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FELIPE MUZEL GOMES

A IMPORTÂNCIA DA IGREJA FRENTE A VERDADE


RELATVA NA PÓS MODERNIDADE

São Paulo
2019
FELIPE MUZEL GOMES

A MPORTÂNCIA DA IGREJA FRENTE A VERDADE


RELATIVA DA PÓS-MODERNIDADE

Trabalho apresentado em cumprimento às


exigências do Trabalho de Conclusão do
Curso (TCC) do Curso Livre de Teologia
EAD-FECP, pelo orientador Profº Sérgio
Paulo Frazão.

São Paulo
2019
DEDICATÓRIA

Primeiramente ao Deus eterno, que em sua beleza e magnificência, me


escolheu na eternidade para que um dia eu pudesse servi-lo. Por nunca ter me
abandonado, nunca ter me deixado faltar nada, mesmo em meio a tantas dificuldades.
Aos meus pais, João Batista e Algina, que me educaram nos ensinamentos do
Senhor, que sempre me ajudaram financeiramente quando precisei, e sem o qual eu
jamais chegaria até aqui sem todo o suporte e amor deles.
Ao amado pastor e orientador Sérgio Paulo Frazão, o qual em toda a faculdade
nunca conheci um professor tão solícito, diligente, aberto para poder conversar e
orientar, já não o considero como orientador, mas sim como amigo.
Ao pastor Caio Batista, que me acolheu num momento tão difícil de crises
teológicas, decepções com igrejas, depressão, crises vocacionais. E que me ajudou
a me reencontrar e me candidatar, finalmente, como seminarista da Igreja
Presbiteriana Independente do Brasil.
A Igreja Presbiteriana Independente do Jardim Morumbi de Sorocaba – por todo
carinho e acolhimento desde que aqui cheguei.
Ao Conselho da Igreja Presbiteriana Independente do Jardim Morumbi de
Sorocaba, por me apoiar e por acreditar e investir em meu chamado pastoral.
Ao Presbitério de Sorocaba, pela confiança em minha vida.
A todos os professores, colegas e coordenadores do curso de Teologia EAD,
meus agradecimentos.
A equipe de apoio do curso por todo o suporte durante todo esse tempo, em
especial ao querido pastor Vardilei Ribeiro, homem humilde e trabalhador que ao
longo de todo o curso me ajudou e orientou em todas as tarefas escritas que tive de
fazer.
Aos meus amigos Bruno Veloso, Renato Novaes, Daniel Lopes, Odair Junior,
Gustavo Machado e Rafael Ribeiro, que nessa caminhada vieram em forma de
presente para me acompanharem e me alegrarem durante essa jornada.
Gostaria de fazer um agradecimento especial ao meu falecido cãozinho Bob,
que perdi recentemente e precocemente. Era um cãozinho muito calmo e leal,
comigo por um ano, e em todas as crises que passei eu gostava de passar um
tempo com ele. Ele me distraia de todos os meus problemas. E justamente quando
superei todos esses problemas ele partiu. Obrigado Bob, por sem usar nenhuma
palavra me ensinar muito sobre o amor e fidelidade, eu nunca te esquecerei.

Muito Obrigado!
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO................................................................................................06

2.UMA TEOLOGIA BÍBLICA SOBRE O TEMA..................................................07

.
6

INTRODUÇÃO

Por que estudarmos a importância da Igreja frente a verdade relativa da Pós-


modernidade?
A princípio, cogitei usar o termo Pós-Verdade, mas é um conceito que os
filósofos atuais ainda estão desenvolvendo, portanto permanecerei com a ênfase na
Pós-Modernidade.
Segundo a Oxford Dictionaries, o termo Pós-Modernidade significa:

Um estilo do final do século XX e conceito nas artes, arquitetura


e crítica, que representa um afastamento do modernismo e é
caracterizado pelo uso consciente de estilos e convenções
anteriores, uma mistura de diferentes estilos artísticos e meios
de comunicação, e uma geral desconfiança de teorias.1

Mas o principal lema da Pós-Modernidade (o qual o Oxford Dictionaries traz


ao final de seu significado mostrado acima), segundo diversos filósofos, é o de que
“Não existe verdade absoluta”. Comentando sobre esse lema no livro “I Don't Have
Enough Faith to Be an Atheist.”, Norman L. Geisler argumenta:

muitos de nossos professores universitários vão dizer que não


existe verdade. O que nos surpreende é que os pais ao redor do
mundo estão literalmente pagando muito dinheiro em educação
universitária para que seus filhos aprendam que a “verdade” é
que não existe verdade, isso sem falar de outras afirmações pós-
modernas falsas em si mesmas, como “Toda a verdade é
relativa”2

Norman L. Geisler segue com o mesmo raciocínio ainda na mesma página:

A verdade disso tudo é a seguinte: ideias falsas sobre a verdade


levam a falsas ideias sobre a vida. Em muitos casos, essas
falsas ideias dão aparente justificativa para aquilo que é, na
verdade, um comportamento imoral. Se você puder matar o

1 https://en.oxforddictionaries.com/definition/postmodernism
2 I Don't Have Enough Faith to Be an Atheist (Foreword by David Limbaugh) . Crossway. Edição do
Kindle. p, 653.
7

conceito de verdade, então poderá matar o conceito de qualquer


religião ou moralidade verdadeiras.3

Portanto vivemos numa época em que cada um é dono de sua própria verdade
e do que quiser acreditar. Logo, se não há verdade absoluta, tudo é permitido, e é aí
que entra a importância da Igreja na Pós-Modernidade, tema deste trabalho de
conclusão de curso.

1. UMA TEOLOGIA BÍBLICA SOBRE O TEMA

Talvez o melhor texto para iniciarmos o tema esteja em Romanos 2.14-15, o


qual diz: “Se um pagão, que desconhece a lei de Deus, consegue segui-la mais ou
menos por instinto, ele confirma a verdade dela pela obediência. Comprova assim
que a lei de Deus não é um elemento estranho, imposto de fora para dentro, mas
algo que faz parte da própria constituição humana. Existe algo no interior do ser
humano que ecoa o “sim” e o “não” de Deus, o certo e o errado.”4
O pastor presbiteriano Augustus Nicodemus, em uma de suas pregações5,
elucida a passagem dizendo que em todos os homens e em todas as culturas, Deus
colocou sua lei. Que ninguém pode se eximir do julgamento de Deus alegando que
desconhece sua lei, pois a lei está em seu coração.
O homem foi feito a imagem e semelhança de Deus, e apesar desta imagem
ter sido distorcida após a queda, ainda sobrou no ser humano fragmentos que o
assemelham a Deus e a seu conhecimento como diria C.S. Lewis em seu livro
Cristianismo puro e simples.6
É possível propor uma experiência simples para comprovar tal fato, vejamos:
em qualquer cultura, da mais desenvolvida até a mais simples (Como a dos
aborígenes canibais que Don Richardson evangelizou na Oceania), se ocorrer um

3
I Don't Have Enough Faith to Be an Atheist (Foreword by David Limbaugh) . Crossway. Edição do
Kindle. p, 653.
4
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. p,35356
5
https://www.youtube.com/watch?v=7E3jBIcspYs&index=16&list=PLRynC5gAJTbkI85xgqcWA4uWbz
Ow3pXNS
6
Lewis, C. S. Cristianismo puro e simples (Clássicos C. S. Lewis) . Thomas Nelson Brasil. p, 29-35.
8

assassinato a sangue frio, por motivo torpe ou fútil, seja na cultura mais complexa ou
a mais simples, nenhum dos membros aceitaria este fato, e exigiria justiça. Este é um
dos temas que Lewis trata em seu livro Cristianismo puro e simples, já mencionado
acima.
Portanto, já podemos ter um início de base bíblica que existe sim algo
verdadeiro e absoluto que contradiz a cultura atual de que tudo é relativo.

