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O Romantismo em Portugal

Introdução:
O tema aqui tratado, no âmbito da disciplina de História, é sobre o Romantismo, ou melhor,
como os ideais românticos afetaram a história quer a nível social quer a nível cultural. O
Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico, elaboradas pelo século das Luzes,
que podemos definir como um estado de espírito. O seu nome deriva de "romance" (história de
aventuras medievais), que tiveram uma grande divulgação no final de setecentos, respondendo
ao crescente interesse pelo passado gótico e à nostalgia da Idade Média. As perguntas que
fazemos são em que consiste a essência do Romantismo? Como era sentido? Como era visto
pelos românticos?

Para introduzir a informação correta, pesquisámos arduamente por entre livros, apontamentos,
e pela Internet. Seria correto dizer que foi um trabalho fácil, visto que o “Romantismo” é algo
que temos presente, qualquer uma de nós poderia facilmente dar uma definição breve e
correta. Porém, não é isso que se pretende. Pretendemos demonstrar o que é o Romantismo
e como afetou a humanidade, daí que não seja assim tão fácil. Ao pesquisarmos para este
trabalho deparámo-nos com vários artigos que continham basicamente a mesma coisa.
Esperávamos encontrar diferentes pontos de vista. Obviamente que tratar um tema que parece
simples e no entanto não é, trouxe algumas dificuldades. Então foi preciso organizar o tema
por tópicos, que foram distribuídos por todas, para conseguirmos reunir a informação precisa.
Juntámos ao trabalho um poema de José Gomes Ferreira para ajudar a compreender o
Romantismo e, enfim, os românticos. O Romantismo surgiu, no final do século XVIII, na
Alemanha, a partir do movimento Sturm und Drang (Tempestade e Paixão), depois
desenvolveu-se na Inglaterra e, por volta de 1830, atingiu um ponto alto em França. No
entanto, nós apenas iremos falar no Romantismo em Portugal. Em Portugal surgiu com as
revoltas liberais, em consequência, com o fim do absolutismo, que trouxe às pessoas liberdade.
Liberdade essa que é um dos fatores do Romantismo.

Condições para o surgimento do Romantismo em


Portugal

Culturais

. Surgimento a partir de 1836 como escola, com as suas publicações e com o seu público;

. As traduções da novelística estrangeira: Voltaire, Walter Scott, Alexandre Dumas (filho),


preparam o público português para acolher o romance e as novelas nacionais, que vão ser
influenciadas por todos eles;
. O romantismo português não se pode dissociar da Revolução Liberal de 1820, da derrota dos
absolutistas e das reformas institucionais, e, por isso, reveste-se de particularidades únicas;

. Tem como chefes patriotas Garrett e Herculano, liberais de alma e coração, dedicados à
reconstrução nacional, à reconstrução da grande Pátria através da Literatura, combatendo
a decadência e a humilhação que o País vivia na altura.

. Chora-se o passado grandioso e deposita-se nos patriotas liberais esperanças de liberdade


e de renascimento;

. Herculano aviva a consciência nacional, revive a literatura oral e a novela renasce


modernizada, com o contributo de Garrett e Camilo;

. Restauração do Teatro;

. Criação de uma escola de historiadores preocupados com o rigor científico;

. Incentiva-se o jornalismo e coloquializa-se a linguagem;

. A literatura é avassalada por uma linguagem corrente, mais acessível aos estratos sociais
populares que estão na origem de todas as modificações políticas e sociais, históricas e
culturais do séc. XIX.

Políticas

. Implantação do Regime Liberal;

. Abertura do país ao resto da Europa;

. Abolição da censura;

. Desenvolvimento dos meios de comunicação principalmente dos transportes ferroviários que


aproximam Portugal dos grandes centros europeus.

Sociais

. Importação de modas e gostos estrangeiros (Inglaterra, França e Alemanha);

. Ruína dos fabricantes nacionais;

. Aumento da nova aristocracia;

. Modificações sociais a nível das classes populares.

O Romantismo em Portugal: síntese


“O Romantismo surgiu na Europa numa época em que o ambiente intelectual era de grande
rebeldia.” Em Portugal, teve como marco inicial a publicação do poema "Camões", de Almeida
Garrett, em 1825, e durou cerca de 40 anos terminando por volta de 1865 com a Questão
Coimbrã. Podemos fazer uma partição do Romantismo em Portugal, primeiramente, a Primeira
Geração, que vai de 1825 a 1840, onde os seus principais autores são Almeida Garrett,
Alexandre Herculano e António Feliciano de Castilho; de seguida, a Segunda Geração,
denominada ultra-romântica, que vai de 1840 a 1860, e tem como principais autores Camilo
Castelo Branco e Soares de Passos. Por último, a Terceira Geração, a pré-realista, de 1860 a
1870, que tem como principais autores Júlio Dinis e João de Deus. Segundo José Hermano
Saraiva (in História Concisa de Portugal), o Romantismo é a expressão literária da consciência
burguesa. Acredita no progresso, porque o progresso foi a mola económica da burguesia; entoa
o canto da liberdade, porque para o burguês a liberdade não é senão o exercício do poder por
ele próprio; exalta o sentimento contra a barreira das convenções, porque o sentimento é ele
e as convenções são as sobrevivências das barreiras sociais que se opõem à sua caminhada
triunfal; inventa a alma do povo, ou o espírito nacional, porque se considera o legítimo
representante desses mitos; reinventa a história porque a história lhe permite reconstituir um
pergaminho coletivo e apresentar-se como sendo ele o verdadeiro nobre, o representante das
gerações que, durante séculos desbravaram o caminho da liberdade, ou seja, alguém
importante. No Romantismo as atenções viravam-se para o indivíduo arrebatado pelo
sentimento e pela paixão, consumido pela dor, pela tristeza, pela solidão. É aí que se expressa
o culto do eu, na figura de um herói romântico, um ser insatisfeito, solitário, que rompe com
as normas e dita as suas próprias regras.

