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Pesquisa médica
Maio de 2016
“O princípio da moralidade médica e cirurgia consiste em
nunca realizar um experimento no ser humano que possa
prejudica-lo, mesmo que o resultado seja altamente vantajoso
para a ciência, isto é, para a saúde dos outros”
(Claude Bernard, 1865)1
A medicina atual dispõe de inúmeros meios para se tratar um paciente. Existem drogas
capazes de curar, controlar e até mesmo de evitar doenças, aparelhos eletrônicos sofisticados
são capazes de fazer um diagnóstico apurado. Os avanços nesta área são rápidos e possibilitam
uma vida cada vez melhor para as pessoas. Porém, as descobertas na medicina, nem sempre
ocorrem de modo preciso como hoje, muitas vezes foram acidentais, e não raramente às custas
do sofrimento de alguns. A Princípio a medicina era baseada na manipulação de ervas e
tratamentos naturais, muitas vezes com fundos místicos para tratar enfermos. Em fontes como
o papiro de Ebers encontramos testemunho da prática médica dos egípcios que possuíam um
vasto conhecimento de farmacologia, como vasto conhecimento de anatomia humana e de
técnicas cirúrgicas adquiridas pela experiência de mumificação. Tendo como mestre
Hipócrates, o pai da medicina, os gregos foram os pioneiros no estudo dos sintomas das
doenças. Atesta a literatura hipocrática sobre a técnica médica no período pré-socrático:
1
Claude Bernad, fisiologista francês (1813 – 1878), conhecido pela criação da medicina experimental baseada em
evidências.
2
Hippocrate. De l’ancienne médecine. In Littré E.Oeuvres complètes d’Hippocrate. J B Bailliere, Paris, Vol 1,
1839 apud GUSMÃO, Sebastião. HISTÓRIA DA MEDICINA: evolução e importância. Diponível em:
www.museu-emigrantes.org/docs/conhecimento/Historia_da_medicina.pdf. Acesso em: 17 de maio de 2016. 2
experiências devem seguir um regimento ético que tenha como prioridade a dignidade e bem
estar do paciente.
Herófilo da Calcedônia (c. 335-280 a.C.), um dos grandes nomes da Escola Médica de
Alexandria, no Egito. Herófilo descreveu órgãos e funções como a salivação, o pulso como uma
função da batida do coração e as conexões entre os nervos, a medula espinal e o cérebro.
Também diferenciou nervos sensoriais e motores. Isto foi possível porque Herófilo, assim como
seu contemporâneo mais jovem Erasístrato de Chio (c. 320-250 a.C.), praticaram a vivissecção
em cerca de 600 prisioneiros durante o reinado dos faraós Ptolomeu I e Ptolomeu II.
Frederik Ruysch (1638–1731) foi o primeiro expoente do espécime anatômico. Ele era
Instrutor-Chefe das parteiras de Amsterdã e Médico Legal da Corte, tinha, assim, amplo acesso
aos corpos de natimortos e lactentes e os usava para criar cenas extravagantes de múltiplos
espécimens. Seu repositório de curiosidades incluía vitrines com esqueletos de fetos e de
lactentes, colocados em paisagens que misturavam partes de corpos humanos e de animais com
vários objetos orgânicos e não orgânicos. Ruysch era dotado de um privilégio extraordinário: o
direito de coletar e exibir o material humano sem o consentimento do indivíduo ou de seu
responsável.
Antes de operar o Rei Luís XIV da França, durante cerca de dois meses, Charles-
François Félix de Tassy praticou em todos os pacientes portadores de fístulas que procuravam
os hospitais de Paris. Alguns “cobaias” não teriam sobrevivido à operação de Félix e seus
corpos teriam sido descartados à noite, suas mortes atribuídas a envenenamento.
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ALVES, Elaine Maria de Oliveira et TUBINO, Paulo. De objetos a sujeitos de pesquisa: ética nos experimentos
médicos. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/523db2_f795618274194135a6d4b67a5b13cec5.pdf. Acesso
em: 19 de maio de 2016
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ibidem
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ibidem 3
G RUPOS VULNERÁVEIS 6
Prisioneiros em geral, doentes mentais e crianças, foram usadas com frequência até o
início do século XX porque eram “convenientes”. Disse certo Dr. Jansen na Associação Médica
de Estocolmo, em 1891, que poderia ter usado bezerros em suas experiências com a varíola,
mas as crianças do Lar de Enjeitados eram “mais baratas”, ou seja, menos valiosas. Assim,
crianças e adolescentes foram usados em testes de novas vacinas e soros, em estudos da
anatomia e fisiologia normais da criança, no desenvolvimento de novas drogas, testes
diagnósticos e novos procedimentos.
