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NORBERTO BOBBIO
Nascimento: 18/10/1909 – Turim (Itália)
Morte: 09/01/2004 – Turim (Itália)
- Corpus Iuris Civilis: “quod ad statum rei romanae spectat” e “quod ad singulorum utilitatem”
- Embora “privado” possa ser definido independentemente de “público”, este último é o termo mais
forte, de modo que se costuma definir “privado” como “não público”
- Público: aquilo que pertence ao grupo; Privado: aquilo que pertence aos membros singulares
- Público: sociedade global; Privado: grupos menores
- Público: poder central superior; Privado: poderes periféricos inferiores
- Digesto: “ius publicum privatorum pactis mutari non potest” – supremacia do direito público sobre o
privado
b) Lei e contrato
a) O primado do privado
- Primado do Direito Privado: difusão e recepção do Direito Romano no Ocidente (século XX)
- Direito Público: nasceu tarde, na época da formação do Estado moderno (século XV)
b) O primado do público
a) Público ou secreto
- A dicotomia público/privado é diferente da distinção que conceitua “público” como sendo o que é
manifesto, e “privado” como aquilo que se diz e se faz em segredo
- “Conceitualmente e historicamente, o problema do caráter público do poder é um problema diferente
daquele que se refere à sua natureza de poder político distinto do poder dos privados: o poder político é
o poder público no sentido da grande dicotomia mesmo quando não é público, não age em público,
esconde-se do público, não é controlado pelo público”
- Immanuel Kant: “todas as ações relativas ao direito de outros homens cuja máxima não é conciliável
com a publicidade são injustas”
- Arcana imperii: poder absoluto
- Enquanto o principado, a monarquia de direito divino e as várias formas de despotismo demandam a
invisibilidade do poder e a justificam, a república democrática exige que o poder seja visível: o lugar onde
se exerce o poder em toda forma de república é a assembleia dos cidadãos, na qual o processo de
decisão é in re ipsa público
- Brasil: artigos 5º, LX; 37, caput; e 93, IX da Constituição Federal
II. A SOCIEDADE CIVIL
1. As várias acepções
- Definição negativa: o Estado costuma ser compreendido restritivamente como o conjunto dos aparatos
que em um sistema social organizado exercem o poder coativo, e a sociedade civil como o conjunto
das relações não reguladas pelo Estado
- Definição positiva: sociedade civil é o lugar onde surgem e se desenvolvem os conflitos econômicos,
sociais, ideológicos, religiosos, que as instituições estatais têm o dever de resolver pela mediação ou
repressão
- Sociedade civil: esfera das relações sociais distinta da esfera das relações políticas
- Origem alemã: bürgerliche Gesellschaft significa tanto sociedade civil como sociedade burguesa
- O uso da expressão “sociedade civil” como termo indissoluvelmente ligado a Estado, ou sistema político,
é de derivação marxiana, e através de Marx, hegeliana
- Para Marx, a sociedade civil é a sociedade burguesa (bürgerliche Gesellschaft), lugar onde se
desenvolvem as relações econômicas
- Marx: “o Estado moderno tem como base natural a sociedade civil, o homem da sociedade civil, isto é, o
homem independente, unido ao outro homem apenas pelo vínculo do interesse privado e da necessidade
natural inconsciente”
- Tal descrição de sociedade civil coincide com o estado de natureza hobbesiano, e, por isso, se contrapõe
àquilo que Hobbes considera sociedade civil
3. O sistema hegeliano
- Diferentemente de Marx, Hegel não considera a sociedade civil como o momento que precede a formação
do Estado, mas como o primeiro momento de formação do Estado
- O uso hegeliano de sociedade civil como Estado, embora como uma forma inferior de Estado, corresponde
ao significado tradicional de societas civilis, no qual civilis de civitas é sinônimo de politikós de pólis
(concepção fomentada por Aristóteles)
- Com o uso jusnaturalista da expressão “sociedade civil”, ela assumiu o significado exclusivo de Estado
como entidade instituída pelos homens por sobre as relações naturais, ou melhor, como regulamentação
voluntária das relações naturais, ou, ainda, como sociedade artificial, enquanto em seu significado
originário aristotélico a sociedade civil (koinonéia politiké) é uma sociedade natural semelhante à família
- “A digressão histórica mostrou a variedade de significados, inclusive entre si contrastantes, com os quais foi
usada a expressão ‘sociedade civil’. Resumindo, o significado predominante foi o de sociedade política ou Estado.