1.1. A verdade absoluta em Jesus Cristo.

Outro texto Bíblico que pode nos iluminar com a questão, é o encontrado no
Evangelho de João, capítulo 14 e verso 6: “Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade
e também a Vida. Ninguém chega ao Pai sem mim.”7
Em seu livro John´s Gospel: a short study, Dr. William Michael McCrocklin
comenta sobre o fato de Jesus dizer ser a verdade:

Jesus é a verdade porque ele é o “Logos” vivo, revelando apenas


a verdade sobre todas as coisas. Sabemos que tudo o que Jesus
disse e ensinou foi falado diretamente do Pai. Essa é a verdade
final.8

De fato Jesus se apresenta como a verdade, a verdade definitiva de todas as


coisas, a Revelação definitiva de Deus à humanidade. O verdadeiro “Logos”, a Palavra
encarnada, o Deus encarnado. O Deus que amou ao mundo de tal forma que deu seu
Filho Unigênito apara morrer por ele, de forma que todo aquele que nele cresce não
perecesse, mas tivesse a vida eterna, conforme João 3:16.
Se Jesus é de fato a verdade absoluta, a verdade suprema de todas as coisas,
logo, nós que cremos na veracidade e autenticidade das Escrituras (tema do próximo
tópico), não podemos negociar nossos valores com os valores do mundo
contemporâneo, devemos defender a veracidade de Cristo e sua Palavra.

7Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. P, 33715.
8
McCrocklin, Dr. William Michael. JOHN'S GOSPEL: A Short Study (p. 269). Dr. W Michael
McCrocklin. Edição do Kindle. p, 4088.
9

1.2.- A Bíblia como a verdade revelada por Deus que deve se contrapor em
relação as verdades deste mundo

O texto mais apropriado para este tópico se encontra em 2 Timóteo, nos versos
14 a 17: “Mas não se permita intimidar por causa disso. Persevere no que você ouviu
e aprendeu, certo da integridade dos seus mestres — afinal, você recebeu as
Escrituras com o leite da sua mãe! Não há nada como a Palavra de Deus escrita para
mostrar o caminho para a salvação por meio da fé em Cristo Jesus. Cada parte da
Escritura é inspirada por Deus e útil de um modo ou de outro — para mostrar a
verdade, denunciar nossa rebelião, corrigir nossos erros, ensinar como viver o
caminho de Deus. Por meio da Palavra, somos unidos e moldados para as tarefas que
Deus deseja nos incumbir.9
Há muita especulação em relação as cartas pastorais escritas por Paulo, muitos
acreditam que foram escritas por cristãos piedosos, devido ao estilo do Grego Koiné
usado e a Teologia apresentada, que se diferenciava do estilo em que o Apóstolo
usava em outras cartas. Em defesa a esses argumentos o livro Introdução ao Novo
Testamento, de D.A. Carson, Douglas J. & Leon Morris10, nos diz que era comum sim
haver o uso da pseudepigrafia nos primeiros séculos, mas com relação aos
evangelhos e textos apocalípticos. Em relação a epístolas e cartas, não era comum.
Ademais, o livro argumenta que nesta época a Igreja repudiava tal atitude, fazendo tal
membro que praticasse tal ato fosse desligado da igreja. Com relação a Teologia, tais
estudiosos defendem que de fato o estilo usado muda, mas que continua conforme o
pensamento Paulino em suas outras cartas, somente é apresentado de outra forma.
Diante de todo este debate, creio que os argumentos ora apresentados são os
mais sensatos, e que por isso devemos considerar legítimas as cartas pastorais como
de autoria de Paulo.
Se tal texto apresentado, portanto, é verdadeiro, devemos crer que a Bíblia
contém a verdadeira Palavra de Deus, que em sua divina Providência ao longo dos
séculos, manteve sua Palavra intacta para que pudesse chegar até nós nos dias de
Hoje.

9
Peterson, Eugene H.. Bíblia - A Mensagem . Editora Vida. Edição do Kindle. p,38142.
10
Carson, D.A, Douglas, J. e Morris Leon. Introdução ao Novo Testamento, p. 395-425.
10

Diante disto, temos um sério problema, se a Bíblia contém a verdade absoluta


apresentada por Deus, temos que reconhecer que o presente século está totalmente
longe da verdade divina e do próprio Deus.
Por esses fundamentos apresentados, em relação a teologia bíblica, podemos
concluir neste primeiro capítulo, que a Igreja de Cristo, que possui o conhecimento da
verdade divina e das Escrituras Sagradas, possui total importância nesta era Pós-
Moderna, pois ela é a única que pode mostrar ao mundo aquilo que Deus deseja que
ele conheça, é a única que pode ser “sal da terra e luz do mundo” no presente século.

Sabemos que Deus nos ouvirá se pedirmos algo segundo sua vontade.11
Lembrando que o propósito da oração não é efetuar uma mudança na vontade divina,
mas fazer com que seja feita esta vontade12.
Precisamos tomar cuidado com a hipocrisia e motivações enganosas de nossas
orações. W.F. Adeney foi feliz em sua declaração: “Deus olha mais para a conduta da
vida do que para a linguagem da oração. Ele não aceita reverência no templo quando
vê maldade na praça”13.
Deus ouviu o clamor dos filhos de Israel14, mas rejeitou o clamor da nação de
Judá. Há o registro na Bíblia de orações feitas por parte do profeta Jeremias e de que
seu clamor pela nação de Judá seria rejeitado por Deus15.

O porta-voz foi alertado pelo Senhor para não interceder pelo


povo, pois esta comunidade estava obstinada e entregue ao
pecado. Dentre vários delitos que haviam despertado a ira do
Senhor, os judeus estavam adorando a Rainha dos Céus, “Istar”,
uma deusa assíria e babilônica também chamada de Astarote
ou Astarte, a esposa de Baal ou Moloque. Tais cultos envolviam
prostituição16.

11
AULÉN, Gustaf. A Fé Cristã. 2º ed. São Paulo: ASTE, 2002.

12 Aulén, 2002, p. 324.


13 Disponível em: http://www.portalolm.com.br/2012/12/quando-deus-rejeita-a-oracao/
14 Êxodo 3.9
15 Jeremias 7.16-20
16 Bíblia de Estudo MacArthur, p. 946.
11

Outros registros bíblicos descritos no livro de Jeremias sugerem que Deus não
iria ouvir o clamor do povo17 e um traz um alerta para que profeta não orasse pelos
habitantes de Judá e Jerusalém.18 Diante da situação espiritual caótica do povo,
mesmo que Moisés e Samuel intercedessem, Deus não iria ser a favor deles19. O
discípulo amado de Jesus, João, adverte que “há pecado para morte, e por esse digo
que não rogue”20.
Entende-se no contexto teológico bíblico, que nossas orações podem não ser
respondidas por alguns fatores, quer em situações relacionadas ao intercessor como
ao público designado. Portanto, a vida de oração e vocação ministerial devem atender
ao conhecimento revelacional, relacional e contextual. A ideia é conhecer a direção
de Deus no ato da oração.

1.3. Jesus e sua experiência mística de oração

Jesus foi um homem de oração. Apesar de ser Filho de Deus, orou por si
mesmo, pelos seus discípulos e pela unidade da igreja. Logo em seu batismo, Jesus
orou. Neste momento sublime, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Ele.
E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi
Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo
desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se
uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo21.

Esta experiência de oração e manifestação do Espírito Santo o fortaleceu em


sua missão diante das multidões e até mesmo diante do Diabo, em suas tentações.
No sermão do monte, Jesus apresenta o modelo da oração dominical, de
grande importância para a vida cristã. Neste mesmo sermão, Jesus estimula seus
discípulos a orarem: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.
Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á”22.
Em outra ocasião, Jesus sugere a oração e jejum “[Mas esta casta não se expele
senão por meio de oração e jejum]”23. Ao escolher os doze apóstolos, Jesus orou uma
noite inteira: “Naqueles dias, retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite

17 Jeremias 11.11
18 Ibid., 11.14
19 Ibid., 15.1
20 1 Joâo 5.16
21 Lucas 3.21-22
22 Mateus 7.7-8
23 Ibid., 17.21
12

orando a Deus. E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu


doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos”24.
No monte da transfiguração, momentos antes de subir a Jerusalém, Jesus
estava juntamente com Pedro, Tiago e João, com a finalidade de orar. “E aconteceu
que, enquanto ele orava, a aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes
resplandeceram de brancura”25. Eles tiveram uma experiência sobrenatural.
O Dicionário Bíblico Wycliffe traz a seguinte contribuição deste acontecimento:

A transfiguração ocorreu enquanto Ele estava orando (Lc 9.29).


