Вы находитесь на странице: 1из 15

31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido.

Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

Inscreva-se na Newsletter de CartaCapital


Receba todos os dias as notícias mais importantes em seu e-mail.

Nome *
Email *
Enviar
Não quero assinar a Newsletter.

Sociedade
Entrevista - Ricardo Antunes

“Na escravidão o trabalhador era


vendido. Na terceirização, é alugado”
por Dimalice Nunes — publicado 17/05/2017 00h30, última modificação 16/05/2017 16h25

Referência na sociologia do trabalho, Ricardo Antunes diz ver a administração


Temer como um governo terceirizado. "Foi imposto para devastar a legislação
social"
Wikimedia Commons

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 1/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

A Greve Geral de 28 de abril pode ser vista como um embrião para união dos trabalhadores
contra a perda de direitos

Até o fim deste mês o plenário da Câmara dos Deputados deve votar a terceira das três partes do
pacote que representa a maior perda de direitos da história para o trabalhador brasileiro, a
reforma da Previdência. Se aprovada, ela seguirá para o Senado, onde já tramita a reforma
trabalhista. A lei da terceirização já foi sancionada pelo presidente Michel Temer.

Para o sociólogo Ricardo Antunes, professor livre-docente da Unicamp e um dos principais nomes
no País sobre os debates do mundo do trabalho, esse movimento contra os trabalhadores já era

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 2/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

esperado. Em 1995, no livro Adeus ao Trabalho? (Cortez Editora), Antunes elaborou o conceito
que chamou de “escravidão do século XXI” – um mundo do trabalho baseado na precarização e
no esgarçamento das relações de trabalho como as conhecíamos até então.

Hoje, 22 anos depois do livro, essa figura sai do mundo acadêmico e é realidade nas ruas e nas
empresas. Mais que isso: um ano após Michel Temer assumir a presidência, está prestes a se
tornar legalidade. “A tragédia é que esse quadro se consolidou”, lamenta.

Antunes acredita, entretanto, que é justamente essa situação limite em que se encontra a classe
trabalhadora que vai gerar a unidade necessária para a reação. A Greve Geral de 28 de abril,
inclusive, é interpretada por ele como ponto de inflexão do movimento de luta dos trabalhadores.
“A classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la”, diz.

Nesta entrevista a CartaCapital, Antunes comentou ainda o quanto o passado escravocrata


brasileiro pesa nos interesses que levam à perda de direitos e sobre a necessidade do trabalhador
se reconhecer como tal e se sentir representado pelos sindicatos. “A conflagração do nosso tempo
é a conflagração entre a totalidade do trabalho social versus a totalidade do capital”.

E o enigma do século XXI? “O trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade. E o


trabalho que estrutura a humanidade é incompatível com o trabalho que o capital quer nos impor”.

Leia a íntegra da entrevista

CartaCapital: Seu livro Adeus ao trabalho?, de 1995, já falava que a tendência para o mercado
de trabalho era a terceirização sem limites e que os trabalhadores se tornariam algo como
“escravos do século XXI”. Como o senhor revisita esse pensamento diante das reformas que o
atual governo tenta aprovar, especialmente a trabalhista e a da Previdência?

Ricardo Antunes: Uma das principais ideias que eu apresentava no Adeus ao trabalho? era que
estávamos penetrando numa era de precarização estrutural do trabalho em escala global. O que
naquele momento era uma relativa exceção – o trabalho precário, informal, terceirizado – tenderia
a se tornar regra. E a regra – o trabalho contratado, regulado, com direitos – tenderia cada vez
mais a se tornar a exceção. A tragédia é que esse quadro se consolidou.

CC: E esse é um movimento até mais antigo em outros países...

