Pelo exercício da política e do diálogo, da palavra, da persuasão – os seres humanos
transformam sua realidade. É por ela também que os desprovidos de direitos e benefícios podem mudar a sociedade e atuar coletivamente em prol do bem comum. Mas, quando os meios políticos não estão disponíveis, pode ocorrer o uso da força. Nesse caso, a política f ica de lado e o povo se vê alijado de decidir sobre seus representantes e de participar das decisões sobre o destino da sua cidade, do seu estado e do seu país. E você está entre aqueles que pensam que a política se restringe aos políticos, que ela é cansativa e deve ser deixada para quem entende do assunto, saiba que, como parte do povo brasileiro, você foi levado a pensar assim pelo próprio desenrolar histórico de nosso país. Por muito tempo – da independência até o início do período republicano –, votar e ser votado eram privilégios dos ricos e poderosos. No decorrer do século XX, existiram, ainda, regimes políticos autocráticos, ou seja, caracterizados pelo autoritarismo e pela concentração do poder. Os governos autocráticos visavam controlar a sociedade por meio da repressão, como no período da ditadura militar (1964-1985) ou no do Estado Novo (1937-1945). Tudo isso contribuiu para afastar o povo da política e espalhar a ideia de que ela cabe apenas aos partidos e políticos eleitos. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) afirmava que o ser humano é um animal político e, nessa condição, a política não se restringiria à dimensão do Estado, mas à vida da cidade como um todo. Nessa concepção, fazemos política em nosso cotidiano. Fazemos política quando, no local de trabalho, nos unimos para conquistar melhorias ou participamos do sindicato. Fazemos política na escola ou na universidade quando participamos das organizações estudantis, do grêmio ou do diretório acadêmico. Fazemos política ao nos interessarmos pelas coisas do nosso bairro, da nossa cidade, da zona rural, do nosso país; enfim, quando queremos decidir o que é essencial para nossa vida. A política está no nosso cotidiano, desde uma reunião de moradores do bairro para reivindicar iluminação ou a instalação de um semáforo, até o envolvimento formal com movimentos sociais, partidos políticos ou grupos religiosos. Participar de eleições é somente uma das formas de atuar politicamente, embora seja uma parte importante da atividade política. Por meio das eleições escolhemos aqueles que nos representam, tomam decisões e agem por nós em determinadas esferas do poder, sendo remunerados para exercer essa função: isso é o que define uma democracia representativa. As propostas, os projetos, as leis e a condução das políticas de Estado são votadas e concretizadas por aqueles que escolhemos como representantes políticos. No caso de repúblicas federativas presidencialistas como o Brasil, são os vereadores e prefeitos no nível do município; os deputados estaduais e governadores no nível do estado; e os deputados federais, senadores e o presidente no nível federal. Suas decisões nos afetam diretamente, desde o custo do pão de cada dia à possibilidade ou não de estudar em uma escola de qualidade. Nas repúblicas federativas presidencialistas, diferentes atribuições são delegadas aos diferentes representantes. Os membros eleitos do Poder Legislativo (vereadores, deputados e senadores) formulam leis e definem o orçamento anual, ou seja, onde os recursos arrecadados devem ser empregados. O Poder Executivo, chefiado pelo prefeito (no município), pelo governador (no estado) e pelo presidente (no país), executa aquilo que as leis determinam e administra as políticas, obras e serviços públicos. Já o Poder Judiciário julga o cumprimento das leis pelos cidadãos. No caso do Brasil, o Legislativo e o Executivo são eleitos pelo voto popular, enquanto os membros do Judiciário são selecionados mediante concursos públicos. A divisão de poderes em três esferas foi elaborada pelo pensador iluminista francês Charles de Montesquieu (1689-1755). Ele defendia que os poeres não deveriam se concentrar nas mãos de um só indivíduo ou de um só poder, pois este tenderia a abusar dele. A ideia era que cada poder funcionasse independentemente, mas sempre sob a fiscalização dos demais. Há outras definições do conceito de política que a restringem a estratégias específicas. Max Weber expõe em seu livro Ciência e política: duas vocações que política é o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão de poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado. Para ele, a política se relaciona ao poder do Estado e aos indivíduos que aspiram obtê-lo. Mas o que é o poder? Para Weber, ele tem relação com a capacidade de mando de um ser humano ou de um grupo de pessoas sobre determinada comunidade ou país. Porém, o poder não pode ser visto como uma via de mão única. Ele depende da legitimidade da dominação (conceito que vimos no capítulo 1); ou seja, é preciso que esta seja aceita pelos dominados para que se mantenha. Em uma visão mais alargada, o filósofo francês Michel Foucault (1926- -1984) destaca que o poder se encontra em todas as relações sociais, e não apenas no Estado. Assim, o poder está presente nas microrrelações: na família (onde existe a autoridade do pai e da mãe), na sala de aula (na relação entre professor e aluno), nas instituições religiosas (com a autoridade do padre, do pastor ou de outros líderes em relação aos seus fiéis), nas relações de gênero (entre homens e mulheres), etc. Podemos identificar relações de poder e exercício da política em todas as esferas de nossa vida. O poder está difuso, heterogêneo, na tensão exis- tente nas relações sociais. Poder é uma prática social, no sentido de que é algo que se exerce e se efetua, e há sempre múltiplas resistências dentro da própria rede de poder. Para Foucault, é possível verificar esses poderes mínimos em qualquer situação concreta.
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