Os discípulos, que estavam sonolentos (Lc 9.32), despertaram
e viram Cristo transformado. Seu rosto reluzia com um brilho
semelhante ao brilho do sol, da mesma forma que iria brilhar
após sua ascensão e glorificação, como revelado no livro de
Apocalipse, e as suas vestes estavam brancas como a neve (cf.
Ap 1.14-16). A glória que o Filho de Deus possuía por seu
próprio direito retomou por um momento para cobri-lo (cf. Jo
17.5). A voz celestial que disse: “Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo; escutai-o” (Mt 17.5), era a mesma que foi
ouvida na ocasião do batismo de Jesus (Mt 3.16,17). A voz
identificou Jesus não só como o Messias, mas também como o
Profeta de Deuteronômio 18.15-19, aquele que estava
verdadeiramente proclamando que o Messias deveria sofrer a
morte, e que a cruz era a vontade de Deus. A transfiguração
marca uma etapa importante no ministério e revelação de Jesus
Cristo. Nela, os dois maiores representantes do AT, um da lei,
isto é, Moisés, e um dos profetas, isto é, Elias, se juntaram a
Cristo na consumação do plano da morte expiatória,
sepultamento e ressurreição de Cristo – seu êxodo (Lc 9.31, gr.
exodos) (...) A transfiguração é considerada pelo Senhor Jesus
Cristo como uma revelação da vinda de seu reino (Mt 16.28; Mc
9.1; Lc 9.27)26.

Jesus também orou no Getsêmani. Foi dito aos seus discípulos: “Orai, para que
não entreis em tentação. Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e,
de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se
faça a minha vontade, e sim a tua. [Então, lhe apareceu um anjo do céu que o
confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu
suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra.]”27. A oração de Cristo foi

24 Lucas 6.12-13
25 Ibid., 9.28-29
26 Wycliffe, Dicionário Bíblico p. 1956-1957.
27 Lucas 22.40-44
13

intensa e árdua, com gemidos inexprimíveis. As gotas de sangue sugerem uma


perigosa condição conhecida como hematridose, a efusão de sangue pela
transpiração28. Sua vontade humana foi anulada para o cumprimento da vontade do
Pai. Mesmo diante da morte iminente, Cristo perseverou no cumprimento de sua
missão e oração.
Após sua morte e ressurreição, Cristo, juntamente ao Pai, está intercedendo
por nós29. Hernandes Dias Lopes aponta que Jesus não apenas falou de oração; ele
orou30.

1.4. A oração na vocação apostólica

Os apóstolos eram homens de oração. O livro de Atos, escrito pelo evangelista


Lucas, as cartas Paulinas, as cartas gerais ou universais fundamentam a oração na
vocação apostólica. É dito assertivamente que eles eram homens perseverantes e
unânimes em oração31.
Na escolha de Matias, foi necessário orar. Eles queriam acima de tudo a
vontade exclusiva de Deus e não respostas voltadas somente aos métodos humanos.
Neste caso, foi feito o uso de sortes, precedido de muita oração. O Manual Bíblico
aponta o seguinte: “Até onde sabemos, essa foi a última vez que os apóstolos usaram
o consagrado método de fazer um sorteio. Mas não se tratava apenas de uma questão
de sorte, pois a decisão foi tomada de muita oração”32.
Os apóstolos oravam em todo tempo e circunstâncias. No capítulo 4 de Atos
em diante, as perseguições estavam crescendo em larga escala. Em resposta aos
anciãos, escribas e demais autoridades, na ocasião em que foram ameaçados e
proibidos de falar em o nome de Jesus, eles, em comunhão com outros irmãos,
clamaram a Deus: “Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu,
Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; que disseste
por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se
enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se os reis
da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu

28 Bíblia de Estudo MacArthur, p. 1369.


29 Romanos 8.34
30 Lopes, 2015 p. 11.
31 Atos 1.14 e 2.42
32 SBB, 2008, p. 644.
14

Ungido;”33. Suas petições foram seguidas de adoração. Tal oração aponta


perfeitamente o princípio de adoração ao Senhor e conhecimento das Escrituras em
suas falas. Neste ato de súplica, eles citaram um salmo Messiânico de Davi34.
Na medida em que a igreja crescia e o evangelho avançava, foi necessário
haver uma melhor estrutura nos moldes do serviço diaconal. Em prol das demandas
em atender as viúvas helenistas, houve uma convocação por parte dos doze apóstolos
aos discípulos para a instituição dos diáconos, para servirem às mesas. Na ocasião,
foram escolhidos sete diáconos com boa reputação, cheios do Espírito e sabedoria.
Com a oração e imposição de mãos houve a consagração desses homens ao
ministério de diaconia. O parecer agradou toda a comunidade35.
Diante das variadas exigências que havia na comunidade cristã, era necessário
e fundamental que eles cultivassem o foco da vocação apostólica. Era de suma
importância o princípio da devoção, meditação e oração diante de Deus.
Na vocação apostólica, quanto à jornada da oração como preparo espiritual, o
apóstolo Paulo primou por esta prática de suma importância para o crescimento
espiritual. Em oração, Paulo teve uma visão espiritual.36 Na largada de suas viagens
missionárias, na direção do Espírito Santo, Barnabé e Saulo foram enviados. “E,
servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora,
Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e
impondo sobre eles as mãos, os despediram”37.
Fica evidente que, nos tempos bíblicos, os apóstolos praticavam as “disciplinas
espirituais”. Este termo foi designado por Richard J. Foster, em seu livro “Celebração
da Disciplina”, como sendo as que atendem os seguintes elementos: meditação,
oração, jejum, estudo, simplicidade, solitude, submissão, serviço, confissão,
adoração, orientação e celebração38. Sobre tais disciplinas, ele depõe o seguinte:

As disciplinas clássicas da vida espiritual convidam-nos a passar


do viver na superfície para o viver das profundezas. Elas nos
chamam para explorar os recônditos interiores do reino espiritual
(...). Não devemos ser levados a crer que as Disciplinas são para
os gigantes espirituais, e, por isso, estejam além de nosso
alcance ou para os contemplativos que devotam todo tempo à

33 Atos 4.24-26
34 Salmos 2.1-2
35 Atos 6.1-6
36 Atos 9.11,12
37 Atos 13.2,3
38 Foster, 2006, p. 3 e 9.
15

oração e à meditação. Longe disso. Na intenção de Deus, as


Disciplinas da vida espiritual são para seres humanos comuns:
(...)”39.

Podemos concluir que os apóstolos, em sua missão, prezaram pelo zelo da


oração em seus atos. Com isso, a igreja ia crescendo tanto no sentido qualitativo como
no quantitativo. O legado foi deixado. Os pais da igreja, os reformadores, os puritanos
e outros avivalistas contemporâneos, exerceram uma vida piedosa quanto à oração.

2. A EXPERIÊNCIA DA ORAÇÃO NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA REFORMADA

Quando olhamos para a história do cristianismo na era da igreja primitiva,


chegamos à conclusão de que o fator oração foi indispensável, como também o estilo
de vida dos grandes homens e mulheres de Deus. O movimento reformista do Século
XIV ao Século XVI não foi diferente. Homens como João Wycliffe, Ulrico Zuínglio, John
Knox, Martinho Lutero, João Calvino e outros, marcaram a história do protestantismo
com suas experiências relacionadas à oração. Eles tiveram uma vida piedosa
marcada pela diligência à oração. A reforma foi possível mediante às experiências da
oração e intercessão.
A seguir, seguem as experiências de oração de Martinho Lutero e a teologia de
oração de João Calvino, grandes reformadores do final do século XV e início do século
XVI. Vale o complemento da experiência de oração registrada nos movimentos
pietista, puritano e dos morávios. Por fim, segue a reflexão teológica da oração como
meio de graça.

