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Editor

Renato Oscar Kowsmann


Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo
Américo Miguez de Mello
(Petrobras/Cenpes)
Gerência de Sedimentologia e Estratigrafia
kowsmann@petrobras.com.br
© 2015, Elsevier Editora Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 19/02/1998.


Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou
transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação
ou quaisquer outros.

Copidesque: Edna Cavalcanti


Revisão: Edna Cavalcanti
Editoração Eletrônica: Estúdio Castellani
Ilustração da Capa: Anderson Gomes de Almeida e Renato Oscar Kowsmann
Imagem em 3D do relevo sombreado do fundo do mar, mostrando um sistema
de cânions submarinos no norte da Bacia de Campos

Elsevier Editora Ltda.


Conhecimento sem Fronteiras
Rua Sete de Setembro, 111 – 16o andar
20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil

Rua Quintana, 753 – 8o andar


04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil

Serviço de Atendimento ao Cliente


0800-0265340
atendimento1@elsevier.com

ISBN 978-85-352-6937-6
ISBN (versão digital): 978-85-352-8344-0

Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação,
impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de
Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.
   Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas
ou bens, originados do uso desta publicação.

Catalogação na fonte
Biblioteca do Cenpes

G345 Geologia e geomorfologia / editor Renato Oscar Kowsmann ; organizadoras


Ana Paula da Costa Falcão, Maria Patricia Curbelo-Fernandez. –
Rio de Janeiro : Elsevier, 2015.
xvi, 136 p. : il. color. ; 23 cm. – (Série Habitats)

Inclui bibliografias.
ISBN 978-85-352-6937-6.

1. Geologia. 2. Geomorfologia. 3. Bacia de Campos. I. Kowsmann, Renato


Oscar. II. Falcão, Ana Paula da Costa. III. Curbelo-Fernandez, Maria Patricia.

CDD 551.098153
Organizadoras

Ana Paula da Costa Falcão


Petrobras/Cenpes/PDEDS/Gerência de Avaliação e Monitoramento Ambiental
apfalcao@petrobras.com.br

Maria Patricia Curbelo-Fernandez


Pontifícia Universidade Católica (Rio de Janeiro)
Petrobras/Cenpes/PDEDS/Gerência de Avaliação e Monitoramento Ambiental
pcurbelo@hotmail.com
Autores

Alexsandre Cavalcante de Lima


Petrobras/E&P-SERV/US-SUB/Gerência de Geologia Marinha
alexsandrelima@petrobras.com.br

Alberto Garcia de Figueiredo Jr.


Universidade Federal Fluminense/Departamento de Geologia/LAGEMAR
afigueiredo@id.uff.br

Anderson Gomes de Almeida


Petrobras/E&P-EXP/IABS/Gerência do Polo Sul
Geologia Marinha
andersongomes@petrobras.com.br

Carlos Eduardo Pereira Pacheco


Universidade Federal Fluminense/Departamento de Geologia/LAGEMAR
carlosbo12@yahoo.com.br

Fabiano Tavares da Silva


Universidade Federal Fluminense/Departamento de Geologia/LAGEMAR
tavares.uff@gmail.com

Joana Paiva Robalo Migliorelli


Fototerra Atividades de Aerolevantamentos Ltda.
Petrobras/E&P-SERV/US-SUB/Gerência de Geologia Marinha
joanamigli.fototerra@petrobras.com.br

João Paulo Picolini


Petrobras/E&P Sul-Sudeste/UO-BS/EXP/Gerência de Avaliação de Blocos e
Interpretação Geológica e Geofísica
picolini@petrobras.com.br
viii Au tores

Marco Aurélio Vicalvi


Fundação Gorceix
Petrobras/Cenpes/PDGEO/Gerência de Bioestratigrafia e Paleoecologia
vicalvi.gorceix@petrobras.com.br

Mariana Beatriz Ferraz Mendonça de Souza


Fototerra Atividades de Aerolevantamentos Ltda.
Petrobras/E&P-SERV/US-SUB/Gerência de Geologia Marinha
mbfms.fototerra@petrobras.com.br

Renato Oscar Kowsmann


Petrobras/Cenpes/PDGEO/Gerência de Sedimentologia e Estratigrafia
kowsmann@petrobras.com.br

Ricardo Defeo de Castro


Petrobras/E&P Sul-Sudeste/UO-BC/Gerência de Exploração
defeo@petrobras.com.br

Ricardo Garske Borges


Petrobras/Cenpes/PDEP/Gerência de Tecnologia de Engenharia Oceânica
garske@petrobras.com.br

Sérgio Cadena de Vasconcelos


Universidade Federal Fluminense/Departamento de Geologia/LAGEMAR
sergio.cadena82@gmail.com

Simone Schreiner
Petrobras/E&P-SERV/US-SUB/Gerência de Geologia Marinha
schreiner@petrobras.com.br
Agradecimentos

Agradecemos às coordenadoras e organizadoras desta série, Ana Paula da Costa


Falcão e Maria Patricia Curbelo-Fernandez, pela oportunidade de conduzir e publicar
os resultados de Geologia do Projeto Habitats – Heterogeneidade Ambiental da Bacia
de Campos. Gostaríamos de agradecer aos autores que contribuíram para este volu-
me e aos revisores que contribuíram para o aprimoramento dos textos. À Gerência de
Geologia Marinha (Petrobras/E&P-SERV/US-SUB), um especial agradecimento por ter
disponibilizado seus técnicos, banco de dados e infraestrutura para a realização deste
trabalho. Discussões com diversos profissionais da Petrobras, em particular com os
geólogos Simone Schreiner, Marcos Antonio da Silva Silveira, Dennis James Miller e
Adriano Roessler Viana e com os engenheiros civis Claudio dos Santos Amaral e Leo-
poldo Machado Paganelli, foram muito proveitosas.
Prefácio

Os ambientes em águas profundas vêm aumentando aceleradamente sua impor-


tância econômica para a humanidade à medida que avança o interesse em seus vas-
tos recursos minerais e biológicos. Até recentemente, as discussões econômicas sobre
os oceanos estavam concentradas principalmente nos temas de recursos pesqueiros
e de navegação internacional.
Esse contexto, associado aos altos custos e dificuldades logísticas para pesquisa
na região, contribui para que os oceanos sejam as áreas menos conhecidas cientifica-
mente e também menos protegidas do mundo. Por outro lado, à medida que avança
a ciência, mais consciência adquirimos da importância ecológica dos serviços ambien-
tais prestados por esses ecossistemas, seja por sua biodiversidade e capacidade de
regulação do clima, seja por seus importantes ciclos biogeoquímicos. Consciente de
sua responsabilidade diante dos ambientes nos quais desempenha suas atividades, a
Petrobras articula um dos maiores programas do mundo para a caracterização cientí-
fica de águas profundas, envolvendo o estudo ecossistêmico de várias bacias na costa
brasileira. A pesquisa no tema é complexa e exige amplo trabalho colaborativo e em
rede das instituições do campo regulador, industrial e acadêmico.
É com muito orgulho que apresentamos o primeiro volume da “Série Habitats”,
um conjunto de publicações científicas que visa reunir e disponibilizar à sociedade o
importante e raro conhecimento adquirido sobre a Bacia de Campos, no litoral flumi-
nense, através do projeto de pesquisa com o mesmo nome.
A dimensão do trabalho é impressionante, inaugurando um novo modelo de pes-
quisa regional oceânica no Brasil. O estudo envolveu especialistas da Petrobras e de
20 universidades brasileiras para cobrir, com rigor científico, os aspectos geológicos,
biológicos, físicos e químicos da coluna d’água e dos sedimentos em mais de 150.000
km2, cerca de 3,5 vezes a área do estado do Rio de Janeiro. Foram mais de 250 pro-
fissionais, 8.500 horas de navio, o que corresponde a um ano de coleta de dados em
alto-mar, mais de 20.000 análises químicas e 10.000 análises biológicas. A preocu-
pação se estendeu também à conservação do material coletado, mediante investi-
mentos em coleções científicas, e à organização das informações em banco de dados
georreferenciado, com garantia na uniformidade de procedimentos e coletas visando
xii P refá ci o

uso futuro. Dessa forma, esperamos ter contribuído para constituir um importante
patrimônio da pesquisa brasileira e mundial sobre o assunto.
Tendo tido a oportunidade e o privilégio de acompanhar o desenvolvimento des-
sa linha de pesquisa ao longo dos últimos quatro anos, permito-me partilhar deste
momento de celebração pela conclusão dos trabalhos. Parabéns aos profissionais
pelos resultados e pelo legado, à altura do esforço, da dedicação e da seriedade que
tive a oportunidade de testemunhar!

VIVIANA CANHÃO BERNARDES GONÇALVES COELHO


GERENTE-GERAL
Gerência de Pesquisa & Desenvolvimento de Gás,
Energia e Desenvolvimento Sustentável
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello
Lista de siglas

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ACAS – Água Central do Atlântico Sul
AFA – Água de Fundo Antártica
AIA – Água Intermediária Antártica
ASAS – Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul
BAMPETRO – Banco de Dados Ambientais para a Área Petrolífera
BDG – Banco de Dados Geotécnicos do Cenpes/Petrobras
BNDO – Banco Nacional de Dados Oceanográficos (Marinha do Brasil)
CB – Corrente do Brasil
CCB – Contra Corrente do Brasil
CENPES – Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello
CGIAR – Consultive Group on International Agriculture Research
CHM – Centro de Hidrografia Marinha
CP – Corrente de Plataforma
CST – Cânion São Tomé
DHN – Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil
E&P-SERV/US-SUB/GM – Gerência de Geologia Marinha da Unidade de Serviços Submarinos do E&P
Serviços da Petrobras
ESAR – Estação Sismográfica de Angra dos Reis
GEBCO – General Bathymetric Chart of the Oceans
IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
JPC – Jumbo Piston Core
LAGEMAR-UFF – Laboratório de Geologia Marinha – Universidade Federal Fluminense
M.A. – Milhões de Anos
MDT – Modelo Digital do Terreno
xvi L i sta de s i glas

MTD – Mass-Transport Deposits (Depósitos de Transporte de Massa)


NGDC – National Geophysical Data Center
NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration
PCPT – Piezocone Penetration Test
PCR-BC – Programa de Caracterização Ambiental Regional da Bacia de Campos
PCR-BC/HABITATS – Programa de Caracterização Ambiental Regional da Bacia de Campos/Projeto Habitats
PSP – Platô de São Paulo
RCLB (UNESP/SP) – Estação Sismológica de Rio Claro
REMAC – Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira
RSIS/SE – Rede Sismográfica do Sul e do Sudeste do Brasil
SFA1 (UnB/DF) – Estação Sismológica de Serra do Facão
SHALSTAB – Shallow Slope Stability Model
SIG – Sistema de Informação Geográfica
SIGEO – Sistema Integrado de Geologia e Geofísica (Petrobras)
SINMAP – Stability INdex MAPping
SIRGAS – Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas
SRTM – Shuttle Radar Topography Mission
UFF – Universidade Federal Fluminense
UMG – Último Máximo Glacial
UNB – Universidade de Brasília
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
USP – Universidade de São Paulo
1
Principais aspectos da geologia
regional da Bacia de Campos

Ricardo Defeo de Castro e João Paulo Picolini

Palavras-chave

Estratigrafia; tectônica; compartimentação estrutural; atividade de falhas; arcabouço estrutural

Resumo

Uma visão geral do arcabouço estrutural e da estratigrafia da Bacia de Campos é apresentada, com
especial enfoque na cronologia da atividade das falhas.

Castro, R.D., Picolini, J.P. 2014. Principais aspectos da geologia regional da Bacia de Campos. In: Kowsmann, R.O., editor. Geologia
e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 1-12.
2 P r inci pai s aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos

1. Introdução foi controlada pela combinação dessa compar-


A Bacia de Campos está localizada em águas timentação com a subsidência térmica crustal e
territoriais dos estados do Rio de Janeiro e do Espíri- com a movimentação halocinética. Esse contexto
to Santo e ocupa área aproximada de 100.000 km2. resultou no desenvolvimento de três grandes do-
É limitada ao norte pelo Alto de Vitória, ao sul pelo mínios estruturais: distensional (em águas rasas),
Alto de Cabo Frio (Mohriak et al., 1989), a oeste translacional (em águas profundas) e compressio-
pelos afloramentos de rochas ígneas e metamórfi- nal (em águas ultraprofundas) para a sequência
cas pertencentes à Faixa Ribeira que compõem seu mais jovem (Figura 3). Esses domínios são carac-
embasamento, e a leste pelo acunhamento dos se- terizados por falhamentos normais lístricos com
dimentos em direção à planície abissal oceânica. anticlinais de compensação (rollovers) associados,
Em seguida, são descritos os principais aspectos sintéticos e antitéticos, estruturas do tipo janga-
tectonossedimentares da bacia e, ao final, é apre- das, anticlinais relacionados à halocinese, além de
sentada uma síntese evolutiva. falhamentos transcorrentes e inversos (Guardado
A estratigrafia da Bacia de Campos é tradicio- et al., 1989).
nalmente dividida em três grandes unidades tec-
tonossedimentares ou megassequências (Figura 1):
3. Compartimentação
Sequência Rifte, Sequência Transicional ou Drifte
Estratigráfica
Inicial e Sequência de Margem Passiva ou Drifte
Final (Winter et al., 2007; Guardado et al., 1989). 3.1. Sequência Não Marinha (Rifte)
Essa sequência engloba os andares Aratu, Bu-
racica e Jiquiá, correspondentes ao Neocomiano, e
2. Arcabouço Tectônico e contém rochas da Formação Cabiúnas e do Grupo
Compartimentação Estrutural Lagoa Feia constituídas entre 135 a 118 M.A. Es-
A Bacia de Campos é considerada de tipo mar- tá limitada, inferiormente, por não conformidade
gem divergente e sua evolução relaciona-se a um com o embasamento Pré-Cambriano e, superior-
contexto geotectônico extensional, que se estabe- mente, por discordância erosiva com a Sequên­cia
leceu em razão da separação entre as placas tec- Transicional, conhecida como Discordância pré-
tônicas da América do Sul e da África. Seu registro -Alagoas. Essa sequência representa uma fase de
geológico data desde o Eocretáceo até os dias atuais subsidência mecânica da bacia e se caracteriza pe-
(Milani e Thomaz Filho, 2000; Dias et al., 1990). lo controle direto do arcabouço estrutural do em-
As principais estruturas presentes no embasa- basamento e por sedimentação continental (Guar-
mento são falhas normais, antitéticas e sintéticas, dado et al., 1989).
falhas transcorrentes e zonas de acomodação que Na base, está presente a Formação Cabiúnas,
controlaram a ocorrência de riftes, horsts e grá- que inclui basaltos toleíticos a subalcalinos e ro-
bens, promovendo, assim, a compartimentação da chas vulcanoclásticas, como brechas e tufos. Esses
bacia. A Figura 2 exibe as principais feições estrutu- litotipos se organizam em ciclos métricos com ba-
rais do embasamento subjacente à bacia, com des- saltos na base, brechas na porção intermediária e
taque para o Alto de Cabo Frio, o Alto Regional de tufos no topo (Mizusaki et al., 1988).
Badejo, os Altos Intermediário e Externo e os Bai- Acima dessa unidade, ocorre o Grupo Lagoa
xos de São João da Barra, Corvina-Parati e Externo. Feia, cujas rochas advêm da associação de fan del-
Esse arcabouço controlou diretamente as fei- tas, rios entrelaçados e lagos. Compõe-se de três
ções tectonossedimentares das sequências Rifte e formações principais: Itabapoana, Atafona e Co-
Transicional, determinando a ocorrência de bai- queiros (Winter et al., 2007).
xos deposicionais e altos estruturais (Figura 3). Já A Formação Itabapoana é composta por de-
a sedimentação da Sequência de Margem Passiva pósitos de leques deltaicos e fluviais, que incluem
Geolog ia e G eomorfolog i a 3

conglomerados e arenitos maciços, laminados ou As formações Itabapoana, Gargaú e Macabu


com estratificação cruzada, de cor avermelhada, ri- são compostas por fácies proximais e distais que
cos em fragmentos de basalto, quartzo e feldspato, registram deposição por leques aluviais, rios e em
geralmente compondo ciclos de afinamento com mar raso. As fácies proximais incluem conglomera-
rochas pelíticas no topo. Associados a esses depó- dos polimíticos, com fragmentos de basalto, ígneas
sitos, são encontrados arenitos de granulometria ácidas e metamórficas. As fácies distais incluem cal-
fina, com laminação horizontal, além de marcas de cários estromatolíticos, laminitos, lamas carbonáti-
ondas. Nas áreas marginais são encontrados argi- cas e fácies retrabalhadas com intraclastos.
litos e folhelhos avermelhados com marcas de dis- A Formação Retiro é composta, predominante-
secação. Os depósitos lacustres apresentam fácies mente, por sedimentos químicos que registram um
proximais (calcarenitos bioclásticos, calcilutitos, ambiente com associação de lagunas e planícies de
siltitos e folhelhos) e distais (margas, calcilutitos sabkha. As associações minerais mostram um zo-
e folhelhos escuros carbonosos) (Guardado et al., neamento de áreas proximais para distais marcado
1989). por anidrita, anidrita/halita e anidrita/halita/carna-
As formações Atafona e Coqueiros se caracteri- lita/silvita. Essa distribuição é fruto de característi-
zam por fácies semelhantes, onde predominam de- cas físico-químicas deposicionais e da movimenta-
pósitos lacustres, que apresentam arenitos, siltitos ção halocinética (Mohriak et al., 2008).
e folhelhos ricos em matéria orgânica. A Formação
Atafona apresenta um intervalo de folhelhos, con- 3.3. Sequência Marinha (Figura 1)
siderado importante gerador de hidrocarbonetos, Corresponde aos grupos Macaé e Campos
denominado Folhelho Buracica. A Formação Co- (formações Ubatuba, Carapebus e Emborê) e con-
queiros, por sua vez, apresenta o principal intervalo tém rochas sedimentares de idade Albiano ao
gerador na Bacia de Campos, comumente designa- Holoceno (Winter et al., 2007). Essa sequência
do de Folhelho Jiquiá (Mello e Maxwell, 1990; Mello é o registro de uma fase de subsidência térmi-
et al., 1995). ca da bacia e sedimentação marinha franca, com
Os depósitos lacustres da Formação Coqueiros restrita halocinese durante o Albiano. A partir do
incluem fácies proximais constituídos de calcirrudi- Cenomaniano, a movimentação do sal torna-se
tos e calcarenitos bioclásticos denominados coqui- fundamental para o desenvolvimento da compar-
nas, que são considerados importantes reservató- timentação estrutural da seção pós-sal, além de
rios de petróleo nessa Sequência Rifte (Guardado influenciar decisivamente a sedimentação e a for-
et al., 1989). mação de estruturas armazenadoras de petróleo
(Dias et al., 1990).
3.2. Sequência Transicional O Grupo Macaé assenta-se concordantemen-
Constitui a parte superior do Grupo Lagoa Feia te sobre os evaporitos do Membro Retiro e, tra-
e corresponde à parte superior do Andar Alagoas, dicionalmente, é dividido nas formações Goitacás,
de idade entre 118 e 112 M.A. Representa uma fase Quissamã, Imbetiba e Outeiro. A Formação Goita-
intermediária entre subsidência termal e mecânica, cás representa os ambientes proximais caracteriza-
com sedimentação continental e marinha (Guarda- dos pela associação de leques aluviais fan deltas,
do et al., 1989). lagunas e praias. Na área norte da bacia, predomi-
Tradicionalmente, é dividida em duas unidades nam os depósitos de leques aluviais, constituídos
principais: uma inferior, composta por rochas silici- de conglomerados polimíticos e arenitos grossos
clásticas e carbonáticas pertencentes aos membros a finos, geralmente cimentados por minerais car-
Itabapoana, Gargaú e Macabu, e uma superior, bonáticos. Na parte sul da bacia, predominam os
composta por rochas evaporíticas, denominada depósitos de laguna, caracterizados por calciluti-
Membro Retiro (Dias et al., 1990). tos, arenitos finos e pelitos, além de fácies de praia
4 P r inci pai s aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos

Máxima (m)

Sequências
Sedimentação

Espessura
Natureza da
Litoestratigrafia
Geocronologia Ambiente
Discordâncias
Ma Deposicional Grupo Formação Membro
Período Época Idade
0
Pleistoceno N60
Gelasiano

Emborê
NEO MESO
Plioceno EO
Piacenziano Pleistocênica N50
Zancleano
Messiniano

Grussaí
Mioceno Superior

Barreiras
N40

4050
NEO
Neógeno

São Tomé
10 Tortoniano

1620
Mioceno

Serravaliano Mioceno Superior N30


MESO
Langhiano Mioceno Médio N20

EO
Burdigaliano Mioceno Inferior N10
20

Profundo / Talude / Plataforma


Aquitaniano

1324
Siri
Oligoceno Superior
Oligoceno

Marinho Regressivo

NEO Chattiano E80

Ubatuba

4050
30
EO Rupeliano
Oligoceno Inferior E74

Grussaí
Oligoceno Inferior E72
NEO Priaboniano Eoceno Superior

1620
E60
Bartoniano
Paleógeno

40
Eoceno

MESO
Eoceno Médio

Emborê

E40-E50
Lutetiano

3320
50
EO Ypresiano Eoceno Inferior

2940
E30

Campos

Geribá
Thanetiano Paleoceno
Paleoceno

E10-E20
NEO
60 Selandiano

EO Daniano

Paleoceno Inferior K130


Maastrichtiano
70 Intramaastrichtiano K120
(Senoniano)

Intracampaniana II

K100-
K110
Tamoios

2250
Campaniano

1500
Carapebeus
Marinho Transegressivo

80
Intracampaniana I
NEO

Profundo

Santoniano
K90

Coniaciano
Coniaciano

K86-
90

K88
Turoniano

K82-
Namorado

K84
Cenomaniano Intracenomaniano Imbetiba
500
Goitacás

100
Macaé
Cretáceo

Outeiro K70
Albiano
(Gálico)

Plataforma Quissamã

1050 K60
zi

110 Rasa
os

Retiro 2000 K50


Restrito/ K48
Preevaporítica
Itabap.
Garg

Ma

500

Lagunar
cab
Lagoa Feia

K46
au

Alagoas
u

Aptiano Pré-neo-alagoas
120
Continental
EO

Coqueiros 2400 K38


Itabapoana

Jiquiá
Barre- Buracica Lacustre Atafona 2000 K36
miano
130
Aratu Topo Basalto
K20-
(Neocomiano)

Halte-
K34

Cabiúnas
650

riviano

Valan-
giniano Rio
140 da
Berria- Serra
miano

Titho- Dom
Jurás-
sico NEO niano João
150
542
Pré-Cambriano Embasamento

Figura 1A. Coluna estratigráfica da Bacia de Campos (Winter et al., 2007).


Geolog ia e Geomorfolog i a 5

NO Quebra da SE
Linha de Costa Plataforma
Poço
2000 Distal Nível do Mar Tectônica e Magmatismo
0m MA
2000 Fundo do Mar

0
BAR

10
BAR
EBR/GRU

BAR
UBT/GBA 20

EBR/SR

30
UBT/GBA

Magmatismo 40

Tectônica Adiatrófica Associada


Eoceno Médio

Subsidência Térmica com


EBR/SR
Magmatismo
Eoceno Inferior 50

UBT/GBA
Magmatismo
Cretáceo-
Paleógeno 60

CRP

UBT/TM 70

CRP
Magmatismo
Santoniano-
Campaniano 80

UBT/TM CRP

90
UBT/TM Drifte

GT NAM

100
GT OUT NAM

QM
GT QM/BZ Magmatismo
Alagoas 110
RT
GGU
MCB
ITA Pós-Rifte
120

CQ
ITA ATA
Rifte 130
CB

140

150
542
Faixa Ribeira

Figura 1B. Coluna estratigráfica da Bacia de Campos (Winter et al., 2007). (Continuação.)
6 P r inci pai s aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos

Alto de 7.700.000

Vitória
N

mp e
Ca lha d
os
Fa

Província de
Domos de Sal
7.600.000
ejo
ad
eB

ti
ara
na de
od

io
-P
r vi o

iár
Co Baix

Alto
Alto
Alt

ed

Baixo de Externo
Externo Baixo
rm

São João
nte

Externo
da Barra
m

oI
0

m
Alt
10

00
10

7.500.000

m
00
20
ira

Alto de
ne

ALTOS ESTRUTURAIS
Cabo Frio
ar
Ch

BAIXOS ESTRUTURAIS

PROVÍNCIA DE DOMOS DE SAL

CONTINENTE
ÁREA MARINHA

100m BATIMETRIA

FALHA NORMAL 7.400.000

50 km

Figura 2. Principais compartimentos estruturais da Bacia de Campos (Guardado et al., 2000), Projeção: UTM
DATUM: SAD-69, MC: 039.

compostos por arenitos finos a médios, geralmen- distal dessa sedimentação carbonática. Os calcare-
te estratificados ou laminados (Guardado et al., nitos oolíticos e oncolíticos, depositados em ban-
1989). cos de águas rasas, são os principais reservatórios
A Formação Quissamã é o registro de um sis- de hidrocarbonetos do Grupo Macaé.
tema carbonático composto por fácies de baixa a A Formação Outeiro posiciona-se estratigra-
alta energia. Apresenta um zoneamento ambien- ficamente acima da Formação Quissamã e ocorre
tal da área proximal, caracterizada por rochas de de maneira discordante na área proximal e concor-
composição mista siliciclástica-carbonática, para a dante na área mais distal. Registra uma sedimenta-
distal, onde se desenvolveu uma fácies tipicamen- ção siliclástica-carbonática condizente com oceano
te carbonática. Os litotipos carbonáticos incluem mais profundo. Suas rochas apresentam uma dis-
calcilutitos com bioturbação, calcarenitos finos a tribuição da base para o topo composta por calci-
grossos oolíticos e oncolíticos, derivados de sis- lutitos que gradam para intercalação de calcilutitos
temas de barras carbonáticas e interbarras, geral- com margas. No topo desse membro, predomi-
mente definindo ciclos de raseamento para o topo. nam folhelhos e margas. Há ocorrência de vazas
Folhelhos e margas caracterizam a deposição mais de microfósseis e conteúdo moderado de matéria
Águas Águas Águas
NO Rasas Profundas Ultraprofundas SE
0

Sal

Km
6

Alto de Alto
Badejo Externo
8 Alto
Central
Baixo de
Corvina-Parati
10 Gráben
Leste

SEQUÊNCIA MARINHA SEQUÊNCIA TRANSICIONAL SEQUÊNCIA NÃO MARINHA


TURONIANO / TERCIÁRIO APTIANO NEOCOMIANO

FORMAÇÃO EMBORÊ MEMBRO RETIRO MEMBRO COQUEIROS

MEMBRO SIRI MEMBRO GARGAÚ MEMBRO ATAFONA

FORMAÇÕES UBATUBA, CARAPEBUS MEMBRO ITABAPOANA

ALBIANO / CENOMANIANO EMBASAMENTO / ROCHAS ÍGNEAS


FORMAÇÃO MACAÉ MEMBRO CABIÚNAS
25 km

Figura 3. Seção geológica regional da Bacia de Campos (Guardado et al., 2000) mostrando as principais estruturas do embasamento e da tectônica salífera e as
sequências estratigráficas. Notar a diferente influência da tectônica salífera na seção rasa da bacia, em águas profundas e ultraprofundas. Ver texto para os ambientes
deposicionais correspondentes.
8 P r inci pai s aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos

orgânica, o que condiz com a subida progressiva e muito empregados nas datações dos principais in-
acentuada do nível relativo do mar e melhor circu- tervalos da bacia.
lação das águas em relação à Formação Quissamã A Formação Carapebus corresponde a sedi-
(Guardado et al., 1989). mentos arenosos submarinos depositados a partir
Intercalados a esses sedimentos finos, existem, de fluxos gravitacionais sedimentares (Middleton e
corpos de arenito, originados por fluxos gravita- Hampton, 1976), principalmente turbiditos. A es-
cionais. Denominados Arenito Namorado, eles são pessura desses depósitos alcança desde poucas
importantes reservatórios de hidrocarbonetos. A dezenas até centenas de metros. A textura dos se-
ocorrência desses turbiditos evidencia um aumen- dimentos clásticos abrange desde conglomerados
to da subsidência da plataforma e consequente in- até arenitos muito finos, comumente associados
cremento na movimentação salífera, que caracte- a sedimentos lamosos (pelágicos/hemipelágicos
riza a evolução da bacia a partir do Cenomaniano e/ou de correntes turbulentas diluídas de baixa
(Dias et al., 1990; Guardado et al., 1989). densidade), com depósitos subordinados de es-
Sobreposto às rochas do Grupo Macaé, posi- corregamentos e fluxos de detritos (Guardado et
ciona-se o Grupo Campos, composto por rochas al., 1989). Desenvolvem complexos de canais sub-
depositadas em ambientes proximais (Formação marinos formados por conjuntos de canais amal-
Emborê), marinhos distais (Formação Ubatuba) e gamados ou segregados espacialmente (Moraes
depósitos turbidíticos (Formação Carapebus). A et al., 2006). Os complexos de canais são comu-
ocorrência desses turbiditos deve-se a quedas re- mente confinados em cânions e/ou em calhas (tec-
lativas do nível do mar, associadas possivelmente tônicas, erosivas, entre outras). Em regiões com
a: a) reativação tectônica do embasamento, com redução significativa de gradiente, como em mi-
movimentações de blocos crustais na área da Serra nibacias, ou quando os sedimentos alcançam o as-
do Mar, b) subsidência térmica da bacia, c) criação soalho oceânico além do Alto Externo, é comum o
de condutos e minibacias associadas à movimen- desenvolvimento de complexos de espraiamento,
tação salífera e d) variações eustáticas globais (Dias aprisionados ou terminais, que são dominados por
et al., 1990). canais distributários e lobos (Oliveira et al., 2012).
A passagem do Grupo Macaé para o Grupo De forma subordinada, ocorrem complexos de re-
Campos, há 93 M.A., é caracterizada por discor- trabalhamento por correntes de fundo, que, em
dância erosiva bem marcada em quase toda a ba- geral, tendem a formar intervalos interlaminados,
cia, especialmente nas áreas proximais (Dias et al., comumente lamosos e intensamente bioturbados
1990; Guardado et al., 1989). (Moraes et al., 2007). O intervalo de tempo que
A Formação Emborê é caracterizada por con- abrange esses sedimentos se estende desde o Neo­
glomerados polimíticos e arenitos grosseiros tí- cretáceo, quando as condições de águas profundas
picos de depósitos de leques aluviais, além de foram estabelecidas, até o presente. A Formação
arenitos de contexto de praia, geralmente finos a Carapebus abrange os principais reservatórios de
médios, com estratificação cruzada e laminação hidrocarbonetos da Bacia de Campos, incluindo os
marcada por linhas de minerais pesados. Nas posi- campos gigantes de Roncador, Albacora, Albacora
ções de paleoborda de plataforma, desenvolveu-se Leste, Barracuda e o complexo Marlim, que abran-
uma plataforma carbonática, denominada Mem- ge os campos de Marlim, Marlim Sul e Marlim Les-
bro Siri, formada por bancos de algas vermelhas, te (Bruhn et al., 2003).
com predomínio de calcirruditos bioclásticos. Durante o Neomioceno, uma espessa cunha
A Formação Ubatuba é caracterizada por de- progradante, constituída de margas e folhelhos
pósitos finos típicos de sedimentação hemipelági- de ambiente de águas profundas, desenvolveu-se
ca, incluindo folhelhos e margas, que se apresen- na porção central da Bacia de Campos, dando a
tam ricos em foraminíferos e nanofósseis calcários, essa região o perfil convexo que caracteriza hoje
Geolog ia e G eomorfolog i a 9

sua fisiografia. Souza Cruz (1995) atribuiu a cons- quiescência tectônica. A partir de então, foram
trução dessa cunha à ação de correntes de fundo, depositados os sedimentos da Sequência Tran-
condicionadas pelas mudanças climáticas e paleo- sicional, com grande aporte de sedimentos silici-
ceanográficas que acompanharam a glaciação do clásticos nas áreas proximais e desenvolvimento
Continente Antártico. de carbonatos microbiais nos altos estruturais.
Com a implantação de crosta oceânica, o ambiente
evoluiu para um regime de golfo hipersalino, que
4. Síntese da Evolução Geológica experimentava comunicações esporádicas com o
A Bacia de Campos, como as demais bacias da oceano aberto, gerando, como resultado, a depo-
margem brasileira, foi consequência da ruptura do sição de rochas evaporíticas.
Supercontinente Gondwana, através de um pro- Essa morfologia de golfo evoluiu para condi-
cesso distensivo que teve início no Mesojurássico ções de mar franco, onde se estabeleceu, duran-
(Mizusaki, 2000; Mizusaki e Thomaz Filho, 2004). te o Albiano, um ambiente de sedimentação car-
O rifteamento resultou em uma estruturação de bonática com alinhamentos de bancos oolíticos e
falhas normais antitéticas e sintéticas, bem como oncolíticos balizando lagunas de carbonatos finos
em zonas de acomodação e falhas de transferên- micríticos e peloidais.
cia (Chang et al., 1992). O sistema de falhas gerado No Mesoalbiano, ocorreu intensa instabiliza-
configurou a compartimentação do embasamento ção gravitacional da camada de sal (halocinese),
Pré-Cambriano em uma série de horsts e grábens, resultando em sua fluência para leste, devido ao
com padrão estrutural de blocos rotacionados, in- basculamento da bacia em direção offshore. Na
formalmente chamado estilo dominó. A propaga- área mais proximal, a halocinese segmentou a ca-
ção do rifteamento atingiu a Bacia de Campos no mada contínua de sal original, gerando acumu-
Eocretáceo, mais precisamente no Hauteriviano, lações com forma de almofadas de sal. As almo-
como evidenciado pelos basaltos da Formação Ca- fadas de sal induziram a formação de falhas de
biúnas, cujas idades estão em torno de 135 a 124 crescimento lístricas que ocasionaram estruturas
M.A. Nesse contexto tectônico, foram depositados do tipo rollover, o que propiciou o crescimento
os sedimentos da Sequência Rifte, com predomínio de espessos bancos carbonáticos. Na área distal,
de clásticos aluviais e deltaicos nas porções pro- o deslocamento do sal arrastou consigo pacotes
ximais, depósitos lacustres argilosos preenchendo carbonáticos sobrepostos, dando origem às es-
os baixos deposicionais e barras bioclásticas reco- truturas do tipo jangadas.
brindo os altos mais isolados. A partir do Andar No Cenomaniano, uma subida global do nível
Buracica (Neobarremiano), o processo de subsi- do mar (Haq et al., 1987) ocasionou o afogamento
dência foi intensificado, formando baixos depo- da plataforma carbonática, resultando na deposi-
sicionais mais profundos. O ambiente sedimentar ção de uma sucessão de calcilutitos, margas e are-
evoluiu de lacustre de água doce, durante o Andar nitos subordinados.
Buracica, para lacustre de água salobra a salgada Do Turoniano em diante, as condições de mar
no Andar Jiquiá (Eoaptiano). Nos baixos dessa fase aberto se estabeleceram definitivamente, predo-
rifte, foram depositadas as principais camadas de minando, desde então, a deposição de folhelhos
rochas geradoras de hidrocarbonetos da bacia, os e margas. Turbiditos foram depositados preferen-
folhelhos Buracica e Jiquiá. Os altos estruturais fo- cialmente durante os recorrentes rebaixamentos
ram sítios deposicionais predominantemente para do nível do mar.
coquinas, ricas em pelecípodes (Dias et al., 1990). Um importante evento magmático subalcalino
A partir do Andar Alagoas (Aptiano), cessou a alcalino ocorreu no sul da bacia entre 83 e 45
a subsidência mecânica, tendo início a subsidên- M.A., resultando em corpos intrusivos de diabásio
cia térmica, processo que resultou em relativa e extrusivos de basaltos, assim como em brechas
10 P r inc ipa is aspectos da geolog ia reg i onal da B ac i a de Campos

e hialoclastitos. Sua ocorrência é bem marcante inflexionando para norte-noroeste a partir do


próximo ao Alto de Cabo Frio, onde os pacotes de Campo de Roncador. Essa borda externa apre-
rochas vulcânicas interferem decisivamente na es- senta deslocamentos leste-oeste ocasionados
truturação de trapas de petróleo. por zonas de transferência que se instalaram
A partir do Eoceno, ocorreu significativo aumen- para acomodar a distensão diferenciada entre
to no aporte sedimentar e a consequente prograda- os diversos blocos. Esses ajustes resultaram
ção dos ambientes deposicionais proximais para o em um padrão escalonado dos segmentos da
interior da bacia. Entre as causas desse maior influxo falha de borda externa. A intensa atividade de
de sedimentos, está a reativação da área fonte, com falhas na fase rifte ocasionou diversos grábens
a elevação da Serra do Mar a partir do Neocretáceo/ assimétricos, preenchidos por depósitos conti-
Paleogeno (Ribeiro et al., 2011) e a implantação, a nentais (aluviais e lacustres), e é atestada pela
partir do Eoceno, da linha de grábens interiores de divergência dos refletores sísmicos em direção
São Paulo, Taubaté, Resende e Baixo Paraíba do Sul ao depocentro, demonstrando preenchimento
(Zalán e Oliveira, 2005), que permitiram a captura sedimentar controlado pela atuação das falhas.
de uma drenagem de maior porte e seu direciona- No clímax da fase rifte, ocorreu intenso proces-
mento para a Bacia de Campos, além da umidifica- so exalativo através de fumarolas vulcânicas, o
ção do clima. Nesse contexto, ocorre a deposição que enriqueceu o lago em sílica e magnésio,
de importantes sistemas turbidíticos, especialmente tornando-o alcalino e propiciando a formação
no Eoceno, Oligoceno e Mioceno. Finalmente, no de argilas talco-estevensísticas. Nos depocen-
Neomioceno ocorreu a deposição de uma espes- tros formados, os folhelhos lacustres ali depo-
sa cunha de sedimentos progradantes em águas sitados vieram a se tornar as principais rochas
profundas, condicionada pela ação de correntes de geradoras de hidrocarbonetos da bacia.
fundo, que alterou a morfologia da parte central da 2) Tectônica Salífera – Os falhamentos ligados
bacia para sua forma atual. ao fluxo do sal tiveram início já durante o Al-
biano, e se propagaram até o Coniaciano em
águas rasas, até o Maastrichtiano em águas
5. Períodos de Maior Atividade profundas e até o Mioceno em águas ultrapro-
de Falhas fundas, de acordo com o deslocamento do sal
Os períodos mais marcantes de atividade sís- em direção offshore e os respectivos domínios
mica na Bacia de Campos foram: de almofadas, domos e barreiras de sal. Esse
processo foi acionado pela combinação da car-
1) Fase Rifte – Predomínio de falhamentos em ga sedimentar e o adernamento da bacia para
estilo dominó, configurando uma sucessão de leste em decorrência da subsidência térmica. A
horsts e grábens alinhados dominantemen- halocinese gerou falhas lístricas acopladas nas
te no sentido sudoeste-nordeste (Figura 2). próprias almofadas de sal e foi a principal con-
A compartimentação do rifte discrimina duas troladora da migração do óleo gerado na se-
zonas de charneira, que podemos denominar ção rifte para a seção marinha, por configurar
borda interna e borda externa. A falha de bor- as chamadas “janelas de sal”, que funcionaram
da interna, que condiciona o flanco oeste do como chaminés para a migração do óleo de
Baixo de São Tomé, foi fortemente reativada no origem lacustre (Figura 3).
Cenozoico. A falha de borda externa do rifte 3) Tectônica Paleógena – Durante o Paleoceno e o
funciona como a verdadeira charneira Atlânti- Eoceno, o intenso magmatismo que se instalou
ca, balizando o flanco oeste do profundo Bai- na porção sul da bacia, registrado por diversas
xo Externo. Ela apresenta direção preferencial construções vulcânicas, derrames, soleiras e di-
sudoeste-nordeste na porção sul da bacia, ques, ocasionou uma série de falhamentos, bem
Geolog ia e G eomorfolog i a 11

como reativou alguns preexistentes. Durante es- c) a atividade sísmica recente, embora signi-
se evento foi gerado o marco estratigráfico in- ficativa, é relativamente fraca, com baixo
formalmente conhecido como Pebbly. Trata-se risco para romper o sistema de equilíbrio
de uma camada de diamictitos rodolíticos, pro- dos hidrocarbonetos trapeados nas diver-
venientes da destruição, por abalos sísmicos, da sas acumulações da Bacia de Campos. Os
borda da plataforma rica em bioconstruções for- estudos dos mecanismos focais de eventos
madas por extensas colônias de algas vermelhas. sísmicos (Assumpção, 1998), da ovalização
4) Tectônica Neógena – Principalmente no Meso- de poços (Lima et al., 1997) e de testes de
mioceno, diversas falhas foram reativadas, atin- fraturamento hidráulico (Lima Neto e Be-
gindo o fundo do mar de então, podendo ter neduzi, 1998), citados em Cobbold et al.
sido esse o grande evento de dispersão e exsu- (2001), atestam que o regime de estresse da
dação de óleo na bacia. A porção superior da margem continental leste-sudeste brasilei-
maioria dessas falhas foi posteriormente trun- ra, em profundidade, é de compressão. Isso
cada pela erosão generalizada que conformou reforça a noção de que as falhas com raiz
a discordância do Mioceno Superior (“Marco profunda, conectadas aos diversos reserva-
Cinza”), por volta de 10 a 8 M.A. tórios de hidrocarbonetos, encontram-se
Atualmente, essas falhas que atingem a fechadas, não atuando como dutos favorá-
seção sedimentar mais superficial têm baixo veis à exsudação.
potencial para vazamento de hidrocarbonetos
por três motivos: Isso explica por que, apesar de armazenar um
a) as porções mais rasas dessas falhas encon- imenso volume de óleo em reservatórios porosos,
tram-se geralmente imersas em argilitos as exsudações naturais na bacia constituem uma
higroscópicos e muito plásticos, que aju- exceção.
dam a selar rapidamente o plano de falha
logo após qualquer eventual reativação;
b) o truncamento erosional do ápice dessas Agradecimentos
falhas ocasionado pela discordância do Agradecemos ao geólogo Tiago Agne de Oli-
Neo­ mioceno está recoberto por argilitos veira, pelas valiosas informações sobre os turbidi-
compactados por deformação (slumps e de­ tos da Bacia de Campos. Aos revisores, agradece-
pósitos de debris flows), que tamponam o mos os comentários que muito contribuíram para
topo dessas falhas; o aprimoramento deste trabalho.

