando, Terry. Não gosta que eu saiba, não gosta do meu chapéu. E também
quer saber, novamente, porque eu não explodo cidades e escravizo pessoas com o meu poder.

“ E então?” Terry pensou em falar.

- Não quero fazer isso. Pela terceira vez.

E esse simples monólogo respondeu as dúvidas que qualquer um poderia ter. Se você pode
fazer o que quiser, o que lhe impede de destruir tudo e criar de novo? Domingos e Segundas-
feiras, responderia Dom.
Eram 14:00 da tarde, Dom odiava sair naquela hora, era tão deprimente. Teria que estar em
casa ás 18:00, antes de escurecer, e sair ás 14:00 iria deixa-lo com pouco tempo. Quatro horas,
o que se pode fazer em quatro horas? A noção do tempo estar correndo e não há nada que
você possa fazer deixa qualquer um aterrorizado, até mesmo quem de fato pode fazer algo.
Dom pegou sua mochila, com tudo que precisaria em caso de um apocalipse repentino, o que
acontece com mais frequência do que você imagina.

“Onde fica o nosso destino?” Pensou Terry.

- Confie ele em mim, Tê. Já te desapontei antes?

“Esperar você foi um saco. Mas não que eu lembre.”

- Ótimo. Se você lembrasse iria ser um desastre.

Argumentar com Dom nunca parecia certo, não sobre assuntos metafísicos ou lógicos. A coisa
muda quando se tem uma visão universal de tudo. Ele era ótimo para falar sobre animações
japonesas, filmes de ficção científica e livros, contudo. Com jogos ele era meio traumático então
era bom riscar esse assunto da lista também.

Não tente. Ou tente e fracasse. Aliás, você pode até assumir que estava certo e viver com isso, é
o que muitos fazem. Bem, não tente imaginar o castelo, você não conseguiria. Afinal, ele não faz
o menor sentido. Era imponente e inexistente, enorme e compacto. Você poderia leva-lo no
bolso, mas ao entrar era infinito. Não tinha forma, era chamado de castelo pelo simples fato de
que Dom não havia gostado dos outros nomes. Tinha portas e corredores, entretanto algumas
delas estavam trancadas. Não podiam ser acessadas naquelas horas do dia ou eram velhos
demais para isso. Eis a vantagem de ter um deus como seu parceiro, Dom podia abrir todas elas
quando bem entendesse. Entretanto mesmo ele se recusava a chegar perto de algumas.
Poderia se dizer que ele mesmo as havia trancado.

Dom e Terry, a dupla dinâmica, saíram da casa e rumaram até o lugar de sempre. Terry cruzou
os dedos para que as crianças de Santo Céu não tenham invadido o Grande Território
novamente. Ela não queria nem saber se o parquinho era público ou não, ela só não gostava
daqueles insetos babando, correndo e estragando todo o clima.

- Terry, minha flor, toque o órgão. E sem pensamentos maliciosos nesse ponto, por favor.

Provavelmente ela deve ter falado “Seu desejo é uma ordem, Dom”, porque a música de fato
começou.

Três gangorras estavam posicionadas de forma bem conveniente uma ao lado da outra, e Dom
foi pulando uma por uma, e cada vez que a limitada física deste mundo entrava em ação
fazendo a gravidade descer os pontos altos das gangorras, um sino era tocado. Três badaladas,
de outra forma conveniente, era tudo o que Dom precisava.

Tudo ao redor deles foi mudando, assumindo novas cores, o que não fazia diferença, olhos
humanos não podiam identifica-las, mas elas existiam, em algum lugar, ao redor deles.

Terry estava fascinada. Novamente. Ela acenou para a árvore, que tirou a cartola para
cumprimenta-la.
Espelhos caíram do céu, refletindo suas verdadeiras faces, e Terry se recusou a olhar. Com os
olhos fechados em agonia por sempre odiar essa parte, ela pode escutar Dom pronunciar – A
franja fica melhor no lado esquerdo mesmo.

Cativante! Uma salva de palmas para a conquista de nosso grande amigo. É isso que ele quer, não
é? Atenção.

Aparência é uma coisa misteriosa. Saber como a pessoa que falamos se parece para muitos é
segurança, para outros é um terrível desconforto. Um belo exemplo, como Terry se parece? Se
isso fosse colocado na narração, você se sentiria mais confortável? Uma notícia ruim para você
então: perdemos a chance de fazer isso. Antes, mesmo com todas as probabilidades e
obstáculos, ainda se tinha a oportunidade. Mas e agora? Ela entrou no castelo, parceiro, sua
aparência pode ser qualquer uma. Um amigo meu, por exemplo, gosta de imaginá-la como um
canguru, e o que eu posso fazer sobre isso? Se divirta, imagine-a como desejar.

- Terry, querida, esse castelo é meu ou seu?

“Nosso?”

- Não, definitivamente meu. Você não tem tanta criatividade.

“O castelo está azul. Só azul.”

- Uma beleza, não é?

As cortinas se fecharam. O sol não deveria entrar no recinto, ou faria calor. Não que isso fosse
um problema, o lugar tinha uma iluminação própria, claro em muitas áreas e escuro onde não
devia se pisar. Os jovens atravessaram o saguão de entrada, gigantesco como o orgulho
humano, e caminharam pelos corredores labirínticos, em busca da sua próxima parada. Qual
era a missão deles? Eles tinham que ter uma missão?

Trinta e sete minutos se passaram, e esse pouco tempo foi o suficiente para faze-los se separar.
O lugar era cheio de truques como esse. Ele insistia em devorá-los, e para isso seria mais fácil
separá-los e pegar o mais fraco primeiro. Quando Terry se deu conta, Dom já havia
desaparecido.

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