“Frequentemente, o presente repugna-lhe e, por isso, o herói romântico, cuja vida é atribulada
e curta, refugia-se na Natureza, cúmplice dos seus estados de alma, mergulha na Idade Média,
que idealiza e mistifica, ou deambula pelo Oriente exótico.”

Mas porque é este herói romântico tão sofrido? Porque é que a vida não lhe corre bem? Porque
está a sociedade em conflito com ele?

A resposta está no que chamamos “mal du siécle”, ou «mal do século», que se integra nas
revoluções liberais. Assim podemos compreender o ambiente de permanente instabilidade em
que viviam. Para além do culto do eu, outro dos temas do Romantismo é a exaltação da
liberdade que se tornou a expressão da ideologia liberal, quer fosse “liberdade de criação, a
liberdade política, social ou económica ou a liberdade dos povos”. O Romantismo sustentou
lutas contra a tirania absolutista, a causa do Liberalismo e combateu a favor dos povos
oprimidos. Entretanto, devido ao interesse pela Idade Média, o Romantismo vai revalorizar as
raízes históricas das nações. Vem daí a paixão pelo estilo gótico na arquitetura e pelos temas
e lendas medievais (Alexandre Herculano).

O Romantismo na Literatura em Portugal:

A poesia

A alma romântica, que ansiava por falar, encontrou uma maneira de se exprimir, através da
Literatura.
“A Literatura romântica desenvolveu-se á margem das regras e dos modelos clássicos.
Cultivou o romance sentimental, onde os sonhos e as paixões dominam e se cultiva o pitoresco
e o exótico.”

O romance, género literário de eleição, produziu grandes obras-primas que ainda hoje são
muito apreciadas. Obras que mexem connosco, que vibram, que nos levam a sonhar com um
amor impossível, ou até a chorar com o fim trágico da história. Em Portugal, a nova corrente
literária foi introduzida por Almeida Garrett e Alexandre Herculano, que foram buscar
inspiração aos escritores românticos franceses, ingleses e alemães. Por isso o Romantismo
português é extremamente semelhante ao Romantismo do resto da Europa.

. Opõe individualidades e especificidades aos modelos clássicos, racionais e universais;

. É sentimental e muito imaginativo;

. Valoriza o pitoresco, o folclore, a tradição, a cultura popular;

. Evoca a Idade Média;

. Deixa-se inspirar pelo espiritualismo cristão.

O Romantismo na literatura era algo nada convencional, era mágico, imprevisível e grandioso.
A poesia foi o género em que melhor se exprimiram as condições românticas, onde se invocava
muito a sensibilidade pessoal, a melancolia, a natureza e tudo o que ela tinha de belo, enfim
o ambiente romântico. Denotava-se um enorme vigor dramático e empenhamento
revolucionário na literatura portuguesa.

As Características da Estética Romântica

. Liberdade de expressão. A paixão é sagrada e não sujeita a normas.

. O herói romântico anda em conflito com a sociedade. É rebelde, desafiador e idealista.

. O herói romântico apesar do seu aspeto viril é frágil e procura na mulher um ser angelical.

. O amor é ligado ao génio do artista; valoriza-se o “tumulto sentimental” e a sinceridade.

. O herói romântico é um homem fatal, sedutor, friamente pálido, de estado melancólico,


deprimido mas também revoltado e destruidor.

. Valorização do amor fora das convenções, o amor criminoso sob ponto de vista moral, como
o incesto.

. O amor é dado como libertação, como apaziguador de males

. O amor é fatal, causa desgraça e mortes.

Ouve, Poeta Romântico

- Uma alegoria ao Romantismo

Ouve, poeta romântico:


Como queres que compreenda a tua dor de incompreendido
Se nunca deitei fogo aos problemas
Para fugir da terra
Num cavalo de asas de fumo?
Nem nunca pairei sobre os homens
De ouvidos tapados
Para ouvir melhor dentro de mim
As lágrimas das sereias
A insinuarem-me ilhas pessoais
Nos berços aéreos das manhãs de sal?

