Вы находитесь на странице: 1из 10

L D E JU

NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA O


PATRIMÔNIO. ESTELIONATO. INSUFICIÊNCIA
PROBATÓRIA QUANTO À MATERIALIDADE E
AUTORIA.
O conjunto probatório mostrou-se insuficiente para
demonstrar a materialidade do delito, com a certeza
necessária para embasar um juízo condenatório. No caso,
não há prova de que a vítima foi enganada. Não sendo
possível, no processo penal, a condenação com base apenas
em indícios e suposições, impõe-se a absolvição dos
acusados, com fundamento no art. 386, VII, do CPP.
APELO PROVIDO.

APELAÇÃO CRIME SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70049217771 COMARCA DE PORTO ALEGRE

CARLOS AUGUSTO FERREIRA APELANTE


STOFFEL

MINISTERIO PUBLICO APELADO

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao
recurso para absolver o apelante, com fundamento no art. 386, VII, do Código de
Processo Penal Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES.ª LAURA LOUZADA JACCOTTET E DES. JOSÉ CONRADO
KURTZ DE SOUZA.
Porto Alegre, 18 de dezembro de 2012.

DES. CARLOS ALBERTO ETCHEVERRY,


Relator.

R E L AT Ó R I O
DES. CARLOS ALBERTO ETCHEVERRY (RELATOR)

1
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

Na comarca de Porto Alegre, o Ministério Público denunciou


CARLOS AUGUSTO FERREIRA STOFFEL, brasileiro, com 36 anos de idade à
data do fato, nascido em 18.03.1970, filho de Vito Amaury Stoffel e de Gladis
Ferreira Stoffel, dando-o como incurso nas sanções do art. 171, caput, c/c o art, 61,
II, “h”, ambos do Código Penal, pela prática do seguinte fato:

“Em data não precisada, mas na primeira quinzena do mês de


março de 2007, na Rua Souza Reis, 507, nesta Cidade, o denunciado
CARLOS AUGUSTO FERREIRA STOFFEL obteve, para si, mediante ardil
e induzindo em erro a vítima, vantagem ilícita equivalente a R$ 30.000,00
(documento de fls.) em prejuízo da vítima EUCLIDES JESUS BUENO
FRUCTOS, pessoa idosa, com 72 anos de idade.
“Na ocasião, o denunciado, à frente da empresa GRID VEÍCULOS,
atuando como intermediário na venda de automóveis, recebeu, para venda, o
automóvel GM/Vectra, de placas CRK 7251, cor vermelha, de propriedade
da vítima e entregue ao denunciado pelo filho desta. Tendo a posse do
veículo, o denunciado vendeu-o a ALEXANDRA FERREIRA MACHADO
DE OLIVEIRA, recebendo como pagamento o valor de R$ 18.500,00,
consoante recibo de fls., datado de 12/03/2007. Mesmo tendo recebido o
dinheiro, o denunciado tratou de omitir a venda à vítima e de mantê-la em
erro, alegando, dentre outras coisas, que o veículo não estava mais na loja
porque havia sido enviado para chapeação e pintura. Dizia à vítima, ainda,
que estava em vias de negociação para venda. A vítima, assim ludibriada,
permaneceu aguardando até o mês de maio de 2007, oportunidade em que,
ao dirigir-se novamente à loja do denunciado, verificou que o
estabelecimento estava fechado. Ao buscar informações junto aos vizinhos,
soube que havia fechado em razão de ação de despejo por falta de
pagamento.
“O filho da vítima, por ter entregado o veículo ao denunciado, também
tentou buscar com ele informações, mas, da mesma forma, foi ludibriado
sob argumento de que os veículos haviam sido apreendidos por ordem
judicial e que a vítima seria indenizada.”