6
ibidem
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ALVES, Elaine Maria de Oliveira et TUBINO, Paulo. Ética na pesquisa em seres humanos. In: Rev Med
Fameplac 2006;1:25-36. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/8184c5_839a5c43d7056a75b40220bfeab
90c8c.pdf. Acesso em: 19 de maio de 2016
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concentração de Ravensbruck, testaram a eficiência da sulfanilamida e outras drogas no
controle da infecção. Para tal, provocaram ferimentos nas vítimas, infectaram as lesões com
várias bactérias e agravaram a infecção resultante passando vidro moído, serragem e areia no
local para simular um ferimento de guerra. Vinte e três pessoas, das quais 20 médicos nazistas,
foram acusadas de crimes contra prisioneiros de guerra e julgadas no tribunal de Nuremberg.
Os acusados tentaram justificar seus crimes com a desculpa de que, na época, não havia regras
governamentais explícitas que regulamentassem a pesquisa médica na Alemanha e que as
práticas de pesquisa na Alemanha não eram diferentes das existentes nos países aliados. As
sentenças foram divulgadas em agosto de 1947, com um documento formulado pelos juízes que
conduziram o julgamento e que ficou conhecido como Código de Nuremberg. Dezesseis dos
acusados foram considerados culpados e sete foram executados.
U NIDADE 731 8
Contudo, não se pode deixar de mencionar que nem todos os experimentos aconteceram
de forma cruel e sanguinária. Por exemplo, a descoberta dos analgésicos e da penicilina.
O dentista Horace Wells, presente ao espetáculo no qual se usava óxido nitroso, mais
conhecido como gás hilariantes viu que um indivíduo após ter usado o gás se machucou e não
sentiu dor. Resolveu então usar o gás em si mesmo para arrancar um dente, tendo visto o efeito
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ALVES, Elaine Maria de Oliveira et TUBINO, Paulo. De objetos a sujeitos de pesquisa: ética nos experimentos
médicos. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/523db2_f795618274194135a6d4b67a5b13cec5.pdf. Acesso
em: 19 de maio de 2016
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VIEIRA, Sônia. Ética e metodologia na pesquisa médica. In. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. vol.5 no.2 Recife
Apr./June 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1519- 3829200500020
0013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292005000200013. 5
Acesso: 17 de maio de 2016.
positivo passou a usá-lo em sua clínica, porém ao tentar usar tal procedimento em uma cirurgia
o paciente acordou no meio da cirurgia, gritando de dor.
A DESCOBERTA DA PENICILINA 10
Podemos, então, perceber que pesquisa em Medicina é essencial, pois promove o avanço
do conhecimento e traz enorme benefício para toda a humanidade. No entanto, não se pode
esquecer que ela deve ser conduzida de maneira ética e sua aplicação em seres humanos deve
ser feita eticamente. Deste modo, trataremos agora de algumas declarações e códigos que
intentam reger a pesquisa médica.
10
FIORAMONTI Carolina Maria Calixto et CAVALHEIRO Éder Tadeu Gomes. Penicilina: Efeito do Acaso e
Momento Histórico. In: Química nova na escola. Vol. 34, N° 3, p. 118-123, AGOSTO 2012.
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C ÓDIGO DE N UREMBERG
Após os acusados nazistas terem alegado que não haviam regras governamentais
explícitas que regulamentassem a pesquisa médica na Alemanha e que as práticas de pesquisas
em seu país não eram diferentes das existências nos países aliados. Deste modo, reconheceu-se
que o juramento de Hipócrates e o princípio de não prejudicar não eram suficientes para
assegurar a dignidade e os direitos humanos sujeitos de pesquisas. A partir daí se formulou um
documento conhecido como código de Nuremberg.
O Juramento de Hipócrates balizava aspectos éticos da prática médica por 2500 anos, já
destacava os aspectos da beneficência, não maleficência e confidencialidade. A novidade
trazida pelo Código de Nuremberg é a necessidade e a qualidade do consentimento do indivíduo
pesquisado.
D ECLARAÇÃO DE H ELSINQUE
7
R ELATÓRIO B ELMONT
Compostas em 1982, com novas versões em 1993 e 2002, pelo Conselho das
Organizações Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS) e pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). Ficando estabelecido que todas as pesquisas em seres humanos deveriam ser
submetidas, para revisão e aprovação, a um ou mais comitês independentes de revisão ética e
científica e que o pesquisador deveria obter a aprovação da condução da pesquisa antes de
iniciá-la.
Os CEPs têm cuidado redobrado com a proteção de grupos vulneráveis, que são todos
aqueles que, por quaisquer razões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação
reduzida. É o caso dos menores de 18 anos, das gestantes, populações pobres, populações
indígenas, presidiários, militares, religiosos, funcionários, alunos, deficientes mentais,
incapazes.
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Parafraseando o Filosofo e educador John Dewey afirmamos que “Todo grande avanço
da ciência surge de uma audácia da imaginação. Devido a audácia, criatividade e persistência
de muitos estudiosos a pesquisa médica evoluiu e continua a evoluir em grande escala. Porém,
este avança nunca poderá ser considerado de maior valor que os princípios éticos e a dignidade
da pessoa humana. E a observância de princípios éticos só aumenta a qualidade da pesquisa
efetuada.