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“A igreja deve ser lembrada de que não é a mestra ou a serva do Estado, mas sim a
sua consciência… Ela deve ser a guia e a crítica do Estado, nunca sua ferramenta. Se
a igreja não recuperar seu fervor profético, ela se tornará um clube social irrelevante,
sem autoridade moral ou espiritual.”
Pr. Martin Luther King, Jr (1963), Strength To Love.
Especialmente em anos de eleições para cargos públicos, fica mais evidente e oportuna
a necessidade de evidenciarmos a nossa fé através de um posicionamento honesto, que
seja comprometido com os valores do Reino e que não admita manipulações por parte
daqueles que se utilizam do poder para o benefício pessoal.
1 - O que é Cidadania?
Segundo o Dicionário de Conceitos
Históricos, cidadania é “... um com-
plexo de direitos e deveres atribuídos
aos indivíduos que integram uma
nação”.
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natureza social e biológica, regula- As três modalidades de direitos pre-
dos pelo Estado. cisam ser articuladas em conjunto. É
possível existir um sem o outro, mas a
Estado - Uma entidade composta de cidadania plena inclui o exercício dos
diversas instituições de caráter político
e jurídico, governando sobre uma dada
direitos políticos, sociais e civis. No
organização social. É a Nação politicamente Brasil, a cidadania plena está sendo
organizada. usufruída por apenas uma parcela da
população, pois somos uma socie-
• Deveres. Um conjunto de obri- dade muito desigual ainda.
gações socialmente definidas por
leis e costumes. Mas, o que são estes direitos?
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Os direitos sociais garantem a 2 - A Cidadania na história:
nossa participação na distribuição os caminhos contraditórios
da riqueza produzida coletivamente.
Eles incluem a educação, o trabalho, Foi na antiga Grécia que se desen-
o salário justo, a saúde, a aposenta- volveu primeiro o sentido de cidada-
doria, a moradia. Sua base é a justiça nia. Isto se deu a partir da ideia do
social. indivíduo que vive na cidade (a polis).
O homem foi concebido como um
A partir destas noções sobre os direi- “animal político”, pois atua na polis;
tos podemos chegar a três afirmações: daí, segundo Aristóteles, todos serem
cidadãos políticos.
• Os direitos políticos são a base para
a conquista dos demais direitos, os
sociais e os civis.
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1948 na Declaração Universal dos
Direitos do Homem:
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redemocratização (1945-1964) tive- ampliados, mas não com qualidade. A
mos a abertura democrática em meio concentração de renda, a corrupção e
a tentativas de golpes, a existência de as desigualdades sociais aumentaram
partidos políticos e a organização sin- num país que já era injusto.
dical autônoma dos trabalhadores. A
instabilidade política e o crescimento 3.5 A cidadania inacabada (1986-2014).
econômico criaram conflitos com a
mobilização popular que culminou A abertura democrática na chamada
com a luta pelas reformas de base Nova República se deu com a consti-
(direitos sociais). tuinte de 1986 e a promulgação da
Constituição Cidadã de 1988. Esta
3.4 A cidadania reprimida (1964-1985). carta é considerada a mais ampla,
democrática e garantidora dos direi-
O golpe militar de 1964, que ocorreu tos e dos deveres dos cidadãos. Ela
com o apoio de parte da sociedade responsabiliza o Estado por prover
civil, trouxe a repressão aos direitos para a população seus direitos bási-
políticos e civis dos cidadãos. E cos para a vida. A campanha e a
isto se deu por meio da tortura, das realização das eleições diretas em
perseguições, das mortes, dos desa- 1989, junto com o impeachment do
parecimentos e do exílio. O regime presidente eleito, Fernando Collor de
do medo imposto pelos Atos Institu- Melo, demonstraram que a sociedade
cionais cortou o processo de cres- brasileira avançara na conquista pela
cente mobilização e organização da cidadania política. Entretanto, trata-
sociedade. Uma geração foi privada se de um percurso inacabado, pois
da liberdade de expressão e de pen- os direitos sociais não correspondem
samento, aumentando o fosso entre ainda à conquista dos direitos políti-
estado e sociedade, entre governo cos e civis.
e população. Direitos sociais como
moradia, educação e saúde foram
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recolocaram temas sociais e políticos
sob a pressão das ruas, apontando
para a tarefa inacabada da construção
da cidadania pela presente geração.