RA: Não paira nenhuma dúvida hoje, em escala global, de que estamos num processo de
precarização do trabalho muito acentuada. Conheço as experiências da Índia, da China, de vários
países da Europa e dos Estados Unidos, além do Brasil, e vejo que essa tendência é muito
profunda.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 3/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

Na Inglaterra, há a modalidade zero hour contract (o contrato de hora zero) que é o trabalho
intermitente (proposta que consta na reforma trabalhista que tramita na Câmara dos Deputados).
Médicos, advogados, atividades ligadas ao cuidado na saúde, eletricistas… As mais distintas
categorias do chamado novo proletariado, especificamente o novo proletariado dos serviços.

Esses trabalhadores são chamados e recebem apenas pelo trabalho realizado: não há contrato e
não recebem direito nenhum. Muitas empresas transnacionais e grandes corporações aderiram.
No Reino Unido, os sindicatos dizem que esse tipo de contrato já abrange cerca de 1 milhão de
trabalhadores e trabalhadoras, e isso se esparrama pelo mundo.

Da mesma forma, podemos citar o exemplo italiano, onde há o trabalho a voucher. O trabalhador
ou a trabalhadora realiza o trabalho, recebe um voucher e depois vai receber por aquelas horas.
Isso abriu caminho para uma precarização enorme. O patronato paga por 20 horas de trabalho
pelo sistema voucher, depois contrata por mais 20 horas. É o trabalho precário absoluto, que
paga, inclusive, o valor mínimo por hora permitido na Europa.

A constatação – e não estou falando da Índia, onde o quadro é mais brutal – é que na era do
trabalho digital caminhamos para um mundo do trabalho onde a condição de precariedade é a
tendência dominante. E contrariando a tese de que a era da tecnologia digital traria um admirável
mundo do trabalho, nós vivemos uma situação que intensifica o que eu apontava na década de
90.

CC: Passados mais de 20 anos,


mas ainda antes do impeachment
da presidenta Dilma Rousseff, o
senhor voltou a falar em escravidão.
Agora que as medidas do atual
governo parecem avançar, qual o
cenário para o Brasil?

RA: O quadro brasileiro, o que


vimos nos últimos anos, mesmo nos
períodos de expansão econômica
com Lula e Dilma, é que não houve
redução no nível de precarização
do trabalho. O governo Lula e parte
do governo Dilma criaram 22
milhões de empregos porque o
crescimento econômico foi forte.
Mesmo assim, era muito frequente

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 4/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

Fenômeno é global: no Reino Unido o contrato zero e até mesmo dominante o trabalho
hora, na Itália pagamento por voucher (Wikimedia precarizado, com altas taxas de turn
Commons) over, terceirizado, no espaço da
burla. O trabalho terceirizado é o
espaço da burla, o espaço da fraude.

Não por acaso, poucos trabalhadores podem entrar na Justiça, porque o trabalhador terceirizado
tem que trabalhar, não tem nem tempo de entrar na Justiça. E quando eles entram e ganham as
causas, frequentemente essas empresas já fecharam, já se constituíram outras empresas, com
outros nomes, para poder fugir das penalidades decorrentes do não cumprimento da legislação
social protetora do trabalho.

Enquanto nos anos 2000, especialmente a partir de 2005, tivemos uma expansão econômica,
esse trabalho precarizado – importante dizer que naquela época a remuneração dominante era de
um salário mínimo e meio – se alterou profundamente. Em âmbito global, por causa da crise de
2008, que devastou o mercado de trabalho, isso se acentuou. Quando essa crise chega nos
países do sul do mundo, e em particular no Brasil, vem o período da devastação.

"A escravidão é uma chaga na classe dominante brasileira, que se acostumou e gosta da
escravidão"

Por que eu faço uma alusão à escravidão? Na escravidão o trabalhador era vendido. Na
terceirização ele é alugado. É uma locação de força de trabalho. E o governo Temer eu
caracterizo como um governo terceirizado, ele foi imposto para devastar a legislação social
protetora do trabalho no Brasil.

