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INSTITUTO SUPERIOR DE TEOLOGIA DA ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO

SEMINARIO ARQUIDIOCESANO SÃO JOSÉ


MORAL MÉDICA

Pesquisa médica

Aurecir Martins de Melo Junior


Rubens Raniery Fernandes Gomes

Maio de 2016
“O princípio da moralidade médica e cirurgia consiste em
nunca realizar um experimento no ser humano que possa
prejudica-lo, mesmo que o resultado seja altamente vantajoso
para a ciência, isto é, para a saúde dos outros”
(Claude Bernard, 1865)1

A medicina atual dispõe de inúmeros meios para se tratar um paciente. Existem drogas
capazes de curar, controlar e até mesmo de evitar doenças, aparelhos eletrônicos sofisticados
são capazes de fazer um diagnóstico apurado. Os avanços nesta área são rápidos e possibilitam
uma vida cada vez melhor para as pessoas. Porém, as descobertas na medicina, nem sempre
ocorrem de modo preciso como hoje, muitas vezes foram acidentais, e não raramente às custas
do sofrimento de alguns. A Princípio a medicina era baseada na manipulação de ervas e
tratamentos naturais, muitas vezes com fundos místicos para tratar enfermos. Em fontes como
o papiro de Ebers encontramos testemunho da prática médica dos egípcios que possuíam um
vasto conhecimento de farmacologia, como vasto conhecimento de anatomia humana e de
técnicas cirúrgicas adquiridas pela experiência de mumificação. Tendo como mestre
Hipócrates, o pai da medicina, os gregos foram os pioneiros no estudo dos sintomas das
doenças. Atesta a literatura hipocrática sobre a técnica médica no período pré-socrático:

“na arte médica é fundamental o princípio de que as conquistas, que


constituem o patrimônio do passado, devem servir de base às
investigações do presente”2
Como se pode notar o avanço da medicina está fundamentado na experiência de grandes
nomes, que sem terem instrumentos eficazes se utilizaram do testemunho da experiência e dos
bons resultados. Deste modo, podemos afirmar que o desenvolvimento da medicina e das novas
técnicas baseia-se na experiência, nos erros e nos acertos. Com o avanço do olhar científico e
experimental foi ganhando aos poucos os aspectos de ciência e técnicas que vemos hoje.

Quando se fala em experimentar novos métodos terapêuticos em seres humanos o que


em geral se vem à mente são as atrocidades cometidas no período da II Guerra mundial tanto
pelos nazistas como pelos japoneses. O que poucos sabem é que grandes avanços científicos na
área médica se deram pelo fato de algumas experiências com humanos. Porém, estas

1
Claude Bernad, fisiologista francês (1813 – 1878), conhecido pela criação da medicina experimental baseada em
evidências.
2
Hippocrate. De l’ancienne médecine. In Littré E.Oeuvres complètes d’Hippocrate. J B Bailliere, Paris, Vol 1,
1839 apud GUSMÃO, Sebastião. HISTÓRIA DA MEDICINA: evolução e importância. Diponível em:
www.museu-emigrantes.org/docs/conhecimento/Historia_da_medicina.pdf. Acesso em: 17 de maio de 2016. 2
experiências devem seguir um regimento ético que tenha como prioridade a dignidade e bem
estar do paciente.

No desenvolvimento do trabalho uso do ser humano para experimentos de diversos tipos


e as consequências que levaram à regulamentação da pesquisa em seres humanos.

H ERÓFILO DA C ALCEDÔNIA E A PRÁTICA DA VIVI SSECÇÃO 3

Herófilo da Calcedônia (c. 335-280 a.C.), um dos grandes nomes da Escola Médica de
Alexandria, no Egito. Herófilo descreveu órgãos e funções como a salivação, o pulso como uma
função da batida do coração e as conexões entre os nervos, a medula espinal e o cérebro.
Também diferenciou nervos sensoriais e motores. Isto foi possível porque Herófilo, assim como
seu contemporâneo mais jovem Erasístrato de Chio (c. 320-250 a.C.), praticaram a vivissecção
em cerca de 600 prisioneiros durante o reinado dos faraós Ptolomeu I e Ptolomeu II.

