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O Partido dos Panteras Negras

Wanderson da Silva Chaves*

Bloom, Joshua; Martin, Jr., Waldo E. unidade e do orgulho racial, característicos da


Blacks Against Empire: The History and negritude. O mérito de Blacks Against Empi-
Politics of the Black Panther Party. Berkeley re reside justamente na desconstrução destes
e Los Angeles: University of California dois lugares-comuns. Reconstrói-se, ao longo
Press, 2013. 540p. do livro, a lógica de atuação do Partido a par-
tir de suas principais tensões e ambiguidades:
embora decisivas para o programa partidário,
Poucos aspectos da história norte-ameri- essas particularidades eram categoricamen-
cana do pós-guerra são tão opacos quanto a te ignoradas no trabalho de memória, e na
história do Partido dos Panteras Negras. Sua ­historiografia.
vertiginosa trajetória de ascensão e queda, O trabalho de Joshua Bloom, sociólo-
entre 1967 e 1971 — e encerramento defini- go da UCLA, e Waldo E. Martin Jr., his-
tivo das atividades, em 1982, de forma prati- toriador da Universidade da Califórnia em
camente anônima — vem sendo disputada e Berkeley, e autor experiente — com publi-
fixada por duas narrativas principais, publica- cações sobre escravidão, racismo, direitos
mente ainda em disputa, mas que, entretan- civis e movimentos sociais — foi árduo. O
to, discursivamente tendem a se encontrar. A livro começou a ser escrito em 2000, e no
sustentada pelo Federal Bureau of Investiga- seu curso, mobilizou cerca de 50 pesqui-
tion (FBI), mais conhecida por ser a adotada sadores e colaboradores diretos, reunindo
na cobertura jornalística nos EUA desde en- mais de 12 mil páginas de documentos raros
tão, associa ao Partido um programa racista, e inéditos, hoje, integrados aos acervos da
fascista, sectário e separatista, que justificaria, Biblioteca de Estudos Étnicos e à Bancroft
em razão de ameaças à segurança nacional, a Library, de Berkeley. Quatorze teses acadê-
campanha de época pela destruição dos Pan- micas foram desenvolvidas sob a cobertura
teras. A outra narrativa, calcada na fortuna desse projeto, que estendeu sua pesquisa a
crítica dos chamados “estudos afro-america- arquivos nacionais e internacionais, priva-
nos”, e sustentada principalmente pela mili- dos e governamentais, e retomou, por meio
tância e organizações do nacionalismo negro, de entrevistas, e um sério esforço de certifi-
vincula o Partido a um projeto de busca da cação documental, a massa de testemunhos,

DOI - http://dx.doi.org/10.1590/2237-101X016030016
* Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Grupo de Estudos sobre Guer-
ra Fria (USP). São Paulo, SP, Brasil. E-mail: wanderson_schaves@yahoo.com.br

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memórias e autobiografias que ainda são a “negros moderados”, rescaldo do Movimen-


principal fonte bibliográfica sobre o Partido to dos Direitos Civis; governos de Estados
e para boa parte das organizações civis dos comunistas ou não alinhados; e lideranças,
EUA dos anos 1960 e 1970. associações e igrejas baseadas nas periferias
O resultado desse empreendimento: uma das cidades, não apenas nos bairros negros.
boa narrativa factual, comparada ao desastre A estratégia: diplomaticamente, romper o
historiográfico das duas tendências da litera- suporte internacional; e com medidas poli-
tura temática, e que coloca imediatamente ciais secretas, minar as pontes entre os di-
questões inquietantes; particularmente, a de versos segmentos de classe da comunidade
que os Panteras Negras, não apenas retorica- negra, bem como as conexões “inter-raciais”,
mente, mas em agenda e estratégias, busca- que eram o grande patrimônio político
ram ser radical e efetivamente antirracistas. do Partido.
Comparado às organizações do Movi- Os Panteras Negras não eram secessio-
mento dos Direitos Civis dos anos 1960, o nistas, nem partidários da negritude como
Partido parece ter ido fundo e longe: torna- projeto, embora a reivindicação à herança de
ram-se uma organização nacional com for- Malcolm X — que era uma meta partidária
te presença nos grandes centros urbanos, e importante, particularmente o chamado à
agindo, principalmente, fora do Deep South luta por “todos os meios necessários” contra o
e da sua rede de organizações religiosas, es- Estado e a polícia — tenha sido central para a
tudantis e profissionais negras. O projeto de sua atuação. Com relação a programas, nada
Martin Luther King Jr., para os anos 1960, de decisivo opôs o Partido à proposta de inte-
de que sindicatos, igrejas e o mainstream li- gração, que caracterizava a agenda pública de
beral colaborassem nas reformas econômi- King. Curiosamente, ela seguia no sentido do
cas, sociais e políticas destinadas à definitiva seu aprofundamento, ao destacar mudanças
dessegregação — a integração de todos à estruturais para destruir — e não apenas re-
projetada beloved community — obteve pou- formar — dinâmicas raciais, como condição
co suporte fora das suas bases tradicionais, a para tornar os direitos civis realmente efeti-
classe média negra, e simpatizantes progres- vos. A diferença em relação a King, sempre
sistas do Norte. Os colaboradores que não afirmada com muita ênfase, era tática: con-
responderam à conclamação de King, to- tra a resistência não violenta, advogava-se a
davia, não fizeram falta ao arco de alianças autodefesa armada, e, ainda que nunca de
construído pelos Panteras. Profundo conhe- forma consensual e programática, também o
cedor da organização, o FBI sabia que seu enfrentamento armado ao Estado como parte
projeto de desmantelamento do Partido pas- da sua atribuída vocação de partido revolu-
sava principalmente por ações de dissuasão cionário. O FBI explorou publicamente essa
aplicadas aos aliados: os órgãos da chamada escolha tática como uma aberta declaração
Nova Esquerda, particularmente os envolvi- de guerra. E com uma massiva campanha de
dos na luta contra a Guerra do Vietnã; os infiltração, sabotagem e extermínio, na qual