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escolas e outras organizações. Muitos No período da ditadura militar, pas-
destes missionários foram também tores, lideranças jovens e intelectuais
reformadores sociais, críticos à participaram da
aliança entre o estado imperial e a resistência ao Democracia – Forma
de governo baseada
Igreja Católica, defensores da liber- regime, na luta na escolha dos
dade religiosa, pelos direitos governantes pelo
Estado laico – da república e humanos e pela povo.
Significa o do estado laico. democracia.
Estado separado de
Denunciaram a
qualquer religião ou
igreja, regendo-se escravidão dos O sentido de mobilização e de vo-
pela ordenação negros como luntarismo encontrado nas igrejas
jurídica e política prática anticris- evangélicas é um fator de cidadania.
secular.
tã e desumana. A tradição protestante de protestar,
debater e questionar a partir do livre
Na república, os protestantes evan- exame das Escrituras e do sacerdócio
gélicos lutaram pela educação laica universal dos santos ajudou de algu-
e pela alfabetização da população, ma forma para a democracia no Brasil.
defenderam o voto universal para As igrejas ou denominações que se
os analfabetos e as mulheres. Con- organizam em regimes democráticos
tribuíram com a liberdade de pen- representativos de certa forma prati-
samento e de expressão e no debate cam em algum nível a democracia e a
sobre o divórcio. Muitos se engajaram cidadania.
em partidos políticos e em lutas soci-
ais. Foi significativa a participação de Sacerdócio Universal dos Santos –
pentecostais nas lutas pela reforma Doutrina protestante reformada que
afirma serem todos os cristãos sacerdotes,
agrária no Nordeste, como líderes de estabelecendo a igualdade diante de Deus
sindicatos rurais e das ligas campone- e no serviço.
sas.
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material para discussão:
+ Definindo Termos e Conferindo a História
Roda de Conversa:
• Olhando para a sua história pessoal (e de sua comunidade de fé), como você
avalia o seu compromisso com a ‘cidadania’ até o presente momento?
• Seria bem interessante que o grupo fizesse uma pesquisa sobre episódios
e/ou textos do passado (talvez ocorridos em sua própria cidade ou região)
que têm conexão direta com a construção da cidadania brasileira, especial-
mente se esses materiais trouxerem mais luz sobre a participação da igreja
evangélica nesse processo. Isso poderia ser apresentado para todo o grupo
numa espécie de ‘exposição’.
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parte 2
O Povo de Deus e
a participação
cidadã: Um breve
panorama bíblico
2 O Povo de Deus e a participação
cidadã: Um breve panorama bíblico
O COMEÇO DA HISTÓRIA – O ponto
de partida para analisar o início da
sável pelo cuidado do jardim. Isso é o
que chamamos de Mandato Cultural:
história cristã é a criação descrita a responsabilidade ética diante de
pela narrativa bíblica. Pensando Deus e da criação. Desse modo,
sobre o texto que trata da criação, deve-se entender que o princípio do
Deus preparou o ser humano para se cuidado para com o mundo criado por
ocupar com o trabalho de preservar Deus, incluindo a terra, as plantas, os
o mundo ao seu redor. Para cumprir animais e as pessoas, não é, de modo
com seu propósito inicial, Deus algum, uma invenção humana nem
colocou Adão no Jardim do Éden e tampouco moderna. É o resultado do
ordenou que ele deveria “o cultivar e planejamento de Deus a respeito da
o guardar” (Gn 2:15). Esse era o plano criação.
original de Deus. Ele também havia
estabelecido que Adão nomeasse É muito comum ouvir a expressão:
todos os animais, aves e répteis (Gn “crente não quer saber das coisas do
2:20). Além disso, foi-lhes dito “sede mundo, pois ele é ‘apenas’ cidadão
fecundos, multiplicai-vos, enchei a do céu”. Percebe-se logo que esta é
terra e sujeitai-a” (Gn 1:26-28). Ainda uma tentativa de aplicação de dois
não havia acontecido o pecado da versículos da Bíblia: “Na verdade, não
incredulidade e da desobediência (Gn temos aqui cidade permanente, mas
3), mas o ser humano já era respon- buscamos a que há de vir.” (Hb 13:14)
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e “a nossa pátria está nos céus” (Fp
3:20). No entanto, o que estes versícu-
los enfatizam é o caráter transitório da
vida neste mundo. Mas será que por
causa disso vamos deixar um mundo
pior e mais difícil para nossos filhos
e filhas? Os que assim procedem têm
o mesmo espírito de Caim: “Acaso
sou eu tutor de meu irmão?” (Gn 4:9).
Esta é uma pergunta cínica, pois é
exatamente isso que Caim e todos
nós deveríamos ser: cuidadores e cui-
dadoras dos nossos irmãos e irmãs.
