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As Virtudes Cardeais:

Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança

Para a ética das virtudes, algumas virtudes são consideradas mais importantes do que
outras. Quatro virtudes são de particular importância: a prudência, a justiça, a fortaleza e a
temperança. Elas são chamades de virtudes cardeais. A proposta deste texto é oferecer uma
breve introdução a elas.

As Virtudes
É possível que uma ética baseada nas virtudes não ofereça respostas tão diretas quanto
gostaríamos à pergunta sobre “o que devo fazer”. Isso, porém, não é necessariamente um
problema para a ética das virtudes. O ponto é que, talvez, perguntas tais como “o que devo
fazer?”, “fazer X é certo?” ou “fazer Y é errado?” façam mais sentido dentro de um esquema
moral formulado pelas éticas kantiana e utilitarista. A ética das virtudes não parte da pergunta
sobre o ato em si, e sim sobre o ser humano que age: como posso ser um homem bom? Como
levar uma vida boa? Isso ficará claro quando olharmos para as quatro virtudes cardeais, e, em
particular, para a prudência.
Nós adquirimos virtudes ao exercitá-las. Assim como um homem se torna violonista ao
praticar o violão, do mesmo modo ele se torna justo ao praticar atos justos. Porém, as virtudes
podem ser perdidas do mesmo modo, pois o mau exercício as destrói – um homem que pratica
atos injustos se tornará injusto. Além do mau exercício, o excesso também pode destruir uma
virtude. O homem que tudo teme e que não pratica a coragem se torna um covarde, mas aquele
que nada teme e vai de encontro a todos os perigos é temerário.
Poderia ser perguntado: o que significa dizer que um homem se torna justo ao fazer atos
justos, se, para fazer atos justos, tal homem já deve ser justo? De fato, há uma circularidade
aparente nessa ideia. Porém, o importante a se ressaltar é que a simples realização de atos justos
não torna, por si só, um homem justo. Para realizar um ato virtuoso, a razão do agente deve ter
(1) conhecimento, isto é, deve reconhecer o fim da ação como um bem; (2) escolha, i.e., deve
escolher o bem reconhecido; e (3) disposição, i.e., buscá-lo de modo determinado. A virtude é
um estado ou disposição de caráter.

Prudência
A prudência é a primeira das virtudes cardeais. Ela é definida como a virtude que
corretamente direciona as ações humanas a seus fins. Parece-nos estranho, hoje, a ideia de que a
virtude da prudência é a “mãe” de todas as virtudes cardeais, e que apenas o homem prudente
pode ser justo, forte (no sentido de corajoso, bravo) e temperado. No entanto, nada menos do que

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toda a compreensão cristã ocidental do ser humano se baseia na preeminência da prudência sobre
as demais virtudes.
Esse estranhamento está relacionado a nosso entendimento atual do que é ‘prudência’.
Para a mente contemporânea, a prudência parece menos um pré-requisito para o bem do que uma
fuga dele. A ideia de que é a prudência que torna uma ação boa nos parece difícil de entender.
Hoje em dia, entendemos a prudência como algo relacionado à utilidade ou ao utilitarismo. No
uso coloquial, a prudência parece se referir a um comportamento egoísta, preocupado consigo
mesmo, com seu ganho ou sua preservação. No entanto, a ideia atual de prudência não parece
muito compatível com a vida de um homem bom ou virtuoso. Vale a pena dizer, também, que
nosso estranhamento com a ideia de que a prudência seja uma virtude não se dá apenas com a
prudência, senão também com outras virtudes cardeais. A temperança, por exemplo, também nos
parece difícil de entender. Hoje, a ideia de viver a castidade soa muito mais como um exemplo
de exagero imprudente do que de temperança e prudência!
Apesar disso, a ética cristã afirma que um homem só pode ser bom se for prudente, que a
prudência é parte da definição de uma ação boa, que não pode haver justiça e coragem que sejam
contrárias à prudência, e que o homem injusto é imprudente no momento em que é injusto.
A prudência é a própria causa de as outras virtudes serem virtudes. A virtude é como uma
‘habilidade aperfeiçoada’ do homem como ser espiritual; e a justiça, a coragem e a temperança,
enquanto ‘habilidades’ do homem completo, atingem sua “perfeição” apenas quando elas são
fundadas sobre a prudência, isto é, sobre a habilidade aperfeiçoada de tomar decisões certas. A
prudência trabalha em todas as virtudes; todas as virtudes participam na prudência. Todos os Dez
Mandamentos da tradição judaico-cristã pertencem à realização prática da prudência. E todo
pecado se opõe à prudência. Todo aquele que peca é imprudente.
A preeminência da prudência significa que a realização do bem pressupõe o
conhecimento da realidade. A preeminência da prudência significa que “boas intenções” não
bastam para uma boa ação. A realização do bem pressupõe que nossas ações sejam apropriadas à
situação real, isto é, que sejam apropriadas às realidades concretas que formam o ‘ambiente’ de
uma ação humana concreta. A prudência não está diretamente preocupada com os últimos fins da
vida humana, e sim com os meios para atingir esses fins. A prudência é a “disposição correta” da
razão prática.
Talvez nos ajude a melhor compreender a prudência lembrar de algumas formas de
imprudência: (1) não refletir adequadamente sobre uma ação (algo como agir impulsivamente);
(2) agir com falta de resolução, ou seja, discernir uma ação como a ação correta, mas hesitar em
sua aplicação; (3) ser negligente ou cego diante da realidade.
Os fins corretos podem ser buscados por todos os meios, até mesmo pelos errados. O
significado da virtude da prudência, porém, é primariamente este: que não apenas o fim da ação
humana, senão também o meio para sua realização, deve ser adequado à verdade das coisas. Isso,
por seu turno, necessita que os interesses ‘egoístas’ do homem sejam silenciados de modo que