Recebida a denúncia em 03.07.2008 (fl. 53), foi determinada a


suspensão do processo e do prazo prescricional, decorrente de o réu encontrar-se em
lugar incerto e não sabido (fl. 71). Encontrado posteriormente, foi citado (fl. 118),
apresentando resposta à acusação (fls. 119-123).
Procedida a análise do art. 397 do CPP, foi designada audiência de
instrução e julgamento (fl. 134).
Durante a instrução foram ouvidas a vítima (fls. 165-166v) e três
testemunhas (fls. 156-v; 166v-168), bem como interrogado o réu (fls. 188-190v).
Oferecidos os memoriais às fls. 206-210, pelo Ministério Público, e
212-219, pelo réu.
A sentença (fls. 221-226) julgou procedente a denúncia para condenar
o acusado, como incurso nas sanções do art. 171, caput, do Código Penal, às penas
2
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

de 02 anos de reclusão (pena-base fixada no mínimo legal e tornada definitiva ), a ser


cumprida em regime inicial aberto, e pecuniária de 20 dias-multa, à razão unitária de
1/30 do salário mínimo vigente à época do fato.
Publicada a sentença em 19.10.2011 (fl. 229), e intimadas as partes,
apelou o réu, em liberdade.
Interpostos embargos de declaração pela defesa (fls. 231-232), os
quais não foram conhecidos (fl. 234).
No recurso de apelação, a defesa (fls. 254-261) requer seja o acusado
absolvido, alegando que em momento algum houve configuração de crime. Sustenta
que a própria vítima afirma não ter tido prejuízo, configurando-se, assim, um mero
desacerto entre o ofendido e o acusado. Alega, ainda, que a prova da materialidade é
frágil.
Contra-arrazoado o recurso (fls. 263-267), subiram os autos.
Nesta Corte, o Procurador de Justiça (fls. 269-271v) opinou pelo
desprovimento do recurso.
É o relatório.

VOTOS
DES. CARLOS ALBERTO ETCHEVERRY (RELATOR)

A sentença foi assim fundamentada:

“A materialidade do delito restou comprovada pela Comunicação de


Ocorrência de fl. 15, cópia do Recibo de fl. 22, cópia do recibo de venda de
fl. 26 e autorização de venda de fl. 27, bem como pelo restante da prova
carreada aos autos.
“A autoria do delito é certa.
“O réu CARLOS AUGUSTO FERREIRA STOFFEL, em
interrogatório de fls. 188/190v, negou a prática delitiva, aduziu que: “R:
Esse senhor, quando ele entrou na empresa, ele tinha recém... Fazia 30 dias
que ele tinha comprado esse carro da Chicago Veículos, esse carro estava
completamente alienado, devia mais do que valia o carro. O filho dele tinha
negociado dois carros comigo lá na empresa. Daí, ele pediu que desse uma
mão para repassar esse carro, desse senhor. O carro estava realmente com
uns detalhezinhos na lataria, é um senhor de idade o Euclides, acho que o
senhor o conheceu aqui. Ele tinha dado umas raspadinhas, eu mandei
arrumar o carro. E nesse meio tempo, eu paguei três prestações do carro do
seu Euclides, enquanto estava lá na empresa para vender. Daí, eu repassei
esse carro para o rapaz lá da... Alexandre, esse, da Alesul, no qual, nesse
meio tempo a minha empresa veio a fechar. Eu quitei o carro com o
Alexandre, e o Alexandre devolveu para o senhor Euclides. Eu, até, então,
movi também a quitação do seu Euclides dando para mim e para o
Alexandre, e os recibos (inaudível), já paguei essa dívida e não devo mais
nada. J: O senhor recebeu o carro do Euclides? R: Isso, ele deixou conosco
para venda. J: Ele comprou algum carro do senhor? R: Nada, ele só queria...
3
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