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armazenamento dos grãos durante os
sete anos de fartura, a fim de suportar
os sete anos de estiagem. O faraó
entende que não poderia encontrar
homem mais qualificado que o pró-
prio José e o nomeia governador (uma
espécie de ministro de agricultura e
planejamento) para todo o país. Assim
aconteceram os dois períodos de sete
anos, tal como previra José, mas o
Egito foi salvo da grande fome e ainda
teve grãos suficientes para vender aos
povos vizinhos. E a própria família de
José acabou chegando ao Egito para
comprar comida e caiu nas graças do
faraó, ganhando uma fazenda para
JOSÉ DO EGITO – (Gênesis 37 a 50). Na abrigar Jacó, seus filhos, noras, netos
pessoa de José do Egito encontramos e netas.
um exemplo a ser seguido; a história
de como um servo de Deus pode e Temos aqui o modelo de um
deve se envolver no cuidado do bem estrangeiro que soube aproveitar a
comum, participando das causas oportunidade para fazer o bem na
humanitárias. José chega ao Egito administração pública.
como escravo e é alçado ao posto de
capataz de Potifar. Caluniado, desce Onde José esteve, sua liderança foi
para a prisão, onde se torna o encar- destacada:
regado dos prisioneiros e fica conhe-
cido como uma espécie de intérprete 1) Entre os escravos, foi o capataz;
de sonhos dos seus companheiros de 2) Na casa de Potifar, foi o adminis-
prisão. Sabedor do que irá acontecer trador;
ao povo do Egito, é chamado para
explicar o significado do sonho do 3) Entre os prisioneiros, tornou-se
faraó: sete vacas gordas seriam sete carcereiro;
anos de fartura na colheita agrícola,
4) Quando chegou ao governo do
mas as sete vacas magras seriam sete
Egito, salvou o mundo de uma
anos de seca e fome em toda a terra
grande fome.
do Egito e circunvizinhança. Ele acon-
selha ao faraó que escolha um homem
trabalhador e honesto o suficiente José não fugiu do seu chamado à
para orientar no plantio, colheita e liderança. Calvino dizia que “não se
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deve pôr em dúvida que o poder civil cado em toda a ciência dos egípcios”
é uma vocação, não somente santa e (At 7:22), a quem Deus preparou para
legítima diante de Deus, mas também libertar o povo que se formou a partir
mui sacrossanta e honrosa entre da família de José, uma vez que depois
todas as vocações”. Alguém disse que de sua morte se levantou “um outro
a diferença entre aqueles que gostam rei, que não conhecia José” (At 7:18)
de política e aqueles que não gostam e começou a escravizar o trabalho
é o fato de que aqueles que não do povo hebreu. É neste contexto
gostam serão governados por aqueles que surge Moisés. Ele vê o seu povo
que gostam. sofrendo durante 40 anos. Resolve
realizar alguns atos de “justiça”, mas
MOISÉS E JOSUÉ – A seguir, temos o é descoberto. Foge para o deserto de
exemplo de Moisés, o hebreu “edu- Midiã e lá fica durante outros 40 anos.
Até que Deus o chama (Êx 3) e o faz
descer à terra do Egito para conduzir
o seu povo à liberdade. Com muitas
e ousadas lutas, debaixo da vocação
divina, Moisés combateu com o faraó
até que o povo foi liberado e atraves-
sou o Mar Vermelho. Moisés esteve
com o povo no deserto durante mais
40 anos, até se despedir deles às mar-
gens do rio Jordão e passar a liderança
para seu jovem sucessor Josué.
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Após sua morte, Josué assumiu a
liderança e conduziu o povo pela
travessia do Jordão até a Terra Pro-
metida. Tudo que precisou fazer foi
seguir à risca as orientações do seu
antecessor (Js 1:8). Foi um líder notá-
vel para o povo de Deus. Estes dois
nomes representam as mais impor-
tantes lideranças das tribos de Israel.