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ele perceba a verdade das coisas, para que, então, a própria realidade o guie ao meio apropriado
para realizar seu fim.
Há, portanto, uma relação absolutamente imprescindível entre a prudência e a
compreensão correta da realidade. Um homem egoísta, por exemplo, que ache que todos devem
servi-lo, não conseguirá buscar os fins adequados para suas ações, nem tampouco os meios.

Justiça
Qualquer um que julgue a realidade encontrada na vida cotidiana verá claramente que
boa parte – senão a maioria – do mal e do sofrimento em nosso mundo parece ter como causa a
injustiça. Que tantas coisas nos pareçam contrárias à justiça apenas atesta a importância desta
virtude.
A justiça é a virtude por meio da qual um homem dá a cada um o que lhe é devido. Mas
como saber o que é devido a cada um? A resposta a essa pergunta não é trivial. Talvez nem
mesmo seja mais evidente que há uma resposta, posto que a pergunta supõe que alguma coisa é
devida a cada um, o que não é mais óbvio nos dias de hoje – se é que o foi algum dia.
Se a justiça é dar a cada um o que lhe é devido, então o ato da justiça tem de ser
precedido pelo ato que cria um dever. A justiça é algo que vem em segundo lugar: o direito vem
antes da justiça. Se algo é devido a alguém, o ato que institutiu esse dever é um ato anterior à
justiça. Para Tomás de Aquino, é por meio da criação divina que o ser humano adquire direitos.
Isso significa que os direitos dos seres humanos têm um fundamento último. E significa,
também, que na relação entre Deus e o homem, não há, estritamente falando, justiça: Deus não
deve nada ao homem.
A ideia acima deixa clara a relação, enfatizada na descrição da prudência, entre as
virtudes e o conhecimento da realidade. A recusa de aceitar que alguma coisa seja devida aos
outros seres humanos, ou, por outra, a postura de alguém que considere irrelevante saber o que é
devido a cada um, tal postura advém da perda de contato com a realidade, e essa é uma forma
extrema de imprudência e injustiça.
A justiça se diferencia do amor ou caridade na medida em que, em relações de justiça, os
seres humanos se confrontam uns aos outros como “outros”, isto é, como estranhos. A justiça
exige uma distinção das partes. Dado que pai e filho não são indivíduos inteiramente separados
ou estranhos um ao outro; dado que o filho, em alguma medida, pertence ao pai, e o pai sente
pelo filho o que sente por si próprio; dado isso, não há entre eles justiça no sentido estrito. O ‘ser
amado’ não é propriamente outra pessoa; logo, não há justiça formal entre duas pessoas que se
amam. A justiça supõe o reconhecimento do outro como outro.

