Modernização tecnológica do Espaço ponto”, face à capacidade inovadora das ferramentas
Brasileiro de TIC (Tecnologia da Informação e das
Comunicações) à disposição, que foge ao visível. Texto 01 FRONTEIRAS CIBERNÉTICAS Fonte: NETO, Walfredo. Geopolítica e Território Cibernético.IN: Revista Brasileira de Estudos de Defesa. Diponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/rbed/article/view/48759/31347>. Acesso em Ao contrário do que se pode pensar – e se 25/02/2015. dizer – há sim um território cibernético! Portanto, há sim uma delimitação espacial – uma fronteira – no Texto 02 denominado “ciberespaço”! Fronteira no sentido ISRAEL, EUA, COREIA, GRÉCIA E CEUTA: CONHEÇA 5 MUROS QUE AINDA ESTÃO DE PÉ geopolítico do termo, no qual se encontram as categorias espaço e poder. No ambiente cibernético do Há 25 anos, caía na Alemanha o Muro de Berlim. Para globo, os Estados delimitam seus territórios muitos, o episódio sinalizava o início de uma nova era, “nitidamente”, isto é, apropriam-se de espaço por de expansão da globalização e diminuição das meio do poder. Como exemplos imediatos, mas não fronteiras — simbólicas e reais. Um quarto de século únicos, basta-nos ver os domínios dos sítios “.br; .us; após a queda deste ícone da Guerra Fria, ainda .uk; .it;...”, que indicam perfeitamente os respectivos persiste, espalhada pelo mundo, uma série de territórios no ambiente cibernético. A estrutura fronteiras muradas construídas para separar povos. montada e que funciona nesse ambiente também sofre Abaixo, selecionamos cinco desses “muros influência do poder. A segurança dos backbones, dos contemporâneos”: data centers; os firewalls e demais elementos de filtragem e a hospedagem de sítios são alguns dos 1) CISJORDÂNIA-ISRAEL exemplos de que há, “nitidamente”, um exercício de O Muro da Cisjordânia — ou "Muro da Vergonha", poder no espaço cibernético, portanto havendo um como é chamado pelos críticos da ocupação israelense território, e, por conseguinte, sua respectiva fronteira. — começou a ser construído em 2002, período da Segunda Intifada, e separa Israel do território palestino Há também, nesse domínio, um poder que circula, da Cisjordânia. Na época, foi dito que o intuito era influenciando as opiniões, as percepções, o modo de impedir a entrada de palestinos para prevenir atos de vida de indivíduos, de grupos, de sociedades e de terrorismo. Os que se opõem à barreira denunciam que Estados, e que dificilmente é passível de mensuração. o muro é uma ferramenta utilizada por Israel para, Mas existe! Essa fronteira, portanto, envolve não só o além de interditar as negociações de paz por território geográfico, físico, mas também sua porção estabelecer unilateralmente novas fronteiras, também anexar gradualmente porções do território palestino, institucional. muitas das quais passaram a abrigar assentamentos O desafio, então, passa a ser a compreensão israelenses. Atualmente, a parede de concreto, ferro e arame farpado tem cerca de 440 quilômetros de de que essa fronteira não é em forma de linha extensão — se a construção da barreira for finalizada, (“fronteira-linha”), nem de área ou faixa (“fronteira- cercando todo o território da Cisjordânia, o muro se faixa”), como ocorre com o espaço geográfico estenderá para aproximadamente 700 quilômetros. tradicional, físico. A delimitação de um território cibernético se dá sob outra lógica, por sinal 2) ESPANHA-MARROCOS: MUROS DE CEUTA E obedecendo às próprias características desse ambiente. MELILLA Ceuta e Melilla são o enclave espanhol na África e A fronteira cibernética, por conseguinte, obedece à representam o resquício do colonialismo europeu no forma de “pontos” (“nós”) ou “pacotes” de continente africano. Sob o domínio espanhol, as duas informações eleitos pelos Estados devido ao seu grau cidades fazem divisa com o Marrocos e estão muito de interesse – sistemas de Defesa, infraestruturas próximas do Estreito de Gibraltar, pequeno intervalo críticas/estruturas estratégicas são exemplos. Com oceânico que separa os dois continentes. Até os anos isso, defendemos que a fronteira nesse ambiente 1990, a divisão entre os territórios espanhol e apresenta-se na forma de “fronteira-ponto”, uma marroquino era pouco perceptível, e o trânsito de pessoas de um local para o outro era comum. Com a evolução contínua, embora com certas interrupções, institucionalização da União Europeia e a política de que acompanha o contexto histórico da formação do livre-circulação dos cidadãos europeus, a Espanha foi território: da fronteira-zona (faixa) dos Estados incentivada a apertar o cerco em suas zonas tradicionais, às linhas do Estado moderno e em grande fronteiriças. Assim, foram erguidos os muros, que parte do atual sistema de Estados-nação, alcançando, chegam, juntos, a 20 quilômetros de extensão, com o no espaço cibernético, a meticulosidade da “fronteira- objetivo de impedir a imigração de africanos para a biopolíticas – ou de controle, como