F REDERIK R UYSCH E O ESPÉCIME ANATÔMICO 4

Frederik Ruysch (1638–1731) foi o primeiro expoente do espécime anatômico. Ele era
Instrutor-Chefe das parteiras de Amsterdã e Médico Legal da Corte, tinha, assim, amplo acesso
aos corpos de natimortos e lactentes e os usava para criar cenas extravagantes de múltiplos
espécimens. Seu repositório de curiosidades incluía vitrines com esqueletos de fetos e de
lactentes, colocados em paisagens que misturavam partes de corpos humanos e de animais com
vários objetos orgânicos e não orgânicos. Ruysch era dotado de um privilégio extraordinário: o
direito de coletar e exibir o material humano sem o consentimento do indivíduo ou de seu
responsável.

C HARLES -F RANÇOIS E A OPERAÇÃO DE FÍSTULA ANAL 5

Antes de operar o Rei Luís XIV da França, durante cerca de dois meses, Charles-
François Félix de Tassy praticou em todos os pacientes portadores de fístulas que procuravam
os hospitais de Paris. Alguns “cobaias” não teriam sobrevivido à operação de Félix e seus
corpos teriam sido descartados à noite, suas mortes atribuídas a envenenamento.

3
ALVES, Elaine Maria de Oliveira et TUBINO, Paulo. De objetos a sujeitos de pesquisa: ética nos experimentos
médicos. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/523db2_f795618274194135a6d4b67a5b13cec5.pdf. Acesso
em: 19 de maio de 2016
4
ibidem
5
ibidem 3
G RUPOS VULNERÁVEIS 6

Prisioneiros em geral, doentes mentais e crianças, foram usadas com frequência até o
início do século XX porque eram “convenientes”. Disse certo Dr. Jansen na Associação Médica
de Estocolmo, em 1891, que poderia ter usado bezerros em suas experiências com a varíola,
mas as crianças do Lar de Enjeitados eram “mais baratas”, ou seja, menos valiosas. Assim,
crianças e adolescentes foram usados em testes de novas vacinas e soros, em estudos da
anatomia e fisiologia normais da criança, no desenvolvimento de novas drogas, testes
diagnósticos e novos procedimentos.

O ESTUDO SOBRE SÍFILI S EM T USKEGEE

Na cidade de Tuskegee (Alabama), cerca de 400 homens negros foram selecionados


pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos da América (EUA) para participarem de um
estudo sobre a história natural da sífilis no corpo humano. Foi dito a eles que tinham “sangue
ruim” e lhes foi negado acesso ao tratamento, mesmo após a comercialização da penicilina em
1947. Esses homens foram isentados do serviço militar obrigatório para que não recebessem
tratamento ministrado por médicos do exército. O estudo só foi denunciado em 1972, quando
28 homens haviam morrido por causa da sífilis e 100 de complicações associadas, 40 esposas
haviam sido infectadas e 19 crianças contraído a doença ao nascimento.

E XPERIÊNCIAS NAZISTAS NA II GUERRA MUNDIAL 7

Foram cerca de trinta experimentos diferentes, evidentemente sem o consentimento das


vítimas, que provocaram dor intensa, mutilação, deficiência permanente e morte. No campo de
concentração de Dachau os prisioneiros foram submetidos a uma pressão de ar comparável à
encontrada a 15.000 metros de altitude, na tentativa de determinar quão alto um piloto alemão
poderia voar e sobreviver. Eram imersos em água gelada ou deixados na neve, sem roupas, por
nove a 15 horas, na pesquisa de um método de tratamento para soldados expostos ao frio e ao
congelamento. Em estudos que buscavam tornar a água do mar potável, eram privados de todos
os alimentos e recebiam apenas água do mar processada quimicamente. Ainda em benefício do
exército alemão, cujos soldados sofriam com gangrena gasosa, os médicos do campo de

6
ibidem
7
ALVES, Elaine Maria de Oliveira et TUBINO, Paulo. Ética na pesquisa em seres humanos. In: Rev Med
Fameplac 2006;1:25-36. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/8184c5_839a5c43d7056a75b40220bfeab
90c8c.pdf. Acesso em: 19 de maio de 2016
4
concentração de Ravensbruck, testaram a eficiência da sulfanilamida e outras drogas no
controle da infecção. Para tal, provocaram ferimentos nas vítimas, infectaram as lesões com
várias bactérias e agravaram a infecção resultante passando vidro moído, serragem e areia no
local para simular um ferimento de guerra. Vinte e três pessoas, das quais 20 médicos nazistas,
foram acusadas de crimes contra prisioneiros de guerra e julgadas no tribunal de Nuremberg.
Os acusados tentaram justificar seus crimes com a desculpa de que, na época, não havia regras
governamentais explícitas que regulamentassem a pesquisa médica na Alemanha e que as
práticas de pesquisa na Alemanha não eram diferentes das existentes nos países aliados. As
sentenças foram divulgadas em agosto de 1947, com um documento formulado pelos juízes que
conduziram o julgamento e que ficou conhecido como Código de Nuremberg. Dezesseis dos
acusados foram considerados culpados e sete foram executados.