Como queres que entenda o teu desamparo de herói caído


Se nunca andei pelo céu
Com pés de estrelas…
Nem nunca desci á Terra como tu
Para completar a paisagem com os olhos…
Ou dar aos escravos
- A pobre – carne - de - viver dos escravos! –
A glória de comungar de joelhos
A aristocracia da minha dor
- Do tamanho de uma cidade forrada de pêlo humana
Com ruas calcetadas de olhos tristes?

Não poeta romântico.

Cairia morto de vergonha


Se vagueasse pelo mundo
A enxugar lágrimas de pobres
Com lenços de nuvens.

E desceria á fundura
Da raiz mais oculta dos frios
Se não fosse igual a todos
Menos a mim mesmo.

E cegar-me-ia com unhas


Até ao silêncio das imagens
Se passasse como tu os dias e as noites
A mirar-me ao Espelho
Para ver o meu Esqueleto genial
Dependurado com flores
Entre a Terra e o Céu
Num balouçar de Deus
Que não se Regina às pedras nem às nuvens…

-Enquanto no Inferno da vida


Os outros esqueletos
Atiram pazadas de carvão
Para as fornalhas das máquinas
Que brincam o fumo
Onde os poetas desenham quimeras de desdém.

Não poeta romântico.

Eu nasci para cumprir outro destino mais novo.


Ser homem apenas sem sangue excepcional
A arder no desejo absurdo
De andar pelas ruas
Vestido de vidro
Para que todos possam ver na minha alma
A dor comum finalmente revelada!
E os sonhos de todos com terra!
E a fome sem estrelas!
E a cólera sem travões!
E a morte sem anjos!
E a revolta sem bandeiras!
E o sol com sol!

Não poeta romântico.

Como queres que compreenda a tua dor de incompreendido


Se só entendo os homens
Quando choram lágrima de terra?
(E nem me entendo a mim?)

-José Gomes Ferreira


O Teatro Romântico
Primeiramente, o teatro romântico está, acima de tudo, associado às reformas das instituições
que se deram com a derrota do poder absolutista através da Revolução Liberal de 1820. O
teatro é restaurado e é criada uma escola de historiadores. Destacam-se novamente, no teatro
romântico português, “Almeida Garrett e Alexandre Herculano, patriotas de alma e coração
que se dedicam á reconstrução da pátria através da Literatura.” No romantismo assiste-se á
rotura da lei das 3 unidades do teatro clássico: tempo, espaço e ação. O texto começou a ser
escrito em prosa, e não em verso. O teatro romântico procura transmitir e dar a conhecer os
problemas humanos, morais e sociais da época. Um bom exemplo do teatro romântico em
Portugal é Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett (1843). Esta peça é considerada um drama
romântico porque não é escrito em verso, não obedece à lei das 3 unidades, porque não existe
um coro e porque uma das personagens morre em cena. A peça está dividida em três atos e
tem algumas coisas em comum com a tragédia: as personagens são nobres e poucas, a
linguagem é erudita e existem quatro elementos trágicos (pathos, clímax, híbris e catarse).
Um dos temas mais importantes da peça é a liberdade de amar, dificultada pelas convenções
sociais da época.

O Romantismo na música em Portugal:

A Era Romântica

Durante a época do Romantismo, a música, passa por um período que chamamos de Era
Romântica. Enquadra-se entre o ano 1815 até ao início do século XX. Nela estão incluídas todas
as músicas escritas durante este período e que se enquadram dentro das normas estéticas do
período romântico. O romantismo musical em Portugal tem como autores os compositores
Augusto Machado e José Viana da Mota. A música romântica é caracterizada pela sua
flexibilidade e pela procura de transmitir um sentimento, sem dar qualquer importância á
estética. O romantismo conduziu a música a uma atividade de expansão e exagero, relacionado
com as proporções, a forma e o efeito orquestral. Durante este período foram feitas
comparações entre a música e a poesia. Foi criada uma base para a composição e interpretação
da música e houve um crescente interesse nas melodias, e também na composição das
mesmas. A orquestra sinfónica foi desenvolvida, enriquecida e diversificada, com obras cada
vez mais complexas e os instrumentos passaram a ser procurados pelo seu timbre e pela sua
cor. Em Portugal, os compositores românticos tentaram desenvolver e aperfeiçoar as suas
melodias á semelhança de outros compositores famosos da Europa, como por exemplo Franz
Haydn, Mozart e Beethoven. Procuraram uma maior fluência e movimento e um maior
contraste nas músicas. Nas músicas da era romântica, “a mudança de tom acontecia de
maneira mais brusca que no Classicismo e as modulações ocorriam entre tons cada vez mais
distantes. As propriedades dos acordes de sétima diminuta, que permitem modular a
praticamente qualquer tonalidade, foram exploradas exaustivamente.”
Conclusão
Podemos concluir com este trabalho que o Romantismo provocou o impulso da história e da
escrita, sendo completamente o oposto da corrente anterior – o Classicismo - representa, na
literatura e na arte em geral, os anseios da classe burguesa que, na época, estava em
ascensão. Esta «nova maneira de sentir» desenvolveu-se através de toda a Europa. O
Romantismo impulsionou a criação de obras importantíssimas que hoje em dia nós estudamos.
A maioria dessas obras permite-nos conhecer o passado, visto que se tratam de romances
históricos porque nem todos os românticos escreviam para libertar a alma, alguns escreviam
para relatar factos. É claro que tinha de haver condições para o Romantismo surgir. A
Revolução Liberal que acabou com o absolutismo criou uma enorme atmosfera de tristeza,
lamentações, enfim, de desgraça. No entanto, não basta apenas o ambiente para explicar as
origens do Romantismo, foi preciso haver pessoas que dessem andamento a esse movimento.
Foram nomeadamente poetas, músicos, dramaturgos, e por aí fora, que eram pessoas mais
sensíveis às condições que havia, daí que o Romantismo seja de alma dramática. Foi muito
interessante fazer este trabalho, especialmente porque foi feito em grupo, e em grupo
divertimo-nos mais e partilhamos as ideias e opiniões.

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OCT

Resumo e análise literária: "Viagens na minha terra" - Almeida Garret


"Viagens na minha terra" - Análise da obra de Almeida Garret

A obra foi publicada originalmente em folhetins na Revista Universal Lisbonense entre 1845 e 1846,

sendo editada em livro apenas em 1846. Tida como obra única no Romantismo português por sua

estrutura e linguagem inovadoras, Viagens na minha terra é um marco para a moderna prosa portuguesa

e um importante documento de referência para entender a decadência do império português.

RESUMO
A narrativa alterna o relato de viagem com a novela sentimental da “menina dos rouxinóis”. O narrador e seus companheiros
de jornada partem de Lisboa com destino à cidade histórica de Santarém. A passagem por outros locais importantes é
permeada pelo desenvolvimento de reflexões a respeito dos mais variados temas, sempre pertinentes à sociedade lusa.
O eixo condutor dessas reflexões é a oposição entre o espiritualismo e o materialismo. O primeiro teria sido representado
pelo prestígio social da religião durante o absolutismo, enquanto o segundo caracterizaria o governo dos liberais. O narrador
não pende explicitamente para nenhuma das duas correntes, considerando-as igualmente nefastas para o povo português,
vítima de frades e de barões, que são os exploradores que teriam tomado conta do governo liberal interessados unicamente
na obtenção de lucro. Um dos reflexos dessa situação na cultura seria o abandono de monumentos históricos, verificado
em toda a viagem.
Inserida no relato de viagem, há a história de Joaninha, a “menina dos rouxinóis”, cuja ação transcorre no Vale de Santarém.
Os primos Carlos e Joaninha se reencontram depois de alguns anos de separação e confessam seu amor mútuo. No
entanto, Carlos se recusa a rever D. Francisca, a velha cega mantinha laços de amizade com Frei Dinis, por quem Carlos
nutria antipatia desde que o religioso tentara convencê-lo a mudar de partido, argumentando que o liberalismo era
anticristão. Por suas convicções políticas, Carlos acabou exilado na Inglaterra.
De volta à pátria durante a guerra civil que opôs liberais e monarquistas, Carlos colabora para a vitória de seu partido. No
entanto, ferido em combate, fica sob os cuidados de Frei Dinis e de Georgina, moça inglesa com quem ele manteve um
relacionamento durante seu exílio.
Aos poucos, as revelações em torno do passado de Carlos veem à tona. Francisca revela que Carlos é filho de Dinis, que
tinha mantido um relacionamento adúltero com a mãe do rapaz. Ao saber da verdade, Carlos parte, abandonando a prima,
para não submetê-la ao mesmo sofrimento experimentado por outras mulheres que tinham se apaixonado por ele. Joaninha
termina só, enlouquece e morre.
Carlos se torna barão, espécie de explorador, e enriquece. Sua trajetória simboliza a derrota moral do liberalismo.

Foco narrativo
A obra é narrada em primeira pessoa e o narrador é o que conhecemos por “narrador-protagonista”. Ou seja,
a história é contada por um dos personagens principais (no caso, o autor-narrador que viaja pelo país) em
primeira pessoa. Dessa forma, a história tem um ponto de vista fixo, centrado nessa personagem. Além disso,
esse narrador-protagonista está quase inteiramente confinado a seus pensamentos, sentimentos e
percepções.

O que sabemos a respeito das outras personagens (incluindo seus pensamentos e sentimentos), ou nos é
passado através dela mesma, ou através de outra personagem que conta algo ao narrador (em Viagens temos
Frei Dinis contando o drama de Carlos e Joaninha). Essas informações podem ser, ainda, inferências feitas
pelo narrador-protagonista.

A viagem como busca do autoconhecimento


O tema das viagens sempre foi parte integrante da literatura portuguesa, desde o século XIV quando os
navegadores portugueses registravam suas histórias de navegação. Eles produziam uma literatura que não
ficava restrita aos acontecimentos da viagem, mas que continha também os motivos que os levavam a se
deslocar de um local a outro e as descrições em forma narrativa sobre as terras e os homens que encontravam.
Assim, pode-se dizer, que a literatura de viagem não fica restrita ao desejo de conquistar novos territórios,
mas, através do contato com outros povos e culturas, pensar de uma nova maneira o seu próprio eu.

Almeida Garrett faz parte dessa tradição literária ao escrever Viagens na minha terra. Nessa novela, a viagem
não serve apenas para entrelaçar os fatos ali tratados, mas serve em si como elemento temático fundamental.
A viagem como tema da obra está assinalada desde o primeiro capítulo, onde o autor-narrador deixa claro
que vai “nada menos que a Santarém”, tornando sua novela uma crônica-ensaio. Através da viagem pelo
interior do próprio país do autor-narrador, busca-se a fonte do que é ser português em um momento de
drásticas mudanças no país.

O pano de fundo em Viagens na minha terra é a Revolução Liberal. Grosso modo, as ideias liberais surgiram
como oposição ao monarquismo, ao mercantilismo e ao domínio religioso. Portugal, na época um país
monarquista com fortes raízes católicas, via qualquer ideia liberalista como antinacional.

O país já estava enfrentando diversas crises (as invasões de Napoleão e crise do colonialismo no Brasil) e o
embate entre Miguelistas (favoráveis ao monarquismo absolutista de então) e Liberais acabou por gerar uma
guerra civil, em 1830. O embate terminou com uma vitória dos Liberais e a restauração da monarquia
constitucional.

Almeida Garrett, que sempre lutou pelos ideais liberais, mantém nas Viagens este propósito, através da
narração de fatos do presente e do passado, sempre denegrindo àquele em favor do outro. Para tanto, brinca-
se também com a questão do verossímil, criando-se a ilusão do verdadeiro através do uso de um tom
calculadamente coloquial e uma aproximação com o quotidiano.

Dessa forma, as digressões do narrador sobre os mais diversos temas, da literatura à política, servem para
demarcar ideologicamente a obra. O discurso do autor-narrador revela o caótico estado em que se encontra
Portugal, a corrupção da sociedade, a aristocracia decadente e o modelo familiar burguês corrompido por
atitudes individualistas. Assim, pode-se dizer que para o narrador a crise moral coletiva tem origem na moral
individual.

A personagem protagonista Carlos, aparece como símbolo deste embate entre tradição (monarquismo) e
modernidade (ideias liberais). Carlos não consegue se decidir entre Joaninha (que representa o velho
Portugal) e Georgina (representante do novo Portugal). Por fim, o protagonista acaba por desistir de ambas,
perdendo sua identidade e sua moral. Carlos termina como uma representação de uma sociedade alienada e
degradante.

Assim, a preocupação de Garrett em Viagens na minha terra é tentar despertar na nação portuguesa a
consciência da situação em que o país se encontrava e que direção pode ser tomada para tentar mudar o
rumo decadente que Portugal estava tomando. Porém, o próprio autor-narrador não vê perspectivas de
melhora, pois a imagem que o homem português tem de si mesmo não é positiva. Dessa forma, apesar de
conseguir enxergar um caminho para a recuperação de Portugal, Garrett termina a obra com um tom
pessimista.

Comentário do Professor
Para o professor Marcílio Lopes Couto, do Colégio Anglo, o aluno deve antes de tudo ficar atento ao próprio
estilo da obra. Apesar de ser um livro pertencente ao Romantismo, ele foge um pouco aos padrões dessa
escola literária e já anuncia algumas características do Realismo. Além disso, é importante comparar a obra
com outras, como, por exemplo, identificar que aspectos ligam "Viagens na minha terra" a outras obras
românticas que são pedidas no vestibular (Memórias de um Sargento de Milícias e Til) e que aspectos a ligam
a, por exemplo, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

O professor destaca também, que o título da obra de Garrett em si já é importante para compreender o texto.
Já que o livro trata de apenas uma viagem que vai de Lisboa a Santarém, por que o autor coloca viagem no
plural? Estas “viagens” fazem referência a uma série de reflexões políticas, históricas, filosóficas e
existenciais que o autor-narrador trabalha no texto. Assim, estas “viagens” não tratam apenas de um
deslocamento físico, mas também de um “deslocamento psicológico”. “Se o aluno se permitir comprar um
bilhete para essa viagem, pode descobrir muitas coisas interessantes através do texto”, brinca o professor
Marcílio.

CONTEXTO
Sobre o autor
Almeida Garrett foi um ativo participante das forças liberais que combateram o absolutismo em Portugal durante a primeira
metade do século XIX. Depois de algumas experiências no exílio, o escritor assistiu à vitória do liberalismo em 1834. Com
isso, passou para o exercício administrativo, participando do poder político. De certa forma, o livro é fruto dessa dupla
vivência do escritor.
Importância do livro
A viagem de Lisboa a Santarém serve de inspiração para o desenvolvimento de uma série de reflexões a respeito de
questões portuguesas que tinham grande importância naquele momento (meados do século XIX). A inserção de uma novela
passional no interior do relato possui um propósito didático que não era estranho ao romantismo: a ideia era transmitir uma
mensagem de caráter político utilizando-se de um tipo de narrativa de grande apelo popular.
Viagens na Minha Terra foi publicado em folhetins antes de virar livro em 1846. A Revista Universal Lisbonense
disponibilizou os textos entre 1845 e 1846.