prefere Deleuze Europa. (ou ainda, como preferimos, de “in-segurança”) – é o “meio”, enquanto espaço em que se dá a circulação, 3) EUA-MÉXICO seja de fluxos naturais (como as águas e os ventos), O muro construído pelos Estados Unidos na fronteira com o México é o símbolo da política anti-imigração seja de fluxos sociais (como a mobilidade de pessoas). norte-americana. Num esforço contra os chamados Como já afirmamos, a biopolítica tem como "coiotes", responsáveis por atravessar preocupação primeira o governo da “população” em clandestinamente pessoas pela fronteira, Washington sua circulação e/ou reprodução biológica, ligando- se começou estabeler barreiras físicas entre as cidades de assim à instituição de saberes como o da estatística – El Paso e Ciudad Juárez, e também entre San Diego e “ciência do Estado” – capaz de proporcionar os dados Tijuana. Com os ataques de 11 de Setembro de 2001, indispensáveis à gestão econômica e ao controle do os EUA apertaram ainda mais o cerco, temendo que terroristas pudessem entrar em território norte- comportamento geral do homem visto enquanto americano via México. espécie, isto é, enquanto “população”. Num mundo como o nosso, por um lado 4) GRÉCIA-TURQUIA: MURO DE EVROS marcado pela fluidez do espaço, as questões ligadas à A fronteira entre a Turquia e a Grécia era tida pela UE como a “porta dos fundos” para a entrada de circulação se tornam ainda mais relevantes e, com imigrantes na Europa. Por esse motivo, a Grécia, o elas, a situação de um dos componentes mais país europeu mais afetado pela crise econômica de emblemáticos dos territórios: suas fronteiras – ou, 2008 e alvo de severas medidas de austeridade, numa leitura mais simples, seus limites. E é aí que resolveu investir € 3,2 milhões (R$ 10,15 milhões) surge um dos grandes paradoxos da geografia para erguer em 2012 um muro de mais de 10 contemporânea: ao lado da fluidez globalizada das quilômetros de extensão ao longo de um trecho da margem do rio Evros, fronteira natural que separa a o redes e da “desterritorialização” (e/ou da território europeu dos vizinhos turcos. multiterritorialidade) aparecem também os fechamentos, as tentativas de controle dos fluxos, da 5) COREIA DO NORTE-COREIA DO SUL circulação, sobretudo da circulação de pessoas, da Percorrida ao longo do Paralelo 38, a faixa de terra força de trabalho, dos migrantes. que divide a península coreana em dois países têm 250 quilômetros de comprimento. Após o armistício que Esse controle da circulação pode se dar sob interrompeu sem pôr fim formal à guerra entre os dois uma espécie de confinamento de redes, pela produção lados — símbolo do embate entre as duas de circuitos isolados, sob a forma de barragem ou, superpotências durante a Guerra Fria: o norte como preferimos, de contenção territorial, com a comunista, e o sul capitalista —, a porção de território construção de “diques” e, finalmente, pode ocorrer por foi transformada em uma zona desmilitarizada. Ou seja, uma faixa "neutra" onde militares das duas meio de dutos, num efeito de canalização desses Coreias podem transitar, mas sem cruzar a linha que fluxos. Nesse sentido, uma das estratégias demarca o território de cada um dos países. aparentemente mais anacrônicas, hoje em dia, é a construção de novos muros – desde o nível da Fonte: AMORIM, Felipe. Israel, EUA, Coreia, Grécia e Ceuta: conheça cinco muros que ainda estão de pé. Disponível em: propriedade privada, dos condomínios fechados (gated <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/38443/israel+eua+cor eia+grecia+e+ceuta+conheca+cinco+muros+que+ainda+estao+de+pe.shtm communities, na realidade norte-americana) e dos l>. Acesso em 24 de outubro de 2016. bairros (como em bairros ciganos ou de imigrantes na Europa) até os muros transfronteiriços, como o Texto 03 famoso muro da fronteira entre Israel e Palestina ou DA MULTITERRITORIALIDADE AOS NOVOS aquele entre o México e os Estados Unidos. No caso MUROS brasileiro temos os muros-“barragens” construídos Entendemos que a atual proliferação de novos para estancar a expansão de favelas, no Rio de Janeiro muros ao longo das fronteiras internacionais (v. mapa e São Paulo (fotos 1 e 2), e os muros-“dutos” ao longo 1) reflete, sobretudo, as bio-políticas de contenção da de vias de grande circulação, para evitar contato circulação – especialmente a circulação dos chamados (mesmo visual) com populações mais pobres (caso da circuitos ilegais, seja de pessoas (migrantes), Linha Vermelha, no Rio de Janeiro, foto 3). contrabando de mercadorias, tráfico de drogas, etc. Fonte: HAESBAERT, Rogério. Da multiterritorialidade aos novos muros: Foucault, nesse sentido, também nos ajuda a paradoxos da des-territorialização contemporânea. Disponível em:<http://www.posgeo.uff.br/sites/default/files/da_multiterritorialidade_a compreender esse fenômeno, especialmente ao propor os_novos_muros.pdf>. Acesso em 24 de Outubro de 2016. que a principal marca espacial das sociedades