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SISTEMA AGROFLORESTAL
Campo Montenegro
São José dos Campos, SP – Brasil
2018
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
de Abreu Marques, Mariana Gomes
Soluções baseadas na Natureza e a infraestrutura de abastecimento de água: análise de APP
ocupada por sistema agroflorestal / Mariana Gomes de Abreu Marques.
São José dos Campos, 2018.
72 p.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DE ABREU MARQUES, Mariana Gomes. Soluções baseadas na Natureza e a
infraestrutura de abastecimento de água: análise de APP ocupada por sistema
agroflorestal. 2018. 72 p. Dissertação de mestrado em Infraestrutura Aeroportuária –
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Mariana Gomes de Abreu Marques
TÍTULO DO TRABALHO: Soluções baseadas na Natureza e a infraestrutura de abastecimento de
água: análise de APP ocupada por sistema agroflorestal.
TIPO DO TRABALHO/ANO: Dissertação / 2018
__________________________________
Mariana Gomes de Abreu Marques
Av. Adhemar de Barros, 1737
CEP: 12245-010, São José dos Campos - SP
iii
AGROFLORESTAL
ITA
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, que por meio de minha fé, me fortaleceu ao colocar pessoas certas em minha
vida e abrir caminhos que conduziram a esta conquista.
Agradeço aos meus pais, Maria José e Melchior, por me ensinarem o valor do estudo
e do conhecimento, que permitem a emancipação do indivíduo para se tornar humano,
verdadeira parte do mundo. Ao meu marido, André, que me inspira com o seu
entusiasmo pela ciência, me emociona com a sua generosidade e me transforma com
o seu amor, retribuo com estas palavras de gratidão. Às minhas filhas, que me
ensinam a ternura e pelas quais multipliquei minhas capacidades e encontrei a fonte
de motivação para trabalhar e sonhar. À minha irmã Melina, mulher forte e inteligente,
que sempre me socorre. Nossa parceria é linda, para além desse mundo.
Ainda sou muito grata aos demais familiares e colegas, especialmente aos amigos
Thiago, Demerval e Walter. À professora Angélica que desde o início contribuiu com
ideias e sugestões que lapidaram esse trabalho.
Por fim, agradeço ao meu orientador, professor Wilson, que combina perfeitamente
duas qualidades: sabedoria e empatia. Durante estes anos, fui inspirada por suas
atitudes de sinceridade, respeito e combatividade na luta pela causa ambiental. Dessa
amizade, levo o crescimento pessoal e profissional que adquiri. Sem mais, estendo o
mesmo reconhecimento aos demais professores do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica.
RESUMO
ABSTRACT
Given the increasing demand for water resources caused by population growth, t is
opportune to think of strategies to increase the potential of our ecosystems to provide
water resources and ensure the regularity of this service. The Permanent Preservation
Areas (PPAs) were created with the function of mitigating anthropic pressure on the
environments from the spatial isolation. Today it is allowed the management of APPs
with agroforestry systems (SAF). The objective of this study is to evaluate the
components of the hydrological balance of a basin in the different configurations of the
APPs. The study area was the Jaguari Reservoir Basin, located in Paraíba Valley
region of São Paulo, recently integrated into the reservoir network of the Cantareira
system. The Seasonal Water Yield (InVEST) model was used for the evaluation of
ecosystem services. The simulations revealed that the PPAs occupied only by native
forest, there is a reduction of 3.0% of the surface runoff and, when occupied by SAF,
the reduction is 2.6%. Therefore, the SAF also has the ecosystem function of reducing
quickflow. More studies are needed to better understand which SAF configuration
ensures a better response to APPs. This work revealed the importance of knowing the
characteristics of evapotranspiration when analyzing ecosystem services linked to the
water balance. In the Jaguari basin, 74% of the water that arrives as precipitation is
converted into evapotranspiration, revealing that the region is an important source of
moisture for the local atmosphere. For the water supply system, the humidity present
in the atmosphere is fundamental in the conduction of precipitation in the catchment
area. When calculating local recharge and baseflow index, the SWY model presented
atypical behavior, which was investigated with sensitivity analysis of the parameters
CN and kc, unsuccessfully. Other sensitivity analyzes involving evapotranspiration,
precipitation and alpha parameters were carried out to deepen the understanding of
the model's functioning.
LISTA DE FIGURAS
Figura 9 - Distribuição espacial da precipitação na bacia, para cada mês do ano. ... 45
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Áreas e proporções de uso do solo para cada município inserido na Bacia
do Jaguari (Projeto PDPAs RMSP, 2016) ................................................................. 24
Tabela 7 - Média histórica de dias chuvosos em São José dos Campos .................. 48
Tabela 16 - Comparação do escoamento de base por classe, para ET0 alterado .... 60
LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 12
2. OBJETIVOS 14
3. REVISÃO TEÓRICA 14
3.1. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE 14
3.1.1. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 15
3.2. SISTEMAS AGROFLORESTAIS 16
3.3. FUNÇÕES ECOSSISTÊMICAS 18
3.4. SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS 19
3.5. SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA 19
4. MATERIAIS E MÉTODOS 21
4.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 21
4.1.1. CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA 25
4.2. MODELAGEM DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS 27
4.3. MODELO DE PRODUÇÃO SAZONAL DE ÁGUA (SWY) 29
4.4. DADOS DE ENTRADA PARA O MODELO 32
4.4.1. MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO (MDE) 32
4.4.2. DELIMITAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA 33
4.4.3. USO E COBERTURA DA TERRA 34
4.4.3.1. DIFERENTES CENÁRIOS DE ANÁLISE 36
4.4.4. CLASSIFICAÇÃO HIDROLÓGICA DOS SOLOS 41
4.4.5. NÚMERO DE CURVA (CN) E COEFICIENTE DE CULTURA (KC) 42
4.4.6. PRECIPITAÇÃO MENSAL 45
4.4.7. EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA MENSAL (ET0) 46
4.4.8. EVENTOS DE CHUVA 48
4.4.9. PARÂMETROS Α Β Γ 48
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 48
5.1. ESCOAMENTO SUPERFICIAL 50
5.2. RECARGA LOCAL E ESCOAMENTO DE BASE 53
5.3. EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL 58
5.4. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE 58
5.4.1. ALTERAÇÃO DA ET0 59
5.4.2. ALTERAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO 62
5.4.3. ALTERAÇÃO DE Α 64
5.4.4. ALTERAÇÃO DO CN E DO KC 65
xi
6. CONCLUSÃO 67
7. ANEXOS 69
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70
12
1. INTRODUÇÃO
Desde 25 de maio de 2012, com a instituição do novo Código Florestal, é possível não
só recuperar uma RL degradada com sistemas agroflorestais (SAF) como também é
permitido para propriedades de agricultura familiar, com até quatro módulos rurais,
devidamente inscritas no sistema de Cadastro Ambiental Rural (CAR), fazer
intervenções em APP para implantar SAFs, inclusive suprimir vegetação. Também
ficou definido que pequenas propriedades rurais podem utilizar plantios de sistemas
13
agroflorestais em suas APPs e RLs, desde que esses sistemas sejam submetidos a
planos de manejo sustentáveis aprovados pelo órgão estadual do meio ambiente
responsável.
2. OBJETIVOS
Com a intenção de contribuir para o conhecimento técnico e científico acerca das SbN
e da infraestrutura natural, este trabalho objetiva estimar os serviços ecossistêmicos
de provisão hídrica da área de contribuição do reservatório do Jaguari e de suas APPs
de curso d’água. Para isso, foram analisados três cenários: o primeiro retrata a
situação atual da bacia do Jaguari, na qual as APPs não estão totalmente
preservadas; no segundo cenário, as APPs estão reflorestadas integralmente por
mata nativa e, por fim, no terceiro cenário, essas mesmas áreas são ocupadas por um
sistema agroflorestal.
3. REVISÃO TEÓRICA
O novo Código Florestal, modificado pela Lei 12.727, 17 de outubro de 2012, traz do
primeiro Código Florestal, de 1965, a definição das funções ecossistêmicas das Área
de Preservação Permanente:
Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.
O Sistema Agroflorestal (SAF) é uma forma de uso e manejo da terra que concilia o
cultivo de espécies agrícolas com espécies arbóreas (frutíferas e/ou madeireiras) e
17
A capacidade dos ecossistemas de fornecer bens e serviços depende não apenas dos
processos e componentes relacionados a tal função ecossistêmica, mas também dos
limites estabelecidos para que o uso dos recursos seja sustentável, que são
determinados por critérios ecológicos, como integridade, resiliência e resistência. A
importância ou o valor de um determinado ecossistema depende da integridade das
suas funções ecossistêmicas, principalmente de Regulação e de Habitat, e de
características como complexidade, diversidade e raridade (De Groot et al., 2002).
19
Embora o conceito de SbN seja relativamente recente (criado pela União Internacional
para Conservação da Natureza em 2009) e seu recorte ainda esteja em construção,
o uso de SbN desenvolvido por tomadores de decisão, nos setores público e privado,
já é uma realidade no Brasil e no mundo.
Segundo o relatório, a demanda mundial por água tem aumentado a uma taxa de
aproximadamente 1% ao ano, devido ao crescimento populacional, ao
desenvolvimento econômico e às mudanças nos padrões de consumo, entre outros
fatores, e continuará a aumentar de forma significativa durante as próximas duas
décadas. As mudanças climáticas agravam este cenário, com a tendência de regiões
já úmidas ou secas apresentarem condições cada vez mais extremas.
considerada uma “consumidora” de água, já que até 40% da precipitação terrestre são
gerados pela transpiração vegetal e pela evaporação do solo.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo será conduzido dentro das limitações da Sub-bacia do Jaguari, uma sub-
bacia de um dos principais afluentes do Rio Paraíba do Sul: o rio Jaguari. Esta bacia
se localiza no sudeste do Estado de São Paulo e se estende por vários municípios,
como Arujá, Guarulhos, Santa Isabel, Igaratá, Jacareí, São José dos Campos e
Monteiro Lobato (Figura 3).
22
Embora a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA) de São Paulo defina como
sub-bacia do Jaguari uma área mais abrangente, a área de interesse deste estudo é
a área de contribuição do reservatório. Por isso, a bacia hidrográfica considerada
neste trabalho é a bacia da represa do Jaguari, a mesma considerada no Plano de
Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA) da bacia do Jaguari, concluído em
2016.
A bacia da represa Jaguari está localizada em uma região com elevada densidade
populacional que apresenta altos índices de degradação das matas nativas, como as
matas no entorno de rios e reservatórios. O bioma predominante é a Mata Atlântica,
com a presença de algumas espécies de Cerrado (ICMBio, 2017).
A importância dessa bacia se confirma por integrar uma rede de reservatórios que
garantem o abastecimento de água de uma das regiões mais povoadas e
industrializadas do país.
23
O rio Jaguari exerce uma importante função como manancial de abastecimento para
as cidades paulistas e para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, através de
transposições para o rio Guandu. Assim, o Reservatório do Jaguari, contribui
indiretamente para esse abastecimento através do fornecimento de vazões
regularizadas para o rio Paraíba do Sul. De acordo com o estudo feito para a Sabesp
em 2006, o rio Jaguari despejava no Rio Paraíba do Sul, o correspondente a 20% da
água revertida para o Guandu em épocas de cheia e a 85% em épocas de seca.
Tabela 1 - Áreas e proporções de uso do solo para cada município inserido na Bacia do
Jaguari (Projeto PDPAs RMSP, 2016)
São José dos Campos 531,3 429,6 80,9 100,0 18,8 1,7 0,3
Foi realizada uma breve análise morfométrica da Bacia do Jaguari como forma de se
ter mais elementos para auxiliar a compreensão da dinâmica de drenagem da bacia,
visto que seu formato é menos frequente e que as características geométricas de uma
bacia hidrográfica revelam o comportamento da água em relação ao armazenamento
e escoamento superficial. (Campanharo, 2012). Esta análise foi baseada no trabalho
de Guidolini et. al (2018) de caracterização morfométrica da bacia hidrográfica do Rio
Grande.
26
Variáveis morfométricas
P Perímetro 313,1 km
O fator forma (F) representa a relação entre a área da bacia e o comprimento axial da
bacia. Quanto mais se aproximar do valor 1,0, mais a forma da bacia de aproxima de
um quadrado de lado igual ao seu comprimento axial. O valor de F = 0,302 retrata o
formato alongado da Bacia do Jaguari e confirma a interpretação dada ao coeficiente
de compacidade quanto a não propensão a enchentes. Silva e Melo (2006) classificam
as bacias hidrográficas em função do F da seguinte maneira:
Eq. 1
Eq. 2
𝑃𝑖,𝑚 1
𝑎𝑖,𝑚 = [𝑖𝑛]
𝑛𝑚 25,4
Eq. 3
∞
𝑒 −𝑡
𝐸1𝑡 = ∫ 𝑑𝑡
1 𝑡
Eq. 4
1000
𝑆𝑖 = − 10 [𝑖𝑛]
𝐶𝑁𝑖
30
Para todos os pixels que fazem parte do curso d’água e para aqueles que o delimitam,
o QF é definido pela precipitação na célula:
Eq. 5
Eq. 6
12
𝑄𝐹𝑖 = ∑ 𝑄𝐹𝑖,𝑚
1
O índice de recarga local (L) é calculado por uma equação de balanço hídrico
simplificada, que considera a precipitação, o escoamento superficial e a
evapotranspiração real. Esta variável também pode ser entendida como a contribuição
potencial para o fluxo de base.
Eq. 7
𝐿𝑖 = 𝑃𝑖 − 𝑄𝐹𝑖 − 𝐴𝐸𝑇𝑖
Eq. 8
Nota-se que para cada mês, a AET é limitada pela demanda ou pela água disponível.
A evapotranspiração potencial (PET) é calculada a partir da evapotranspiração de
referência (𝐸𝑇0𝑖,𝑚 ), ponderada pelo coeficiente de cultura kc.
Eq. 9
A recarga local pode ser negativa se um pixel não receber quantidade de água
suficiente para atender seus requisitos de vegetação (determinado por kc). Neste
caso, este pixel irá usar água gerada a montante. O índice de recarga local é calculado
em uma escala de tempo anual, mas usa valores derivados de orçamentos mensais
de água.
O índice do fluxo de base (B) representa a contribuição real de um pixel para o fluxo
de base (ou seja, a água que atinge de fato o fluxo subterrâneo). Se a recarga local
for negativa, o pixel não contribuirá para o fluxo de base, portanto, B será definido
como zero. Se o pixel contribuiu para a recarga da água subterrânea, então B é uma
função da quantidade de água que sai do pixel para se juntar ao fluxo de base.
Eq. 10
𝐿𝑖
𝐵𝑖 = max(𝐵𝑠𝑜𝑚𝑎,𝑖 ∗ ; 0)
𝐿𝑠𝑜𝑚𝑎,𝑖
Sendo
Eq. 11
Eq. 12
𝐿𝑑𝑖𝑠𝑝,𝑖 = min( 𝛾 𝐿𝑖 ; 𝐿𝑖 ).