Após eles, surgem grandes nomes de
líderes (os juízes) até a instauração
da monarquia,
Monarquia – com Saul, pas-
Governo de
uma única
sando por Davi cova dos leões - resultou num forte
pessoa. Israel e Salomão, dois testemunho de resistência contra a
conhece esta reis que marcaram idolatria, influenciando no retorno
forma de
o apogeu deste de Judá às terras de Israel e o reforço
governo a partir
de Saul. regime de governo do culto monoteísta. Seu trabalho
sobre Israel. Estes serviu de base para a reconstrução
períodos parecem uma montanha da cidade de Jerusalém, bem como
russa moral, pois a nação viveria da reconstrução do templo, sob a li-
entre a fidelidade a Deus e as suas derança do sacerdote Esdras e tam-
experiências com idolatrias. Por não bém de Neemias, o governador. Foi
ouvir as advertências dos profetas, por cerca deste tempo que viveram
Deus mandaria Israel para viver em e profetizaram Ageu e Malaquias,
cativeiro na Babilônia. Mas mesmo importantes profetas da reconstrução
nestes tempos não faltariam líderes de Judá, ao retornar do exílio babilôni-
para animar o povo. co-pérsico.
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no Antigo Testamento), dado o caráter partilha, a harmonia e a fraternidade.
abrangente e universal da igreja, Tudo isso será possível porque Deus
ultrapassando os limites geográficos será o Rei sobre todo o mundo.
dos países. A partir da referência má-
xima da pessoa de Jesus Cristo, vários JESUS CRISTO – Ele veio pregando o
outros exemplos de lideranças vão Reino de Deus (Mc 1:14). Sua missão
surgir. Pessoas que, conquanto não foi revelar ao mundo a vontade de
tivessem a intenção ou a pretensão de Deus, anunciando o perdão e a recon-
assumir posições de poder político, ciliação. Viveu voltado para os mais
sugerem em seu comportamento uma
Reino de Deus –
atitude de engajamen-
Modelo de governo – O governo de Deus
to com o seu tempo, sobre todas as coisas.
Em Ciência Política e
posicionando-se sem- Sociologia é chama- Já inaugurado (no
pre de maneira hones- do Modo de Governo. presente); ainda não
É a maneira como uma totalmente manifesto
ta e coerente com o (como será no futuro).
sociedade escolhe
governo de Deus sobre forma de governo:
todas as coisas. Con- presidencialismo,
vém dizer que a Bíblia parlamentarismo,
monarquia, monar-
não sacraliza nenhum quia parlamentarista
modelo de gover- etc.
no, seja ele tribal,
monárquico ou democrático, nem
qualquer modelo de produção, seja
asiático, feudal, socialista ou capita-
lista. Qualquer deles será apenas
uma produção social e humana. O que
a Bíblia preconiza é o Reino de Deus,
no qual brotará a justiça, a verdade, a
Modelo de produção – Em Ciência Política e (rei ou alguém ligado a ele) que arrecadava
Sociologia é chamado Modo de Produção. A impostos dos seus vassalos (súditos).
maneira pela qual uma sociedade organiza
O Modelo de Produção Capitalista é
seu sistema de produção e distribuição de
organizado em torno da posse do capital
bens de consumo.
= dinheiro e regido pela livre iniciativa
O Modelo de Produção Asiático é identifi- do mercado. Os donos do dinheiro são
cado em grandes obras sob o comando de também os donos dos meios de produção:
grandes impérios e reinados da antiguidade máquinas, matéria-prima, espaço físico.
(pirâmides do Egito, por exemplo).
O Modelo de Produção Socialista é organi-
O Modelo de Produção Feudal está ligado zado e regulado pelo Estado que coordena
ao mundo pré-moderno. O feudo (grande a produção e a distribuição dos bens entre
extensão de terra) pertencia a um senhor seus cidadãos.
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pobres e necessitados do seu povo, filhos de Israel (que por este tempo
comendo e bebendo com pecadores, já eram chamados de judeus). No
publicanos, mulheres e crianças – entanto, o que eles veem em Jesus
todos eles, gente sem é um homem simples,
valor algum no tempo Publicanos – Eram judeus pacífico, que ensina o
de Jesus. Mas também que serviam a Roma como povo a amar e perdoar
cobradores de impostos de
o vemos visitando seus inimigos... Desse
outros judeus. Eram consi-
(desde que solicitado) derados colaboracionistas modo, Israel rejeita o
pessoas ricas e chefes do invasor e inimigo do ensino de Jesus, porque
religiosos, como foi povo de Deus.
não queria saber de
com Nicodemos, amar e perdoar os
doutor da lei (Jo 3), e também alguns romanos; seus opressores e maiores
fariseus, como Simão (Lc 7:36) e outro inimigos.
fariseu (Lc 11:37).
Mas por que, então, alguns afirmam
É importante destacar que nos dias de hoje que o Senhor Jesus Cristo fez
Jesus a Palestina vivia sob o poderio do uma resistência pacífica ao império
império romano. romano? Quando ele disse que se
Fariseus – Partido
Havia grande deveria “dar a Deus o que é de Deus
religioso judaico.