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buscou vincular o Partido a falsas ações, de- ram a aplicação da autodefesa armada para
frontou os Panteras Negras intermitentemen- além da situação — a invasão de residências
te aos dilemas estratégicos e éticos da instru- sem mandado judicial — que primeiro ha-
mentalização política da violência. via mobilizado seus esforços.
A resposta dos autores à historiografia Até 1967, o Partido era mais uma uni-
— que concede grande relevância às leitu- dade, dentre várias outras, espalhadas pe-
ras policiais, ao heroísmo dos testemunhos, los EUA, surgidas simultaneamente nessa
e aos atuais Movimentos Negros, que se pre- época, que se autointitulavam Panteras Ne-
tendem herdeiros políticos do Partido — foi gras. Todas elas atendiam a um chamamen-
estritamente documental. Nela, há um es- to comum. Usando o animal símbolo do
forço em distinguir as ações secretas de Es- Lowndes County Freedom Organization
­
tado das realizadas pelos Panteras, e em se- (LCFO), organização política que o S­ tudents
parar a agenda e atuação do Partido daquela Non-Violent Coordinating Committee
­
das organizações raciais negras, posto que (SNCC) pretendia transformar em partido
essa diferença tornou-se mais que retórica no Alabama, os Panteras de Oakland eram
— tornou-se programática. E compreende- mais um grupo que buscava dar forma po-
-se bem ao longo do livro o porquê. lítica ao slogan “Black Power”, de Stokely
Fundado em 1966, o Partido dos Pan- ­Carmichael, líder do SNCC. Então, pou-
teras Negras era, inicialmente, uma milícia co conhecido fora do norte da Califórnia,
armada, formada integralmente por ho- o grupo de Newton, Seale e do jornalista
mens, que atuava na região de Oakland, de R­ amparts, Eldridge Cleaver, por volta de
Califórnia. Suas principais atividades eram outubro de 1968, já havia rapidamente uni-
o monitoramento da polícia, via obstrução ficado em torno da sua liderança todos os
e denúncia da violência dos órgãos de segu- grupos de Panteras, aproximado e empare-
rança, e a intimidação — física e através de dado vários setores da esquerda norte-ame-
boicotes e mobilizações públicas — de de- ricana, estabelecido uma publicação oficial
nunciados de racismo e infração aos direitos com tiragem de massa, reunido um orça-
civis. Os marcos dessa atuação eram inu- mento anual milionário, angariado suporte
sitadamente legais. Segundo leis estaduais internacional, e dominado o debate pela de-
da época, o porte e o transporte de armas finição dos sentidos do Poder Negro. Essa
carregadas, em locais públicos ou veículos, ascensão, que se alicerçou na atração dos jo-
eram permitidos se o armamento estivesse vens mobilizados nos confrontos raciais na
devidamente exposto, e fora de posição de era dos assassinatos de Malcolm X (1965) e
tiro. Acompanhar ações policiais também King (1968), foi alcançada com dramáticas
era permitido, desde que mantida distância. e bem-sucedidas ações públicas, e após duras
Huey Newton e Bobby Seale, estudantes de disputas interorganizacionais e partidárias.
direito, e membros fundadores do Partido, Em razão de suas opções táticas, Newton,
fizeram essa descoberta legal, e nela apoia- Seale e Eldridge Cleaver consideravam o Par-

