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Jacques Douchez

Plano e Relevo
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LEI DE
INCENTIVO
ACULTUlA

111
MINISTÉ.RIO
DAClJUURA
Pinacoteca do Estado de São Paulo
15 de março a 27 de abril de 2003

Apoio:

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11Bradesco <.-Charlô-, FOLHA
Não dá pra não ler
GRUPO
TJlKANO
SECRETARIA DE ESTADO
DA CULTURA
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BIBliOTECA
I

Plano e Relevo
Geometrias Abstratas e Formas Tecidas na Arte de Jacques Douchez

Antonio Carlos Abdalla Desde sua chegada no Brasil, em 1947, Jacques Douchez teve intensa atuação com a tela (in Olívio Tavares de Araú;o, "1' Mostra Brasileira de Tapeçaria ",
curadór cultural e artística. Ao longo de sua carreira como pintor e tapeceiro reuniu Fundação Armando Alvares Penteado, São PaulolS?, 1974). O movimento da
currículo nacional e internacional invejável. Integrante, a partir de 1951, do "Nova Tapeçaria" definitivamente ganhou maior importância com duas outras
• I

histórico e fundamental" Atelier Abstração", aí teve a oportunidade de conviver tapeceiras: Magdalena Abakanovicz (Polônia) e Jagoda Buic (Iugoslávia).- esta
com a personalidade marcante e o homem de cultura que foi mestre Samson última ganhadora do Grande Prêmio da XIII Bienal de São Paulo, em 1975.
Flexor, integrando-se naturalmente nesse movimento não figurativo. Douchez ligou-se, dessemodo, ao que de mais contemporâneo e surpreendente
a revolução da tradicional tapeçaria produziu, a tridimensionalidade.
Com a criação do "Atelier Abstração", Flexor introduziu de forma sistemática I
O "Atelier Douchez-Nicola" perdurou até 1980, num tipo de sociedade contínua
no Brasilo Abstracionismo Geométrico, cultivado por ele nos tempos de vivência
e afinidade com a cosmopolita vida cultural da Paris dos anos 1930/1940 -
uma metrópole que fervilhava de idéias vanguardistas e de uma intelectual idade
! i bastante rara em nosso país pois, apesar de ter um nome e uma administração
em conjunto, os dois artistas nunca abdicaram de sua individualidade criativa e
que ditava os caminhos da Cultura. Flexor era muito exigente, desenvolvendo produziram obras dinâmicas, consistentes e independentes, com absoluta
um trabalho cuidadoso, de pureza máxima: exercicios de linhas, uso de cores liberdade.
quentes, uso de cores frias e assim por diante. A abstração surgia aos poucos,
traçando o objeto geometricamente, sem sua descaracterização. Em seu método Nos anos 1990 Douchez retornou à pintura, sempre de concepção ao mesmo
de ensino, tratava dos problemas individualmente, procurando formar em seus tempo cartesiana e lírica, luminosa e sensual, com obras que desdobram no
seguidores um alto nível de conscientização estética. A música, entre tantas plano as várias possibilidades de expansão do objeto geométrico, dando novos
outras "provocações", era muito usada visando estimular a inspiração de seus contornos ao abstracionismo. Jacques Douchez concebe sua pintura atual em
alunos e, na opinião unânime deles, suas aulas eram experiências instigantes, uma perspectiva contemporânea, mas mantém-se fiel aos cânones do
de grande diversidade e profundidade cultural e humana. Com tudo isso é Abstracionismo Geométrico. Destaca-se, dessa forma, numa escola que não
certo que logrou êxito, pois dos alunos que freqüentaram o "Atelier", grande segue os ditames rígidos (e quase frios) da corrente concretista indo, mesmo,
parte deles tem destaque no mundo da cultura com carreiras nas artes plásticas num sentido contrário desta. Convém ressaltar que, tanto uma corrente quanto
e na literatura. a outra são escolas incluidas, no Brasíl, no termo Construtivismo.