J: Ele deixou para venda? R: Sim... J: Qual foi o valor de venda desse carro,
teria que vender por quanto? R: Uns R$ 20.000,00. J: E esse carro tinha
prestações de financiamento? R: Ele devia... Se fosse somar, devia R$
28.000,00. J: Sim, mas quem te pagasse R$ 21.000,00, receberia o carro
quitado? R: Sim. Daí, a financeira dá o desconto para quitar o carro. J:
Quem iria fazer a quitação para o senhor? R: Eu ia fazer a quitação, por isso
que o Éderson me repassou o dinheiro para eu fazer a quitação. J: E o senhor
acabou fazendo o que desse carro afinal? R: Eu vendi para o Alexandre. Daí,
a minha empresa fechou. J: Tu recebeste os R$ 21.000,00? R: Não, R$
18.000,00. J: R$ 18.000,00? R: Isso. Daí, a minha empresa fechou. J: Mas
não era R$ 21.000,00? R: Não, para quitar era R$ 18.000,00, com desconto.
Daí, a minha empresa fechou. Os carros foram todos levados a depósito.
Daí, quando eu consegui liberar, eu acertei com o Alexandre. O Alexandre
fez um parcelamento em 12 vezes. Eu paguei o carro para o Alexandre e o
Alexandre na mesma hora devolveu o carro para o seu Euclides. E o seu
Euclides entregou ao banco o que ele devia, porque eu já tinha pagado 4
prestações para o senhor Euclides. J: O senhor tem prova de que o carro foi
entregue ao Alexandre? R: Está aqui os recibos e tudo. VM: O senhor que
juntar agora doutor? J: Se não tem nos autos, tem que estar, não é. VM: Vou
colocar aqui, recibos do senhor Euclides, recebendo o carro de volta. J: Mas
por que já não juntou esses comprovantes? VM: Isso, aqui, chegou na minha
mão depois, doutor. J: Então, nós vamos juntar ao processo esses
(inaudível). VM: E está o Alexandre Veículos devolvendo também o carro.
J: Vamos juntar documentos, então. E o seu Euclides ficou com prejuízo,
então, na sua ótica, nesse negócio? R: Na minha ótica, porque eu cheguei a
pagar 4 prestações, ainda, para ele, certamente foram baixadas do valor da
quitação do veículo. J: Mas ele tinha um carro parcialmente pago que valia
R$ 18.000,00? R: Não tinha nenhuma prestação paga, ele comprou o carro
na Chicago, e quando ia vencer a primeira prestação deu um problema nele e
ele ficou muito doente, eu não sei se ele está até hoje. Daí, o filho esteve lá e
disse: “O pai não vai conseguir pagar, só de remédio ele vai gastar xis por
mês, não vai ter condições. Repasse esse carro, enquanto tu não repassar, vai
pagando as prestações”. Foi o que eu fiz. J: Com a palavra o Ministério
Público. MP: Quem era o filho? R: O nome do filho do... Dele era... J: Não
lembra? R: Não lembra de cabeça agora. Vendi dois carros (inaudível) e um
outro carro. MP: Esse filho firmou algum documento com a empresa do réu?
R: Não, só deixou o carro comigo para a venda. MP: E o recibo, segundo o
senhor falou, a transação foi acabada, foi fechada, quem é que firmou o
recibo? R: Senhor Euclides deu o seu recibo de quitação, está com a
assinatura dele. MP: Foi o filho ou foi o suposto homem idoso, esse? R: Foi
o senhor Euclides. O idoso, o senhor Euclides, está com a assinatura do
senhor Euclides. MP: Posso dar uma olhada no documento juntado, doutor.
Essa declaração, aqui, ela se trata de uma fotocópia, sem reconhecimento de
firma. O valor disso aqui é questionável para reconhecer como quitação. J:
Por que não está reconhecida essa firma aqui? MP: Não, e é fotocópia. R: A
original, eu acho que está guardada comigo, mas tem que juntar a original?
VM: Junta. R: Está bem, mas estão em casa as originais. J: O senhor tem
4
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

original? R: Eu tenho original. J: E por que o senhor não traz para o


processo a original? R: Não tem problema. J: Mas a original não está
reconhecida firma também? R: Não (inaudível). J: Não sabe? R: Não está
(inaudível), mas se tiver que fazer isso (inaudível), eu lhe garanto que ele
reconhece sem problema algum, porque ele sabe que não tem nenhum tipo
de dívida mais. MP: Nada mais. J: Com a palavra a defesa. D: Nada mais.
MP: Doutor, e para esse senhor reconhecer essa firma aí, tem que apresentar
o original, se não eles não autenticam. J: Nada mais.”..
“A versão do denunciado é contrariada pela versão da vítima
EUCLIDES JESUS BUENO FRUCTOS, que narrou: “Aqui nessa denúncia
diz que o senhor entregou, vendeu um carro para alguém chamado
Alexandre através do Carlos Augusto e que ele recebeu e não lhe passou o
dinheiro. Foi isso? T: Isto. J: Faça um relato. T: Exatamente para Carlos
Augusto que tinha uma loja, eu vi a loja, fiquei encantado com a loja, e é
aqui que eu vou deixar o meu carro, vou fazer a conversação para vendê-lo.
J: Deixou o carro lá? T: Deixei o carro lá, passou-se quinze dias e nada, fui
novamente, ele disse que tinha duas pessoas interessadas, está bem, deixei
mais uns dias, quando me dou conta, a loja estava fechada, havia sido
fechada, a Justiça havia interditado a loja, ou coisa semelhante, aí fiquei sem
o carro e sem dinheiro. J: O senhor ficou sabendo que ele vendeu o carro por
dezoito mil, chegou a ficar sabendo disso? T: Não, não. J: Não ficou
sabendo? T: Nada disso, bem pelo contrário, bem pelo contrário, mais tarde
vim descobrir, saber, que ele havia vendido por dezessete mil. J: E não
repassou para o senhor o valor? T: Nada, e eu, dezessete mil, não aceitei de
maneira nenhuma. J: Mas ele tentou lhe dar os dezessete ou não lhe deu? T:
Não, não. J: Não tentou lhe dar. T: Não houve conversação, ele desapareceu
do mapa, vamos dizer. J: Aí o senhor ficou sem o seu carro... T: Sem o carro,
sem saber onde estava o carro e sem o dinheiro e com o compromisso com a
financeira, que tinha que pagar a financeira. J: O carro não estava quitado?
T: Eu vendi... hein? J: O carro não estava quitado? T: Não, não estava, a
conversação com ele é que junto à financeira, na presença do vendedor, da
financeira, na própria financeira, ele me passaria o dinheiro, o cheque,
vamos dizer, o cheque ou o dinheiro, me passaria o valor, tive prejuízo, tive
prejuízo, mas não nesse valor aí, eu tive um valor, seria um prejuízo de sete
mil reais, o valor real do carro seria vinte e quatro mil, e ele vendeu por
dezessete, vamos dizer, se eu fosse aceitar, seria um prejuízo de sete mil
reais, então aceitei, não admiti isso. Aí fui à delegacia do idoso, ali fui
orientado como proceder, o que deveria fazer. J: O senhor chegou a entrar
com alguma ação contra ele para tentar reaver o carro ou não? T: Como é? J:
Chegou a entrar com alguma ação contra ele, contra o vendedor esse? T: Na
delegacia do idoso, ali, foi feito os procedimentos, vamos dizer... J: Eu não
entendi uma coisa, por que o senhor disse que o prejuízo é só de sete mil, se
o senhor queria dezoito pelo carro e não recebeu nada? T: Não, dezessete
seria o valor do carro que iriam me pagar, isso o Alexandre depois me
alegou... J: Quanto que o senhor tinha que pagar para a financeira quando
vendesse o carro? T: Vinte e quatro mil. J: Para quitar? T: Para quitar, uma
base de vinte e quatro, três e uns quebradinhos ali, mas o carro, o valor do
5
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

carro, que eu paguei foi outro, foi trinta e sete mil. J: Quando o senhor
comprou? T: Na época que eu comprei. J: Doutor defensor, alguma
pergunta? D: Doutor, essa mesma pergunta que o senhor fez ali, ele disse
que teria um prejuízo de sete, eu pergunto, ele recuperou o carro, o Carlos
Augusto devolveu o carro para ele? J: Ele devolveu o carro para o senhor? T:
Ah, aí foi com o Alexandre, eu tive uma guerrinha com o Alexandre, tive
que pressioná-lo muito, até tive que fazer uma declaração... até tive que
assinar um documento pra ele me devolver, se não ele não me devolveria o
carro. J: Então, o Alexandre entregou para o senhor o carro de volta? T:
Entregou, mas pressionado, eu gastei mais de quatro mil cruzeiros numa
firma, numa empresa de... que faz uma procura e localiza o automóvel. J:
Doutor, outra pergunta? D: É, eles fizeram um termo de rescisão, o que eu
queria dizer, fizeram um termo de rescisão, ele recebeu o carro de volta e o
Carlos Augusto pagou daí o Alexandre, reembolsou o Alexandre, então, ele
não teve prejuízo, eu só queria saber se ele teve esse prejuízo, se valor de
quatro mil que ele gastou? J: Quatro mil foi o que gastou para localizar o
veículo. D: É, que ele recebeu o carro de volta. Bom, eu só queria saber, ele
recuperou o carro dele, só isso. Então está. Não tenho mais perguntas,
Doutor. J: Alguma coisa a mais que o senhor queira dizer? T: Não. J: Nada
mais.” (fls. 165/166v).
“A testemunha de acusação FLÁVIO KAISER FRUCTOS referiu
que: “J: Essa negociação entre o seu pai e o acusado, o senhor está a par
disso, do Vectra? Sabe como foi feito isso? T: Como foi feito, foi assim,
detalhes da negociação, eu não sei, mas quem apresentou o meu pai, o
Euclides, fui eu, eu tinha feito negócios antes com ele, como aconteceu, eu
recebi em troca de um apartamento que eu vendi, um carro, passando pela
frente da loja dele, parei, ofereci, perguntei se teria condições, ele
prontamente disse ”não, tenho interesse”, eu fiz o negócio com ele, tudo
tranqüilo, vendi o meu carro, teve uma demora no pagamento, mas tudo
certo. O meu pai me pediu uma ajuda, ele estava com problemas financeiros,
ele me pediu “Flávio, eu preciso vender o carro”, eu disse “olha, pai, eu
conheço alguém que vendeu o meu carro, foi rápido, assim, assim”, levei o
meu pai junto com a minha mãe, apresentei ele, e, dali em diante, a
negociação ficou entre as partes, o meu pai me chamou um dia dizendo
“olha, eu tô com problemas, parece que o Guto”, o qual é o nome que a
gente chamava, “ele tá com problemas, e eu não tô conseguindo encontrar o
meu carro”. Nós tivemos em contato com (inaudível), ele disse “não, eu já
vendi o seu carro, vou negociar”, enfim, superficialmente, é o que eu sei da
negociação. Futuramente, o que foi feito, o que foi negociado, quando ele
pegou o carro, quando o meu pai (inaudível) o carro, isso eu não tenho
detalhes de como aconteceu. J: O senhor ficou sabendo, mesmo que seja
pelo seu pai, quanto foi afinal o prejuízo total dele? T: Não, não... J: Porque
ele disse no depoimento agora que ele contratou uma empresa e conseguiu
achar o carro? T: Sim. J: E recebeu de volta, o carro, da pessoa que tinha
comprado e falou em prejuízo de sete mil reais. Ele está com problema de
surdez e foi até um pouco difícil da defesa fazer pergunta, eu fiz perguntas e
fiquei com essa dúvida. T: Certo. Eu vou lhe dizer assim, a negociação que
6
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