2.1. Martinho Lutero e sua vida de oração

39 Foster, 2006, p. 9 e 10.


16

O reformador Martinho Lutero (1483-1546), monge e agostiniano, nascido na


cidade de Eisleben, na Alemanha, viveu com intensidade as práticas das disciplinas
espirituais. No dia 17 de julho de 1505, Lutero ingressou na Ordem dos Eremitas de
Santo Agostinho, também chamada Ordem dos Monges Agostinianos, em Erfurt40.
Como monge, Lutero levou a sério as penitências que lhe eram conferidas dia a dia.
Bainton traz uma excelente descrição de Lutero, nos dias do mosteiro:

Seus dias como noviço eram ocupados com aqueles exercícios


religiosos destinados a inundar a paz. As orações eram feitas
sete vezes ao dia. Após oito horas de sono, os monges eram
acordados entre uma e duas da manhã pelo soar do sino do
mosteiro. Já na primeira convocação eles saltavam da cama,
faziam o sinal da cruz e vestiam a túnica branca e o escapulário,
sem os quais um irmão não deveria jamais deixar sua cela. Ao
segundo soar do sino, todos se encaminhavam com reverência
até a igreja, se benziam com água benta e se ajoelhavam
perante o altar principal com uma oração de devoção ao
Salvador do mundo. Então todos tomavam lugar no coral. As
preces matinais se estendiam por 45 minutos [...]. Lutero
entregou-se inteiramente à vida que a igreja considerava ser o
caminho mais seguro para a salvação. Ele estava disposto a
passar seus dias em oração, cantando, meditando e em
silenciosa camaradagem, em um ambiente de disciplina e
moderada austeridade41.

Lutero foi um excelente monge, cumprindo à risca seus deveres no monastério.


Gonzalez afirma que Lutero “se esforçou em ser um monge perfeito”42. Mas diante de
tantas buscas e aperfeiçoamento quanto à vida dedicada aos atos religiosos, Lutero
estava infeliz e confuso quanto ao seu desempenho espiritual. Ele foi um excelente
estudioso das Escrituras e em 1512, obteve seu doutorado de Teologia. Neste
contexto, Lutero perseverou nos estudos e teve um novo entendimento revolucionário
sobre a passagem bíblica de que o “justo viverá pela fé”43.
No aspecto da oração, Lutero foi assíduo. “Lutero separava de uma a duas
horas por dia para orar. Ele dizia: “Eu oro muito, porque tenho muito o que fazer!” 44.

40 Lutero, 2007, p. 11.


41 Bainton, 2017, p.45-47.
42 Gonzalez, 1995, p.47.
43 Romanos 1.17
44 Melo, 2011, p. 4.
17

“Se eu deixar de gastar duas horas de oração a cada manhã, o diabo consegue vitória
no decorrer do dia”45.
Na exposição de Lutero sobre o Pai-Nosso, Lutero orientou seus leitores a
dizerem:

Ó Pai Celestial, querido Deus, não sou digno de erguer a ti meus


olhos ou mãos em oração, mas como ordenastes que
orássemos e nos ensinaste a fazê-lo por meio de Jesus Cristo,
nosso Senhor, eu digo: O pão nosso de cada dia nos dá hoje”.
Ó querido Deus Pai, dá-nos tua bênção nesta vida terrena. Dá-
nos graciosamente tua paz e poupa-nos da guerra [...]. Concede
teu bom conselho a todos os reis, príncipes e senhores, para que
governem suas terras com tranquilidade e justiça e, em especial,
guarda o governante de nossa querida terra. Protege-o das
línguas perversas e dá graça a todos os súditos para que o
sirvam em fidelidade e obediência. Concede-nos um bom clima
e os frutos da terra. Entregamos em tuas mãos nossa casa,
terras, esposa e filhos. Ajuda-nos a governar, a alimentar e a
educar. Afasta o Corruptor e os anjos do mal que impedem
essas coisas. Amém. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim
como também temos perdoado aos nossos devedores”. Querido
Senhor e Pai, não emitas juízo sobre nós, pois diante de ti
nenhum homem vivo é justificado. Não leves em conta nossas
transgressões e o fato de sermos tão ingratos por todas as tuas
indizíveis misericórdias do espírito e do corpo, e por todos os
dias falharmos mais do que sabemos ou temos consciência. Não
atentes para o quanto somos bons ou maus, mas concede-nos
tua imerecida misericórdia por meio de Jesus Cristo, teu querido
Filho. Perdoa também todos os nossos inimigos e aqueles que
nos magoaram e prejudicaram, conforme também os perdoamos
em nosso coração, pois eles mesmos se prejudicam quando
despertam tua ira contra eles. Todavia, o sofrimento deles de
nada nos aproveita e melhor seria que eles fossem abençoados.
Amém. (E se alguém aqui se sentir incapaz de perdoar, ore e
peça a graça de conseguir. Essa porém, é uma questão que
pertence à pregação)46.

Para grandes desafios no contexto político, social e religioso que Lutero


enfrentou no seu dia a dia, somente sua fé firmada em Cristo, regada de oração, é
que o ajudou a obter suas vitórias.
Diante de vários desafios que Lutero enfrentou, ele compreendia que sua vida
estava nas mãos de Deus e que seu trabalho não seria em vão. Certa feita, ele fez a

45 Bezerra, 2001, p. 227.

46 Bainton, 2017, p. 361.


18

seguinte declaração: “Deus diz: “Invoca-me no dia da angústia”: sem tribulação, (a


oração) é apenas uma tagarelice insignificante, e não proveniente do coração. É um
dito comum: “a necessidade de ensinar a orar”47.
Lutero ainda salientou: “A oração é a coisa mais importante em minha vida. Se
porventura negligencio a oração por um simples dia, sinto logo o esmorecimento do
fogo da fé”48. As conquistas de Lutero diante do cenário religioso decadente foram aos
poucos ganhando espaço, assim como também suas lutas interiores, quer no âmbito
emocional quanto espiritual. Diante deste quadro intrigante, Lutero marcou sua
geração. Ele foi um homem de oração, um reformador inconformado que avançou de
joelhos. Para Lutero, a oração era a coisa mais importante em sua vida. Se porventura
negligencio a oração por um simples dia, sinto logo o esmorecimento do fogo da fé49.

2.2. João Calvino e sua teologia da oração

João Calvino nasceu em 10 de Julho, de 1509, em Noyon, França. Sua


dedicação foi em torno dos estudos e de obras literárias. Calvino foi considerado o
principal reformador da Suíça. Ele era um homem culto e profundo conhecedor do
latim e dos clássicos, tendo se destacado como teólogo, comentarista bíblico,
pregador, escritor e líder eclesiástico50. No célebre currículo acadêmico de João
Calvino quanto aos estudos e pesquisas, ele foi um homem que exerceu uma
espiritualidade digna de nota. Além de ter sido um homem de oração, Calvino deixou
um legado teológico sobre oração. As orações de Calvino revelam como ele era um
homem de oração. Charles E. Edwards afirma:

João Calvino era um homem de Deus, ele tem sido, com justiça,
admirado como teólogo da Reforma; como príncipe dos
comentadores das Sagradas Escrituras; O Pai da Exegese
científica; fundador virtual das escolas mixtas. Ele era também
grande em oração. O sistema de doutrina cristã que traz o seu
nome tem sido sempre a mãe da devoção. Esse sistema pode
ser conhecido pelos seus frutos; tem ele preparado um nobre

47 Lutero, 2017, p. 194.


48 Melo, 2011, p. 57.
49 Ibid., p. 57.
50 Disponível em: http://cpaj.mackenzie.br/historiadaigreja/pagina.php?id=76
19

exército de mártires, reformadores, missionários e evangelistas.


Tem produzido notáveis reavivamentos religiosos; e vive através
de hinários populares em toda a cristandade. Oração é o seu
hábito de vida, é o ar renovador do calvinismo51.

Para Calvino, o exercício da oração tinha um efeito renovador à experiência de


fé do cristão. George diz que:

Os fiéis não oram para contar a Deus o que Ele não sabe; para
pressioná-lo ou apressá-lo quando demora, mas sim a fim de
alertar a si mesmos para buscá-lo, para exercitar a fé meditando
em suas promessas, livrando-se de suas cargas ao se elevarem
a seu íntimo52.