Ao lado deste, o outro significado tradicional foi o que aparece na sequência sociedades selvagens, bárbaras e
civis, que constituiu [...] um esquema clássico para o delineamento do progresso humano [...]. Uma história
completamente diversa começa com Hegel, para o qual [...] a sociedade civil não compreende mais o Estado na
sua globalidade, mas representa apenas um momento no processo de formação do Estado. Tal história prossegue
com Marx, que [...] compreende na esfera da sociedade civil exclusivamente as relações materiais ou
econômicas, e, com uma inversão já completa do significado tradicional, não apenas separa a sociedade civil do
Estado como dela faz o momento ao mesmo tempo fundante e antitético”
- Com Maquiavel, o Estado não foi mais assemelhado a uma forma de sociedade, como faziam os jusnaturalistas e
contratualistas. Para ele, o Estado não é mais o Estado-sociedade, mas o Estado-máquina
- Para Bobbio, a contraposição entre a sociedade e o Estado que alça voo com o nascimento da sociedade
burguesa é a consequência natural de uma diferenciação que ocorre nas coisas e, ao mesmo tempo, de uma
consciente divisão de tarefas, cada vez mais necessária, entre os que se ocupam da “riqueza das nações” e os
que se ocupam das instituições políticas
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1. PARA O ESTUDO DO ESTADO
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1. PARA O ESTUDO DO ESTADO
■ Estado e sociedade
Hegel considera a teoria política como uma teoria do estado culminante, em que
o Estado resolve e supera os dois momentos precedentes, a família e a
sociedade civil.
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1. PARA O ESTUDO DO ESTADO
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2. O NOME E A COISA
■ A origem do nome
- A cunhagem do termo Estado, que englobando república e monarquia, é um
gênero recente.
Tal termo serve apenas para os modernos Estados nacionais ou também para
organizações mais antigas?
- A favor do sentido estrito, o fato dos Estados nacionais serem únicos e
recentes;
- A favor do sentido amplo o fato de as obras clássicas ainda servem para os
Estados modernos.
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2. O NOME E A COISA
■ A origem do nome
Existem várias teses sobre a origem do Estado como dissolução das famílias em
favor de algo mais amplo para se proteger e sobreviver.
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2. O NOME E A COISA
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2. O NOME E A COISA
A partir desse ponto de vista, sustentar-se-ia que a polis grega não é um estado
e nem tampouco a sociedade feudal.
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2. O NOME E A COISA
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2. O NOME E A COISA
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2. O NOME E A COISA
■ Quando nasceu o Estado?
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3. O ESTADO E O PODER
■ Teorias do poder
A teoria do estado apoia-se sobre a teoria dos três poderes e da relação entre
eles.
O processo político é ali definido como a formação, a distribuição e o exercício do
poder.
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3. O ESTADO E O PODER
■ Teorias do poder
Na filosofia política - poder sob três aspectos: substancialista; subjetivista
e relacional;
Nas teorias substancialistas, o poder é concebido como uma coisa que se possui
e se usa como um outro bem qualquer. Esta típica interpretação é a de Hobbes
Típica interpretação subjetivista é a de Locke onde poder é a capacidade do
sujeito de obter certos efeitos. (direito subjetivo)
A terceira - conceito relacional de poder estabelece que por poder se deve
entender uma relação entre dois sujeitos, dos quais o primeiro obtém do
segundo um comportamento que em caso contrário não ocorreria.
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3. O ESTADO E O PODER
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3. O ESTADO E O PODER
Estas três formas de poder contribuem para manter sociedades desiguais, divididas
entre fortes e fracos (com base no poder político); entre ricos e pobres (com base no
poder econômico) e em sábios e ignorantes (com base no poder ideológico).
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3. O ESTADO E O PODER
■ O primado da política
Necessária imoralidade ou amoralidade da ação política que deve visar o próprio fim.
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4. O FUNDAMENTO DO PODER
■ O problema da legitimidade
Problema da justificação do poder político: basta sua força para fazê-lo aceito por
aqueles sobre os quais se exerce, para induzir seus destinatários a obedecê-lo???