ANÁLISE
O título do livro de Garrett é bastante revelador. De fato, por que “viagens”, no plural, se ele empreende uma única excursão
de Lisboa a Santarém? Trata-se de um percurso relativamente curto, cerca de 80 quilômetros. O que ocorre é que ao longo
de suas andanças, o narrador desenvolve uma série de reflexões a respeito dos mais variados assuntos. São essas
reflexões que podem ser consideradas viagens mentais, justificando o título.
A imagem de Portugal engendrada pela narrativa é pouco lisonjeira. Com políticos e administradores incapazes de se
dedicar à tarefa de preservação cultural, monumentos portugueses são relegados ao mais absoluto abandono. Na verdade,
esse retrato serve como emblema do desprezo da elite política pelos valores morais que constituíam os fundamentos da
causa liberal. O que se tem no romance, portanto, é o testemunho desencantado de alguém que se sente traído por antigos
companheiros de bandeiras e de batalhas, por fim transformados em exploradores do mesmo povo cujos interesses
supostamente deveriam defender.
A nota esperançosa do romance fica por conta da crença manifesta pelo narrador de que esse mesmo povo conseguiria
ser o guardião de sua própria identidade cultural. Ainda no plano simbólico, o que se sugere é que o povo lusitano deveria
buscar seus caminhos pelos próprios pés, sem depender de falsos líderes.
Em um primeiro momento, é difícil compreender o papel que a novela sentimental da “menina dos rouxinóis” exerce nesse
livro. Sua exacerbação sentimental parece entrar em choque com o estilo mais livre e irônico do relato de viagem, que tanto
influenciaria a literatura realista luso-brasileira.
A novela possui uma dimensão alegórica que é preciso compreender. A oposição entre Carlos e Frei Dinis figura as
diferenças ideológicas entre liberais e monarquistas que tinham arrastado o país a uma guerra civil. Frei Dinis representa o
Portugal mais conservador e tradicionalista, arraigado a valores superados. Carlos encarna o país cuja modernidade acabou
descambando para a retomada de velhos vícios de exploração e autoritarismo. Joaninha, de sua parte, representa o povo
português, abandonado por um e por outro.
O romance apresenta alguns traços de modernidade e inovação. A digressão (suspensão da narrativa para o
desenvolvimento de reflexões paralelas a ela), a metalinguagem (reflexão sobre o próprio fazer artístico) e o frequente
diálogo com o leitor seriam traços que se consolidariam na literatura de língua portuguesa.

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“Viagens na minha terra” –


Análise da obra de Almeida
Garret
Conheça os principais aspectos do livro
Por Redação
access_time12 abr 2018, 15h11 - Publicado em 17 set 2012, 01h29
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A obra foi publicada originalmente em folhetins na Revista Universal Lisbonense entre


1845 e 1846, sendo editada em livro apenas em 1846. Tida como obra única no
Romantismo português por sua estrutura e linguagem inovadoras, Viagens na minha terra
é um marco para a moderna prosa portuguesa e um importante documento de referência
para entender a decadência do império português.

– Leia o resumo de Viagens na minha terra


Foco narrativo
A obra é narrada em primeira pessoa e o narrador é o que conhecemos por “narrador-
protagonista”. Ou seja, a história é contada por um dos personagens principais (no caso, o
autor-narrador que viaja pelo país) em primeira pessoa. Dessa forma, a história tem um
ponto de vista fixo, centrado nessa personagem. Além disso, esse narrador-protagonista
está quase inteiramente confinado a seus pensamentos, sentimentos e percepções.
O que sabemos a respeito das outras personagens (incluindo seus pensamentos e
sentimentos), ou nos é passado através dela mesma, ou através de outra personagem que
conta algo ao narrador (em Viagens temos Frei Dinis contando o drama de Carlos e
Joaninha). Essas informações podem ser, ainda, inferências feitas pelo narrador-
protagonista.

A viagem como busca do autoconhecimento


O tema das viagens sempre foi parte integrante da literatura portuguesa, desde o século
XIV quando os navegadores portugueses registravam suas histórias de navegação. Eles
produziam uma literatura que não ficava restrita aos acontecimentos da viagem, mas que
continha também os motivos que os levavam a se deslocar de um local a outro e as
descrições em forma narrativa sobre as terras e os homens que encontravam. Assim, pode-
se dizer, que a literatura de viagem não fica restrita ao desejo de conquistar novos
territórios, mas, através do contato com outros povos e culturas, pensar de uma nova
maneira o seu próprio eu.
Almeida Garrett faz parte dessa tradição literária ao escrever Viagens na minha terra.
Nessa novela, a viagem não serve apenas para entrelaçar os fatos ali tratados, mas serve
em si como elemento temático fundamental. A viagem como tema da obra está assinalada
desde o primeiro capítulo, onde o autor-narrador deixa claro que vai “nada menos que a
Santarém”, tornando sua novela uma crônica-ensaio. Através da viagem pelo interior do
próprio país do autor-narrador, busca-se a fonte do que é ser português em um momento
de drásticas mudanças no país.