foi feita entre o Guto, eu participei no início da apresentação, quando ele


pegou o carro e quando ele, algumas negociações, eles foram na primeira
prestação que ele iria assumir, porque o carro tinha um financiamento, o
Guto iria assumir as prestações, enfim, dali em diante, eu não sei mais nada
o que foi negociado entre as partes, o meu pai, que prejuízo teve... J: Nem
por comentário do pai? T: Não, porque assim, eu até me indispus um pouco
com o meu pai nesta negociação, nesse contexto todo, porque o meu pai
achava que eu era responsável pela negociação, pela indicação, e eu disse
“olha, eu te levei lá, tu me pedisse uma ajuda, eu te apresentei a pessoa”,
como foi feita negociação, foi entre as partes, eu não sei o se conversou,
enfim, eu fui me indispondo com o meu pai ao passar do... o meu irmão que
estava presente aqui foi a pessoa na qual, acredito até, seria mais indicado do
que eu, porque ele sabe toda a negociação que foi feita junto a advogado,
junto ao banco, porque o carro, ele tinha um financiamento e deixou de ser
pago, como ele não tinha o bem na mão, ele tava com problemas
financeiros, ele ia vender o carro pra pegar ao banco, uma vez que o carro
deixou, desapareceu o carro, ele não tinha condições de pagar o
financiamento, parou isso... então, o que aconteceu, o meu irmão, ele tem
muito mais ciência, ele foi junto a advogado, no momento que eu me
indispus com o meu pai, eu me afastei da... J: Ausente o Ministério Público.
Dada a palavra à defesa. D: O carro está quitado, hoje, esse carro do teu pai?
T: Eu não tenho conhecimento. D: Não tem informação. O senhor disse que
apresentou para o seu pai, o Guto. E, quando o senhor fez negócio com o
Guto, o senhor teve algum problema? T: Eu vou lhe dizer assim, eu conheci
o Guto até por uma passagem na frente da loja dele, eu vendi um carro pra
ele, demorou um pouco o pagamento, ele me pagou, eu efetuei uma compra
de um segundo carro dele dando um carro meu em negociação e nunca mais
tive problema, apresentei um sócio meu que trabalha até hoje comigo
também problema de demora de recebimento com ele, mas foi tudo quitado,
quando eu apresentei o meu pra ele, no caso, que começou a ter os
problemas, no final, assim, eu fiquei sabendo por intermédio de terceiros,
que eu presto serviços pra empresas e eu tenho um conhecido de Guaíba que
conhece todo mundo que... parece que o Guto tinha outra loja lá, diz que
quando quebrou aqui, eu fiquei sabendo por intermédio dele que a loja do
Guto estava quebrada, no sábado de manhã, eu recorri a loja pra ver, eu
fiquei surpreso também, fui lá de manhã pra ver o que tava acontecendo,
tava fechada a loja, aí, a partir daí que... D: Antes do fechamento da loja, o
senhor tinha informação que a loja seria loja idônea, uma loja boa de
negociar? T: Não, eu nunca tive referências, foi casualmente, quando eu
tive... vamos dizer assim, eu recebi esse carro pra fazer negócio, passando
ali, eu não tive indicação de ninguém, não foi por Internet, não foi telefone,
não foi por outras... foi casualmente, e ele tinha interessado, porque a venda
foi muito rápida, foi questão de uma semana, e ele tinha vendido o meu
carro, eu não tenho referência nenhuma do Guto, não sei o passado do Guto,
nem o presente... D: E, referências negativas, o senhor tem referências
negativas dele, quando o senhor foi negociar com ele? O senhor teria
alguma... T: Olha, eu vou dizer assim, eu tive um atraso de recebimento do
7
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