Douchez compartilhou com Flexor, desde o início, dessesmesmos ideais estéticos Esta é uma fase inédita do artista, que não expõe individualmente desde 1989
e sua pintura, bem estruturada na composição, harmoniosa e equilibrada nas e a mostra reúne, além das obras resultantes das pesquisas recentes, algumas
cores, lhe valeu diversos prêmios importantes além da participação em várias outras pintadas a partir de projetos da época do "Atelier Abstração". (
I
Bienais de São Paulo (inclusive na de 1953, que pela primeira vez mostrou a I

produção abstrata de artistas brasileiros). Mais do que mostrar a obra atual de Douchez, esta exposição antológica é
uma rara oportunidade de resgate da tapeçaria artística brasileira, historicamente
Sensivel observador e analista dos rumos das artes visuais no mundo, acabou se lembrada, juntamente com a francesa. a polonesa e a iugoslava, entre as mais
encaminhando, a partir de 1957, para a tapeçaria - que naquele momento vivia significativas do mundo. t uma redescoberta oportuna, no momento em que
sob o impacto renovador da obra do também francês Jean lurçat. Inicialmente as novas gerações exploram as mesmas "formas" em outras linguagens atuais
plana, fiel à melhor tradição dessa arte, as tapeçarias de Douchez tiveram, desde (as esculturas em Iycra de Ernesto Neto, os casulos de Siron Franco e a obra de
o início, uma revolucionária concepção abstrato-geométrica, personalíssima. As Vera Martins, entre outros). Assim, de certa forma, esta exposição alinha-se,
bases para a fixação de seu nome nessa arte, no Brasil e no exterior, já estavam também, à retomada contemporânea de pesquisas com formas tecidas e dos
bastante seguras e Douchez uniu-se a Norberto Nicola, fundando o também' . ,I
I• limites do objeto plástico.
histórico" Atelier Douchez-Nicola", centro irradiador e renovador da tapeçaria
em nosso país. Na redescoberta da tapeçaria no Brasilvale lembrar que nos anos Douchez sempre esteve no centro de um dos movimentos mais significativos
1920, numa primeira vanguarda, Regina Graz já havia produzido boas obras e, da arte brasileira do século XX, o Abstracionismo Geométrico: refletindo,
contemporaneamente ao "Atelier Douchez-Nicola", o pintor baiano Genaro de pesquisando e encontrando, com absoluta seriedade e coerência, novas
Carvalho (que tinha estudado no próprio ateliê de lurçat) produzia uma tapeçaria possibilidades do objeto abstrato. Dai resultaram os trabalhos atuais.
plana de qualidade, porém mais próxima do folclore e do primitivismo.
A exposição Jacques Douchez - Plano e Relevo representa uma surpresa para
Mais tarde, a constante pesquisa leva Douchez à conquista do espaço e vasta gama de público que ainda não teve contato próximo quer com o
Termlda!, 2003
aproxima-o da "Nova Tapeçaria". Suas "formas tecidas" desse período - assim 61eo s/tela. 120 X 80 em abstracionismo geométrico quer com a tapeçaria artistica de alto nível e suas
denominadas por ele' - foram equiparadas à experiência de lúcio Fontana coleção do artista possibilidades tridimensionais.
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Cabeça e Coração