É evidente que não estamos voltando ao trabalho escravo de 1500, estamos falando de uma
escravidão inclusive digital, do trabalho terceirizado, precarizado, informal, do trabalho sem
direitos, de uma dependência do sistema perverso de metas, que tem levado a suicídios e
adoecimentos do trabalho. Nós estamos em 2017, comemorando 100 anos da Greve Geral de
1917, e se esse processo não for obstado vamos regredir à condição vigente de trabalho de antes
de 1917

CC: Na última semana um “filhote” da reforma trabalhista ganhou a mídia. O PL 6442 modifica
toda a regulamentação do trabalho rural, abrindo a possibilidade, inclusive, de remuneração na
forma de casa e comida. O que significa para o trabalhador rural, que mesmo com o amparo da lei
já é um trabalhador mais vulnerável, ter seus direitos ameaçados como prevê o PL 6442?

RA: Não é por acaso também que dessas novas medidas – a terceirização total, o flagelo
absoluto, a quebra do que restava de dignidade do trabalho – há a discussão de como eliminar um

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 5/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

ganho que nós tivemos na última década que foi a caracterização do trabalho análogo à
escravidão.

Se quer eliminar o controle que conseguiu-se criar no Brasil, especialmente pelo Ministério Público
do Trabalho e por uma atuação da Justiça do Trabalho mais crítica e voltada à defesa da
dignidade do trabalho, um movimento que fez com que muitas empresas fossem denunciadas por
praticarem o trabalho análogo à escravidão.

Há o movimento dos capitais, da agroindústria às grandes burguesias, inclusive financeiras, no


sentido de acabar com essa figura do trabalho análogo à escravidão. Essa é a prova cabal de que
se a classe trabalhadora, os movimentos sociais, os sindicatos, não resistirem com muita
vitalidade, nós vamos regredir.

Uma das obrigações desse governo terceirizado é implantar a terceirização total. Por isso que o
trabalho precarizado, corroído, aviltado e escravizado é a forma que o capital financeiro impõe
para que o trabalho exista hoje em escala global. E isso vai ser menor ou maior de acordo com o
nível de resistência sindical.

CC: Ainda pensando nas últimas medidas no Brasil para legalizar a precarização, mesmo que
esse PL não seja aprovado, o que significa para o trabalhador brasileiro como um todo que ideias
como essas sejam sequer aventadas?

RA: Significa, primeiro, no sentido mais geral, que o proprietário do agronegócio sonha com a
escravidão. Com as exceções que sempre há. O nosso país viveu longos séculos de escravidão e
isso é uma chaga na classe dominante brasileira, que se acostumou e gosta da escravidão.

O segundo ponto: você pagar o trabalhador rural ou a trabalhadora rural – e é importante ter essa
dimensão de gênero uma vez que a divisão sexual do trabalho marca o mundo do trabalho – não
em dinheiro, mas em alojamento e alimentação, me faz lembrar do cambão (trabalho gratuito que
o trabalhador rural precisa conceder ao dono da terra), uma modalidade de trabalho muito vigente
no campo brasileiro que originou as ligas camponesas, muito importante nos anos 60. O
trabalhador fica dependendo da casa e da comida e a Constituição proíbe isso. É a burla que faz
renascer a ideia do enriquecimento de uma classe às custas do vilipêndio da outra.

O terceiro ponto é que a nossa classe dominante, especialmente aquela que atua no campo, é
poderosa. É importante lembrar que a CLT de 1943 foi resultado de uma força revolucionária do
trabalho, mas teve sua configuração jurídica com o getulismo, um governo tipicamente burguês,
ainda que com traços nacionalistas. Naquela CLT o trabalhador rural foi excluído porque a
burguesia rural, muito forte então, tinha parte do controle do governo Vargas e impediu que a CLT
chegasse ao campo.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 6/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

Então esse PL, se vier a ser aprovado, vai mostrar a verdadeira face escravocrata do agronegócio
do Brasil. E isso é inaceitável. Se a gente somar a esse traço escravocrata do agronegócio a
superexploração do trabalho que caracteriza nossas burguesias do mundo produtivo e financeiro,
temos o que tipifica o capitalismo brasileiro.

PL do trabalhador rural coloca em xeque caracterização do trabalho análogo à escravidão


(Wikimedia Commons)

CC: Tanto o PL 6442 quanto a própria reforma trabalhista permitem o alongamento da jornada de
trabalho para até 12 horas, o trabalho intermitente, o home office… Se ao mesmo tempo o
trabalhador se torna “escravo” por trabalhar sem limites, se fragiliza diante da precariedade do

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 7/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

trabalho em si. Que paradoxo é esse e como ele contribui para fragilizar também a identidade
desse trabalhador?

RA: É claro que esse cenário todo, que é profundamente ideológico, é muito poderoso. Na
empresa, você tem um trabalhador contra o outro, um não pode conversar com o outro e as
resistências e ações sindicais são combatidas. O salário é individualizado. Só ganha quando
produz e quem produz mais ganha mais. E quem produz menos, perde o lugar. É o reino da
competição selvagem. Isso macula a classe trabalhadora.

Imagina há quatro décadas, quando houve uma reestruturação produtiva brutal, uma
neoliberalização devastadora que configura a forma da dominação capitalista hoje em escala
global? E isso tudo é consolidado pelo mundo financeiro, um aspecto nefasto, uma tentativa de
individualizar e colocar um contra o outro.

Baseada nessa heterogeneidade, que é tanto objetiva quanto subjetiva, tem um outro lado que é
muito importante e esse é o calcanhar de Aquiles do capital, que é o traço homogeneizante da
classe trabalhadora: justamente o processo de precarização. E isso é global e vai dos trabalhos
digitais aos manuais.

Se a classe trabalhadora não resistir, estamos em franco processo de uberização do trabalho. E


em escala global, seja o trabalho digital, seja o manual. Como não há uma muralha chinesa entre
o trabalho digital e o manual, e uma dimensão não é absolutamente separada da outra, há um
resgate da sensação de pertencimento de classe.

Essa homogeinização não faz, por exemplo, que a redução da jornada de trabalho seja um
desejo. Tanto no trabalhador ou na trabalhadora mais estável quanto nos mais precarizados. Isso
porque o principal temor do trabalhador com direito é o desemprego ou a terceirização. E o maior
sonho do trabalhador terceirizado é ter direitos. A tragédia do capital é que ele não consegue
arrebentar os coágulos que emergem do mundo do trabalho e que levam às rebeliões.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 8/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

A classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la, por isso a grev
foi bem sucedida. (Antonio Perri/Unicamp)

CC: E é possível avaliar que a greve geral do dia 28 de abril foi um embrião pelo dessa rebelião?

RA: Por que a greve foi bem sucedida? Porque a classe trabalhadora começa a perceber que a
terceirização é para arrebentá-la. Que a reforma da Previdência é para fazer com que ele morra
sem se aposentar. Ou seja, vítima de uma previdência privada que pode lhe burlar. Essas são as
questões vitais que fazem com que a fratura e a fragmentação da classe trabalhadora não seja
um traço imutável. Pelo contrário, é um polo de aproximação, de solidariedade e de consciência.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 9/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

É claro que num momento de crise econômica é difícil para o trabalhador falar “vou entrar numa
greve” quando ele sabe que pode perder o emprego que ele quase não tem. Mas tem o outro
lado: ele está percebendo que com esse governo totalmente destrutivo não há outra alternativa
que não a resistência e a confrontação.

CC: Mas num momento de crise e também de polarização política como o que vivemos, como a
falta de consciência de classe – aquele trabalhador que não se reconhece como tal – pesa e de
certa forma catalisa a perda de direitos?

RA: A consciência de classe é um processo muito complexo. Até porque ela é mais presente no
operário metalúrgico, da indústria química, naquelas atividades onde o coletivo é relevante. Não
se monta um carro sem atividade coletiva, mas se pode limpar um prédio inteiro com só um
indivíduo limpando. Ele trabalha sozinho, tem outro trabalhando em outro andar, de tal modo que
os laços de sociabilidade e de solidariedade são mais rarefeitos.