Calvino também sugeriu que o cristão piedoso na oração se mantivesse nos


seguintes focos: “nossas orações são previstas por ele em liberdade; contudo, o que
pedimos, conseguimos pela oração”53. George, ainda descreve que o reformador
suíço deixou quatro regras para guiar o cristão no alinhamento da oração. A primeira
regra é que a aproximação do cristão a Deus deveria ser reverente. A segunda regra
aponta que a oração deveria ser sincera e das profundezas do coração. A terceira
consiste em que os cristãos deveriam glorificar ao Senhor, abandonando toda a
confiança de si mesmos. Era imprescindível, neste caso, a confissão de pecados e
petição de perdão. A quarta, e não menos importante regra, era que o crente deveria
orar com esperança confiante na soberania de Deus54.
Para Calvino, o elemento arrependimento deveria ser indispensável nas
orações.

Deus não estabeleceu a oração para arrogantemente nos


envaidecer perante ele ou valorizar grandemente nossas
próprias coisas. A oração serve para confessarmos,
lamentarmos nosso trágico estado. Como as crianças
lançam seus problemas sobre seus pais, assim é conosco
diante de Deus essa percepção do pecado estimula-nos,
incita-nos, desperta-nos a orar55.

51 Ferreira, 1990, p. 171-172.


52 George, 1993, p.227.
53 Ibid., p. 227.
54 Ibid., p. 228.
55 Ibid., p. 228.
20

Quanto à oração feita em público, Calvino apontou que a oração deveria ser
simples, objetiva e direta56. “A linguagem nem sempre era necessária, mas a oração
verdadeira não podia carecer de inteligência e de afeto de ânimo”57.
Em sua época, Calvino dizia que as orações públicas não deveriam ser
proferidas em grego entre os latinos ou em latim entre os ingleses e franceses, mas
deveria ser feita na língua comum, para que todos pudessem entendê-las, pois as
orações deveriam ser usadas para edificação de toda a igreja, que não seria
beneficiada nem um pouco por sons não inteligíveis.58 Calvino levou com seriedade o
princípio de oração. Segundo ele, “A oração é um dever compulsório de todos os dias
e de todos os momentos da nossa vida.” Calvino ainda salientou: “Os crentes
genuínos, quando confiam em Deus, não se tornam por essa conta negligentes à
oração”59.
No aspecto da petição e ação de graças, Calvino fez a seguinte diferenciação.
Segundo o reformador, pela petição expomos nossos desejos a Deus, pedindo de Sua
bondade em primeiro lugar, as coisas que visam e servem à Sua glória, e depois, as
coisas que nos são úteis e das quais temos necessidade. No aspecto da ação de
graças, segundo Calvino, os cristãos devem reconhecer os benefícios que o Senhor
nos faz e deve se confessar para a glória de Deus, remetendo à Ele, todas as coisas,
dando glória por todos os bens em geral e os atribuindo à bondade de Deus60.
Costa diz que Calvino compreendia que Deus não proibia a persistência nas
orações, nem proibia que elas fossem feitas de forma demorada ou com frequência,
e sobretudo com fervor, “mas nos ensina a não confiar em que se pode constranger a
Deus a atender às nossas petições pela nossa importunação com vã loquacidade,
como se fosse possível dobrá-lo pelo muito falar, com se dá entre os homens”61.
Ainda segundo Calvino, “Todos os que invocam a Deus noutro nome que não
o de Jesus Cristo desobedecem ao mandamento de Deus e se contrapõe à Sua
vontade”62. Para ele, as promessas de Deus em Cristo Jesus são firmes, são seguras
e se cumprem63. Por fim, Calvino ainda descreve:

56 Ibid., p. 229.
57 Costa, 2006, p. 44.
58 Calvino, 2016, p. 95.
59 Ibid., p. 43.
60 Costa, 2006, p. 198.
61 Ibid., p. 198.
62 Ibid., p. 199.
63 Ibid., p. 199.
21

A oração não é feita para nos exaltarmos diante de Deus. Nem


para que seja apreciado o que há em nós, mas para
confessarmos a nossa miséria e para fazermos sentida
lamentação de tudo o que pesa sobre nós, como uma criança
faz a seu pai. Ao contrário, pois, de causar temor, o senso de
miséria pessoal deve antes ser como uma espora ou como um
aguilhão que nos incite à oração [...]64.

2.3. A experiência da oração nos movimentos de avivamento puritano

O movimento puritano ocorreu no final do século XVI e XVII, exercendo grande


influência na Inglaterra. Um dos avanços do movimento puritano foi a leitura
generalizada da Bíblia, que teve seu início em 1580 e manteve ascensão por mais de
cinquenta anos. A Bíblia tornou-se para o povo um livro didático, usado para leitura e
estudos65. BEECKE, Joel R. JONES, Mark, aponta que “a palavra “puritano” teve origem
na década de 1560 de forma um tanto pejorativa, aplicada a pessoas que desejavam
uma reforma mais abrangente e profunda na igreja da Inglaterra”66.
Segundo John Coffey e Paul C. H. Lim, “O puritanismo foi um tipo de
protestantismo reformado alinhado com as igrejas calvinistas da Europa continental e
não com as luteranas”67.
J. L. Packer expressou bem: “O puritanismo foi um movimento evangélico de
santidade que procurou implantar sua visão de renovação espiritual — nacional e
pessoal — na igreja, no Estado e no lar; na educação, na evangelização e na
economia; no discipulado pessoal e na devoção, e no cuidado e competência
pastorais”68.
Fergunson ressalta que a “irmandade puritana” era formada por homens
devotos à oração e dedicados ao pensamento teológico69.
Os precursores de destaque no movimento puritano foram William Perkins
(1558-1602), Edward Reynolds (1599-1676), Thomas Goodwin (1600-1680) Richard
Baxter (1615-1691), John Owen (1616-1683), Mattew Henry (1662-1714).

64 Ibid,, p. 200.
65 Nichols, 2013, p. 192.
66 Beecke, Joel R. Jones, Mark. 2016, p. 23.
67 Ibid., p. 24.
68 Ibid., p. 32.
69 Ibid., p. 16.
22

No quesito teológico sobre o poder de Satanás e seus demônios relacionados


à oração, Edward Reynolds, aponta que:

O poder desses inimigos espirituais invisíveis era limitado:


“Satanás possui três títulos que lhe são dados nas Escrituras, os
quais mostram o grande perigo que ele representa para a igreja
de Deus: dragão, palavra que denota sua maldade (Ap 12.3);
serpente, que denota sua sutileza (Gn 3.1); e leão, que denota
sua força (IPe 5.8). Mas nenhum deles pode prevalecer diante
da oração70.

O reformador puritano, Anthony Burgess (1917-1993), enfatizou sobre a


oração, apesar de não ter escrito nenhum estudo sobre isto. Ele pregou 145 sermões
sobre a oração de Cristo em João 17. Burgess era um exímio pregador, professor e
apologeta. Na passagem de João 17, ele descreve:

Essa oração de Cristo pode ser comparada a uma terra que


mana leite e mel no que diz respeito ao tesouro de consolo ali
contido [...] Vendo, portanto, que essa é tamanha fonte para cura
e refrigério, vem, tu, com sede espiritual para seres por ela
saciado. Vendo que aqui está o mel e o favo, não faças como
Jônatas, que provou apenas um pouco, mas come dele à
vontade e com fartura. Por meio de uma meditação séria e
constante descobrirás que esse assunto abençoado da oração
de Cristo também te fará abençoado e te fará semelhante ao
próprio Cristo. Como te parecerá vã e vazia toda a glória do
mundo, quando fores elevado até este Monte da Transfiguração!
Aqueles que vivem na zona tórrida jamais sentem frio algum, e
tu, que descobrires que esta oração de Cristo é cheia de vida e
vigor em teu coração, jamais terás motivo para te queixares
daquela estagnação, formalidade e frieza, que são fardos que
provocam muitos gemidos nos outros71.

De acordo com Burgess, não trazemos a vontade de Deus para a nossa


vontade em nossas orações, mas levamos a nossa para a dele. O puritano do século
XX alega que a oração não causa mudança em Deus, mas em nós mesmos72. Burgess
ainda traz a seguinte definição sobre oração:

Orar é uma adoração tão solene de Deus que exige que dela
participe o homem todo: a parte intelectual — todo nosso
70 Ibid., p. 292.
71 Ibid., p. 538-539.
72 Ibid., p 549.
23

discernimento, inventividade e memória — bem como todo o


coração, vontade e sentimentos — e, sim, o corpo também. E,
além disso, também se requer que o Espírito de Deus ilumine a
mente e santifique o coração, pois meros discernimento e
inventividade sem que o Espírito de Deus os avive são como um
sacrifício sem fogo. Ah! se, então, todas essas coisas precisam
estar presentes, não teremos de exclamar “Quem está apto a
orar?.73

Nos cultos domésticos, os puritanos enfatizavam o exercício da oração. As


orações eram constituídas nos seguintes elementos: adoração, confissão, petição por
bênçãos espirituais, intercessão por missões mundiais, pela igreja perseguida, pela
nação e pelo governo, e finalmente ações de graças. As orações em família deveriam
ser breves, não mais de cinco minutos. Deveriam ser diretivos e variados em suas
orações e intercessões74.
O puritano inglês, Mattew Heny, declarou: “Quando Deus pretende tratar seu
povo com grande misericórdia, a primeira coisa que faz é pô-lo a orar.” Henry tinha
uma paixão por oração. Ele escreveu a seguinte frase em seu diário: “Adoro orar. É
isso que afivela toda a armadura do cristão”75.
Henry ainda escreveu três estudos com orientações sobre a oração: começar
o dia com Deus, passar o dia com Deus e terminar o dia com Deus. O âmago do
método de Henry é orar a Palavra de Deus de volta para Deus. O método de Henry
incluía adoração, confissão, petição por nós mesmos, ações de graças, intercessão
por outros e conclusão76.

2.4. A experiência da oração nos movimentos de avivamento pietista

O movimento pietista nasceu na Alemanha, no final século XVII. Seu principal


representante foi o pastor luterano Phillipp Jakob Spener (1635– 1705). O Pietismo
defendia a renovação da piedade com base em um retorno subjetivo e individual ao
estudo da Bíblia e à oração77. “O pietismo acentuava um retorno interior, subjetivo e

73 Ibid., p. 556-557.
74 Ibid., p. 1230-1231.
75 Ibid., p. 1241, 1243.
76 Ibid., 1243, 1251.
77 Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_pietismo.htm
24

individual ao estudo bíblico e à oração. A verdade bíblica se manifestaria diariamente


numa vida de piedade, tanto de leigos quanto de ministros”78.
Em 1670, Spener começou em sua casa, aos domingos e quartas-feiras, um
grupo de estudo da Bíblia, oração e discussão do sermão do domingo anterior79.
Spener, segundo Nichols, reavivou a doutrina básica da Reforma. O movimento
pietista cresceu sobremaneira, trazendo um despertamento espiritual na vida do povo.
Tal crescimento marcou outros movimentos. Um deles foi a irmandade moraviana80.

2.5 A experiência da oração no movimento de avivamento moraviano

Nicolau von Zinzendorf (1700-1760) foi o fundador da comunidade moraviana.


Zinzendorf foi um homem de oração e um líder que conduziu seu povo a uma
verdadeira unidade e sincera devoção aos princípios de Jesus Cristo. Na Saxônia, a
comunidade moraviana de Herrnhut, iniciou um relógio de oração que continuou sem
parar por mais de cem anos. Nichols ainda afirma que Herrnhut enviou mais
missionários do que o Protestantismo europeu fizera em duzentos anos. Os
missionários foram enviados a lugares inóspitos e povos menos promissores.81 O site
da revista impacto traz a seguinte consideração:

O conde interveio e elaborou um pacto em que todos os que


viviam em Herrnhut teriam de se comprometer com a unidade
cristã. Por livre vontade, eles assinaram um acordo para acabar
com suas disputas sectárias e viver em comunhão cristã. Isso
mudou imediatamente a atmosfera dentro da comunidade.
Homens que tinham recentemente brigado com outros
passaram a se reunir em pequenos grupos de oração e louvor82.

2.6 - A experiência de oração como meio de graça

A experiência da oração como meio de graça é uma disciplina espiritual que


fortalece a vida cristã, mediante a atuação do Espírito Santo. Zuben afirma que a

78 Cairns, 1995, p. 370.


79 Disponível em: http://www.escolacharlesspurgeon.com.br/files/pdf/Pietismo.pdf

80 Nichols, 2013, p. 212-213.


81 Ibid., p. 214.
82 Disponível em: https://www.revistaimpacto.com.br/os-moravios-e-missoes/
25

oração é meio de graça porque é somente pela graça de Deus que somos ouvidos,
atendidos, confortados e corrigidos. E mesmo que não oremos como convém, nem
por isso somos desamparados por Deus83.
Beecke, Joel R. Jones, Mark, traz a seguinte contribuição de John Preston
(1587-1628):

John Preston (1587-1628) defendeu que há vários meios de


piedade, os quais o cristão deve usar com diligência para manter
a vida e o crescimento espiritual, meios como as disciplinas de
“ouvir a palavra, receber o sacramento, oração, meditação,
discussão em grupos, comunhão com os santos, decisões
específicas de [fazer] o bem”.” Nenhum desses meios de graça,
ou disciplinas espirituais, era suficiente em si mesmo, ou por si
mesmo, para alimentar a alma do crente ou sustentar a vida
espiritual de uma igreja. Só o Espírito Santo tinha competência
para isso84.

De acordo com a tradição puritana, apenas três elementos eram considerados


centrais como meio da graça: a oração, a pregação da Palavra e os sacramentos do
batismo e da ceia do Senhor85.
Aulén, 2002, sustenta que: “A oração é fator integrante da vida cristã. O caráter
da oração como meio da graça procede do fato de a própria oração não ser só o voltar-
se do homem para Deus, porém mais especialmente o acesso de Deus ao homem”86.
Como os puritanos, Aulén também concorda que a oração não é a único
elemento designado como meio de graça. Porém existem outros como a pregação, os
sacramentos do batismo e ceia do Senhor. Para este autor, o propósito da oração não
é efetuar uma mudança na vontade divina, mas fazer que seja feita essa vontade87.

3. A EXPERIÊNCIA DA ORAÇÃO NA IGREJA EVANGÉLICA CONTEMPORÂNEA

3.1. A oração na perspectiva do sacerdócio universal de todos os crentes

83 Zuben, 2015, p. 18.


84 Beecke, Joel R. Jones, Mark. 2016, p. 611.
85 Ibid., p. 612.
86 Aulén, 2002, p. 322.
87 Ibid. p. 323-324.
26

O sacerdócio de todos os crentes, também denominado de sacerdócio


universal ou comum, foi um dos marcos doutrinários defendido pelos reformadores no
século XVI. A doutrina do sacerdócio de todos os crentes no aspecto da oração e culto
nos lares era uma realidade no culto doméstico puritano88. Heywood afirmou: "Se a
oração em todos os momentos, em todos os lugares e de todo tipo é um dever, com
certeza a oração em família é um dever, pois necessariamente está incluída nessas
categorias”89.
Alderi Souza Matos, em seu artigo “O Sacerdócio de todos os crentes”, traz
alguns apontamentos práticos:

O princípio do sacerdócio universal dos crentes nos fala do


grande privilégio que temos como filhos de Deus: cada cristão é
um sacerdote, cada cristão tem livre e direto acesso à presença
de Deus, tendo como único mediador o Senhor Jesus Cristo.
Todavia, esse princípio jamais deve ser entendido de maneira
individualista. A ênfase dos reformadores está no seu sentido
comunitário. Somos sacerdotes uns dos outros, devendo orar,
interceder e ministrar uns aos outros. À luz do Novo Testamento,
todo cristão é um ministro (diákonos) de Deus, o que ressalta as
ideias de serviço e solidariedade (...)90.