Seus integrantes e x p e c t a t i v a e a César o que é de César” isso
se consideravam de libertação. causou um problema, pois César era
“puros”. Jesus Esperava-se o tido como o único deus deste mundo,
disse que a
doutrina deles era Messias, aquele a quem tudo pertencia. Jesus causa
boa, mas a prática que viria para repulsa tanto nos judeus, para quem
não valia nada tomar o reino de tudo pertencia a Deus, quanto nos
(Mt 23.3). Entre
eles havia muitos
César à espada romanos, para quem tudo era de
doutores da Lei. e entregá-lo aos César.
Paulo foi fariseu.
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Desse modo, o Senhor Jesus certa-
mente estaria preconizando a clássica
divisão entre Estado (César) e Igreja
(Deus). Se isso estiver correto, então
podemos admitir que algumas coisas
pertencem à esfera temporal (das coi-
sas humanas) e outras à esfera espi-
ritual (das coisas de Deus), embora
não possamos desconhecer que tudo
pertence a Deus (Sl 24:1), pelo direito
de criação (Gn 1.1) e pelo direito de
governo (Sl 93:1; 97:1; 99:1).
Jesus, de forma irregular (pois era Leigos – Os fiéis que não são ordenados.
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da pessoa; uma quebra da lei romana: tradução). Mas também supomos
o Sinédrio não tinha autoridade para que ele soubesse falar e escrever
aplicar a pena de morte! Estêvão o latim, já que ele tinha cidadania
foi vítima de abuso do poder. Aqui, romana, por direito de nascimento (At
o poder religioso ocupa o lugar do 22:28b). Naquela época a cidadania
poder político para exercer a vontade podia ser comprada por um alto
corporativista do Sinédrio. Assim, preço (At 22:28a). O apóstolo Paulo
nós aprendemos era judeu e cidadão romano. Não se
que poder se Corporativo deve concluir de imediato que sua
e Corpora-
articula em torno tivista – Que mãe tivesse se casado com um gentio.
dos interesses cuida dos Talvez sua cidadania viesse por parte
corporativos, por interesses da do pai, ou até mesmo do avô, que a
corporação, do
mais escusos que grupo.
teriam adquirido por dinheiro. Seja
sejam. como for, isso fez com que Paulo
fosse cidadão romano de nascimento,
APÓSTOLO PAULO – Entre as teste- o que o colocava em uma situação
munhas do assassinato de Estêvão bastante privilegiada diante dos
estava um jovem chamado Saulo (At outros apóstolos. Como cidadão
7:58; 8:1). Ele era grande conhecedor romano, ele poderia escolher a instân-
do judaísmo, formado pelo farisaísmo, cia em que seria julgado; não poderia
discípulo de Gamaliel, homem dos ser espancado e nem “algemado”
mais qualificados dentre os doutores pelos oficiais romanos (At 22:24-29)
da lei. Saulo de Tarso, que se tornou e tampouco ser crucificado. Este foi
mais conhecido pela forma grega do o homem escolhido por Deus para
seu nome, Paulo, foi o grande mis- levar o evangelho aos gentios – um
sionário para o avanço do Cristia- cidadão bem
nismo fora dos termos de Jerusalém. Septuaginta ou preparado e
Ele é o sistematizador das grandes LXX – Trabalho conhecedor
realizado por cerca
doutrinas do Novo Testamento. dos seus direi-
de 70 homens
que fizeram a tos civis.
Imagina-se que este apóstolo falava tradução do Antigo
e escrevia quatro línguas: o hebraico, Testamento he-
braico para a
pois era fariseu de formação, teólogo;
língua grega.