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2
Geomorfologia e sedimentologia
da plataforma continental

Alberto Garcia de Figueiredo Jr., Carlos Eduardo Pereira Pacheco,


Sérgio Cadena de Vasconcelos e Fabiano Tavares da Silva

Palavras-Chave

Bacia de Campos; plataforma continental; Geomorfologia; Sedimentologia; vales incisos; lineamentos


carbonáticos

Resumo

O capítulo considera, de forma condensada, as características oceanográficas, oscilações glacioeustáti-


cas e distribuição sedimentar, como subsídio para explicar a morfologia e a sedimentologia presentes na
plataforma continental da Bacia de Campos.
São apresentados mapas da granulometria, teor de carbonato de cálcio e morfologia da plataforma. A
plataforma apresenta dois domínios bem distintos: um terrígeno e outro carbonático. O sedimento terrí-
geno predomina na plataforma interna, ao passo que o carbonato, na plataforma externa. O domínio car-
bonático é ampliado até a plataforma interna a norte do Cabo de São Tomé. Na plataforma, o sedimento
de maior granulometria é carbonático, enquanto os finos são siliciclásticos.
A plataforma continental é dividida em áreas com as mesmas características geomorfológicas, conside-
rando rugosidade, formas de fundo e faciologia. A morfologia apresenta relação intrínseca com a faciolo-
gia. Os fundos carbonáticos tendem a ser mais rugosos e preservam melhor os paleocanais, enquanto os
sedimentos siliciclásticos apresentam uma morfologia mais suavizada.

Figueiredo Jr., A.G., Pacheco, C.E.P., Vasconcelos, S.C., Silva, F.T. 2014. Geomorfologia e sedimentologia da plataforma continental.
In: Kowsmann, R.O., editor. Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 13-32.
14 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

1. Introdução a evolução e a dinâmica da plataforma continental e


Em geral, os processos de sedimentação em talude. Do ponto de vista aplicado, o mapeamento
ambientes de plataforma estão relacionados à dis- da distribuição sedimentar com a identificação dos
ponibilidade de sedimento, ao regime hidrodinâ- processos atuantes compõe um conjunto de infor-
mico e a eventos de variação do nível do mar (Ni­ mações úteis para a avaliação da ecologia da biota
ttrouer et al., 2007, Campos e Dominguez, 2010). A marinha, para a escolha de rotas e instalações de
interação entre esses fatores acaba imprimindo di- obras de engenharia e para a pesca.
ferentes padrões de sedimentação na plataforma: Os dados de batimetria desta pesquisa, em sua
na porção interna e média, concentram-se os de- grande maioria, provêm das folhas de bordo da Di-
pósitos sedimentares modernos, ao passo que em retoria de Hidrografia e Navegação (DHN) da Ma-
sua porção externa concentram-se os depósitos rinha do Brasil e também de levantamentos de sís-
sedimentares relictos e carbonáticos (Pinet, 2009). mica 3D da Petrobras. Os dados de sedimentologia
O volume de sedimento depende da taxa de denu- foram obtidos no Banco Nacional de Dados Ocea-
dação subaérea, a qual aumenta com a elevação nográficos (BNDO) da Marinha do Brasil, no Banco
do terreno e em função do clima. A produção de de Dados Ambientais para a Área Petrolífera (Bam-
sedimento é maior nas regiões de chuvas mode- petro – http://www.bampetro.on.br), bem como ao
radas, ao passo que nas áreas de chuvas intensas longo do Projeto Habitats – Heterogeneidade Am-
a cobertura vegetal suprime a erosão. Nas áreas biental da Bacia de Campos.
áridas, não há vegetação para impedir a erosão do
terreno, mas também não há rios suficientes para 2. Bacia de Campos
transportar sedimento para os oceanos. De forma
A plataforma continental da Bacia de Campos
semelhante, bacias de drenagem de pequenas di-
está delimitada pelas isobatimétricas de 10 e 150 m
mensões e baixa declividade também não aportam
(Figura 1). A bacia localiza-se na porção sudeste do
grande quantidade de sedimento aos oceanos.
Brasil, ao longo da costa norte do estado do Rio de
Nesses casos de baixa taxa de aporte sedimentar,
Janeiro, prolongando-se para o sul do estado do Es-
ocorre favorecimento ao desenvolvimento da sedi-
pírito Santo, sendo delimitada estruturalmente pelo
mentação carbonática.
Alto de Cabo Frio (23° S) ao sul e pelo Alto de Vitó-
A entrada de sedimento nas bacias e sua de-
ria (20,5° S) ao norte, totalizando uma área estimada
posição dependem do equilíbrio entre a taxa de
em 100.000 km2 (Winter et al., 2007).
disponibilização de espaço para acumulação e a
taxa de sedimentação, na qual três situações são
possíveis (Swift e Thorne, 1991): a) haver equilí- 3. Aspectos meteorológicos e
brio entre as taxas; b) a taxa de disponibilização oceanográficos
de espaço superar a taxa de aporte de sedimento, A circulação atmosférica na Bacia de Campos é
e nesse caso ocorre uma transgressão marinha; e controlada pelo Anticiclone Subtropical do Atlântico
c) a taxa de aporte de sedimento suplantar a taxa Sul (ASAS) e pela passagem de frentes frias associa-
de disponibilização de espaço, e nesse caso ocorre das a um anticiclone polar. Essas forçantes criam um
uma regressão marinha. padrão de circulação bimodal com direções prefe-
A distribuição do sedimento e sua granulome- renciais nos quadrantes nordeste associado a mas-
tria dependem do clima, da proximidade da fonte sas de ar quente e de direções sul, sudeste e sudo-
e da energia de ondas e correntes que irão moldá- este associados à entrada de frentes frias (Pianca et
-los ao fundo de acordo com os vários processos al., 2010; Pinho, 2003; Souza, 1998; Pereira, 1998).
hidrodinâmicos (Nittrouer et al., 2007). Para Machado (2009), existe elevada frequên­
Dessa forma, estudos sedimentológicos e geo- cia de alturas de ondas da ordem de 1 a 2 m entre
morfológicos podem ser utilizados para caracterizar os quadrantes norte e sul, o que caracteriza a altura
Geolog ia e Geomorfolog i a 15

42° O 40° O 38° O


21° S

21° S
Rio Paraíba
do Sul

Cabo de
São Tomé

Cabo
Frio
24° S

24° S
N
LIMITES DA BACIA DE CAMPOS

0 30 60 120 BATIMETRIA OBTIDA PELA SÍSMICA 3D


km
DATUM: SIRGAS 2000 BATIMETRIA DE FOLHAS DE BORDO (DHN)

42° O 40° O 38° O

Figura 1. Mapa de localização da Bacia de Campos. Batimetria NGCD/NOAA (www.ngcd.noaa.gov/mgg/global) e


topografia do continente SRTM/ CGIAR-CSI (www.srtm.csi.cigiar.org/SELECTION/InputCoord.asp)

de ondas predominantes para a região. As alturas de clima de ventos fracos, com direção predominante
2 a 3 m apresentam maiores frequências nos qua- proveniente do quadrante nordeste. Essa preferên-
drantes norte-nordeste, ao passo que os períodos cia de sentido vem acompanhada de ventos que se
médios observados se concentram entre 6 a 8 s para originam nos quadrantes norte e leste, e totalizam
o quadrante nordeste e 8 a 10 s para o quadran- 65% dos ventos observados. As velocidades pre-
te sudeste. As ondas do quadrante sudoeste pos- dominantes desses quadrantes variam entre 4,0 e
suem alturas médias de 1 a 2 m e de 3 a 5 m, apre- 6,0 m.s–1, sendo que as maiores velocidades médias
sentando os maiores períodos (10 a 12 s). se concentram nos quadrantes norte e nordeste,
Pinho (2003) e Carvalho (1998) descrevem a com velocidades médias de 8,32 e 8,22 m.s–1, res-
região da Bacia de Campos com características de pectivamente.
16 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

Os ventos de sul e sudoeste são associados à dos sistemas frontais polares e sua migração em
passagem de ciclones extratropicais. À medida que o direção ao Equador; (3) o resfriamento das massas
ciclone evolui, os ventos de sudoeste giram para su- de água superficiais; (4) o resfriamento e a ressur-
deste, passando para as direções norte ou noroeste gência das massas de água superficiais ao longo
(Pinho, 2003), apresentando velocidades médias de 5 das zonas de divergência equatoriais; (5) a inten-
a 7 m.s–1 e valores de alturas médias de ondas de 3,6 sificação da circulação de fundo; (6) o menor acú-
m com períodos médios de 9,5 s (Machado, 2009). mulo de vasas calcárias no Atlântico Sul e (7) a mo-
A Corrente do Brasil exerce sua influência na pla- dificação da fauna planctônica (Kowsmann e Costa,
taforma da Bacia de Campos nas porções da plata- 1979; Kowsmann et al., 1978).
forma externa a partir da isóbata de 100 m, aumen- A morfologia observada nas plataformas conti-
tando sua influência no talude superior a partir da nentais exibe registros sedimentares provenientes
isóbata de 200 m, região onde apresenta maior com- de oscilações glacioeustáticas ocorridas no Quater-
petência de transporte (Della Giustina, 2006). Para nário. Nesse período, os eventos que mais influen-
Assireu (2003), as forçantes oceanográficas que exer- ciaram a morfologia e a cobertura sedimentar atual
cem influência na região incluem ondas aprisionadas desses ambientes foram a regressão ocorrida no fi-
à costa, correntes de talude, correntes de contorno, nal do Pleistoceno Superior e o decorrente proces-
vórtices, transporte de Ekman, marés e correntes so transgressivo já no Holoceno (Kowsmann e Cos-
inerciais e ondas internas. Essa complexidade de in- ta, 1979). Partindo desse princípio, diversos autores
terações entre fatores atmosféricos e oceanográficos concentraram suas investigações no estudo de
influencia de maneira direta a modelagem da mor- geo­morfologia, sedimentologia e estratigrafia des-
fologia de fundo da plataforma da Bacia de Campos. ses ambientes, correlacionando esses parâmetros
com as flutuações eustáticas (últimas glaciações) e
a dinâmica sedimentar moderna, conforme obser-
4. Geomorfologia e sedimentologia vamos nos trabalhos de Kowsmann et al. (1977);
da plataforma continental Kowsmann e Costa (1979); Zembruscki (1979); Cor-
Por volta de 20.000 anos A.P., a regressão al- rêa et al. (1980); Dias et al. (1982); Brehme (1984);
cançou seu clímax, expondo vastas áreas de plata- Ponzi et al. (1990); Corrêa (1996); Castaños (2002);
forma no mundo. Esse evento global é descrito por Artusi (2004); Figueiredo Jr. e Tess­ler, (2004); Fi-
vários autores, a exemplo de Wright et al. (2009), gueiredo Jr. e Madureira (2004); Lopes (2004); Della
que apresentam uma compilação baseada na ra- Giustina (2006); Simões (2007); Cetto (2009); Maya
zão isotópica 18O/14C obtida em registros fósseis et al. (2010); Pacheco (2011), entre outros.
de corais soerguidos na Nova Guiné, em Barbados, Na margem continental brasileira, o último
nas Ilhas de Araki, em conjunto com informações evento regressivo foi responsável pela exposição
preexistentes dos trabalhos de Chappell e Shackel- da plataforma a uma intensa erosão. Essa super-
ton (1986), Fairbanks (1989), Bard et al. (1990), Sha­ fície plana foi dissecada por vales fluviais que de-
ckelton (2000), Chappell (2002), Cutler et al. (2003), positavam seus sedimentos diretamente no talu-
Siddall et al. (2003), Raymo et al. (2004), Hodell et de (Kowsmann e Costa, 1979). Essa sedimentação
al. (2003) calibrados para a margem continental de também possibilitou o estabelecimento de um
New Jersey (EUA). Segundo esses autores, o mar sistema regressivo progradante pleistocênico so-
esteve por volta de 100 a 130 m abaixo da posição toposto aos depósitos biodetríticos. Estes, por sua
atual na porção norte do Oceano Atlântico. vez, se formaram a partir do processo erosivo que
Dentre os impactos que esse fenômeno oca- teve início com a fase transgressiva subsequente
sionou sobre os sistemas oceânicos, podemos ci- que desgastou a superfície pleistocênica, forman-
tar: (1) a elevação das taxas de sedimentação terrí- do em algumas porções da plataforma depósitos
gena; (2) o aumento do gradiente térmico ao longo de linha de praia (Kowsmann et al., 1978).
Geolog ia e G eomorfolog i a 17

5. Materiais e Métodos com uma resolução de 50 m e os dados de bati-


metria da sísmica 3D foram interpolados com uma
5.1. Tratamento dos dados de batimetria
resolução de 10 m. Os modelos digitais de terreno
A base de dados utilizada é composta de da-
gerados foram integrados com o objetivo de gerar
dos de batimetria oriundos de folhas de bordo pro-
um mapa batimétrico regional da plataforma con-
duzidas pela Diretoria de Hidrografia e Navegação
tinental da Bacia de Campos (Figura 2).
(DHN) da Marinha do Brasil e de informações com-
piladas no Bampetro (Banco de Dados Ambientais 5.2. Tratamento dos dados sedimentológicos
para a Área Petrolífera). Esses dados formaram a As informações utilizadas para a geração dos
principal fonte de informações batimétricas em- mapas de granulometria e de teor de carbonato
pregadas neste estudo, uma vez que recobrem re- foram obtidas junto ao banco de dados do Bam-
gionalmente a plataforma continental da Bacia de petro e bases de dados da Petrobras. Dentre os
Campos (Figura 1). Além dessa base de dados, fo- atributos extraídos das bases de dados, foram se-
ram utilizados dados de batimetria extraídos de sís- lecionadas as coordenadas geográficas da coleta, a
mica 3D fornecidos pela Gerência de Geologia Mari- descrição do sedimento superficial, as tenças (des-
nha (Petrobras/E&P-SERV/US-SUB), em Macaé. crição sumária do sedimento) e a granulometria.
A elaboração da base cartográfica foi reali- Para a análise do teor de carbonato, foram utiliza-
zada em um ambiente de sistema de informação dos, além das coordenadas geográficas, dados do
geográfica (SIG), no qual todas as bases de dados percentual de carbonato obtidos em laboratório, a
foram padronizadas no sistema de projeção UTM descrição das tenças, obedecendo à classificação
zona 24S, Datum SIRGAS 2000. Para a composição de Dias (1996) modificada de Larsonneur (1977).
do Modelo Digital do Terreno regional (cobertura Para a geração de informações sobre as fácies
total da plataforma continental da Bacia de Cam- sedimentares, foram utilizados 2.041 registros, dos
pos), foram utilizados aproximadamente 290.000 quais 1.774 provêm do Bampetro e 267 da Petrobras
registros de batimetria provenientes de folhas de (Tabela 1).
bordo. Destas, foram obtidas, em média, de duas Os dados de granulometria segundo o diagrama
a quatro cotas por km². Esses valores aumentam da classificação de Shepard (1954) podem ser distri-
conforme se aproxima do litoral, atingindo de seis buídos em 10 classes diferentes, de acordo com o
a dez cotas por km². Já as áreas com menor densi- percentual dos componentes principais: areia, lama
dade amostral por km² encontram-se ao norte da e cascalho. Todavia, tendo em vista a diversidade de
área de estudo, aproximadamente entre a foz do proveniência dos dados e a qualidade da informação,
Rio Paraíba do Sul (RJ) e Vitória (ES). Nessa região, optou-se por consolidar as 10 fácies em apenas três
a média de cotas foi inferior a uma cota por km². fácies principais: cascalho, areia e lama (Figura 3).
Os dados de batimetria extraídos das folhas de Vale ressaltar que, tendo em vista que essa pla-
bordo da Diretoria de Hidrografia e Navegação fo- taforma continental não possui cascalho siliciclás-
ram integrados aos dados de batimetria obtidos a tico, qualquer sedimento tipo cascalho encontrado
partir de sísmica 3D, para a região entre a platafor- será de natureza carbonática.
ma continental média e o talude superior, corres-
pondendo a mais de 800.000 registros, que, soma- Tabela 1. Distribuição de amostras de sedimentos
dos às informações de folhas de bordo, totalizam segundo classificação simplificada de Shepard (1954).
cerca de 1.090.000 cotas batimétricas.
Granulometria Quantidade
Por fim, esses dados foram interpolados no soft­
ware Surfer 9®, dando origem a um Modelo Digital Cascalho  270
Areia 1345
do Terreno (MDT), no qual os dados oriundos de
Lama  426
batimetria de folhas de bordo foram interpolados
18 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

180000 240000 300000 360000 420000

–10

–30
5
–1

00
–35

–2
0
–1
–2

95
–5

–1
–30
7680000

7680000
–65

5
Rio

–1

–90
Itapemirim
–1
5
5

–65
–1
Rio

–5

–40
Itabapoana

–25

–24
5
–5

–2

0
–25

–95
7600000

7600000
–45

–245
Rio Paraíba
do Sul

-28
5
–5

0
–3

–32
Lagoa
–20

0
Feia

-95
0 –75
–6

80
–10 –15
–5 –105 –2
5
–5

–25 –35 –17


0
7520000

7520000
–5

65
5
–8

–1
5
–6

–5
80

5
–4
–1
0
–6

45
–10

–1
55

Cabo 0
–7
–1
0
–1

Frio
0
–8
–15

0
–9
50

5
–5
–1

Lagoa de
Araruama
40

–100
7440000

7440000

–9
–1

0
–1 HIDROGRAFIA
15
60

ISÓBATAS INTERVALO
–1

DE 5 M
85
–1

0 5 10 20 30
70
–1

km
90
–145

UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S


–1
180000 240000 300000 360000 420000

Figura 2. Batimetria da plataforma continental da Bacia de Campos obtida a partir da junção de dados provenientes
de folhas de bordo e de sísmica 3D. Exagero vertical do Modelo Digital do Terreno de 300× para a batimetria prove-
niente de folhas de bordo e de 10× para o Modelo Digital do Terreno extraído de sísmica 3D.
Geolog ia e Geomorfolog i a 19

Os dados de teor de carbonato, por sua vez, Tabela 2. Distribuição das amostras de sedimento se-
foram classificados a partir do esquema de classi- gundo classificação simplificada de Dias (1996).
ficação de Dias (1996) modificada de Larsonneur
Teor de carbonato Quantidade
(1977) para a elaboração de cartas sedimentoló-
Litoclástico 849
gicas da margem continental brasileira. Essa clas-
Litobioclástico 120
sificação discrimina o sedimento de acordo com o Biolitoclástico  75
teor de carbonato e sua granulometria. Da mesma Bioclástico 311
forma, levando em consideração o limite amostral
dos dados, a classificação de Dias (1996) foi sim-
aleatória, mas forma conjuntos que diferenciam a
plificada apenas quanto a seu teor de carbonato.
plataforma interna da externa e a da porção sul da
Dessa forma, o sedimento foi classificado em lito-
área para a porção norte da área.
clástico para teores de carbonato inferiores a 30%,
litobioclástico para teores maiores que 30% e me-
6.1 Granulometria
nores que 50%, biolitoclástico para teores maiores
Quanto à distribuição em mapa, a areia predomi-
que 50% e menores que 70% e em bioclástico, para
na em toda a plataforma continental, principalmente
teores superiores a 70% (Figura 4).
a sul do Rio Itapemirim, sendo apenas localmente su-
As informações referentes ao teor de carbona-
perada por cascalhos e lama (Figura 5 A). A lama tem
to também foram obtidas junto ao Bampetro e à
maior incidência na região de Cabo Frio e na borda
Petrobras, totalizando 1.355 registros dos quais a
de plataforma continental, ao passo que os cascalhos
grande maioria, 849, possui valores de carbonato
aparecem com maior frequência na plataforma con-
inferior a 30%, seguido de sedimento com teor de
tinental externa e na porção norte da área.
carbonato acima de 70% (Tabela 2).

6.2 Teor de carbonato


6. Resultados A distribuição espacial das amostras demons-
A espacialização dos dados de granulome- tra predomínio do sedimento litoclástico, prin-
tria e do teor de carbonato permitiu uma visuali- cipalmente ao largo do Cabo de São Tomé e na
zação de como esses elementos são distribuídos parte sul junto a Cabo Frio (Figura 5 B). Na por-
na plataforma continental. Essa distribuição não é ção sul da plataforma, os sedimentos bioclásticos

Cascalho
100%
Bioclástico
CaCO3 > 70%

Cascalho
(10)

50% Litobioclástico Biolitoclástico


50%
30% < CaCO3 < 50% 50% < CaCO3 < 70%

Areia Lama
(1) (4) Litoclástico
CaCO3 < 30%

100% 50% 100%


Areia Lama
Figura 3. Distribuição da granulometria a partir da Figura 4. Percentuais de CaCO3 para classificação do se-
classificação simplificada de Shepard (1954). dimento segundo diagrama simplificado de Dias (1996).
20 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

180000 240000 300000 360000 420000

Cascalho
100%
(a)

Cascalho
(10)

50% 50%
7680000

7680000
Areia Lama
(1) (4)
Rio
Itapemirim
100% 50% 100%
Areia Lama

Rio
Itabapoana
7600000

7600000
Rio Paraíba
do Sul

Lagoa
Feia
7520000

7520000

Cabo
Frio

HIDROGRAFIA
Lagoa de
ISÓBATAS INTERVALO
Araruama
7440000

7440000

DE 5 M

CASCALHO

AREIA

LAMA

0 4 8 16 24

km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S

180000 240000 300000 360000 420000

Figura 5a. Distribuição dos dados sedimentológicos segundo classificação das amostras em cascalho,
areia e lama, a partir da classificação simplificada de Shepard (1954).
Geolog ia e Geomorfolog i a 21

180000 240000 300000 360000 420000

Bioclástico
(b)
CaCO3 > 70%

Litobioclástico Biolitoclástico
30% < CaCO3 < 50% 50% < CaCO3 < 70%
7680000

7680000
Litoclástico Rio
CaCO3 < 30% Itapemirim

Rio
Itabapoana
7600000

7600000
Rio Paraíba
do Sul

Lagoa
Feia
7520000

7520000

Cabo
Frio

HIDROGRAFIA

Lagoa de ISÓBATAS INTERVALO


Araruama
7440000

7440000

DE 5 M

BIOCLÁSTICO

BIOLITOCLÁSTICO

LITOBIOCLÁSTICO

LITOCLÁSTICO

0 4 8 16 24

km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S

180000 240000 300000 360000 420000

Figura 5b. Distribuição dos dados sedimentológicos considerando o teor de carbonato, segundo classi-
ficação simplificada de Dias (1996).
22 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

predominam na plataforma externa, ao passo que principalmente entre Cabo Frio e São Tomé (Zem-
na porção norte predominam em toda a extensão. bruscki, 1979; Pacheco, 2011).
A distribuição do sedimento litoclástico é coinci- Para Figueiredo Jr. e Madureira (2004), a co-
dente com a distribuição de areia e a do bioclástico bertura sedimentar da plataforma possui dois do-
com os cascalhos, demonstrando que o cascalho é mínios bem distintos: um terrígeno (litoclástico) e
de natureza carbonática (Figuras 5A e 5B). outro carbonático (bioclástico). No entanto, nesta
pesquisa de maior detalhe, observou-se um predo-
6.3 Integração da granulometria com teor mínio litoclástico, que recobre 63% da plataforma
de carbonato e morfologia interna e média. As fácies biolitoclásticas e litobio-
Os dados granulométricos gerados a partir da clásticas se concentram entre as plataformas média
classificação simplificada de Shepard (1954) e da clas- e externa, recobrindo aproximadamente 32% da
sificação modificada de Dias (1996) foram integrados área (Figura 6). O domínio terrígeno recobre áreas
à morfologia para que fosse possível associar o tipo próximas à linha de costa e algumas porções da
de sedimento à morfologia de fundo (Figura 6). A plataforma externa, onde se encontram localmente
morfologia foi representada de forma sombrea­da, ao interrompidos por lentes de lama paralelas ao con-
passo que a granulometria foi representada em cores torno da batimetria. Essas lentes de lama estão lo-
e o teor de carbonato em hachuras em um ambiente calizadas em sua grande maioria ao largo de Cabo
de sistema de informação geográfica. Frio. Já os cascalhos se concentram na plataforma
Esses dados integrados realçam o predomínio continental média e externa ao norte do Cabo de
do sedimento litoclástico principalmente na por- São Tomé e principalmente a norte de Itabapoana.
ção sul, no Cabo de São Tomé avança até a bor- A projeção da fácies lamosa de Cabo Frio em
da de plataforma e a norte se estende até o Rio direção à quebra da plataforma ocorre em função
Itapemirim. O sedimento litoclástico tem caráter das forçantes oceanográficas de nordeste e de su-
suavizado, com exceções dos bancos arenosos e doeste que se alternam ao longo do ano. Da mes-
grandes paleocanais. ma forma, a fácies arenosa do Cabo de São Tomé
Os sedimentos bioclástico e biolitoclástico pre- também é projetada em direção à quebra da pla-
dominam na plataforma continental média e exter- taforma pelos já referidos agentes de transporte
na na porção sul e adentram até a plataforma in- hidrodinâmicos. A existência de fácies lamosa em
terna a norte do Rio Itapemirim. A morfologia é de Cabo Frio e arenosa em São Tomé está relacionada
caráter rugoso e de vales incisos bem preservados. ao tipo de sedimento disponível. A região de São
Tomé, ao longo de todo o Quaternário, foi abaste-
cida pelo Rio Paraíba do Sul, como pode ser evi-
7. Discussão denciado pela extensa planície deltaica formada
A plataforma continental da Bacia de Campos por esse curso fluvial. Diferentemente, a região de
apresenta largura máxima de 120 km em sua por- Cabo Frio não dispõe de grandes rios que possam
ção sul, entre Cabo Frio e Macaé. Em direção ao depositar areias e existe uma grande área lamosa.
norte, observa-se que a plataforma torna-se mais Segundo Dornelles (1993), Dornelles et al. (2001)
estreita e rasa, atingindo uma largura média de e Saavedra (1994), essa lama seria oriunda do ma-
42 km com profundidade de aproximadamente 60 m terial em suspensão, aportado pelo Rio Paraíba do
na quebra da plataforma ao largo da foz do Rio Sul e, em parte, da Baía de Guanabara.
Itabapoana. As declividades se apresentam suaves, Ao sul do Cabo de São Tomé, na porção interna
variando de 0 a 0,5 grau e os maiores gradientes da plataforma continental (isóbatas de 10 a 40 m),
encontram-se nos vales incisos na porção nor- os gradientes máximos não ultrapassam 0,5 grau e
te da área ao largo de Vitória. Os gradientes me- se encontram pontualmente localizados ao largo
nores que 0,1 grau predominam em toda a área, de Cabo Frio e de Búzios. Os declives entre 0,1 e
Geolog ia e Geomorfolog i a 23

180000 240000 300000 360000 420000

–100

–50
7680000

7680000
Rio
Itapemirim

–10

Rio –20
Itabapoana

–10 –20
7600000

7600000
Rio Paraíba
do Sul

Lagoa –50
Feia
–10
–100
–20
7520000

–50 7520000

Cabo HIDROGRAFIA
Frio ISÓBATAS

CLASSIFICAÇÃO FACIOLOGIA – SHEPARD


AREIA
Lagoa de CASCALHO
Araruama
7440000

7440000

LAMA

TEOR DE CaCO3 – LARSOUNNEUR


–100 LITOCLÁSTICO (CaCO3 < 30%)

LITOBIOCLÁSTICO (30 < CaCO3 < 50%)

BIOLITOCLÁSTICO (50 < CaCO3 < 70%)

BIOCLÁSTICO (CaCO3 > 70%)

0 48 16 24
km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S

180000 240000 300000 360000 420000

Figura 6. Granulometria e teor de carbonato do sedimento integrados à morfologia da plataforma continental.


24 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

0,25 grau na porção interna apresentam-se associa- carbonática que ocorre na forma de bancos car-
dos a ondas de areia e ao cúspide ao largo do Cabo bonáticos, lineamentos carbonáticos com direção
de São Tomé. Mais ao norte, observa-se a presença próxima ou paralela à atual linha de costa, linea-
de paleocanais entre a foz do Rio Itabapoana e Pon- mentos em forma de barras perpendiculares à li-
ta da Fruta. Estas feições podem apresentar declives nha de costa atual e patamares com relevo suave
que chegam a 0,7 grau (Pacheco, 2011). Os maiores (Figuras 2 e 6).
declives observados na plataforma continental ex- Os carbonatos são predominantemente cons-
terna variam entre 0,25 e 0,5 grau, se localizam entre tituídos pela associação de rodolitos/crostas de
Búzios e o Cabo de São Tomé e estão associados a algas calcárias e briozoários de formas coloniais
lineamentos de arenitos de praia, os quais se apre- variadas. Essas bioconstruções de algas vermelhas
sentam delimitados entre as isóbatas de 70 e 80 m podem ocorrer na forma de nódulos carbonáticos,
(Pacheco, 2011). Esses lineamentos têm sua origem que se constituem a partir de incrustações resul-
atribuída a arenitos de praia de um nível de mar tantes de laminações superpostas por sucessivos
mais baixo, tendo em vista sua semelhança morfo- episódios de crescimento. Esses carbonatos, por
lógica com os arenitos observados junto às praias sua vez, podem ser encontrados em suas formas
atuais. Feições semelhantes a esta, mas de dimen- livres, recebendo a denominação de rodolitos.
sões menores, foram descritas por Della Giustina Quando essas formas livres encontram uma super-
(2006) ao largo do Cabo de São Tomé. fície rígida a ela se fixam, desenvolvendo-se para
Ao norte da foz do Rio Itabapoana, a platafor- bancos carbonáticos (Pereira, 1998; Della Giustina,
ma é mais estreita, as bacias de drenagens conti- 2006; Cetto, 2009).
nentais são restritas e, portanto, contribuem com Neste setor da plataforma, observam-se dois
um pequeno aporte sedimentar. Nestes casos, a lineamentos carbonáticos de abrangência regio-
sedimentação carbonática predomina na platafor- nal. O primeiro ocorre entre as isóbatas de 120 e
ma interna (Figura 6). 150 m, ocupando a plataforma continental exter-
A partir das caracterizações morfométrica e na, e apresenta comprimento de aproximadamen-
sedimentológica, apresentadas no Modelo Digital te 160 km, que se estende do Cabo de São Tomé
do Terreno, e dos dados de sedimentologia e teor até Cabo Frio (Figura 8). O segundo lineamento
de carbonato, foi possível identificar feições como: ocorre entre as isóbatas de 70 e 80 m e apresen-
pontais arenosos; campos de ondas de areia; vales ta um comprimento aproximado de 110 km, que
incisos e lineamentos de arenitos de praia. Com o se estende para o sul, entre o Cabo de São Tomé
intuito de sistematizar a discussão, a área foi divi- e Macaé. Ambos lineamentos seguem orientação
dida em quatro setores (Figura 7). sudoeste-nordeste. A partir da interpretação do
O Setor 1 possui fundo rugoso, com lineamen- modelo sombreado, é possível observar que esses
tos e predomínio de carbonatos; o Setor 2 constitui lineamentos se encontram restritos a uma cota ba-
uma plataforma suavizada, em que predominam timétrica seguindo esse contorno regionalmente
sedimentos terrígenos; o Setor 3 consiste em uma (Pacheco, 2011).
área rugosa, com predomínio de cristas e linea­ Os bancos carbonáticos, os patamares carbo-
mentos carbonáticos com influência de aporte de náticos e as barras carbonáticas foram mapeados
material terrígeno; e o Setor 4, apresenta-se como por Della Giustina (2006), entre a Lagoa Feia e o
uma área rugosa, com vales incisos. Cabo de São Tomé, na plataforma continental ex-
terna. A partir da interpretação dos modelos de re-
7.1. Setor 1: Fundo rugoso com levo sombreado (Figura 8), observa-se que essas
lineamentos e predomínio de carbonatos feições se prolongam para o sul, principalmente
Este setor da plataforma possui seu relevo os bancos carbonáticos e os patamares carboná-
marcado por um padrão deposicional de origem ticos cujas ocorrências se verificam na plataforma
Geolog ia e Geomorfolog i a 25

180000 240000 300000 360000 420000

Setor 4
7680000

7680000
Rio
Itapemirim

Rio
Itabapoana
7600000

7600000
Rio Paraíba
do Sul
Setor 3

Lagoa
Feia
7520000

7520000
Setor 2

Setor 1

Cabo
HIDROGRAFIA
Frio
DIVISÃO DE SETORES
SETOR 1: FUNDO RUGOSO COM PREDOMÍNIO
DE CARBONATOS
Lagoa de
SETOR 2: PLATAFORMA SUAVIZADA COM
Araruama
7440000

7440000

PREDOMÍNIO DE SEDIMENTOS TERRÍGENOS

SETOR 3: ÁREA RUGOSA COM PREDOMÍNIO


DE CRISTAIS E LINEAMENTOS CARBONÁTICOS
COM INFLUÊNCIA DE APORTE DE MATERIAL
TERRÍGENO
SETOR 4: ÁREA RUGOSA COM VALES INCISOS

30 15 0 30

km
UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S

180000 240000 300000 360000 420000

Figura 7. Setores da plataforma continental da Bacia de Campos definidos a partir de suas características mor-
fológicas e sedimentológicas.
240000 300000 360000 420000 480000
–10
–20
át tos
os
on en
ic

–30
rb m

Patamares Carbonáticos Lineamentos Carbonáticos


7520000

7520000
Ca inea

–40
L

–50

os
át s
on o
ic
rb nc
Ca Ba
–60
os
on e
ic
rb ras
át
N

Ca ar
es , B
ar s
Lineamentos 0 3 6 12 18

m co
Carbonáticos

ta an
–70 km

Pa B
–80

7440000
7440000

–90
–100
Bancos
Carbonáticos
–110
ISÓBATAS INTERVALO
DE 10 M
–120 EXAGERO VERTICAL
–150 PLATAFORMA INTERNA 300X
–130 PLATAFORMA EXTERNA 10X
N
N
–140
0 4 8 16 24
Patamar 0 3 6 12 18 km
Carbonático km UTM SIRGAS 2000 – ZONA 24S
240000 300000 360000 420000 480000
Figura 8. Fundo do mar com superfícies rugosas representativas de bancos, lineamentos, barras e patamares carbonáticos.
Geolog ia e G eomorfolog i a 27

continental externa, entre as isóbatas de 90 e 120 m, retrogradacionais de bancos desenvolvidos ao lar-


em todo esse setor (Pacheco, 2011). As barras car- go de cabos (cape shoal retreat massifs), com a su-
bonáticas não foram observadas na porção da pla- bida do nível de mar.
taforma continental ao sul da Lagoa Feia. Outras feições, anteriormente descritas por
Na plataforma continental externa entre Cabo Kows­mann et al. (1977), Zembruscki (1979) e Breh-
Frio e Búzios, observa-se a presença de um pata- me (1984) como sendo paleocanais soterrados do
mar carbonático de grande expressão, entre as isó- antigo Rio Paraíba do Sul que migram de sul para
batas de 90 e 100 m (Figura 8). norte, encontram-se bem marcadas no mapa som-
breado (Figura 9). Outra característica observada
7.2. Setor 2: Plataforma suavizada, com nesta porção está relacionada com o contorno da
predomínio de sedimentos terrígenos borda de plataforma continental, que é uma répli-
Este setor é o de maior abrangência na plata- ca do contorno da linha de costa atual na altura do
forma continental da Bacia de Campos, estenden- Cabo de São Tomé, evidenciando que os proces-
do-se desde a foz do Rio Paraíba do Sul, na plata- sos que modelaram esse relevo, a um nível de mar
forma continental interna e média, até Cabo Frio. 120 m abaixo do atual, ainda se encontram presen-
Essa morfologia se prolonga até a borda da plata- tes na plataforma continental da Bacia de Campos.
forma continental.
Ao largo do Cabo de São Tomé, observa-se 7.3. Setor 3: Área rugosa, com
que os declives de 0,25 grau possuem uma orien- predomínio de cristas e lineamentos
tação oblíqua entre os contornos batimétricos de carbonáticos com influência de aporte
10 a 30 m, tornando-se mais expressivos ao largo de material terrígeno
da Barra do Furado (Pacheco, 2011). Esses declives Este setor se localiza na plataforma continental
se encontram associados a ondas de areia e dunas externa a norte do Cabo de São Tomé e apresenta
com orientação de oeste-leste (Figura 9). Essas fei- aspecto rugoso com cristas carbonáticas (Figura 7).
ções, por sua vez, são compatíveis com as ondas Devido à proximidade da borda da plataforma
de tempestades vindas de sudoeste durante a pas- continental, as cristas carbonáticas são cortadas
sagem de frentes frias, descritas por Pinho (2003) e pelas drenagens das cabeceiras dos cânions Almi-
Machado (2009). rante Câmara, Itapemirim e São Tomé.
Ao largo do Cabo de São Tomé, entre as isóba- Com relação às características morfológicas
tas de 10 e 20 m, observa-se uma das feições mais deste setor, aproximam-se do padrão morfológi-
notáveis deste setor. A cúspide do Cabo de São co do Setor 1, em que predomina a sedimentação
Tomé apresenta um estreitamento dos contornos carbonática de borda de plataforma associada a
batimétricos, seguindo uma orientação leste-oeste um maior aporte de material terrígeno oriundo da
com leve pendência para nordeste (Figura 9). Es- plataforma interna e média.
sa feição se destaca no relevo da plataforma con-
tinental interna, apresentando comprimento de 7.4. Setor 4: Área rugosa com vales
aproximadamente 31 km, com gradientes que va- incisos
riam entre 0,25 e 0,5 grau em seu flanco sudeste Este setor localiza-se junto ao litoral e platafor-
e gradientes mais suaves (menores que 0,1 grau) ma continental interna e média a norte da foz do
em seu flanco noroeste (Pacheco, 2011). Essa fei- Rio Paraíba do Sul (Figuras 2 e 6). Tem caráter pre-
ção, por sua vez, foi descrita por Kowsmann et al. dominantemente rugoso e é cortado por vários va-
(1978) e Zembruscki (1979) com menor detalha- les incisos. A sedimentação na região é sobretudo
mento, sendo agora caracterizada com mais deta- carbonática, formada pela associação de rodolitos/
lhes. Este tipo de feição foi originalmente descrito crostas de algas calcárias e briozoários de formas
por Swift et al. (1972) e Swift (1973) como maciços coloniais variadas (Pereira, 1998; Cetto, 2009).
28 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