O fluxo de base total, Qb, dado em milímetros, é a média das recargas locais de
contribuição (negativa ou positiva) na bacia:
Eq. 13
∑𝑘 ∈{𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙𝑠 𝑛𝑎 𝑏𝑎𝑐𝑖𝑎} 𝐿𝑘
𝑄𝑏 =
𝑛𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙𝑠 𝑛𝑎 𝑏𝑎𝑐𝑖𝑎
Eq. 14
𝐿𝑖
𝑉𝑟𝑖 =
𝑄𝑏 ∗ 𝑛𝑝𝑖𝑥𝑒𝑙𝑠 𝑛𝑎 𝑏𝑎𝑐𝑖𝑎
O MDE foi construído a partir de imagens da missão ALOS PALSAR (Figura 3). Foram
utilizadas 3 imagens para compor a área de interesse, duas produzidas em fevereiro
de 2011 e uma imagem de março de 2011. Esses dados são disponibilizados
gratuitamente pelo Alaska Satellite Facility. A resolução deste mapa – 12,5 m x 12,5
m - define a resolução com que serão fabricados os mapas de resultados (outputs),
ou seja, a precisão espacial dos resultados é suficiente para a análise proposta.
33
Para confirmar o limiar adotado, foi testado o limiar de 1000 em uma rodada do modelo
com todos os outros dados de entrada mantidos iguais. Verificou-se que os resultados
obtidos diferiam pouco dos primeiros, porém a rede de drenagem era menos
ramificada e mais distante da realidade. Manteve-se, portanto, o limiar de 250.
Para a confecção do mapa de uso e cobertura da terra, foram utilizados dados gerados
pela missão Sentinel-2 do Programa GMES (Global Monitoring for Environment and
Security) conjuntamente administrada pela Comunidade Europeia e pela ESA
(European Space Agency), para observação da Terra em alta resolução com alta
capacidade de revisita (5 dias). O sensor apresenta 13 bandas no total, sendo quatro
delas com 10 metros de resolução, seis com 20 metros de resolução e três com 60
metros de resolução.
A classificação de uso e cobertura do solo foi feita com auxílio do software QGIS
2.18.19., utilizando o plugin SCP (Semi-automatic Classification Plugin) que foi
desenvolvido para tratar dados provenientes da missão Sentinel-2 e outros satélites.
Para refinar a classificação gerada, foi utilizado o algorítmo Majority Filter do
complemento SAGA versão 2.3.2.
36
O mapa de uso e cobertura do solo para cada cenário de estudo contém as seguintes
características:
Áreas relativas
Classes
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
Mata nativa 50,0% 55,4% 44,0%
Pasto nativo 21,4% 19,4% 19,4%
Área construída 9,9% 8,5% 8,5%
Cultivo eucalipto 6,1% 6,0% 6,0%
Solo exposto 4,0% 2,5% 2,5%
Vegetação secundaria 3,8% 3,5% 3,5%
Corpos d’água 2,7% 2,6% 2,6%
Pasto degradado 1,4% 1,3% 1,3%
Via pavimentada 0,7% 0,6% 0,6%
Mineração 0,1% 0,0% 0,0%
Agrofloresta (SAF) - - 11,5%
Nota-se ainda que a área definida como pertencente à APP corresponde a 11,5% da
área total da bacia, ou seja, a mesma área ocupada pelo SAF no Cenário 3. A redução
de 2,7% para 2,6% da área ocupada por corpos d’água decorre da forma como foi
realizada a demarcação da APP e seu preenchimento da APP com mata nativa e SAF,
na composição dos Cenário 2 e 3. Ocorreu a conversão de uma pequena parcela de
pixels de cursos d’água para pixels de vegetação.
38
A partir dessas informações, foi possível identificar o grupo hidrológico a que cada
solo pertence (Tabela 2), segundo os critérios propostos por Sartori et al. (2004). As
classes A, B, C e D foram definidas pelo Serviço de Conservação do Solo (SCS, Soil
Conservation Service), órgão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da
América (USDA).