o aramaico, a língua falada pelo
povão nos dias de Jesus; o grego, que
era a língua universal e a escrita da
Septuaginta (muitas vezes descrita
apenas como LXX, tradução grega
do Antigo Testamento. Nas citações
de suas Cartas, Paulo segue essa
24
Por isso, não vale a pena espiritua- respeitando os processos históricos,
lizar os textos paulinos, dizendo que os contextos políticos/sociais/religi-
a cidadania terrena seja algo sem osos, chamando o povo à cooperação
importância para ele. Senão, por que protagonista para a transformação. O
ele teria apelado para César? Somente fio condutor do relato escriturístico é
pela intenção de chegar e pregar o o legado de uma espiritualidade fun-
evangelho no poder central? Não nos damentada na esperança da manifes-
parece a melhor interpretação. Ele tação do Messias e, por fim, no pleno
está se valendo do seu direito como cumprimento da promessa de Deus
cidadão e pretende chegar até a alta em Cristo. Tudo isso oferece o pano de
instância do poder para fazer valer a fundo para que homens e mulheres
sua cidadania. Ele é um exemplo de busquem pautar as suas vidas num
cidadão consciente. seguimento humilde e perseverante
que frutifique nos sacro-ofícios, os
Conclusão mais diversos, oferecidos em honra
e glória ao Autor da fé. Jesus Cristo é,
Ao longo de toda a Escritura Sagrada ele mesmo, o clímax da revelação de
encontramos o registro da ação de Deus. Em Cristo se originam todas as
Deus, intervindo na história humana. expressões da espiritualidade cristã
Por vezes essa intervenção se dá que, de acordo com sua origem, serão
de forma direta, mas, via de regra, sempre encarnadas.
25
parte 3
Pastoral à
Igreja Cidadã
3 Pastoral à Igreja Cidadã
28
1.1 Povo quebrantado Povo manso/humilde é povo que
entende o seu lugar no mundo,
"Bem-aventurados os humildes de debaixo do senhorio de Cristo. Suas
espírito, porque deles é o reino dos bandeiras serão sempre as da entrega
céus. sacrificial em amor. É povo faminto e
sedento pelo jeito de Deus de com-
Bem-aventurados os que choram
preender e experimentar a vida. É
porque serão consolados." (Mt 5:3-4)
povo comprometido com as causas da
justiça restaurativa, desejoso por ver
Os cidadãos do reino de Deus são
os valores do Reino sendo sinalizados
aqueles que primeiro reconhecem a
sobre a terra (Mt 6:33).
insuficiência dos esforços humanos
como caminho de salvação (Ef 2:8).
Os que entram no reino dos céus são 1.3 Povo compassivo
aqueles que sabem não serem merece-
"Bem-aventurados os misericor-
dores desse reino; são desprovidos
diosos, porque alcançarão
de qualquer justiça própria; são
misericórdia.
humildes/pobres de espírito e, por
isso, choram, quebrantados, o choro Bem-aventurados os limpos de
do arrependimento e da contrição. coração, porque verão a Deus.
(2Cr 7:14)
Bem-aventurados os pacificadores,
1.2 Povo humilde porque serão chamados filhos de
Deus." (Mt 5:7-9)
"Bem-aventurados os mansos,
porque herdarão a terra. O povo de Deus, cheio da graça de
Deus, é povo generoso. É gente que
Bem-aventurados os que têm fome vê gente pela ótica divina; que trata
e sede de justiça, porque serão o seu próximo como criatura feita à
fartos." (Mt 5:5-6) imagem de Deus, e não como inimigo
29
em potencial. É gente promotora de tantos, a outros tantos ele repele. O
paz – não a paz “ausência de guerra”, caminho da cruz envolve arrependi-
mas a shalom, a paz que promove mento e renúncia da justiça própria;
bem-estar completo e qualidade de isso ofenderá a muitos. Dar conse-
vida para a coletividade. Pacificadores quência à fé atrairá reprimendas. A
são construtores de pontes num igreja cidadã compreende que o seu
mundo de relações corrompidas. E compromisso maior é com o eterno e
então, dirão: ‘Lá vai um filho de Deus! não com o contingente. Ela sabe que
Um pacificador!’ o fim da história traz novos começos.
A igreja cidadã é esperançosa e per-
1.4 Povo perseguido severante; sua fé no Cristo ressurreto
não admite o desespero.
"Bem-aventurados os perseguidos
por causa da justiça, porque deles é 2) Os desafios do nosso tempo
o reino dos céus. Bem-aventurados
sois quando, por minha causa, vos 2.1 O desafio de conhecer a
injuriarem, e vos perseguirem, e, realidade
mentindo, disserem todo mal contra
vós. Regozijai-vos e exultai, porque O mundo que se apresenta
é grande o vosso galardão nos diante de nós é marcado pela
céus; porque assim perseguiram secularização, a pluralidade religio-
aos profetas que viveram antes de sa e o relativismo ético. A igreja do
vós.” (Mt 5:10-12) Senhor Jesus, comprometida com
a missão de Deus, deve buscar
Não há garantias de segurança para conhecer a realidade em que está
quem escolhe o caminho do discipu- inserida. Deve ouvir o clamor do
lado. Assim como o evangelho atrai a mundo e
prestar aten- Secularização - é um
ção nas dores, processo através do
qual a religião perde
bem como a sua influência sobre
nas flores. O variadas esferas da
povo de Deus vida social.
é peregrino Pluralidade religiosa
mas também - quando não há a
predominância de
é indígena, ou determinada religião
seja, da terra. em determinada
Está de pas- sociedade.
sagem, porém Relativismo ético -
tem um com- quando grupos sociais
julgam o mesmo ato de
promisso com maneira diferente.
30
a realidade como ela se apresenta. dade de avaliar com inteligência as
A igreja cidadã conhece o mundo em conjunturas, nas suas dinâmicas de
que vive porque é parte dele. vida e de morte. Discernir a realidade
é fazer uma aproxi-
Ela se apresentará para o diálogo mação crítica, Conjuntura
com os mais diversos setores da atenta ao controle - conjunto de
sociedade, buscando sempre espaços determinados
e à manipulação acontecimentos
de aprendizado comum. O povo de da grande mídia e num dado
Deus reconhece na pluralidade de de outros poderes, momento
manifestações culturais, científicas e histórico.
buscando sempre
religiosas, oportunidades potenciais entender o porquê
para um serviço cristão que parta de as coisas serem como são. Quais
das reais necessidades de um mundo são as causas? Será que poderia ser
fraturado pela ação do mal. diferente? O Espírito Santo guiará a
Igreja nesse entendimento.
2.2 O desafio de discernir a
realidade 2.3 O desafio de interceder pela
realidade
O discernimento é a distinção das
partes dentro do todo. A igreja cidadã O povo de Deus é chamado a inter-
saberá ter objetividade em relação ceder não somente pelas causas
às necessidades reais do mundo particulares, de interesse individual.
em que vive. Lucidez é essa capaci- É preciso um posicionamento sério de
oração pelas causas coletivas, pelas
questões que envolvem a cidade, a
nação e o mundo. Cremos em um Deus
que pode transformar realidades. Por
isso, é preciso compromisso inten-
cional de intercessão pelo mundo,
pela nossa gente, estar atento às
questões que envolvem as grandes
estruturas para a vida em sociedade.
A igreja deve orar pela libertação de
grupos oprimidos, pela saída dos
homens maus dos lugares de poder,
pela consolidação e garantia dos
espaços democráticos de expressão.
Estas são algumas causas comuns
que podem ser somadas a outras para
a prática de intercessão consistente.
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2.4 O desafio de intervir na poderá se dar na arena das lutas da
realidade sociedade civil, na arena de partici-
pação em processos políticos formais
Todo cristão precisa dar a sua con- e nos ambientes institucionais da
tribuição de intervenção na realidade. igreja. O exercício de uma cidadania
Essa contribuição responde à per- responsável é um conceito de santi-
gunta ‘O que me cabe fazer?’. dade cristã.
É hora de lançarmos mão dos nossos
talentos naturais, vocações profissio-
3. As Igrejas entre a
nais, senso de cidadania, colocando Cidadania e o Reino de Deus: os
tudo isso como meio de afirmação testemunhos e os sinais
dos direitos naturais e dos valores
do Reino de Deus. A igreja brasileira As igrejas são um grande agente
constrói a sua identidade por afirmação de transformação social e política.
e não somente por antagonismo. Os valores do Reino de Deus que
Nós não somos salvos pelas obras, motivam a igreja e a esperança da
mas elas foram preparadas por Deus consumação deste Reino a tornam um
para que andássemos nelas (Ef 2:10). importante agente de justiça social.
É dessa forma que a igreja intervirá Ela pertence tanto ao Reino como à
propositivamente na realidade social. cidadania social e política. Daí que ser
uma igreja cidadã significa construir
O Brasil é, notadamente, uma nação o Reino de Deus por meio das ações
religiosa. Nem sempre o Estado cidadãs em seu contexto, tempo e
anda em compasso com os anseios lugar.
da Nação. A igreja se posiciona, no
espírito de Cristo, através das causas Conforme já vimos antes, a cidadania
que são legitimadas pelos valores plena inclui os direitos civis, sociais
do Reino de Deus. Essa contribuição e políticos. As ações das igrejas na
sociedade e ante o Estado devem
priorizar estes direitos para todos os
cidadãos, por meio das ações sociais
32
humana. Não somente aos “domés-
ticos da fé”, mas a todo que pede e
precisa; a igreja serve porque esta é
a sua vocação. Em outras palavras, a
sua vocação é a própria cidadania.