300000 360000

Paleocanal
7600000

7600000
Cúspide do Cabo
de São Tomé

Ondas
de Areia

–10

–20

–100
7520000

7520000
–50

0 4 8 16 24

km

300000 360000

Figura 9. Feições notáveis do Setor 2 da Bacia de Campos: ondas de areia, cúspide do Cabo de São Tomé
e paleocanal. Exagero vertical da plataforma interna 300X, UTM SIRGAS 2000, Zona 24S.
Geolog ia e G eomorfolog i a 29

Cetto (2009), ao fazer a interpretação dos pa- A partir do detalhamento dessa morfologia
leocanais de Itapemirim e Guarapari, associa-os associado à sedimentologia, foi possível compar-
a uma única bacia de drenagem de caráter re- timentar o ambiente de plataforma em quatro se-
gional que se desenvolveu a partir da Bacia do tores, que, por sua vez, apresentaram boa correla-
Rio Itapemirim, deslocando-se para nordeste. A ção entre um padrão de variação de rugosidade do
proximidade de áreas carbonáticas junto à cos- Modelo Digital do Terreno com as características
ta é observada pela alta rugosidade do terreno, sedimentológicas.
principalmente entre as isóbatas de 10 e 30 m. O No Setor 1, destacam-se os lineamentos carbo-
domínio do carbonato junto à costa é atribuído náticos nas isóbatas de 120 e 150 m, que apresen-
às pequenas bacias de drenagem implantadas no tam comprimento de aproximadamente 160 km,
Grupo Barreiras com rios de pequena carga sedi- e os identificados nas isóbatas de 70 e 80 m, com
mentar e também a uma plataforma continental 110 km de comprimento, ambos com orientações
estreita, e com um baixo gradiente, possibilitando sudoeste-nordeste. Estes, por sua vez, são indi-
o desenvolvimento dos carbonatos. Os vales inci- cativos de paleolinhas de praia que resistiram ao
sos, por sua vez, permanecem preservados, pois processo transgressivo que se desenvolveu após
não foram soterrados pela carga sedimentar nem o Último Máximo Glacial (UMG). As característi-
arrasados durante a transgressão holocênica. cas faciológicas, morfológicas e evolutivas ob-
servadas no Setor 3 se aproximam das do Setor
1, onde atualmente predomina a sedimentação
8. Conclusões carbonática.
A utilização de uma grande densidade de da- No Setor 2, destaca-se a morfologia suavizada
dos batimétricos integrados a informações de gra- dos sedimentos litoclásticos na plataforma conti-
nulometria e teor de carbonato permitiu maior de- nental interna e média da região sul. Junto ao Cabo
talhamento e inferência das feições morfológicas e de São Tomé, o cúspide arenoso, as ondas de areia
sedimentológicas do fundo do mar da plataforma e dunas evidenciam a ação de uma hidrodinâmica
continental da Bacia de Campos, já conhecidas na vigorosa modelando o relevo.
literatura, bem como a descoberta de novas fei- No Setor 4, destacam-se os paleocanais de Ita-
ções até então não mapeadas. pemirim e Guarapari, onde se observa atualmen-
A integração dos dados de granulometria, teor te alto desenvolvimento de rodolitos/crostas de
de carbonato e morfologia mostrou que existe pre- algas calcárias e briozoários de formas coloniais
domínio de sedimento litoclástico na plataforma variadas. Essas paleodrenagens depositaram seus
continental interna e média. Na altura do Cabo de sedimentos diretamente sobre o talude na região
São Tomé, esse sedimento avança até a borda da Norte da plataforma da Bacia de Campos.
plataforma e a cabeceira de cânions. Em direção
norte, domina a plataforma continental interna e
média até o Rio Itapemirim. A partir deste ponto, Agradecimentos
há predomínio carbonático. Quanto à morfologia, Os autores agradecem à Petrobras pelo aces-
as áreas cobertas por sedimento litoclástico têm so aos dados de sísmica 3D obtidos na plataforma
caráter suavizado, com exceções para os bancos continental, o que possibilitou melhor entendimen-
arenosos e grandes paleocanais. to sobre as feições geomorfológicas de superfície.
Os sedimentos bioclástico e biolitoclástico pre- Esta iniciativa constitui um marco significativo e de-
dominam na plataforma continental média e exter- veria, na medida do possível, ser seguida por outros
na na porção sul e adentram até a plataforma in- setores.
terna, a norte do Rio Itapemirim. A morfologia é de À Marinha do Brasil, através da Diretoria de Hi-
caráter rugoso, com vales incisos bem preservados. drografia e Navegação (DHN), pela permissão de
30 Geomorfologi a e sedi mentolog i a da plataforma cont inental

acesso aos dados das folhas de bordo impressas Agradecimentos também ao Banco de Dados Am-
e em meio digital da Bacia de Campos, assim co- bientais para a Área Petrolífera (Bampetro), pe-
mo pela disponibilização de sua infraestrutura da la disponibilização dos dados de sedimentologia,
Seção de Fotocartografia para a realização das fo- e à Petrobras, pela cessão dos dados de Sísmica
tografias das mesmas. Também agradecemos ao 3D para a composição do Modelo Digital do Ter-
suporte recebido para acesso às informações do reno. Os autores agradecem ainda à estagiária do
Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO) Laboratório de Geologia Marinha (UFF/LAGEMAR)
e ao Arquivo Técnico do Centro de Hidrografia Ingrid Mello, pela ajuda na digitalização das folhas
da Marinha. À Seção de Planejamento e Contro- de bordo.
le do Arquivo Técnico, pela inestimável ajuda na Aos revisores, nossos agradecimentos pelas
reunião das informações das folhas de bordo. críticas e sugestões.

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3
Geomorfologia do talude
continental e do Platô de São Paulo

Anderson Gomes de Almeida e Renato Oscar Kowsmann

Palavras-chave

Geologia marinha; Geomorfologia submarina; talude continental; Platô de São Paulo.

Resumo

Este trabalho apresenta uma caracterização geomorfológica do fundo do mar do talude continental da Bacia
de Campos e do Platô de São Paulo adjacente. Essa caracterização teve como base um mosaico de dados bati-
métricos obtidos de 37 projetos sísmicos de 3D, 12 levantamentos de multibeam e batimetria de varredura por
interferometria de sonar, onde foi mapeado o refletor sísmico do fundo do mar (Schreiner et al., 2007/2008).
Mapas de curvas batimétricas, declividade e várias imagens de visualização 3D foram gerados para se
descrever a geomorfologia regional. A bacia foi dividida em três grandes áreas, com base na forma dos
perfis batimétricos e nas feições geomorfológicas características de cada uma delas.
Foram gerados, para os diversos cânions e feições de drenagem associadas, parâmetros morfométricos,
tais como comprimento, largura, desnível, declividade e sinuosidade.
Um mapa das falhas geológicas de raízes profundas e que atingem o fundo do mar mostra que os câ-
nions e a drenagem turbidítica associada estão relacionados com a tectônica salífera. Na parte distal da
bacia, as muralhas de sal, limitadas por falhas, modelam o fundo do mar.
Terraços e mounds de sedimentos foram esculpidos pela circulação oceânica. Cicatrizes e ravinas, con-
dicionadas pela topografia acentuada, foram geradas por processos gravitacionais, tais como deslizamen-
tos, escorregamentos e fluxos de detrito, e resultaram em depósitos com relevo irregular.

Almeida, A.G., Kowsmann, R.O. 2014. Geomorfologia do talude continental e do Platô de São Paulo. In: Kowsmann, R.O., editor.
Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 33-66.
34 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

1. Introdução dividido em talude superior, talude médio e talude


Neste capítulo será apresentada a caracteriza- inferior (Figura 1). Cada uma dessas partes do ta-
ção geomorfológica regional das principais feições lude continental foi definida com base nos valores
do fundo do mar da Bacia de Campos nas provín- de declividade do fundo do mar, portanto seus li-
cias fisiográficas do talude continental e do platô mites por vezes cruzam cotas batimétricas. Os limi-
marginal denominado Platô de São Paulo, que faz tes inferiores dos taludes superior, médio e inferior
parte da elevação continental ou sopé. podem ocorrer, respectivamente, entre as isóbatas
O estudo das feições geomorfológicas do fun- de: 400 e 600 m; 700 e 1.600 m; e 1.000 e 2.200 m.
do do mar apresentado neste capítulo foi realiza- O talude continental é a província fisiográfica
do com base em dados batimétricos obtidos de 37 da margem continental que apresenta os mais ele-
projetos sísmicos 3D, 12 levantamentos de multi­ vados valores de declividade do fundo do mar, que
beam e batimetria de varredura por interferometria variam de 0 a 25 graus (Figuras 2 e 3), sendo mais
de sonar, onde foi mapeado o refletor sísmico do comuns valores de 0 a 5 graus na região entre câ-
fundo do mar (Schreiner et al., 2007/2008). Este tra- nions e de cerca de 10 graus nas paredes dos câ-
balho de reconhecimento do fundo do mar tem sido nions. Nessa província, estão talhados os cânions
desenvolvido de forma sistemática pela Gerência de submarinos, que são as maiores feições erosivas do
Geologia Marinha (Petrobras/E&P-SERV/US-SUB) talude e também as principais vias de transporte
há mais de duas décadas, visando à realização de de sedimentos da plataforma para o Platô de São
estudos de risco geológico do fundo do mar para Paulo. Os estratos sedimentares sob o talude são
a instalação de equipamentos submarinos. As prin- constituídos predominantemente pelas sequências
cipais feições geomorfológicas do fundo do mar sedimentares da bacia depositadas durante a fa-
serão descritas conforme abordagem de Stow e se tectônica de deriva continental, onde, na par-
Mayall (2000) e mostradas em imagens de visuali- te central da bacia, destaca-se uma grande cunha
zação 3D, e seus processos de formação e controle com padrão de empilhamento em forma de sig-
estrutural serão brevemente apresentados. moides, depositada durante o Mioceno por cor-
Foram realizadas diversas medições de pa- rentes de contorno (Souza Cruz, 1995).
râmetros morfométricos para a caracterização Dentre as principais feições geomorfológi-
descritiva dos cânions e canais submarinos: com- cas do talude continental, destacam-se: cânions
primento, desnível e declividade das paredes, lar- do Grupo Nordeste (de norte para sul), compos-
gura do canal ou da calha (vale submarino) e si- to pelos cânions Almirante Câmara, com seu Sis-
nuosidade. tema Turbidítico Almirante Câmara (Machado et
al., 2004), Tabajara, Curumim, Grussaí, Itapemirim e
São Tomé (Brehme, 1984, Viana et al. 1998, 1999);
2. Geomorfologia Regional cânions do Grupo Sudeste (de norte para sul),
da Bacia de Campos composto pelos cânions Goitacá, Tupinambá, Te-
A Bacia de Campos está situada em contexto miminó, Tamoio e Tupiniquim; e cânions do Grupo
tectônico de margem passiva cuja fisiografia sub- Sul-Sudeste (Reis, 1994; Viana et al., 1999), além
marina é constituída pelas províncias: plataforma dos sistemas turbidíticos de Itabapoana e Marataí­
continental, talude continental, Platô de São Paulo zes (Hercos et al., 2005), na região norte da bacia.
e elevação continental ou sopé (Figura 1). Os cânions submarinos, juntamente com as
O talude continental está limitado a oeste pela diversas cicatrizes de remoção, estão associados
quebra da plataforma, que pode ocorrer entre as a processos de movimento de massa (Kowsmann
isóbatas de 110 e 200 m, e a leste pelo Platô de et al., 2002) que são amplamente controlados pela
São Paulo, cujo limite pode ocorrer entre 1.200 e geologia de subsuperfície e por correntes geostró-
2.300 m de profundidade. O talude continental foi ficas (Viana et al., 1998). No talude, esses processos
Geolog ia e Geomorfolog i a 35

41° O 40° O 39° O

ES

0
20
0 12,5 25 50

–1
km

00
21° S
21° S

21° S
DATUM: SIRGAS 2000

–1
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B

–2100
Norte
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22° S
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23° S
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l

0 8 00 DIVISÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA


70 –2
–2 PERFIL BATIMÉTRICO
0
0

–300
90

CONTORNO BATIMÉTRICO
–2

F –3000
0
30

PROVÍNCIAS FISIOGRÁFICAS
–1

0
0

0
–23

10 PLATAFORMA CONTINENTAL
–1
0
0
–15

TALUDE CONTINENTAL
00
–2 5

0 PLATÔ DE SÃO PAULO


24° S
24° S

24° S

800 00
–1700 –1 –2
0

SOPÉ CONTINENTAL
50
–2

41° O 40° O 39° O

Figura 1. Mapa batimétrico da Bacia de Campos com os limites das províncias fisiográficas e divisões geomorfo-
lógicas adotadas neste trabalho. O espaçamento entre as curvas batimétricas é de 50 m na plataforma continental
e de 100 m no talude continental e no Platô de São Paulo. Os perfis batimétricos A-B, C-D e E-F, característicos
das regiões norte, central e sul da bacia, respectivamente, são mostrados na Figura 5.
36 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

41° O 40° O 39° O

ES
21° S

21° S
RJ
22° S

22° S
23° S

23° S
DECLIVIDADE (°)

0–2

3–4

5–6
7–8

9–10

11–12
13–14

15–16

17–18
N
24° S

24° S

19–20
21–22
0 12,5 25 50
23–24
km
DATUM: SIRGAS 2000 25–83

41° O 40° O 39° O

Figura 2. Declividade (em graus) do fundo do mar da Bacia de Campos. Baseado no Modelo Digital do Terreno
de Schreiner et al. (2007/2008).
Geolog ia e G eomorfolog i a 37

ocorreram preferencialmente nos períodos de nível Na Figura 4, é possível observar relação direta
relativo de mar baixo (Kowsmann e Viana, 1992). entre o desnível das bordas dos cânions e a largura
A Tabela 1 mostra as informações morfomé- do vale submarino. Neste gráfico, o Cânion Itape-
tricas dos cânions da Bacia de Campos. Os câ- mirim se destaca com os mais elevados valores de
nions Almirante Câmara e Goitacá apresentam as desnível e largura. Em geral, as declividades da li-
maiores médias dos desníveis das paredes, com nha de talvegue são maiores nas proximidades da
335 m na margem direita e 360 m na margem cabeceira e tendem a diminuir gradativamente até
esquerda, respectivamente. O Cânion Itapemirim a desembocadura dos cânions.
apresenta maior largura média, com 8.047 m. Os A região do talude continental ao Platô de São
cânions Tupiniquim e São Tomé apresentam os Paulo da Bacia de Campos foi dividida, neste traba-
maiores valores médios de declividade da parede, lho, em três grandes regiões (norte, central e sul) com
sendo 20 graus na margem esquerda do primei- características geomorfológicas peculiares, conforme
ro e 16 graus na margem direita do segundo. O proposto por Almeida e Kowsmann (2011).
Cânion Tabajara apresenta maior valor médio de A região norte compreende a região desde o
declividade da linha de talvegue. O Cânion Almi- limite norte da bacia, no Arco de Vitória (Rangel
rante Câmara apresenta maior comprimento, com et al., 1994, e Winter et al., 2007), até um ponto
36.068 m. Os valores diferentes de desnível e de- de inflexão da linha da quebra da plataforma, vis-
clividade das paredes opostas dos cânions, que to em mapa, próximo da margem esquerda do
conferem assimetria ao perfil transversal, estão Cânion Almirante Câmara. Nessa região, o talude
relacionados, em alguns casos, ao controle es- apresenta perfil côncavo (Figura 5, perfil A-B). Na
trutural de falhas geológicas e, em outros, à se- região norte, o talude superior ocorre numa faixa
dimentação de correntes de fundo, neste último com elevada declividade, de 5 a 10 graus, subja-
caso, como observado nos cânions do Grupo Nor- cente à quebra da plataforma, cujo limite inferior
deste (Viana et al., 1999). pode ocorrer entre as isóbatas de 300 m e 500 m,
O Platô de São Paulo é um platô marginal ano- dependendo da parte do talude. O talude mé-
malamente mais elevado que as áreas adjacen- dio apresenta declividade predominante de 2 a 4
tes da elevação continental. O Platô de São Paulo graus, é subjacente ao talude superior e sua base
apresenta envergadura regional, com largura de pode ocorrer entre 600 m e 1.100 m, dependendo
120 a 250 km (Figura 1). Do ponto de vista regional, da parte do talude. O talude inferior é subjacente
é plano, com declividade de 0 a 2 graus (Figuras 2 a este último, apresenta declividade predominante
a 3B), cujas principais irregularidades são causadas de 1 a 2 graus e seu limite inferior está situado en-
pela halocinese. Na Bacia de Campos, os limites tre as isóbatas de 1.300 m e 1.600 m.
leste e oeste são gradacionais: a oeste, com o ta- A região central da bacia, adjacente à região
lude continental, e a leste com o sopé continental, norte, estende-se até o Cânion Goitacá e englo-
através de um desnível de cerca de 200 a 500 m ba a região do talude que apresenta perfil convexo
(Castro, 1992), às vezes ausente, em profundida- (Figura 5, perfil C-D). Fazem parte os cânions: Al-
des de 3.400 a 3.000 m (Zembruscki, 1979; Castro, mirante Câmara, Tabajara, Curumim, Grussaí, Ita-
1992). O Platô de São Paulo é constituído por um pemirim, São Tomé e Goitacá. Este último faz parte
pacote de sedimentos lamosos (de fluxos de detri- dos cânions do Grupo Sudeste e marca a transição
tos e contornitos) sobre a camada de sal. O limi- para a região sul. Na região central, o talude su-
te da província de sal (com ou sem escarpamento) perior ocorre numa faixa com declividade de 2 a
não é coincidente com o limite do platô em toda a 6 graus, subjacente à quebra da plataforma e com
sua extensão. Em algumas regiões, o limite do Pla- limite inferior podendo ocorrer entre 400 m e 600
tô de São Paulo está um pouco além, sendo esta- m, dependendo da parte do talude. O talude mé-
belecido pela sedimentação pós-sal (Castro, 1992). dio apresenta declividade predominante de 1 a 4
Tabela 1. Morfometria dos principais cânions submarinos da Bacia de Campos.
Desnível Desnível Largura Declividade Declividade Declividade Forma
da margem da margem do vale da margem da margem da linha do Lâmina d’água predominante
esquerda* direita* submarino* esquerda* direita* talvegue* Comprimento da cabeceira do perfil
Nome do Cânion (metros) (metros) (metros) (graus) (graus) (graus) (metros) (metros) transversal
Almirante Câmara 335 285 3.592 15 15 3 36.068   115 U
Tabajara 152 139 1.028 14 13 6 23.460   425 U
Curumim 187 120 2.004 16 15 2 9.492 1.014 U
Grussaí 187 144 2.754 12  9 3 25.629   320 U
Itapemirim 402 332 8.047  9 10 3 30.697   150 U
São Tomé 212 222 2.387 16 16 4 25.000   230 U
Goitacá 320 360 4.000  7 10 2 42.497   566 U
Tupinambá 240 230 4.870 10  7 2 35.820   508 U
Temiminó  85 100 2.760 12  9 2 30.974   863 U
Tamoio 157 147 4.037  6  5 3 30.320   875 U
Tupiniquim  90  70 1.600 20  7 2 27.593 1.002 U
*Representa dados médios
Geolog ia e G eomorfolog i a 39

A
200000

180000

160000

140000
No de celas

120000

100000

80000

60000

40000

20000

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Declividade (em graus)

B
1000000

900000

800000

700000
No de celas

600000

500000

400000

300000

200000

100000

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Declividade (em graus)
Figura 3. Histograma de declividade da região do talude continental (A) e do Platô de São Paulo (B) da Bacia de
Campos.

graus e está situado subjacente ao anterior, po- A região sul é limitada a norte pelo Cânion Goi-
dendo seu limite inferior ocorrer em profundida- tacá, apresenta perfil côncavo (Figura 5, perfil E-F),
des entre as isóbatas de 1.200 m e 1.600 m. O talu- engloba os demais cânions do Grupo Sul-Sudeste
de inferior apresenta declividade predominante de e se estende até o limite sul da bacia, no Arco de
6 a 12 graus, está subjacente ao anterior e sua base Cabo Frio (Rangel et al., 1994; Winter et al., 2007).
pode ocorrer entre 1.900 m ou 2.200 m. Na região sul, o talude superior ocorre numa faixa
40 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

600

500

400
+ ALMIRANTE CÂMARA
Desnível (m)

TABAJARA
300 – CURUMIM
+ GRUSSAÍ
+
+ ITAPEMIRIM

–++
200 + SÃO TOMÉ

–+––
GOITACÁ
TUPINAMBÁ
100 +
+

TEMIMINÓ
+

TAMOIO
TUPINIQUIM

+
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000
Largura (m)

Figura 4. Desnível e largura dos principais cânions submarinos da Bacia de Campos.

com declividade de 4 a 20 graus entre a quebra da controle estrutural, fez-se o mapeamento das fa-
plataforma e a profundidade de 400 m ou 500 m, lhas profundas que, provavelmente, chegam ao
dependendo da parte do talude. O talude médio fundo do mar. O mapeamento foi realizado nos
é subjacente ao talude superior, apresenta declivi- mesmos volumes sísmicos 3D do mosaico de ba-
dade predominante de 2 a 12 graus e a base pode timetria apresentado neste trabalho, onde foram
ocorrer entre as isóbatas de 700 m e 1.300 m. O talu- traçados os polígonos dos planos das falhas que
de inferior é subjacente ao talude médio e apresenta atingem e estão entre os horizontes sísmicos do
declividade predominante de 1 a 4 graus, e o limite fundo do mar e do Marco Azul (Oligoceno Inferior)
inferior pode ocorrer entre 1.000 m e 1.900 m. (Figura 7).
Os nomes das principais feições geomorfoló- Neste trabalho, as falhas mapeadas receberam
gicas do talude continental e do Platô de São Pau- a denominação Fundo do Mar/ Marco Azul. Tendo
lo estão assinalados no modelo digital do fundo em vista a baixa resolução vertical dos dados sísmicos
oceânico da Bacia de Campos de Schreiner et al. para feições de subsuperfície, essas falhas são consi-
(2007/2008), na Figura 6. deradas subaflorantes no fundo do mar. A maior par-
te dessas falhas está associada à tectônica salífera e
ancorada em cristas de estruturas do sal como diápi-
3. Controle Estrutural do Relevo ros e almofadas situa­das em subsuperfície.
Submarino Com algumas variações, existem duas direções
Além dos processos erosivos e deposicionais, predominantes para as falhas Fundo do Mar/Mar-
o revelo do fundo do mar tem sua forma contro- co Azul: nordeste-sudoeste e noroeste-sudeste.
lada por estruturas geológicas, tais como falhas Na região norte da bacia, entre o talude infe-
e domos de sal. Com o objetivo de representar o rior e o Platô de São Paulo, ocorre um conjunto de
Geolog ia e G eomorfolog i a 41

Talude
A Continental Platô de São Paulo B
500
0° 5°
0

–500

–1000 0°
–1500

–2000

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 110000

C Talude Continental Platô de São Paulo D


500
0° 1° 3°
0

–500

–1000
15°
–1500 1°

–2000

–2500
–3000
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 110000 120000 130000 140000

Talude
E Continental Platô de São Paulo F
500
0° 9°
0

–500

–1000

–1500

–2000

–2500

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 110000 120000

Figura 5. Perfis batimétricos da região norte (perfil A-B), da região central (perfil C-D) e da região sul (perfil E-F).
Esses perfis apresentam escala em metros, exagero vertical de 10x, mencionados na Figura 1.

falhas com direção nordeste-sudoeste, paralelas à Cânion Itapemirim, que tem suas paredes controla-
direção da linha de quebra da plataforma e asso- das por falhas com direção leste-oeste, que passam
ciadas aos grábens de crista de sal. Os cânions do para a direção nordeste-sudoeste e tendem a se
Grupo Nordeste sofrem forte controle estrutural juntar com as falhas noroeste-sudeste que contro-
de falhas Fundo do Mar/Marco Azul, em especial o lam as paredes do Cânion São Tomé. Essa trajetória
42 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

300 400 500


7700

7700
0
Rio

–20
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Marataízes

00
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–20
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Sistema Turbidítico Turbidítico
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Barreira de Sal

RJ

São João da Barra Depósitos


Platô de São Paulo
ul

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7600

7600
do Contorníticos
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Rio Para

Campos Sistema Turbidítico Tabajara


Almirante Câmara Curumim Cadeias de Nappes
Diapirismo
Grussaí
Debritos Salino
Cânions Maduros
do Grupo Central
L. Feia Cabo de São Tomé Itapemirim Leque Arenoso
Terraço Erosivo Turbidítico Minibacias

Quissamã

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7500

7500
Almirante Câmara
Talude
Mound Contornítico
Depósitos Lençol Arenoso
Contorníticos Contornítico Cadeias de Diapirismo
Salino

Zona de Desabamento –3000

Goitacá
Tupinambá
Temiminó
Tamoio Grupo de Cânions SE
Cânions do Grupo Tupiniquim Imaturos
Sul-Sudeste
os
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Bacia de Campos
00

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–2
7400

7400

Ondas de Sedimento
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0 10 20 30 40 50
km

300 400 500

Figura 6. Modelo digital da geomorfologia indicando as principais feições geomorfológicas do fundo do mar da
Bacia de Campos (Schreiner et al., 2007/2008).
Geolog ia e Geomorfolog i a 43

41° O 40° O 39° O

ES

0
20
–1
21° S

21° S
–50
–100

–2 2 0
0
–2300

–2100
–2200

7 00
–2
–2600
–4 0
0 –3
–6
00
00

–2 1 –2 5
00 00

–2 5
–2600
RJ

00
22° S

22° S
–2200

–3000
–2600
–2
00
0
–5

60 0
0
–2000

–2500 –25

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0
–1500

0
–23

70
–100
–2 9
00 –2
0

90
40

0 0 0
–1

–9
0
00
–1

00
–7
00 0 0
–8
90
10
–2

–1
20 0

–2700 –28
–2 60
0
00

0 0
–1
–5

0
00

0
00

0 0
–1

21 –260
–3

0 –
90
23° S

23° S
–100
0
–2
0
00

80
–2

–2

0
80
–1

0
40 FALHAS GEOLÓGICAS
–2 00
2 5

CONTORNO BATIMÉTRICO
8 00
–2
0
70

00
0

0
–3 0 0
–2

90

–2
–2
0
30
–1

00
–2 3

N
24° S

24° S

0 –1800 0 00
–170 –2
0

0 12,5 25 50
50

km
–2

DATUM: SIRGAS 2000

41° O 40° O 39° O

Figura 7. Mapa de falhas geológicas cujos planos atingem o fundo do mar e o Marco Azul (Oligoceno Inferior).
44 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

forma uma grande estrutura em forma de ferradu- que, no caso do Almirante Câmara, altera o curso
ra, a qual foi fielmente reproduzida através de uma em quase 90 graus em relação à direção de seu
modelagem física em caixa de areia por Cobbold cânion. A calha do Almirante Câmara, que atra-
e Szatmari (1991), com a utilização de silicone no vessa todo o Platô de São Paulo, coincide com a
lugar do sal e areia para simular a cunha de sedi- falha transcorrente que desloca o sal em direção
mentos progradantes do Mioceno (Figura 8). De- offshore, em um movimento semelhante ao de
monstraram claramente que o sistema de falhas em uma gaveta, em relação às áreas de sal vizinhas
forma de ferradura, que deu origem aos cânions, foi (Figura 9).
formado pela fluência do sal sob o peso da cunha Na parte distal do Platô de São Paulo, onde o
progradante. acúmulo de sal foi maior em razão da sua evacua­
Outro controle estrutural marcante do sal ção do talude por fluência, o relevo do fundo do
consiste no trend noroeste-sudeste das calhas mar responde praticamente à morfologia do sal.
dos sistemas Almirante Câmara e São Tomé, no Isso é bem ilustrado na Figura 10, onde as formas
Platô de São Paulo. Ambas as calhas no Platô de do topo estrutural do sal e a dos contornos bati-
São Paulo são delimitadas por muralhas de sal, métricos são coincidentes.
2 cm

A B
25 km

1
12,5

0
0

Figura 8. A) Falha em ferradura, formadora dos cânions no talude continental da região central da Bacia de Cam-
pos, representada pela linha azul tracejada; B) falha reproduzida no experimento de Cobbold e Szatmari (1991). A
progradação do talude sobre a camada de sal, que resultou em sua fluência radial, enrugamento e na formação
da falha em colher, é simulada aqui através de areia (parte escura) e silicone (parte clara).
Geolog ia e Geomorfolog i a 45

–42° –40° –38°

A Fa
lh aT
ra
n sc
or
–22° re

l
nte

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al

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–24°
Di ns
de xte

50 km
E

B
Al
m
ira
nt
e

m
ar
a


oT
om
é

15 km

Figura 9. Controle estrutural das muralhas de sal e das calhas dos sistemas turbidíticos. A) Topo estrutural do
sal, mostrando seu deslocamento em direção offshore em movimento de gaveta, através de falhas transcorrentes
(Figura modificada de Meisling et al., 2001 com nomenclatura segundo Waisman, 2008); B) Geomorfologia do
fundo do mar mostrando as calhas turbidíticas dos Sistemas Almirante Câmara e São Tomé e muralhas de sal
adjacentes, cujo trend é controlado pela falha a norte da Figura 9A. Notar o desvio sofrido pela calha do Almirante
Câmara em relação à direção de seu cânion.
46 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

Padrão de Coordenadas

HORIZONTE DO
TOPO DO SAL EM
TEMPO DUPLO (ms)
3602
Calha Distal do
Almirante Câmara

22°15’S
6953

33
60 Minibacias

3200

22°30’S
Muralha de Sal
0
00
336 em Subsuperfície
384 40
3520 80 0
36

22°45’S
N

13 km

39°45’O 39°30’O 39°15’O 39°00’O 38°45’O

Figura 10. Topo estrutural do sal (padrão colorido) com os contornos em tempo duplo do fundo do mar (em
preto) superpostos, no extremo leste da Bacia de Campos. Notar coincidência entre ambos, mostrando que, na
região distal da bacia, a topografia do sal controla o relevo do fundo do mar.

No Platô de São Paulo, na região sul da bacia, Almirante Câmara. Essa região apresenta carac-
um trend de falhas Fundo do Mar/Marco Azul de terísticas geomorfológicas que a diferenciam das
direção nordeste-sudoeste se intercala e avança outras regiões da Bacia de Campos, sendo as prin-
talude acima, controlando a evolução morfológica cipais: a forma côncava do perfil batimétrico, a pre-
dos cânions do Grupo Sudeste, em particular a for- dominância de extensos canais submarinos que se
ma de cotovelo do Cânion Goitacá. prolongam até o Platô de São Paulo e a grande
ocorrência de cicatrizes de remoção e ravinamento
do talude médio e inferior (Figura 11).
4. Geomorfologia do talude O valor médio da declividade do talude con-
continental e Platô de São Paulo tinental próximo à quebra da plataforma é de 7
da região Norte da Bacia de graus e diminui para 1 grau no Platô de São Pau-
Campos lo. Essas características podem ser atribuídas ao
A região norte do talude continental da Ba- predomínio de rochas carbonáticas na plataforma,
cia de Campos está limitada, a norte, pelo Arco tornando-a mais íngreme, e ao pouco aporte de
de Vitória e, a sul, pela borda esquerda do Cânion sedimento.
Geolog ia e Geomorfolog i a 47

Plataforma Talude Platô de


Continental Continental São Paulo

Cristas Falhadas de
Diápiros de Sal em
Subsuperfície

5 km
Complexo de Minibacias
Cicatrizes Leques de Depósitos entre Domos
N
Semicirculares de Movimento de
Massa Coalescentes

Figura 11. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região norte da Bacia de Cam-
pos (exagero vertical × 5, iluminação de Norte, escala varia com a profundidade na imagem). Feições geomorfoló-
gicas de destaque: o complexo de cicatrizes semicirculares; os leques de depósitos de movimento de massa com
lobos coalescentes; as cristas falhadas de diápiros de sal existentes em subsuperfície; e as minibacias entre domos.

Nessa região, a plataforma apresenta o maior da plataforma, ocorre uma faixa paralela a esta cuja
estreitamento da bacia, onde a distância da quebra declividade é de cerca de 20 graus, controlada pe-
da plataforma à costa varia de 43 a 73 km. lo substrato rígido da plataforma carbonática. Ainda
A linha da quebra da plataforma, no limite nor- no talude superior, no sentido da bacia, a declivida-
te, apresenta direção nordeste-sudoeste, e varia de diminui para valores médios de 12 graus. A de-
gradativamente para a direção noroeste-sudeste, clividade continua diminuindo gradativamente no
fazendo aumentar a largura da plataforma conti- talude médio para valores próximos de 7 graus, e 2
nental na parte central da bacia. graus no talude inferior. Na região do Platô de São
As feições mais importantes dessa região são Paulo, a declividade é de cerca de 1 grau.
os canais submarinos que compõem os sistemas A quebra da plataforma apresenta uma franja
turbidíticos de Marataízes e Itabapoana. de canais e ravinas retilíneas, os quais compõem
um sistema de drenagem de canais tributários ra-
4.1. Geomorfologia dos canais do mificados, que convergem no talude médio e se
Sistema Turbidítico Marataízes e das prolongam até o pé do talude, de onde parte um
áreas adjacentes canal até o Platô de São Paulo.
O sistema de canais que compõem o Sistema Os canais submarinos 1 e 2 (Figura 12), bem
Turbidítico Marataízes está instalado na região nor- como seus tributários, fazem parte do Sistema Tur-
te da bacia, cuja direção da linha da quebra da pla- bidítico Marataízes. A cabeceira desses canais está
taforma é nordeste-sudoeste. Os valores médios de situada na linha da quebra da plataforma, de onde
declividade do fundo do mar de áreas entre canais provêm os sedimentos arenosos que alimentam os
são os mais elevados da bacia. Próximo à quebra depósitos turbidíticos desses canais.
48 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

Franja de Canais
Quebra da e Ravinas
Plataforma Retilíneas

Canais
Canais do Tributários
Sistema Menores
Turbidítico 2
Marataízes
1

3 4

Canais Sinuosos
no Talude Inferior
1 km

N Platô de
São Paulo

Figura 12. Imagem em 3D do relevo sombreado do fundo do mar na área do talude continental onde está situa­
do o Sistema Turbidítico Marataízes (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade
na imagem). Nessa figura, observam-se os canais tributários que alimentam o sistema turbidítico com sedimentos
provenientes da plataforma continental. Observar a mudança do padrão dos canais, de retilíneos, no talude supe-
rior, para sinuosos, no talude inferior.

Em sua região proximal, na quebra da plata- dos canais tendem a diminuir, salvo nos locais de
forma, o canal 1 encontra-se ramificado em três bifurcação, que tornam os canais mais largos. O ca-
canais. Na isóbata de 500 m, a largura desses ca- nal tributário maior do canal 1 nesse local apresen-
nais varia entre 600 e 750 m. Os desníveis das ta largura de 1.180 m, maior desnível na margem
bordas variam de 100 a 130 m. A declividade das esquerda de 70 m contra 50 m. A declividade das
paredes é em torno de 24 graus e, do talvegue, bordas é de cerca de 7 graus e, do talvegue, de 7
de 6 graus. graus. O tributário menor tem largura de 200 m,
O canal 2 também se apresenta ramificado em desníveis entre 25 e 30 m e perfil transversal em
três canais na cabeceira. Na isóbata de 450 m, a U. A declividade das paredes é de 12 graus e, do
largura desses canais está em valores entre 730 m talvegue, é de 5 graus.
e 1.060 m. Os desníveis de suas bordas variam de No talude inferior, os canais 1 e 2 se tornam si-
65 m a 125 m. Nessa profundidade, todos apresen- nuosos e com diques laterais (levees). Nessa região,
tam perfil do canal em V com um pouco de assime- a declividade do talude é mais baixa, em torno de
tria. A declividade média das paredes desses canais 2 graus, e ocorre maior acúmulo de sedimentos
é de 16 graus. A declividade da linha do talvegue é arenosos e lamosos trazidos da plataforma e do
de cerca de 10 graus. talude superior.
No talude médio, em torno da isóbata de No talude inferior, todos esses canais tributá-
1.100 m, ambos passam a ter dois canais tributá- rios confluem até o estabelecimento de um canal
rios. À medida que descem o talude, as dimensões principal na profundidade de 1.650 m (Figura 13).
G eolo g ia e G eo morfolo gia 49

Esse canal apresenta largura de 900 m e desnível dos canais 1 e 2 e drenam o talude, porém com
das bordas de cerca de 30 m. A declividade das grau de incisão menor.
paredes é de 20 graus e, do talvegue, de 4 graus. No Platô de São Paulo, o canal conectado do
Além do Sistema Turbidítico Marataízes, ocor- Sistema Turbidítico Marataízes adquire perfil trans-
rem mais a norte outros importantes canais sub- versal muito suave e alargamento da calha (Figura
marinos (canais 3 e 4 da Figura 12), embora mais 13). Esse canal corre na direção nordeste-sudoeste
restritos ao talude inferior. Os canais 3 e 4 com- com sinuosidade e pequenos depósitos em seu in-
põem sistemas de canais de padrão semelhante ao terior do tipo barra de meandro e diques marginais

Quebra da
Plataforma

Sistema
Turbidítico
Marataízes

Cicatrizes de
Remoção
do Talude

Leques de Fluxo Canal mais Moderno


de Detrito Blocoso Conectado aos Canais
do Sistema Turbidítico
Marataízes

2 km

N Canais
Abandonados por
Avulsões Laterais

Figura 13. Imagem em 3D do relevo sombreado do fundo do mar do talude onde se situam o Sistema Turbidítico
Marataízes e o Platô de São Paulo (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia de acordo com a profun-
didade na imagem). No platô, são observados três canais que já estiveram conectados aos canais do talude e que
foram abandonados por avulsões laterais. O canal mais moderno corre na direção nordeste-sudoeste, desviando-se
dos obstáculos formados por acumulações de depósitos de movimento de massa.
50 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

(levee). Na isóbata de 1.697 m, esse canal apresenta 4.2. Geomorfologia dos canais do
largura de 592 m, desnível das margens de 25 m e Sistema Turbidítico Itabapoana e
assimetria das paredes com declividades de 4 graus das áreas adjacentes
e 8 graus, com o lado mais íngreme apresentando O Sistema Turbidítico Itabapoana consiste em
maior erosão e o outro, maior deposição. Aqui a de- dois grandes canais. O mais antigo, com a calha
clividade do talvegue é de 1 grau. Os demais canais abandonada (sem conexão com a cabeceira ori-
identificados nessa região do platô estão abando- ginal) e direção leste-oeste, teve a cabeceira cap-
nados. Esses canais se dispersam de forma radial a turada pela formação de outro grande canal que
partir dos canais do Sistema Turbidítico Marataízes passou a correr na direção sudeste-noroeste, pa-
(Figura 13). Aparentemente, foram abandonados ra contornar depósitos de movimento de massa
por avulsões laterais causadas pelo acúmulo sedi- em subsuperfície (Figura 14). Este é aqui denomi-
mentar que bloqueia e leva à formação de outro nado de canal principal da região norte da Bacia
canal para ultrapassar os depósitos lamosos dos de Campos, pois, em comparação com os demais,
canais mais antigos. Os obstáculos formados pelos apresenta características de que teve maior ativi-
depósitos preexistentes de amplos leques lamosos dade de transporte e erosão por incisão. Este canal
de fluxo de detritos (debris flow) do tipo desintegra- principal volta a cortar a calha do canal mais antigo
tivo e blocoso conferem aspecto rugoso ao fundo na isóbata de 1.470 m e continua se prolongando
do mar. Estes fazem parte do grande avental de de- até o Platô de São Paulo, já com a calha bem suavi-
pósitos de movimento de massa presente em prati- zada, com largura de 8.000 m e diversos pequenos
camente todo o pé de talude da Bacia de Campos. canais interiores de padrão anastomosado.