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tido o único capaz de exercer algum esforço rado, pelo Partido, o grande “maniqueísmo
de politização sobre a massa de jovens negros colonial” a ser revertido — a raça. Embora
que escolheu a violência. E graças ao perfil da a liderança dos Panteras Negras tivesse bom
sua liderança, os únicos que poderiam atrair domínio da literatura marxista e dos textos
identificação imediata. De fato, um histórico políticos de Che, Mao e Lênin que fizeram
de pobreza, bom treinamento militar prévio, carreira naquela época, era Fanon a principal
passagens por prisões, eventuais aproxima- ferramenta do Partido no rechaço às organi-
ções ao Nation of Islam (NOI) e um sério es- zações cujo programa fosse “antibranco” ou
forço de formação intelectual os assemelhava que pretendessem disciplinar sua atuação.
a parte considerável da militância que ingres- Por uma ou por ambas as razões, o SNCC,
sou nas cerca de 80 sucursais que os Panteras o Congress for Racial Equality (CORE), o
chegaram a ter no país. Inicialmente, o Parti- braço político do NOI, o R ­ evolutionary Ac-
do espelhou a retórica racialista e nacionalista tion Movement (RAM) e o Partido Comu-
que emergiu nos confrontos e protestos, mas nista dos Estados Unidos foram asperamen-
das suas proclamações, na qual se declarava te repelidos.
vanguarda partidária do “exército de liberta- Após o estabelecimento de restrições le-
ção negro”, dificilmente se poderia obter uma gais ao uso de armas, em 1969, os Panteras
agenda nacionalista. Discursivamente difusa, se orientam para a montagem, nas suas su-
e muito dependente da eficácia performativa cursais, de clínicas médicas, refeitórios, cur-
das ações e da sua poderosa iconografia, suas sos de formação política e escolas primárias,
metas nem sempre óbvias eram a liberação do entre outras iniciativas cujo fim declarado
racismo, o combate à polícia, a autogestão co- era estabelecer a gratuidade, socialização,
munitária e a união tática dos negros como criação e a autogestão de serviços públicos
estágio preliminar e preparatório da luta “an- dentro das comunidades negras. Sustentada
ticolonial” contra o Estado norte-americano por grande suporte e participação volun-
a ser lançada. tária, a iniciativa afetou o War on Poverty,
Os Panteras eram a mais literalmente grande programa federal de reforma urba-
“fanonista” dentre as organizações de base na, terceirizado para empresas, fundações,
negra dos EUA, vinculação que foi pouco igrejas e organizações negras. Publicamen-
destacada pelos próprios autores. Isto sig- te, a política social de governo era ferida, na
nificava uma aposta no programa de luta comparação, por sua atribuída timidez, ino-
armada exposto em Os condenados da terra perância e racismo. A essa reorientação, na
(1961), em que se apelava à violência como qual o Partido transferiu para sua lideran-
força liberadora pessoal e militar do domí- ça “civil” a condução da maioria das ações,
nio colonial. Esse potencial de transgressão, coincidiu curiosamente uma brutal ofensiva
pensado para se dirigir contra o “exército do- policial, na qual se prendeu ou executou os
méstico de ocupação” que seria a polícia, era principais quadros dos Panteras Negras, su-
dirigido também contra o que era conside- cessivamente, cidade a cidade.

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Esse momento também coincidia com tos do livro, Bloom e Martin Jr. descrevem
a construção de uma sólida aliança do Par- como o Federal Bureau of Investigation,
tido com os movimentos contra a Guer- respondendo à guinada do governo Nixon,
ra do V­ ietnã, da qual os dois segmentos se desarticulou a rede de apoiadores dos Pan-
consideraram beneficiados. Orientando-se teras Negras e iniciou o seu declínio. Do
parcialmente pelas mudanças no discurso isolamento que se produziu, seguiu-se a ex-
público dos Panteras, os grupos predomi- posição de diferenças políticas e temáticas,
nantemente estudantis, envolvidos nos pro- contradições retóricas e tensões internas e
testos, foram acrescentando uma retórica com aliados que rapidamente tornaram o
anti-imperialista, e depois, crescentemente Partido politicamente insignificante.
antifascista e anticapitalista, a seu próprio Diplomaticamente, o compromisso de
discurso antiguerra, inicialmente ligado ao Nixon com a gradual retirada das tropas do
pacifismo dos objetores de consciência. Essa Vietnã, o restabelecimento de relações com
conexão temática veio acompanhada de China e Argélia e a conclusão da maioria das
grande produtividade organizacional. Com lutas de libertação nacional na África desmo-
apoio do Partido, são criadas, em comuni- bilizou as organizações estudantis antiguerra
dades de população hispânica, asiática, in- e inibiu o apoio internacional aos Panteras.
dígena e de “brancos pobres”, organizações Dava-se fim à pauta “anti-imperial” comum.
similares às dos Panteras. Apoiados princi- Com a universalização das cotas raciais como
palmente nestes novos grupos, e com supor- política de Estado, bem como a ampla refor-
te de aliados que incluíam igrejas, ativistas ma universitária, que tornou os chamados
gays e feministas e grupos antirracistas, os “estudos afro-americanos” item curricular
Panteras Negras criaram o Comitê Nacional obrigatório, normalmente com dotação orça-
de Combate ao Fascismo, sem restrições de mentária e suporte departamental próprios,
filiação. A emergência do que se designou, o governo Republicano capturou a atenção e
por esse comitê, de “Coalizão Arco-Íris”, conquistou a confiança da maioria dos alia-
funcionou como uma correia de transmis- dos dos Panteras nas universidades e entre
são circular: cada grupo assumia sua pauta as classes médias. Alianças e acomodações
particular no esforço conjunto de oposição à políticas são estabelecidas com estes setores:
Guerra no Vietnã, no coletivo de lutas libe- após terem sido expelidos ou hostilizados
ratórias globais e domésticas, e na resistência pelo Partido, a velha guarda do Movimento
à ofensiva policial. dos Direitos Civis e as jovens organizações
O FBI mudou sua estratégia de combate negras assumem, já dentro do governo, a im-
aos Panteras em 1971. Naquele momento, plantação dessas medidas que se tornariam,
embora não contasse com boa parte de seus mais que a retomada das políticas sociais de
quadros políticos, já presos, mortos ou exila- Lyndon B. Johnson, o início da gestação do
dos, o Partido atingiu seu auge de expansão, multiculturalismo como proposta de ordem.
filiação e influência. Em um dos pontos al- O faccionalismo também destruiu os