Olívio Tavares de Araújo Jacques Douchez, ainda que francês de nascimento, pertence à história da arte no improvisação, nenhuma insegurança, nenhum mal-entendido. É civilizado e
Brasil,ao mesmo tempo em que continua em franca produção. Desta feliz conjunção, discreto, e ao esprit de clarté anexa o não menos francês esprit de finesse.
não tão freqüente, resulta o perfil da presente mostra, com a qual, em boa hora, a
Pinacoteca de São Paulo o homenageia. Não é uma retrospectiva 5trictu senso, o Como acontece a todo artista, a produção de Douchez tem um ápice, e parece-me
que implicaria no minucioso exame diacrônico de uma rica trajetória de vida, mas não haver dúvida de que são as tapeçarias de entre os anos 1970 e 90. Sem constituir,
também não é uma simples reunião sincrônica da obra recente. Encontram-se aqui ., de maneira alguma, subproduto delas (pelo contrário, pois antecedem todo o resto),
três momentos fundamentais no percurso do artista. Algumas pinturas produzidas a verdade é que suas pinturas se movem num universo menos rico, individualizado
nos anos 1950 - há quase meio século, observem -, pinturas e guaches de alguns e inventivo. É na tapeçaria - através dos verdadeiros relevos de parede, quase
poucos anos para cá, e, com especial e merecido destaque, as grandes tapeçarias esculturas tecidas, que ele e seu colega de atelier Norberto Nicola aqui introduziram
das décadas de 70 e 80, que o singularizaram. - que Douchez dá sua contribuição mais inovadora e ampliadora de horizontes.
Por isso mesmo, aliás, ele a deve ter adotado a certa altura da carreira: porque aí
As pinturas. dos anos 50 nos relembram que Jacques Douchez está entre os percebeu seu espaço por excelência de expansão; seu nicho específico.
pioneiros da arte abstrata brasileira. Como se sabe, ela começa a florescer logo
após as primeiras bienais de São Paulo, apoiando-se e legitimando-se na É preciso observar que a tapeçaria não tem sido uma área particularmente bem
informação por elas trazida, e se impõe amplamente nos anos 60, com o triunfo sucedida, no Brasil. Deve ter a ver com as dificuldades logísticas que lhe são inerentes,
da vertente informal. Mas nossos primeiros abstratos não foram informalistas e com a pequena demanda de mercado, e sobretudo com a afoiteza com que artistas
sim construtivistas, ligados à disciplina formal da geometria. Distribuiam-se em (ou pseudo-artistas) pouco preparados incursionam por técnicas nas quais lhes parece
dois grupos, o Ruptura (cujos integrantes, mais radicais, derivaram pouco depois mais fácil disfarçar o despreparo. Acontece também, por exemplo, na xilogravura,
para o concretismo) e o Atelier Abstração, criado em 1951 por Samson Flexor. cujo vigor de contrastes e nervosidade do gesto muitas vezes ocultam a deficiência
Douchez foi um de seus preferíssemos integrantes. do desenho. Na tapeçaria brasileira, justamente sob a influência de Douchez e
Nicola (mas não só nesse segmento), houve nos anos 70 uma enxurrada de
Chegado em 1946, com formação parisiense, Flexor, judeu nascido na Bessarábia desacertos, nos quais até o bom gosto chegava, às vezes, a ser comprometido
(na época, Rússia, hoje, Romênia), estava naturalmente up to date, e suas
primeiras obras no Brasil já oscilam entre o figurativismo e a abstração, deixando
evidente que acabarão por desaguar na segunda. Isto acontece mais ou menos
simultaneamente com a criação do Ate/ier Abstração, e o que os discípulos
podem ver e aprender do mestre é uma geometria equilibrada mas dinâmica,
viva, em certo sentido até sensual. No todo, a produção do Atelier será
v Revendo, há dias, um dos livros existentes sobre o assunto (provavelmente o mais
antigo), incomodou-me a quantidade de feiúra nele reunida.

No entanto, felizmente há as exceções. A primeira palavra que me ocorre diante da