pagamento do meu carro, eu tive, e isso é negativo, porque eu negociei com


ele à vista, ele demorou pra pagar, eu tive incômodos, eu recebi, mas pra
mim ficou tranqüilo, foi negativo, nunca computei prejuízos e nem quero
computar, não me interessa isso, mas eu sei que com o meu pai, ele
negociou, teve problemas, e gerou problemas futuros, eu não tenho nem
idéia da ordem que são problemas são esses. D: Nada mais, Doutor. J: Nada
mais.” (fls. 166V/168).
“A testemunha ALEXANDRE FERREIRA MACHADO DE
OLIVEIRA, ouvida na Comarca de Canela às fls. 180/182, asseverou ter
comprado o veículo GM/vectra do denunciado, tendo pago o valor de R$
18.500,00; disse que o veículo era alienado ao Banco BV, tendo o réu se
comprometido a quitar o financiamento. Afirmou que começou questionar o
denunciado em relação a quitação junto ao banco, pois já havia pago o valor
pedido e o denunciado ainda não tinha quitado a dívida como Banco BV.
Referiu que após algumas semanas a loja do acusado foi fechada e os
veículos que lá estavam foram guinchados, pelo que foi investigar o
ocorrido. Narrou à fl. 180V que, “...ele tinha dado golpe no mercado,
foi,pareceu que deu um golpe em dezenas de pessoas, depois eu fui ver, que
a gente tem amigos em comum e tal. Aí primeiro ele ficou afastado um
tempo, não conseguia contar, aí eu fui atrás de saber quem era essa pessoa,
para saber o que tinha acontecido. Eu liguei para o seu Euclides, que é um
senhor, que até na época, ele me contou que ele tinha vendido o carro, que
ele estava com câncer, é verdade mesmo, é uma pessoa que estava doente e
tal, querendo saber: “Ó, quero saber do documento”, ele disse: “Não, o
documento eu não tenho, porque ele não me pagou”, aí eu fui ver o que tinha
acontecido . Se passou tempo ele dizendo que ia pagar e nada aconteceu...”.
Relatou que a vítima lhe procurou em sua loja, momento em que mostrou o
recibo de compra do veículo; passado um tempo foi chamado na Delegacia
do Idoso e relatou tudo o que estava acontecendo. Asseverou que foi
procurado pelo denunciado que lhe propôs devolver o carro em troca o réu
restituiria o valor pago em 24 vezes de R$ 700,00; afirmou que teve prejuízo
com o negócio, mas antes receber parcelado, do que não receber.
“Depreende-se dos autos que a testemunha Alexandre aceitou desfazer
o negócio porque percebeu que o denunciado havia lesado a vítima Euclides,
bem como não tinha adimplido o pagamento junto ao banco ao qual o
veículo estava alienado, tendo sido praticamente “obrigado” a desfazer o
negócio, como admitido por ele mesmo.
“A testemunha de defesa PAULO RICARDO DA SILVA referiu que o
denunciado era proprietário de uma loja de automóveis que foi fechada por
problemas financeiros. Afirmou ter devolvido um automóvel comprado na
loja do acusado, tendo o mesmo ficado devendo o valor pago, no entanto,
Carlos afirmou que restituiria o valor pago pelo veículo (fls. 156/156v).
“Nesse contexto, a versão apresentada pelo acusado de que a vítima
não sofreu nenhum prejuízo, pois teve o veículo ressarcido por Alexandre
não merece guarida, senão vejamos:
“O ofendido deixou o veículo GM/Vectra para vender na loja do réu,
que vendeu o veículo para Alexandre pelo valor de R$ 18.500,00. Ocorre
8
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