33
se ressente de uma maior partici- Em períodos de eleições, há que se
pação organizada (engajamento) nos rejeitar com ênfase qualquer proposta
debates e soluções para os grandes de compra de votos ou - no con-
temas ligados à justiça social no texto evangélico - o chamado ‘Voto de
Brasil. Cajado’, qualificando essas práticas
como criminosas e cuidando para que
3.3 As igrejas e a participação o nosso povo
política seja orientado Voto de Cajado:
a uma partici- expressão utilizada
A participação política acontece pela pação política quando pastores
induzem o rebanho a
consciência cristã e crítica de seus eleitoral com votar nesse ou naquele
membros engajados em partidos, base em seus candidato através de
movimentos sociais, organizações, direitos e em ‘apoios’ e ‘indicações’.
instituições e entidades que traba- sua liberdade
lham em prol da construção da justiça de consciência.
e da igualdade social. Mas acontece
também quando, como resultado de 3.4 O cristão na sociedade civil
debates internos, a igreja se mani-
festa e se posiciona publicamente a
favor ou contra uma dada questão que
diz respeito à sociedade e ao Estado.
Ela acontece quando uma igreja se
torna parceira de projetos sociais,
ambientais e políticos, a favor da cole-
tividade e desprendida de interesses
particulares e privados.
34
se originam. A presença da igreja na e implementação de políticas públicas
cidade deve passar pelo engajamento urbanas, estaduais e federais.
dos discípulos de Jesus nos processos
de construção social e não apenas Uma outra forma bastante efetiva
pelo endereço postal de um templo de participação cidadã são as ferra-
religioso. mentas de controle social: citamos
os Observatórios Populares do Le-
São muitos os espaços de atuação gislativo e do Executivo, bem como os
urbana que podem ser ocupados pelos Observatórios de Acompanhamento
cristãos: a participação na vida do seu de Políticas Sociais. A lei de Acesso
condomínio, em grupos de serviço à Informação (n˚12527) é um recurso
comunitário, Organizações Não bastante útil nestes casos.
Governamentais (ONGs), associações
de moradores, grêmios estudantis e A participação da sociedade civil na
outros. Um destaque para a partici- elaboração de políticas públicas tam-
pação nos Conselhos Municipais, que bém pode ser viabilizada através de
podem ser da Saúde, da Educação, Projetos de Lei de Iniciativa Popular,
Antidrogas, do Direito das Crianças que é quando uma parcela da popu-
e Adolescentes, da Mulher, do Idoso, lação, através de abaixo-assinado,
da Habitação, da Alimentação Escolar, propõe leis tanto no nível municipal
de Assistência Social, entre outros. A como federal. O Ficha-Limpa é um
importância dos Conselhos está no excelente exemplo do uso desta ferra-
seu papel de fortalecimento da par- menta. A proposta de um Projeto de Lei
ticipação democrática na formulação de Iniciativa Popular para a Reforma
35
pelo poder do Evangelho nas vidas
dos seus membros. Estes sinais no
meio da sociedade mais ampla são
testemunhos do Deus que é a favor da
vida humana e da natureza, em sua
totalidade e em sua integralidade.
36
material para discussão:
+ Pastoral à Igreja Cidadã
Roda de Conversa:
• Escolha e cante com o seu grupo uma música que fale sobre a justiça do
Reino de Deus (aspectos comunitários) e converse com o seu pastor sobre a
possibilidade de apresentar para a igreja, juntamente com um breve
depoimento sobre o valor desse estudo para as suas vidas. (Se a música
não for algo possível, pensem em alguma outra forma criativa para a
apresentação desse depoimento).
37
Referências bibliográficas
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Recursos
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http://www.aliancaevangelica.org.br/
Missão Aliança
http://www.missaoalianca.org.br/
Missão na Íntegra
https://www.facebook.com/missaonaintegra
Tearfund Brasil
http://tilz.tearfund.org/?sc_lang=pt-PT
Missão Diaconia
http://www.diaconia.org.br/
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CADI (Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral)
http://www.cadi.org.br
40
anotações:
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faça o download
desta cartilha
no link:
www.aliancaevangelica.org.br/cartilhacidada2014
lineacreativa.com.br
A Aliança Cristã Evangélica Brasileira, com o apoio de diferentes parceiros,
coloca esta Cartilha nas mãos dos evangélicos brasileiros, na expectativa de
dias com uma igreja ainda mais participativa e mais cidadã. Nossa esperança
é que crentes em Cristo, individualmente e também comunidades inteiras,
reflitam e ajam sob uma fé evangélica consequente. E que muitos frutos de
justiça sejam colhidos a partir dessa semeadura!
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