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E N S I N O S U PER IO R N A Á FRIC A
Universidades moçambicanas
e o futuro de Moçambique
EM 13 ANOS DE EXPANSÃO CONTÍNUA E SEM CRITÉRIO, O PAÍS PASSOU DE 5 PARA 44
INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR, E DE 10 MIL ESTUDANTES PARA 120 MIL
do Governo. O Plano olhava mais para as questões ouvir (como em todos os inícios de processos, com
econômicas como principal panaceia da saída do vozes de volume elevado).
país da pobreza absoluta para integrar o concer- Como consequência disso, leituras diversas
to das nações, depois de dezesseis anos de de- eram colocadas, marcadamente a de assimetrias
sestruturação, destruição e inanição provocadas regionais, a exclusão de partes de Moçambique
pela guerra civil. Desde logo, o chefe de estado foi que vinham a agravar conflitos latentes e reacen-
sendo questionado pelo imobilismo nas intenções der algumas vozes que justificavam a guerra civil
de promover um debate abrangente sobre ensi- como resultado de problemas fundamentalmente
no superior, incluindo a questão da expansão. De internos, excluindo a conjuntura de fatores ex-
lembrar que as duas outras instituições de ensino ternos que alimentou o conflito. A aprovação da
superior públicas, surgidas de iniciativa de enti- Lei 1/93 – que estabelecia, pela primeira vez, um
dades como o Ministério da Educação e Cultura regime legal em que se abria espaço à entrada
e o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Coo- de operadores privados no estabelecimento de
peração, nomeadamente o Instituto Superior Pe- instituições de ensino superior em Moçambique
dagógico e o Instituto Superior de Relações Inter- – e a criação, em fevereiro de 1995, da Comissão
nacionais, foram, durante muito tempo, tratadas Comiche – que tinha como missão refletir, estu-
como parentes menores perante a Universidade dar, conceber e propor ao governo uma política
Eduardo Mondlane, servindo como alternativa vo- coerente sobre a expansão do ensino superior em
cacional para os setores que os criaram, embora Moçambique – constituem as duas principais ala-
a própria UEM paralelamente formasse quadros vancas que tentavam dar uma nova dinâmica à
para as mesmas áreas. problemática do ensino superior em nosso país.
O peso da UEM como universidade nacional
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ciências sociais e humanas. Por isso, importa sa- aproveitando-se do discurso de que o Distrito é
lientar que a defasagem entre aquilo de que o país polo de desenvolvimento, se apressaram a insta-
necessita e aquilo que as instituições de ensino lar-se nesses espaços da administração territorial,
superior formam e colocam no mercado deve ser alugando instalações de escolas primárias para
equacionada como uma situação de mentalidade. levar a efeito o seu trabalho.
É dentro dessa promiscuidade entre bons
Conclusão
N o que toca à ciência e à tecnologia, foi tratada
como um capítulo à parte, sendo que as uni-
versidades apareciam como parceiras das entida-
Analisando o percurso das estratégias que des dedicadas à investigação científica dos diver-
desde 1995 foram sendo adotadas para a evolu- sos setores da administração pública. O sistema
ção, expansão e consolidação do ensino superior, privado que apareceu em 1995 debatia-se ainda
podemos concluir o seguinte: com uma presunção oriunda da mentalidade de
Em primeiro lugar, as reflexões, conclusões e que do privado nada de bom podia aparecer para
recomendações da Comissão Comiche não foram a sociedade, pelo que as primeiras instituições pri-
devidamente levadas em conta pelas políticas ado- vadas de ensino superior não mereceram atenção
tadas subsequentemente. Assim, à recomenda- adequada por parte do ministério, mesmo quando
ção para que se criasse uma tutela unificada para o se tratasse de programas de incentivo, que, à par-
ensino superior, ciência e tecnologia que pudesse tida, são a título devolutivo.
operacionalizar essas mesmas recomendações, Com o primeiro mandato de Armando Guebuza,
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porque efetivamente o MESCT não soube cumprir de quadros por meio da redução do tempo de
cabalmente o propósito para o qual foi criado, o permanência dos estudantes no ensino superior,
ministério teve uma morte natural, regressando a tentando impôr, sem discussões prévias, o modelo
tutela para o Ministério da Educação. Nesse man- de Bolonha, mal assimilado.
dato ainda, o discurso político enfatizou a ques-
tão do desenvolvimento dos Distritos como pólos
de desenvolvimento, virando as atenções para a
descentralização e desconcentração do poder. A
E m última análise, podemos afirmar que as es-
tratégias seguidas relativas à expansão do ensi-
no superior em Moçambique, e as medidas toma-
questão da expansão do ensino superior foi, com das para a sua efetivação, não levaram em conta
toda naturalidade, atingida por essa nova postura. a defesa dos padrões que, em princípio, deviam
Desse modo, vamos assistir a uma aceleração no ser considerados como fundamentais para que a
processo da expansão do ensino superior, através educação superior se mantenha nos parâmetros
da rede pública, com a criação de mais institutos adequados. Neste momento não é possível esta-
superiores politécnicos e de duas universidades: belecer de uma forma objetiva qualquer avaliação
a Unizambeze e a Unilúrio, bem como através comparativa com os centros universitários mais
da Universidade Pedagógica, o abandono do avançados da região e até internacionais.
seu carácter vocacional para o de universidade Em Moçambique há um pouco de tudo: bons
generalista. programas de formação graduada e pós-gradua-
da, bons docentes universitários de renome inter-
Na era da globalização, quando verificamos [2] Castro, Alda Maria Duarte Araújo. 2010. Dispo-
que os grandes centros universitários procuram nível em http://scholar.googleusercontent.com/
fundir-se, procuram federar-se ou procuram co- Acesso em 12 de Fevereiro de 2012.
laborar para se transformar em centros de exce- [3] Governo de Moçambique, 1998. Relatório sobre
lência nos seus programas, bom seria que neste a Expansão do Ensino Superior em Moçambique.
movimento centrípeto dos centros universitários [4] Governo de Moçambique, 2001. Relatório Nacio-
pudéssemos ser parte, atraindo e sendo atraídos nal de Moçambique sobre Desenvolvimento da
por centros de excelência lá de fora. Educação. Ministério da Educação,. Direção de
Planificação.
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