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4. O FUNDAMENTO DO PODER
■ O problema da legitimidade
→ O poder político fundado exclusivamente sobre a força, como distingui-lo do poder
de um bando de ladrões?
Poder político – deve ter, também, uma justificação ética.
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4. O FUNDAMENTO DO PODER
■ Legitimidade e efetividade
Em oposição à teorias anteriores que defendem que a legitimidade é necessária
para a efetividade, as teorias positivistas abrem caminho a tese de que apenas o
poder efetivo é legítimo.
Concepção que considera como direito apenas o direito posto pelas autoridades
delegadas para este fim pelo próprio ordenamento e tornado eficaz por outras
autoridades previstas pelo próprio ordenamento
■ Legitimidade e efetividade
Por sua vez, Niklas Luhmann entende que nas sociedades complexas que
concluíram o processo de positivação, a legitimidade não está em valores, mas em
procedimentos específicos, como eleições, processo legislativo e processo judiciário,
prestações do próprio sistema.
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5. ESTADO E DIREITO
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5. ESTADO E DIREITO
Questão: se as leis são geralmente postas por quem detém o poder, de onde vêm
as leis a que deveria obedecer o próprio governante?
i) além das leis postas pelos governantes existem as leis que não dependem da vontade dos
governantes, e estas são leis naturais, ou leis cuja força vinculatória está radicada numa tradição.
ii) no início de um bom ordenamento existe um sábio, o grande legislador que deu ao povo
uma constituição que deve ser escrupulosamente ater-se.
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5. ESTADO E DIREITO
■ Os limites internos
1) A ideia recorrente do governo das leis como superior ao governo dos homens não
quer dizer que o poder do príncipe não tenha limites: as leis a que se refere o
princípio são leis positivas, ou seja, as leis postas pelo próprio soberano, isto não
exclui que esteja submetido enquanto homem, como todos os homens a leis
naturais e divinas
2) Bodin acrescenta a limitação pelas leis fundamentais do reino (como por exemplo
a que regula a sucessão do trono)
3) O poder do rei não se estende a esfera do direito privado (que é considerado
direito natural) salvo em caso de justificada necessidade. Para alguns o poder do rei
deve ser limitado não apenas pela existência de leis superiores, mas também pela
existência de centros de poder legítimos presentes Estado (clero, nobreza, as
cidades).
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5. ESTADO E DIREITO
■ Os limites internos
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5. ESTADO E DIREITO
■ Os limites externos
2 tipos de limites:
- os que derivam das relações entre governantes e governados (limites
internos);
- os que derivam das relações entre Estados (limites externos).
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6. FORMAS DE GOVERNO
Nos tipos de Estado leva-se mais em conta as relações de classes, a relação entre
o sistema de poder e a sociedade subjacente
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6. FORMAS DE GOVERNO
■ Tipologias clássicas
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6. FORMAS DE GOVERNO
■ Tipologias clássicas
II - Maquiavel as reduz a 2:
- monarquia e república (correspondendo tanto as aristocráticas quanto as
democráticas)
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6. FORMAS DE GOVERNO
■ Tipologias clássicas
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6. FORMAS DE GOVERNO
■ Tipologias clássicas
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6. FORMAS DE GOVERNO
■ Monarquia e república
A distinção que melhor resistiu ao tempo, chegando aos nossos dias foi a distinção
maquiaveliana entre monarquia e república, ainda que tais formas originárias
tenham sido alteradas com o passar do tempo:
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6. FORMAS DE GOVERNO
■ Governo misto
A razão pela qual o governo misto é superior a todos os demais repousa, segundo
Políbio, no fato de que cada órgão pode obstacularizar os outros ou com eles
colaborar e nenhuma das partes excede a sua competência e ultrapassa a medida.
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7. AS FORMAS DE ESTADO
■ Formas históricas
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7. AS FORMAS DE ESTADO
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7. AS FORMAS DE ESTADO
■ Os Estados socialistas
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7. AS FORMAS DE ESTADO
■ Estado e não-Estado
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7. AS FORMAS DE ESTADO
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7. AS FORMAS DE ESTADO
■ Estado liberal
Com origem nos Estados laicos e abstencionistas, também definido com Estado de
direito, não tendo outro fim senão o de
garantir juridicamente o desenvolvimento o mais autônomo possível das duas barrei
ras fronteiriças.