U NIDADE 731 8

Uma unidade de experimentação médica militar secreta do exército imperial japonês na


Manchúria (China) que pesquisou armas biológicas por meio de experimentação humana
durante a II Guerra Sino-Japonesa (1937-1945) e a II Guerra Mundial. Nessa unidade secreta
foi praticada a vivissecção: em mulheres grávidas, algumas engravidadas pelos médicos, com
a remoção do feto; em homens, mulheres e crianças, cujos órgãos infectados com várias doenças
eram observados e removidos para o estudo dos efeitos dessas doenças no corpo humano.

Contudo, não se pode deixar de mencionar que nem todos os experimentos aconteceram
de forma cruel e sanguinária. Por exemplo, a descoberta dos analgésicos e da penicilina.

A DESCOBERTA DOS ANESTÉSICOS 9

O dentista Horace Wells, presente ao espetáculo no qual se usava óxido nitroso, mais
conhecido como gás hilariantes viu que um indivíduo após ter usado o gás se machucou e não
sentiu dor. Resolveu então usar o gás em si mesmo para arrancar um dente, tendo visto o efeito

8
ALVES, Elaine Maria de Oliveira et TUBINO, Paulo. De objetos a sujeitos de pesquisa: ética nos experimentos
médicos. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/523db2_f795618274194135a6d4b67a5b13cec5.pdf. Acesso
em: 19 de maio de 2016
9
VIEIRA, Sônia. Ética e metodologia na pesquisa médica. In. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. vol.5 no.2 Recife
Apr./June 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1519- 3829200500020
0013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292005000200013. 5
Acesso: 17 de maio de 2016.
positivo passou a usá-lo em sua clínica, porém ao tentar usar tal procedimento em uma cirurgia
o paciente acordou no meio da cirurgia, gritando de dor.

Algum tempo depois, William T. G. Morton, um dentista que estudava Medicina em


Harvard aprendeu nas aulas de Química que o éter sulfúrico tem efeito anestésico. Conhecedor
da história de Wells experimentou o éter em si mesmo, nas pessoas da família, no cão da casa.
Usou depois o éter sulfúrico em sua clínica, e confirmou o efeito anestésico. Morton pediu então
ao professor de cirurgia, John Collins Warren, para anestesiar um paciente. A notícia de que
um aluno de Medicina iria anestesiar um paciente encheu o auditório. Mas, desta vez, a
experiência teve sucesso.

A DESCOBERTA DA PENICILINA 10

A descoberta da penicilina se deu de forma acidental, pelo médico e bacteriologista


escocês Alexander Fleming, em 1928. Pesquisando substâncias capazes de combater bactérias
em feridas, esqueceu seu material de estudo sobre a mesa enquanto saía de férias. Ao retornar,
observou que suas culturas de Staphylococcus aureus estavam contaminadas por mofo e que,
nos locais onde havia o fungo, existiam halos transparentes em torno deles, indicando que este
poderia conter alguma substância bactericida.

Ao estudar as propriedades deste bolor, identificado como pertencente ao gênero


Penicillium, Fleming percebeu que ele fornecia uma substância capaz de eliminar diversas
bactérias, como as estafilococos: responsáveis pela manifestação de diversas doenças, tanto
comuns quanto mais graves.

Podemos, então, perceber que pesquisa em Medicina é essencial, pois promove o avanço
do conhecimento e traz enorme benefício para toda a humanidade. No entanto, não se pode
esquecer que ela deve ser conduzida de maneira ética e sua aplicação em seres humanos deve
ser feita eticamente. Deste modo, trataremos agora de algumas declarações e códigos que
intentam reger a pesquisa médica.

10
FIORAMONTI Carolina Maria Calixto et CAVALHEIRO Éder Tadeu Gomes. Penicilina: Efeito do Acaso e
Momento Histórico. In: Química nova na escola. Vol. 34, N° 3, p. 118-123, AGOSTO 2012.
6
C ÓDIGO DE N UREMBERG

Após os acusados nazistas terem alegado que não haviam regras governamentais
explícitas que regulamentassem a pesquisa médica na Alemanha e que as práticas de pesquisas
em seu país não eram diferentes das existências nos países aliados. Deste modo, reconheceu-se
que o juramento de Hipócrates e o princípio de não prejudicar não eram suficientes para
assegurar a dignidade e os direitos humanos sujeitos de pesquisas. A partir daí se formulou um
documento conhecido como código de Nuremberg.