O pano de fundo em Viagens na minha terra é a Revolução Liberal. Grosso modo, as


ideias liberais surgiram como oposição ao monarquismo, ao mercantilismo e ao domínio
religioso. Portugal, na época um país monarquista com fortes raízes católicas, via
qualquer ideia liberalista como antinacional.

O país já estava enfrentando diversas crises (as invasões de Napoleão e crise do


colonialismo no Brasil) e o embate entre Miguelistas (favoráveis ao monarquismo
absolutista de então) e Liberais acabou por gerar uma guerra civil, em 1830. O embate
terminou com uma vitória dos Liberais e a restauração da monarquia constitucional.

Almeida Garrett, que sempre lutou pelos ideais liberais, mantém nas Viagens este
propósito, através da narração de fatos do presente e do passado, sempre denegrindo
àquele em favor do outro. Para tanto, brinca-se também com a questão do verossímil,
criando-se a ilusão do verdadeiro através do uso de um tom calculadamente coloquial e
uma aproximação com o quotidiano.

Dessa forma, as digressões do narrador sobre os mais diversos temas, da literatura à


política, servem para demarcar ideologicamente a obra. O discurso do autor-narrador
revela o caótico estado em que se encontra Portugal, a corrupção da sociedade, a
aristocracia decadente e o modelo familiar burguês corrompido por atitudes
individualistas. Assim, pode-se dizer que para o narrador a crise moral coletiva tem
origem na moral individual.

A personagem protagonista Carlos, aparece como símbolo deste embate entre tradição
(monarquismo) e modernidade (ideias liberais). Carlos não consegue se decidir entre
Joaninha (que representa o velho Portugal) e Georgina (representante do novo Portugal).
Por fim, o protagonista acaba por desistir de ambas, perdendo sua identidade e sua moral.
Carlos termina como uma representação de uma sociedade alienada e degradante.

Assim, a preocupação de Garrett em Viagens na minha terra é tentar despertar na nação


portuguesa a consciência da situação em que o país se encontrava e que direção pode ser
tomada para tentar mudar o rumo decadente que Portugal estava tomando. Porém, o
próprio autor-narrador não vê perspectivas de melhora, pois a imagem que o homem
português tem de si mesmo não é positiva. Dessa forma, apesar de conseguir enxergar um
caminho para a recuperação de Portugal, Garrett termina a obra com um tom pessimista.

Comentário do Professor
Para o professor Marcílio Lopes Couto, do Colégio Anglo, o aluno deve antes de tudo
ficar atento ao próprio estilo da obra. Apesar de ser um livro pertencente ao Romantismo,
ele foge um pouco aos padrões dessa escola literária e já anuncia algumas características
do Realismo. Além disso, é importante comparar a obra com outras, como, por exemplo,
identificar que aspectos ligam “Viagens na minha terra” a outras obras românticas que são
pedidas no vestibular (Memórias de um Sargento de Milícias e Til) e que aspectos a ligam
a, por exemplo, Memórias Póstumas de Brás Cubas.
O professor destaca também, que o título da obra de Garrett em si já é importante para
compreender o texto. Já que o livro trata de apenas uma viagem que vai de Lisboa a
Santarém, por que o autor coloca viagem no plural? Estas “viagens” fazem referência a
uma série de reflexões políticas, históricas, filosóficas e existenciais que o autor-narrador
trabalha no texto. Assim, estas “viagens” não tratam apenas de um deslocamento físico,
mas também de um “deslocamento psicológico”. “Se o aluno se permitir comprar um
bilhete para essa viagem, pode descobrir muitas coisas interessantes através do texto”,
brinca o professor Marcílio.

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Resumo
A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No primeiro, o
narrador conta suas impressões de viagens, intercalando citações literárias,
filosóficas e históricas das mais diversas, com um tom fortemente subjetivo e
repleto de digressões e intertextualidades. Dentre as referências literárias,
podemos levantar citações a Willian Shakespeare, Luis de Camões, Miguel de
Cervantes, Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e
filosóficas, temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e outros.
Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de viagem, conta o
drama amoroso que envolve cinco personagens. Essa narrativa amorosa tem
como pano de fundo as lutas entre liberais e miguelistas (1830 a 1834).
O livro começa com o narrador contando sobre a sua vontade de partir em uma
viagem de Lisboa à Santarém. Chegando a seu destino, o narrador começa a
tecer comentários através da observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se
início à história de amor entre Joaninha e Carlos.