Quebra da
Pockmarks Alinhados Plataforma

Sistema de
Canais a Sul
do Sistema
Turbidítico de
Marataízes
Ravinas Captura
de Canal

Grandes Canais Grande


do Sistema Cicatriz de
Turbidítico Remoção
Terraços
Itabapoana
Marginais
em Degraus

1 km

Figura 14. Imagem em 3D do relevo sombreado do fundo do mar da região do talude continental onde está
situado o Sistema Turbidítico Itabapoana (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundi-
dade nas imagens). Nesta figura podem ser observados os pockmarks alinhados e as ravinas que evoluem destes
no talude superior. Uma grande cicatriz se estende desde o talude superior até o inferior, cruzando um sistema de
canais ramificados com as cabeceiras na quebra da plataforma.
Geolog ia e G eomorfolog i a 51

No talude médio a sul do Sistema Turbidítico Esse complexo é constituído por várias cicatrizes
Itabapoana ocorre uma série de pockmarks alinha- erosivas de diferentes formas e tamanhos. Além
dos na direção perpendicular em relação às linhas das ravinas retilíneas mencionadas no tópico an-
batimétricas. Mais para o sul, esses pockmarks ten- terior, destacam-se na paisagem submarina duas
dem a se aglutinar com o crescimento por colapso, grandes ravinas com formas distintas (Figura 15).
até formar as grandes ravinas (cerca de 3.500 m A grande cicatriz observada na Figura 15A
de comprimento) observadas no talude médio (Fi- possui perfil transversal assimétrico, pois o talve-
gura 14). Essas ravinas representam provavelmente gue é coincidente com a base da parede a norte da
um estágio evolutivo anterior ao da formação dos cicatriz, que é mais íngreme, 5 graus contra 3 graus
canais encontrados nos sistemas turbidíticos an- da parede a sul. O desnível da parede a sul é maior,
teriormente mencionados. No talude superior, es- 200 m contra 100 m da parede oposta. A cabeceira,
sas ravinas apresentam largura de cerca de 400 m, que é fortemente controlada por uma falha geoló-
desnível das bordas de 50 a 80 m e perfil transver- gica Fundo do Mar/Marco Azul com direção no­
sal em forma de V. A declividade de suas paredes roeste-sudeste, tem largura de 5.600 m, desnível
varia de 13 a 20 graus e a do talvegue é cerca de de 70 m e declividade de 12 graus. Na base, ad-
9 graus. quire perfil transversal em “U”, largura de 3.700 m,
No talude continental, entre os sistemas turbi- desníveis das bordas de cerca de 80 m e declivida-
dídicos de Itabapoana e Marataízes, está instalado de das paredes de 4 graus. A jusante, ocorre um le-
outro sistema de canais ramificados com grau de que de movimento de massa constituído por fluxo
entalhamento menor do que estes últimos e com de detritos e blocos lamosos oriundos do descas-
cabeceiras na quebra da plataforma (extremidade camento do talude.
direita da Figura 14). Do talude superior ao médio, A grande ravina observada na parte central da
onde a declividade, muito elevada, varia de 18 para Figura 15B tem uma calha bem desenvolvida e en-
6 graus, os canais são retilíneos. Até a profundida- caixada por paredes controladas por falhas rasas.
de de cerca de 840 m, ocorrem dois canais duplos Apresenta 7.300 m de comprimento e 1.250 m de
paralelos entre si e de perfil transversal em V. Sua largura, sendo o perfil transversal em V. As bordas
largura varia pouco, apresentando valores médios apresentam desnível de cerca de 110 m. As decli-
de 300 m. O desnível das bordas apresenta valores vidades médias da cabeceira e das paredes laterais
médios de 50 m, declividade das paredes de cerca são de 10 graus e 13 graus, respectivamente. Essa
de 20 graus e do talvegue de 8 graus. Diversos di- feição geomorfológica representa um estágio mais
minutos canais ocorrem nesse sistema, alguns com evoluído das ravinas existentes imediatamente a
cabeceira na quebra da plataforma e outros com norte, bem como uma fase anterior à de um cânion
cabeceira em pockmarks nas imediações do talude bem desenvolvido. Ainda na Figura 15B, no pé do
superior. Esses diminutos canais em geral apresen- talude é possível observar duas cicatrizes semicir-
tam largura de 200 m e desnível das bordas em culares bem definidas, que atuam na remoção de
torno de 14 m. As declividades das paredes e do material do talude.
talvegue são de cerca de 9 e 6 graus, respectiva- Entre essas grandes feições, ocorrem várias ci-
mente. catrizes de remoção menores geneticamente asso-
ciadas a pockmarks e ao descascamento do talude
4.3. Geomorfologia do complexo de médio e superior. Algumas cicatrizes apresentam
cicatrizes de remoção da região norte forma de anfiteatro e podem evoluir para cicatrizes
da Bacia de Campos maiores, devido à erosão continuada das bordas.
O complexo de cicatrizes de remoção da região Também ocorrem diversas diminutas ravinas no ta-
norte da Bacia de Campos está situado no talude lude superior, com largura de 100 m, 50 m de des-
continental, ao norte do Cânion Almirante Câmara. nível e 3 graus de declividade das bordas.
52 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

1 km 1 km

N N

Figura 15. Imagens em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar do complexo de cicatrizes de remo-
ção da região norte da Bacia de Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundida-
de na imagem). A) Grande cicatriz de remoção e grande leque de fluxo de detrito a jusante. B) No talude superior
ocorre uma grande ravina, com calha bem desenvolvida e com cabeceira em forma de anfiteatro, e no talude
inferior podem ser observadas duas cicatrizes em forma de anfiteatro.

4.4. Geomorfologia do Platô de São Paulo 30 m e 1 grau, respectivamente. No interior de am-


da região norte da Bacia de Campos bas as calhas, estabelece-se um sistema de peque-
No Platô de São Paulo da região norte, ocorre o nos canais de padrão anastomosado que contor-
prolongamento dos canais dos principais sistemas nam os depósitos lamosos trazidos pelo próprio
que drenam o talude continental. Nessa região, canal e os depósitos blocosos de fluxo de detrito
destacam-se um grande canal que está conectado mais antigos. Na região de domínio dos domos for-
à grande ravina do complexo de cicatrizes de remo­ mados pela halocinese, essas calhas adquirem si-
ção do talude continental observada na Figura 15B nuosidade controlada pela morfologia dos domos.
e o canal do Sistema Turbidítico de Itabapoana, que Os domos halocinéticos apresentam formas ir-
passam a apresentar calhas com perfil transversal regulares, em geral alongadas, como muralhas. Os
suave e bem mais largo (Figura 16). Essas calhas flancos normalmente se apresentam colapsados
apresentam largura da ordem de 6.500 m, e o des- por processos de movimento de massa. As cristas
nível e a declividade das bordas são de cerca de dômicas, em geral, estão falhadas e apresentam
Sistema Turbidítico Marataízes
Cânion Almirante Câmara
Quebra da
Plataforma
Complexo de
Cicatrizes de
Remoção

Sistema Turbidítico
Itabapoana

Depósitos de Lobos
Coalescentes de Debritos
Canais Abandonados
por Avulsões Laterais

Platô de São Paulo

Domos de Diápiros de Sal


em Subsuperfície 5 km

Figura 16. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar com destaque para a área do Platô de São Paulo na região norte da Bacia
de Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade na imagem). Na parte central é possível observar os prolonga-
mentos dos canais conectados à grande ravina do complexo de cicatrizes de remoção do talude e ao Sistema Turbidítico Itabapoana. Na parte inferior,
são observados os domos halocinéticos, que controlam a sinuosidade daqueles canais.
54 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

abatimento. Os domos apresentam largura de Nessa região, ocorrem os cânions do Grupo


4.300 a 7.000 m e os desníveis entre a crista e o Nordeste: Almirante Câmara, Tabajara, Curumim,
fundo do mar adjacente variam, dependendo do Grussaí, Itapemirim e São Tomé. Os cânions Almi-
lado do domo, em valores entre 50 e 150 m. A de- rante Câmara, Itapemirim e São Tomé são classi-
clividade dos flancos varia de 2 a 5 graus. ficados como cânions maduros sob o ponto de
vista evolutivo, pois atravessam a quebra da pla-
taforma e funcionam como zona de by-pass de
5. Geomorfologia do talude sedimentos arenosos da plataforma para o Platô
continental e Platô de São Paulo de São Paulo (Figura 17). No Platô de São Pau-
da região central da Bacia de lo ocorrem leques de depósitos de movimento
Campos de massa oriundos do descascamento do talude
A região central do talude continental da Bacia e canais submarinos conectados ao Cânion Al-
de Campos compreende a região que cobre desde mirante Câmara. O Cânion Almirante Câmara se
o Cânion Almirante Câmara, a norte, até o Cânion transforma ao longo do talude em uma ampla e
Goitacá, a sul. Essa região representa uma projeção suave calha que, em sua porção mais distal, con-
do talude na direção da bacia que tem como subs- torna os domos halocinéticos. Grande destaque
trato um grande pacote sedimentar com padrão de deve ser dado para as muralhas e cadeias de sal
empilhamento progradacional de grandes estrutu- de orientação noroeste-sudeste, e sua conver-
ras sedimentares sigmoidais. Esse arcabouço con- gência para um degrau no meio do Platô de São
fere a forma convexa do perfil do talude. Paulo, de orientação geral norte-sul, controlado

Plataforma
Continental
Cânion Almirante Câmara
Terraço Erosivo Cânion Tabajara
da Plataforma Cânion Grussaí
Carbonática
Cânion Itapemirim

Cicatrizes de Talude
Descascamento Continental
do Talude Cânion
Talude São Tomé
de Perfil
Convexo
(Tobogã)
N

5 km
Cadeias de
Faixa do Complexo de Platô de São Paulo Diapirismo
Cicatrizes de Remoção Halocinético
do Pé do Talude

Figura 17. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região central da Bacia de
Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade na imagem). Nesta figura,
observam-se os cânions do Grupo Nordeste no talude continental e a região de domínio dos domos halocinéticos
no Platô de São Paulo.
Geolog ia e Geomorfolog i a 55

por falhas que bordejam os domos salinos. Uma Quebra da Plataforma


dessas muralhas desvia a drenagem do Almirante Continental
Terraços
Câmara do curso de seu cânion. em Degraus

5.1. Geomorfologia do Cânion Almirante


Câmara Canal Interior
O Cânion Almirante Câmara endenta a plata-
forma continental. Essa característica o classifica
Cicatrizes
como um cânion maduro quanto a seu estágio
Semicirculares
evolutivo, diferentemente da maioria dos cânions
da Bacia de Campos, que são imaturos (Machado
et al., 2004). Esse é um dos maiores cânions sub-
marinos da margem continental sudeste do Brasil.
Apresenta 36.068 m de comprimento, um traçado
peculiar que lhe confere uma sinuosidade de valor
1,2 e uma intensa escavação de seu leito por um
canal interior. O vale submarino apresenta perfil Canal Incipiente
transversal em U. Tanto as bordas principais do câ-
nion quanto as paredes do canal interior sofreram
intensa erosão e abatimento por escorregamentos
(slumps) de suas bordas expressas pelas recorren-
1 km
tes cicatrizes semicirculares ao longo das bordas
do vale submarino e do canal interior (Figura 18).
Na porção mais próxima da cabeceira, entre as N

isóbatas de 300 m e 500 m do talvegue, o vale sub- Figura 18. Imagem em perspectiva do relevo som-
marino do Cânion Almirante Câmara apresenta- breado do fundo do mar do Cânion Almirante Câmara
se mais estreito, com largura de cerca de 950 m, (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia
de acordo com a profundidade na imagem).
desnível das paredes em torno de 215 m e razão
largura/desnível com média de 5, que indica alto
grau de incisão do vale submarino. Nessa área, as Na última porção do cânion, na área da desem-
paredes do cânion apresentam os mais elevados bocadura, entre 900 m e 1.200 m, a largura do va-
valores de declividade. A margem direita é relativa- le submarino atinge 4.700 m e desnível médio das
mente mais íngreme, com 28 graus contra 20 graus bordas de 360 m. A assimetria do perfil transversal
da margem esquerda. A declividade média ao lon- do vale submarino ocorre pelo maior desnível (média
go da linha de talvegue é de cerca de 6 graus. 430 m) e a menor declividade (média 10 graus) da
Na porção média do cânion, entre as profundi- margem esquerda e menor desnível (média 300 m)
dades de 500 m e 900 m do talvegue, o vale sub- e maior declividade da margem direita (média 16
marino sofre alargamento. Sua largura varia de graus). Essa assimetria é atribuída aos depósitos con-
2.600 m a 3.500 m, atingindo largura máxima torníticos (Viana et al., 1999) que progradam da mar-
de 6.100 m onde a margem esquerda apresenta ter- gem esquerda para o interior da calha do cânion.
raços em degraus de dois níveis principais formados
pelo abatimento causado por escorregamentos da 5.2. O canal interior do Cânion Almirante
borda (Figura 18). Nessa área, o desnível da borda Câmara
do vale submarino também é máximo, com 480 m. O canal submarino no interior do vale sub-
O valor médio dos desníveis é de 350 m. marino do Cânion Almirante Câmara se estende
56 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

N
Vale Submarino
Que Contin
bra
da P ntal

Canal Interno
1 km
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e

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nio n ion
Câ Câ

Sistema Turbidítico
Almirante Câmara

Figura 19. Imagem do relevo sombreado do fundo do mar do talude continental na área dos cânions Almirante
Câmara, Tabajara e Curumim (exagero vertical × 5, iluminação de norte).

desde a cabeceira do cânion até depois de sua Ao longo de toda sua extensão, o canal interior
desembocadura (Figura 19). Esse longo canal do Cânion Almirante Câmara é bordejado por ín-
apresenta sinuosidade enquanto é interior ao câ- gremes cicatrizes semicirculares formadas pelo co-
nion e se torna mais retilíneo fora do cânion, a lapso das bordas do canal. As cicatrizes se revezam
partir da lâmina de água de 1.450 m. A partir de nos lados opostos da borda do canal, conferindo a
então, sofre inflexão para sudeste, a fim de des- alta sinuosidade do talvegue do canal interior.
viar de um domo halocinético no Platô de São A partir da lâmina d’água de 830 m, um segun-
Paulo, e vai de encontro ao canal do Cânion Taba- do canal, ainda incipiente, surge da base da pare-
jara, para formar o complexo de canais do Sistema de esquerda e se estende com sinuosidade muito
Almirante Câmara, a jusante. baixa na parte central da calha e paralelamente ao
A envoltória desse canal interior apresenta si- canal interior principal, que, a partir dessa região,
nuosidade moderada (1,2), que acompanha a sinuo­ corre junto à borda direita da calha do cânion. Am-
sidade da calha do cânion, porém seu talvegue bos os canais se ramificam em vários pequenos ca-
apresenta sinuosidade elevada (1,3). O desnível das nais entrelaçados na frente da desembocadura do
bordas varia de 80 m a 255 m (média de 134 m). O cânion.
canal não apresenta assimetria significativa em seu A região do talude entre o Cânion Almirante
perfil transversal. O desnível da parede da margem Câmara e o Cânion Tabajara apresenta perfil con-
esquerda é, em média, 144 m, e o da margem direi- vexo suave, com declividade que varia de 2 graus
ta, 124 m. A declividade média da parede da mar- a 3 graus. Na base do talude, aproximadamente
gem esquerda é de 23 graus e, da parede da mar- na profundidade de 1.184 m, destaca-se a escarpa
gem direita, é de 24 graus. A declividade média ao de uma cicatriz erosiva, como a principal irregu-
longo da linha do talvegue é de 6 graus. A largura laridade da área. Essa cicatriz erosiva está dispos-
do canal varia de 1.230 m próximo à cabeceira do ta na direção noroeste-sudeste, gera um desnível
cânion e diminui para 615 m na desembocadura. O de cerca de 170 m, possui 8 graus de declividade
valor médio da largura do canal é de 820 m. e atinge as bordas de ambos os cânions citados
Geolog ia e Geomorfolog i a 57

anteriormente. Acima dessa feição, ocorrem de- do perfil transversal. A presença de suaves cicatri-
pressões circulares muito suaves (pockmarks), de zes semicirculares no leito próximo à cabeceira in-
cerca de 900 m de diâmetro (Figura 19). dica o processo de erosão remontante ocorrido no
desenvolvimento do cânion, ao longo de um linea-
5.3. Geomorfologia do Cânion Tabajara mento de pockmarks.
O Cânion Tabajara está situado a sul do Cânion Entre 660 m e 1.200 m, na porção mediana
Almirante Câmara, apresenta baixa sinuosidade do cânion, o leito do cânion apresenta degraus
(1,1), seu vale submarino tem direção nordeste- formados por cicatrizes semicirculares provoca-
-sudoeste e não atravessa a quebra da plataforma das pela ruptura do material do leito. A jusante
(Figura 20). Trata-se de um cânion estreito, com da profundidade de 748 m, os valores tornam-
largura média de 1.400 m, com pouca variação. -se mais acentuados, a declividade média do
A cabeceira está situada na isóbata de 497 m. Até talvegue aumenta para 5 graus, assim como o
a profundidade de 748 m do talvegue, o cânion desnível e a declividade das bordas. As bordas
apresenta características morfológicas suaves, on- do cânion tornam-se bem definidas e com per-
de suas bordas não são bem definidas, e a decli- fil transversal simétrico e em forma de U, po-
vidade média do talvegue é de 3 graus. Nesse in- rém a borda esquerda apresenta maior desnível
tervalo de lâmina d’água, a largura do cânion varia (151 m) que a da direita (138 m). A largura do câ-
entre 1.500 e 1.000 m, os desníveis das bordas au- nion se mantém em torno de 1.000 m, e a média
mentam gradativamente até atingir 180 m e a ra- da razão largura/desnível, igual a 8, indica alto
zão largura/desnível de 25 indica o caráter suave grau de incisão do vale submarino.

Cânion Tabajara
Cânion Grussaí

Cânion Itapemirim
Cânion Curumim 1 km
N

1 km

Figura 20. Imagem do relevo sombreado do fundo Figura 21. Imagem do relevo sombreado do fun-
do mar em perspectiva dos cânions Tabajara e Curu- do do mar em perspectiva dos cânions Itapemirim e
mim (exagero vertical × 5, iluminação de norte, a esca- Grussaí (exagero vertical × 5, iluminação de norte, es-
la varia com a profundidade na imagem). cala varia com a profundidade na imagem).
58 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

A região do talude continental entre os câ- as bordas são íngremes, com poucas irregularida-
nions Tabajara e Grussaí tem um perfil convexo des, e apresentam valores de declividade médios
típico. Apresenta valores mais baixos de declivi- de 13 graus na margem esquerda e de 12 graus
dade no talude superior, variando de 1 a 2 graus, na margem direita. O fundo do cânion não apre-
e se torna mais íngreme à medida que vai se apro- senta muitas irregularidades e possui declividade
ximando do pé do talude, com declividade varian- média de 3 graus.
do de 2 a 10 graus no pé do talude continental. Os
elevados valores de declividade no talude inferior 5.5. Geomorfologia do Cânion Itapemirim
se devem a uma grande cicatriz de remoção, pa- O Cânion Itapemirim possui ampla cabeceira
ralela às isóbatas, cujo topo encontra-se na pro- que atravessa a quebra da plataforma continen-
fundidade de 1.340 m. Essa feição atinge a borda tal, com largura máxima de 4.500 m. A cabecei-
direita do Cânion Tabajara e a borda esquerda do ra é constituída por um complexo de anfiteatros
Cânion Curumim. que, de forma ramificada, endentam a plataforma
O Cânion Curumim tem direção da calha nor- continental. A parte mais rasa da cabeceira está a
deste-sudoeste (Figura 20), a cabeceira encontra- 150 m de profundidade. As paredes da cabeceira
-se a 1.050 m de profundidade e a largura varia de apresentam-se muito irregulares devido à inten-
1.500 m próximo à cabeceira, até cerca de 2.000 m sa dissecação por cicatrizes de remoção. A decli-
próximo à boca da calha. O desnível da margem vidade da parede da cabeceira é relativamente
esquerda é de 187 m, e o da direita, 120 m. A razão baixa (7 graus), se comparada com as dos cânions
largura/desnível é 13, e o perfil transversal apre- adjacentes, e o desnível da borda da cabeceira até
senta-se em forma de “U”. A declividade das pare- o talvegue do vale submarino é de 470 m.
des esquerda e direita é de, respectivamente, 16 e O eixo principal do vale submarino possui dire-
15 graus. A declividade do leito é de 2 graus. ção geral leste-oeste e comprimento de 30.697 m.
A calha principal é retilínea. A largura do vale sub-
5.4. Geomorfologia do Cânion Grussaí marino varia de 7.880 na parte central a 5.500 m
O Cânion Grussaí possui o vale submarino com próximo da boca do cânion. A razão largura/desní-
direção geral leste-oeste e em forma de arco (Figu- vel é 22, indicando baixo grau de incisão. A parede
ra 21), devido ao forte controle estrutural de uma esquerda apresenta irregularidades morfológicas
grande falha profunda que também passa pela ca- em degraus de terraços erosivos, tendo como valo-
beceira do Cânion Itapemirim e se estende, contro- res médios de declividade e desnível, 9 graus e 400
lando a calha do Cânion São Tomé, localizado mais m, respectivamente. Já a borda direita apresenta
a sul (Szatmari e Demercian, 1991). desníveis menores, 330 m em média, e declividade
Esse cânion apresenta 20.830 m de compri- um pouco maior, cerca de 10 graus. A declividade
mento e perfil transversal em forma de U. A cabe- média do fundo do vale submarino, ao longo da
ceira está a 520 m de profundidade e encontra-se linha de talvegue, é de 3 graus em média.
junto com a borda norte da cabeceira do Cânion A margem direita do vale submarino apresen-
Itapemirim, porém não chega a atravessar a que- ta desnível menor devido à remoção de espesso
bra da plataforma. pacote do talude entre os cânions Itapemirim e
A largura do vale submarino não apresenta São Tomé, evidenciado pela grande cicatriz de
muita variação, com valores de 1.640 m próximo remoção com direção norte-sul, em cuja escarpa
da cabeceira até 3.200 m próximo da boca do câ- apresenta desnível de cerca de 200 m e 13 graus
nion. O desnível da borda esquerda, 187 m em de declividade. O pé do talude é marcado por
média, é maior que o desnível da borda direita, ondulações sedimentares escalonadas, com cris-
que apresenta valores médios de 144 m. A razão tas paralelas às isóbatas e relacionadas a depó-
largura/desnível de 17 indica alta incisão. Ambas sitos contorníticos. A sudeste da boca do Cânion
Geolog ia e Geomorfolog i a 59

Itapemirim ocorre uma feição dômica proeminen- da segunda. A seção transversal de ambas as calhas
te associada à atividade halocinética de subsu- das cabeceiras tem a forma de V típico. A calha a
perfície (Amorim, 2008), com cerca de 9.500 m de sudoeste apresenta parede mais irregular devido à
diâ­metro (Figura 22). ocorrência de ravinas e ao acúmulo de depósito de
movimento de massa na base das paredes.
5.6. Geomorfologia do Cânion São Tomé A declividade do talvegue da calha da cabecei-
O Cânion São Tomé apresenta duas cabeceiras ra sudoeste é maior que a de nordeste, sendo de
bem desenvolvidas e estabelecidas na quebra da 13 graus da primeira e de 6 graus da segunda.
plataforma, adentrando, aproximadamente, 300 m Na porção intermediária do cânion, entre 690 m
na direção do continente (Figura 22). O cânion pos- e 1.260 m, a margem esquerda é mais irregular que
sui direção geral noroeste-sudeste, com cerca de a margem direita, que tem perfil suave. Na margem
25.000 m de comprimento, enquanto a linha de que- esquerda, ocorrem grandes cicatrizes semicircula-
bra da plataforma tem direção nordeste-sudoeste, de res relacionadas a grandes escorregamentos rota-
modo que uma cabeceira está mais a nordeste, na cionais, que formam patamares de terraços em de-
profundidade de 314 m, e a outra, mais a sudoeste, a graus. Essas grandes cicatrizes são responsáveis pelo
230 m. Ambas possuem calha praticamente retilínea. aumento da largura do vale submarino, fazendo
Próximo à cabeceira, os desníveis e as declividades com que este se estenda para norte. A con­fluência
das paredes da cabeceira sudoeste são maiores que das duas calhas ocorre na profundidade de 980 m,
da cabeceira nordeste, em torno de 189 m, e declivi- onde há uma cicatriz que indica a remoção do ma-
dade de 20 graus da primeira e de 171 m e 16 graus terial sedimentar que as separava. A partir desse

Terraço Erosivo
do Talude Superior

Cânion Itapemirim
Cânion São Tomé

Grande Escarpa de Cicatriz


Erosiva do Talude Médio

Feição Dômica Halocinética


Ondulações Escalonadas de
1 km
Depósitos Contorníticos

Figura 22. Imagem do relevo sombreado do fundo do mar em perspectiva dos cânions São Tomé e Itapemirim, e
da grande escarpa de cicatriz entre esses cânions (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia conforme
a profundidade na imagem).
60 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

ponto, apesar do estabelecimento de um grande parede esquerda do cânion são de cerca de 153 m e
vale submarino, permanecem dois canais paralelos 20 graus e, na parede direita, de cerca de 221 m e 25
no leito do vale, um de 84 m de largura a sudoeste e graus. A declividade do talvegue varia de cerca de
outro de 100 m de largura a nordeste. A confluência 2 graus próximo da confluência e varia para 1 grau
desses canais submarinos só ocorre a 1.270 m de próximo à boca do cânion.
profundidade, onde um canal passa a dominar no No talude superior, entre os cânions São Tomé
talvegue. Próximo à boca do cânion, a 1.530 m de e Itapemirim, ocorre um amplo terraço erosivo que
profundidade, esse canal se estabelece ao longo da expõe as camadas da plataforma carbonática (Viana
base da parede esquerda do vale submarino. et al., 1998), com largura de 8.000 m entre 200 m e
Após a confluência das calhas das duas ca- 400 m e declividade em geral entre 0 e 1 grau.
beceiras, a largura do vale submarino varia de
5.400 m, próximo à confluência, até 2.865 m próxi- 5.7. Geomorfologia do talude continental
mo da boca do cânion. O vale submarino passa a convexo (Tobogã)
ter a seção transversal em forma de U, o desnível O talude continental de perfil convexo (tobogã)
e a declividade da parede esquerda do cânion são, se situa entre o Cânion Goitacá, a sul, e o Cânion
respectivamente, de cerca de 379 m e 12 graus e, São Tomé, a norte (Figura 23). Essa forma é atri-
na parede direita, de cerca de 272 m e 14 graus. buída ao padrão de empilhamento progradacio-
Próximo à boca do cânion, o vale submarino nal das camadas sedimentares em forma de uma
apresenta forma em U, o desnível e a declividade da grande sigmoide que se desenvolveu durante o

Cânion Cânion Cânion Cânion


Terraço Erosivo
Tamoio Temiminó Tupinambá Goitacá
da Plataforma
Carbonática
Cânion
Cânion
Tupiniquim
São Tomé
Grande Cicatriz de
Talude Convexo
Descascamento
(Sigmoide Progradacional)
do Talude

Complexo de Cicatrizes de
Remoção do Pé do Talude
(Tobogã)

Leques de
5 km
Fluxo de
Detrito
Blocoso

Lobos de Movimento
N
de Massa
Desintegrativo

Figura 23. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região central da Bacia de
Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade na imagem). Linha branca
tracejada corresponde à linha da quebra da plataforma.
Geolog ia e G eomorfolog i a 61

Mioceno. A quebra da plataforma não é bem de- 6. Geomorfologia do talude


finida na fisiografia, pois é suavizada numa faixa continental e Platô de São Paulo
com declividade muito baixa, de 1 a 2 graus. da região Sul da Bacia de Campos
Essa região do talude continental apresenta am- Na região sul da bacia, encontram-se os cânions
pla área de descascamento, onde, no talude médio, do Grupo Sudeste, composto pelos cânions: Goitacá,
destaca-se uma grande cicatriz com geometria in- Tupinambá, Temiminó, Tamoio e Tupiniquim (Figuras
terna de forma triangular fortemente controlada por 25 e 26). Mais a sul, estão os cânions do Grupo Sul-
falha geológica na direção noroeste-sudeste, que se -Sudeste, os quais, para sul, apresentam suas cabe-
estende até o pé do talude por 40.385 m. ceiras cada vez mais próximas da linha de quebra da
Em toda a faixa do talude inferior ocorre um am- plataforma à medida que atingem a faixa de terraço
plo complexo de cicatrizes de remoção. Nessa faixa, erosivo, de modo a ficarem separados da quebra da
são encontrados os valores mais elevados do talude plataforma por um pequeno desnível de 30 a 60 m.
continental convexo, cerca de 6 graus em média, po- Esses cânions apresentam perfis transversais suaviza-
dendo chegar, em alguns locais, a 15 graus (Figura 23). dos em forma de U. Em suas calhas, há grandes de-
pósitos de movimento de massa, com grande quan-
5.8. Geomorfologia do Platô de São Paulo
tidade de blocos disseminados.
na região central da Bacia de Campos
Defronte a esses depósitos de debritos bloco-
Na região do Platô de São Paulo, próximo da sos, ocorrem sulcos de escoamento e um canal, os
saída das bocas dos cânions, ocorrem leques de quais atravessam o pé do talude e avançam pe-
fluxo de detritos provenientes do talude. Na frente lo Platô de São Paulo. O canal apresenta compri-
da boca do Cânion Almirante Câmara estabeleceu- mento da ordem de 54.000 m e largura de cerca
-se um complexo turbidítico de areias provenien- de 2.235 m, apresentando desnível gradativo, até
tes da plataforma composto por pequenos canais atingir 22 m na parte mais profunda (parte inferior
que correm no interior de uma calha larga, com da Figura 25). Esse canal é ladeado por grandes lo-
4.100 m de largura e perfil transversal suave. Essa bos de transbordamento lamoso, que se estendem
calha sofre desvio para sudeste, por conta de uma lateralmente por até 15.000 m, nos quais se desen-
muralha de sal, de modo que encontra a calha da volvem ondulações gigantescas que geram desní-
frente da boca do Cânion Itapemirim e continua veis de 1,5 a 25 m e comprimentos de onda que
se estendendo com sinuosidade para contornar os variam de 1.300 a 2.300 m.
domos de diápiro de sal até atingir o sopé. Na re-
gião central do Platô de São Paulo, entre os domos 6.1. Geomorfologia do Cânion Goitacá
e as calhas, ocorrem amplos depósitos blocosos de O Cânion Goitacá é o que apresenta as maio-
debritos soerguidos por influência do diapirismo res dimensões dentre os cânions do Grupo Sudes-
do sal em subsuperfície (Figura 24). te (Figuras 25 e 26). Sua cabeceira está situada no
Em torno de 2.500 m de profundidade ocor- talude da região central da bacia, na profundidade
re um grande degrau por toda a região central da de 566 m, onde a quebra da plataforma se encon-
bacia com desnível de cerca de 40 m. Esse desní- tra suave e o perfil do talude é convexo. Como par-
vel marca a passagem para uma região da bacia ticularidade, esse cânion apresenta duas mudanças
onde a tectônica salífera é de regime compressi- de direção em forma de cotovelos em sua parte
vo, com ocorrência de algumas muralhas alongadas mediana, onde a calha muda de direção, ficando
com diá­piros de sal em subsuperfície. Essas mura- praticamente paralela às isóbatas do talude. Isso
lhas apresentam comprimento de cerca de 2.500 m acontece devido ao forte controle estrutural de fa-
e causam desníveis em torno de 100 m no lado do lhas geológicas profundas e ancoradas em crista
flanco mais raso contra 130 m no lado do flanco de diápiro de sal. O perfil transversal apresenta for-
mais profundo. ma de U ao longo de toda a calha.
62 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

Grupo Sudeste
de Cânions Plataforma Continental

Cânions do Grupo Nordeste

Talude Continental

(Tobogã)

Platô de São Paulo


Leques de Fluxo
de Detritos
Domínio de Regime Canais do
Distensivo da Sistema
Tectônica Salífera Turbidítico
Almirante
Depósitos Câmara
Muralhas Blocosos de
Holocinéticas Debritos

Cadeias de
Diapirismo Salino

Calha Distal
Domínio de Regime
do Sistema
Compressivo da
Turbidítico
Tectônica Salífera
Almirante Câmara
5 km

Figura 24. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região do Platô de São Paulo
da região central da Bacia de Campos (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade
na imagem). Em destaque as muralhas de sal, inclusive aquelas que formam a calha distal do sistema de drenagem
do Almirante Câmara através do Platô de São Paulo.

Na cabeceira, na isóbata de 870 m do talvegue, os Entre os cotovelos, a 1.628 m de profundidade


desníveis das paredes são de cerca de 200 m e a largura no talvegue, os desníveis das paredes são de cerca
do vale submarino é de cerca de 3.000 m. A declividade de 300 m na margem esquerda e 440 m na margem
das paredes é de 5 graus e do talvegue é de 6 graus. direita, e a largura do vale submarino é de cerca
Abaixo da cabeceira, a 1.254 m de profundidade de 3.700 m. As declividades das paredes são de cer-
no talvegue, os desníveis das paredes são de cerca de ca de 22 graus na margem esquerda e 15 graus na
320 m na margem esquerda e de 260 m na margem margem direita, e a do talvegue é de 2 graus.
direita, e a largura do vale submarino é de cerca de Após os cotovelos, a 1.981 m de profundidade
4.000 m. As declividades das paredes são de cerca no talvegue, os desníveis das paredes são de cerca
de 10 graus na margem esquerda e 15 graus na mar- de 360 m e a largura do vale submarino é em tor-
gem direita, e a do talvegue é de 2 graus. no de 6.850 m. As declividades das paredes são de
Geolog ia e Geomorfolog i a 63

Quebra da Cânions do Grupo Sul-Sudeste


Plataforma

Cicatriz de
Descascamento
Complexo
de Ravinas

Leques de
5 km
Fluxo de
N Detritos
Platô de
São Paulo
Grupo Sudeste
de Cânions

Ondulações
Sedimentares

Canal
Submarino

Figura 25. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar da região sul da Bacia de Campos
(exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia de acordo com a profundidade na imagem).

Cânions do Grupo Sul-Sudeste Cânion Cânion


Tupinambá Goitacá

Cânion
Cânion Temiminó
Tamoio

Cânion
Tupiniquim

Blocos de Lama

N
5 km

Figura 26. Imagem 3D em perspectiva do relevo sombreado do fundo do mar dos cânions do Grupo Sudeste e
dos cânions do Grupo Sul-Sudeste (exagero vertical × 5, iluminação de norte, escala varia com a profundidade
na imagem).
64 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

cerca de 7 graus na margem esquerda e de 10 graus Próximo da cabeceira do cânion, a 981 m de


na margem direita, e a do talvegue é de 2 graus. profundidade no talvegue, os desníveis das pare-
Próximo à boca do cânion, a 2.273 m de pro- des são de cerca de 85 m na margem esquerda e
fundidade no talvegue, os desníveis das paredes de 100 m na margem direita, e a largura do vale
são de cerca de 360 m na margem esquerda e de submarino é de 2.055 m. A declividade das paredes
460 m na margem direita, e a largura do vale sub- é de cerca de 6 graus, e a do talvegue é de 1 grau.
marino é de cerca de 4.450 m. A declividade das Na parte do meio do cânion, a 1.886 m de pro-
paredes é de cerca de 7 graus, e a do talvegue é fundidade no talvegue, os desníveis das paredes são
de 2 graus. de cerca de 230 m e a largura do vale submarino é de
5.150 m. As declividades das paredes são de cerca
6.2. Geomorfologia do Cânion Tupinambá de 13 graus na margem esquerda e de 9 graus na
O Cânion Tupinambá apresenta calha retilínea e margem direita, e a do talvegue é de 2 graus.
perfil transversal em forma de U (Figura 26). Apresen- Próximo à boca do cânion, a 2.305 m de profun-
ta comprimento de 35.820 m. A cabeceira está situa- didade no talvegue, os desníveis das paredes são de
da na região sul do talude continental da bacia, a 508 cerca de 60 m na margem esquerda e de 90 m na
m. As paredes são marcadas por cicatrizes e ravinas. margem direita, e a largura do vale submarino é de
Próximo à cabeceira, a 1.143 m de profundi- 2.760 m. As declividades das paredes são de cerca
dade no talvegue, os desníveis das paredes são de de 12 graus na margem esquerda e de 10 graus na
240 m na margem esquerda e 190 m na margem margem direita, e a do talvegue é de 1 grau.
direita, e a largura do vale submarino é de cerca de
4.870 m. As declividades das paredes são de cerca 6.4. Geomorfologia do Cânion Tamoio
de 8 graus na margem esquerda e de 7 graus na O Cânion Tamoio apresenta calha retilínea e per-
margem direita, e a do talvegue é de 2 graus. fil transversal em forma de U (Figura 26). Apresenta
Na parte do meio, a 2.007 m de profundidade comprimento de 30.320 m. A cabeceira está situada
no talvegue, os desníveis das paredes são de cer- na região sul do talude continental da bacia, a 875 m.
ca de 350 m na margem esquerda e de 380 m na As paredes são marcadas por cicatrizes e ravinas.
margem direita, e a largura do vale submarino é de Próximo da cabeceira, a 1.290 m de profun-
5.450 m. As declividades das paredes são de cerca didade no talvegue, os desníveis das paredes são
de 10 graus na margem esquerda e de 6 graus na de cerca de 100 m e a largura do vale submarino é
margem direita, e a do talvegue é de 4 graus. de 5.130 m. As declividades das paredes são de cer-
Próximo à boca do cânion, a 2.322 m de profun- ca de 3 graus na margem esquerda e de 4 graus na
didade no talvegue, os desníveis das paredes são de margem direita, e a do talvegue é de 3 graus.
cerca de 220 m na margem esquerda e de 230 m na Na parte do meio do cânion, a 1.936 m de pro-
margem direita, e a largura do vale submarino é de fundidade no talvegue, os desníveis das paredes são
3.065 m. As declividades das paredes são de cerca de cerca de 280 m na margem esquerda e de 250 m
de 11 graus na margem esquerda e de 16 graus na na margem direita, e a largura do vale submarino é
margem direita, e a do talvegue é de 1 grau. de 3.980 m. As declividades das paredes são de cer-
ca de 9 graus na margem esquerda e de 7 graus na
6.3. Geomorfologia do Cânion Temiminó margem direita, e a do talvegue é de 3 graus.
O Cânion Temiminó apresenta calha retilínea e Próximo à boca do cânion, a 2.268 m de pro-
perfil transversal em forma de U (Figura 26). Apre- fundidade no talvegue, os desníveis das paredes
senta comprimento de 30.974 m. A cabeceira está são de cerca de 90 m e a largura do vale submarino
situada na região sul do talude continental da ba- é de 3.000 m. As declividades das paredes são de
cia, a 863 m. As paredes são marcadas por cicatri- cerca de 6 graus na margem esquerda e de 5 graus
zes e ravinas. na margem direita, e a do talvegue é de 1 grau.
Geolog ia e G eomorfolog i a 65

6.5. Geomorfologia do Cânion Tupiniquim norte, central e sul. Em cada uma observaram-se
O Cânion Tupiniquim apresenta calha retilí- feições e aspectos geomorfológicos particulares.
nea e perfil transversal em forma de U (Figura 26). Assim, a região norte apresenta: perfil batimétri-
Apresenta comprimento de 27.593 m. A cabeceira co com forma côncava; predominância de extensos
está situada a 1.002 m de profundidade. As pare- canais submarinos que se prolongam até o Platô de
des são marcadas por cicatrizes e ravinas. São Paulo; e alta ocorrência de cicatrizes de remo-
Próximo da cabeceira, a 1.700 m de profundida- ção e ravinamento dos taludes médio e inferior.
de no talvegue, os desníveis das paredes são de cer- A região central apresenta: uma projeção do
ca de 70 m e a largura do vale submarino é de cerca talude na direção da bacia constituído por cama-
de 3.215 m. As declividades das paredes são de cer- das sedimentares, num padrão de empilhamento
ca de 4 graus na margem esquerda e de 3 graus na progradante sigmoidal que confere forma conve-
margem direita, e a do talvegue é de 3 graus. xa ao perfil batimétrico do talude; os cânions do
Na parte do meio do cânion, a 2.007 m de pro- Grupo Nordeste, sendo os cânions Almirante Câ-
fundidade no talvegue, os desníveis das paredes são mara, Itapemirim e São Tomé classificados como
de cerca de 90 m na margem esquerda e de 120 m na cânions maduros sob o ponto de vista evolutivo,
margem direita, e a largura do vale submarino é de pois adentram a plataforma continental; no Platô
cerca de 1.600 m. As declividades das paredes são de São Paulo, ocorrem línguas de depósitos de
de cerca de 23 graus na margem esquerda e 7 graus movimento de massa e canais submarinos conec-
na margem direita, e do talvegue é de 3 graus. tados ao Cânion Almirante Câmara.
Próximo à boca do cânion, a 2.204 m de profun- A região sul apresenta: perfil batimétrico côncavo
didade no talvegue, os desníveis das paredes são de onde se instalam os cânions do Grupo Sudeste e os
cerca de 90 m na margem esquerda e de 70 m na cânions do Grupo Sul-Sudeste. Todos os cânions do
margem direita. A largura do vale submarino é de Grupo Sudeste são classificados como imaturos, pois
cerca de 1.180 m. As declividades das paredes são de nenhum atravessa a quebra da plataforma.
cerca de 20 graus na margem esquerda e de 25 graus Os cânions do Grupo Nordeste apresentam os
na margem direita, e a do talvegue é de 2 graus. mais elevados valores de declividade das paredes,
cerca de 15 graus, e da linha de talvegue, em torno
de 3 graus, enquanto os cânions do Grupo Sudeste
7. Conclusões apresentam as maiores médias de largura.
Neste capítulo, elaborou-se uma caracterização
descritiva das principais feições geomorfológicas
do talude continental e do Platô de São Paulo da Agradecimentos
Bacia de Campos, com base nos dados do modelo Agradecemos aos técnicos do grupo de SIG
digital batimétrico de Schreiner et al. (2007/2008). da Gerência de Geologia Marinha (Petrobras/E&P-
Os processos de formação e modelamento do re- SERV/US-SUB) pela edição final dos mapas. Ao
levo submarino foram controlados por fatores es- geo­físico Benedito Souza Gomes, à geofísica Simo-
truturais associados à tectônica salífera de subsu- ne Schreiner e à geóloga Cízia Mara Hercos, pelas
perfície (Szatmari e Demercian, et al., 1991; Hercos discussões técnicas e análises críticas fundamen-
et al., 2004), por fatores oceanográficos de atuação tais à realização deste trabalho. Ao geofísico Marco
em diferentes escalas de tempo (Viana et al., 1998; Aurélio de Campos Merschmann, pelo apoio e o
Viana et al., 2002) e por processos erosivos eviden- incentivo na divulgação das informações apresen-
ciados por formas e depósitos de movimentos de tadas neste capítulo, e aos demais integrantes da
massa (Kowsmann et al., 2002). equipe de Geologia Marinha da Petrobras. Os co-
A região do talude continental ao Platô de São mentários dos revisores muito contri­buíram para o
Paulo da Bacia de Campos foi dividida em regiões: aprimoramento deste trabalho.
66 Geomorfologi a do talude continental e do Platô de São Pau lo

Referências
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4
Mapa batimétrico da
Bacia de Campos

Simone Schreiner, Mariana Beatriz Ferraz Mendonça de Souza,


Joana Paiva Robalo Migliorelli, Alberto Garcia de Figueiredo Jr.,
Carlos Eduardo Pereira Pacheco, Sérgio Cadena de Vasconcelos
e Fabiano Tavares da Silva

Palavras-Chave

Bacia de Campos; batimetria; plataforma continental; talude continental

Resumo

Este capítulo representa uma nota explicativa do mapa batimétrico integrado da Bacia de Campos que
reúne em uma única imagem a batimetria da plataforma continental, do talude continental e do Platô de
São Paulo adjacente.

Schreiner, S., Mendonça de Souza, M.B.F., Migliorelli, J.P., Figueiredo Jr, A.G., Pacheco, C.E.P., Vasconcelos, S.C., Silva, F.T. 2014.
Mapa batimétrico da Bacia de Campos. In: Kowsmann, R.O., editor. Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats,
v. 1. p. 67-70.
68 M apa bati m é tr ico da Bac ia de C ampos

1. Introdução sonar (Schreiner et al., 2007/2008), além de dados


O mapa batimétrico e o Modelo Digital do Ter- regionais oriundos da GEBCO (General Bathymetric
reno elaborados durante o Programa de Caracteri- Chart of the Oceans). Esses últimos foram utili-
zação Regional da Bacia de Campos/Projeto Habi- zados para recobrir eventuais áreas sem levanta-
tats expressam a morfografia do fundo do mar da mentos.
Bacia de Campos. A construção dessa batimetria
foi elaborada para a plataforma continental e para
4. Mapa batimétrico da Bacia
o talude e sopé continentais com métodos e dados
de Campos
de origens distintas.
Apresenta-se, nesta publicação, o resultado de Com os dois mosaicos prontos já definidos em
um mosaico de batimetria convertido em Mode- área (limites da Bacia de Campos) e escalas iguais
lo Digital do Terreno oceânico representado pela (resolução de célula de 100 m), foi possível iniciar a
imagem batimétrica colorida e sombreada. integração dos dados para a composição do mapa
batimétrico.
Com o uso do Programa SIGEO da Petrobras,
2. Composição dos mosaicos foram geradas, a partir do grid da batimetria da
batimétricos – Plataforma plataforma e do grid de batimetria do talude conti-
continental nental e Platô de São Paulo, duas malhas regulares
Para a elaboração da base de dados batimé- com as mesmas dimensões. Para a junção desses
tricos da plataforma continental, foram utilizados dois grids, consideraram-se os valores do grid da
dados batimétricos oriundos de 63 folhas de bordo batimetria da plataforma, desde a cota 0 m (zero)
produzidas pela Diretoria de Hidrografia e Navega- até a cota -200 m, e os valores do grid de batime-
ção (DHN). Esses dados formaram a principal fonte tria do talude continental e Platô de São Paulo, da
de informações sobre a batimetria da plataforma, cota -200 m em diante.
tanto pela quantidade de dados disponíveis quan- A junção dos grids da plataforma e do talude
to por sua distribuição espacial na área da pesqui- gerou o Modelo Digital do Terreno para batimetria
sa. Dados ETOPO, obtidos no National Geophysical do fundo oceânico, que foi somado ao modelo da
Data Center (NGDC) da NOAA (National Oceanic parte emersa e à imagem de satélite LANDSAT TM,
and Atmospheric Administration), e dados SRTM sendo aplicada a esta última uma transparência de
(Shuttle Radar Topography Mission) foram utili- 35%. As áreas emersas utilizaram o grid da GEBCO
zados para recobrir eventuais áreas das quais não (General Bathymetric Chart of the Oceans), com re-
existiam levantamentos hidrográficos de folhas de solução de 30 minutos.
bordo, na área da plataforma continental (Figueire- A imagem resulta da composição da imagem
do Jr. et al., capítulo 2, neste volume). de edge (Schreiner et al., 2007/2008), com a bati-
metria em tons de azul, com transparência. Sobre
a composição de imagens, foram colocadas as cur-
3. Composição dos mosaicos vas batimétricas geradas a partir do mosaico, com
batimétricos – Talude continental intervalos de 5 m na plataforma continental (até a
e Platô de São Paulo cota -100 m) e intervalos de 100 m para o talude
Para a elaboração da base de dados batimé- continental e Platô de São Paulo.
tricos do talude continental e Platô de São Paulo, As curvas batimétricas foram geradas nas re­
foram utilizados dados batimétricos da Petrobras, giões onde existiam dados com resolução adequa-
oriundos de 37 projetos sísmicos 3D, de 12 le- da, o que justifica sua ausência nas áreas de águas
vantamentos de multifeixe e de um levantamento mais profundas que não apresentam dados de sís-
batimétrico de varredura por interferometria de mica e interferometria de sonar.
Geolog ia e Geomorfolog i a 69

MG
Bacia do Espírito Santo N
–21°

ES

RJ
–22°
–23°

CONTORNO BATIMÉTRICO:
• IC: 5 m ATÉ 100 m
• IC: 100 m ATÉ –3.300 m
LIMITE DO DADO SÍSMICO

Bacia de
PROJEÇÃO GEOGRÁFICA DATUM SIRGAS2000
Santos 0 25 50 75 100 km
–24°

Bacia de Campos

–41° –40° –39°


70 M apa bati m é tr ico da Bac ia de C ampos

Por fim, essa integração de dados da platafor- Agradecimentos


ma, do talude e do Platô de São Paulo da Bacia Ao geólogo Renato Oscar Kowsmann, pelas
de Campos deu origem ao mapa batimétrico e ao valiosas sugestões e contribuições, fundamentadas
Modelo Digital do Terreno de resolução apropria-
no profundo conhecimento da Geologia Marinha
da para uso em uma escala de 1: 500.000.
da margem continental brasileira. Aos atuais co-
legas de trabalho da Gerência de Geologia Mari-
5. Conclusões nha (Petrobras/E&P-SERV/US-SUB) e àqueles que
A utilização de uma grande densidade de da- por aqui já estiveram, pelo legado do mapeamen-
dos batimétricos possibilitou o detalhamento de to minucioso do fundo do mar desses projetos de
feições morfológicas do fundo marinho já conhe- sísmica 3D compilados neste trabalho. Aos reviso-
cidas na literatura e a descoberta de novas feições res, agradecemos os comentários para o aprimora-
até então não mapeadas. mento do texto.

Referências
Figueiredo Jr., A.G., Pacheco C.E.P., Vasconcelos S.C, Silva, F.T. Schreiner, S., Mendonça de Souza, M.B., Migliorelli, J.P.
2014. Geomorfologia e sedimentologia da plataforma con- 2007/2008. Modelo digital da geomorfologia do fundo
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gia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1 p. 13-32. Petrobras. 16(1): 157-160.
5
Feições indicadoras de instabilidade
geológica no talude continental e
no Platô de São Paulo

Renato Oscar Kowsmann, Alexsandre Cavalcante de Lima e Marco Aurélio Vicalvi

Palavras-chave

Instabilidade de taludes submarinos; depósitos de transporte de massa submarinos; turbiditos; contor-


nitos; idade; biozonas de foraminíferos; Quaternário; Bacia de Campos

Resumo

Visando à segurança das facilidades de produção a serem assentadas no leito marinho da Bacia de
Campos, foi confeccionado um mapa das feições morfológicas de fundo indicadoras de atividade se-
dimentar e instabilidade submarina, com base no imageamento de sísmica 3D da Bacia de Campos. As
naturezas dessas feições são descritas à luz dos estudos realizados nas últimas décadas na Bacia de Cam-
pos, e suas idades são inferidas através da análise e da datação dos testemunhos a pistão disponíveis.
Conclui-se que a maior parte das feições de risco geológico mapeadas são relíquias e foram formadas em
períodos de nível de mar baixo do Pleistoceno. Através deste estudo, no entanto, infere-se a persistência
do transporte de sedimentos através de alguns cânions submarinos e também da atividade da tectônica
salífera na porção distal da bacia, durante o Holoceno.

Kowsmann, R.O., Lima, A.C., Vicalvi, M.A. 2014. Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no platô de
São Paulo. In: Kowsmann, R.O., editor. Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 71-98.
72 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

1. Introdução morfologia do leito marinho do talude continental


O avanço da exploração de hidrocarbonetos da Bacia de Campos e do Platô de São Paulo ad-
para águas profundas e o reconhecimento de gran- jacente, confeccionada a partir de dados obtidos
des feições associadas à instabilização gravitacio- através de sísmica 3D (Schreiner et al., 2007/2008)
nal do talude continental levaram as companhias (Figura 1). Dessa imagem, extraíram-se as inúmeras
de petróleo a se preocuparem cada vez mais com feições ou depósitos de risco geológico evidentes,
a segurança das instalações de produção no leito sendo que a maioria já fora descrita por vários auto-
marinho (Schroeder et al., 2000; Evans et al., 2007). res (Gorini et al., 1998; Caddah et al., 1998; Macha-
Estudos multidisciplinares, integrando ferramentas do, 2001, Kowsmann et al., 2002). O mapeamento
de geofísica, geologia e geotecnia, vêm sendo con- da distribuição das areias turbidíticas teve, além da
duzidos em áreas de campos petrolíferos de todo análise da imagem sísmica, suporte das anomalias
o mundo e passaram a ser exigidos pelas agências positivas de amplitude sísmica do fundo do mar
reguladoras de muitos países. Exemplos clássicos (Almeida Júnior et al., 2001), que foram compiladas
desses estudos integrados abordaram os campos por Schreiner et al. (2007/2008) utilizando diversos
de Ormen Lange na Noruega (Bryn et al., 2003) e projetos sísmicos 3D realizados na bacia.
Mad Dog e Atlantis no Golfo do México (Jeanjean Num segundo passo, de um total de 670 teste-
et al., 2003). Em paralelo, instituições de pesqui- munhos a pistão descritos na bacia, foram selecio-
sas têm procurado compreender os mecanismos nados 295 que amostraram elementos indicativos
de disparo, as distâncias de corrida e as cargas de de movimentos de massa compatíveis, em escala,
impacto envolvidas nos movimentos de massa gra- com os indicadores geológicos mapeados. Extraí-
vitacionais submarinos (Locat e Lee, 2002; Masson ram-se, dessas descrições, a natureza e a idade do
et al., 2010). Na investigação do controle das osci- último evento de instabilidade ocorrido em cada
lações glacioeustáticas do nível do mar na geração um deles, através da análise do perfil litológico,
de instabilidade do leito marinho, a determinação dos tipos de contatos, das estruturas primárias e
da idade dos eventos de movimentos de mas- secundárias e das biozonas de foraminíferos planc-
sa gravitacionais tem merecido atenção especial tônicos. Nesse acervo de testemunhos a pistão, in-
(Kowsmann et al., 2002, Young et al., 2003; Lee et cluem-se os testemunhos descritos e datados por
al., 2004; Lee, 2009). Abreu et al. (2005) e que foram posteriormente re-
A imagem da morfologia do talude continental datados por Vicalvi (2009b).
da Bacia de Campos e do Platô de São Paulo ad- Nos testemunhos a pistão longos (aproxima-
jacente (Schreiner et al., 2007/2008) revela a exis- damente 20 m de comprimento), obtidos durante
tência de inúmeras feições que, se tomadas como algumas campanhas de investigação geotécnica,
ativas, representariam evidências de severa insta- a identificação de ausência de seção por erosão
bilidade sedimentar atual na área. No presente ca- (i.e., discordâncias e hiatos) e de ocorrência de de-
pítulo, essas feições são apresentadas e mapeadas pósitos de movimento de massa teve o auxílio de
em caráter regional. Com base na descrição e na perfis geotécnicos de resistência não drenada, ob-
datação dos sedimentos coletados por numerosos tidos nas mesmas locações. Esses perfis de resis-
testemunhos a pistão, procurou-se estabelecer a tência foram gerados através da penetração de um
natureza e a idade dos eventos que geraram essas piezocone (PCPT) de 40 m no sedimento marinho
feições, apontando-se aquelas ainda em atividade. de fundo e de ensaios geotécnicos de laboratório
em amostras de testemunho, realizados a bordo.
De acordo com a metodologia de Amaral (2002), a
2. Metodologia pressão de poros induzida durante a cravação foi
Para definir os indicadores geológicos de ris- utilizada para corrigir a resistência à penetração
co em escala de bacia, partiu-se da imagem da do cone. Para permitir a correlação entre perfis, foi
G eolog ia e Geomorfolog i a 73

eliminada a pressão hidrostática, visando referen- Sedimentos do Pleistoceno Inferior, Cenozoico e


ciar os dados a um único datum, o fundo do mar. Cretáceo, eventualmente amostrados em aflora-
Os perfis de resistência à penetração foram con- mentos, subafloramentos e clastos, foram datados
vertidos em resistência ao cisalhamento não dre- através de nanofósseis calcários. Para o Pleistoce-
nada, utilizando-se uma correlação empírica com no Inferior, foi utilizado o zoneamento de Antunes
ensaios de torvane, minivane de laboratório e tria- (1994). Para o Cenozoico, utilizou-se o de Richter
xiais nas amostras do sedimento marinho. et al. (1993), que é correlacionado com as biozonas
Biozonas de foraminíferos planctônicos foram internacionais de Martini (1971) e Okada e Bukry
usadas para datar os sedimentos (Vicalvi, 2009a). (1980). Para o Cretáceo, foi empregado o zonea-
Determinou-se a idade de um evento de instabi- mento internacional de Sissingh (1977), reeditado
lidade atribuindo-se a ele a idade da cobertura por Perch-Nielsen. (1985).
hemipelágica não perturbada, imediatamente so-
breposta aos sedimentos deformados ou desinte-
grados (Vicalvi e Kowsmann, 2006). 3. Resultados
As amostras para biozoneamento por forami- A imagem do fundo do mar da Bacia de Cam-
níferos planctônicos foram coletadas em intervalos pos de Schreiner et al. (2007/2008) foi utilizada
de aproximadamente 30 cm, orientadas pelos con- para identificar as diversas feições fisiográficas do
tatos faciológicos. As amostras, pesando no máxi- talude e Platô de São Paulo adjacente (Figura 1).
mo 60 g, foram lavadas em peneira de 0,062 mm A imagem foi obtida através da construção de um
de malha, e o material retido, após secagem, foi mosaico dos numerosos projetos de sísmica 3D e
passado em duas peneiras (0,250 mm e 0,125 mm). utilizando o atributo sísmico edge detection, que
Os foraminíferos planctônicos retidos em cada realça os contrastes de gradiente (Schreiner et al.,
peneira foram identificados e quantificados. Para 2007/2008). A imagem evidencia abundância de
a datação de sedimentos do Quaternário Supe- indicadores geológicos de transporte e instabili-
rior, foram utilizadas as biozonas de foraminíferos dade sedimentar que foram mapeados, de forma
planctônicos de Ericson e Wollin (1968), controla- resumida, na Figura 4. Destacam-se o terraço de
das por clima e calibradas com os estágios isotópi- erosão ao longo da quebra da plataforma conti-
cos de oxigênio de Emiliani (1966), com suas ida- nental e o derrame de areia no topo do talude,
des correspondentes (Figura 2). A curva isotópica ambos causados pela ação da Corrente do Brasil
de Imbrie (1985), convertida em variação do nível e a circulação associada (Viana e Faugères, 1998;
do mar, também é mostrada como referência (Fi- Viana et al., 2002a; Kowsmann e Carvalho, 2000).
gura 2). As biozonas de Ericson e Wollin (1968) ba- Destacam-se ainda o talude retalhado por voço-
seiam-se principalmente na abundância do plexo rocas na parte sul da bacia, os cânions maduros e
Globorotalia menardii de águas quentes. A propor- os vários sistemas de drenagem turbidítica desen-
ção desse plexo em relação às espécies de águas volvidos através destas feições na parte central e
frias Globorotalia inflata e Globorotalia truncatu- no norte da bacia, onde ocorrem areias turbidíticas
linoides foi utilizada como elemento adicional na (Viana et al., 1999; Almeida et al., 2001, Machado
definição das biozonas (Vicalvi, 1997). Utilizou-se et al., 2004; Abreu et al., 2005; Hercos et al., 2005).
ainda o Datum de Último Aparecimento de Pulle- Observam-se também os depósitos de movimen-
niatina obliquiloculata (Prell e Damuth, 1978), cuja tos de massa escorregados e amarrotados (slumps)
idade na Bacia de Campos situa-se entre 42.000 nos taludes superior e médio (Costa et al., 1994;
e 45.000 (Vicalvi, 1999). O esquema de biozonea­ Castro, 1992; Caddah et al., 1998) e as cicatrizes
mento proposto por Vicalvi (2009a) encontra-se de remoção de camadas, no talude inferior (Kows-
sintetizado na Figura 3. As idades absolutas foram mann e Viana, 1992; Kowsmann et al., 2002). É pos-
extraídas de Kohl et al. (2004) e de suas referências. sível ainda observar os depósitos de movimento de
74 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

300 400 500


7700

7700
0
Rio

–20
Ita

em
p

irim

ES Sistema Turbidítico
Marataízes

00
Debritos

–20
Rio Itab
a poana Leque Arenoso
Sistema Turbidítico Turbidítico
Itabapoana
Barreira de Sal

RJ

São João da Barra Depósitos


Platô de São Paulo
ul

S
7600

7600
do Contorníticos
íba Almirante Câmara
Rio Para

Campos Sistema Turbidítico Tabajara


Almirante Câmara Curumim Cadeias de Nappes
Diapirismo
Grussaí
Debritos Salino
Cânions Maduros
do Grupo Central
L. Feia Cabo de São Tomé Itapemirim Leque Arenoso
Terraço Erosivo Turbidítico Minibacias

Quissamã

Salio da
na
osta
de C

vín tern
has a Debritos
átic
São Tomé
lin

Pro ite Ex
cia
o n Expostos por
Plataforma Pa
le
Ca
rb
o
Halocinese
a

Lim
m
Continental or Cicatrizes de
af

Deslizamento
at
Pl

Calha Distal do
7500

7500
Almirante Câmara
Talude
Mound Contornítico
Depósitos Lençol Arenoso
Contorníticos Contornítico Cadeias de Diapirismo
Salino

Zona de Desabamento –3000

Goitacá
Tupinambá
Temiminó
Tamoio Grupo de Cânions SE
Cânions do Grupo Tupiniquim Imaturos
Sul-Sudeste
os
rit
eb
D
de
al
nt
e
Bacia de Campos
00

Av
–2
7400

7400

Ondas de Sedimento
00

de o
es nt
–20

t riz me N
ca iza
Ci esl
D
0 10 20 30 40 50
km

300 400 500

Figura 1. Modelo digital da geomorfologia indicando as principais feições geomorfológicas do fundo do mar da
Bacia de Campos (Schreiner et al., 2007/2008).
G eolog ia e Geomorfolog i a 75

a grande maioria das feições ocorreu em tempos


pretéritos, em períodos glaciais de nível de mar
baixo.
Para esta análise, foram plotados, sobre o mapa
da Figura 4, os dados de 295 testemunhos a pistão
que mostraram as feições mapeadas de transporte
e instabilidade sedimentar (Figura 5). Esses dados
consistem de: (a) a natureza do evento de insta-
bilidade evidenciado em cada testemunho (aflora-
mentos e discordâncias, depósitos de transporte
de massa lamosos deformados ou desintegrados
e areias turbidíticas) e (b) a biozona da primeira
lama hemipelágica não deformada, que recobre
essas feições de instabilidade, identificadas através
de símbolos.
Nota-se que o símbolo em forma de circulo só-
lido que assinala os eventos ocorridos durante o
Holoceno (< 11.000 anos A.P.) está principalmente
associado às cadeias de sal do Platô de São Pau-
lo, onde a halocinese gerou topografia propensa
à instabilidade. Nessas feições, as evidências de
instabilidade recente são constituídas por aflora-
mentos de sedimentos de idades antigas nas ca-
deias e por depósitos de movimento de massa
superficiais e turbiditos bioclásticos (azul-claro)
Figura 2. Biozonas de foraminíferos planctônicos, es-
provenientes dos altos topográficos adjacentes. Os
tágios isotópicos de oxigênio e curva do nível do mar
representando o Quaternário Superior. bioclastos são constituídos de carapaças de pteró-
podes (gastrópodes planctônicos) e foraminíferos
planctônicos. Círculos sólidos também ocorrem
massa conglomeráticos lamosos (debris flows) de em grande número no talude superior central da
pé de talude (Machado et al., 2001; Kowsmann et bacia, onde o leito marinho é capeado por areias
al., 2004), as zonas soerguidas pela movimentação oriundas da plataforma continental, pela ação de
do sal (halocinese) e ainda os afloramentos nas correntes geostróficas (Viana e Faugères, 1998;
muralhas formadas pelo diapirismo salino no Platô Viana et al., 2002a). Embora essa remobilização
de São Paulo (Kowsmann et al., 2002). Esse cená- tenha sido mais intensa no início do Holoceno, a
rio de abundantes feições provocadas por eventos transferência de areias para o talude ainda persiste
de instabilidade já havia sido descrito por Gorini et através da migração de ondas de areias relíquias
al. (1998) quando da análise das imagens de sonar da plataforma continental externa (Viana e Faugè-
de varredura lateral larga, que cobriram toda a ba- res, 1998; Viana et al., 2002a). Essas ondas de areia
cia. No entanto, esses autores não dispunham de são responsáveis pela alimentação esporádica dos
testemunhos a pistão que permitissem datar esses cânions São Tomé e Almirante Câmara, cujas ca-
eventos. beceiras adentram mais a plataforma continen-
Um confronto entre as feições de transpor- tal. Areias holocênicas ocorrem ao longo de todo
te e instabilidade de sedimentos e as idades dos o Sistema Turbidítico Almirante Câmara, desde o
eventos que as originaram revela, no entanto, que cânion que corta o talude até o leque submarino
76 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

Zonas de Quaternário
Idade Ericson e
Série/ Wollin, 1968 Foraminíferos Planctônicos
1.000 Época & Subzonas
anos MARCOS LOCAIS(*) E GLOBAIS
Vicalvi, 1999
Ogg e Lugowski (V.2.0), 2006 & Vicalvi, 1999 Espécies Características
0
HOLOCENO Z DPA Gr. (M) fimbriata Gr. (G) inflata UOL
10 11 *
DUR Pulleniatina spp.* *
15
Y1 B
Pulleniatina spp.* DUD
50 Y 42

Gr. (G) tumida flexuosa* UOL


84
100
X
DUR Gr. (G) tumida flexuosa*
130

150
W

DPD Gr. (G) tumida flexuosa*


186
200
Pleistoceno

DPA Bolliela calida

G. truncatulinoides
Pulleniatina spp.

Obulina spp.
Grupo G. menardi

250

G. inflata
V

300
DPA Gs. ruber pink
350
400 DPA Gr. (Gr.) tumida flexuosa
DPA Gr. (H.) hirsuta
500 485
U
DUA Gr. tosaensis
610
DPA Gr. (Tu.) crassaformis hessi
T

1.000 990

S
DUA Gs. obliquus
1300

1.500 R
N. acostaensis DUA

1650
1810
Q DUA Gs. fistulosus
1810
Plioceno

DPA Gs. extremus DUA


2.000 Gr. (T.) truncalinoides

DPA – Datum Primeiro Aparecimento


UOL – Última Ocorrência Local
0 a 1% 5 a 7%
DUA – Datum Último Aparecimento
1 a 3% 7 a 9%
DUD – Datum Último Desaparecimento
DUR – Datum Último Reaparecimento
DPD – Datum Penúltimo Desaparecimento
3 a 5% > 9%

Figura 3. Biozoneamento proposto por Vicalvi (2009a), baseado na distribuição estratigráfica quantitativa de tá-
xons selecionados de foraminíferos planctônicos. Biozonas interglaciais representadas em rosa e glaciais em azul.
G eolog ia e Geomorfolog i a 77

41° O 40° O 39° O

ES
Sistema
Marataízes

21° S
Sistema
Itabapoana

Cânion Leque
Almirante Câmara Muralha
Almirante de Sal
Câmara
Cânion
RJ Grussaí
Cânion

22° S
Itapemirim

Cânion
–1500

–2500
São Tomé
Terraço de
l

Albacora
ta
en
in

0
00
nt

o –1
C
m
a
lu de
r
t af o Ta
Pl a
00
–5

Tobogã
0
00
00

–3
–1

0
00
–2
00
–2

23° S
TALUDE CONTINENTAL ESTÁVEL
Cânions
do Grupo INDICADORES GEOLÓGICOS DE INSTABILIDADE (FEIÇÃO DE RISCO)
Sudeste AFLORAMENTO
AFLORAMENTO POR HALOCINESE
DEPÓSITO DE CORRENTE DE CONTORNO
0
o

50
ul

DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMPS)


–2
Pa

DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS


DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS SOERGUIDO HALOCINESE
o

DERRAMAMENTO DE AREIA POR CORRENTE DE CONTORNO


de

TALUDE RETALHADO POR VOÇOROCAS


0 TERRAÇO DE EROSÃO POR CORRENTE DE FUNDO
ô

50
at

–1 TURBIDITO BIOCLÁSTICO
Pl

TURBIDITO LITOCLÁSTICO
N
ÁREA SOERGUIDA POR HALOCINESE
24° S

0 12.5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000

Figura 4. Feições indicadoras de instabilidade em águas profundas da Bacia de Campos. Baseado na imagem
morfológica de Schreiner et al. (2007/2008) da Figura 1.
78 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

41° O 40° O 39° O

ES
Sistema
Marataízes

21° S
Sistema
Itabapoana

Cânion Leque Muralha


Almirante Câmara Almirante de Sal
Câmara
Cânion
RJ Grussaí
Cânion

22° S
Itapemirim

Cânion
São Tomé
Terraço de
Albacora

0
00
–1
00
–5

Tobogã
00
–1

0
00

00
–2
–2

23° S
Cânions
TALUDE CONTINENTAL ESTÁVEL
do Grupo
Sudeste INDICADORES GEOLÓGICOS DE INSTABILIDADE (FEIÇÃO DE RISCO)
AFLORAMENTO
AFLORAMENTO POR HALOCINESE
DEPÓSITO DE CORRENTE DE CONTORNO
DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMPS)
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS
IDADE DO ÚLTIMO EVENTO 0 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS SOERGUIDO HALOCINESE
DE INSTABILIDADE –300
DERRAMAMENTO DE AREIA POR CORRENTE DE CONTORNO
Z (0–11.000 ANOS)
TALUDE RETALHADO POR VOÇOROCAS
Y1A (11.000–15.000 ANOS) TERRAÇO DE EROSÃO POR CORRENTE DE FUNDO
Y1B (15.000–42.000 ANOS)
TURBIDITO BIOCLÁSTICO
Y1 (11.000–42.000 ANOS)
TURBIDITO LITOCLÁSTICO
Y2 (42.000–84.000 ANOS)
N
24° S

ÁREA SOERGUIDA POR HALOCINESE


X (84.000–130.000 ANOS)
W (130.000–186.000 ANOS) 0 12.5 25 50
km
V (186.000–485.000 ANOS)
DATUM: SIRGAS 2000

Figura 5. Feições indicadoras de instabilidade com a localização dos testemunhos a pistão que as amostraram.
Símbolos geométricos representam a biozona e a idade correspondentes ao último evento de instabilidade ocor-
rido em cada ponto.
G eolog ia e Geomorfolog i a 79

mais distal. Pontualmente, outras feições holocê- 4. Terraço de Albacora e derrame


nicas de instabilidade aparecem, tais como aflora- de areia no talude superior
mentos nas paredes do Cânion Almirante Câmara Tanto o terraço erosivo quanto o derrame de
e dos cânions do Grupo Sudeste e voçorocas no areia ao longo do talude superior (Figura 5) resul-
talude superior no sul da Bacia (Figura 5).
tam da ação de correntes oceânicas, notadamente
As demais feições de instabilidade representa-
a Corrente do Brasil e a circulação a ela associada
das na Figura 5 correspondem a eventos pretéritos.
(Viana e Faugères, 1998; Viana et al., 2002a) (Figu-
Os depósitos de movimentos de massa escorrega-
ras 6 e 7).
dos e deformados (slumps) no talude superior e
No terraço erosivo, seções de sísmica rasa de
médio da porção central da bacia, as cicatrizes de
alta resolução utilizando fonte sparker e chirp de
erosão de camadas ao longo do talude inferior e
3,5 kHz, estas últimas obtidas com espaçamento
os depósitos de movimento de massa desintegra-
regular de 1 km, evidenciam as terminações trun-
dos conglomeráticos (debris flows), formando um
cadas das reflexões subparalelas inclinadas dos es-
avental no pé de talude, ocorreram no período da
tratos do talude, entre a base da quebra da plata-
biozona Y2 (quadrado sólido) e têm idades entre
forma continental e a isóbata de 400 m (Kowsmann
70.000 e 40.000 anos A.P. Os turbiditos do leque
et al., 1996). O Terraço de Albacora, no centro da
Almirante Câmara bem como os movimentos de
bacia, é a maior expressão dessa feição. Aqui, o ter-
massa nas cabeceiras dos cânions do Grupo Su-
raço apresenta largura de 10 km, e o truncamen-
deste são mais novos e pertencem à biozona Y1A
to que o origina é evidenciado, além da sísmica,
(triângulo sólido apontado para cima), tendo ocor-
por um furo geotécnico que revelou uma remoção
rido entre 15.000 e 11.000 anos A.P. Eles retratam
de seção de aproximadamente 40 m de espessura
os últimos eventos pós-glaciais que precederam o
(Viana et al., 1998). Essa erosão foi suficiente para
afogamento da plataforma continental.
expor a zona de metano no fundo do mar, o que
No talude cortado por voçorocas, mais a sul, os
depósitos de movimento de massa abrangem as ida- resultou na precipitação de nódulos de carbona-
des da biozona Y1 (A e B), entre 11.000 e 42.000 anos to autigênico, através da oxidação anaeróbica do
A.P. (triângulos sólidos apontando para cima e pa- metano (Dickens, 2001), promovida por bactérias
ra baixo, ou unidos formando um losango, quando metanotróficas (Kowsmann e Carvalho, 2000).
as subzonas A e B não puderam ser discriminadas). O modelo proposto por Viana e Faugères
Já no norte da bacia, os depósitos turbidíticos dos (1998) para a formação do terraço de erosão (Fi-
sistemas Itabapoana e Marataízes, embora apresen- gura 6) envolve a aceleração da Corrente do Brasil
tando expressão morfológica no fundo do mar, en- no talude superior durante o Último Máximo Gla-
contram-se, de fato, soterrados por dezenas de me- cial (Figura 6). Nos altos formados pelos estratos
tros de cobertura hemipelágica. Esses sistemas foram remanescentes da erosão, implantaram-se, poste-
ativos durante a biozona W (quadrados vazados), e riormente, algas calcárias incrustantes que cresce-
têm idade entre 186.000 e 130.000 anos. Já os de- ram como pináculos durante a subida do nível do
pósitos turbidíticos do sistema no extremo norte da mar pós-glacial até serem afogadas. Datação por
bacia ocorreram na vigência das biozonas Y1 e Y2. 14 C das algas calcárias fornece a idade de 13.500
Depósitos de movimento de massa pertencentes à anos (Kowsmann e Carvalho, 2000).
biozona V (485.000-186.000 anos) com símbolo de Durante o Holoceno, o terraço de erosão foi re-
cruz ocorrem na região do platô entre as drenagens coberto por areias siliciclásticas e bioclásticas prove-
dos sistemas Almirante Câmara e Itabapoana. nientes da plataforma continental. Segundo Viana e
A seguir, aborda-se, com mais detalhes, cada Faugères (1998) e Viana et al. (2002a), essas areias fo-
uma das feições apresentadas, a partir do talude ram transportadas para o talude superior pela ação
superior em direção offshore. das correntes de plataforma (forçadas por ondas de
80 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

Pleistoceno Superior (50–23 Mil Anos)


Nível do Mar Relativo = –65 a –100 m
Nível do Mar

50 CB

500 m
X AIA
BANCO CARBONÁTICO 30

AREIA 800 m (?)

LAMA DE TALUDE

Último Máximo Glacial (23–13 Mil Anos)


Nível do Mar Relativo = –120 m

Nível do Mar

CB
70

BANCO CARBONÁTICO
550 m
AREIA
AIA
X
LAMA DE TALUDE 30

Holoceno
(Condições Atuais)
Nível do Mar

30
X CB
70

350 m

AIA
X
BANCO CARBONÁTICO
30
AREIA SILICICLÁSTICA
750 m
LAMA DE TALUDE

Figura 6. Modelo de formação do Terraço de Albacora (Viana e Faugères, 1998), esculpido pela Corrente do
Brasil quando seu eixo foi transferido para o talude superior durante o Último Máximo Glacial, e dos processos de
sedimentação pré e pós-glacial. X – orientação da corrente para dentro da página (norte), ponto – orientação da
corrente para fora do papel (sul). Números indicam velocidades de corrente inferidas em cm/s. CB – Corrente do
Brasil, ACAS – Água Central do Atlântico Sul, AIA – Água Intermediária da Antártica. Figura simplificada de Viana
et al. (2002b).
G eolog ia e Geomorfolog i a 81

S N
100 m
CP sw
CP CP
sw
400 m

dc
CB CB
CB

CCB CST CCB CCB

Figura 7. Processos oceanográficos atuantes na transferência de areia da plataforma continental para o talude
superior durante o Holoceno (Viana e Faugères, 1998). CP − Corrente de Plataforma*, CB − Corrente do Brasil,
CCB − Contracorrente do Brasil*, CST − Cânion São Tomé, sw – sand waves, setas ondulantes − transporte de
carga de fundo para o talude. A aceleração por constrição da CB limpa o cascalho carbonático da fração fina
(dc − depósitos cascalhosos) à direita da figura; vórtice na plataforma externa aumenta a mobilidade das areias,
à esquerda da figura. Notar os sentidos opostos das sand waves migrantes, na plataforma externa e no talude
superior. Figura modificada de Viana e Faugères (1998). *Nota do Editor: Não há consenso da comunidade científica no
uso destas classificações.

tempestade, marés e ventos), onde se apresentam (Figura 9). O complexo mais raso na estratigrafia foi
como ondas de areia migrantes no sentido NE (Fi- amostrado por vários testemunhos a pistão e furos
gura 7), em imagens de sonar de varredura lateral. As geotécnicos, e apresenta uma estratificação incli-
areias de derrame no talude são redistribuídas pela nada a dobrada, evidenciada por bandas de cores
Corrente do Brasil, no sentido contrário, aparecendo distintas das lamas e pelas intercalações arenosas
como ondas migrantes com sentido sudoeste. Esses (Caddah et al., 1998). Esses sedimentos apresen-
autores postulam que a fase mais intensa de transfe- tam resistências não drenadas muito superiores
rência de areias para o talude ocorreu durante a pri- às das encaixantes plano-paralelas, evidenciando
meira metade do Holoceno (entre 11.000-5.000 anos uma compactação por deformação (strain-harde-
atrás), e que esse processo de transferência ainda ning; Caddah et al., 1994). Uma simulação utilizan-
persiste, em menor escala, até hoje. do elementos finitos (Costa et al., 1994) mostrou
que, levando-se em conta as propriedades físicas
originais do sedimento marinho e a baixa declivi-
5. Depósitos de escorregamento dade do talude (< 2 graus), a fluência desses de-
Cinco complexos de movimentos de massa, pósitos cessaria espontaneamente por seu amarro-
caracterizados por geometria tabular e assinatura tamento e perda de fluidos intersticiais decorridos
sísmica caótica, foram mapeados na seção pleis- 10.000 anos do início da deformação. Posterior-
tocênica do talude superior e médio da Bacia de mente, Kowsmann et al. (2002) determinaram a
Campos (Castro et al.,1995). Esses complexos en- idade dos primeiros sedimentos não deformados
contram-se estaqueados verticalmente e separa- que ocorrem sobre o depósito de escorregamento,
dos entre si por estratos plano-paralelos, não de- tanto na zona de evacuação, a montante, quanto
formados (Figuras 8 e 9). Os depósitos abrangem na frente de deformação, a jusante, obtendo, res-
cerca de 40 km de comprimento por 30 km de lar- pectivamente, idades aproximadas de 70.000 anos
gura e estão localizados imediatamente a sul do e 50.000 anos (Figura 9). A duração do processo
Cânion de São Tomé (Figuras 8 e 9). Cada comple- de deformação, cerca de 20.000 anos, corresponde
xo apresenta espessura máxima entre 50 e 85 m ao dobro, mas da mesma ordem de grandeza que
42° O 41° O 40° O 39° O
MG ES
21° S

RJ
22° S
23° S
Cânion São Tomé
m
00
–2
00
m GL-10
–5
Fi
g.

7520000
9
N
0 20 40 km
GL-13

24° S
5-PC-32

0m
TALUDE CONTINENTAL ESTÁVEL

00
0m

–1
00
–2
FEIÇÕES DE INSTABILIDADE E TRANSPORTE SEDIMENTAR

0m
AFLORAMENTO

50
–1
AFLORAMENTO POR HALOCINESE

7500000
DEPÓSITO DE CORRENTE DE CONTORNO Fi
gs
DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMPS) .1
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS GL-30 0 e1
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS SOERGUIDO HALOCINESE
1
DERRAMAMENTO DE AREIA POR CORRENTE DE CONTORNO GL-32
TALUDE RETALHADO POR VOÇOROCAS GL-33
TERRAÇO DE EROSÃO POR CORRENTE DE FUNDO
N GL-36
TURBIDITO BIOCLÁSTICO
TURBIDITO LITOCLÁSTICO
0 2 4 6 km
0m
ÁREA SOERGUIDA POR HALOCINESE 50
DATUM: SIRGAS 2000 –2
380000 400000 420000
Figura 8. Seções sísmicas apresentadas nas Figuras 9 e 10, com respectivos testemunhos, sobre o mapa de feições indicadoras de instabilidade. A seção
da Figura 9 atravessa os depósitos de escorregamento (slumps), ao passo que a seção da Figura 10 atravessa o talude inferior íngreme e propenso a
deslizamentos, conhecido como Tobogã.
GL-10 LAMA CINZA-OLIVA

AREIA
Y1
DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS
(DEBRIS-FLOW)
42.000
LAMA CINZA ESVERDEADA
20 m
DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMP)
Y2
FRATURAS DE SOBRECARGA

68.000 GL-13
>84.000 Y1
42.000
X

Y2
51.000
84.000
1,0
X

>84.000
X 5-PC-32
10 m
Y1

42.000
1,4 1m
Y2

Seg. (2×)
53.000

1,8 2 km

Figura 9. Seção sísmica, indicada na Figura 8, mostrando os complexos de depósitos de escorregamento (slumps) do Pleistoceno da Bacia de
Campos (Castro et al., 1995). O depósito mais profundo assenta sobre sedimentos do Mioceno superior, falhados. Os testemunhos que amos-
traram o depósito de slump mais raso (intervalo cor laranja) revelam que esse depósito teve início há 68.000 anos (GL-10) e cessou há cerca
de 50.000 anos, durante a vigência da biozona Y2 (GL-13 e 5-PC-32). Esse evento escavou e incorporou sedimentos da biozona X (> 84.000
anos). Um depósito conglomerático mais novo (camada cinza com clastos, GL-10) também ocorreu na vigência da biozona Y2 (Kowsmann et
al., 2002).
84 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

aquela modelada por Costa et al., em 1994 (10.000 de sua geometria e da propensão a deslizamentos,
anos). Em termos paleontológicos, o evento de essa feição foi apelidada de Tobogã (Figura 10). Es-
escorregamento que gerou este último depósito sa erosão expõe estratos cada vez mais antigos em
ocorreu na vigência da biozona Y2 (42.000-84.000 direção ao pé do talude, gerando faixas de aflo-
anos A.P.) (Figura 9). ramentos de idades distintas (Kowsmann e Viana,
1992; Kowsmann et al., 2002). Observa-se na Figu-
ra 10 que, a montante, é exposto primeiramente
6. Afloramento de estratos no o depósito de escorregamento (slump) mais raso
talude inferior (depósito de transporte de massa na posição do
O talude inferior na porção central da Bacia de GL-30). Talude abaixo, afloram estratos mais con-
Campos tem um perfil convexo que acompanha a solidados do Pleistoceno Inferior (GL-32) e, em
forma sigmoidal da cunha progradante do Mioce- seguida, do Mioceno Superior (GL-33). Finalmen-
no subjacente (Figura 10). Na porção mais íngreme te, depósitos conglomeráticos de fluxo de detritos
desse perfil (8 a 10 graus), o talude é marcado por acumulam-se no pé do talude (posição do GL-36
inúmeras cicatrizes, fruto de eventos sucessivos de e depósito de transporte de massa na base do
instabilização em sua face mais íngreme. Em razão talude).

1.000
sec.

MTD
GL 30
1.500
Pleis
tocen
GL 32
o
MTD

2.000
Miocen
o GL 33

GL 36
2.500

MTD

2 km
3.000

Figura 10. Seção sísmica mostrando a feição do talude inferior na parte central da bacia conhecida como Tobo-
gã, indicado na Figura 8. O desabamento progressivo do talude e o consequente afloramento de camadas mais
antigas são condicionados pela geometria de progradação sigmoidal dos estratos do Mioceno Superior. Depó-
sitos de transporte de massa (MTD), linha vermelha − discordância erosiva entre os estratos do Mioceno e do
Pleistoceno (Viana et al., 1990). Testemunhos a pistão da Figura 11 estão projetados sobre esta figura.
G eolog ia e Geomorfolog i a 85

Em seção sísmica, todos esses estratos aparen- cânions foram amplamente testemunhados e apre-
tam estar aflorando do fundo do mar. No entan- sentam, invariavelmente, cobertura hemipelágica
to, testemunhos e perfis geotécnicos mostram que intacta sobre eles. As idades dos sedimentos mais
todos estão cobertos por uma capa de sedimen- antigos dessa cobertura remontam à biozona Y2
tos hemipelágicos, de alguns metros de espessu- (42.000-84.000 anos A.P.), à semelhança da cober-
ra, cuja idade mais antiga pertence à biozona Y2 tura hemipelágica sobre os afloramentos do talude
(42.000-84.000 anos A.P.) (Figura 11). O contato inferior e também sobre os depósitos de slump, nos
entre a cobertura hemipelágica do Holoceno/Pleis- taludes superior e médio.
toceno Superior e os estratos aflorantes mais anti- Os depósitos de detritos lamosos ocorrem
gos e consolidados é muito bem marcado por um também em grande escala nas porções mais dis-
salto abrupto nos perfis de resistência Su. A ida- tais do Platô de São Paulo, onde foram amostrados
de da base dessa cobertura é mais antiga (70.000 esparsamente. Eles se encontram, em parte, soer-
anos A.P.) na porção mais distal do Tobogã e se guidos pela halocinese, o que lhes atribui um as-
torna progressivamente mais nova (42.000 anos pecto rugoso na imagem de edge da morfologia (Fi-
A.P.) a montante. Isso mostra que o descascamen- gura 1) devido a seu truncamento erosivo e maior
to e a posterior cicatrização ocorreram de forma grau de consolidação. Esses depósitos também
remontante, ou seja, da base para o topo do talude preenchem as minibacias na porção distal do pla-
inferior. tô, onde são recobertos por areias. Embora espar-
samente amostrados, atribui-se a esses depósitos
de detritos distais uma idade Pleistoceno Inferior e,
7. Depósitos de fluxo de detritos portanto, mais antiga que aqueles do pé do talude.
Depósitos conglomeráticos de fluxo de detritos
ocorrem amplamente distribuídos por todo o pé do
talude e no Platô de São Paulo adjacente (Macha- 8. Sistemas turbidíticos litoclásticos
do et al., 2001; Kowsmann et al., 2004). São consti- Vários sistemas turbidíticos são visualizados
tuídos de conglomerados suportados por matriz e, na imagem da geomorfologia do fundo do mar
em menor escala, de clastos lamosos desprovidos de Schreiner et al. (2007/2008), na porção norte da
de matriz, de dimensões decimétricas a centimétri- bacia. Desses sistemas, o mais importante é o Al-
cas. Registros de conepenetrômetro que perfilaram mirante Câmara (Figura 4).
esses depósitos revelam espessuras de corpos indi- Em termos morfológicos, o sistema nasce no câ-
viduais da ordem de 5 m. Os depósitos apresentam nion de mesmo nome, de sentido geral nordeste, e
resistências heterogêneas e, em geral, bastante ele- no Platô de São Paulo sofre forte reorientação de sua
vadas, dependendo da concentração de clastos. Os calha para sudeste, devido à presença de uma mu-
depósitos conglomeráticos de fluxo de detritos no ralha de sal (Machado et al., 2004). A calha atravessa
pé do talude apresentam clastos provenientes dos o Platô de São Paulo encaixado na morfologia aci-
estratos erodidos do talude acima, inclusive daque- dentada induzida pela movimentação salífera (Ma-
les provenientes dos depósitos de slump, reconhe- chado et al., 2004), desembocando na Bacia do Brasil,
cidos por suas estruturas internas de deformação. externa ao Platô de São Paulo, onde contribui com
Já os depósitos de debris flows provenientes da de- sedimentos grossos para o desenvolvimento do Ca-
sembocadura dos cânions Itapemirim e Almirante nal Carioca (Castro, 1992; Viana et al., 2003). Em sua
Câmara apresentam geometrias linguoides, com porção mais distal no platô, a calha ocupa o eixo do
dezenas de quilômetros de extensão e alguns qui- gráben de colapso sobre uma muralha de sal.
lômetros de largura, e encontram-se amalgamados Um leque submarino conspícuo (Leque Almi-
e compensados uns sobre os outros (Figura 12). Es- rante Câmara) se desenvolve na porção proximal
ses depósitos de pé de talude e desembocadura de da calha através da superposição de complexos de
Vicalvi, 1997; este trabalho
Ericson & wollin, 1968

GL - 30 GL - 32 GL - 33 GL - 36
Nível do Mar
1.234 m 1.489 m 1.722 m 2.029 m
Su (kPa) Su (kPa) Su (kPa) Su (kPa)
Anos 0 40 80 120 0 40 80 120 0 40 80 120 0 40 80 120 160
0 MG
MG
0
Z Z MG
11.000 LR
MG LR
A LR
15.000 LL
Y1 LR
B
LL
42.000
Y LL 5
MTD MTD
D
Y2
P
Plei
84.000
X X P
Plei
M
Mio
GT 381A 10
Mio
M
LEGENDA
15
MG MARGA Plei
P SUBAFLORAMENTO DO PLEISTOCENO INFERIOR
LR LAMA RICA EM CARBONATO Mio
M SUBAFLORAMENTO DO MIOCENO SUPERIOR
LL LAMA LEVEMENTE CARBONÁTICA
DISCORDÂNCIA EROSIVA
MTD DEPÓSITO DE MOVIMENTO DE MASSA
GT 300 GT 380 GT 384 20 m
Figura 11. Seção geológica construída a partir de testemunhos (GL) e perfis (GT) de resistência não drenada (Su) distribuídos ao longo da linha sísmica apresentada na
Figura 10, localizada na Figura 8, no talude inferior. A seção mostra a capa contínua de sedimentos hemipelágicos (MG − marga, LR − lama rica em carbonato, LL − lama
levemente carbonática) de idade mínima de 42.000 anos que recobre depósitos de transporte de massa (MTD) e subafloramentos de sedimentos bem mais antigos e mais
consolidados (Pleistoceno Inferior e Mioceno Superior) expostos pela discordância erosiva. Escala à esquerda apresenta as biozonas de foraminíferos planctônicos e suas
idades correspondentes.
G eolog ia e Geomorfolog i a 87

10 km

Figura 12. Relevo do talude da porção central da Bacia de Campos mostrando as línguas de depósitos de debris
flow na desembocadura dos cânions (marrom) e o Sistema Turbidítico Almirante Câmara (amarelo), mapeados
com base em imagens de sonar de varredura lateral (Machado, 2001; Machado et al., 2004).

lobos canalizados (Machado et al., 2004; Abreu et uma única análise petrográfica efetuada em uma
al., 2005). Sua formação se deu quando línguas de areia turbidítica granodecrescente ascendente de
depósitos de fluxo de detritos lamosos, provenien- 90 cm de espessura, amostrada na calha proximal
tes do talude adjacente e da desembocadura do a montante do leque (Marcos Roberto Fetter Lopes,
Cânion Itapemirim, preencheram a calha principal comunicação pessoal, 2007). A maioria dos teste-
e a nivelaram com topografia circundante, per- munhos do leque apresenta uma cobertura hemi-
mitindo o extravasamento dos fluxos turbidíticos pelágica sobre o último pacote de areia, com idade
(Machado et al., 2004, Figura 12). mínima das biozonas Y1A (11.000-15.000 anos A.P.)
Testemunhos a pistão foram coletados na calha ou Y1B (15.000-42.000 anos A.P.) (Vicalvi, 2009b).
proximal (Machado et al., 2004) e no Leque Almi- A Figura 13, modificada de Abreu et al., 2005,
rante Câmara (Abreu et al., 2005). Os testemunhos apresenta uma seção litoestratigráfica dos teste-
amostraram pacotes decimétricos a centimétricos munhos a pistão obtidos no mais recente depo-
homogêneos a granodecrescentes para o topo, de centro de areia do Leque Almirante Câmara. Como
areia siliciclástica grossa a muito fina, intercalados atesta a crosta ferruginosa que constitui a camada
com lama hemipelágica. Uma composição petroló- guia do limite Holoceno/Pleistoceno, os principais
gica subarcoseana a arcoseana com grãos subar- corpos de areia pertencem à biozona Y do período
redondados a subangulares é inferida mediante glacial do Pleistoceno.
SW NE
2300

Lâmina d’Água
Z
2315 m
Holoceno
11.000 anos Pleistoceno
Y
G M F MF S A
Areia
G M F MF S A
LAC 9 G M F MF S A Areia
Areia G M F MF S A
LAC 7 Areia
0 LAC 8
LAC 6
LAMA
LAC
AREIA
NE
CROSTA FERRUGINOSA
1m
0 1 2 km SO
Figura 13. Seção litoestratigráfica de testemunhos a pistão no depocentro mais recente do Leque Almirante Câmara (figura modificada de Abreu
et al., 2005). Biozonas Z e Y de foraminíferos planctônicos. Notar que os corpos mais expressivos de areia pertencem ao Pleistoceno. Mapa de localização
esquemático da seção, destacando o Leque Almirante Câmara (LAC).
G eolog ia e Geomorfolog i a 89

A seção litoestratigráfica na franja do Leque 1998), em grande parte modeladas por correntes
Almirante Câmara (Figura 14) mostra também que de contorno (Viana et al., 2002b). Evidências dis-
poucas areias pertencem à biozona Z (Holoceno) e so são as grandes ondas de sedimento migrantes,
que os corpos arenosos mais espessos e grossos observadas em seção sísmica em vários sítios do
foram depositados na vigência da biozona Y (Pleis- talude da Bacia de Campos. Essas feições não são
toceno glacial) e, portanto, em nível de mar baixo. em si consideradas geohazards, mas representam
Apesar dessas considerações, vários testemu- um atestado da mobilidade sedimentar no passa-
nhos (notadamente localizados na calha a mon- do que persiste, em menor escala, no presente.
tante, mas também no próprio leque) apresentam A feição mais conspícua, de escala regional,
areias de idade holocênica, mostrando que a ativi- ocorre no talude inferior entre os cânions de São
dade do sistema persiste, embora com menor vigor Tomé e Itapemirim (Figura 15). Os depósitos na
do que durante o período glacial do Pleistoceno forma de complexos de ondas migrantes ocorrem
antecedente. Como a deposição do Rio Paraíba do ao longo da face frontal da cunha de sedimentos
Sul encontra-se hoje restrita a um delta constituído progradantes do Mioceno (Figura 15b). Essas on-
por cordões litorâneos, distante mais de 70 km da das migrantes geraram, no fundo do mar, uma
cabeceira do cânion, é provável que os turbiditos morfologia escalonada de grandes dimensões (Fi-
holocênicos advenham da remobilização de areias gura 15a).
relíquias da borda da plataforma continental, por Segundo o modelo proposto por Viana et al.
correntes de fundo, conforme o modelo apresen- (2002b), as ondulações são formadas por cor-
tado por Viana e Faugères (1998). rentes paralelas aos contornos batimétricos pro-
venientes de sul, associadas às massas da Água
Central do Atlântico Sul (ACAS) e da Água Inter-
9. Depósitos lamosos mediária da Antártica (AIA). Em função da força
contorníticos de Coriolis no Hemisfério Sul, essas correntes es-
Depósitos lamosos contorníticos são consi- cavam talude acima (esquerda do fluxo) e depo-
derados geohazards, por sua tendência a sofrer sitam talude abaixo (direita do fluxo), com o eixo
deslizamentos (Laberg e Camerlenghi, 2008). Em da corrente migrando progressivamente talude
altas latitudes, onde são mais frequentes, apre- acima (Figura 16).
sentam maior teor de argila, conteúdo de água Feições de leito ondulantes de composição la-
intersticial, índice de plasticidade e de liquidez, mosa, transversas às isóbatas, também foram re-
resultando em menor resistência ao cisalhamen- conhecidas no talude superior da Bacia de Cam-
to e maior sensitividade do que os sedimentos pos, induzidas pela Corrente do Brasil (Viana et al.,
glacigênicos intercalados (Kvalstadt et al., 2005). 2002b). A mesma corrente induz a formação de
Sujeitos à sobrecarga destes últimos, tendem a dunas tridimensionais constituídas por cascalho e
se comportar como uma superfície de descola- areia carbonática biodetrítica no terraço erosivo no
mento. Em baixas latitudes, como no Golfo de topo do talude adjacente, como mostra o esquema
Cádiz, áreas de constrição de correntes oceano- da Figura 17.
gráficas causam sua aceleração e, na presença de Na parte distal da Bacia de Campos, também
suprimento abundante de sedimentos lamosos ocorrem depósitos contorníticos. Nos mapas das
(deltaicos), provocam o transporte e a redeposi- Figuras 4 e 5, são assinalados dois depósitos de
ção desses sedimentos, gerando zonas de insta- corrente de contorno adjacentes a muralhas soer-
bilidade geotécnica em áreas de maior declivida- guidas pelo sal. O depósito mais a norte, imageado
de (Hernandez-Molina et al., 2006). no mapa edge da sísmica 3D (Figura 18), consiste
O talude normal da Bacia de Campos é com- em um mound contornítico (3) situado a leste da
posto de lamas hemipelágicas (Caddah et al., muralha e vários outros depósitos contorníticos
SW NE
2363

Lâmina d’Água
Z
11.000 anos
2412
G M F MF S A
Areia
LAC 23
Y
84.000 anos
G M F MF S A
Areia
X
LAC 27 G M F MF S A
G M F MF S A Areia
G M F MF S A
Areia
Areia
LAC 26
LAC 25
LAC 20
130.000 anos
0 LAC
W
LAMA
G M F MF S A NE
Areia
AREIA
LAC 24
1m
CROSTA FERRUGINOSA
SO
0 1 2 3 km
Figura 14. Seção litoestratigráfica de testemunhos a pistão na franja do Leque Almirante Câmara (figura modificada de Abreu et al., 2005). Biozonas Z, Y, X
e W de foraminíferos planctônicos (Z e X- interglacial, Y e W- glacial). Notar a abundância de areias abaixo do limite Holoceno/Pleistoceno (Z/Y) e as maiores
granulometrias e espessuras dos corpos arenosos depositados na biozona Y glacial, em nível de mar baixo. Mapa de localização esquemático da seção, des-
tacando o Leque Almirante Câmara (LAC).
G eolog ia e Geomorfolog i a 91

a
Cânion Itapemirim

A A’
Seg A A’
2x
Pleistoceno
1000
Cânion S. Tomé

1200
Ondas de Sedimento
Migrantes
1400
Mioceno

1600

Cunha Progradante
1800

2000

2200 1 km
b
Figura 15. (a) Imagem do fundo do mar no talude inferior da porção central da Bacia de Campos (Schreiner et al.,
2007/2008) com a localização da seção sísmica (b) mostrando as ondas de sedimento migrantes. A discordância
(linha preta) separa a cunha progradante do Mioceno do sedimento Pleistocênico sobrejacente.

N soterrados (1 e 2). A geometria interna desses de-


pósitos evidencia uma migração lateral de leste
para oeste, o que atesta a ação de uma corrente
proveniente de sul, associada à Água de Fundo An-
tártica (AFA) (Viana, 2001).
S Observa-se na seção sísmica A-A’ da Figura
18c que o mound mais superficial (3) está cober-
to, em sua extremidade leste, por uma sequência
sedimentar mais recente constituída na base por
um depósito caótico e, acima deste, por sedi-
mentos planoparalelos. Observa-se também que
a superfície do mound está recortada por sulcos
(furrows). Essas duas observações mostram que o
Figura 16. Seção sísmica do talude médio da Bacia mound superficial é também uma feição relíquia.
de Campos mostrando ondas de sedimento migrantes
Uma idade mínima de 560.000 anos pode ser esti-
talude acima e modelo da circulação de fundo respon-
sável por sua formação, proveniente do sul e influen- mada para o mound, utilizando-se uma taxa de se-
ciado pela força de Coriolis (Viana et al., 2002b). dimentação de 4,5 cm/1.000 anos para a cobertura
92 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

N
Corrente do Brasil

Corrente de Sul
S 1000 m
100 m

Figura 17. Processo formação de estruturas primárias de fundo por correntes de contorno de sentidos opostos,
no norte da Bacia de Campos. A corrente de sul forma estruturas de ondas de sedimento lamoso paralelas ao
talude médio, ao passo que a Corrente do Brasil desenvolve estruturas lamosas transversas no talude superior.
Figura simplificada de Viana et al. (2002b).

Muralha de Sal

A b
Mound Contornítico

Sulcos
A’ c
3,5
A Mound Contornítico A’
Sulco Cobertura Recente
Sulco
Tempo Duplo

3 4,0

1 2

4,5 s
Sal 1 km

Figura 18. Depósitos de corrente de contorno associados à muralha de sal na porção distal da Bacia de Campos
(figura modificada de Viana, 2001). a) mapa fisiográfico e de amplitude sísmica com base em cubo sísmico 3D;
b) detalhe da morfologia do depósito de corrente de contorno montiforme (mound contornítico) cortado por
sulcos (furrows) com localização da linha sísmica; c) seção sísmica A-A’ atravessando a muralha de sal e o mound
contornítico adjacente (3). A corrente de fundo que construiu os depósitos contorníticos soterrados (1 e 2) e na
superfície (3) fluiu de sudoeste para nordeste ao longo do flanco leste da muralha, como mostra o símbolo em X
apontando para dentro da página. A cobertura sedimentar mais recente em onlap sobre o mound contornítico à
direita e a presença de sulcos sobre ele atestam que se trata de uma feição relíquia.
G eolog ia e Geomorfolog i a 93

hemipelágica de um testemunho a pistão obtido biozonas glaciais Y1 e Y2, predominantemente


sobre o mound e aplicando-a à espessura total de de nível de mar baixo, apresentam taxas médias
25 m de cobertura sedimentar planoparalela que de 9,6 cm/1.000 anos e 21,4 cm/1.000 anos, res-
recobre a extremidade leste do mound contorní- pectivamente. O universo amostral da biozona
tico. Feições de depósitos contorníticos mais anti- Y2 é menos representativo, justamente por nela
gos e completamente soterrados, tanto sob forma concentrar-se a ocorrência de depósitos de mo-
de mounds parcialmente sobrepostos (1) quanto vimento de massa e de discordâncias que impe-
em cunhas de onlap (2), ocorrem abaixo do mound dem a penetração do testemunhador até a base
superficial (3), relíquia. da biozona e, portanto, o próprio cálculo da taxa.
Não obstante a contribuição das correntes Em águas ultraprofundas, as taxas das biozonas
de contorno na construção do talude da Bacia de glaciais Y1 e Y2 tendem a se igualar às da in-
Campos, as taxas de acumulação observadas nos terglacial Z (Holoceno), devido à diminuição do
testemunhos são muito baixas (Figura 19), se com- aporte terrígeno e ao aumento dos componen-
paradas com outras áreas do mundo. As taxas do tes pelágicos.
Holoceno (biozona Z), mais numerosas (n = 94), Corrobora essa observação o aumento do teor
apresentam valores entre 40 e 0,5 cm/1.000 de CaCO3 observado nos sedimentos do Holoceno
anos, com uma média de 6,4 cm/1.000 anos. Já as em direção às águas profundas (Figura 20).

160

Z (0–11.000 anos)
Y1 (11.000–42.000 anos)
Taxa de Sedimentação (cm/1000 anos)

120 Y2 (42.000–84.000 anos)

80

40

0
400 800 1200 1600 2000 2400
Lâmina d’Água (m)
Figura 19. Taxas de sedimentação das biozonas Z, Y1 e Y2 em testemunhos a pistão da Bacia de Campos. Setas
indicam a convergência, em águas ultraprofundas, das taxas das biozonas glaciais Y2 e Y1 para valores do Holo-
ceno (Z).
94 Feições indicadoras de instabilidade geológica no talude continental e no Platô de São Paulo

70
Vasa
60

50
% CaCO3

Marga
40

30

20
Lama
10
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Profundidade da Lâmina d’Água (m)

Figura 20. Teor de CaCO3 obtido por calcimetria dos sedimentos do topo de testemunhos a pistão (Holoceno)
coletados no talude da Bacia de Campos.

10. Conclusões São Paulo, o desmoronamento local da parede de


cânions e a transferência de areias relíquias da pla-
As feições indicadoras de instabilidade de se-
taforma para o talude superior, por ação de corren-
dimentos no talude da Bacia de Campos consis-
tes de fundo. Esta última pode atingir a cabeceira
tem no transporte de areias relíquias da plataforma
do Cânion Almirante Câmara, com a consequente
continental externa para o talude superior e terraço
erosivo associado, nos depósitos de deslizamento deposição de turbiditos na calha proximal e no le-
no talude médio, nas cicatrizes de desabamento e que a jusante.
afloramentos no talude inferior, nos depósitos de
fluxo de detritos no pé do talude e, no Platô de São
Paulo, nos sistemas turbidíticos associados a câ- Agradecimentos
nions submarinos e nos afloramentos provocados À bióloga Ana Paula da Costa Falcão, coorde-
pelo soerguimento salino (halocinese). nadora geral do projeto, pelo suporte gerencial,
A datação obtida mediante o biozoneamento apoio e dedicação ao projeto. Aos geólogos que,
de foraminíferos planctônicos, em cerca de 300 tes- ao longo dos anos, participaram da descrição dos
temunhos que amostraram as feições indicadoras testemunhos a pistão. Aos revisores, pela criteriosa
de instabilidade sedimentar, revela que a grande leitura crítica do manuscrito e valiosas sugestões
maioria foi gerada no Pleistoceno. São datados do para seu aprimoramento. Huri de Souza Barbosa
Holoceno apenas movimentos de massa associa- redesenhou a maioria das figuras adaptadas de
dos com a halocinese na porção distal do Platô de outros autores.
G eolog ia e Geomorfolog i a 95

Referências
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6
Áreas propensas a escorregamentos
no talude continental

Ricardo Garske Borges, Alexsandre Cavalcante de Lima e Renato Oscar Kowsmann

Palavras-chave

Estabilidade de taludes submarinos; sistema de informação geográfica; fator de segurança; Bacia de


Campos

Resumo

Realizou-se uma avaliação regional das áreas suscetíveis à ocorrência de movimentos de massa sub-
marinos no talude continental e no Platô de São Paulo da Bacia de Campos. Para essa avaliação, foi uti-
lizada uma ferramenta de análise espacial disponível em um sistema de informação geográfica (SIG), em
conjunto com a aplicação de um modelo matemático desenvolvido para a previsão de áreas propensas a
deslizamentos, baseado em uma formulação de leis físicas.
A análise de estabilidade de taludes foi feita sob condições não drenadas, em termos de tensões totais,
considerando um solo argiloso normalmente adensado, e baseou-se no método determinístico para o
cálculo de fatores de segurança através da abordagem de equilíbrio limite – formulação de talude infinito-
-unidimensional para a condição submersa. Dessa forma, foi possível levar em consideração, no cálculo
dos fatores de segurança, o dado referente à geometria do fundo do mar (declividade) e as propriedades
mecânicas do solo marinho (resistência ao cisalhamento não drenada e peso específico submerso).
O resultado foi a obtenção de mapas regionais de fatores de segurança estáticos para avaliação de
propensão a deslizamentos submarinos translacionais rasos no talude e no Platô de São Paulo da Bacia de
Campos, considerando dois perfis de resistência ao cisalhamento não drenada do solo: um corresponden-
te a um limite inferior de resistência, e o outro referente a um valor de resistência intermediário.

Borges, R.G., Lima, A.C., Kowsmann, R.O. 2014. Áreas propensas a escorregamentos no talude continental. Kowsmann, R.O., editor.
Geologia e Geomorfologia. Rio de Janeiro: Elsevier. Habitats, v. 1. p. 99-136.
100 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

1. Introdução ruptura é paralela à inclinação do talude, e que a


A cartografia geotécnica vem se beneficiando profundidade da superfície de ruptura é pequena
com os avanços da Informática, principalmente quando comparada com a altura do talude.
pelo uso conjunto com o sistema de informação Em função do exposto, fez-se uma avaliação
geográfica. Esses sistemas têm como finalidade ar- regional das áreas suscetíveis à ocorrência de mo-
mazenar, recuperar e analisar dados que estejam vimentos de massa submarinos rasos no talude
relacionados ao espaço geográfico. continental e no Platô de São Paulo da Bacia de
O sistema de informação geográfica é uma fer- Campos. Para essa avaliação, utilizou-se uma ferra-
ramenta que permite a manipulação de diferentes menta de análise espacial disponível em um siste-
fontes de dados e também a incorporação de mo- ma de informação geográfica, em conjunto com a
delos matemáticos que auxiliem na avaliação de aplicação de um modelo matemático desenvolvido
áreas propensas a deslizamentos. para a previsão de áreas propensas a deslizamen-
Muitas das metodologias que têm sido desen- tos, com base em uma formulação de leis físicas.
volvidas para a previsão de movimentos de massa Nesse contexto, objetiva-se especificamente aqui
utilizam modelos, os quais podem ser subdividi- a aplicação de uma formulação matemática para
dos em modelos empíricos e modelos que se ba- obter um mapa contendo áreas potenciais a des-
seiam em leis físicas. Dentre os modelos empíricos, lizamentos submarinos translacionais rasos na re-
têm-se aqueles fundamentados em inventários de gião do talude e no Platô de São Paulo da Bacia
deslizamentos, aqueles que fazem uso de análises de Campos.
estatísticas e os que combinam diversos planos de Para o desenvolvimento deste trabalho, se-
informação (províncias de solos, declividades etc.). guiu-se o roteiro metodológico apresentado na
Os que utilizam modelos estruturados em leis físi- Figura 1.
cas permitem que hipóteses bem específicas sejam Foram utilizadas informações obtidas pelas
testadas tanto na escala do talude como na escala campanhas de investigação geológica e geotécnica
da área de estudo (Gomes et al., 2005). realizadas na Bacia de Campos, e a base cartográfica
As implementações de um sistema de infor- digital elaborada pela Gerência de Geologia Mari-
mação geográfica baseadas em modelos físicos, nha (Petrobras/E&P-SERV/US-SUB/GM). O Centro
tipo SHALSTAB (Shallow Slope Stability Model) de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Améri-
(Guimarães, 2000) e SINMAP (Stability INdex co Miguez de Mello (Cenpes/Petrobras) contribuiu
MAPping) (Pack et al., 1998), têm como princípio com a disponibilização de um banco de dados geo­
o método do equilíbrio limite e utilizam a equa- técnicos (BDG), contendo informações provenientes
ção de talude infinito para avaliar áreas potenciais dos ensaios in situ realizados na bacia.
a deslizamentos. Da base cartográfica, foram extraídas as infor-
A análise de equilíbrio limite considera que as mações referentes à caracterização física da área,
forças que tendem a induzir a ruptura são balan- cobrindo os temas referentes a batimetria, declivi-
ceadas exatamente pelos esforços de resistência. dade e faciologia.
A fim de comparar a estabilidade de taludes em No início da primeira etapa, foi desenvolvida
diferentes condições de equilíbrio limite, define- uma revisão bibliográfica em que se destacaram os
-se o fator de segurança (FS) como a razão entre a trabalhos de Campos (1984), Savage et al. (2004) e
ação das forças que desestabilizam e as forças que Guimarães (2000). Essa revisão possibilitou a defi-
resistem ao escorregamento (Guidicine e Nieble, nição da formulação física a ser aplicada e a defi-
1976). Segundo Massad (2010), os taludes infinitos nição da metodologia para se elaborar o Modelo
são encostas naturais que se caracterizam por sua Digital de Terreno (MDT) da área. A segunda e últi-
grande extensão e sua reduzida espessura de solo. ma etapa consistiu na avaliação do mapa das áreas
Eles se baseiam no princípio de que a superfície de suscetíveis a movimentos de massa submarinos.
Geolog ia e G eomorfolog i a 101

Dados Geotécnicos Base Cartográfica


Georreferenciados
Dados Disponíveis
Amostras Sondagens
BASE DE DADOS

Modelagem Matemática Modelagem Numérica


Formulação Física de Terreno 1ª Etapa

SIG

Avaliação de Áreas Suscetíveis ao Deslizamento 2ª Etapa

Figura 1. Metodologia usada para a obtenção de mapas regionais de suscetibilidade a deslizamentos.

2. Estabilidade do fundo do mar Deslizamentos submarinos ocorrem com fre­


quência tanto em margens continentais ativas como
2.1. Características dos deslizamentos
passivas, especialmente nos taludes continentais. A
submarinos
despeito de ângulos de talude geralmente baixos,
Deslizamentos submarinos são mecanismos essas áreas de estratigrafia em talude frequente-
comuns e muito eficazes de transferência de se- mente apresentam processos geológicos mais ati-
dimentos da plataforma continental e do talude vos e vigorosos que aqueles encontrados em áreas
superior para bacias oceânicas profundas. Durante rasas da plataforma continental, sub-horizontal.
um único evento, enormes volumes de sedimentos A borda da plataforma e a área de talude contêm
podem ser transportados em taludes suaves com os materiais mais recentemente depositados e, em
inclinações de 0,5 a 3 graus, cobrindo distâncias de áreas com alta taxa de sedimentação, pode existir
centenas de quilômetros. Tipicamente, esses even- subadensamento/excesso de poropressão. A poro-
tos duram de menos de uma hora a vários dias, pressão em excesso da hidrostática frequentemen-
e podem danificar severamente plataformas fixas, te desempenha papel relevante na desestabilização
dutos, cabos submarinos e outras instalações no dos taludes submarinos. Os investimentos para se
piso marinho. A partir do ano 2000, foi intensifi- encontrar e desenvolver a produção de campos de
cada a pesquisa para a compreensão dos meca- águas profundas são muito elevados, e isso aumen-
nismos subjacentes e dos riscos envolvidos nos ta significativamente a parcela das consequências
deslizamentos submarinos, principalmente pe- econômicas do aspecto do risco vinculado a des-
lo crescente número de campos de petróleo em lizamentos submarinos no ambiente da margem
águas profundas que têm sido descobertos e, em continental.
alguns casos, com a explotação desenvolvida, em Sabe-se também que escorregamentos subma-
fase de produção. A produção de campos offshore rinos deram origem a tsunamis com efeitos devas-
em áreas com atividade de deslizamento anterior tadores em áreas costeiras adjacentes (Nowacki et
está acontecendo na margem norueguesa, no Gol- al., 2003). Isso porque, em geral, os escorregamen-
fo do México, na parte marítima do Brasil, no Mar tos ocorrem em larga escala, mobilizando grandes
Cáspio e na costa Oeste da África. volumes de material, podendo chegar a 20.000
102 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

km³, como ocorreu na África do Sul (Dingle, 1977). ativos de rios na margem continental, regiões de
Kvalstad et al. (2001) citam ainda que a extensão cânion, no talude continental e em ilhas oceâni-
em área e os volumes envolvidos em um cenário cas vulcânicas. A Figura 3 apresenta os percen-
de ruptura de talude submarino podem variar de tuais de casos de escorregamentos ocorridos na
escorregamentos locais, ou rastejos (creep), a enor- margem atlântica dos EUA de acordo com o am-
mes movimentos de massa submarinos envolven- biente submarino.
do milhares de metros cúbicos de solo. A Figura Grandes movimentos de massa foram observa-
2 relaciona a extensão em área com o número dos em taludes de baixa inclinação (Kvalstad et al.,
de casos de deslizamentos ocorridos na margem 2001). Esse aspecto pode ser observado na Figura
atlântica dos EUA, onde é possível notar predomi- 4, que apresenta a distribuição de deslizamentos
nância nos tamanhos entre 1 e 50 km². No Brasil, submarinos conforme a inclinação do talude. Um
Figueiredo Jr. et al. (1993) pesquisaram a região estudo baseado na teoria do talude infinito reali-
de Cabo Frio/RJ e, contrariando antigas pesquisas zado por Costa et al. (1994), no talude do Campo
realizadas na área, detectaram que cicatrizes de de Marlim (Bacia de Campos), mostrou que os fa-
pequenos escorregamentos são as feições domi- tores de segurança estáticos diminuem considera-
nantes na região. velmente com o aumento da poropressão e que
Segundo Hampton et al. (1996), escorrega- a influência da poropressão no valor do fator de
mentos são bastante comuns em cinco diferen- segurança é mais pronunciada em taludes de bai-
tes tipos de ambientes submarinos: fjords, deltas xas inclinações.

25

20
Número de Casos (%)

15

10

0
< 0,1

0,1 – 0,5

0,5 – 1

1–5

5 – 10

10 – 50

50 – 100

100 – 500

500 – 1.000

> 1.000

Extensão dos Escorregamentos (km2)

Figura 2. Extensão em área versus número de casos de escorregamentos submarinos ocorridos na margem
atlântica dos EUA. Adaptada de Lee (2004) por Silva (2005).
Geolog ia e G eomorfolog i a 103

50

40
Número de Casos (%)

30

20

10

0
Talude Cânions Cordilheiras Outros
Continental

Ambientes Submarinos
Figura 3. Ocorrência de movimentos de massa em diferentes tipos de ambientes submarinos na margem atlân-
tica dos EUA. Adaptada de Lee (2004) por Silva (2005).