E as empresas jogam pesado nisso. Há casos de empresas de terceirização que transferem


trabalhadores e trabalhadoras quando eles começam a se agrupar e discutir suas condições de
trabalho. É até uma tendência do capitalismo do nosso tempo.

Mas o outro lado é que, para tragédia do capitalismo, o mundo do capital não se reproduz sem
alguma forma de interação com o trabalho vivo. E dessa interação, nascem, florescem, emergem
traços de aproximação e solidariedade. Esse não é um processo fácil, esse sentido de
pertencimento de classe, mas quem achou que esse processo não ia mais ocorrer quebrou a cara
e ninguém mais leva a sério. É mais complexo, é mais difícil, mas quando ele ocorre atinge as
multidões.

CC: Então o senhor é um otimista quanto ao poder dos trabalhadores se reconhecerem, se


organizarem e combaterem os retrocessos que estão sendo propostos?

"A classe trabalhadora precisa dizer nesse momento que quer sindicato, sim"

RA: Não é que eu sou otimista, eu pesquiso e acompanho. Eu viajo e observo esse movimento
em muitos países. O momento que nós estamos vivendo, se eu for usar uma expressão forte, é
uma era contra-revolucionária, numa onda conservadora tão forte.

Eu reconheço esse cenário, o cenário da destruição, mas esse cenário da destruição não elimina
a confrontação. Ele dificulta, ele reprime, como vimos no comportamento da polícia na Greve
Geral no Brasil. Só que repressão… nós enfrentamos 20 anos de ditadura e derrotamos a
ditadura.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 10/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

O governo Temer tem uma feição claramente de exceção, ainda que seja uma exceção
aparentemente legal. Mas se você imaginar que quem faz essa lei é o Parlamento brasileiro, o
que é possível esperar? Aqueles teóricos que afirmam que não há luta entre as classes
naturalmente não sabem do que estão falando. A conflagração do nosso tempo é a conflagração
entre a totalidade do trabalho social versus a totalidade do capital.

CC: E a Greve Geral no Brasil pode ser interpretada como um ponto de inflexão desse
movimento?

RA: Pode. Era muito difícil para a classe trabalhadora, depois da derrota que foi o governo do PT,
se unir. A classe trabalhadora saiu dele (do governo petista) muito machucada, pois foi um
governo em que ela jogou muita expectativa. Não por acaso, não houve greve geral contra o
impeachment. Ao mesmo tempo, aqueles que queriam o impeachment viram que o governo
Temer não é o que eles imaginavam.

E hoje é diferente. A classe trabalhadora percebe que terceirização é uma questão vital, que
arrebenta com o trabalho. O desemprego é vital, porque ele arrebenta o trabalho. A (reforma da)
Previdência é vital, pois ela leva o trabalhador à morte quando ele se aposenta, ele não terá
tempo para gozar a vida depois do trabalho. Então essas questões vitais, com o quadro político
atual, provocam sim essa inflexão.

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 11/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

Enquanto existir capitalismo, o sindicato é ineliminável. É uma espécie de ferramenta da classe


trabalhadora (Flickr Commons)

CC: O senhor fala bastante na união dos trabalhadores e tradicionalmente isso é feito via
sindicatos. Existe organização sem a força do sindicato?

RA: Enquanto existir capitalismo, o sindicato é ineliminável. É uma espécie de ferramenta da


classe trabalhadora. A ferramenta pode estar enferrujada, judiada, amassada, torta, mas a classe
trabalhadora sem os sindicatos sofre mais. A classe trabalhadora precisa dizer nesse momento
que quer sindicato, sim. Como, aliás, é o preceito da convenção 87 da OIT (Organização

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 12/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

Internacional do Trabalho): o sindicato deve ser autônomo no sentido político, econômico e


ideológico.

CC: Um dos pontos da reforma trabalhista é o fim da contribuição sindical. Essa perda de
recursos pode fragilizá-los ou a questão está mais na representatividade e na identidade dos
trabalhadores com as categorias do que com dinheiro?