que o denunciado não pagou o valor recebido para o ofendido que


continuava sem o carro e devendo para o banco.
“Contudo, o réu somente procurou Alexandre e pediu que o mesmo
desfizesse o negócio, depois que a vítima procurou a Delegacia de Proteção
ao Idoso, fato comprovado pela declaração de fl. 199, onde a vítima declara
ter recebido o veículo GM/Vectra de Alexandre em 03 de julho de 2008,
transcorrido mais de 1 (um) ano do fato.
“Cumpre destacar que a vítima contratou uma empresa especializada
em localização de veículos para descobrir o local onde o veículo GM/Vectra
havia ido parar e, somente após a localização do automóvel, conseguiu
reverter a situação e ter seu veículo restituído.
“Não há dúvida de que o denunciado obteve vantagem ilícita em
prejuízo da vítima (que vendeu o automóvel e não recebeu o valor, pois o
veículo foi vendido a um terceiro, vindo a ter o veículo restituído passado
mais d euma noa do fato).
“O fato de a vítima ter sido restituída com a devolução do veículo,
passado mais de um ano da data do fato, não exclui a ilicitude ou a
culpabilidade do réu, haja vista que o réu agiu de forma ardil, enganou o
ofendido, com desculpas evasivas e depois com o silêncio e com sua
ausência, até o momento em que a vítima, encontrou por conta própria, o
veículo e, depois de muita pressão, teve o seu automóvel restituído, restando
ainda com prejuízo em razão da busca incessante e cansativa para localizar o
referido automóvel. Assim, estão presentes o meio fraudulento, ardil e o
engano da vítima.
“Desse modo, devidamente comprovada a autoria e a materialidade do
crime de estelionato, e ausentes quaisquer causas de exclusão de ilicitude ou
culpabilidade na espécie, imperiosa a condenação da acusada nos moldes do
artigo 171, caput, do Código Penal.
“Diante do exposto, julgo PROCEDENTE a denúncia para
CONDENAR o denunciado CARLOS AUGUSTO FERREIRA STOFFEL,
já qualificado nos autos, como incursa no artigo 171, caput, do Código
Penal.”

Todavia, analisando minuciosamente a prova, chego à conclusão


diversa da do julgador de primeiro grau.
Consigne-se que a configuração do delito de estelionato exige a
indução em erro com o fim de obtenção de vantagem ilícita.
As declarações da vítima não apontaram o dolo do réu em obter a
vantagem ilícita descrita na denúncia. Da sua manifestação se infere, em tese, o
descumprimento contratual e não o dolo inerente ao delito descrito na peça
preambular. Necessária prova contundente da intenção do agente para que este seja
condenado pela prática do delito de estelionato. Mais do que aparente
descumprimento contratual, a prova deve mostrar inequivocamente o dolo e a
vontade do agente de obter a vantagem ilícita em desfavor da vítima.

9
L D E JU
NA

ST
U
T R IB

IÇ A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
R S

CAE
Nº 70049217771
2012/CRIME

E tal prova não foi aportada aos autos. Ao que tudo indica a conduta
do réu reflete nada mais do que má gestão de seus negócios, do que não se infere o
dolo exigido no tipo penal em análise.
Sendo assim, não há como concluir, modo estreme de dúvidas, que
esteve presente o dolo do réu em obter vantagem ilícita em detrimento da vítima,
elemento subjetivo do tipo previsto no art. 171, caput, do CP.

Dispositivo

Isso posto, dou provimento ao recurso para absolver o réu, com


fundamento no art. 386, VII, do CPP.

DES.ª LAURA LOUZADA JACCOTTET (REVISORA) - De acordo com o(a)


Relator(a).
DES. JOSÉ CONRADO KURTZ DE SOUZA - De acordo com o(a) Relator(a).

- Presidente - Apelação Crime nº 70049217771, Comarca de Porto Alegre: "À


UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO AO RECURSO PARA ABSOLVER O
RÉU, COM FUNDAMENTO NO ART. 386, VII, DO CPP."

Julgador(a) de 1º Grau: CRISTIANE BUSATTO ZARDO

10

Вам также может понравиться