15
399 Eventos
14

13

12
Densidade de Frequência (% / Graus)

11

10

0
<1

1–2

2–3

3–4

4–5

5–6

6–7

7–8

8–9

9 – 10

10 – 11

11 – 12

12 – 13

13 – 14

14 – 15

15 – 16

16 – 17

17 – 18

18 – 19

19 – 20

20 – 25

25 – 45

Ângulo do Talude (Graus)

Figura 4. Distribuição da densidade de frequência do ângulo médio do talude relacionados aos deslizamentos
submarinos. Adaptada de Hance (2003).
104 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

2.2. Fatores que influenciam a diversos estudos têm sido desenvolvidos por espe-
estabilidade do fundo do mar cialistas do mundo todo com o objetivo de enten-
Os deslizamentos submarinos resultam de uma der melhor as condições geológicas e geotécnicas,
interação complexa entre vários fatores diferen- bem como a dinâmica dos sedimentos submarinos
tes que atuam simultaneamente, com intensida- desses locais. Instabilidades geologicamente re-
des e escalas de tempo distintas, de acordo com o centes de taludes devem ser encaradas como um
ambiente geológico em que a área está inserida. risco potencial para as facilidades de exploração e
O ambiente geológico-tectônico-oceanográfico é produção de óleo ou gás.
o que regula a ação de cada fator que influencia a
estabilidade do solo marinho e cria, ou não, uma Estudos qualitativos
instabilidade potencial no local. Muitos tipos de escorregamentos de taludes
Hampton et al. (1996) resumiram as causas dos submarinos foram identificados no talude conti-
escorregamentos de taludes na Tabela 1: nental do Golfo do México. Alguns grandes movi-
mentos se iniciaram na quebra da plataforma con-
Tabela 1. Causas de movimentos de massa submari- tinental e se estenderam por grandes distâncias a
nos (Hampton et al., 1996). jusante do talude (Hooper e Prior, 1989). Muitos
desses escorregamentos provavelmente foram dis-
Fatores que influenciam Fatores que influenciam
a redução da resistência o aumento de tensões parados em períodos de nível de mar baixo, quan-
do solo no talude do sedimentos na borda da plataforma avançaram
Terremotos Terremotos
sobre a porção superior do talude (Suter e Berryhill,
Carregamento por ondas Carregamento por ondas 1985).
Mudanças de maré Mudanças de maré Campbell et al. (1986) estudaram o talude con-
Intemperismo Diapirismo tinental dos estados norte-americanos do Texas e
Sedimentação Sedimentação da Louisiana (a nordeste do Golfo do México), com
Gás Erosão o intuito de avaliar as condições geológicas e geo­
técnicas do solo marinho para fins de projeto de
Segundo Costa et al. (1994), taludes natural- fundações. Eles verificaram que algumas regiões
mente estáveis podem tornar-se instáveis sob a apresentaram feições geológicas complexas, resul-
ação de um ou mais mecanismos de diversas na- tantes de atividades diapíricas de sal, falhamentos,
turezas, tais como: mudanças na morfologia que deslizamentos e outros tipos de movimentos de
alterem o equilíbrio de forças atuantes, como pro- sedimentos. Concluíram que a maioria dos movi-
cessos de erosão ou sedimentação; ação de for- mentos em larga escala parecia ter ocorrido em
ças externas, como atividade sísmica e efeitos de um passado geológico relativamente distante, mas
ondas; aumento da poropressão no solo causado a possibilidade de deslizamentos em menor escala
por carregamento ou deformação; diminuição das foi aventada. Assim, foram sugeridos levantamen-
tensões efetivas devido ao aprisionamento de po- tos geofísicos e geotécnicos mais detalhados, de
ropressão por variações no nível do mar e decrésci- forma que toda a região pudesse ser devidamente
mo progressivo da resistência ao cisalhamento do conhecida.
material, tanto por intemperismo ou degradação Estudos realizados por Caddah et al. (1998) e
quanto por acúmulo de deformações resultante de Kowsmann et al. (2002) também associaram a pe-
processos de creep ou de carregamentos cíclicos. ríodos de nível de mar baixo alguns depósitos de
movimentos de massa e camadas de debris flow
2.3. Trabalhos anteriores observados no talude continental e em regiões de
Desde que começaram as descobertas de cam- cânions na Bacia de Campos. No Platô de São Pau-
pos petrolíferos na região do talude continental, lo, foram notadas feições de movimentos de massa
Geolog ia e G eomorfolog i a 105

ocorridos em períodos interglaciais, acionados pe- de rupturas em depósitos de sedimentos em várias


lo movimento do sal (diapirismo), que ainda é ativo regiões sismicamente ativas. Baraza et al. (1992)
nos dias atuais. fizeram um estudo preliminar de estabilidade do
sedimento próximo à superfície do talude conti-
Estudos quantitativos nental do Mar de Alboran, no Mediterrâneo, levan-
Uma análise da estabilidade dos taludes em ní- do em consideração a solicitação dinâmica. Os re-
vel regional foi realizada no Golfo do México por sultados de vários ensaios geotécnicos in situ e de
Hooper e Prior (1989). Naquela ocasião, foram ma- laboratório possibilitaram estimar a resistência ao
peados, além de feições como hidratos de gás e fa- cisalhamento do solo e a tensão cisalhante máxima
lhamentos, deslizamentos regionais translacionais estática ou dinâmica-reduzida a que o sedimento
rasos de solo em flancos de diápiros de sal e em poderia ser submetido sem romper. A análise de
blocos basculados, e em locais onde havia a ocor- estabilidade sob carregamento estático mostrou
rência de gradientes mais íngremes do fundo do que os sedimentos da região apresentavam baixa
mar. Um dos deslizamentos envolvia a descida de probabilidade de ruptura drenada sob carga gra-
sedimento sobre uma superfície de cisalhamento vitacional. Assim, foram considerados estáveis. Já
na base da camada, que coincidia com um plano na análise sob carregamento dinâmico, mostrou-
estratigráfico próximo à superfície. Com base nas -se que a probabilidade de ruptura de talude con-
evidências reveladas pelas investigações geofísicas sequente a um terremoto deveria ser considerada.
e geotécnicas, um método baseado no equilíbrio Um estudo semelhante, realizado por Ayres
limite foi desenvolvido para se estimarem as condi- Neto (1994) na região do delta submarino do Rio
ções regionais de estabilidade dos taludes. Os pa- Amazonas, constatou que os mecanismos dispa-
râmetros geotécnicos de resistência utilizados nas radores de movimentos de massa variam de lo-
análises foram medidos in situ mediante ensaios cal para local. Realizou-se uma análise qualitativa
de palheta. A geometria rasa e alongada do movi- de estabilidade mediante a superposição de to-
mento de massa do tipo translacional com contro- dos os fatores e/ou mecanismos disparadores de
le na base (ou seja, sobre um plano estratigráfico movimentos de massa submarinos observados na
bem definido) caracterizou um problema de esta- região, e o resultado foi a definição de duas áreas
bilidade que pôde ser resolvido por equilíbrio limi- geográficas distintas: uma na qual os fatores dis-
te, com base ora na teoria do talude infinito, ora paradores de movimentos de massa ocorrem com
nos métodos do arco circular (Lambe e Whitman, maior intensidade e outra com maior número de
1969), dependendo da inclinação do talude. Am- fatores disparadores ocorrendo concomitante-
bas as análises foram realizadas para a região e, mente. Na análise quantitativa, a metodologia
dessa forma, foram encontrados valores de fatores adotada foi a de Booth et al. (1985). Foram reali-
de segurança que avaliaram as condições de esta- zadas ainda retroanálises para avaliar a aceleração
bilidade do local, apesar das limitações encontra- horizontal gerada por um terremoto e a altura mí-
das, tais como: variáveis geológicas e geotécnicas nima de onda que poderia desestabilizar as áreas.
que não foram medidas com os métodos usados Ambos os resultados levaram à conclusão de que
e dados de resistência do sedimento provenientes as áreas eram estáveis.
de um furo executado a 5 km do local onde se ob- Rizzo et al. (1994) estudaram movimentos de
servaram as evidências de deslizamentos. massa e fluxos gravitacionais nos campos de Mar-
Há ampla evidência histórica e geológica de lim e Albacora na Bacia de Campos, coletando da-
que instabilidades de taludes geradas por terre- dos geológicos, geotécnicos e sísmicos de alta re-
motos são comuns no ambiente marinho. Sabe-se solução da porção mais rasa da coluna sedimentar
que tremores de terra são mecanismos disparado- de áreas do talude continental. Foram verificadas
res de escorregamentos submarinos e causadores feições de movimentos de massa sob a forma de
106 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

cicatrizes (remoção de sedimentos) ou de depósi- drenada ou não drenada, fornece o fator de segu-
tos sedimentares, resultado de escorregamentos rança mais adequado a cada caso.
ou de fluxo de detritos. As feições de remoção de Na análise probabilística, também realizada no
sedimentos foram identificadas a partir da análise Golfo do México, proposta por Nadim et al. (2003),
dos perfis sísmicos de alta resolução, em que os foi estabelecido um modelo de frequência de es-
refletores se apresentaram truncados, ou por meio corregamentos (ou seja, probabilidade anual de
de mapa fisiográfico, pelas alterações nos contor- ruptura) para avaliar os riscos inerentes às estru-
nos batimétricos. Essas feições foram comprovadas turas de engenharia submarinas. Esses autores de-
mediante a aquisição de testemunhos geológicos, fendem que a análise probabilística oferece maior
nos quais foram observadas discordâncias e ausên- precisão, pois o problema é conduzido de modo a
cia de biozonas, e de dados geotécnicos, median- lidar com as imprecisões comuns em análises de-
te o perfil descontínuo de resistência não drena- terminísticas, em que muitos parâmetros de resis-
da Su versus profundidade, evidenciando ausência tência do solo são incertos, fazendo com que os
de seção. No estudo, estabeleceu-se uma relação engenheiros utilizem valores conservativos. Foram
bastante clara entre os rebaixamentos do nível do definidos fatores de sensibilidade que quantifi-
mar e a iniciação de movimentos de massa. Nesse cam a contribuição de cada variável aleatória na
sentido, visto que a situação atual é de mar alto análise global de estabilidade. O estudo mostrou
e o tempo necessário para ocorrer uma mudan- grande relação entre altas taxas de sedimentação
ça nesse cenário é em muito superior ao tempo e escorregamentos rasos de solo. No Escarpamen-
de duração dos projetos de produção na Bacia de to San Pedro, a sudoeste da cidade de Long Beach
Campos, os autores concluíram que, atualmente, (Califórnia), onde feições morfológicas típicas de
não se esperaria a ocorrência de movimentos de grandes escorregamentos submarinos foram de-
massa em larga escala como os registrados na co- tectadas, Bohannon e Gardner (2004) desenvol-
luna sedimentar do talude de Marlim. Este traba- veram uma pesquisa com o objetivo de avaliar a
lho incorporou o estudo realizado por Costa et al. provável ocorrência de tsunamis. As cicatrizes de
(1994), que efetuou uma análise estática da estabi- escorregamentos e os depósitos de detritos ma-
lidade do talude fundamentada na teoria do talude peados e estudados constituem amplas evidências
infinito. de que a região foi fonte de pequenas e grandes
Um amplo estudo da estabilidade de taludes rupturas de taludes submarinos. Apesar de não se
foi realizado no escarpamento Sigsbee, junto aos poder afirmar que os escorregamentos resultaram
campos de Mad Dog e Atlantis, no Golfo do Mé- realmente em tsunamis, suas escalas sugerem a
xico. Nowacki et al. (2003) propuseram uma análi- possibilidade de ocorrência de tais eventos. Uma
se determinística de estabilidade de taludes com o razão teórica para essa afirmação foi obtida atra-
objetivo de obter uma estimativa do fator de se- vés de formulações em que a energia potencial da
gurança, estabelecer resultados de referência pa- massa de solo é transformada em energia cinética,
ra análises probabilísticas e, em combinação com uma vez detonado o movimento. A altura de onda
as análises probabilísticas, fornecer melhor com­ estimada foi de 12 m, mas os cálculos não levaram
preensão de como o fator de segurança aumen- em consideração a atenuação de acordo com a dis-
ta à medida que a superfície de cisalhamento se tância da fonte.
afasta da borda do escarpamento. Análises drena- Biscontin et al. (2004) utilizaram elementos fi-
da e não drenada indicaram taludes relativamente nitos para analisar o comportamento de taludes
estáveis, a não ser que um mecanismo disparador submarinos (depósitos de argila mole), quando
venha a rompê-los. Porém, o estudo não avaliou o dinamicamente solicitados (variação das relações
comportamento do solo em relação ao mecanismo tensão-deformação-resistência, assim como a ge-
disparador, não estabelecendo qual das análises, ração de poropressão). Concluíram que, além de
Geolog ia e G eomorfolog i a 107

gerar excesso de poropressão significante para de- foram comparadas com os resultados encontrados
sestabilizar um talude submarino durante o even- a partir da formulação clássica de talude infinito. A
to, um carregamento dinâmico também pode in- integração de dados geotécnicos e geofísicos foi
fluenciar sua estabilidade após o ocorrido, devido necessária para que todos os parâmetros utilizados
a redistribuição/processo de dissipação da poro- na metodologia pudessem ser obtidos. Os resul-
pressão no perfil de solo. tados indicaram dois pontos críticos ao longo da
Silva et al. (2004) apresentaram uma metodo- rota, ambos associados aos flancos do Cânion Ita-
logia de investigação de instabilidade de taludes pemirim, por apresentarem declividades elevadas.
submarinos fundamentada na integração de ferra- Foram realizados breves estudos com o objetivo de
mentas e métodos geofísicos e geotécnicos, além se avaliar o potencial destes pontos críticos sofre-
de avançadas técnicas de datação de sedimentos, rem instabilidades por meio de terremotos e ondas
e aplicaram-na em uma área localizada no talude de tempestade oceânica. Os resultados obtidos, no
continental do Texas-Louisiana, no Golfo do Méxi- entanto, descartaram tais mecanismos como fon-
co. Os estudos mostraram a ocorrência de várias tes de instabilidade.
rupturas de taludes na Bacia de Beaumont, situada
no centro da área de estudo. A altura desses talu-
des varia de 600 a 900 m, e há declividades localiza- 3. Aplicação de sistema de
das superiores a 25 graus. Análises realizadas atra- informação geográfica à
vés de equilíbrio limite, utilizando-se a geometria avaliação de suscetibilidade
conhecida dos taludes e os dados de resistência e a escorregamentos
densidade dos solos obtidos mediante sondagens Sistemas de informações geográficas têm si-
com um amostrador a pistão de grande diâmetro, do utilizados para a avaliação da suscetibilidade à
sugeriram que vários taludes se encontram em ocorrência de movimentos de massa subaéreos e
estado de ruptura incipiente sob condições dre- submarinos, tanto em abordagens regionais quan-
nadas. Já na Bacia de Calcasieu, localizada a no- to locais.
roeste da Bacia de Beaumont, a presença de um Os métodos para a avaliação de suscetibilida-
sedimento holocênico e de um pico de densidade de a movimentos gravitacionais de massa variam
foi observada nas amostragens no talude superior de puramente empíricos a modelos empíricos pro-
(norte), mas não nas amostragens realizadas ao sul. babilísticos e modelos puramente analíticos. Esses
Dessa forma, o pico de densidade foi interpretado modelos utilizam o mapeamento geológico, dados
como material proveniente de uma deposição de de pluviosidade (no caso de taludes subaéreos),
material escorregado, e a ausência do sedimento dados geotécnicos e dados do Modelo Digital do
holocênico sugeriu que o evento ocorreu em um Terreno associados a um sistema de informação
passado geológico recente (< 12.600 anos A.P.). geográfica, a fim de estimar espacialmente e de
Silva (2005) avaliou as condições de estabilida- forma temporal distribuições referentes à avaliação
de do solo marinho ao longo da rota de um duto de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de
metálico de 10 polegadas de diâmetro revestido massa em um talude.
com concreto, localizado na Bacia de Campos. Os De acordo com Fernandes et al. (2001), os prin-
dados geológicos e geotécnicos foram adquiridos cipais procedimentos usados para a previsão de
por meio de um amplo levantamento geofísico e escorregamentos podem ser divididos em quatro
geotécnico realizado na diretriz do duto. As análi- grandes grupos:
ses de estabilidade se fundamentaram na teoria do
talude infinito, em metodologia aplicada por No- yy Análises a partir da distribuição dos escorrega-
wacki et al. (2003) nos campos de águas profun- mentos no campo: a distribuição de cicatrizes
das de Mad Dog e Atlantis, no Golfo do México, e e depósitos recentes, ou mesmo atuais, pode
108 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

controlar futuros padrões de distribuição de são feitas na Engenharia Geotécnica, usam parâ-
instabilidade de taludes. Essas metodologias metros como a inclinação do talude, a coesão do
fazem uso de mapas que refletem a densidade solo, o ângulo de atrito, a poropressão, etc. O cál-
dos escorregamentos no campo (mapas feitos culo resulta em um fator de segurança contra des-
a partir de inventários de deslizamentos), seja lizamentos, o qual pode ser usado diretamente por
para um único evento, seja para uma série tem- engenheiros em projetos de infraestrutura ou em
poral. Entretanto, as informações geradas por trabalhos de remediação.
esse tipo de metodologia se limitam às áreas Neste trabalho, através de um sistema de infor-
onde ocorreram deslizamentos catalogados. mação geográfica, utilizou-se o modelo determi-
yy Análises a partir de mapeamentos geomorfoló- nístico para a avaliação regional de suscetibilidade
gicos e/ou geotécnicos: utilizam a combinação a movimentos de massa submarinos translacionais
de planos de informação em que se atribuem rasos no talude continental e no Platô de São Paulo
“notas” e “pesos” aos diversos planos, a partir da Bacia de Campos, tendo sido usado o método
da experiência do especialista. Apresenta gran- do equilíbrio limite – formulação de talude infinito
de limitação devido à enorme subjetividade submerso.
envolvida na caracterização de pesos e notas.
yy Modelos com bases estatísticas: utilizam o
4. Caracterização regional
princípio da existência de relações funcionais
da área de estudo
entre os fatores condicionantes e a distribui-
ção dos escorregamentos, ou seja, os fatores 4.1. Fisiografia
que causam a instabilização em certo local no A Bacia de Campos situa-se na margem Su-
passado serão os mesmos que gerarão futuros deste, em frente aos estados do Rio de Janeiro e
escorregamentos. Em sua maioria, esses mode- do Espírito Santo. Abrange uma área de cerca de
los utilizam análises estatísticas de correlação 100.000 km² até a cota batimétrica de -3.400 m,
entre as variáveis. sendo que apenas 500 km² encontram-se emersos
yy Modelos determinísticos: alguns desses proce- (Gonzaga, 2005).
dimentos utilizam modelagem matemática em Sua geologia regional é apresentada em Castro
bases físicas, com base em processos e leis fí- e Picolini (Capítulo 1, deste volume, e referências
sicas naturais. nele contidas). É uma bacia de margem divergente,
resultante da tectônica distensional relacionada à
Modelos determinísticos para estabilidade de quebra do continente Gondwana no Cretáceo In-
taludes têm sido usados desde o início do século ferior (Dias et al., 1990). O arcabouço da bacia foi
passado para o cálculo de estabilidade de taludes condicionado pelas estruturas do embasamento,
individuais (Nash, 1987). Apenas recentemente vá- mas o piso marinho foi particularmente afetado
rios pesquisadores começaram a adotar esse mode- pela tectônica salífera, que gerou falhas de caráter
lo para elaborar mapas de estabilidade de taludes extensional nas porções mais proximais e diapiris-
para grandes áreas, tais como barragens (Ward et mo salino e estruturas compressionais nas porções
al., 1981; 1982; Okimura e Kawatani, 1987; Brass et mais distais (Dias et al., 1990).
al., 1989; Benda e Zhang, 1990; Van Asch et al., 1992; A fisiografia da bacia foi descrita por Viana et
1993; Van Westen et al., 1994; Terlien et al., 1995; al. (1998) e pode ser subdividida em plataforma
Terlien, 1996) e rodovias (Hammond et al., 1992). continental, talude e Platô de São Paulo, esta úl-
A vantagem da aplicação dos modelos deter- tima uma província modificada pela tectônica salí-
minísticos em estudos de estabilidade de taludes fera. Recentemente, uma imagem detalhada da fi-
se deve a seu embasamento em leis da Física. Aná- siografia da bacia foi apresentada por Schreiner et
lises de estabilidade de taludes, como aquelas que al. (2007/2008), com base em dados de sísmica 3D.
Geolog ia e G eomorfolog i a 109

A plataforma continental possui relevo suave e lamosos, sob forma de depósitos de escorrega-
monótono, sem desníveis de grande expressão, e mento (slumps) dobrados e deformados (Caddah
declividade média em torno de 0,5 grau. Seu limi- et al., 1998) e depósitos de fluxo de detritos con-
te externo é definido pela quebra da plataforma, glomeráticos (Machado, 2001). Areias siliciclásticas
que se encontra a aproximadamente 180 metros ocorrem de forma limitada e são oriundas da pla-
de profundidade. taforma continental. Apresentam a forma de franja
Já o talude continental apresenta variações em no talude superior (Viana e Faugères, 1998) e tam-
sua morfologia e uma declividade média de cerca bém estão associadas aos cânions submarinos ma-
de 4 graus. As variações morfológicas decorrem da duros (Machado et al., 2004).
presença de cânions, ravinas e sulcos, cujas escar-
pas podem atingir declividades acima de 30 graus.
O limite externo do talude pode chegar a 2.300 m 5. Modelagem matemática e
de lâmina d’água. cálculo do fator de segurança
O Platô de São Paulo é caracterizado por rele- Devido à natureza complexa dos movimentos
vo irregular ocasionado pela movimentação de ca- de massa, é difícil prever a configuração exata do
madas de sal em subsuperfície (halocinese). Nele, mecanismo de ruptura e do volume de solo a ser
ocorrem grandes desníveis, que podem variar de deslocado. Entretanto, dependendo das condições
0,5 grau a valores acima de 20 graus, com média do terreno e de algumas suposições analíticas, mo-
de 1 grau. Seu limite externo coincide com uma delos matemáticos teóricos adequados podem ser
grande escarpa que ocorre em uma profundidade produzidos para esse tipo de análise (Bhattarai et
aproximada de 3.000 m. al., 2004).
A Figura 5 apresenta o mapa de batimetria pa- Modelos matemáticos têm origem nas formu-
ra a região do talude continental e Platô de São lações relacionadas à análise de estabilidade de ta-
Paulo da Bacia de Campos, extraído de Almeida e ludes. As análises baseadas no equilíbrio limite, tais
Kowsmann (Capítulo 3 deste volume). Nela, é pos- como: talude infinito, Bishop, Fellenius, Spencer, en-
sível ver que o talude apresenta um perfil côncavo tre outros, são as mais utilizadas atualmente para a
ao Sul e ao Norte da bacia, e é fortemente esculpi- análise individualizada de um talude. Essas análises
do por cânions e ravinas. Já o talude central, onde consideram que as forças que tendem a induzir à
se situam os principais campos de águas profun- ruptura são balanceadas pelos esforços resistentes.
das, é bem mais suave, embora marcado por inú- A fim de se comparar a estabilidade de taludes em
meras cicatrizes (Caddah et al., 1998, Kowsmann et condições diferentes de equilíbrio limite, define-se o
al., 2002). Sua forma convexa é herdada da cunha fator de segurança (FS) como a resultante das forças
progradante do Mioceno subjacente (Kowsmann e solicitantes e resistentes ao escorregamento (Guidi-
Viana, 1992). cine e Nieble, 1976; Laird, 2001).
Segundo Guidicine e Nieble (1976), a estabi-
4.2. Composição do solo lidade de taludes se baseia na relação entre dois
No talude continental e no Platô de São Paulo, tipos de forças: as estabilizantes (resistentes) e as
o fundo do mar é composto dominantemente por desestabilizantes. A razão entre essas duas forças é
lama hemipelágica de espessura variável, cerca de denominada fator de segurança. O fator de segu-
alguns metros (Caddah et al., 1998). A lama hemi- rança pode ser calculado aplicando-se a equação
pelágica, depositada por suspensão, é composta 1 para avaliar áreas suscetíveis a movimentos de
por silte e argila siliciclásticos, com teores variáveis massa:
de carbonato de cálcio oriundo de carapaças de
seres planctônicos mortos. Essa lama geralmen- Esforçosestabilizantes
FS = (1)
te recobre depósitos de movimento de massa Esforçosdesestabilizantes
110 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

41° O 40° O 39° O

ES

0
20
–1
00

21° S
–1
–50

–220
–100

0
–2300

–2100
–2200

0
70
–2
00
–2600
-1

–26
00
–40

0m
0 –3
–6
00
00

–21 –25
00 00

–25
–2600

00
RJ –2200

22° S
–3000
–2600
–2
0

00

60 0
–5 –2000

–2
00

–2900–25

0
–1500

70
–23
–100
–29
0

00 –2
00

90
40
–1

00 0
–1

–9
0
00
–1

00
–2
00
0
90

–8 10
0
–2
00

–1
–5

–2700
20 0

–28
–2 160

00
0

0
50m

0
0–0
00

0
00

10 –2600
-5
–1

–3

0 –2
90
–100
0
–2
00m

0
80
–200

–2

23° S
-2

0
80
–1

0
0m

40
–2 0
00

0
-2

5
–2
0
80
–2
0
70

00 0
0

–300
–2

90

–2
–2
0
30
–1

00

CONTORNO BATIMÉTRICO
–2300

N
–25

0
–1800 00
–1700 –2
0

24° S
50
–2

0 12,5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000

Figura 5. Batimetria detalhada da Bacia de Campos apresentada em Almeida e Kowsmann (Capítulo 3, neste
volume).
Geolog ia e G eomorfolog i a 111

Um fator de segurança menor ou igual a 1 in- extensão ilimitada que possui condições e pro-
dica a ruptura dos maciços, sendo considerado se- priedades do solo constantes em qualquer dada
guro o talude quando apresenta um fator de segu- distância abaixo da superfície do talude. Por sim-
rança maior do que 1,50 (ABNT NBR 11682:2009). plificação, o solo pode ser considerado homogê-
Para taludes subaéreos, a maioria dos modelos neo, mas um talude infinito consiste em várias ca-
matemáticos inclui fatores como ângulo de decli- madas de diferentes tipos de solo dispostas umas
vidade, distribuição espacial das camadas com os sobre as outras, desde que paralelas à superfície
parâmetros do solo (peso específico, coesão e ân- do terreno. Dessa forma, qualquer coluna vertical
gulo de atrito) e a posição do nível de água no so- de solo dentro de um talude infinito é, por defi-
lo. A influência de um possível acréscimo de resis- nição, igual a qualquer outra dentro do mesmo
tência pela presença de raízes de plantas pode ser talude. Segundo Massad (2010), taludes infinitos
acrescida de forma independente em alguns mo- consistem em taludes de encostas naturais que se
delos, ou por um simples ajuste no valor da coesão caracterizam por sua grande extensão, centenas
do solo (Laird, 2001). de metros, e pela reduzida espessura do manto de
Em muitas verificações de estabilidade de talu- solo, de alguns metros. A ruptura, quando ocor-
des, o desenvolvimento das equações estruturadas re, é do tipo planar, com linha crítica situada na
no conceito de talude infinito é bastante frequen- interface entre duas camadas com características
te, e isso se deve à sua relativa simplicidade e por físicas distintas.
permitir o cálculo automático de índices de esta-
bilidade em áreas extensas (Bhattarai et al., 2004). Formulação de talude infinito submerso
Modelos desse tipo se baseiam em leis físicas que No equilíbrio do paralelepípedo oblíquo de
refletem o fenômeno estudado e possibilitam que seção ABCD da Figura 6, serão consideradas as
hipóteses específicas sejam testadas, diminuindo, forças de pressão hidrostática P1 e P2, atuando,
assim, sua subjetividade (Gomes et al., 2005). respectivamente, nas faces verticais AD e BC, e Q1
Uma formulação matemática para o cálculo de e Q2, atuando, respectivamente, nas faces inferior e
FS, baseada em talude infinito na situação submer- superior do paralelepípedo prismático, cuja seção
sa para material de Mohr-Coulomb e solo coesivo, transversal é o paralelogramo ABCD. As compo-
foi apresentada por Paganelli e Borges (2005), a nentes horizontal E e vertical X, da força interlame-
qual é descrita a seguir. lar, são iguais em magnitude e de sentido contrário
nas faces verticais AD e BC. Entretanto, as resul-
5.1. Conceito de talude infinito tantes das forças de pressão hidrostática P1 e P2,
Apesar de os escorregamentos submarinos atuando, respectivamente, nas faces verticais AD e
acontecerem normalmente em larga escala, mobi- BC, são diferentes.
lizando volumes de massa significativos, a análise Seja p a pressão d’água atuante ao longo da
de estabilidade do fundo do mar foi realizada em horizontal pelo centro da face superior, em perfil
pequena escala, considerando apenas a camada representada pelo segmento CD. As resultantes da
superficial do perfil de solo na área analisada. pressão hidrostática nas faces inferior, AB, e supe-
A análise de estabilidade foi feita a partir da rior, CD, do paralelepípedo são perpendiculares ao
teoria do talude infinito, em metodologia simpli- plano potencial de escorregamento AB e, portanto,
ficada em relação à descrita por Mackenzie et al. não contribuem para a resultante na direção pa-
(2010), para projetos de desenvolvimento da pro- ralela ao plano de cisalhamento. Resta considerar
dução de óleo e gás de águas profundas com mais as resultantes das pressões hidrostáticas nas faces
de 1.000 km² de área. verticais AD e BC.
Segundo Taylor (1948), o termo talude infinito O empuxo horizontal da pressão hidrostática,
é usado para designar um talude constante com P1, sobre a face AD é dado pela equação 2, onde gw
112 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

é o peso específico da água e ue é o eventual ex- paralelepípedo de seção vertical ABCD é o produto
cesso de poropressão atuando na face vertical AD, do empuxo horizontal P pelo cosseno de a, expres-
devido à vibração sísmica ou à consolidação parcial so pela equação 5:
do sedimento, quando for o caso de material não
consolidado: Tw = P cos α = γw b H sen α (5)

 1 1  O peso próprio do bloco prismático ABCD, por


P1 =  p + γw H + γ w b tg α + u e H (2)
 2 2  unidade de largura na direção perpendicular ao
plano da seção, é igual à área do paralelogramo
O empuxo horizontal da pressão hidrostática ABCD, multiplicada pelo peso específico total do
P2 sobre a face BC é dado pela equação 3: material gt, dado pela equação 6:

 1 1  W = γt b H (6)
P2 =  p + γw H − γ w b tg α + u e H (3)
 2 2 
A soma TG das componentes na direção tan-
Consequentemente, a resultante das forças de gencial ao plano do escorregamento do peso pró-
pressão hidrostática nas faces verticais AD e BC do prio saturado e da força de inércia, WG = k.W, é
paralelepípedo ABCD é a força horizontal P, dada dada pela equação 7:
pela equação 4:
TG = γt (sen α + k cos α) b H (7)
P = P1 – P2 = γw b H tg α (4)
Considere-se também a contribuição das for-
Portanto, a projeção Tw, na direção tangencial, ças de pressão hidrostática para a força tangencial
da resultante das forças de pressão hidrostática no mobilizada. As forças de pressão atuando nas faces

Q2
C
H

P2
E’
WG
G
X
D
B
X
P1
T
E’ A α

W
Q 1 N’

Figura 6. Equilíbrio de forças atuantes no bloco prismático submerso ABCD.


Geolog ia e G eomorfolog i a 113

inferior e superior, sendo perpendiculares ao pla- segmento CD no leito marinho, a força Q2, decorren-
no potencial de escorregamento, não têm compo- te da pressão hidrostática, resulta na equação 11:
nente na direção tangencial. Consequentemente, a
componente tangencial da resultante T das forças Q2 = p b / cos α (11)
atuantes no bloco de seção ABCD, que inclui o pe-
so próprio saturado, forças de pressão hidrostática A força de pressão Q1 atuante na face inferior
atuantes nas faces do paralelepípedo e eventuais AB, na superfície potencial de escorregamento, é
forças de inércia na direção horizontal, é expressa dada pela equação 12:
pela equação 8:
Q1 = (p + γw H) b / cos α (12)
T = TG – Tw = γt b H (sen α + k cos α) – γw b H
Considerando o equilíbrio de forças na direção
sen α = (γt – γw) b H sen α + k γt b H cos α (8) normal, levando em conta o excesso de poropres-
são (ue) produzido no caso de excitação dinâmi-
Portanto, podemos escrever que a força tan- ca, obtém-se a força normal efetiva N’ através da
gencial mobilizada T é dada pela equação 9: equação 13:

T = y′ b H sen α + k γt b H cos α= y′ b H N′ = W cos α – k W sen α + P1 sen α – P2


γ
( sen α + t k cos α ) (9) sen α – Q1 + Q2 – ue b / cos α
γ'
= γt b H (sen α – k sen α) + γw b H tg α
Onde y′ = γt – γw.
A tensão de cisalhamento t, mobilizada ao – sen α – γw b H / cos α – ue b / cos
longo da face inferior AB, do paralelepípedo AB-
= γt b H (cos α – k sen α) – γw b H
CD, é obtida dividindo-se a componente tangen-
cial da força de reação T pela área da base apoia- (1 – sen2 α) / cos α – ue b / cos α
da na superfície potencial de comprimento, igual
ao comprimento AB e igual a b/cos α, multipli-  γt 
= ( γ t − γ w ) b H cos α − k sen α  − u e b / cos α
cado pela largura unitária. Portanto, a tensão de  ( γ t − γ w) 
cisalhamento mobilizada ao longo de AB resulta
na equação 10:  γ 
= γ ' b H cos α − k t sen α  − u e b / cos α
 γ'  (13)
γt
τ = γ ' H (sen α + k cos α ) cos α (10)
γ'
Simplificando a equação 13, a força normal re-
Se o modelo de Mohr-Coulomb for o aplicável sulta na equação 14:
ao tipo de solo em questão, será preciso calcular
a força normal efetiva N, atuando na face apoia- γ ue
N ' = γ ' b H cos α ( 1 − k tg α − ) (14)
da sobre a superfície potencial de escorregamento γ' γ ' H cos2 α
considerada, para se obter a pressão efetiva. Esta A tensão normal efetiva s’ é obtida dividindo-se
será calculada a partir da equação de equilíbrio de a força normal efetiva N’, por unidade de compri-
forças do bloco ABCD na direção perpendicular ao mento na direção transversal ao plano da seção, pelo
plano de escorregamento. Nessa equação de equi- comprimento AB, que é igual a b/cos α. Desse modo,
líbrio, deverão ser consideradas as forças de pres- a tensão normal resultante é dada pela equação 15:
são Q1 e Q2 atuantes nas faces AB e CD.
Sendo p a pressão atuante no centro da face γ ue
N ' = γ ' b H cos α ( 1 − k tg α − ) (15)
superior do bloco CD, representada em seção pelo γ' γ ' H cos2 α
114 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

A equação 15 pode ser expressa de modo γ


S = c ' + γ ' H cos2 α ( 1 − k tg α − ru) tg α' (20)
conciso, usando o parâmetro adimensional de ra- γ'
zão de poropressão normalizada, ru, definido pela
Aplicando-se a definição de fator de segurança
equação 16:
para um material não puramente coesivo, de parâ-
ue metros de resistência c’ e f’, resulta a equação 21:
ru = (16)
γ 'H cos2 α
γ
c'+ γ ' H cos2 α (1 − k ' tg α − ru ) tg ϕ'
S γ
O parâmetro ru deve ser determinado experi- FS = = (21)
τ γ
mentalmente e depende do número de ciclos do γ ' H ( sen α + t k cos α ) cos α
γ'
terremoto característico, que é função da frequên-
cia e da duração do registro temporal da acelera- Efetuando-se reduções na equação 21, chega-se
ção que for usado para a análise de verificação de à forma dada pela equação 22, onde os adimensio-
estabilidade. Depende também da amplitude da nais estão agrupados:
variação de tensão cisalhante. Lee e Albaisa (1974)
e Dealba et al. (1975) descobriram que a relação c' γ
+( 1 − k tg α − ru ) tg ϕ'
de poropressão pode ser descrita pela equação 17: γ' 2
H cos α γ'
FS = (22)
γ
tg α + k t
1 /α0 γ'
1 1   n 
ru = + 2   − 1 (17)
2  
π   nL   Para depósitos sedimentares coesivos normal-
 
mente adensados, a resistência ao cisalhamento não
onde n é o número de ciclos acumulados durante drenada do material Su é dada pela equação 23:
a excitação sísmica e nL é o número de ciclos ne-
cessários para o material do solo iniciar sua lique- Su = Su0 + ζ H (23)
fação, determinado em ensaio com 65% da tensão
de pico tpeak. A constante a0 é um parâmetro expe- Por definição, o fator de segurança FS é dado
rimental. pela equação 24:
Portanto, a equação 15 pode ser escrita na for- Su
FS = (24)
ma dada pela equação 18: τ

γ Substituindo-se na equação 24 as expressões


σ' = γ ' H cos2 α ( 1 − k tg α − ru ) (18)
γ' da resistência ao cisalhamento, Su, dada pela equa-
ção 23, e da tensão de cisalhamento na superfí-
Relembrando o modelo de Mohr-Coulomb cie de escorregamento, t, dada pela equação 10,
(equação 19), aplicável a materiais não puramente resulta a expressão 25 para o fator de segurança,
coesivos, a resistência disponível S ao longo da su- considerando o peso específico do solo constante:
perfície de contato AB é função da tensão efetiva
s’, dada pela equação 18: Su0 / H + ζ
FS = (25)
γ
γ ' cos α ( sen α + k cos α )
S = c′ + σ′ tg ϕ′ (19) γ'

Reescrevendo a equação 25 de outra forma, o


onde c’ é a coesão e f’ é o ângulo de atrito interno
fator de segurança resulta na equação 26:
do material submerso.
Substituindo na equação 19 a expressão da [S u0 / ( γ ' H) + ζ / γ ' ] (1 + tg2 α )
FS = (26)
tensão efetiva ao longo da superfície de contato γ
tg α + k
AB, dada pela equação 18, obtém-se a equação 20: γ'
Geolog ia e G eomorfolog i a 115

No caso estático, onde k = 0 e ru = 0, as equa- Na Figura 7, estão contidos os nomes das princi-
ções 22 e 26, respectivamente para material de pais feições geomorfológicas (Schreiner et al., 2008),
Mohr-Coulomb e material coesivo, ficam reduzidas tanto as mais consagradas, como o Sistema Turbidí-
às equações 27 e 28, respectivamente: tico Almirante Câmara e os cânions do Grupo Sudes-
c' te (Hercos et al., 2008; Machado et al., 2004; Viana
+ tg ϕ' et al., 1999), quanto aquelas estudadas mais recen-
γ' H cos2 α
FS = (27)
tg α temente, como o Sistema Turbidítico Itabapoana, o
Sistema Turbidítico Marataízes (Hercos et al., 2005) e
( S u0 / H ) + ζ as paleolinhas da costa (Della Giustina, 2006).
FS = (28)
γ ' ⋅ sen α ⋅ cos α
Mapa de declividade
5.2. Análise de estabilidade A batimetria utilizada para se criar o mapa de
A modelagem matemática (análise de estabili- geomorfologia da Figura 7 foi a base para que pu-
dade de taludes submarinos) realizada teve como desse ser gerada a declividade do piso marinho, já
base a formulação de talude infinito submerso. O que a declividade é obtida aplicando-se a primeira
cálculo do fator de segurança estático contra desli- derivada à batimetria. Para cada cela do mapa de
zamentos foi executado mediante a ferramenta de declividade, o valor do ângulo de inclinação a do
álgebra matricial da aplicação do sistema de infor- piso marinho está armazenado.
mação geográfica, apresentando como resultado a O mapa de declividade da Figura 8 mostra que
variação espacial do fator de segurança para toda grande parte da bacia apresenta uma declividade
a área, e não somente para um talude específico. muito baixa (0 a 2 graus). Destacam-se, pelas ele-
vadas inclinações relativas, as regiões de cânions e
Modelo digital da geomorfologia ravinas no talude ao norte e ao sul da bacia (10 a
Para elaborar a imagem de edge detection da Ba- 25 graus) e, na parte central da bacia, as paredes
cia de Campos (Figura 7), Schreiner et al. (2007/2008) dos cânions (15 a 30 graus) e a inclinação do talude
elaboraram um mosaico batimétrico do fundo do inferior (8 a 15 graus) com suas inúmeras cicatrizes;
mar. Para isso, foi reunido o fundo do mar de 37 di- no platô adjacente, ressaltam-se as escarpas cria-
ferentes projetos sísmicos, além de 12 levantamentos das pelas cadeias de sal (10 a 20 graus) e as mar-
de multibeam com o complemento da batimetria de gens dos canais turbidíticos.
varredura por interferometria de sonar.
Segundo Schreiner et al. (2007/2008), esses Cálculo do fator de segurança
projetos sísmicos perfizeram 54.010 km². Nas áreas No mapa de declividade da Figura 8, que é a
sem cobertura de sísmica 3D ou onde havia dis- base para a geração do mapa de fatores de segu-
ponibilidade de dados de melhor resolução, foi rança, os valores de declividade maiores ou iguais
usada batimetria multibeam. Esses levantamentos a 45 graus foram classificados como 45 graus, en-
multibeam totalizaram 2.300 km² de 12 campanhas quanto os valores iguais a 0 grau foram transforma-
distintas. No extremo leste da área, onde havia au- dos para 0,1 grau. A utilização de valores maiores
sência de 3D ou multibeam, somaram-se 6.000 km² que 45 graus e iguais a 0 grau invalidaria a fórmula
de batimetria de varredura por interferometria de utilizada para o cálculo do fator de segurança. Nes-
sonar. se mapa, apresenta-se declividade máxima em cada
Edge detection é um algoritmo que detecta a cela, expressa em graus, constituindo-se no pior ca-
coerência entre valores de uma matriz. No caso da so para a estabilidade de taludes.
batimetria, essa coerência é medida entre os valo- Foram utilizados os programas de geoproces-
res de profundidade de lâmina d’água da região samento da Intergraph denominados GeoMedia®
em estudo. Professional e GeoMedia® Grid, versões 6.01.
116 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