Fortaleza
A fortaleza pressupõe a vulnerabilidade; sem vulnerabilidade, não há possibilidade de
fortaleza. Uma criatura invulnerável não poderia ser forte ou brava, porque não seria vulnerável.
Ser forte, no sentido de bravo ou corajoso, significa estar sujeito a sofrer algum dano. Ora, se o

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ser humano é vulnerável, ele pode ser forte. Por dano, entende-se toda violação de nossa paz
interior; tudo que ocorre conosco contra nossa vontade; tudo que seja doloroso, danoso,
opressivo ou que cause medo. O dano último é a morte. E mesmo os danos que não são fatais
são, ainda assim, prefigurações da morte; a morte está refletida em cada dano menor. Assim, a
fortaleza guarda sempre uma relação com a morte. A fortaleza é, em certo sentido, uma
disposição para (enfrentar) a morte.
Porém, sofrer uma injúria, um dano ou até mesmo a morte é apenas um aspecto parcial da
fortaleza. O sofrimento como um fim em si não faz o menor sentido. O forte sofre o dano não
como um fim em si mesmo, mas como um meio para preservar ou realizar um bem.
Se a característica especial da fortaleza consiste em sofrer danos pela realização de um
bem, então o ser humano forte deve primeiro saber o que é o bem, e deve ser forte em nome do
bem. Por isso, a fortaleza não é a primeira, nem a maior das virtudes, mas aponta para algo
anterior a ela. Não é por acaso que, na lista das virtudes cardeais, ela venha em terceiro lugar. A
prudência e a justiça precedem a fortaleza. E isso significa que, sem prudência, sem justiça, não
há fortaleza. Somente aquele que é prudente e justo pode também ser forte.

Temperança
Os termos ‘temperança’ e ‘moderação’ perderam parte de seu significado, restringindo-
se, hoje, tão-somente à ideia de moderação na hora de comer e beber. Da mesma forma, tais
termos passaram a ser usados como uma designação de quantidade, como se a falta de
temperança significasse apenas excesso. Porém, a temperança entendida nesse sentido tem pouco
a ver com o que a tradição cristã sempre entendeu por temperantia, que, afinal de contas, é uma
das quatro virtudes cardeais, e, portanto, de extrema importância.
O significado essencial e primário de temperare, dentro do quadro das virtudes, é o de
dispor várias partes em um todo uno e ordenado. Segundo Tomás de Aquino, o significado
segundo da temperança é o da ‘serenidade do espírito’. Essa afirmação não implica apenas num
estado mental subjetivo de calma ou tranquilidade. Nem significa uma mera ausência de
irritação. A afirmação se refere, antes, à temperança como uma ordem interior, da qual a
serenidade pode florescer.
A temperança se diferencia das outras virtudes cardeais pelo fato de se referir
exclusivamente ao próprio ser humano. A prudência olha para a realidade existente; a justiça,
para os outros homens; o homem de fortaleza abandona, no esquecimento de si mesmo, suas
próprias posses e sua vida. A temperança, em contrapartida, mira a cada ser humano. Ela implica
em que o ser humano olhe para dentro de si próprio. Isso pode ser feito de forma altruísta ou de
forma egoísta. A temperança é a autopreservação no olhar altruísta do ser humano sobre si
próprio. A intemperança é a autodestruição por meio da degradação egoísta dos poderes que
visam a autopreservação.
A inclinação natural do ser humano pelos prazeres dos sentidos, manifestada
principalmente no deleite pela comida e pelo prazer sexual, é o eco e o espelho das mais fortes

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forças humanas de autopreservação. Essas formas básicas e naturais de prazer correspondem às
forças primordiais do ser, que tendem a preservar o ser humano individual, bem como a raça
humana, na existência na qual foi criado. Porém, pela mesma razão que essas forças estão
relacionadas aos mais profundos instintos humanos, elas excedem todos os outros poderes do
homem em sua violência destrutiva uma vez que tenham degenerado em egoísmo. Portanto,
encontramos aqui o real lugar da temperança: comedimento e castidade, descomedimento e falta
de castidade, são essas as formas primordiais da temperança e da intemperança.

Referências:
ARISTOTLE (2011). Nicomachean Ethics. Tradução de Robert Bartlett e Susan Collins.
University of Chicago Press.
PIEPER, Josef (1965). The Four Cardinal Virtues: Prudence, Justice, Fortitude, Temperance.
New York; Harcourt, Brace and World, Inc.

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