Grupo
Tipo de solo Profundidade Textura
hidrológico
Argilossolos vermelho- Profundo e Muito
Média/Argilosa e Argilosa B
amarelos Profundo
Cambissolos háplicos de Raso a Muito Profundo de Média a Argilosa C
Pouco Profundo e
Gleissolos melânicos Média e Argilosa D
Profundo
Latossolos amarelos Pouco Profundo Argilosa A
Latossolos vermelho- Pouco Profundo e Muito
Argilosa A
amarelos Profundo
Neossolos litólicos Raso Média e Argilosa D
Para corpos d’água, o valor de CN adotado é 99, visto que toda entrada de água se
incorpora ao escoamento superficial do curso d’água e não há infiltração.
• para a classe Solo exposto foi atribuído kc = 0,25, ligeiramente abaixo do menor
valor tabelado para Pastagem degradada;
• para as classes Área construída, Mineração e Via pavimentada foi atribuído
kc = 0,20, como proposto por Nistor (2017) para áreas urbanas. Esse valor
garante que as ET0 adotadas para estas regiões serão devidamente
penalizadas no cálculo da PET.
• como o modelo de SAF considerado para a construção do Cenário 3 apresenta
fisionomia vegetal semelhante a da mata nativa, com 70% de sua densidade
de árvores, assumiu-se kc = 0,77 para o SAF (30% menor que o valor de kc
de mata nativa).
Para a classe Cultivo de eucalipto, foi adotado valor de Kc igual a 1,1, como proposto
por Descheemaeker et al. (2011). Para a Mata Nativa, que é densa como o eucalipto,
foi adotado Kc = 1,1. Para Vegetação secundária, foram interpolados valores de Kc
de feno (Rye grass) e árvore frutífera de pequeno porte (Citrus, com 50% de dossel).
Uso e
Cobertura Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
da terra
Solo exposto 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
Pasto Nativo 0,95 0,85 0,85 0,85 0,85 0,4 0,4 0,4 0,4 0,95 0,95 0,95
Pasto
0,75 0,75 0,75 0,75 0,75 0,3 0,3 0,3 0,3 0,75 0,75 0,75
Degradado
Vegetação
0,92 0,9 0,9 0,9 0,9 0,85 0,85 0,85 0,85 0,92 0,92 0,92
Secundária
Mata nativa 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1
Cultivo de
1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1 1,1
Eucalipto
Área
0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
construída
Via
0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
Pavimentada
Mineração 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2
Corpos
1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05 1,05
d'água
SAF 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77
45
Nota-se que a precipitação mais intensa coincide com as regiões de maior altitude,
com destaque para o distrito de São Francisco Xavier ao norte. A média anual de
precipitação na bacia é de 1451,2 mm, com desvio padrão de 98,2 mm.
Como não foi possível obter dados de eventos de chuva devido à falta de medições
na bacia, foram utilizados valores de dias chuvosos. Os desenvolvedores do modelo
SWY aprovam essa substituição no caso de falta de dados de eventos de chuva. Os
dados utilizados foram disponibilizados pelo Meteoblue Weather, baseados em dados
históricos de 30 anos.
Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Dias
24,6 20,8 21,9 15,6 12,6 8,8 10,1 9,6 14,5 18,7 19,8 22,2
chuvosos
4.4.9. Parâmetros α β γ
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O modelo Seasonal Water Yield do pacote InVEST retorna a cada simulação nove
parâmetros relacionados ao balanço hídrico da área de interesse e produz o mapa
dos valores de CN cruzados com a classificação de uso e cobertura do solo.
Oito desses parâmetros são apresentados na forma de mapas (arquivos do tipo raster)
e o último resultado é fornecido na forma decimal, conforme apresentado abaixo. A
unidade de todos os valores é milímetros:
49
Eq. 16
Observa-se que o reflorestando da APP com mata nativa, que consiste na conversão
de 47,7% da área, acarreta uma diminuição de 7,4% do escoamento superficial. Por
outro lado, fica claro que a agrofloresta também guarda tal função ecossistêmica de
redução do escoamento superficial - que implica na redução de perda de solo,
desfavorecimento dos picos de vazão, entre outros benefícios - reduzindo em 6,6% o
QF da APP em relação ao Cenário 1.