O cristão tem o dever e privilégio, de forma individual ou coletiva, de orar e


interceder por questões relevantes de seu tempo. Como filhos de Deus, temos livre
acesso à presença de Deus, em Cristo Jesus. A. W. Tozer foi feliz em sua declaração:
“a oração não pode se restringir a um grupo na igreja. Ela é uma responsabilidade e
um privilégio de todos”91.

3.2. O jargão evangélico da "oração forte"

No meio evangélico, sobretudo em algumas igrejas adeptas dos movimentos


pentecostais e neopentecostais, é comum a ênfase do jargão evangélico da “oração
forte.” Neste contexto, muitos passam a dar mais crédito na oração feita pelo pregador
do que na ação soberana de Deus através da oração.

88 Beecke, Joel R. Jones, Mark. 2016, p. 1224.


89 Ibid., p. 1227.
90 Disponível em: http://thirdmill.org/portuguese/6140~11_1_01_10-19-

54_AM~O_Sacerd%C3%B3cio_Universal_dos_Crentes.html
91 100 dias de integridade para homens, 2012, p. 17.
27

Paulo Romeiro, em seus escritos sobre a oração da fé e a soberania de Deus,


declara que nos círculos dos “ensinos da fé”, a soberania de Deus não é levada muito
a sério. Romeiro menciona que verbos como exigir, decretar, determinar e reivindicar
frequentemente substituem os verbos pedir, rogar, suplicar e etc.92. Ainda segundo
Romeiro, “O crente dá ordens e determina o que pretende. Não há qualquer
reconhecimento das fragilidades humanas e de suas necessidades em relação a um
Deus superior”93.
Neste cenário, muitos tem “encostado Deus na parede” em suas “orações
fortes”. Nas ênfases dos jargões da “oração forte”, o que se considera é que a oração
traga resultados, independente da forma como se ora. Em 2011, a BV Films lançou o
livro de John Eckhardt, cujo título desperta a atenção de leitores: “Orações que
derrotam demônios”. Trata-se de um livro que contém orações relacionadas à batalha
espiritual e prometem resultados. “Estas orações são preparadas para dar
resultados”94, afirma Eckardt.
Nisto é observado que a ênfase está na oração em si, que sobrepõe a vontade
de Deus revelada nas Escrituras Sagradas, ficando, assim, a vontade de Deus, em
segundo plano. As palavras de Cristo em sua oração feita no jardim do Getsêmani
foram estas: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como
eu quero, e sim como tu queres.”95 Cristo em sua súplica, foi humilde, sincero e
totalmente dependente da vontade de Deus. Sua oração foi assertiva e eficaz. Calvino
menciona que orar de maneira correta é um dom raro96.

3.4. A ausência da prática da oração como sinal de decadência espiritual.

A ausência da prática da oração tem sido uma realidade na vida de milhares


de cristãos na atualidade. Muitas igrejas contemporâneas de tradição reformada e de
outros segmentos tem deixado a desejar quanto à prática da oração. F. B Meyer
aponta: A grande tragédia da vida não são as orações não respondidas, mas as que
não foram feitas.”97 Por outro lado, é observada a ênfase mais nos estudos, nos

92 Romeiro, 2007, p. 59, grifo do autor


93 Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/evangelicos/
94 Eckardt, 2011, p. 10.
95 Mateus 26.39
96 Bezerra, 2001, p. 65.
97 Ibid., p. 65.
28

ensinos doutrinários e pregação do que propriamente na prática da oração. Oliveira


considera: “Tradicionalmente, a oração nem sempre foi considerada um assunto que
pudesse ser inserido em obra teológica ao lado dos temas clássicos.” 98 E mais, para
Bainton, apesar de Lutero ter sido um homem de oração, a voga do assunto era mais
em torno dos sermões do que em suas experiências de orações.

Lutero acima de tudo era um homem de oração, mas sabemos


menos sobre suas orações do que sobre seus sermões, pois ele
mantinha seus alunos fora de seu aposento secreto. Há as
preces que ele compôs para a liturgia, a oração para a sacristia
e uma oração que teria sido ouvida por seu colega de quarto em
Worms”99.

Certa feita, o reverendo Peter T. Forsyth disse: “O pior dos pecados é a falta
de oração”100, e Hernandes Dias Lopes traz a seguinte exortação:

Não há poder sem oração. Não há unção do Espírito sem


oração. Não há avivamento sem oração. Nenhuma obra
importante de Deus é feita sem oração. Não há poder no púlpito
onde os bancos estão vazios de oração. É conhecida a
expressão “Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco
poder; nenhuma oração, nenhum poder.” E. M. Bounds disse,
com razão, que homens mortos tiram de si sermões mortos, e
sermões mortos matam. Sem oração, a pregação gera morte, e
não vida101.

A ausência da prática da oração, a frieza espiritual, a proliferação de religiões


não cristãs tem sido motivos que tem levado a igreja ao esfriamento e desencanto
espiritual. Muitas igrejas localizadas na Europa, Holanda e Inglaterra foram colocadas
à venda para dar espaço a projetos comerciais102.
Sobre o aspecto da prática da oração exercida pelas religiões espalhadas pelo
mundo afora, incluindo o cristianismo, José João de Paulo, em seu livro “O poder do
alto”, traz a seguinte contribuição:

98 Oliveira, 2004, p. 38.


99 Bainton, 2017, p. 361
100 Sousa, 2009, p. 56.
101
Lopes, 2015, p. 11- 12
102
Disponível em: https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/por-estarem-vazias-igrejas-da-europa-estao-
sendo-colocadas-venda.html.
29

A oração é um instrumento tão poderoso, que está presente em


todo o segmento religioso, em todas as nações e etnias. Alguns
oram mais, outros menos. Os que mais oram no mundo nem são
os cristãos. Não são também os islâmicos que, pelo menos, três
vezes ao dia, oram virados rumo a Meca, na Arábia Saudita,
onde está o templo consagrado pelo Islã ao “Profeta Maomé”.
Os que mais oram são os budistas. Eles oram a fio. É uma busca
incansável ao suposto deus Buda [...]”103.

Porém, há de se concordar que na igreja evangélica contemporânea espalhada


pelo Brasil e pelo mundo, a irmandade de tradição reformada tem perseverando em
oração, refletindo a espiritualidade da igreja primitiva em Atos, cumprindo, assim, o
apelo de Paulo sugerido à igreja de Cristo: “Orai sem cessar”104.

3.5. A prática da oração como sinal de despertamento espiritual

A igreja evangélica contemporânea precisa seguir o legado da igreja primitiva


e movimento dos reformadores quanto ao cumprimento da prática da oração. A igreja
primitiva foi exemplo de oração, pois eram perseverantes na oração105. Lopes, afirma
que:

“a igreja contemporânea deveria orar com mais fervor e com


mais intensidade, como o fez a igreja primitiva. O crescimento
numérico da igreja primitiva retrata sua vida exuberante de
oração. A igreja orava e os resultados apareciam. Os joelhos se
dobravam em oração e os corações se derretiam na presença
de Deus em sincera conversão”106.

Martyn Lloyd-Jones traz a seguinte contribuição a respeito da prática da oração


na história da igreja:

As estatísticas provam que as pessoas lotavam a casa de Deus,


multidões de pessoas ansiosas e ávidas por pertencer à Igreja
103 Paula, 2011, p. 95
104 I Tessalonicenses 5.17
105 Atos 2.42
106 Disponível em: http://hernandesdiaslopes.com.br/a-oracao-e-a-palavra-alavancas-para-o-

crescimento-da-igreja/
30

Cristã. No entanto, a Igreja era cheia de vida, e tinha grande


poder; o evangelho era pregado com autoridade, grandes
números de pessoas se convertiam regularmente, dia após dia
e semana após semana. Os cristãos se deleitavam na oração.
Não era necessário empurrá-los para as reuniões de oração; na
verdade, não era possível mantê-los longe delas. Ninguém
queria ir para casa, e ficavam orando a noite inteira107.