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Panteras. A liderança do Partido, quando tivos do Black is beautiful — mais orgulhosa


desafiada a iniciar a prometida luta arma- exposição de signos corporais que pesquisa de
da pela facção — depois conhecida por — africanismos — povoem a moda, a cultura pop
Black Liberation Army, optou por tentar e o panteão de referências de inúmeros gru-
preservar aliados politicamente moderados, pos políticos, ninguém seria capaz de reivin-
especialmente entre seus principais patroci- dicar o espólio deles. Falando principalmente
nadores. Huey Newton, que então se deslo- dos Estados Unidos, os autores argumentam
cava para o centro da máquina democrata na que se deve recusar ver qualquer continuida-
Califórnia, e para a gestão de programas de de exatamente onde ela é mais mencionada e
assistência comunitária em nada diferentes reivindicada: entre os advogados da chamada
daqueles que já vinham sendo realizados nas thug life, presentes nas expressões dominantes
várias instâncias de governo, desmilitarizou do rap contemporâneo; e entre os ativistas das
a imagem da organização, abandonou a re- políticas raciais de Estado. Os argumentos de
tórica revolucionária, promoveu expurgos e Bloom e Martin Jr. me convencem de que es-
estabeleceu uma rígida estrutura burocrática tes já seriam outra história, pois suas agendas
de mando. Além disso, estreitou laços com e métodos eram não apenas diferentes: por
pequenas máfias do submundo de Oakland, defenderem, do centro do espectro político,
dinâmica de despolitização que acabou por sobretudo propostas de reforma e reordena-
afastar, sobretudo, aos aliados e rede de con- mento da ordem racial, suas posições seriam
tatos entre a Nova Esquerda. Feministas e adversárias à posição antirracista, às lutas an-
gays externos às comunidades negras já ha- tiestatais e às táticas de recrutamento e poli-
viam retirado seu apoio antes disso, em razão tização do lúmpen criminal que os Panteras
do persistente sexismo que supostamente se praticaram.
definia como traço da atuação dos Panteras. Com cuidadoso uso de documentação
Desbaratados por sucessivos raids po- e crítica aos testemunhos, Blacks Against
liciais, mais duradouros que sua real rele- ­Empire ajuda a esclarecer o complexo traba-
vância, as cisões civis ou armadas do Par- lho de memória — que também é esqueci-
tido perderam rapidamente, após 1973, a mento e encobrimento — que atualmente
consistência programática que caracterizara sustenta (pode-se dizer, também no Brasil) a
sua existência anterior, como pretendida or- gestação de políticas ditas antirracistas. Em-
ganização de massa. Assim, embevecidos e bora não seja evidente, a definição do perfil
guiados apenas pelo heroísmo, os membros da ordem democrática como ligado, não à
remanescentes, reduzidos ao terrorismo ou Questão Política (liberdades), mas à resolu-
ao gangsterismo, deixaram de existir for- ção da Questão Social (compensação, repa-
malmente como grupo. ração), envolve, de variadas formas, a histó-
Embora tantas referências icônicas dos ria de malogro e sucesso de pessoas como os
Panteras, desde a saudação de punhos ergui- Panteras.
dos à sua particular articulação dos impera-

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