No romance, Joaninha é uma moça que mora apenas com sua avó, D.
Francisca. Semanalmente, elas recebem a visita de Frei Dinis, que traz notícias
do filho de D. Francisca, Carlos. Ele está ausente da cidade já há alguns anos e
faz parte do grupo de D. Pedro. Frei Dinis e D. Francisca guardam algum
segredo sobre Carlos.

Frei Dinis foi um nobre cheio de posses, mas resolveu abandonar tudo e sumir e
volta para Santarém dois anos depois, como frei. O narrador critica essa
mudança, por para ele qualquer um poderia facilmente ser ordenado frei de uma
hora para outra.

Quando a guerra civil atinge Santarém, Carlos, que havia ido para a Inglaterra
após desentender-se com Frei Dinis, resolve voltar à cidade. É quando ele
reencontra sua prima Joaninha. Eles trocam um beijo apaixonado como se
fossem namorados. Porém, Carlos tem uma esposa na Inglaterra, chamada
Georgina, se vê atormentado pela dúvida de contar ou não a verdade para sua
prima.

Ferido durante a guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa de Joaninha.


Após se recuperar, ele pede para que D. Francisca revele o segredo que ela
esconde. Então, ela acaba contando que Frei Dinis é o pai de Carlos e que sua
verdadeira mãe já morreu.

Ao saber da verdade, Carlos parte e volta a viver com a esposa. Porém,


Georgina diz ter ouvido de Frei Dinis toda a história de amor entre Carlos e
Joaninha e declara não mais amar o marido. Carlos pede perdão à esposa e diz
não mais amar Joaninha, porém, Georgina não o aceita de volta.

Na parte final sabemos através de Frei Dinis o destino das personagens: Carlos
larga as paixões e começa sua carreira na política como barão, mas depois de
um tempo desaparece. Joaninha, sem seu grande amor, e D. Francisca morrem.
Georgina vai para Lisboa. “Santarém também morre; e morre Portugal”, termina
por relatar Frei Dinis.

Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série de digressões


filosóficas, reflexões sobre fatos históricos e crítica literária sobre diversos
autores, tanto clássicos quanto modernos, e suas obras.
Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles: “Eu não sou
romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser – ao menos, o que na algaravia
de hoje se entende por essa palavra”. Garrett, embora pertencente ao
movimento romancista de Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao
Romantismo então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado” por
escritores menores que buscavam modelo numa literatura fácil para agradar ao
público, com interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o
verdadeiro movimento modernista.

Personagens
As personagens de “Viagens na Minha Terra” funcionam como uma visão
simbólica de Portugal, buscando-se através disso as causas da decadência do
Império Português. O final do drama, que culmina na morte de Joaninha e na
fuga de Carlos para tornar-se barão, representa a própria crise de valores em
que o apego à materialidade e ao imediatismo acaba por fechar um ciclo de
mutações de caráter duvidoso e instável.
Temos, então, as seguintes personagens e suas possíveis interpretações
simbólicas dentro da obra:

Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre suas relações
amorosas, podendo ser ligado às características biográficas do próprio Almeida
Garrett.
Georgina: namorada inglesa de Carlos, é a estrangeira de visão ingênua, que
escolhe a reclusão religiosa como justificativa para não participar dos dilemas e
conflitos históricos que motivaram sua decepção amorosa.
Joaninha: prima e amada de Carlos. Meiga e singela, é a típica heroína
campestre do Romantismo. Simboliza uma visão ingênua de Portugal, que não
se sustenta diante da realidade histórica.
D. Francisca: velha cega avó de Joaninha. Mostra-nos a imprudência e a falta
de planejamento com que Portugal se colocava no governo dos liberalistas,
levando a nação à decadência.
Frei Dinis: é a própria tradição calcada num passado histórico glorioso, que no
entanto, não é mais capaz de justificar-se sem uma revisão de valores e de
perspectivas.
Sobre Almeida Garrett
Almeida Garrett nasceu na cidade do Porto, Portugal, em 1799, com o nome de
batismo de João Leitão da Silva. Durante sua época de estudante de Direito, em
Coimbra, passou a adotar o nome que o tornaria célebre: Almeida Garrett.
Participou da revolução liberal e ficou exilado na Inglaterra em 1823. Durante
esse tempo, casou-se e teve contato com o movimento romântico inglês. Em
1824 mudou-se para França e escreveu Camões e Dona Branca, obras que
inauguraram o romantismo português. Ávido defensor do liberalismo, Almeida
enfrenta outros diversos exílios ao longo dos anos.
Após retornar definitivamente a Portugal, passa a incentivar a literatura e o
teatro, escrevendo inúmeros livros e peças teatrais. É dele, por exemplo, a
iniciativa de criar o Conservatório de Arte Dramática e o Teatro Normal
(atualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Faleceu em Lisboa no dia 9
de dezembro de 1854.
Suas principais obras são: “Camões” (1825), “Dona Branca” (1826),
“Romanceiro” (1843), “Cancioneiro Geral” (1843), “Frei Luis de Sousa” (1844),
“D’o Arco de Santana” (1845) e “Viagens na minha terra” (1846).

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