300 400 500


7700

7700
0
Rio

–20
Ita

em
p

irim

ES Sistema Turbidítico
Marataízes

00
Debritos

–20
Rio Itab
a poana Leque Arenoso
Sistema Turbidítico Turbidítico
Itabapoana
Barreira de Sal

RJ

São João da Barra Depósitos


Platô de São Paulo
ul

S
7600

7600
do Contorníticos
íba Almirante Câmara
Rio Para

Campos Sistema Turbidítico Tabajara


Almirante Câmara Curumim Cadeias de Nappes
Diapirismo
Grussaí
Debritos Salino
Cânions Maduros
do Grupo Central
L. Feia Cabo de São Tomé Itapemirim Leque Arenoso
Terraço Erosivo Turbidítico Minibacias

Quissamã

Salio da
na
osta
de C

vín tern
n has tica São Tomé Debritos
o li á

Pro ite Ex
cia
on Expostos por
Plataforma Pa
le
Ca
rb Halocinese
a

Lim
m
Continental or Cicatrizes de
af

Deslizamento
at
Pl

Calha Distal do
7500

7500
Almirante Câmara
Talude
Mound Contornítico
Depósitos Lençol Arenoso
Contorníticos Contornítico Cadeias de Diapirismo
Salino

Zona de Desabamento –3000

Goitacá
Tupinambá
Temiminó
Tamoio Grupo de Cânions SE
Cânions do Grupo Tupiniquim Imaturos
Sul-Sudeste
os
rit
eb
D
de
al
nt
e
Bacia de Campos
00

Av
–2
7400

7400

Ondas de Sedimento
00

de o
es nt
–20

t riz me N
ca iza
Ci esl
D
0 10 20 30 40 50
km

300 400 500

Figura 7. Modelo digital da geomorfologia indicando as principais feições geomorfológicas do fundo do mar da
Bacia de Campos (Schreiner et al., 2007/2008).
Geolog ia e Geomorfolog i a 117

41° O 40° O 39° O

ES
21° S

21° S
RJ
22° S

22° S
23° S

23° S
DECLIVIDADE (°)

0–2

2–4
4–6

6–8
8 – 10

10 – 12
12 – 14

14 – 16
16 – 18
N 18 – 20
20 – 22
0 12,5 25 50 22 – 24
24° S

24° S

km
DATUM: SIRGAS 2000 24 – 60

41° O 40° O 39° O

Figura 8. Declividade do fundo do mar da Bacia de Campos; baseado no Modelo Digital do Terreno de Schreiner
et al. (2007/2008).
118 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

Para avaliar a suscetibilidade a deslizamentos angular da equação Su = Su0 + z.H, um amplo con-
submarinos, após a modelagem numérica do ter- junto de perfis de resistência ao cisalhamento não
reno e a determinação do valor de declividade a drenada em função da profundidade foi interpre-
ser utilizado em cada cela, aplicou-se a formulação tado, de modo a encontrar, num primeiro momen-
matemática de talude infinito para a condição sub- to, aquele que representaria a pior situação para
mersa, considerando o talude como constituído um estudo de estabilidade de taludes submarinos,
por solo coesivo normalmente adensado. qual seja, quando o parâmetro z da razão incre-
Assim, a equação 28 apresentada anteriormen- mental de variação da resistência com a profundi-
te, descrita em Paganelli e Borges (2005), foi apli- dade é mínimo. Posteriormente, um valor médio
cada por meio de uma ferramenta de álgebra ma- para o parâmetro z foi pesquisado para represen-
tricial do programa GeoMedia®. Essa ferramenta tar um solo coesivo de resistência intermediária
possibilitou que fossem realizadas operações ma- para o talude da bacia.
temáticas para toda a área de estudo. A Figura 9 ilustra as locações dos furos geotéc-
nicos constantes no banco de dados geotécnicos
( S u0 / H ) + ζ
FS = (28) do Cenpes/Petrobras.
γ ' ⋅ sen α ⋅ cos α
Por se tratar de uma área com um número es-
Onde: tatisticamente significativo de ensaios de resistên-
FS = fator de segurança estático contra desliza- cia in situ calibrados por ensaios de laboratório, foi
mentos, para material coesivo; possível estimar os valores de resistência mínima e
Su0 = resistência ao cisalhamento não drenada na média para a área de estudo. Dessa pesquisa, re-
superfície do terreno, kPa; sultou que o furo geotécnico com o perfil de Su
H = espessura da camada de solo analisada, m; correspondendo a um limite inferior de resistência
z = taxa de crescimento da resistência Su com a é o do GT-212, e o referente a uma resistência mé-
profundidade vertical H abaixo do piso marinho, dia, o perfil do furo GT-500.
kPa/m; As Figuras 10 e 11 apresentam os perfis de Su
g’ = peso específico submerso do solo, kN/m³; obtidos para os furos GT-212 e GT-500, respecti-
a = declividade do fundo do mar, em graus. vamente:
O furo GT-212 foi executado pela embarcação
Informações geotécnicas Peregrine II em 1998, no Campo de Espadarte, nas
Para a confecção dos mapas de fatores de se- coordenadas UTM E 354.370 m e N 7.483.541 m
gurança estáticos contra deslizamentos transla- (Datum Aratu-BC, MC 39°O), em uma lâmina
cionais rasos no talude continental e Platô de São d’água de 963,39 m. A profundidade final do fu-
Paulo da Bacia de Campos, foram selecionados ro foi de 20,67 m. O furo GT-500 foi executado na
dois perfis geotécnicos de resistência ao cisalha- campanha de investigação geológica e geotécni-
mento não drenada dos sedimentos superficiais do ca de 2003, realizada pelo navio MV Bucentaur, no
talude da bacia, quais sejam: um correspondendo a Campo de Marlim Sul. Suas coordenadas UTM são
um limite inferior de resistência e outro referente a as seguintes: E 376.414 m e N 7.473.150 m (Datum
um perfil de resistência média para o solo. Aratu-BC, MC 39°O). A profundidade de água nes-
As propriedades do solo necessárias à aplica- sa locação é de 1.624,50 m. A profundidade final
ção da equação 28 são a resistência ao cisalhamen- do ensaio foi de 40,41 m.
to não drenada Su e o peso específico submerso do No caso do furo geotécnico GT-212 (Figura 10),
solo g’, os quais foram pesquisados através de con- na camada superficial a equação de resistência obti-
sulta ao banco de dados geotécnicos do Cenpes/ da a partir de tensões totais é dada pela equação 29:
Petrobras (BDG). Para se obterem os valores míni-
mo e médio do parâmetro z, que é o coeficiente Su = 1,424 H + 3,000 (29)
Geolog ia e Geomorfolog i a 119

41° O 40° O 39° O

ES
21° S

21° S
22° S

22° S
RJ
23° S

23° S

RING-FENCE

FURO GEOTÉCNICO (PCPT)


24° S

24° S

0 12,5 25 50
km
DATUM: SIRGAS 2000

41° O 40° O 39° O

Figura 9. Locações dos ensaios de cravação de piezocone plotados sobre a imagem da morfologia do fundo do
mar da Bacia de Campos (Figura 7), de Schreiner et al. (2007/2008). Em verde, contorno de ring-fence dos campos
da Petrobras na Bacia de Campos.
120 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

Resistência Não Drenada, su (kPa)


su = su0 + ζ . H
0 10 20 30 40 50
0

10
Profundidade, H (m)

15

20

Tensões Totais (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base da N-ésima Camada)

Su = 1,424 • H’ +3,000 para 0,00 <H< 20,67

Tensões Efetivas (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base N-ésima Camada)

Su = 1,670 • H’ +2,429 para 0,00 <H< 20,67

25

TENSÕES TOTAIS TENSÕES EFETIVAS


REGR. TENSÕES TOTAIS REGR. TENSÕES EFETIVAS

Figura 10. Perfil de resistência ao cisalhamento não drenada do furo GT-212.


Geolog ia e G eomorfolog i a 121

Resistência Não Drenada, su (kPa)


su = su0 + ζ . H
0 20 40 60 80 100
0

Tensões Totais (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base da N-ésima Camada)

Su = 1,728 • H’ +0,157 para 0,00 <H< 40,41

5 Tensões Efetivas (H’ = H – hn–1, hn = Prof. Base N-ésima Camada)


Su = 1,939 • H’ +0,629 para 0,00 <H< 40,41

10

15
Profundidade, H (m)

20

25

30

35

40

45

TENSÕES TOTAIS TENSÕES EFETIVAS


REGR. TENSÕES TOTAIS REGR. TENSÕES EFETIVAS

Figura 11. Perfil de resistência ao cisalhamento não drenada do furo GT-500.


122 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

A equação de resistência em termos de tensões desfavorável para a estabilidade de taludes. Obvia-


efetivas é dada pela equação 30: mente, se o peso específico submerso for tomado
como máximo, assim também deve-se proceder
Su = 1,670 H + 2,429 (30) em relação ao peso específico natural g (g = g’ + gw),
onde gw é o peso específico da água. Observou-se
Entre as equações 29 e 30, selecionou-se a que os valores máximos de peso específico sub-
equação 29 em termos de tensões totais. Dessa merso g’ para a Bacia de Campos estão em torno
equação, resultaram os seguintes valores para o de 7,50 kN/m³. Esse foi o valor de peso específico
cálculo do fator de segurança pela formulação de submerso usado no cálculo de fator de segurança
talude infinito dada pela equação 28 para o furo para o mapa com os dados do furo GT-212. Con-
GT-212: sequentemente, o peso específico natural g resulta
em 17,31 kN/m³, considerando o peso específico
Su0 = 3,000 kPa; da água gw = 9,81 kN/m³.
H = 20,67 m; e Para a confecção do mapa de fatores de segu-
z = 1,424 kPa/m. rança referentes aos dados de penetração de um
piezocone (PCPT) do GT-500, adotou-se como ba-
No caso do furo geotécnico GT-500 (Figura 11), se a amostragem do tipo JPC (Jumbo Piston Core)
na camada superficial do solo, a equação de resis- realizada acompanhando esse furo (JPC-500), sele-
tência obtida a partir de tensões totais é dada pela cionando-se o valor médio de peso específico sub-
equação de regressão linear 31: merso obtido nesse ensaio, isto é, g’ = 5,4375 kN/m³
(Figura 12). O furo JPC-500 foi executado pelo navio
Su = 1,728 + 0,157 (31)
MV Bucentaur em Marlim Sul, em 2003, nas coor-
denadas UTM E 376.415 m e N 7.473.159 m (Datum
A equação de resistência para tensões efetivas
Aratu-BC, Esferoide Hayford, Zona 24°S, MC 39°O).
é dada pela equação 32:
A lâmina d’água na locação é de 1.621,17 m.
Como resultado da aplicação da equação 28,
Su = 1,939 H + 0,629 (32)
obteve-se uma matriz em que cada cela armazena
um valor de fator de segurança. Com isso, é possí-
Entre as equações 31 e 32, selecionou-se a
vel observar a variação geográfica do fator de se-
equação 31 em termos de tensões totais. Dessa
gurança para toda a área, nas duas situações de
equação, resultaram os seguintes valores para o
resistência do solo analisadas.
cálculo do fator de segurança pela formulação de
talude infinito dada pela equação 28 para o furo
Mapeamento de áreas suscetíveis
GT-500:
a movimentos de massa
Su0 = 0,157 kPa; Não há uma regra geral sobre como o fator de
H = 40,41 m; e segurança deva ser classificado. Por exemplo, Van
z = 1,728 kPa/m. Westen e Terlien (1996) categorizaram o fator de
segurança em três classes: abaixo de 1, que sig-
Para a elaboração do mapa de fatores de se- nifica talude instável; entre 1 e 1,50, que significa
gurança considerando o perfil de Su do furo geo- moderadamente estável; e acima de 1,50, indican-
técnico GT-212, através de consulta ao banco de do um talude estável. O SINMAP (Stability INdex
dados geotécnicos do Cenpes/Petrobras (BDG), foi MAPping), uma extensão para a modelagem com-
adotada uma postura conservadora, escolhendo putacional de estabilidade de taludes no programa
um valor considerado máximo para o peso espe- ArcView, usa seis classes para o fator de segurança,
cífico submerso g’, o que representaria o caso mais incluindo divisões para valores abaixo de 1.
Geolog ia e G eomorfolog i a 123

Peso Específico Submerso, γ' (kN/m3)


γ'médio = 5,4375 kN/m3

0 2 4 6 8
0

8
Profundidade, H (m)

10

12

14

16

18

20

Figura 12. Resultados de peso específico submerso do furo JPC-500.


124 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

Na análise de estabilidade de taludes, o fator condição crítica, onde as forças resistentes e atuan-
de segurança com relação à resistência ao cisalha- tes no talude estão equilibradas.
mento do material tem, tradicionalmente, as se- Tendo em vista os riscos envolvidos em proje-
guintes funções: tos de desenvolvimento da produção de óleo e/ou
gás offshore, é necessário levar em consideração
yy Levar em consideração as incertezas nos parâ- um nível de segurança alto para o talude da Bacia
metros de resistência ao cisalhamento devido à de Campos, tanto contra a perda de vidas humanas
variabilidade do solo e a relação entre a resis- quanto contra danos materiais e ambientais. Dessa
tência medida no laboratório e aquela obtida forma, o fator de segurança considerado mínimo,
nos ensaios de campo. requerido para garantir a segurança do piso mari-
yy Contabilizar as incertezas quanto aos carrega- nho da área, é de 1,50, de acordo com padrões re-
mentos atuantes no talude, tais como: cargas comendáveis de Engenharia, encontrando suporte
superficiais, peso específico, poropressões etc. nas diretrizes da ABNT NBR 11682:2009.
yy Considerar as incertezas na forma como o mo- O fator mínimo aceitável de 1,50, de acordo
delo representa as condições reais no talude, com a norma citada, tem a finalidade de cobrir as
incluindo: a possibilidade de que o mecanismo incertezas referidas anteriormente. Entretanto, es-
de ruptura crítico seja um pouco diferente da- sa norma se refere ao estudo e ao controle da es-
quele que foi identificado, e que o modelo não tabilidade de encostas e de taludes resultantes de
seja conservativo. cortes e aterros realizados em encostas, diferindo
yy Assegurar que as deformações no corpo do ta- do caso aqui analisado, qual seja, a estabilidade de
lude sejam aceitáveis. taludes naturais submarinos. Tal referência foi usa-
da em razão da ausência de normas quanto à se-
O fator de segurança igual a 1 não indica que gurança de taludes contra deslizamentos na con-
a ruptura de um talude seja necessariamente imi- dição offshore.
nente. O fator de segurança real é fortemente in- O resultado do cálculo do fator de seguran-
fluenciado por detalhes geológicos, como proprie- ça estimado para cada cela foi um mapa temático
dades tensão-deformação do solo, distribuição apresentando a distribuição espacial dos valores
real de poropressões, estado de tensões inicial, dos fatores de segurança. Esses resultados passa-
ruptura progressiva e inúmeros outros fatores. En- ram por uma etapa de agrupamento automático
tretanto, na prática, é conveniente assumir que um em intervalos previamente definidos, em que o fa-
fator de segurança de nível 1 seja definido como a tor de segurança foi classificado em quatro classes

Tabela 2. Definição das classes de estabilidade do piso marinho com base nos valores de fatores de segurança.

Critério Classe Suscetibilidade a deslizamentos Comentários

FS > 1,50 4 Suscetibilidade baixa a deslizamentos. Carregamentos externos significativos são


necessários para se promover instabilidade.
1,30 < FS ≤ 1,50 3 Suscetibilidade moderada a Carregamentos externos moderados são
deslizamentos. necessários para se promover instabilidade.
1,00 < FS ≤ 1,30 2 Suscetibilidade alta a deslizamentos. Carregamentos externos de pequena
magnitude são suficientes para a
instabilidade.
FS ≤ 1,00 1 Suscetibilidade muito alta a Carregamentos externos não são necessários
deslizamentos. para a instabilidade (talude na iminência de
deslizamento).
Geolog ia e G eomorfolog i a 125

diferentes, como mostra a Tabela 2. Essa classifi- mais resistentes do que os perfis geotécnicos de
cação define as áreas potenciais a deslizamentos. resistência das camadas superficiais de solo ado-
Outras classificações poderiam ser adotadas a tados. Esse fato evidencia que a declividade a é
partir da matriz de variação de fator de segurança o parâmetro de maior peso na relação dada pela
obtida como resultado da modelagem matemáti- equação 28.
ca. Como a matriz armazena os valores brutos dos As áreas coloridas em azul nos mapas de fa-
fatores de segurança, qualquer nova classificação tores de segurança estáticos contra deslizamentos
(condição) pode ser adotada. apresentados nas Figuras 13 e 14, por serem de
Considera-se que o valor do fator de seguran- baixas declividades, resultaram em valores de fato-
ça tem relação direta com a resistência ao cisalha- res de segurança acima do mínimo de 1,50. Essas
mento do material do fundo do mar. Admite-se, áreas são consideradas pouco suscetíveis à ocor-
portanto, que um maior valor do fator de segurança rência de escorregamentos translacionais rasos, na
corresponda a uma segurança maior contra ruptura. ausência de mecanismos de disparo identificados e
Os cálculos de fatores de segurança estáticos de anormalidades localizadas.
contra deslizamentos foram feitos utilizando-se o Embora o talude da Bacia de Campos apresen-
sistema de informação geográfica, aplicando-se o te intenso histórico de instabilidade no passado
método do equilíbrio limite – formulação de talu- geológico recente, exemplificado por cânions, ra-
de infinito submerso unidimensional, obtendo-se vinas e cicatrizes, depósitos de escorregamento e
o fator de segurança para cada cela individual e de fluxo de detritos, discordâncias e afloramentos,
ignorando-se a influência das celas vizinhas. Atra- cerca de 300 testemunhos a pistão que amostra-
vés desse modelo, foi possível incorporar o dado ram as feições de instabilidade do talude confirma-
relativo à geometria do fundo do mar (declivida- ram que os eventos causadores ocorreram maciça-
de) e às propriedades mecânicas do solo. O pro- mente em períodos de rebaixamento do nível do
duto deste trabalho são os mapas das Figuras 13 mar e cessaram há pelo menos 11.000 anos, quan-
e 14, que, por meio das diferentes condições de do o nível do mar reocupou a plataforma conti-
fatores de segurança, definem áreas potenciais a nental (Kowsmann et al., neste volume). Na parte
movimentos de massa submarinos translacionais central da bacia, onde se localizam os principais
rasos no talude continental e no Platô de São Pau- ativos da Petrobras, os eventos cessaram há pelo
lo da Bacia de Campos, considerando-se perfis de menos 42.000 anos. Exceção são as escarpas das
resistência ao cisalhamento não drenada mínimo cadeias de sal, localizadas na porção distal da ba-
e médio, respectivamente. O solo do talude foi ti- cia, em lâminas d’água superiores a 2.500 m, onde
do como constituído inteiramente por lama nor- afloram sedimentos antigos sem cobertura hemi-
malmente adensada. Para a geração desses mapas, pelágica, devido à tectônica salífera ativa até hoje
aplicou-se apenas a carga estática gravitacional. (Kowsmann et al., 2002).
Forças adicionais ou cargas sísmicas não foram Aparece também, embora com maior fator de
consideradas. segurança, a área de declividade mais acentuada
Os mapas de fatores de segurança apresenta- do talude inferior na parte central da bacia. Essa
dos nas Figuras 13 e 14 mostram, em tese, as áreas faixa situada entre as isóbatas de 1.200 e 1.800 m
mais suscetíveis à instabilidade no talude continen- é conhecida como Tobogã (Kowsmann e Viana,
tal e no Platô de São Paulo da Bacia de Campos. 1992), por apresentar uma forma sigmoide e pro-
Destacaram-se as paredes de cânions e ravinas e pensão a deslizamentos, que deixaram cicatrizes e
os flancos das cadeias de sal e, em menor grau, o expuseram sedimentos mais antigos junto ao fun-
Tobogã na parte central da bacia, que são áreas do do mar (Figura 15).
com declividades elevadas, mas que, na realidade, A partir dos dados obtidos pela campanha
são constituídas de afloramentos consolidados, de investigação geológica e geotécnica, realizada
126 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

41° O 40° O 39° O

ES

21° S
RJ

22° S
23° S
FS < OU = 1,00

1,00 < FS < OU = 1,30

1,30 < FS < OU = 1,50

FS > 1,50

Parâmetros – GT212:
N
Su0 = 3 kPa
24° S

Taxa de crescimento de Su = 1,424 kPa/m


0 12,5 25 50 Peso específico submerso γ’ = 7,50 kN/m3
km
DATUM: SIRGAS 2000 H = 20,67 m

Figura 13. Cenário de suscetibilidade a deslizamentos obtido da modelagem matemática, considerando um


limite inferior de resistência (dados do furo GT-212).
Geolog ia e Geomorfolog i a 127

41° O 40° O 39° O

ES

21° S
RJ

22° S
23° S
FS < OU = 1,00

1,00 < FS < OU = 1,30

1,30 < FS < OU = 1,50

FS > 1,50

Parâmetros – GT/JPC-500:
N
Su0 = 0,157 kPa
24° S

Taxa de crescimento de Su = 1,728 kPa/m


0 12,5 25 50 Peso específico submerso g’ = 5,44 kN/m3
km
DATUM: SIRGAS 2000 H = 40,41 m

Figura 14. Cenário de suscetibilidade a deslizamentos obtido da modelagem matemática, considerando uma
resistência média (dados dos furos GT/JPC-500).
128 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

1.000 Cabo de São Tomé


sec.

NO

MTD

00
1.500

–2
Pleis
tocen
o
MTD

0
00
N

–2
2.000
Miocen
o

2.500

SE
MTD

2 km
3.000

Figura 15. Seção sísmica através do talude inferior propenso a deslizamentos e conhecido como Tobogã.

pelo navio MV Bucentaur em 2003, Borges (2009) de cada camada fornecidas pelos furos geotécni-
analisou a estabilidade geotécnica de quatro se- cos, levando em consideração suas discordâncias
ções geológicas provenientes da área do Tobogã e os saltos em resistência. O método de avalia-
no talude inferior da Bacia de Campos. O software ção escolhido para a estabilidade do talude foi o
utilizado foi o Slope/W 2007 (Geo-Slope, 2008), de Morgenstern e Price, (1965). O perfil através
versão 7.15, produzido pela empresa canadense do Tobogã com o fator de segurança calculado
Geo-Slope/W International Ltd. (Calgary, Canadá). considerando uma superfície potencial de ruptura
Na modelagem dessas quatro seções, foi utili- do tipo rotacional profunda apresentou um valor
zada a metodologia de análise de estabilidade de de fator de segurança mais realista, superior ao
taludes proposta no Relatório Técnico do Projeto das Figuras 13 e 14, mostrando que, ao honrar a
de P&D 600.234 da Petrobras: Modelagem Compu- geo­metria das camadas e suas propriedades geo­
tacional de Taludes Submarinos pela Aplicação do técnicas medidas, o fator de segurança aumenta
Programa SLOPE/W (Paganelli e Costa, 2003). consideravelmente.
Uma das seções geológicas modeladas através Na Figura 17 é apresentado o resultado da
do Tobogã é apresentada na Figura 16. análise de estabilidade por equilíbrio limite do
Para a análise de estabilidade do talude da talude da seção da Figura 16. O mapeamento da
seção da Figura 16, foram atribuídas, a essa se- superfície de ruptura crítica foi feito utilizando-se
ção estratigráfica, as propriedades geotécnicas a técnica Entry and Exit disponível no Slope/W,
Geolog ia e G eomorfolog i a 129

encontrando o fator de segurança mínimo, o qual Como mencionado, os fatores de seguran-


será o fator de segurança do talude. ça foram obtidos considerando-se condições não
O fator de segurança estático associado à su- drenadas para o comportamento do solo. É im-
perfície de ruptura crítica para o talude da seção portante salientar que um mecanismo de disparo
estratigráfica resultou em 3,909 pelo método de é pré-requisito para a ruptura de um talude. Se na-
cálculo de Morgenstern-Price, com a superfície crí- da ocorrer no talude ou próximo a ele, não have-
tica representada em cor amarela. Os resultados rá deslizamento. A análise não drenada expressa a
dessa análise estão resumidos na Tabela 3: margem de segurança de um talude contra rup-
tura, considerando que um mecanismo de disparo
Tabela 3. Resultados da análise de estabilidade do seja rápido o suficiente, de tal forma que os efei-
talude da seção AB do Tobogã. tos de drenagem no solo sejam insignificantes. A
questão-chave é estimar o grau de drenagem que
Parâmetro Valor
pode ocorrer para o mecanismo de disparo que es-
Fator de Segurança 3,909
teja sendo analisado.
Volume Total 1,4571 × 105 m³/m
De acordo com Lee (2004), os eventos ou pro-
Peso Total 1,0186 × 106 kN/m
cessos de disparo de movimentos de massa sub-
Momento Resistente Total 1,2727 × 108 kN/m
Momento Atuante Total 3,2557 × 107 kN/m
marinos são iniciados pelo aumento das tensões
Força Resistente Total 3,9397 × 105 kN atuantes, decréscimo da resistência ao cisalhamen-
Força Atuante Total 1,0078 × 105 kN to do solo ou pela combinação de ambos. Esses
efeitos podem modificar os fatores de segurança
calculados e a localização das áreas críticas quanto
A estabilidade atual do Tobogã, apesar do pas- à estabilidade. Lee (2004) citou os seguintes me-
sado geológico catastrófico, também é atestada canismos disparadores: acúmulo de sedimentação,
por testemunhos a pistão geminados aos furos erosão, terremotos, vulcões, ondas, presença de
geotécnicos. Estes revelam a presença de uma co- gás e hidratos de gás, percolação de fluidos, diapi-
bertura de sedimentos hemipelágicos recobrindo rismo e atividades humanas.
os depósitos de movimentos de massa, cicatrizes No talude da Bacia de Campos, a ação de on-
e afloramentos. A datação dessa cobertura, atra- das de tempestade oceânica sobre a estabilidade
vés do biozoneamento de foraminíferos planctôni- do fundo é insignificante, em função de ser um
cos, indicou que a cicatrização se deu há cerca de ambiente de águas profundas. A presença de gás
50.000 anos (Kowsmann et al., 2002, Kowsmann et e de hidratos de gás não é conhecida na bacia no
al., neste volume, Figura 11). Presente, ou seja, não são esperadas flutuações rá-
pidas na poropressão em função da dissociação de
Discussão hidratos, por exemplo. Além disso, a taxa de acu-
Os mapas regionais de fatores de segurança mulação do Holoceno é muito baixa, da ordem de
apresentados nas Figuras 13 e 14 mostraram que 6 cm/1.000 anos (Kowsmann et al., neste volume),
grandes áreas de baixas declividades do talude o que descarta o mecanismo drenado da ruptura
continental e do Platô de São Paulo da Bacia de do talude. A instabilidade de taludes poderia ser
Campos apresentam fatores de segurança está- atribuída a acelerações associadas a terremotos,
ticos acima do mínimo de 1,50, indicando baixa mas outras condições de contorno parecem neces-
suscetibilidade à ocorrência de deslizamentos cau- sárias para justificar a preponderância de eventos
sados pela ação da gravidade, contrariando, des- de instabilidade nos períodos glaciais do Pleisto-
sa forma, a literatura (Figura 4), que mostra maior ceno, uma vez que terremotos são considerados
frequência de deslizamentos em áreas de pequena eventos aleatórios. O nível de mar baixo dos pe-
inclinação. ríodos glaciais propiciaria taxas de sedimentação
130 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

mais elevadas e a dissociação de hidratos de gás, 6. Considerações sobre sismos


gerando excesso de poropressão nos sedimentos Sabe-se que existe alguma atividade sísmica na
e propiciando as condições necessárias para ocor- região da Bacia de Campos. Embora relativamen-
rência de ruptura do talude. te baixa, tal atividade pode ser significativa para a
Terremotos têm sido reportados por vários pes- estabilidade de taludes em cânions de paredes ín-
quisadores como o fenômeno ambiental mais des- gremes atravessados por linhas de escoamento de
trutivo. Durante um terremoto, o estremecimento produção, contendo ancoragens, poços etc. Con-
súbito do terreno provoca um rápido desequilíbrio sequentemente, a sismicidade regional é uma fon-
de forças na massa de solo, de tal forma que ocor- te potencial de riscos.
re redução nas tensões normais e, consequente- Análises sísmicas de estruturas em zonas de baixa
mente, também na resistência ao cisalhamento do sismicidade deveriam ser consideradas uma conse-
material. Uma análise realista de estabilidade pseu- quência natural de uma boa prática de projeto, em
doestática ou dinâmica, levando em consideração particular de instalações com características especiais,
a sismicidade da área, requer dados sismológicos seja do ponto de vista socioeconômico, ambiental ou
e de comportamento do solo, hoje inexistentes. A de segurança da comunidade. A questão, no entanto,
instalação e a operação da Rede Sismográfica do é como e a que níveis essas considerações devem ser
Sul e do Sudeste do Brasil (RSIS/SE), com a fixação incorporadas em projeto, tendo em mente as possí-
de sismômetros de fundo oceânico (OBSs) no piso veis magnitudes e probabilidades de ocorrência de
marinho, além da medição do módulo elástico do tais eventos (Almeida, 1997).
solo baseado na velocidade de ondas S e ensaios Por essa razão, tais taludes devem ter suas se-
dinâmicos de laboratório, deverão auxiliar na reali- guranças avaliadas, considerando-se nas análises
zação desse tipo de análise. de estabilidade a carga sísmica máxima provável,

–1,0
GT-300 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS

DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMP)


GT-380A LAMA MOLE
GT-381A
–1,5 LAMA RIJA
Elevação (m) (x 1000)

GT-382

GT-383
GT-384

–2,0

–2,5

–3,0
–1 4 9 14 19 24 29
Distância (m) (x 1000)

Figura 16. Seção geológica através do Tobogã utilizada para a modelagem através do programa Slope/W (adap-
tada de Borges, 2009). Furos com testes de PCPT e amostragem dos sedimentos forneceram os parâmetros
geotécnicos necessários.
Geolog ia e G eomorfolog i a 131

pois sismos naturais são considerados, em geral, a geográficas 22,67°S e 40,52°O; em 24 de outubro
causa provável de deslizamentos de taludes sub- de 1972, um sismo de magnitude mb = 4,8 e coor-
marinos, que, de outro modo, seriam estáveis na denadas epicentrais 21,72°S e 40,53°O; e, em 5 de
condição estática. maio de 1917, outro sismo, de magnitude mb = 4,5,
Em 1o de julho de 2010, foi registrado um sismo com coordenadas epicentrais 21,60°S e 41,50°O
de magnitude aproximada de 4,1 mb, cujos dados (Berrocal et al., 1984).
foram coletados através das estações sismográficas Deve-se considerar que grande quantidade
ESAR (Angra dos Reis/RJ), Valinhos (USP/SP), RCLB dos sismos de magnitude acima do mínimo detec-
(UNESP/SP) e SFA1 (UnB/DF). As coordenadas epi- tável ocorrem com frequência nas Bacias de Cam-
centrais aproximadas desse sismo foram 22,30°S e pos e de Santos, sendo a sismicidade da Bacia da
40,37°O. Não foi possível determinar a profundi- Santos maior do que a de Campos. Para caracte-
dade focal. A localização do epicentro tem uma in- rizar quantitativamente a sismicidade de uma re-
certeza muito grande (± 100 km), pois as estações gião, é necessário obter a relação frequência ver-
estão distantes, e os registros, muito fracos (ESAR, sus magnitude dessa região, onde os sismos são
a mais próxima, está a 430 km), e todas estão de observados e contabilizados. Essa é a chamada
um mesmo lado do epicentro. Esse sismo provocou curva frequência versus magnitude excedida em
ruídos na área epicentral onde estão localizados gráfico monolog, onde a escala de frequência é
os campos de Enchova e Pampo, com duração de logarítmica e a escala de magnitudes excedidas é
aproximadamente 2 minutos. li­near. De acordo com a lei de Gutenberg-Richter,
Anteriormente já foram registrados sismos a função resultante registrada nesse tipo de escala
nessa região: em 26 de outubro de 1996, um sismo deve ser uma linha reta. Quanto menor a magnitu-
de magnitude mb = 4,0 ocorreu nas coordenadas de excedida, maior será a frequência dos eventos

3.909
SUPERFÍCIE DE RUPTURA
–1,0
GT-300 DEPÓSITO DE FLUXO DE DETRITOS

DEPÓSITO DE ESCORREGAMENTO (SLUMP)


GT-380A
LAMA MOLE
GT-381A
–1,5 LAMA RIJA
GT-382
Elevação (m) (x 1000)

GT-383
GT-384

–2,0

–2,5

–3,0
–1 4 9 14 19 24 29
Distância (m) (x 1000)

Figura 17. Resultado da análise de estabilidade através do programa Slope/W para o talude da seção da Figura
16. O fator de segurança estático associado à superfície de ruptura crítica em amarelo foi de 3,909.
132 Áreas propensas a escorregamentos no talude cont inental

de magnitude excedida, e os eventos sísmicos de submetido a uma solicitação dinâmica de certa du-
magnitude superior a valores mais altos, como os ração e intensidade, pode escoar pelo vale do câ-
anteriormente exemplificados, serão mais raros. nion, representando um perigo real para os dutos
É importante instalar estações sismográficas que ligam os poços à unidade de produção. Esse
próximas à costa e mais próximas umas das outras, risco deve ser avaliado através de análises compu-
sendo que a rede atual é rarefeita e com poucas tacionais específicas, utilizando ensaios cíclicos pa-
estações costeiras. Além disso, para planejamento, ra a obtenção do comportamento do solo e usan-
projeto, gestão e mitigação de risco sísmico, faz- do como carregamento sísmico um acelerograma
-se necessária a instalação de estações submarinas de projeto criteriosamente definido. Entretanto,
acelerográficas ou sismográficas com capacidade tais análises ainda não podem ser feitas também
de alta taxa de amostragem (número de valores em função da ausência de dados.
medidos amostrados por segundo).
A realização de análises de estabilidade pseu-
doestáticas ou dinâmicas, levando em conside- 7. Conclusões
ração a ação de sismos, forneceria períodos de Foi avaliada a suscetibilidade regional a movi-
retorno e probabilidades de ocorrência de desli- mentos de massa submarinos rasos no talude con-
zamentos na Bacia de Campos, embasando melhor tinental e no Platô de São Paulo da Bacia de Cam-
o processo de decisão. Entretanto, isso ainda não pos, considerando-se, para a verificação, apenas a
é possível, em função da carência desse tipo de condição de aplicação da carga estática gravitacio-
dado. Para contornar esse problema, uma rede nal. Forças adicionais ou cargas sísmicas não foram
de monitoração de sismos offshore para a região consideradas. Utilizando um sistema de informa-
das Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo es- ção geográfica (SIG), técnicas de análise espacial
tá em fase de planejamento e compra de equipa- foram adotadas para aplicar um método determi-
mentos, sendo definidos os locais para as estações nístico de estabilidade de taludes para mapear
sismográficas. áreas suscetíveis a movimentos de massa submari-
Em 2008, a Petrobras e o Observatório Nacio- nos rasos no talude da bacia.
nal firmaram um convênio para implantar a Rede A análise de estabilidade de taludes foi feita
de Monitoração Sismográfica. Após iniciar as duas sob condições não drenadas em termos de tensões
primeiras etapas do projeto, que preveem a insta- totais considerando um solo argiloso normalmente
lação de 11 estações nas Regiões Sul e Sudeste pa- adensado e se baseou no cálculo do fator de segu-
ra monitorar, principalmente, as Bacias de Campos, rança do piso marinho pelo método do equilíbrio
de Santos e do Espírito Santo, e a instalação de 30 limite – formulação de talude infinito submerso
estações para o monitoramento no Nordeste, a unidimensional. Dessa forma, foi possível levar em
Petrobras firmou convênio com a Universidade de conta no cálculo dos fatores de segurança o dado
São Paulo para a instalação de outras 30 estações relativo à geometria do fundo do mar (declivida-
sismológicas na Região Centro-Oeste. Essa rede de de) e as propriedades mecânicas do solo marinho
monitoração será importante para determinar com (resistência ao cisalhamento não drenada e peso
maior precisão os epicentros de abalos sísmicos. específico submerso).
Além da avaliação da estabilidade de taludes, A adoção de um modelo matemático funda-
seria aconselhável verificar a possibilidade de li- mentado em fenômenos físicos possibilitou que se
quefação dos sedimentos da base dos cânions e calculasse a variabilidade espacial dos valores de
vizinhanças de suas desembocaduras, onde a de- fatores de segurança estáticos contra deslizamen-
clividade do piso marinho é baixa. Dependendo tos submarinos para toda a área do talude conti-
do comportamento reológico do solo não aden- nental e do Platô de São Paulo da Bacia de Cam-
sado na base dos cânions, quando esse solo for pos, através do uso de um sistema de informação
Geolog ia e G eomorfolog i a 133

geográfica, e não apenas ao longo de um talude mecanismos de disparo identificados e de anorma-


específico. Como resultado, foram obtidos dois lidades localizadas.
mapas regionais com áreas propensas a desliza- O modelo matemático implementado para o
mentos rasos no talude e no Platô de São Paulo cálculo do fator de segurança permitiu que diver-
da bacia, considerando dois perfis de resistência sas simulações preliminares fossem efetuadas. Isso
ao cisalhamento do solo: um correspondente a um ocorreu em função de sua implementação estar re-
limite inferior de resistência e o outro referente a lacionada com uma equação que procura represen-
um valor de resistência intermediário. tar as condições de instabilidade geotécnica. Essa
Os mapas de fatores de segurança apresenta- flexibilidade é uma característica importante que o
dos mostraram as áreas mais suscetíveis à instabili- difere dos modelos menos flexíveis para a avaliação
dade no talude continental e no Platô de São Pau- de áreas suscetíveis a movimentos de massa.
lo. Destacaram-se as paredes de cânions e ravinas
e os flancos das cadeias de sal e, em menor grau,
o Tobogã da parte central da bacia, que são áreas Agradecimentos
com declividades maiores, mas que, na verdade, Os autores agradecem aos revisores pelos im-
são constituídas de afloramentos consolidados, portantes comentários objetivos e pontuais, com-
mais resistentes do que os perfis de resistência do partilhando sua experiência e conhecimento técnico.
solo adotados. As áreas de baixas declividades re- Também deve-se destacar a inestimável contribui-
sultaram em fatores de segurança elevados, sendo ção do engenheiro Leopoldo Machado Paganelli
consideradas pouco suscetíveis à ocorrência de es- (Cenpes/Petrobras) na modelagem analítica e numé-
corregamentos translacionais rasos, na ausência de rica de estabilidade de taludes naturais submarinos.

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