tapeçaria de Douchez é - beleza. Trata-se de uma arte que acredita na beleza e a
busca, majestosa e elegante, sem nenhum medo deste último termo: afinal, a
disciplinada, fundamentalmente organizada, mas quando comparada à do grupo elegância não é um impeditivo para a qualidade da beleza. Sua sedução não é
Ruptura e à do concretismo, permanece decididamente expressiva. Os agressiva e sim cariciosa. A obra não serve tampouco para efusões confessionais
concretistas chegaram a falar de arte como produto, propugnando a objetividade (nem estaria na natureza dessa técnica), e menos ainda para tratar dos abismos da
e a impessoalização, o anti-lirismo. Flexor, porém, acreditava no contrário. Em existência. É expressiva (como já o disse de toda a obra de Douchez) e até lírica, mas
1957, referindo-se às obras de alguns pintores norte-americanos que conhecera a discrição com que se dirige ao espectadorfaz-me pensar, antes de tudo, na definição
em Nova York, dizia-as construídas" com força e ternura" (grifo meu), e afirmava de Wordsworth para poesia: "emotion recollected in tranquility", emoção
que os problemas visuais da pintura não decorrem de problemas matemáticos, rememorada em tranqüilidade. A emoção que aqui se contém foi decantada pelo
e sim do "próprio processo de pintar, enquanto o artista trabalha tempo e flui por uma construção articulada do espirito.
inconscientemente" (de novo, grifo meu). Nada mais distante do concretismo:
Num outro texto escrito há vários anos sobre Douchez, ocorreram-me ainda
Essa rápida excursão à História é para fixar os parâmetros em que se moveu o palavras (aparentemente contraditórias) de Leonardo da Vinci e Beethoven.
pintor Jacques Douchez em sua pioneira produção dos anos 50, e se move até Permitam-me retomá-Ias aqui, pois de sua síntese resulta uma contextualização
hoje, nos guaches e óleos recentes. Caracterizam-no a sóbria conjugação entre perfeita para nosso artista franco-brasileiro. Da Vinci dizia (em uma de suas frases
o elemento sensível, a famosa "intuição criadora" de que tratava Bergson, e o mais famosas) que "a arte é coisa mental" - do que não há dúvida nenhuma. Já
esprit de clarté, a geometria, a clareza, a precisão. Concilia expressividade e na dedicatória da Missa Solemnis, Beethoven salientava: "vinda do coração, que
razão. Afasta-se visceralmente de qualquer postura dogmática, feita de regras e se destine ao coração". (Não vejo entre os dois nenhum conflito: um está falando
de fórmulas, ao mesmo tempo em que busca a justa medida, o ;uste milleu, o do processo, outro da motivação). A tapeçaria de Douchez - insisto em distingui-
Me5sidor, 1988
equilíbrio harmonioso, o ritmo, a variedade na unidade; nesse sentido, é um la, mas isso não exclui, tampouco, a pintura - também se funda na amorosa
lã em tear manual, 162 X 140 em
temperamento clássico. Não há, em qualquer momento de sua obra, nenhuma coleção do artista conciliação entre dois órgãos, haurindo disso sua especificidade.
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iNSTITUTO DE ARTES
o Plano - Atelier Douchez-Nicola (1957 - década 1980)

I
o MANIFESTO DO ATELIER DOUCHEZ-NICOLA
U

FORMAS TECIDAS

Tentamos dar à tapeçaria uma nova dimensão criativa. ."' ..

A tapeçaria que buscamos afasta-se da idéia \


tradicional de uma representação plana. Criamos
um objeto tecido.

A rcforma dc Lurçat foi unicamente uma reconsideração


da arte do plano, com uma técnica (a tecelagem) e
um material (a lã) específicos. Trata-se agora de criar
uma arte da fibra tecida, libertada de qualquer ligação
com as artes de superfície pintada.

A fibra e o tecido possuem um volume com qualidadcs


próprias de tensão, elasticidade, comportamento, cnfim
um lugar no espaço. A cor é um atributo da matéria,
mas por esta retida.

A obra tecida deve modelar o cspaço numa forma multidimensional.

Jacques Douchez e Norberto Nicola


I
São Paulo, 1959 I

Remanso, déc. 1960


Este Manifesto foi publicado no catálogo da exposição lã em tear manual. 100 X 177 em
na Galeria Bonina, Rio de Janeiro, em 1968. coleção do artista
INSTITUTO DE ARTES
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