O Juramento de Hipócrates balizava aspectos éticos da prática médica por 2500 anos, já
destacava os aspectos da beneficência, não maleficência e confidencialidade. A novidade
trazida pelo Código de Nuremberg é a necessidade e a qualidade do consentimento do indivíduo
pesquisado.

D ECLARAÇÃO DE H ELSINQUE

Em 1964, a Associação Médica Mundial (World Medical Association) aprovou uma


codificação de maior abrangência que a de Nuremberg – a Declaração de Helsinque. Embora
sem status jurídico, é um código de conduta para investigações médicas reconhecido
internacionalmente. A Declaração de Helsinque já foi objeto de cinco revisões, a última em
outubro de 2000, e nela são consagrados o princípio do consentimento informado por parte dos
sujeitos da pesquisa e a prevalência da beneficência do indivíduo sobre o bem comum ou da
ciência. Também passa a ser obrigatório que os projetos sejam aprovados por uma comissão de
ética independente. Também passou a ser obrigatório que os projetos fossem aprovados por
uma comissão de ética independente.

Na versão de 1996 eram garantidos a todos os sujeitos que participassem de uma


pesquisa biomédica, os melhores métodos existentes de diagnóstico e tratamento. Entretanto,
na revisão de 2008 a Associação Médica Americana propôs, oficialmente, trocar “melhores
métodos existentes” por “métodos disponíveis” com a argumentação de que os países pobres
não têm acesso aos tratamentos ideais e que os indivíduos devem ser tratados de acordo com o
padrão de cuidado existente em seu país. Felizmente não foram aceitas, sobretudo pela ação
firme dos representantes do Brasil e da Argentina.

7
R ELATÓRIO B ELMONT

Contudo, após a composição e divulgação de tal declaração continuaram havendo


pesquisas que violavam os princípios éticos como a injeção de células tumorais hepáticas vivas
em idosos doentes no Jewish Chronic Disease Hospital em Nova Iorque (1963) e a
contaminação de crianças com deficiência mental pelo vírus da hepatite infecciosa, entre 1950
e 1970, na Willowbrook State School. Em consequência disto surge o relatório de Belmont.
Que concluiu pelos seguintes princípios: o princípio do respeito às pessoas (autonomia); o
princípio da beneficência (incluindo a não-maleficência); o princípio da justiça.

D IRETRIZES I NTERNACIONAIS PARA P ESQUISAS B IOMÉDICAS EM S ERES HUMANOS

Compostas em 1982, com novas versões em 1993 e 2002, pelo Conselho das
Organizações Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS) e pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). Ficando estabelecido que todas as pesquisas em seres humanos deveriam ser
submetidas, para revisão e aprovação, a um ou mais comitês independentes de revisão ética e
científica e que o pesquisador deveria obter a aprovação da condução da pesquisa antes de
iniciá-la.

B RASIL : CÓDIGO DE ÉTICA MÉD ICA

Atualmente, os aspectos éticos das atividades de pesquisa em seres humanos no Brasil


são regulados pela Resolução CNS n.º 196/96 (Diretrizes e Normas de Pesquisas em Seres
Humanos) de outubro de 1996 e pelas resoluções complementares posteriores. Foi criada a
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e os Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs).
O Código de Ética Médica, em vigor desde 2010, veda ao médico “deixar de obter aprovação
de protocolo para a realização de pesquisa em seres humanos, de acordo com a legislação
vigente” e “manter vínculo de qualquer natureza com pesquisas médicas, envolvendo seres
humanos, que usem placebo em seus experimentos, quando houver tratamento eficaz e efetivo
para a doença pesquisada”

Os CEPs têm cuidado redobrado com a proteção de grupos vulneráveis, que são todos
aqueles que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação
reduzida. É o caso dos menores de 18 anos, das gestantes, populações pobres, populações
indígenas, presidiários, militares, religiosos, funcionários, alunos, deficientes mentais,
incapazes.

8
Parafraseando o Filosofo e educador John Dewey afirmamos que “Todo grande avanço
da ciência surge de uma audácia da imaginação. Devido a audácia, criatividade e persistência
de muitos estudiosos a pesquisa médica evoluiu e continua a evoluir em grande escala. Porém,
este avança nunca poderá ser considerado de maior valor que os princípios éticos e a dignidade
da pessoa humana. E a observância de princípios éticos só aumenta a qualidade da pesquisa
efetuada.

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