Durante o Sínodo de Dort, o teólogo reformado holandês Gilbertus Voet (1589-


1676), citou a seguinte frase em latim: “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda
est”. Na tradução em português significa: “Igreja Reformada, sempre se
reformando”108. Esta frase é de extrema relevância quanto a aplicação dos diversos
assuntos temáticos da teologia bíblica, considerando a oração.
A experiência da oração na igreja evangélica contemporânea ainda precisa
seguir os moldes dos reformadores: “Igreja Reformada, sempre se reformando.” Pela
experiência negativa e positiva deste escrito, percebe-se a necessidade da igreja em
aprender e praticar a oração em todos os seus aspectos.
É relevante buscar conhecimento e prática nesta área. Os discípulos de Jesus
disseram: “Senhor, ensina-nos a orar”109. Não podemos ignorar que muitas igrejas
contemporâneas evangélicas tem investido em oração. Hoje, existem cultos,
seminários e congressos específicos referentes à oração e intercessão, bem como
vários livros publicados quanto à conclamação à oração. Hernandes Dias Lopes
afirma que: “Não basta conhecer os princípios bíblicos sobre oração; precisamos orar.
Não basta ler livros sobre oração; precisamos orar. Não basta pregar sobre oração;
precisamos orar”110. O apelo e incentivo do nobre autor são de que a igreja de Cristo
precisa orar, dar continuidade à perseverança da oração.
Aulén afirma que a oração é o fator constituinte da igreja e que sem ela, a igreja
deixa de existir.

A oração é o elemento essencial na vida espiritual do cristão e


condição de capital importância para a vida da Igreja Cristã.
Excluída da vida da Igreja esta cessa de existir. A oração é,
portanto, antes de mais nada, fator constituinte da Igreja111.

107
Jones-Lloyde, 2017, p.30.
108 Disponível em: https://www.oitavaigreja.org.br/igreja-reformada-sempre-se-reformando/
109 Lucas 11.1
110 Lopes, 2015, p. 9.
111 Aulén, 2002, p. 323.
31

Diante do enunciado de Aulén, a igreja cristã evangélica contemporânea tem o


dever e responsabilidade de dar continuidade ao legado da oração. Porém, a prática
da oração bíblica continua sendo um desafio, tendo em vista que muitas igrejas
contemporâneas de linha reformada ou não, tem se desvirtuado. A valorização e a
mistificação quanto ao local de oração tem sido uma prática constante na igreja da
era presente. Como exemplo, a crença de que a oração realizada no monte é a mais
eficaz e poderosa.
No Velho Testamento e no Novo Testamento, há registros de orações e busca
pela presença do Senhor no monte. Moisés permaneceu quarenta dias e quarenta
noites no monte112. Jesus e os seus discípulos subiram ao monte com o propósito de
orar. “Cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras, tomando consigo a
Pedro, João e Tiago, subiu ao monte com o propósito de orar”113. Porém, Deus ouve
a oração realizada no monte como também em qualquer outro lugar. Não existe base
bíblica para afirmar que somente no monte orações serão atendidas. J. R. Thompson
disse: “Todos lugar é apropriado para oração”114, e Hernandes Dias Lopes foi feliz em
sua fala ao afirmar que não importa onde estamos, mas a quem oramos115. Quer seja
no monte ou não, Deus ouve as orações.

3.6. Oração realizada no culto público

Na experiência da oração da igreja cristã contemporânea quanto ao culto


público, percebe-se que muitos ministros, em suas orações, tem usado uma
linguagem de difícil entendimento aos seus ouvintes. Neste ponto, Calvino, em seu
tempo, alertou para que a oração fosse praticada em uma língua de fácil entendimento
e contextualizada ao seu público.

Também sabemos que as orações públicas não devem ser


proferidas em grego entre os latinos ou em latim entre os
franceses e ingleses [...], mas na língua comum, para que todos
os presentes possam entendê-la, pois elas devem ser usadas

112
Êxodo. 24.18
113
Lucas 9.28
114
Lopes, 2015, p. 44
115
Ibid. p. 45
32

para edificação de toda a igreja – que não será beneficiada nem


um pouco por sons não inteligíveis116.

Dâmaso, em seu artigo “A importância da oração”, traz a seguinte menção de


Hendriksen:

William Hendriksen declara que Paulo solicita a Timóteo que


providencie para que em todos os lugares, no território de Éfeso,
em que o povo de Deus se reúna para o culto público, que em
suas orações sejam lembrados os reis e todos os que se ocupam
de posições de preeminência, que, em suma, sejam feitas
súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os
homens117

Muitas igrejas, em seus manuais de cultos, apresentam uma ordem de oração


a serem realizadas nos cultos públicos. Araújo apresenta uma estrutura litúrgica
básica, segundo o Manual do Culto da IPI do Brasil. Nesta estrutura, consta a oração
de adoração, confissão, iluminação, consagração e intercessão. Na oração de
adoração, Araújo considera:

A oração de adoração marca o início do culto, é o momento que


nos encontramos como comunidade diante de Deus e
reconhecemos que só ele é digno de louvor, de honra e de glória,
que não adoramos a nenhum outro Deus [...]118.

3.7. A oração como instrumento de crescimento para a igreja evangélica


contemporânea

Em oração, a igreja continuará crescendo, tanto no sentido quantitativo como


no qualitativo, sendo assim, um instrumento de transformação nas mãos de Deus para
a sociedade em todos os seus aspectos. O pastor presbiteriano e missionário da
Sepal, Rubens Muzio, em seu artigo “Crescimento integral de igrejas”, traz um breve

116
Calvino, 2016, p. 95.
117 Disponível em: http://reformados21.com.br/2016/08/03/a-importancia-da-oracao/
118 Disponível em: http://www.ipib.org/blog-dos-ministerios-e-secretarias/74-ministerio-da-

educacao/musica-e-liturgia/2255-a-oracao-publica-no-culto
33

relato pessoal sobre os movimentos de plantação de igrejas ocorridos em alguns


países, que tem como um dos princípios de crescimento a prática da oração.

O crescimento não é um fenômeno simples, como já disse.


Encontrei algumas vezes David Garrison e conversei muito com
ele sobre os movimentos de plantação de igrejas ocorridos na
Índia, China e outras partes da Ásia, África, Américas e Europa.
Em seu livro Church Planting Movements, após uma cuidadosa
análise dos vários movimentos contemporâneos, ele chegou à
conclusão que alguns elementos estariam sempre presentes [...]
Um extraordinário nível de oração. Oração se tornou prioridade
em todos os movimentos estudados, enfocando
intencionalmente a intercessão pelos plantadores de igrejas,
pelos não-cristãos, novos convertidos, e pelo envio de mais
obreiros119.

Apesar do crescimento expressivo da igreja evangélica contemporânea


ocorrido nos últimos anos, como aconteceu na igreja primitiva, é necessário que tal
crescimento resulte de fato em transformação e salvação de vidas. O profeta
Habacuque fez a seguinte oração: “Tenho ouvido, ó SENHOR, as tuas declarações,
e me sinto alarmado; aviva a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos anos, e, no
decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia”120.
A igreja ainda tem como desafio o amadurecimento da prática da oração bíblica
e eficaz. Desta forma, sua missão será cumprida e seus desafios, superados.

119 Disponivel em: http://sepal.org.br/blog-sepal/artigos/crescimento-integral-de-igrejas-parte-2/


120 Habacuque 3.2
34

CONCLUSÃO

As Escrituras Sagradas nos apontam práxis de oração que sustentam e


fortalecem a fé. Os registros de oração dos personagens bíblicos, dos teólogos da era
da reforma e da igreja cristã contemporânea trazem consigo contribuições relevantes
à vida cristã. Cada oração, seja em súplicas ou em ação de graças, tem um
significado de suma importância para o nosso crescimento espiritual.
A oração como meio de graça nos remete a uma vida de piedade e
transformação. Precisamos dar prosseguimento ao legado deixado por nossos
antecessores, que exerceram influência em sua época.
Pelas experiências apontadas neste escrito, percebemos a necessidade da
igreja em prosseguir na graça e no conhecimento quanto à prática da oração em todos
os seus aspectos, a fim de que venhamos a desfrutar de um relacionamento genuíno
com o Senhor.
35

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