O modelo aponta que o escoamento superficial nas áreas de APP é três vezes maior
do que a média encontrada na bacia. Este resultado deve ser admitido com cautela
porque o algoritmo utilizado pelo modelo sobrepõe ao raster de uso e cobertura do
solo o raster de definição de cursos d’água (stream definition) e assume para estas
regiões um QF máximo igual à precipitação (Eq. 5). Esse procedimento não afeta os
resultados em uma análise geral, mas se torna relevante quando fazemos um recorte
da análise para as regiões de APP, que necessariamente margeiam os cursos d’água.
É fundamental ressaltar que os resultados fornecidos pelo SWY quanto à recarga local
e ao escoamento de base possuem caráter de índice, segundo o manual do modelo.
Por isso, os valores de L e B possibilitam a comparação das respostas entre diferentes
regiões da bacia.
L (mm) σ B (mm) σ
Cenário 1 253,8 328,0 295,0 346,9
Cenário 2 211,5 314,8 267,4 333,5
Cenário 3 246,3 332,7 297,0 329,6
54
Isso pode ser melhor entendido com o mapa de recarga local (Figura 14), que indica,
segundo as considerações e cálculos do modelo, que em grande parte da bacia ocorre
um déficit na infiltração de água e, quando L é negativo, B é igual a zero (Eq. 10).
Conhecendo a forma como o balanço hídrico é considerado nesta modelagem (Eq. 7),
e ciente do valor acentuado de evapotranspiração real resultante, que ultrapassa 70%
da entrada de água pela precipitação, questiona-se a ordem de grandeza dos dados
de evapotranspiração de referência que alimentaram o modelo.
AET (mm)
Classes de uso e ocupação do solo
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
Mata nativa 1388,2 1389,0 1386,9
Cultivo eucalipto 1371,2 1370,9 1370,9
Vegetação secundária 1189,7 1189,8 1189,8
Pasto nativo 1030,3 1030,1 1030,1
Pasto degradado 849,9 849,9 849,9
Solo exposto 334,7 334,1 334,1
Área construída 265,7 265,5 265,5
Via pavimentada 264,8 264,6 264,6
Mineração 262,2 261,3 261,3
Agrofloresta (SAF) - - 1016,0
AETmédia (mm) 1073,4 1123,9 1114,8
É interessante observar que áreas cobertas por SAF apresentam AET próximas a
classe de pasto nativo, embora o valor de kc para SAF seja mais próximo dos valores
de vegetação secundária (assim como os valores de CN).
Esses dados de ET0 foram particularmente interessantes para esta análise por
apresentarem valores próximos a um quarto dos valores utilizados inicialmente. Essa
diferença expressiva é ideal para a análise de sensibilidade pretendida.
Nesta simulação, foi possível comprovar o efeito da variável ET0 no cálculo de AET,
que também teve seu valor bastante reduzido, comparado ao resultado inicial de AET.
Pode-se confirmar a expectativa de que um menor valor de AET gerasse maiores
índices de recarga local e escoamento de base.
60
Cenário 1
Médias Com ET0 - CGIAR-CSI (dados iniciais) Com ET0 - IIASA/FAO (comparação)
QF (mm) 100,7 102,4
AET (mm) 1073,4 313,5
L (mm) 253,8 981,2
B (mm) 295,0 1037,9
No novo mapa de recarga local (Figura 15) não há mais aquela grande mancha de
déficit de infiltração de água, são poucos os pixels com L negativo e verifica-se no
histograma dos metadados que os valores estão menos dispersos.
Cenário 1
ET0 - CGIAR-CSI (dados iniciais) ET0 - IIASA/FAO (comparação)
B médio por classes (mm)
Via pavimentada 1073,0 1258,7
Área construída 1053,6 1244,1
Mineração 995,4 1184,1
Solo exposto 838,0 1117,0
Pasto degradado 518,1 1135,8
Pasto nativo 372,3 1094,7
Vegetação secundária 217,9 1072,8
Mata nativa 100,5 1018,3
Cultivo eucalipto 62,5 995,5
Corpos d’água 0,0 3,0
61
Nessa simulação, ficou bastante evidente que os dados do mapa pedológico da bacia
podem influenciar diretamente os resultados de QF e B, pois a mancha de latossolo
vermelho-amarelo na região do distrito de São Francisco Xavier apresenta contorno
bem definido. Isso não ocorre no mapa de recarga local.
63
5.4.3. Alteração de α
Eq. 17
𝑃𝑚−1
𝛼𝑚 =
∑12
1 𝑃𝑖
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
α 0,149 0,165 0,151 0,122 0,052 0,039 0,033 0,023 0,029 0,044 0,095 0,095
O valor padrão de alfa utilizado anteriormente era de 0,083 (1/12) para cada mês.
Essa simulação mostrou que a sazonalidade da precipitação na área de estudo não
foi suficiente para alterar a ordem de grandeza dos resultados, como também não
mudou a relação entre eles.
Cenário 1
Médias α = 0,083 α mensal
QF (mm) 100,7 102,4
AET (mm) 1073,4 1056,5
L (mm) 253,8 269,9
B (mm) 295,0 309,3
65
5.4.4. Alteração do CN e do kc
adotados para as áreas urbanas. É possível que eles sejam relativamente baixos,
indicando, na verdade, que nessas classes haveria uma porção significativa de áreas
permeáveis. Foi adotado CN = 95 para todas as áreas urbanas (classes: mineração,
via pavimentada e área construída), para todos os quatro grupos de solos
hidrológicos.
Como a AET apresenta valores altos, decidiu-se por reduzir os valores de kc das
seguintes classes: mata nativa (redução de 1,1 para 1,0), da cultura de eucalipto
(redução de 1,1 para 1,0) e do SAF (0,77 para 0,7).
Cenário 1
Rodada com Kc = 1,0
Rodada com CN = 95
para mata nativa e
Resultado para áreas Rodada com alteração
eucalipto e
inicial urbanizadas, com simultânea de CN e Kc
Kc = 0,7 para SAF, com
kc inalterado
CN inalterado
QF (mm) 100,7 141,2 102,4 141,2
AET (mm) 1073,4 1072,4 1040,3 1039,6
L (mm) 253,8 234,1 285,4 262,1
B (mm) 295,0 249,6 336,8 294,6
6. CONCLUSÃO
7. ANEXOS
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012. Câmara dos Deputados, Brasília, DF,
25 mai. 2012.
DE GROOT, Rudolf S.; WILSON, Matthew A.; BOUMANS, Roelof MJ. A typology for
the classification, description and valuation of ecosystem functions, goods and
services. Ecological economics, v. 41, n. 3, p. 393-408, 2002.
DESCHEEMAEKER, K.; RAES, D.; ALLEN, R.; NYSSEN, J.; POESEN, J.; MUYS. B.;
HAILE, M.; DECKERS, J. Two rapid appraisals of FAO-56 crop coefficients for
semiarid natural vegetation of the northern Ethiopian highlands. Journal of Arid
Environments, Amsterdam, v.75, p. 353-359, 2011
ELLISON, David; N FUTTER, Martyn; BISHOP, Kevin. On the forest cover–water yield
debate: from demand‐to supply‐side thinking. Global Change Biology, v. 18, n. 3, p.
806-820, 2012.
71
Mapa pedológico do Estado de São Paulo: revisado e ampliado. São Paulo: Instituto
Florestal, 2017. V.1. 118p. (inclui Mapas)
Sharp, R., Tallis, H.T., et al., 2017. InVEST User’s Guide. The Natural Capital Project,
Stanford University, University of Minnesota, The Nature Conservancy, and World
Wildlife Fund. http:// http://data.naturalcapitalproject.org/nightly-build/invest-users-
guide/html/seasonal_water_yield.html