RA: Esse governo sabe que o imposto sindical, como dizia Vicente Matheus, é uma faca de dois
legumes. O imposto sindical foi criado por Vargas na década de 30 para controlar os sindicatos. O
imposto não é uma conquista do sindicato autônomo, pelo contrário. E ele pode ser nefasto,
porque permite que o sindicato de carimbo exista sem associados.

Na história do sindicalismo brasileiro de 1930 para cá o imposto se tornou crescentemente uma


fonte, definida pelo Estado, para sustentar o sindicato, o que já é uma aberração. Porque os
sindicatos nasceram, na Inglaterra na revolução industrial, de forma autônoma. A tradição é de
autonomia, inclusive para a sua preservação e manutenção. Aqui o imposto veio e ficou. Veio
ditadura, veio Constituinte, e ele ficou.

Só que como o imposto sindical tornou-se, negativamente, um pilar de sustentação do


sindicalismo brasileiro, inclusive do sindicalismo que tem um sentido crítico. A CUT nasceu em
1983 claramente contra ao imposto sindical. E por que o governo Temer faz isso hoje? Porque ele
sabe que muitos sindicatos, inclusive aqueles com algum traço de combatividade, ainda
dependem do imposto sindical ou de taxas negociais. Então a ideia do governo é jogar mais uma
bomba e provocar mais destruição no meio sindical.

Tem sindicato que há muito tempo não aceita o imposto sindical, que devolve para os
trabalhadores. Esses entendo como os autênticos de ação sindical. Esses sindicatos estão mais
em consonância com o espírito de autonomia dos sindicatos. Exemplo são os sindicatos de
professores das universidades públicas e alguns de metalúrgicos, como os de Campinas e São
José dos Campos. Eles têm outras formas de sustentação, inclusive mais autônomas.

Os trabalhadores devem sustentar seus sindicatos, que não devem depender do imposto que é
tirado contra a vontade do trabalhador e entregue para centrais, federações, confederações e
sindicatos que muitas vezes ele sequer participa e não os vê como representantes. Mas não pode
eliminar numa tacada.

CC: Essa pergunta é quase uma provação, mas no fundo a discussão se resume a isso: qual o
futuro do emprego?

RA: Se a lógica destrutiva que preside o mundo atual tiver vigência no mundo do trabalho teremos
um trabalho terceirizado, do contrato zero hora e dos trabalhos intermitentes. E como eu falo no

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 13/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

meu próximo livro: se tivermos sorte, seremos servos. Mas a coisa mais genial da história é que
ela é imprevisível, é um empreendimento cotidiano.

O trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade. O trabalho que estrutura a


humanidade – porque o trabalho é uma atividade vital – é incompatível com o trabalho que o
capital quer nos impor. É o enigma do século XXI. Por isso é que é ficção a ideia de fim do
trabalho. Como é um horror uma sociedade em que só se trabalha. O trabalho deve ser fundado
em ser uma atividade vital, que produza coisas úteis, de acordo com o tempo socialmente
disponível. E isso é um imperativo categórico para a sociedade do século XXI.

E não me venha dizer que o capitalismo é eterno. Ele não está em colapso, mas ele está em crise.
Porque ele só se reproduz destruindo: a força humana que trabalha, a natureza, além da
destruição feita pela guerra. Os anos áureos da capitalismo, da modernidade, são coisa do
passado. Então qual é o futuro do emprego? É entre a servidão e a emancipação.

Cupons e Ofertas
Economize e fique na moda com a C&A
Descontos em artigos esportivos na Centauro
Livros e Eletrônicos em promoção na Saraiva
Decoração com descontos na Mobly
Maquiagem com descontos no Boticário
Economize em perfumes e maquiagem com a Sephora
Roupas e acessórios em promoção na Zattini

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 14/15
31/08/2018 “Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado” — CartaCapital

https://www.cartacapital.com.br/sociedade/201cna-escravidao-o-trabalhador-era-vendido-na-terceirizacao-ele-e-alugado201d 15/15

Вам также может понравиться