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8. O FIM DO ESTADO
É conhecida a tese de Engels segundo a qual o Estado assim como teve uma
origem, terá seu fim, na medida que desaparecerem as causas que o produziram.
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8. O FIM DO ESTADO
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8. O FIM DO ESTADO
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8. O FIM DO ESTADO
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8. O FIM DO ESTADO
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IV. DEMOCRACIA E DITADURA
1. A democracia na teoria das formas de governo
- Uso descritivo (ou sistemático): tipologia das formas de governo que historicamente existiram
- Uso prescritivo (ou axiológico): juízos de valor com base nos quais as constituições são dispostas conforme
uma ordem de preferência
- Uso histórico: descrição dos vários momentos sucessivos do desenvolvimento histórico considerado como
uma passagem obrigatória de uma forma de governo a outra
2. O uso descritivo
- A democracia é uma das três possíveis formas de governo – as outras são a aristocracia e a monarquia –
baseadas no número de governantes
- Democracia: o poder é exercido por todo o povo, pelo maior número, ou por muitos
- Heródoto: Otane (defensor da democracia), Megabizo (defensor da aristocracia) e Dario (defensor da monarquia)
a) tipologia que não distingue as formas puras das corruptas: a democracia é a melhor forma, é a pior, ou está no meio entre a
melhor e a pior (as duas primeiras hipóteses são as mais frequentes)
b) tipologia que distingue as formas puras das corruptas: a democracia pode ser tanto a pior (ou a melhor) das formas boas,
quanto a melhor (ou a pior) das formas más
- Pensamento grego:
a) Tese platônica: democracia é a pior das boas e a melhor das más formas de governo
b) Tese polibiana: democracia é a pior das boas e a pior das más formas de governo
- Escritores que se colocam ex parte principis X escritores que se colocam ex parte Populi
problema: unidade do poder problema: liberdade dos singulares
- Bobbio: “a disputa entre o defensor da monarquia e o defensor da democracia é sempre uma disputa entre dois
contendores que se colocam de dois pontos de vista opostos para analisar e avaliar o mesmo fenômeno. A
solução que o defensor da democracia dá ao problema da liberdade [...] é, no limite, a identificação do
governado com o governante, ou seja, a eliminação da figura do governante como figura separada da do
governado”.
- Com o passar do tempo, há uma progressiva extensão dos direitos políticos, um avanço da democracia e um
retrocesso da autocracia
4. O uso histórico
- Montesquieu: monarquia como forma de governo mais adequada aos grandes Estados territoriais
europeus, despotismo como forma de governo mais adequada aos povos orientais, e a República
como forma de governo mais adequada aos povos antigos
- Hegel: a primeira forma que [...] vemos na história universal é o despotismo, a segunda é a
democracia e a aristocracia, e a terceira é a monarquia”. Para ele, portanto, a democracia é uma
forma de governo que pertence ao passado
5. A democracia dos modernos
- Na época dos grandes Estados territoriais, se afirmava que o governo democrático apenas era
possível nos pequenos Estados
- Até a primeira guerra mundial: fortalecimento da democracia com a afirmação dos Estados
representativos – alargamento do direito de voto e formação dos partidos de massa
- Persistência da democracia direta (a democracia indireta era considerada, por alguns, como um
desvio condenável da ideia originária de governo do povo, pelo povo e através do povo)
- Brasil: Artigo 1º, parágrafo único, da Constituição Federal - “todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”
7. Democracia política e democracia social
- Bobbio: “Hoje, quem deseja ter um indicador do desenvolvimento democrático de um país deve considerar
não mais o número de pessoas que têm direito de votar, mas o número de instâncias diversas daquelas
tradicionalmente políticas nas quais se exerce o direito de voto. Em outros termos, quem deseja dar um
juízo sobre o desenvolvimento da democracia num dado país deve pôr-se não mais a pergunta ‘quem
vota?’, mas ‘onde se vota?’”
- Diferenciação entre a democracia formal, que diz respeito precisamente à forma de governo – “quem
governa?” e “como governa?” -, e a democracia substancial, que diz respeito ao conteúdo desta forma
- Tipologia tradicional simplificada para duas formas de governo: democracia e autocracia, sendo que
esta última hoje é comumente designada pelo termo “ditadura”
- Conceito de ditadura estendido ao poder instaurador de uma nova ordem e à função legislativa
(inclusive a constituinte)