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1. Para cada um dos itens que se seguem (1.1 a 1.8), escreve na folha de resposta a letra V ou F de acordo
com a veracidade de cada afirmação.
1.1. A obra Bichos, de Miguel Torga, é composta de catorze contos todos eles sobre animais irracionais.
1.2. Ao escrever esta obra o autor tinha a intenção de se questionar sobre Deus e de questionar o homem
sobre a temática da existência.
1.3. Em todos os contos, as personagens da obra estão a bordo da Arca de Noé.
1.4. A obra Bichos é a procura da parte mais selvagem e mais pura dos animais.
1.5. Miguel Torga foi batizado com este nome devido ao arcanjo que era o preferido do seu tio.
1.6. Miguel Torga trabalhou com o tio no Brasil que lhe pagou o curso de Medicina em Coimbra.
1.7. Torga trabalhou para o Estado Novo e foi aclamado pela publicação dos seus livros.
1.8- Este escritor foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.
A tremer como varas verdes, de cólera e de angústia, olhou à volta. Um tapume redondo e, do lado de
lá, gente, gente, sem acabar.
Com a pata nervosa escarvou a areia do chão. Um calor de bosta macia correu-lhe pelo rego do
servidoiro. Urinou sem querer.
5 Gritos da multidão.
Que papel ia representar? Que se pedia do seu ódio?
Hesitante, um tipo magro, doirado, entrou no redondel.
Olhou-o a frio. Que força traria no rosto mirrado, nas mãos amarelas, para se atrever assim a transpor
a barreira?
10 A figura franzina avançou.
Admirado, Miura olhava aquela fragilidade de dois pés. Olhava-a sem pestanejar, olímpica e
ansiosamente.
Com ar de quem joga a vida, o manequim de lantejoulas caminhava sempre. E, quando Miura o tinha já
à distância dum arranco, e ainda sem compreender olhava um tal heroísmo, enfatuadamente o outro
15 bateu o pé direito no chão e gritou:
- Eh! boi! Eh! toiro! (…)
Tinha de ser. Já que desejavam tão ardentemente o fruto da sua fúria, ei-lo.
Mas o homem que visou, que atacou de frente, cheio de lealdade, inesperadamente transfigurou-se na
confusão de uma nuvem vermelha, onde o ímpeto das hastes aguçadas se quebrou desiludido.
20 Cego daquele ludíbrio, tornou a avançar. E foi uma torrente de energia ofendida que se pôs em
movimento.
Infelizmente, o fantasma, que aparecia e desaparecia no mesmo instante, escondera-se covardemente
de novo por detrás da mancha atordoadora. Os cornos ávidos, angustiados, deram em cor.
Mais palmas ao dançarino.
25 Parou. Assim nada o poderia salvar. À suprema humilhação de estar ali, juntava-se o escárnio de andar
a marrar em sombras. Não. Era preciso ver calmamente. Que a sua raiva atingisse ao menos o alvo.
O espectro doirado lá estava sempre. Pequenino, com ar de troça, olhava-o como se olhasse um
brinquedo inofensivo.
Silêncio.
30 Esperou. O homem ia desafiá-lo certamente outra vez.
Tal e qual. Inteiramente confiado, senhor de si, veio vindo, veio vindo, até lhe não poder sair do
domínio dos chifres.
Agora!
De novo, porém, a nuvem vermelha apareceu. E de novo Miura gastou nela a explosão da sua dor.
35 Palmas, gritos.
Desesperado, tornou a escarvar o chão, agora com as patas e com os galhos. O homem! Mas o inimigo
não desistia. Talvez para exaltar a própria vaidade aparentava dar-lhe mais oportunidades. Lá vinha todo
empertigado, a apontar dois pequenos paus coloridos, e a gritar como há pouco.
-Eh! toiro! Eh! boi!
40 Sem lhe dar tempo, com quanta alma pôde, lançou-se-lhe à figura, disposto a tudo. Não trouxesse ele
o pano mágico, e veríamos!
Não trazia. E, por isso, quando se encontraram e o outro lhe pregou no cachaço, fundas, dolorosas as
duas farpas que erguia nas mãos, tinha-lhe o corno direito enterrado na fundura da barriga mole.
Gritos e relâmpagos escarlates de todos os lados.
45 Passada a bruma que se lhe fez nos olhos, relanceou a vista pela plateia. Então?!
Como não recebeu qualquer resposta, desceu solitário à consciência do seu martírio. Lá levavam o
moribundo em braços, e lá saltava na arena outro farsante dourado.
Esperou. Se vinha sem a capa enfeitiçada, sem o diabólico farrapo que o cegava e lhe perturbava o
entendimento, morria.
50 Mas o outro estava escudado.
Apesar disso, avançou. Avançou e bateu, como sempre, em algodão. Voltou à carga.
O corpo fino do toureiro, porém, fugia-lhe por artes infernais.
Protestos da assistência.
Avançou de novo. Os olhos já lhe doíam e a cabeça já lhe andava à roda.
55 Humilhado, com o sangue a ferver-lhe nas veias, escarvou a areia mais uma vez, urinou e roncou, num
sofrimento sem limites. Miura, joguete nas mãos de um Zé-Ninguém!
Num ímpeto, sem dar tempo ao inimigo, caiu sobre ele.
Miguel Torga, Bichos
Após uma leitura do texto, responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.
2- “…o manequim de lantejoulas caminhava sempre.” Retira mais três expressões usadas para referir
esta personagem.
3- Explicita dois sentimentos que inundam o protagonista durante o espetáculo.
4- Explica a intenção do protagonista quando pronuncia o vocábulo “Então?!” (linha 45)
5- Seleciona do texto uma metáfora e uma dupla adjetivação, comentando o seu valor expressivo.
6- Classifica o narrador quanto à presença e à ciência.
1. Atenta nos vocábulos sublinhados nas frases e indica a classe e subclasses a que pertencem.
a) “Que se pedia do seu ódio?” (linha 6) e) “ia desafiá-lo certamente outra vez” (linha 30)
b) “Cego daquele ludíbrio” (linha 20) f) “olhava um tal heroísmo” (linha 14)
c) “Que papel ia representar?” (linha 6) g) “brinquedo inofensivo.” (linha 28)
d) “Mas o inimigo não desistia.” (linha 36) h) “a apontar dois pequenos paus” (linha 38)
2. A partir das frases simples, redige frases complexas utilizando o determinante relativo.
a) Bichos é um clássico da literatura portuguesa. Os contos de Bichos têm um caráter metafórico.
b) Cada um dos catorze contos tem uma personagem. A vida da personagem é uma luta constante.
c) Torga frequentou um seminário. Desconheço o nome do seminário.
d) Miguel Torga foi considerado um escritor completo. A obra deste autor é composta por poesia,
narrativa e texto dramático.
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (exemplo: /di-lo-ei/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (exemplo: /2013/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados –um mínimo de 120 e um máximo de 150 palavras –, há que atender ao
seguinte:
–um desvio dos limites de extensão requeridos implica uma desvalorização parcial (um ponto);
–um texto com extensão inferior a 40 palavras é classificado com 0 (zero) pontos.
FIM
BOM TRABALHO!
A Professora
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