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Essa segunda linha de pesquisa provoca polêmica nos Estados Unidos. Os cientistas
buscam remédios capazes de varrer da memória experiências aterradoras sofridas por
vítimas de violência, diagnosticadas com a chamada síndrome de stress pós-traumático
(PTSD). O psiquiatra Roger K. Pitman, da Universidade Harvard, recrutou nas salas de
emergência dos hospitais 41 sobreviventes de acidentes de trânsito. Parte dos pacientes
foi medicada com propranolol, droga corriqueiramente utilizada contra a hipertensão.
Como a substância inibe a liberação de hormônios relacionados ao stress - entre eles, a
adrenalina -, Pitman esperava que o remédio suavizasse as recordações fortemente
emocionais, impedindo flashbacks que fazem a pessoa reviver detalhes terríveis a todo
momento. ''O propranolol não apaga lembranças, mas permite que a vítima mantenha um
nível de memória similar ao que teria uma testemunha do episódio'', explica. A estratégia
funcionou. Três meses depois dos acidentes, os pacientes que haviam tomado o
medicamento apresentaram menos sinais de PTSD.
Para ter o efeito esperado, acredita Pitman, o remédio precisa atingir a amígdala cerebral
- gerenciador dos aspectos emocionais - antes que a memória traumática se estabeleça.
Um dia depois da experiência dolorosa pode ser tarde demais. O pesquisador está
empenhado em confirmar seus dados e determinar qual seria o tamanho dessa janela de
oportunidade.
A investigação traz mais perguntas que respostas. Se cada pessoa nada mais é do que o
conjunto de suas memórias, seria ético receitar uma pílula capaz de reduzir ou apagar
lembranças? Caso o remédio estivesse disponível no fatídico 11 de setembro, o destino
do Iraque teria sido diferente? Sobram especulações. O cientista James L. McGaugh, tido
como o maior especialista em memória nos dias atuais, considera ético o uso de remédios
para abrandar memórias. ''Ninguém é a mesma pessoa o tempo todo, afinal somos
alterados constantemente por nossas experiências'', disse a ÉPOCA o professor do
Centro de Neurobiologia do Aprendizado e da Memória da Universidade da Califórnia, em
Irvine. ''Se podemos extrair tumores e consertar uma perna quebrada, por que não
devemos tentar reparar memórias horríveis?'', questiona.
FICÇÃO
No filme O Pagamento, Ben Affleck tem a memória apagada ESQUECIMENTO
Livrar-se da imagem da namorada é o objetivo de Jim Carrey em Brilho Eterno de uma
Mente sem Lembranças
O tema retorna no instigante Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, em cartaz
nos cinemas brasileiros. Joel (Jim Carrey) recorre a uma clínica neurológica para tirar da
cabeça a namorada, Clementine (Kate Winslet). Por meio de imagens de ressonância
magnética e objetos que o fazem lembrar da moça, os médicos localizam no cérebro o
ponto exato onde reside a memória indesejada e destroem os neurônios, apagando as
lembranças.
Pelo que a Ciência conhece hoje, a limpeza de arquivos ainda está longe de ser possível.
As lembranças, ao contrário do que muitos acreditam, não se localizam em parte
específicas do cérebro. A quantidade de relações entre as informações presentes em
nossa memória é imensa. Se fosse possível localizar e contar os inúmeros caminhos
percorridos pelos impulsos elétricos envolvidos em uma só recordação, o resultado final
seria astronômico.
''O que o filme quer mostrar é que se fosse possível apagar um dado específico isso não
significaria deletar também as informações emocionais'', interpreta Gilberto Xavier,
professor de Neurofisiologia da Universidade de São Paulo. Xavier cita a tentativa do
personagem de Jim Carrey de se agarrar às boas lembranças.
Na vida real, lesões no cérebro provocadas por traumatismo ou derrame podem
comprometer tanto a memória declarativa (as lembranças em si) quanto a memória de
procedimentos, relacionada a atividades motoras como dirigir ou digitar.
ANOTAÇÕES
Foi o que aconteceu com a carioca Sueli Telles Ribeiro, de 56 anos, que sofreu um
derrame em 1997. Com a ajuda de terapia ocupacional e psicoterapia, Sueli adotou um
sistema mecanizado, com anotações e bilhetes, que a ajuda a dar conta das tarefas. Na
cozinha, um cartaz acima da pia alerta: ''Fechar a torneira devagar até parar de pingar''.
Na lava-louças, um aviso lembra que a máquina está quebrada. ''Tive de aprender a me
organizar, já que a memória falha'', conta.
Novela
COMEÇAR DE NOVO
Depois de perder a memória, Andrei (Marcos Paulo) tenta desvendar seu passado.
Casos como o de Andrei podem ser causados por trauma psicológico, e não exatamente
por lesão cerebral. A pessoa bloqueia o acesso à memória antiga, mas ela continua lá. Os
circuitos elétricos que dão acesso a ela ficam adormecidos pelo trauma, mas podem ser
recuperados espontaneamente ou com a ajuda de terapias. A teoria da repressão,
proposta por Sigmund Freud, no início do século passado e atacada durante muito tempo,
tem sido cada vez mais respaldada pelos recentes estudos de Neurobiologia. Para evitar
a ansiedade paralisante, a mente é capaz de esconder a lembrança de eventos
traumáticos em cantos onde não pode ser facilmente acessada. Outro fenômeno
conhecido é o da extinção, muito utilizado no tratamento de fobias, síndrome do pânico e
transtorno obsessivo-compulsivo. O terapeuta expõe o paciente aos estímulos que
provocam medo ou ansiedade (aranhas, ambientes fechados) e o ajuda a reavaliar as
circunstâncias em que essas sensações aparecem. Funciona em boa parte dos casos,
mas leva tempo. O tratamento está longe de ser uma solução rápida e indolor, como a
sonhada pílula de apagar memórias.
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca